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Autora: Profa. Renata Christina Leandro Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudela Nanias Profa. Maria Francisca S. Vignoli Profa. Karina Dala Pola Supervisão da Formação Profissional SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Professora conteudista: Renata Christina Leandro Residente do município de Campinas/SP e graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCCAMP, em 2002, possui especialização em Violência Doméstica Contra Criança e Adolescente, pelo Laboratório da Criança (Lacri) do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) – 2005. Especializou‑se também em Sexualidade Humana, pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2009, e é pós‑graduanda em Formação em EaD, pela UNIP. Atualmente, é docente na UNIP, Campi de Sorocaba e de Campinas, e atua com Consultoria em Gestão Pública, Captação de Recursos e Responsabilidade Social. Possui experiência em Gestão Social, como gestora municipal de São Thomé das Letras/MG e na Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, no Estado do Rio de Janeiro. Atuou, também, em Centros de Referência de Assistência Social – Cras – em atendimento matricial com famílias e, na área de criança e adolescente e suas respectivas famílias, no município de Campinas, no Programa Municipal de Enfrentamento à Exploração Sexual Infantojuvenil de 2003 a 2007. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) L437s Leandro, Renata Cristina. Supervisão de estágio em serviço social / Renata Cristina Leandro. ‑ São Paulo: Editora Sol, 2015. 184 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2‑014/15, ISSN 1517‑9230. 1. Ética do cuidado. 2. Competência. 3. Habilidade. I. Título. CDU 364 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice‑Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice‑Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice‑Reitor de Pós‑Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice‑Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Rose Castilho Cristina Zordan Fraracio Valéria Nagy SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Sumário Supervisão da Formação Profissional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 A ÉTICA DO CUIDADO .................................................................................................................................... 13 1.1 Carta da Terra – Código de ética planetário ............................................................................. 14 1.2 O ethos profissional do serviço social .......................................................................................... 15 1.2.1 O que é ética profissional? .................................................................................................................. 15 1.2.2 A construção do ethos profissional ................................................................................................. 16 1.2.3 Trajetória do ethos profissional em serviço social ..................................................................... 19 1.2.4 O ethos conservador do serviço social ........................................................................................... 19 1.2.5 O ethos de ruptura ................................................................................................................................. 22 1.2.6 Serviço Social: uma profissão liberal .............................................................................................. 23 1.2.7 Regulamentação do serviço social: contextualização histórica .......................................... 24 2 COMPETÊNCIA E HABILIDADE DO ASSISTENTE SOCIAL ................................................................... 28 2.1 Código de Ética de 1993: algumas considerações .................................................................. 28 2.2 Princípios fundamentais do Código de Ética de 1993 .......................................................... 29 2.2.1 1º Princípio ................................................................................................................................................ 29 2.2.2 2º Princípio ................................................................................................................................................ 30 2.2.3 3º Princípio ................................................................................................................................................ 30 2.2.4 4º Princípio ................................................................................................................................................ 31 2.2.5 5º Princípio ................................................................................................................................................ 31 2.2.6 6º Princípio ................................................................................................................................................ 32 2.2.7 7º Princípio ................................................................................................................................................ 32 2.2.8 8º Princípio ................................................................................................................................................ 33 2.2.9 9º Princípio ................................................................................................................................................ 33 2.2.10 10º Princípio ........................................................................................................................................... 33 2.2.11 11º Princípio ............................................................................................................................................ 34 2.3 Direitos e responsabilidades gerais do assistente social ...................................................... 34 3 COTIDIANO: ESPAÇO DE ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL ......................................................... 36 3.1 Práxis: categoria essencial no fazer profissional ..................................................................... 37 3.2 O que vem a ser o Projeto Ético‑Político? .................................................................................. 39 3.3 Então, qual seria o caminho? ..........................................................................................................42 3.4 O serviço social e a relação teoria/prática ................................................................................. 42 3.5 Atitude investigativa e o serviço social ....................................................................................... 44 3.6 Atitude de mediação: desmistificando o significado ............................................................ 46 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 4 PRECEDENTES DA GESTÃO SOCIAL .......................................................................................................... 49 4.1 Em que consiste a gestão social ..................................................................................................... 51 4.2 Atribuições de um gestor social ..................................................................................................... 56 4.2.1 O que é ser um gestor e um gestor social? .................................................................................. 56 4.3 Eminência de novos princípios à gestão social ........................................................................ 59 4.4 Ferramentas de gestão social .......................................................................................................... 60 4.4.1 Descentralização na gestão social ................................................................................................... 61 4.4.2 A pertinência da intersetorialidade e das redes na gestão social ....................................... 62 4.4.3 A participação cidadã como aliada da gestão social ............................................................... 65 4.5 Metodologia ZOPP (planejamento de projetos orientado por objetivos) ..................... 67 4.6 Planejamento: por que planejar? ................................................................................................... 69 4.6.1 Programas e projetos: do planejamento à avaliação ............................................................... 70 4.7 Financiamento ....................................................................................................................................... 73 4.7.1 Fatores que impulsionam a doação ................................................................................................ 73 4.7.2 Quesitos para captação de recursos ................................................................................................ 74 4.7.3 As formas mais frequentes de concessão de financiamento ............................................... 80 4.8 Monitoramento e avaliação ............................................................................................................. 81 4.8.1 O Monitoramento ................................................................................................................................... 81 4.8.2 A Avaliação ................................................................................................................................................ 83 4.8.3 Monitoramento e avaliação ............................................................................................................... 84 Unidade II 5 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS: DIFERENTES CONCEPÇÕES ............................................................. 91 5.1 Avaliação de programas: diferentes abordagens .................................................................... 92 5.2 Avaliações em função do momento de realização ................................................................. 94 5.3 Avaliações em função de quem a realiza ................................................................................... 95 5.4 Avaliações em função da escala ou dimensão dos projetos .............................................. 97 5.5 Avaliações em função dos destinatários da avaliação .......................................................... 98 5.6 Outros enfoques ................................................................................................................................... 99 5.6.1 Critério do conteúdo ou objeto da avaliação ............................................................................. 99 5.6.2 Critério do mérito, razões ou justificativas ................................................................................100 6 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS E PROJETOS..........................................................................................100 6.1 Metodologia de avaliação de programa e projetos ..............................................................100 6.1.1 A definição de limites e análise do contexto da avaliação ..................................................100 6.1.2 A identificação de perguntas e critérios de avaliação ...........................................................101 6.1.3 O planejamento e a condução de uma avaliação ...................................................................102 6.1.4 Aspectos políticos, éticos e interpessoais da avaliação .........................................................103 6.1.5 Coleta, análise e interpretação de informações quantitativas e qualitativas ..............105 6.1.6 A apresentação do relatório da avaliação ..................................................................................106 6.1.7 Aspectos metodológicos da avaliação .........................................................................................106 6.1.8 Sobre métodos e técnicas .................................................................................................................108 6.2 Avaliação de programas e projetos: alguns elementos fundamentais ........................110 6.2.1 Os objetivos ............................................................................................................................................. 110 6.2.2 As metas ....................................................................................................................................................111 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 6.2.3 As atividades ...........................................................................................................................................112 6.2.4 Os indicadores ........................................................................................................................................ 112 6.2.5 Elementos em ação ..............................................................................................................................113 6.2.6 Análise de custo‑eficácia (ACE) ......................................................................................................114 6.2.7 Análise de custo‑utilidade (ACU) ...................................................................................................117 6.3 Avaliação econômica de programas e projetos .....................................................................118 6.3.1 Análise de custo‑benefício (ACB) ...................................................................................................118 6.3.2 Premissas importantes ....................................................................................................................... 122 6.3.3 O marco lógico ...................................................................................................................................... 122 6.3.4 Avaliação e monitoramento de programas e projetos sociais: um encontro com o serviço social ....................................................................................................................................... 124 Unidade III 7 TRABALHO E INFORMALIDADE: A DESESTABILIZAÇÃO DOS ESTÁVEIS ....................................132 7.1 O mundo do trabalho mudou .......................................................................................................1327.2 Flexibilização e trabalho ..................................................................................................................133 7.3 O perfil demandado ao assistente social diante das múltiplas expressões da questão social .......................................................................................................................................137 7.3.1 Novas demandas profissionais ....................................................................................................... 138 7.3.2 As principais demandas do serviço social .................................................................................. 140 7.3.3 Demanda profissional: aumento da seletividade no âmbito das políticas sociais .... 142 7.3.4 Os desafios para a atuação profissional ..................................................................................... 143 7.3.5 Reordenamento dos serviços sociais ........................................................................................... 147 7.3.6 Terceirização da gestão da questão social ................................................................................ 148 7.3.7 Novas formas de enfrentamento da questão social para o assistente social ............. 149 7.4 Matrizes do processo de trabalho do assistente social .......................................................149 7.4.1 Formação profissional: exigências e perspectivas ...................................................................151 7.4.2 Resgate da assistência social como espaço do exercício profissional............................ 152 7.4.3 Demandas profissionais e os espaços sócio‑ocupacionais ................................................. 154 8 INTERDISCIPLINARIDADE ...........................................................................................................................156 8.1 Interdisciplinaridade e a prática profissional do serviço social .......................................158 8.2 Dialogando sobre a interdisciplinaridade entre o psicólogo social e o assistente social ..........................................................................................................................................161 9 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Você está recebendo o material referente à disciplina de Supervisão da Formação Profissional. Gostaríamos de convidá‑lo a uma reflexão acerca da importância do estágio supervisionado para a formação profissional do assistente social. O estágio permite ao aluno apreender o cotidiano do profissional inserido no espaço sócio‑ocupacional de trabalho, conhecendo e compreendendo as estratégias e técnicas da ação profissional, os instrumentais técnicos operativos, como também as técnicas imprescindíveis pertinentes ao exercício profissional. Analisaremos como a reflexão faz parte do campo de estágio e subsidia a ruptura com o estigma de que teoria e prática são elementos divergentes. Nessa perspectiva, apresentaremos os diversos campos de estágio, algumas características das políticas implementadas nas diversas áreas em que o assistente social se insere e as legislações pertinentes aos direitos sociais que se materializam por meio dessas políticas. Você conhecerá as mudanças ocorridas no mundo do trabalho em virtude da reestruturação produtiva e como essas alterações nas relações de trabalho afetam os trabalhadores e os profissionais do serviço social. Terá ainda a oportunidade de conhecer os precedentes da gestão social, as diferentes concepções de avaliação e monitoramentos de programas e projetos, que são programas e projetos de intervenção do estágio supervisionado voltados para diversas políticas públicas e sociais em que se inserem os profissionais assistentes sociais. Discutiremos também as mudanças no mundo do trabalho, as novas e principais demandas profissionais e os desafios para a atuação profissional e, por fim, a interdisciplinaridade e a prática profissional do serviço social, objetivando a busca de soluções para as demandas coletivas apresentadas aos assistentes sociais. Esperamos que você tenha um bom aproveitamento dos assuntos distribuídos para formação profissional, assim como uma ótima apreensão do exercício profissional no campo de estágio. INTRODUÇÃO Ao longo deste livro‑texto, trataremos do tema da biodiversidade, sustentabilidade do planeta, ecologia e ética, que fazem parte da maioria de seus livros. Em seu pensamento aparece de modo significativo o conceito de cuidado. O cuidado, segundo Boff (2003b), pertence à essência do ser humano e é, inclusive, anterior à racionalidade e à liberdade humanas. Atualmente, a humanidade, dado o processo de degradação generalizado, só sobreviverá se a categoria do cuidado for introduzida em todas as atividades humanas. Para se inserir na divisão social e técnica do mercado de trabalho, toda profissão precisa ser regulamentada por lei específica. O serviço social como profissão institucionalizada surge no Brasil na década de 1930, com a criação das primeiras escolas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Abordaremos o 10 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 serviço social como profissão liberal, apontando algumas fragilidades e possibilidades para o exercício autônomo do assistente social. Apresentaremos as leis que regulamentaram a profissão no Brasil e, por fim, faremos uma introdução da Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social vigente no país (Lei n° 8.662/93). Os princípios fundamentais do Código de Ética do Assistente Social com seus valores ético‑políticos direcionam a identidade profissional do assistente social na luta pela defesa dos direitos humanos, os direitos e as responsabilidades desse profissional, presentes no Código de Ética. Pensar a ética profissional consiste em fazer uma retomada da discussão sobre Ética Geral. Dessa forma, o assistente social precisa conhecer a realidade social e, por meio de uma práxis transformadora, contribuir para a emancipação dos usuários do serviço social. Conhecer a realidade quer dizer conhecer também o espaço de atuação profissional, isto é, o cotidiano das instituições. A vida cotidiana se constitui como espaço de trabalho do assistente social, por isso é alvo de estudos na categoria profissional. Vamos discutir o cotidiano como espaço de atuação do assistente social e a práxis como categoria do fazer profissional. O desempenho do exercício profissional pede a utilização de estratégias e técnicas que estejam subsidiadas pela bagagem teórico‑metodológica acumulada pelo acadêmico durante sua formação na universidade. É importante que essa formação inicial seja realimentada continuamente pela busca incessante de novos conhecimentos que venham a subsidiar a prática profissional. Para tanto, o profissional de serviço social deve ser capaz de estabelecer objetivos e finalidades profissionais e, para tal exercício, é fundamental a relação teoria/prática. Esses dois elementos, conectados, permitem uma mediação que resulta na construção de atividades que venham a criar respostas para as demandas impostas aos assistentes sociais. Nesse sentido, o amadurecimento teórico‑metodológico do serviço social tem em seu bojo a contribuição hegemônica do materialismo dialético. Essa contribuição é percebida no esforço de vários autores que se arvoram a trazer, para o debate do serviço social, diversas categorias da dialética. A mediação, como categoria teórica que tem um papel teórico‑metodológico imprescindível para a intervenção profissional do assistente social, é uma das categorias que passa a fazer parte do instrumental de trabalho dessa profissão. Veremos como o profissional de serviço social deve distinguir as perspectivas profissionais,o que é mais do que um desafio, visto que a realidade é dinâmica e, consequentemente, o exercício profissional também é. Além de destacar alguns desafios profissionais frente à questão social, a fim de despertar em você a reflexão sobre sua atuação futura. Ela deve ser baseada na construção de investigações acerca das complexas realidades apresentadas. Após compreendê‑la, é necessário que você escolha e utilize corretamente os instrumentais na proposição de ações de enfrentamento das expressões da questão social. É fundamental saber posicionar‑se eticamente no exercício profissional, pois a realidade atual está permeada de transformações que lesam as classes subalternas, imputam os direitos sociais e reestruturam as condições de trabalho de todos, inclusive dos assistentes sociais. Com esses conteúdos que vamos estudar, você, aluno, conhecerá em quais espaços sócio‑ocupacionais atuam o profissional de serviço social e compreenderá a atuação profissional da categoria exercida nos espaços em que os assistentes sociais se inserem e como contribuem para a formação profissional 11 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 do acadêmico. E, ainda, realizará uma leitura sobre a supervisão profissionalizante, conhecendo como deve ser o perfil do profissional de serviço social diante do processo de reprodução das relações sociais, das novas necessidades do mercado de trabalho. Esses fatos demandam uma formação profissional que propicie aos assistentes sociais subsídios teóricos, éticos, políticos e técnicos que auxiliem no desenvolvimento de suas competências e habilidades, o que possibilitará uma ação crítica, criativa e comprometida. Para tanto, faz‑se necessário estar familiarizado com as demandas para a atuação profissional, que pressupõem conhecer a realidade, fazendo uso de uma visão de mundo crítica e, ao mesmo tempo, compreensiva. Para analisar as demandas profissionais, é preciso considerar as mudanças que ocorrem em velocidade acelerada na nossa sociedade e algumas situações com que se depara o assistente social na sua atividade profissional, pois há de se levar em conta o contexto em que ele está inserido. Tais situações não representam o todo profissional, são tendências no cenário da categoria, vinculadas ora pela burocracia, ora pelo próprio profissional, ora pela realidade. E, por fim, a interdisciplinaridade no serviço social e sua importância para a articulação das ações profissionais necessárias para que o profissional do serviço social atue em diferentes áreas e espaços sócio‑ocupacionais; como exerce suas atividades em conjunto com diversos profissionais e desenvolve a reciprocidade e a interação com variadas áreas, além de estudar a articulação entre os saberes da profissão para conseguir estabelecer um planejamento na atuação dos profissionais. Essa ação tem como meta buscar efetividade nas propostas de trabalho pretendidas por profissões que atuam juntas. Segundo Severino (2000), interdisciplinaridade é uma tentativa de unidade do saber, seja no ensino, na pesquisa ou na prática social. 13 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Unidade I 1 A ÉTICA DO CUIDADO O que é o cuidado? Como surge? Como se estrutura uma ética fundada no cuidado? Essas são algumas das indagações que vamos investigar a partir de agora. Boff (2003b) introduz a sua reflexão sobre o cuidado fazendo referência à fábula‑mito número 22 de Higino (43 a.C. – 17 d.C.), escravo liberto de César Augusto. Certo dia, Cuidado, passeando nas margens do rio, tomou um pedaço de barro e moldou‑o na forma do ser humano. Nisso apareceu Júpiter e, a pedido de Cuidado, insuflou‑lhe espírito. Cuidado quis dar‑lhe um nome, mas Júpiter lho proibiu, querendo ele impor o nome. Começou uma discussão entre ambos. Nisso apareceu a Terra, alegando que o barro é parte de seu corpo e que, por isso, tinha o direito de escolher um nome. Gerou‑se uma discussão generalizada e sem solução. Então todos aceitaram chamar Saturno, o velho deus ancestral e senhor do tempo, para ser o árbitro. Este tomou a seguinte sentença, considerada justa: – Você, Júpiter, que lhe deu espírito, receberá o espírito de volta quando essa criatura morrer. Você, Terra, que lhe forneceu o corpo, receberá o corpo de volta, quando essa criatura morrer. E você, Cuidado, que foi o primeiro a moldar a criatura, acompanhá‑la‑á por todo o tempo em que ela viver. E, como vocês não chegaram a nenhum consenso sobre o nome, decido eu: chamar‑se‑á homem, que vem de húmus, que significa “terra fértil” (BOFF, 2003b, p. 28‑29). Portanto, antes do espírito e do corpo, é o cuidado que é a característica originária e essencial do ser humano. Cuidado conferiu dedicação, ternura, devoção, sentimento e coração à criatura humana. E com isso criou responsabilidades e fez surgir a preocupação no ser que ele plasmou. Essas dimensões são princípios e fazem parte da constituição do ser humano. No ventre materno e após nascermos, nossos pais ou outras pessoas dispensaram‑nos todo cuidado. Sem ele, não existiríamos. O cuidado é, segundo Boff (2003b, p. 30), aquela condição prévia que permite o eclodir da inteligência e da amorosidade, é o orientador antecipado de todo comportamento para que seja livre e responsável, enfim, tipicamente humano. Sem cuidado, nada que é vivo sobrevive. O cuidado é a força maior que se opõe à lei da entropia, o desgaste natural de todas as coisas, pois tudo de que cuidamos dura muito mais. 14 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I A dimensão do cuidado deve ser resgatada, hoje, como ética mínima e universal se quisermos preservar a herança que recebemos do universo e da cultura e garantir nosso futuro comum. 1.1 Carta da Terra – Código de ética planetário Em 2000, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lança a Carta da Terra, com base em princípios e valores fundamentais que deverão nortear pessoas e Estados no que se refere ao desenvolvimento sustentável. A Carta da Terra trata da nova consciência ecológica e ética da humanidade. Nela, a categoria do cuidado é central. A seguir seguem os princípios da Carta da Terra. I. Respeito e cuidado com a comunidade de vida • Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade. • Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor. • Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas. • Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações. II. Integridade ecológica • Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida. • Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência. • Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem‑estar comunitário. • Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido. III. Justiça social e econômica • Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável. • Afirmar a igualdade e a equidade de gênero como pré‑requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades econômicas. 15 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra raci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL • Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem‑estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias. • Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem‑estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias. IV. Democracia, não violência e paz • Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar‑lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no acesso à justiça. • Integrar na educação formal e aprendizagem, ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável. • Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração. • Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz. Adaptado de: A Carta (2000). Saiba mais Você pode ter mais informações sobre a Carta da Terra na internet no site: <http://www.cartadaterrabrasil.org/>. Para Boff (2003b, p. 75), a Carta da Terra expressa a confiança na capacidade regenerativa da Terra e na responsabilidade dos seres humanos de aprender a amar e a cuidar do lar comum. A Carta da Terra é, segundo Boff, uma proposta de ética mundial, e, se ela for assumida e efetivada universalmente, mudará o estado de consciência da humanidade. 1.2 O ethos profissional do serviço social 1.2.1 O que é ética profissional? Quando se faz uma discussão sobre ética profissional, por mais que não se tenha uma noção sistematizada do seu significado, todos têm algo a dizer: via de regra, as respostas estariam voltadas para a discussão acerca da forma como determinado profissional deve comportar‑se em seu exercício 16 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I profissional. Logo vem à tona a noção do que é certo ou errado, do conjunto de normas, princípios, direitos e deveres que orientam uma determinada profissão. A ética profissional implica, a priori, no direcionamento filosófico e ético‑valorativo que uma determinada profissão escolhe para nortear sua conduta profissional. Esclarecemos de antemão que são vários os elementos constitutivos de um ethos profissional. O debate da ética profissional faz uma reflexão em dois níveis: numa dimensão técnico‑normativa, voltada para os aportes teórico‑filosófico‑ideológicos, e numa dimensão prático‑operativa, que implica no direcionamento ético‑político das respostas profissionais. Tais dimensões estão interligadas e o elo que as sustenta é tanto de natureza teórica (fundamentos que orientam a profissão), quanto ideocultural (visão de mundo dos profissionais). Essa abordagem é melhor esclarecida por Motta: Assim, enquanto a dimensão política da prática encontra‑se imbricada nos objetivos e finalidades das ações, principalmente nas possibilidades de interferir nas relações e situações geradoras das desigualdades e nos mecanismos institucionais para elas voltadas, a dimensão ética reclama por princípios e valores humanos, políticos e civilizatórios; e a dimensão prático‑operativa consiste na capacidade de articular objetivamente os meios disponíveis e os instrumentos de trabalho para materializar os objetivos com base nos valores (MOTTA, 2003, p. 11). Essa abordagem nos instiga a refletir que a ética profissional, apesar de se pautar num conjunto de princípios éticos e políticos presentes no ideário da profissão, vai muito além disso. No item posterior, essa discussão será melhor aprofundada. 1.2.2 A construção do ethos profissional A ética das profissões faz parte de um contexto sociocultural e remete sempre a um debate filosófico. Não existe separação entre a ética profissional e a ética social, tendo em vista que o homem, como ser que vive a sociabilidade, constrói valores que passam a nortear as relações consigo mesmo e com os outros, sendo sujeito ético, cuja consciência foi construída coletivamente. Sobre isso, Brites e Sales enfatizam: Não há, portanto, um hiato entre a ética profissional e a ética social, pois seria cindir a própria vida do homem na sua totalidade, isto é, em seus diversos pertencimentos: trabalho, gênero, família, ideologia, cultura, desejos etc. (2000, p. 8). Isso implica dizer que o homem, como ser social, ser de consciência, que fornece valor, que projeta sua ação, constrói‑se como ser na relação que estabelece com seus pares. Essa noção de indivíduo social só pode ser produzida na relação com o coletivo. Caso contrário, ele não passaria de um ser meramente 17 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL biológico. Nessa perspectiva, “é a existência ética que qualifica, enriquece e torna complexo o processo de (re)produção da coletividade humana” (BRITES; SALES, 2000, p. 8). Nesse contexto, a ética profissional tende a receber determinações que antecedem a escolha pela profissão, pois, como parte de uma socialização primária, produz valores dominantes que são reproduzidos cotidianamente mediante relações sociais mais amplas. Essas determinações que interferem na construção do ethos profissional são permeadas pelo conhecimento e, mais precisamente, pela base filosófica que orienta a profissão. Ao adquirir um conhecimento filosófico capaz de orientar suas escolhas éticas, a profissão assume posicionamento e compromisso políticos fundamentados em determinados valores e princípios que se referenciam num posicionamento teórico, “que expressam uma dada concepção de homem e de sociedade, que se traduzem em normas e diretrizes para a atuação profissional presentes no código de ética” (BRITES; SALES, 2000, p. 9). Seguindo essa linha de raciocínio, compreende‑se que a ética profissional é resultado histórico do “rumo” que uma determinada categoria profissional segue na construção de seus fundamentos valorativos, que vão repercutir na qualidade do exercício profissional. A ética profissional configura‑se num cenário social a partir do direcionamento que lhe é dado pelos profissionais que dela fazem parte. O que, nos termos de Brites e Sales (2000, p. 9), seria: A profissão constrói, historicamente, uma identidade e adquire uma legitimidade social tanto a partir da explicação da função social da profissão quanto dos contornos éticos que assume o trabalho profissional. Esse processo é atravessado por contradições e tensões que envolvem disputas políticas e ideológicas na sociedade. Não esqueçamos que o nosso exercício profissional realiza‑se numa sociedade capitalista, logo há demandas diferenciadas ou entendimentos diversos do que seja função social da profissão, no que concerne aos interesses das classes em relação. Desse modo, há vários projetos societários em confronto e o posicionamento da categoria, ao qual nos referimos, expressa exatamente a opção por um determinado projeto social. Nessa perspectiva, Barroco (2005) vem corroborar com essa reflexão, ao afirmar que a ética profissional é permeada por conflitos e contradições e suas determinações fundadoras extrapolam a profissão, remetendo às condições mais gerais da vida social. E prossegue: A natureza da ética profissional não é algo estático; suas transformações, porém, só podem ser avaliadas nessa dinâmica, ou seja, em sua relativa autonomia em face das condições objetivas que constituem as referências ético‑morais da sociedade e rebatem na profissão de modo específicos (BARROCO, 2005, p. 69). 18 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o;C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I Nesse sentido, o ethos profissional se configura como modo de ser construído na relação que ocorre entre as necessidades ideoculturais e socioeconômicas e as possibilidades de escolhas que permeiam as ações ético‑morais nos aspectos diversos, mutáveis e contraditórios das relações sociais que são estabelecidas na sociedade em que se insere. Para corroborar essa discussão, citamos mais uma vez a Barroco, que brilhantemente compreende o ethos profissional. Como um modo de ser construído a partir das necessidades sociais inscritas nas demandas postas historicamente à profissão e nas respostas ético‑morais dadas por ela nas várias dimensões que compõem a ética profissional (BARROCO, 2005, p. 69). Isso implica dizer que a construção de um ethos profissional extrapola o caráter normativo da profissão e sua composição se dá no campo de diversas esferas, ora assinaladas por Barroco (1999, p. 129): Esfera teórica: trata‑se das orientações filosóficas e teórico‑metodológicas que servem de base às concepções éticas e profissionais, com valores, princípios, visão de homem e de sociedade. Esfera moral prática: diz respeito: a) ao comportamento prático individual dos profissionais relativo às ações orientadas pelo que se considera bom/ mau, aos juízos de valor, à responsabilidade e compromisso social, à autonomia e consciência em face das escolhas e das situações de conflito; b) ao conjunto das ações profissionais em sua organização coletiva, direcionada para a realização de determinados projetos com seus valores e princípios éticos. Esfera normativa: expressa‑se no Código de Ética Profissional, exigido, por determinação estatutária, de todas as profissões liberais. Trata‑se de um código moral que prescreve normas, direitos, deveres e sansões determinadas pela profissão, orientando o comportamento individual dos profissionais e buscando consolidar um determinado projeto profissional com uma direção social explícita. Diante do exposto, reitera‑se a discussão de que um ethos profissional não se restringe meramente ao conjunto de normas e princípios que orientam determinada profissão. Essa visão que relaciona a ética profissional exclusivamente ao código de ética e ao conjunto de obrigações formais é equivocada e possui caráter ético meramente legalista. A dimensão da ética profissional extrapola o caráter endógeno da profissão: ela é o retrato daquilo que uma profissão escolheu para adquirir uma certa legitimidade social, que implica também em direcionamento teórico‑filosófico, posicionamento ético‑político e o modo de ser e viver dos profissionais, sujeitos individuais e coletivos que participam ativamente na construção desse ethos. 19 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL O conteúdo da ética profissional é construído na prática cotidiana da categoria profissional perante as necessidades sociais que perpassam a sua trajetória sócio‑histórica, dando‑lhe legitimidade exatamente pelo posicionamento ético‑político que esta assume diante da sociedade e, mais precisamente, no compromisso assumido com o projeto profissional que orienta seu agir profissional. 1.2.3 Trajetória do ethos profissional em serviço social Abordar a trajetória histórica da ética profissional em serviço social implica em fazer uma breve abordagem do processo de construção da profissão. O serviço social é construído no seio de relações sociais e, mais especificamente, no bojo do processo de consolidação do capitalismo monopolista, em que o caráter contraditório da divisão capital‑trabalho gera uma série de “mazelas sociais”. Igreja, burguesia e Estado vão aliar‑se para tentar apaziguar as situações de “caos social” e paralelamente conter os avanços da classe operária que reivindicava seus direitos. O serviço social configura‑se como fruto de múltiplas determinações que lhe conferem significado histórico e social. A construção de seu ethos não poderia estar descolada da forma como essa profissão vem se configurando no cenário capitalista. Seguindo essa linha de raciocínio, a Ética do serviço social pode ser dividida em duas etapas: um ethos conservador ou tradicional, que vai até meados dos anos 1970, e um ethos de ruptura, que tem seu marco inicial nessa mesma década. 1.2.4 O ethos conservador do serviço social O ethos conservador do serviço social expressa a moral burguesa articulada com a cristã e a positivista. Dessa forma, podemos afirmar que a ética tradicional em serviço social preconiza a defesa da autoridade, da ordem e da tradição. Essa abordagem traz uma visão de homem e de sociedade expressa na tríade: neotomismo, pensamento conservador e positivismo. Não compete aqui fazer uma explanação dessas três teorias, visto que isso implicaria em uma acirrada discussão, no entanto, é necessário retomar, brevemente, cada uma delas. O neotomismo significou uma retomada da filosofia de Santo Tomás de Aquino (teólogo/filósofo do século XIII) a partir das primeiras décadas do século XX. Essa filosofia restauradora teve repercussão (aliás, ainda tem) nas doutrinas da Igreja. Seus pressupostos se referenciam no princípio de que Deus é a fonte de todos os seres e que a pessoa humana, sendo à imagem e semelhança de Deus, é caracterizada como um ser de dignidade, perfectibilidade e sociabilidade humana. O foco central dessa corrente teve forte repercussão na formação moral dos primeiros assistentes sociais, com a ideia primordial de bem comum e harmonia da sociedade. No tocante ao pensamento conservador, pode‑se afirmar que este constitui um conjunto de ideias que traz a herança do pensamento intelectual europeu do século XIX, que, reinterpretado, transforma‑se em uma ética de explicação e em projetos de ação favoráveis à manutenção da ordem capitalista. Suas principais características implicam a defesa da tradição social, com origem medieval. 20 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I Vejamos o que diz em Brites e Sales (2000, p. 25), acerca desse pensamento: Daí a valorização dos seguintes elementos: status, hierarquia, tradição, autoridade, corporativismo, ritualismo, simbologismo religioso e de pequenos grupos, como família, vizinhança, comunidade, entre outros. O conservadorismo no serviço social significou o período que vai desde a gênese profissional, na década de 1930, até meados da década de 1960, e foi contestado a partir do Movimento de Reconceituação. Essa fase já foi discutida na disciplina de Fundamentos do Serviço Social. O positivismo se configura como corrente filosófica de pensamento, sistematizada por Auguste Comte (século XIX), que parte do princípio de que a vida social é regida por leis que são similares às leis da natureza. A filosofia positivista inspira‑se no método de investigação das ciências da natureza para explicar a vida social. Na concepção positivista, a sociedade é um todo orgânico, constituído por partes integradas e coesas que funcionam harmonicamente, seguindo um modelo físico ou mecânico. Durante anos, a prática do serviço social ficou sob esse entendimento, seja na visão de homem e de sociedade, seja nas práticas cotidianas dos primeiros assistentes sociais. O caráter ajustador e a visão clientelista da profissão são duas dessas características que durante muito tempo vão orientar os assistentes sociais. Entre os objetivos da profissão, estaria presente o papel de eliminar as disfuncionalidades do indivíduo. Os problemas sociais eram considerados como anormalidades e competia ao profissional tratar as condutas desviadas. Nessa perspectiva, a tríade pensamento conservador/neotomismo/positivismo vai eliminardo âmbito da formação e do exercício profissional a compreensão sobre: • a substância profundamente desigual da sociedade capitalista, considerada como natural, harmônica e capaz de realizar as necessidades individuais e sociais; • as condições da exploração capitalista e as relações sociais que sustentam o trabalho alienado, inerentes ao processo de dominação e manutenção da ordem burguesa; • o caráter contraditório da prática profissional e sua participação no processo de reprodução social dos interesses de classes contrapostas que convivem em tensão (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 167); • a dimensão ético‑política da prática profissional, em nome de uma neutralidade axiológica, afinada com a necessidade de legitimar a suposta “face humanitária do Estado e do empresariado” (BRITES; SALES, 2000, p. 27). Diante dessa breve contextualização faz‑se a seguinte indagação: como tudo isso vem repercutir na ética profissional dos assistentes sociais? E qual a relação dessa tríade com os códigos de ética? Pois bem. A história da ética em serviço social traz em seu bojo cinco códigos de ética: a primeira formulação em 1947; uma reformulação em 1965; uma reelaboração em 1975 (esses três primeiros 21 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL códigos são o que denominamos de ethos tradicional); uma reformulação de 1986; e o código de 1993 (ethos de ruptura). Os três primeiros códigos – compreendendo código de ética como “uma dimensão da ética profissional que remete para o caráter normativo e jurídico que regulamenta a profissão no que concerne as implicações éticas de sua ação” (BONETTI, 1996, p. 171) – ao longo de seus artigos e alíneas, vêm corroborar essa proposta de uma ética valorativa voltada para as ideias de bem comum, pessoa humana, integração social etc. Para uma abordagem ilustrativa, vejamos alguns artigos do código de 1965: Artigo 7º – Ao assistente social cumpre contribuir para o bem comum esforçando‑se para que o maior número de criaturas humanas dele se beneficiem, capacitando indivíduos, grupos e comunidades para sua melhor integração social. Artigo 8º – O assistente social deve colaborar com os poderes públicos na preservação do bem comum e dos direitos individuais, dentro dos princípios democráticos, lutando inclusive para o estabelecimento de uma ordem social justa (CFESS, 1965, p. 02). O Código de 1975 também não foge a essa fundamentação, vejamos: Artigo 5º, inciso II, alínea b, dos deveres do assistente social: Esclarecer o usuário quanto a diagnóstico, prognóstico, plano e objetivos do tratamento, prestando à família ou aos responsáveis os esclarecimentos que se fizerem necessários (CFESS, 1975, p. 04). Ainda no artigo 5º, inciso VI, alíneas a e b: a) zelar pela família, defendendo a prioridade dos seus direitos e encorajando as medidas que favoreçam sua estabilidade e integridade; b) participar de programas nacionais e internacionais destinados à elevação das condições de vida e correção dos desníveis sociais (CFESS, 1975, p. 04‑05). Em suma, o ethos conservador do serviço social, observado nos códigos de ética, anteriormente apresentados, vai perpassar toda a constituição histórica da profissão que, até meados dos anos 1970, trazia um perfil legitimador da ordem capitalista. O processo de ruptura vai ocorrer pouco depois do Movimento de Reconceituação. 22 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I 1.2.5 O ethos de ruptura Já dissemos anteriormente que a ética de uma profissão não se restringe a um código de ética, que sua construção se configura na própria construção da profissão inserida em uma determinada sociedade. Pois bem, a construção de uma nova moralidade profissional do serviço social está voltada para o “novo” direcionamento interventivo que essa profissão assume no cenário brasileiro nos anos 1980 e 1990. O novo ethos profissional do serviço social é mediado por um comprometimento político com a classe trabalhadora e com as lutas populares. Busca garantir uma ética profissional voltada para uma nova moralidade profissional, que implica valores emancipatórios, como a defesa da democracia, da liberdade e dos direitos. Com respaldo teórico na vertente marxiana de pensamento, o serviço social vai adentrar os anos 1980 com certa maturidade teórico‑metodológica e ideológico‑política, que tende a se consolidar nos anos 1990 com o novo Projeto Ético‑Político Profissional. Sobre esse projeto, aprofundaremos a discussão em módulos posteriores. O Código de Ética de 1986 implica em uma ruptura com os códigos anteriores e vai trazer uma nova abordagem dos fundamentos ético‑filosóficos da profissão ao negar definitivamente as ideias abstratas, metafísicas e idealistas do real (da sociedade e do homem), dos códigos anteriores. A nova ética é resultado da luta da classe trabalhadora e, consequentemente, de uma nova visão da sociedade brasileira. Nesse sentido, a categoria, por meio de suas organizações, faz uma opção clara por uma prática profissional vinculada aos interesses desta classe (CFESS, 1986, p. 7). O Código de 1986 trouxe avanços significativos para a história de um novo ethos da profissão, principalmente no que diz respeito aos aspectos políticos e educativos. Todavia, apresentou fragilidade quanto à sua operacionalização no cotidiano profissional, ou seja, era preciso valorizar os aspectos educativos e políticos, sem deixar de dar a mesma importância aos aspectos normativos e jurídicos, que praticamente não foram enfatizados no novo código, sendo necessária uma nova revisão, que culminou com o novo Código de 1993. Paiva e Sales (2000, p. 176) vêm embasar essa discussão: O código precisa tematizar, na verdade, o dever ser: como a prática pode ser realizada de acordo com os princípios éticos definidos pelo projeto político‑profissional, recusar o que não é aceitável dentro do exercício do serviço social, ou seja, o que é proibido e vedado ao assistente social fazer. Tais parâmetros não ficavam, porém, suficientemente claros no texto anterior, em termos de possibilidades de respostas e situações e dilemas profissionais, demonstrando a presença mais de uma entonação teórico‑metodológica do que de uma configuração normativa. 23 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Apesar das críticas levantadas em torno do Código de 1986 no tocante a essa limitação normativa, houve reconhecimento de que ele representou um extraordinário avanço ao expressar, no plano da reflexão ética, boa parte do conjunto de conquistas que a categoria vinha acumulando desde o Movimento de Reconceituação. A nova reformulação com o Código de 1993 vai se apropriar desse conjunto de conquistas já assinaladas com o Código de 1986, como a luta pela democracia e pela cidadania, o que culminou com o reconhecimento pelo serviço social dos usuários e dos seus direitos. Sobre isso, remete‑se à Terra (2000, p. 2) que afirma: “O novo Código de Ética desponta como instrumento de defesa não só para a categoria como, também, para o usuário”. O novo Código Profissional vai configurar uma acirrada postura profissional respaldada por princípios e valores que preconizam uma defesa intransigente “da democracia, da equidade, da liberdade, da defesa do trabalho, dos direitos sociais e humanos, contestando discriminações de todas as ordens” (NETTO, 1999, p. 12), numa perspectiva de fortalecer cada vez mais a identidade profissional articulada com um projeto de sociedade mais justa e democrática, em que a emancipação humana esteja acima de tudo. 1.2.6 Serviço Social: uma profissãoliberal Podemos começar com a seguinte pergunta: o que é uma profissão liberal? Conforme preconiza o Estatuto da Confederação Nacional das Profissões Liberais (CNPL) no seu artigo 1º, “profissional liberal é aquele legalmente habilitado à prestação de serviços de natureza técnico‑científica de cunho profissional com a liberdade de execução que lhe é assegurada pelos princípios normativos de sua profissão, independente de vínculo da prestação”. De acordo com a CNPL, profissão liberal é aquela que se constitui como uma profissão legalmente reconhecida e regulamentada por lei específica. O profissional deve ter uma formação técnica ou superior. A formação deve propiciar a aquisição de conhecimentos teóricos, técnicos e metodológicos, todos de cunho científico. Quando o Estatuto da Confederação Nacional das Profissões Liberais se refere à liberdade do profissional na execução de suas atribuições, está garantindo a autonomia profissional. No entanto, é cada vez menor o número de profissionais que exercem suas atividades de forma autônoma. No caso do serviço social, a maioria dos assistentes sociais atua no âmbito do serviço público (União, Estado e Município), na condição de assalariado‑vendedor de sua força de trabalho. Ao referir‑se aos princípios normativos, a CNPL preconiza que o exercício profissional deve ser orientado pelas normativas estabelecidas em lei que regulamentam a profissão. O serviço social é regulamentado pela Lei n° 8.662, de 07 de junho de 1993 (BRASIL, 1993) e o fazer profissional do assistente social é norteado pelo Código de Ética do Assistente Social. O exercício profissional é ainda fiscalizado pelas entidades representativas da categoria: Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS). 24 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I O serviço social foi enquadrado como profissão liberal pela Portaria n° 35, de 19 de abril de 1949, do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, no 14º grupo de profissões liberais (BRASIL, 1949). Apesar de o serviço social ser considerado como uma profissão liberal, autores dessa área discutem sobre a fragilidade da autonomia do assistente social no exercício profissional. Vamos pontuar as observações feitas por Marilda Vilella Iamamoto, no livro Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. Para Iamamoto e Carvalho (2000), o serviço social não tem uma prática peculiar às profissões liberais. O assistente social não tem exercido a profissão de forma independente, não dispondo de condições materiais e técnicas para exercer o seu trabalho de forma autônoma. Ele se constituiu como vendedor de sua força de trabalho, em uma relação de assalariamento. Esse profissional não tem o completo controle sobre o seu trabalho, especialmente no que se refere às questões de caráter administrativo, como a jornada de trabalho a ser cumprida, o valor da sua remuneração e, ainda, o público a ser atendido. Na maioria das vezes, quando o assistente social se insere na instituição empregadora, essas questões já estão predefinidas. A fragilidade da autonomia profissional do assistente social não implica na eliminação do caráter liberal do serviço social, visto que a profissão é regulamentada por lei. Outra característica a ser ressaltada é a existência de uma relação singular no contato direto com os usuários, o que reforça um certo espaço para a atuação técnica, abrindo a possibilidade de se reorientar a forma de intervenção conforme a maneira de se interpretar o papel profissional (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 80). Portanto é preciso ter claro que há uma definição jurídico‑legal que assegura o caráter de profissão liberal ao serviço social e que possibilita e garante ao assistente social o exercício independente da sua profissão. A profissão tem uma Lei de Regulamentação que estabelece atribuições que são privativas do assistente social. A seguir, faremos uma contextualização histórica do processo de regulamentação do serviço social. 1.2.7 Regulamentação do serviço social: contextualização histórica Na década de 1930, surgem no Brasil as primeiras escolas de serviço social, fundamentadas na doutrina cristã da Igreja Católica e na filantropia e caridade, praticadas pelos agentes leigos da Igreja. Nessa época, o serviço social tinha um caráter conservador e atuava para legitimar a ordem estabelecida pelas classes dominantes em detrimento da defesa dos direitos das classes trabalhadoras. Somente na década de 1950, especificamente em 13 de junho de 1953, foi criada a Lei n° 1.889, regulamentada pelo Decreto n° 35.311 de 1954. A referida lei dispunha sobre os objetivos do ensino do serviço social, sobre sua estruturação e ainda sobre as prerrogativas dos portadores de diploma de assistente social e agente social. 25 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Ainda na década de 1950, foi instituída a Lei n° 3.252, de 27 de agosto de 1957, regulamentada pelo Decreto n° 994, de 15 de maio de 1962. Essa lei regulamentou o exercício da profissão de assistente social e criou o Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e os Conselhos Regionais (CRAS). De acordo com o art. 3° da Lei n° 3.252, são atribuições do assistente social: • direção de escolas de serviço social; • ensino das cadeiras ou disciplinas de serviço social; • direção e execução do serviço social em estabelecimentos públicos e particulares; • aplicação dos métodos e técnicas específicos do serviço social na solução de problemas sociais. Na década de 1990, especificamente em 07 de junho de 1993, foi sancionada a Lei n° 8.662/93 de Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Esta regulamenta a profissão e representa um avanço no serviço social, pois contempla as conquistas da categoria no que diz respeito à ampliação da atuação profissional. Além disso, a nova legislação revoga a Lei n° 3.252/57. A Lei 8.662/93 estabelece atribuições que são privativas do assistente social. Altera as denominações de Conselho Regional de Assistentes Sociais (CRAS) para Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) e de Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) para Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). A seguir, vamos conhecer aspectos introdutórios da lei atual de regulamentação da profissão e as atribuições privativas do assistente social. 1.2.7.1 Conhecendo a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social A Lei n° 8.662, de 07 de junho de 1993, dispõe sobre a profissão de assistente social e assegura que “é livre o exercício da profissão de Assistente Social em todo o território nacional, observadas as condições estabelecidas nesta lei” (Art. 1º). No artigo 2º, a Lei n° 8.662/93 preconiza que somente poderão exercer a profissão de assistente social os possuidores de diploma em curso de graduação em serviço social, oficialmente reconhecido e expedido por estabelecimento de ensino superior existente no país, devidamente registrado no órgão competente. O parágrafo único do referido artigo dispõe que “o exercício da profissão de assistente social requer prévio registro nos Conselhos Regionais que tenham jurisdição sobre a área de atuação do interessado nos termos desta lei”. O art. 3º deixa explícito que a designação profissional de assistente social é privativa dos habilitados na forma da legislação vigente, não devendo ser usado para indicar práticas assistenciais. 26 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I No artigo 5º da Lei n° 8.662/93, estão estabelecidas as atribuições privativas do assistente social: • coordenar, elaborar, executar, supervisionare avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de serviço social; • planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de serviço social; • prestar assessoria e consultoria em órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de serviço social; • realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de serviço social; • assumir, no magistério de serviço social, tanto em nível de graduação como de pós‑graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; • fazer treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de serviço social; • dirigir e coordenar unidades de ensino e cursos de serviço social, de graduação e pós‑graduação; • dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em serviço social; • elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para assistentes sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao serviço social; • coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de serviço social; • fiscalizar o exercício profissional por meio dos Conselhos Federal e Regionais; • dirigir serviços técnicos de serviço social em entidades públicas ou privadas; • ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional. Somente o assistente social pode exercer essas funções sob pena de medidas judiciais cabíveis ao exercício ilegal da profissão. O artigo 15º da Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social determina que “é vedado o uso da expressão serviço social por quaisquer pessoas de direito público ou privado que não desenvolvam atividades previstas nos art. 4º e 5º da Lei n° 8.662/93”. O parágrafo único do mesmo artigo atesta que: 27 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL As pessoas de direito público ou privado que se encontrem na situação mencionada neste artigo terão o prazo de noventa dias, a contar da data de vigência desta lei, para processarem as modificações que se fizerem necessárias a seu integral cumprimento, sob pena das medidas judiciais cabíveis (BRASIL, 1993). Percebe‑se um avanço no serviço social desde a promulgação da Lei n° 3.252 de regulamentação da profissão em 1957, que só se referia a atribuições do assistente social em termos de prática da docência, direção, secretaria e supervisão nas escolas de serviço social, bem como somente à função de direção e execução de serviços sociais. A Lei n° 8.662/93 trouxe avanços, na medida em que trata também de coordenação, elaboração, execução e avaliação de programas e projetos sociais e, na área do ensino, acrescenta o magistério de serviço social tanto em nível de graduação como de pós‑graduação e a supervisão direta de estagiários de serviço social. 1.2.7.2 Contextualização do serviço social O serviço social surge durante a implantação do sistema capitalista, quando da instauração da Revolução Industrial, no século XIX. Nesse contexto histórico, emerge na sociedade a luta de classes entre burguesia e proletariado. Com a consolidação do sistema capitalista surge a chamada questão social, que exige a intervenção do Estado nas relações entre empresariado e operários, para minimizar os problemas sociais advindos da exploração da força de trabalho para acumulação de lucros. O lucro é a mola propulsora do modelo capitalista. Para alcançá‑lo, os donos do capital exploram a força de trabalho da classe operária, que produz riquezas para as classes dominantes. Nesse cenário, em que uma classe que detém todos os meios de produção e todo o poder econômico, para se legitimar como classe hegemônica, explora uma classe subalterna que só detém sua força de trabalho na luta pela sobrevivência, gestam‑se as condições para o surgimento do serviço social como profissão. O serviço social teve, no início da sua profissionalização, a missão de contribuir para a legitimação do capitalismo. Para isso, desenvolveu uma prática profissional pautada pelos ditames da burguesia industrial, com vistas a atender aos interesses das classes dominantes. Com essa missão, o serviço social se inseriu na divisão social e técnica do mercado de trabalho, na organização e prestação de serviços sociais, por meio de políticas públicas e sociais para o enfrentamento da questão social como resposta do Estado às condições de miséria por que passava a classe operária. Na atualidade, o serviço social atua sob novas perspectivas, na defesa intransigente dos direitos humanos e na recusa do autoritarismo. Assume o compromisso profissional em favor da ampliação e consolidação da cidadania, da democracia, da equidade e da justiça social, com vistas à construção de uma nova ordem societária, sem dominação‑exploração de classe, etnia e gênero. 28 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I Na contemporaneidade, o serviço social vem traçando um fazer profissional na formulação de propostas criativas frente às expressões da questão social. Sobre o serviço social na contemporaneidade, Iamamoto (2001, p. 75) afirma que o desafio é redescobrir alternativas e possibilidades para o trabalho profissional no cenário atual; traçar horizontes para a formulação de propostas que façam frente à questão social e que sejam solidárias com o modo de vida daqueles que a vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação e conquistas da sua vida, da sua humanidade. Essa discussão é parte dos rumos perseguidos pelo trabalho profissional contemporâneo. Na sociedade vigente, o assistente social necessita estar revestido do conhecimento teórico e metodológico para conseguir decifrar a realidade na qual está inserido para, assim, intervir de forma propositiva e criativa, em uma perspectiva emancipatória dos usuários da profissão, com vistas à transformação social. Para contribuir na construção de uma nova ordem societária, mais justa e equânime, a atuação do assistente social é norteada pelo Código de Ética do Assistente Social. O desafio para o profissional é materializar os princípios fundamentais do Código de Ética no cotidiano da prática laboral. 2 COMPETÊNCIA E HABILIDADE DO ASSISTENTE SOCIAL Pensar a ética profissional consiste em fazer uma retomada da discussão sobre ética geral. A ética “como filosofia crítica interfere diretamente na realidade, contribui para a ampliação das capacidades ético‑morais” (BARROCO, 2005, p. 55). Sob esta ótica, a ética perpassa todas as dimensões da vida social, daí a “fragmentação” em diversas éticas: ética social, ética religiosa, ética familiar, ética profissional. Você, naturalmente, pode pensar que a ética é uma coisa bem presente na sua vida cotidiana. E o é, já que os nossos comportamentos são recheados de valores morais que foram construídos historicamente e que por sua vez são alvo de reflexão ética. Pois bem, nesse momento vamos abordar o tema da ética, e mais precisamente a sua relação com a ética profissional, levando‑o a compreender que não há um hiato entre elas. Por isso, queremos convidá‑lo a refletir sobre essa relação. 2.1 Código de Ética de 1993: algumas considerações O Código de Ética do Assistente Social de 1993, com seus valores ético‑políticos, direciona a identidade profissional do assistente social na luta pela defesa dos direitos humanos. Essa luta se dá na relação entre o público e o privado, isto é, entre as instituições públicas e privadas e o “desafio é transformar espaços de trabalho, especialmente estatais, em espaços de fatopúblicos, alargando as possibilidades de apropriação da coisa pública por parte da coletividade” (IAMAMOTO, 2001, p. 79). O Código de Ética fornece respaldo jurídico à profissão e se constitui como referência ético‑política para o assistente social. Estabelece um conjunto de regras jurídico‑legais para a atuação profissional, traduzidos em forma de artigos. 29 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Os artigos são, portanto, dotados da capacidade seja de orientar as melhores escolhas, seja de detectar e combater as infrações à ética profissional. A partir daí, tais infrações tornam‑se passíveis de denúncia por qualquer pessoa que se sinta lesada em seus direitos, decorrente da atuação profissional do assistente social e, portanto, de ser alvo da apreciação e ação dos órgãos fiscalizadores da categoria, os Conselhos Regionais de Serviço Social – CRESS (PAIVA; SALES, 2000, p. 180). O Código de Ética cita onze princípios fundamentais que materializam o Projeto Ético‑Político do serviço social e os compromissos ético‑profissionais do assistente social com os usuários da profissão. Os princípios perpassam os artigos e as alíneas do código e se configuram ao longo dos títulos e capítulos. Sua estrutura é composta de quatro títulos. O primeiro trata das disposições gerais sobre a competência do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). O título II se reporta aos direitos e às responsabilidades gerais do assistente social. No título III, abordam‑se as relações profissionais do assistente social com os usuários, com as instituições empregadoras, com outros profissionais, com entidades da categoria e demais organizações da sociedade civil. Além disso, refere‑se ao sigilo profissional e às relações do assistente social com a justiça. O título IV trata da observância, das penalidades, da aplicação e do cumprimento do Código de Ética. O Código de Ética do Assistente Social de 1993, nos seus quatro títulos, é composto por seis capítulos e trinta e seis artigos que asseguram os direitos do assistente social, bem como estabelecem os seus deveres profissionais. Defende muito mais os interesses dos usuários do serviço social do que os interesses do assistente social, por isso se constitui como um código peculiar na história das profissões liberais. 2.2 Princípios fundamentais do Código de Ética de 1993 Os princípios fundamentais do Código de Ética de 1993 articulam‑se e complementam‑se entre si para nortear os caminhos a serem percorridos pelo assistente social na sua atuação profissional, a partir dos compromissos assumidos pela categoria com os usuários do serviço social. Apresentaremos agora os princípios do Código de Ética, trazendo algumas considerações sobre cada um deles. 2.2.1 1º Princípio O 1º Princípio traz o “reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais” (CFESS, 1993, p. 23). Segundo Paiva e Sales (2000), o conceito de liberdade defendido pelo Código de Ética refere‑se ao indivíduo como sujeito com direito à liberdade, contrário à liberdade defendida pelo sistema capitalista, a qual diz respeito ao livre arbítrio ou individualismo. No modo de produção capitalista, o indivíduo é livre para usufruir de todas as oportunidades e possibilidades oferecidas pelo Estado. O sucesso e o fracasso no trabalho são atribuídos ao indivíduo. O sistema abstém‑se de qualquer responsabilidade. 30 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 Unidade I A liberdade referenciada pelo Código de Ética faz menção ao “indivíduo como fonte de valor, mas dentro da perspectiva de que a plena realização da liberdade de cada um requer a plena realização de todos” (PAIVA; SALES, 2000, p. 182). A liberdade deve ser regida pela autonomia dos indivíduos sociais, conforme estabelece o Código de Ética. 2.2.2 2º Princípio O 2º Princípio faz menção à “defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo” (CFESS, 1993, p. 23). Esse princípio deixa explícito o posicionamento da categoria profissional na luta em prol da defesa dos direitos humanos e da recusa de toda forma de dominação, autoritarismo, violência, exploração, opressão e crueldade contra a pessoa humana. Trata‑se de empreendermos uma recusa e um combate nos espaços institucionais e nas relações cotidianas, diante de toda as situações que ferem a integridade dos indivíduos e que os submetem ao sofrimento, à dor física e à humilhação. Como contraponto a essa lógica da perversidade e da omissão, os assistentes sociais devem imbuir‑se pelo Código de Ética, que sinaliza um espírito e uma postura assentados numa cultura humanística e essencialmente democrática (PAIVA; SALES, 2000, p. 185). O assistente social deve orientar os usuários do serviço social sobre os seus direitos e buscar alternativas e possibilidades de atendimento para que esses direitos sejam garantidos e efetivados de fato, pois sabemos que eles estão assegurados em leis, no entanto, precisam alcançar os cidadãos, como forma de proteção e promoção social. 2.2.3 3º Princípio O 3º Princípio discorre sobre a “ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras” (CFESS, 1993, p. 23). O assistente social é um profissional que atua no espaço de viabilização de direitos, intervindo nas políticas públicas sociais, em programas institucionais e na prestação de benefícios aos usuários da profissão. Sua atuação deve primar pela ampliação e consolidação da cidadania. Comprometermo‑nos [...] com a cidadania implica apreendê‑la na sua real significação, o que seguramente exige a ultrapassagem da orientação civil e política imposta pelo pensamento liberal e, como tal, a superação dos limites engendrados pela reprodução das relações sociais no capitalismo. A cidadania, de acordo com a nova acepção ético‑política proposta, consiste na universalização dos direitos sociais, políticos e civis, pré‑requisito este fundamental à sua realização (PAIVA; SALES, 2000, p. 187). 31 SS OC - R ev isã o: R os e Ca st ilh o; C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - 0 5/ 12 /2 01 3 SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL O assistente social como profissional criativo e propositivo deve constantemente buscar estratégias teórico‑metodológicas e políticas para viabilizar o acesso do cidadão aos bens e serviços oferecidos pelas instituições públicas. Para contribuir na universalização dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras, o assistente social tem de ultrapassar os entraves e limites impostos pela burocracia existente nas instituições públicas, a partir da prestação de serviços que possibilitem aos usuários a garantia de seus direitos que são assegurados em leis vigentes no país. Acredita‑se que, só por meio da efetivação dos direitos, os indivíduos poderão usufruir da plena cidadania. 2.2.4 4º Princípio O 4º Princípio menciona a “defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida” (CFESS, 1993, p. 23). Esse princípio diz respeito à necessidade de socialização da riqueza socialmente produzida no país e da participação política dos trabalhadores nas decisões institucionais. Diante desse princípio, importa relembrar que vivemos em uma sociedade regida por um modo de produção que tem como interesse maior a acumulação de lucro e riquezas em benefício de uma classe que, apesar de ser minoria, detém todos os meios de produção e explora uma classe que, apesar de
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