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52764512-Estudos-Culturais-2010

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PROGRAMA 
Com esta disciplina de carácter propedêutico, pretende-se proporcionar aos alunos 
instrumentos e competências metodológicas fundamentais para uma melhor análise e 
compreensão das práticas discursivas e sociais no mundo contemporâneo. 
Para esse efeito, levar-se-á em linha de conta o seguinte elenco programático: 
 
1. Cultura: paradigmas conceptuais e modos de abordagem. 
2. Globalização e diversidade cultural. 
3. Multiculturalismo e interculturalidade. 
4. Nação e pós-colonialismo. 
5. Raça e etnicidade. 
6. Comunicação de massas e indústrias culturais. 
7. Sociedade e novas tecnologias. 
MÉTODOS DE ENSINO 
Para além da exposição teórica levada a cabo pelo docente, lançando mão de 
variadas estratégias, será valorizado o contributo activo e crítico dos alunos, tanto no 
que concerne à leitura e discussão de textos teóricos, como aos exercícios de análise 
orientada, com base num corpus textual e audiovisual previamente seleccionado. 
 
RESULTADOS 
Espera-se que, no final do semestre, os alunos sejam capazes de articular, de modo 
produtivo, a reflexão sobre os paradigmas teóricos, na sua complexidade e 
diversidade de manifestações, e os instrumentos metodológicos mais adequados com 
a prática de análise de diversas formas textuais e discursivas. 
 
SISTEMA DE AVALIAÇÃO 
Propõe-se a existência de dois regimes de avaliação: 
 1. Avaliação final através de exame escrito, que abrange todos os conteúdos 
leccionados (podendo implicar uma prova oral, nos termos previstos no Regulamento 
em vigor na Faculdade). 
 2. Avaliação contínua, mediante os seguintes critérios: 
a) a realização de duas provas, abrangendo cada uma delas um sector distinto da 
matéria leccionada e que terão lugar sensivelmente a meio e no final do período de 
aulas previsto para o 1.º semestre (45%+45%); 
b) a participação regular nas actividades lectivas (10%). 
c) a frequência de 75% das aulas leccionadas. 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
2 
 
 
 
O HORIZONTE DE PESQUISA DOS ESTUDOS CULTURAIS 
 
 
1. Para Stuart Hall (um dos responsáveis pela afirmação desta área de pesquisa): 
 
“Os estudos culturais não configuram uma ‘disciplina’ mas uma área onde diferentes 
disciplinas interactuam, visando o estudo de aspectos culturais da sociedade.” 
(Hall et al., Culture, Media, Language, 1980: 7). 
 
 
 
2. No volume Cultural Studies, organizado por L. Grossberg, C. Nelson e P. 
Treichler, considera-se que estamos perante: 
 
«um campo interdisciplinar, transdisciplinar e, por vezes, contradisciplinar que opera 
na tensão entre a tendência para adoptar uma concepção de cultura ampla, 
antropológica, e outra concepção mais estreitamente humanista. Diferentemente da 
antropologia tradicional, contudo, eles nasceram de análises das modernas 
sociedades industriais. Eles são, por norma, interpretativos e avaliativos nas suas 
metodologias, mas, diferentemente do humanismo tradicional, rejeitam a identificação 
exclusiva da cultura com a alta cultura e argumentam que todas as formas de 
produção cultural têm de ser estudadas em relação com outras práticas culturais e 
com estruturas sociais e históricas. Os estudos culturais dedicam-se, assim, ao estudo 
de toda a panóplia das artes, crenças, instituições e práticas comunicativas de uma 
sociedade». 
(New York, Routledge, 1992, p. 4; seguimos a trad. proposta por A. Sousa Ribeiro e M. 
Irene Ramalho em «Dos Estudos Literários aos Estudos Culturais?» (2001). 
 
 
 
3. Sectores mais relevantes da investigação desenvolvida no âmbito dos 
Estudos Culturais: 
 
«As categorias mais utilizadas na actividade actual dos Estudos culturais são a história 
dos Estudos culturais, o género {gender}, a sexualidade, a nação e a identidade 
nacional, o colonialismo e o pós-colonialismo, a raça e a etnicidade, a cultura popular 
e a sua audiência, a ciência e a ecologia, as identidades políticas, a pedagogia, as 
políticas da estética, as instituições culturais, as políticas da disciplina, o discurso e a 
textualidade, a história e a cultura global na idade pós-moderna.» 
(L. Grossberg, C. Nelson e P. Treichler, 1992, p. 1) 
 
 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
3 
 
 
1. Cultura: paradigmas conceptuais e modos de abordagem 
 
TEXTO 1 — Stuart Hall, «ESTUDOS CULTURAIS. DOIS PARADIGMAS», in Da Diáspora. 
Identidades e Mediações Culturais (org. de Liv Sovik), Belo Horizonte, Editora UFMG; 
Brasília, Representação da Unesco no Brasil, 2003 [pp. 131-136] 
 
 Os Estudos Culturais, como problemática distinta, emergem [...] nos meados da 
década de 1950. Certamente não foi a primeira vez que suas questões características 
foram colocadas na mesa. Muito pelo contrário. Os dois livros que ajudaram a marcar 
o novo terreno — As utilizações da cultura, de Hoggart, e Cultura e sociedade 1780-
1950, de Williams — são ambos, de maneiras distintas, trabalhos (em parte) de 
recuperação. O livro de Hoggart teve como referência o "debate cultural" há muito 
sustentado nas discussões acerca da "sociedade de massa", bem como na tradição 
do trabalho intelectual identificado com Leavis e a revista Scrutiny. Cultura e 
sociedade reconstruiu uma longa tradição definida por Williams como aquela que, em 
resumo, consiste do "registro de um número de importantes e contínuas reações a ... 
mudanças em nossa vida social, económica e política" e que oferece "um tipo especial 
de mapa pelo qual a natureza das mudanças pode ser explorada". Os livros pareciam, 
inicialmente, simples atualizações dessas preocupações anteriores, com referência ao 
mundo do pós-guerra. Retrospectivamente, suas "rupturas" com as tradições de 
pensamento em que estavam situados parecem tão ou mais importantes do que sua 
continuidade com as mesmas. As utilizações da cultura propôs-se — muito no espírito 
da "crítica prática" — a ler a cultura da classe trabalhadora em busca de valores e 
significados incorporados em seus padrões e estruturas: como se fossem certos tipos 
de "textos". Porém, a aplicação desse método a uma cultura viva e a rejeição dos 
termos do debate cultural (polarizado em torno da distinção de alta/baixa cultura) foi 
um desvio radical. Cultura e sociedade, num único e mesmo movimento, constituiu 
uma tradição (a tradição de "cultura-e-sociedade"), definiu a sua "unidade" (não em 
termos de posições comuns, mas de preocupações características e formas de 
expressão de suas indagações) e fez uma contribuição distintamente moderna ao 
assunto ao mesmo tempo em que escrevia seu epitáfio. O livro de Williams que o 
sucedeu — The Long Revolution — indicou claramente que o modo de reflexão 
cultura-e-sociedade só poderia ser completado e desenvolvido a partir de outro lugar 
— um tipo de análise significativamente diferente. Com sua tentativa de "teorizar" a 
partir de uma tradição cujo estilo de pensamento era decididamente empírico e 
particularista, mais a densidade experimental de seus conceitos e o esforço 
generalizante de sua argumentação, The Long Revolution deve sua dificuldade de 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
4 
 
leitura, em parte, ao fato de ter a determinação de mudar [...]. As partes "boas" e 
"ruins" dessa obra provêm do seu status de "obra de ruptura". O mesmo pode ser dito 
de A formação da classe operária inglesa, de E. P. Thompson, que pertence decisiva-
mente a esse "momento", ainda que tenha surgido, cronologicamente, um pouco mais 
tarde. Esse também foi um trabalho pensado dentro de certas tradições históricas 
específicas: a historiografia marxista inglesa e a história económica e "do trabalho".[...] 
 Eram, claro, textos seminais e de formação. Não eram, em caso algum, "livros-
textos" para a fundação de uma nova subdisciplina académica: nada poderia ter sido 
mais estranho ao seu impulso intrínseco. Quer fossem históricos ou contemporâneos 
em seu foco, eles próprios constituíam respostas às pressões imediatas do tempo e da 
sociedade em que foram escritos, ou eram focalizados ou organizados por tais 
respostas. Eles não apenaslevaram a "cultura" a sério, como uma dimensão sem a 
qual as transformações históricas, passadas e presentes, simplesmente não poderiam 
ser pensadas de maneira adequada. Eram em si mesmos "culturais", no sentido de 
Cultura e sociedade. Eles forçaram seus leitores a atentar para a tese de que, 
"concentradas na palavra 'cultura', existem questões diretamente propostas pelas 
grandes mudanças históricas que as modificações na indústria, na democracia e nas 
classes sociais representam de maneira própria e às quais a arte responde também, 
de forma semelhante". [...] E talvez seja um ponto a notar que essa linha de 
pensamento coincidia mais ou menos com o que tem sido chamado de "agenda" da 
Nova Esquerda, à qual esses escritores e seus textos, de uma forma ou de outra, 
pertenciam. Essa ligação colocou a "política do trabalho intelectual" bem no centro dos 
Estudos Culturais desde o início — uma preocupação da qual, felizmente, eles nunca 
foram nem jamais poderão ser liberados. Num sentido profundo, o "acerto de contas" 
em Cultura e sociedade, a primeira parte de The Long Revolution, certos aspectos 
particularmente densos e concretos do estudo de Hoggart sobre a cultura da classe 
trabalhadora e da reconstrução histórica da formação da cultura de classe e das 
tradições populares do período entre 1790/1830, feita por Thompson — em conjunto 
— constituíram a ruptura e definiram um novo espaço em que uma nova área de 
estudo e prática brotou. Em termos de marcações e ênfases intelectuais, esse foi — 
se é que algo assim pode ser verificado — o momento de "re-fundação" dos Estudos 
Culturais. A institucionalização deles — primeiro, no centro em Birmingham, e depois, 
por meio de cursos e publicações provenientes de várias fontes e lugares, com suas 
perdas e ganhos característicos, pertencem ao período dos anos 60 em diante. 
 A "cultura" era o local de convergência. Mas, que definições desse conceito 
central emergiram desse conjunto de obras? E, em torno de qual espaço foram 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
5 
 
unificadas as suas preocupações e conceitos, já que decisivamente essa linha de 
pensamento moldou os Estudos Culturais e representa a tradição autóctone ou 
"nativa" mais formativa? O fato é que nenhuma definição única e não problemática de 
cultura se encontra aqui. O conceito continua complexo — um local de interesses 
convergentes, em vez de uma ideia lógica ou conceitualmente clara. Essa "riqueza" é 
uma área de contínua tensão e dificuldade no campo. Pode ser necessário, portanto, 
resumir brevemente as ênfases e dimensões características pelas quais o conceito 
chegou ao seu atual [1980] estado de (in)determinação. [...] 
 Duas maneiras diferentes de conceituar a cultura podem ser extraídas das 
várias e sugestivas formulações feitas por Raymond Williams em The Long Revolution. 
A primeira relaciona cultura à soma das descrições disponíveis pelas quais as 
sociedades dão sentido e refletem as suas experiências comuns. Essa definição 
recorre à ênfase primitiva sobre as "ideias", mas submete-a a todo um trabalho de 
reformulação. A concepção de cultura é, em si mesma, socializada e democratizada. 
Não consiste mais na soma de o "melhor que foi pensado e dito", considerado como 
os ápices de uma civilização plenamente realizada — aquele ideal de perfeição para o 
qual, num sentido antigo, todos aspiravam. Mesmo a "arte" — designada 
anteriormente como uma posição de privilégio, uma pedra-de-toque dos mais altos 
valores da civilização — é agora redefinida como apenas uma forma especial de 
processo social geral: o dar e tomar significados e o lento desenvolvimento dos 
significados comuns; isto é, uma cultura comum: a "cultura", neste sentido especial, "é 
ordinária" (tomando emprestado uma das primeiras tentativas de Williams de tornar 
sua posição básica mais acessível). Se as descrições mais sublimes e refinadas das 
obras literárias também fazem "parte do processo geral que cria convenções e 
instituições, pelas quais os significados a que se atribui valor na comunidade são 
compartilhados e ativados", então não existe nenhum modo pelo qual esse processo 
pode ser desvinculado, distinguido ou isolado de outras práticas que formam o 
processo histórico. [...] 
 Assim, de maneira alguma as descrições literárias, entendidas dessa forma, 
podem ser isoladas e comparadas com as outras coisas. 
 
Se a arte é parte da sociedade, não existe unidade sólida fora dela, para a 
qual nós concedemos prioridade pela forma de nosso questionamento. A 
arte existe aí como uma atividade, juntamente com a produção, o 
comércio, a política, a criação de filhos. Para estudar as relações 
adequadamente, precisamos estudá-las ativamente, vendo todas as 
atividades como formas particulares e contemporâneas de energia 
humana. 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
6 
 
 Se essa primeira ênfase levanta e re-trabalha a conotação do termo cultura 
com o domínio das "ideias", a segunda ênfase é mais deliberadamente antropológica e 
enfatiza o aspecto de "cultura" que se refere às práticas sociais. É a partir dessa 
segunda ênfase que uma definição de certo modo simplificada — "a cultura é um 
modo de vida global" — tem sido abstraída de forma um tanto pura. Williams 
relacionou esse aspecto do conceito ao uso mais documental do termo — isto é, 
descritivo ou mesmo etnográfico. Mas a definição anterior me parece a mais central, 
pois nela o "modo de vida" está integrado. O ponto importante nessa discussão se 
apoia nas relações ativas e indissolúveis entre elementos e práticas sociais 
normalmente isoladas. É nesse contexto que a "teoria da cultura" é definida como "o 
estudo das relações entre elementos em um modo de vida global". A cultura não é 
uma prática; nem apenas a soma descritiva dos costumes e "culturas populares 
[folkways]" das sociedades, como ela tende a se tornar em certos tipos de 
antropologia. Está perpassada por todas as práticas sociais e constitui a soma do 
inter-relacionamento das mesmas. Desse modo, a questão do que e como ela é 
estudada se resolve por si mesma. A cultura é esse padrão de organização, essas 
formas características de energia humana que podem ser descobertas como 
reveladoras de si mesmas — "dentro de identidades e correspondências inesperadas", 
assim como em "descontinuidades de tipos inesperados" — dentro ou subjacente a 
todas as demais práticas sociais. A análise da cultura é, portanto, "a tentativa de 
descobrir a natureza da organização que forma o complexo desses relacionamentos". 
Começa com "a descoberta de padrões característicos". Iremos descobri-los não na 
arte, produção, comércio, política, criação de filhos, tratados como atividades isoladas, 
mas através do "estudo da organização geral em um caso particular". Analiticamente, 
é necessário estudar "as relações entre esses padrões". O propósito da análise é 
entender como as inter-relações de todas essas práticas e padrões são vividas e 
experimentadas como um todo, em um dado período: essa é sua "estrutura de 
experiência" [structure of feeling]. [...] 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
7 
 
 
 
 
 
TEXTO 2 — Raymond Williams, Moving from High Culture to Ordinary Culture 
Originally published in N. McKenzie (ed.), Convictions, 1958 
 
 
Culture is ordinary: that is the first fact. Every human society has its own shape, its own 
purposes, its own meanings. Every human society expresses these, in institutions, and 
in arts and learning. The making of a society is the finding of common meanings and 
directions, and its growth is an active debate and amendment under the pressures of 
experience, contact, and discovery, writing themselves into the land. […] A culture has 
two aspects: the known meanings and directions, which its members are trained to; the 
new observations and meanings, which are offered and tested. These are the ordinary 
processes of human societiesand human minds, and we see through them the nature 
of a culture: that it is always both traditional and creative; that it is both the most 
ordinary common meanings and the finest individual meanings. We use the word 
culture in these two senses: to mean a whole way of life - the common meanings; to 
mean the arts and learning - the special processes of discovery and creative effort. 
Some writers reserve the word for one or other of these senses; I insist on both, and on 
the significance of their conjunction. The questions I ask about our culture are 
questions about deep personal meanings. Culture is ordinary, in every society and in 
every mind. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
8 
 
Textos retirados de HARTLEY, John, Comunicação, estudos culturais e media: 
conceitos-chave. Trad. Fernanda Oliveira e revisão científica de Isabel Ferin, 
Lisboa, Quimera, 2004. 
 
 
 
HEGEMONIA 
 
Um conceito desenvolvido por Gramsci, nos anos de 1930, e recuperado nos 
estudos culturais, em que se refere principalmente à capacidade de as classes 
dominantes exercerem a liderança social e cultural em determinados períodos 
históricos e, por este meio — em vez da coerção directa das classes subordinadas —, 
manterem o poder sobre a direcção económica, política e cultural da nação. 
O aspecto crucial da noção de hegemonia não é o facto de operar forçando as 
pessoas, contra a sua vontade, a conceder o poder àqueles que já são poderosos, 
mas sim o de funcionar obtendo o consentimento para formas de perceber o mundo 
que fazem, de facto, sentido. Também acontece que estas últimas servem os 
interesses da aliança hegemónica de classes, ou bloco do poder. Daí que a nossa 
participação activa no entendimento de nós próprios, das nossas relações sociais e do 
mundo em geral resulte numa cumplicidade com a nossa própria subordinação. 
A ideia de obter consentimento estende o conceito de hegemonia para lá da 
análise de classe como tal. Em análise cultural, o conceito é usado para mostrar como 
os significados, representações e actividades quotidianos são organizados e dados a 
perceber de forma a tornar os interesses de um «bloco» dominante num interesse 
geral, aparentemente natural e inquestionável. Assim, os estudos que se concentram 
no aspecto hegemónico da cultura centrar-se-ão naquelas formas e instituições que 
são normalmente consideradas imparciais ou neutras; «representativas» de toda a 
gente, sem aparente referência a classe, raça ou género. Essas instituições abrangem 
simultaneamente a esfera pública e privada - incluindo o Estado, a lei, o sistema 
educativo, os media e a família. Elas são prolíferas produtoras de sentido, 
conhecimento e significados. Para além da função aparente, a sua importância cultural 
reside no papel que desempenham enquanto organizadoras e produtoras da 
consciência individual e social. Embora sejam relativamente autónomas, povoadas por 
pessoas com características diferentes e com diferentes aptidões profissionais e 
ideologias, a verdade é que estas agências culturais formam colectivamente o lugar 
em que a hegemonia pode ser estabelecida e exercida. 
Segue-se que a hegemonia opera no reino da consciência e das 
representações; o seu sucesso é mais provável quando a totalidade da experiência 
social, cultural e individual é capaz de ser dada a perceber em termos que são 
definidos, estabelecidos e postos a circular pelo bloco do poder. Em suma, a 
hegemonia naturaliza aquilo que historicamente é uma ideologia de classe, e 
transforma-a em senso comum. A conclusão é que o poder pode não ser exercido 
como força, mas como «autoridade», e que os aspectos «culturais» da vida são 
despolitizados. 
 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
9 
 
SUBCULTURA 
 
Grupo de indivíduos que partilha interesses, ideologias e práticas particulares. 
Como o prefixo sub indica, esses grupos são entendidos como formando a sua 
identidade em oposição a uma cultura dominante ou «mãe». Os primeiros estudos 
subculturais notaram que esta oposição era levada a cabo através de vários meios, 
mas o mais visível era o estilo. O trabalho recente na área sugere que esta relação já 
não é tão explícita, defendendo que as definições tradicionais das subculturas 
assentam em circunstâncias históricas particulares. 
O estudo realizado por Hebdige (1979) sobre os teddy boys, mods, roqueiros e 
punks é entendido como um dos textos fundadores dos estudos subculturais. Ele 
afirma que as subculturas tornam a sua identidade visível pela incorporação de um 
estilo específico e pelas opções de lazer. Os punks, por exemplo, usavam alfinetes-de-
ama, maquilhagem e roupas extravagantes, e apoiavam um género de música 
particular como meio de representar a sua identidade. Para Hebdige, o uso do estilo e 
do lazer dos grupos subculturais era uma forma de política simbólica, «tornando os 
seus valores visíveis numa sociedade saturada de códigos e símbolos da cultura 
dominante» (Shuker, 1994). Os objectivos das subculturas são a formação da 
identidade e um desafio visível à hegemonia da sociedade. 
Central para a tese de Hebdige é a noção de resistência, especificamente em 
relação à cultura mãe ou cultura de massas. Mas, como ele declarou, um dos maiores 
desafios a esta resistência é a «recuperação ideológica», pela qual uma subcultura 
começa a perder o sentido da diferença, à medida que o seu estilo vai sendo 
incorporado na cultura comercial (Hebdige, 1979: 97). Uma das formas como isto é 
alcançado é através da exposição mediática. Embora histórias reprovadoras na 
imprensa possam operar no sentido de criar e legitimar as subculturas, os relatos 
aprovadores «são o beijo da morte subcultural» (Thornton, 1995). O impacte inicial dos 
punk foi relatado nos media em termos similares a um pânico moral, mas em pouco 
tempo a moda punk espalhou-se e a aparência dos próprios punks nos postais de 
Londres assinalou o começo do processo de recuperação, como descrito por Hebdige. 
Teóricos mais recentes das subculturas, como Thornton (1995) defendem que 
as comunidades estão a ser formadas, não tanto a partir da resistência, mas de gostos 
e interesses partilhados. Thornton usa o termo «culturas de gosto» para descrever o 
agrupamento de indivíduos que ouvem dance music e vão a raves e discotecas. Ela 
insiste em que, embora as culturas de gosto, como as subculturas, estejam ligadas 
através de certas comunidades, elas baseiam-se menos nos modelos de resistência 
avançados por Hebdige. Aqui, mais do que o estilo, a música, as drogas e o lazer 
(discotecas/festas) são centrais para a construção do significado, com a oposição 
dirigida mais à música comercial do que genericamente à cultura mãe. A mudança das 
subculturas para as culturas de gosto reconhece que as comunidades marginais nem 
sempre estão necessariamente interessadas na resistência. Enquanto o próprio 
Hebdige (1988) declarou a morte da importância subcultural juntamente com a do 
movimento punk, os estudos da relação entre a identidade e as opções de lazer 
continuam. O que é aparente em trabalhos mais recentes é que o estilo e o lazer ainda 
são empregues como símbolos nas práticas dos jovens e transformam-se em marcas 
de distinção entre várias culturas de gosto. A resistência é inútil. 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
10 
 
TEXTO 1 — Armand Mattelart e Érik Neveu, Introdução aos Cultural Studies, Porto, Porto 
Editora, 2006, pp. 37-39. 
 
Expansão e coerência das problemáticas 
A mancha de óleo do cultural 
 O interesse demonstrado pelas práticas culturais, definidas sem qualquer 
preocupação com o respectivo prestígio social, conduz os investigadores do Centro a 
considerarem a diversidade dos produtos culturais consumidos pelas classes 
populares. Birmingham será uma das primeiras equipas a mobilizar as Ciências 
Sociais para bens tão profanos como a publicidade e a música rock […]. Mas, […] são, 
gradualmente, os media audiovisuais e os seus programas de informação ede 
entretenimento que se tornarão no objecto de estudo das pesquisas. […] Em 
Encoding/Decoding [1973], Hall desenvolve um quadro teórico que coloca a tónica no 
facto de o funcionamento de um media não poder limitar-se a uma transmissão mecâ-
nica (emissão/recepção), supondo antes uma organização do material discursivo 
(discursos, imagens, relatos) onde os dados técnicos, os constrangimentos de 
produção e os modelos cognitivos têm grande peso. Este quadro analítico pode 
parecer banal actualmente, mas, na época, implicava tomar em consideração todas as 
situações de distanciamento, os códigos culturais, as regras mediáticas que regem a 
produção da mensagem, por um lado, e as referências culturais dos receptores, por 
outro lado. […] A noção de descodificação convida a que se encare seriamente o facto 
de os receptores possuírem estatutos sociais e culturas e que, por se ver ou ouvir um 
mesmo programa, isso não implica que o sentido ou a recordação daí retirados sejam 
semelhantes. 
 
Género e "raça": novas alteridades 
 O movimento tipo mancha de óleo conhecerá finalmente dois desen-
volvimentos, cujas consequências a longo prazo serão essenciais. O primeiro conduz 
às questões de género, à variável masculino/feminino. Esta grelha de leitura estrutura 
a colectânea Women Take Issue [Womens Studies Group, 1978]. A valorização do 
género deve-se ao trabalho empírico, que manifesta diferenças de consumo e de 
apreciação entre homens e mulheres, em matéria de televisão ou de bens culturais. É, 
também, resultado da sensibilidade feminista das investigadoras (Charlotte Brunsdon 
e Dorothy Hobson). Como abster-nos de revelar o quanto as personagens e os 
comportamentos analisados pela literatura acerca das subculturas são sempre 
masculinos ou de nos interrogarmos sobre uma forma de conivência machista em 
determinadas descrições da cultura operária? […] 
 Valorizada nos primeiros trabalhos de Hebdige, a outra alteridade, simbolizada 
pelas comunidades imigrantes e a questão do racismo, ocupará um lugar de destaque 
na colectânea The Empire Strikes Back [CCCS, 1982]. Também aqui são o terreno e a 
presença de importantes comunidades de imigrantes e as reacções de atracção e de 
rejeição racista por elas suscitadas que obrigam a que seja prestada atenção a estas 
variáveis. Esta sensibilidade deve-se igualmente à presença de imigrantes ou de filhos 
de imigrantes entre os investigadores do Centro, a começar por Hall ou Paul Gilroy. 
Acrescentaremos que a situação britânica se opõe à francesa num ponto essencial: os 
criadores oriundos da imigração gozam, em Inglaterra, de uma presença e de um 
reconhecimento mais marcante no mundo cultural, especialmente na literatura 
(Kincaïd, Kureishi, Rushdie). 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
11 
 
 
TEXTO 2 — Stuart Hall, «Codificação/Decodificação», in Da Diáspora. Identidades e 
Mediações Culturais (org. de Liv Sovik), Belo Horizonte, Editora UFMG; Brasília, 
Representação da Unesco no Brasil, 2003. 
 
 
 
 a) Diagrama [p. 391] 
 
 
 
 
PROGRAMA COMO 
DISCURSO “SIGNIFICATIVO” 
 
 codificação decodificação 
 estruturas de sentido 1 estruturas de sentido 2 
 
referenciais de conhecimento referenciais de conhecimento 
relações de produção relações de produção 
infra-estrutura técnica infra-estrutura técnica 
 
 
 
 
 
 
 
 b) Toda sociedade ou cultura tende, com diversos graus de clausura, a impor 
suas classificações do mundo social, cultural e político. Essas classificações 
constituem uma ordem cultural dominante, apesar de esta não ser nem unívoca nem 
incontestável. A questão da “estrutura dos discursos em dominância” é um ponto 
crucial. As diferentes áreas da vida social parecem ser dispostas dentro de domínios 
discursivos hierarquicamente organizados através de sentidos dominantes ou 
preferenciais. […] Os domínios dos “sentidos preferenciais” têm, embutida, toda a 
ordem social enquanto conjunto de significados, práticas e crenças: o conhecimento 
cotidiano das estruturas sociais, do “modo como as coisas funcionam para todos os 
propósitos práticos nesta cultura”; a ordem hierárquica do poder e dos interesses e a 
estrutura das legitimações, restrições e sanções. Por isso, para esclarecer um “mal-
entendido” em relação ao nível conotativo, devemos nos referir (através de códigos) às 
ordenações da vida social, do poder político e económico e da ideologia. Além disso, 
como esses mapas são “estruturados em dominância” mas não são fechados, o 
processo comunicativo não consiste na atribuição não-problemática de cada item 
visual à sua posição dentro de um conjunto de códigos pré-arranjados, mas sim em 
regras performativas; ou seja, regras de competência e uso, de lógica aplicada — que 
buscam ativamente reforçar ou preferir um domínio semântico a outro e incluir e 
excluir itens dos conjuntos de sentido apropriados. [p. 397] 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
12 
 
TEXTO 3 — Armand Mattelart e Érik Neveu, Introdução aos Cultural Studies, Porto, Porto 
Editora, 2006, p. 62. 
 
 
 
 
 
Compreende-se […] que a "viragem etnográfica" possa também ser concebida como 
continuidade, como identificação dos meios mais eficazes para analisar no terreno os 
enigmas ligados aos processos de decomposição/recomposição identitária, para 
compreender consumos culturais, opções identitárias e ideológicas, "prazeres" 
mediáticos que não podem deixar de ser considerados escandalosos por intelectuais 
marcados pelo marxismo. Baseando-se nestes diagnósticos relativos às novas 
condições da formação das identidades sociais, desde então, Hall não cessou de afir-
mar a centralidade conquistada pela cultura na gestão das sociedades e, 
consequentemente, na forma de encarar a acção política. 
Em matéria de investigações académicas, em 1991, Hall explicava o 
"reposicionamento" dos Cultural Studies, insistindo em determinados factores 
principais que obrigavam a "transpor as fronteiras". Entre eles: 
1) a "globalização" de origem económica, esse "processo parcial de desagregação das 
fronteiras que formaram tanto as culturas nacionais como as identidades individuais, 
especialmente na Europa"; 
2) a ruptura das "paisagens sociais" nas "sociedades industriais avançadas" que faz 
com que o "eu" (self) passe a ser parte integrante "de um processo de construção das 
identidades sociais no qual o indivíduo se define, situando-se em relação a diversas 
coordenadas, sem ser redutível a uma ou a outra coordenada (quer seja a classe, a 
nação, a raça, a etnia ou o género)"; 
3) a força das migrações que "silenciosamente transformam o nosso mundo"; 
4) o processo de homogeneização e de diferenciação que mina, a partir de baixo e de 
cima, a força organizadora das representações do Estado-Nação, da cultura nacional 
e da política nacional [Hall, 1991]. 
Acrescentaremos à sua lista a ruptura que constitui, para os investigadores que se 
mantêm politicamente empenhados, a quase obrigação de investir as suas energias 
em movimentos sociais e já não em organizações do partido. Estes investimentos, que 
sempre foram os de Hall, passam também a ser os de Thompson, agente 
indispensável ao movimento pacifista e para o desarmamento nuclear (CND), 
confrontando-se, por vezes, com a incompreensão dos seus colegas. Menos 
conhecido, o empenhamento de Morley reflecte, igualmente, esta nova focalização nos 
movimentos sociais, uma vez que foi um dos principais responsáveis das edições 
Comedia, intimamente ligadas aos movimentos alternativos (feministas, antinucleares, 
anti-racistas e cooperativos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
13 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA DA UNIDADE 1 
(ESTUDOS CULTURAIS - HORIZONTE DE PESQUISA; CONDIÇÕES DE EMERGÊNCIA E 
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO) 
 
 
 
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 Fernanda Oliveira e rev. cient. de Isabel Ferin, Lisboa, Quimera, 2004. 
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 Culturais?», in Helena BUESCU et al. (Orgs.), Floresta Encantada. Novos 
 Caminhos da Literatura Comparada, Lisboa, Pub. Dom Quixote, 2001, pp. 61-
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 Oxford UP, 1983. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
14 
 
GLOBALIZAÇÃO (John Hartley, Comunicação, estudos culturais e media: conceitos-chave. Trad. 
Fernanda Oliveira e rev. cient. de Isabel Ferin, Lisboa, Quimera, 2004, pp. 125-127) 
 
 Os componentes da globalização não são novos. Há séculos que o movimento através 
das fronteiras tem sido vigorosamente prosseguido. A troca cultural e a interdependência 
ocorreram ao longo da história através da colonização, do comércio e da exploração. A 
aceleração da indústria por via da inovação tecnológica descreve tanto a era industrial como a 
era da informação. E a noção de uma cidadania de lealdades múltiplas, sujeita a mais do que um 
poder soberano, há muito que acontecia em alguns países, sobretudo nas antigas colónias. 
 A palavra «globalização» é mais usada para descrever uma recente intensificação de 
redes, alianças e interligações em economia, cultura e política, e a forma particular que estes 
processos assumem na sua totalidade e não na sua singularidade. 
 O fenómeno económico da globalização assistiu, a partir dos anos de 1980, à expansão 
do comércio e do capital para lá das fronteiras, a um ritmo sem precedentes. Isso implica 
mudanças nos sistemas e estruturas do comércio. Os exemplos incluem: 
� sistemas de comunicação através dos quais é conduzido o comércio; 
� práticas de trabalho e as aptidões necessárias para dirigir o capital de modo eficaz; 
� novos regimes legais e institucionais requeridos para controlar, ordenar e manipular os 
mercados. 
 No processo, a globalização viu o comércio e o capital internacionais serem 
desenraizados das economias nacionais. O comércio electrónico permite a comercialização de 
bens no espaço electrónico internacional, estimulando a criação de novos serviços e fluxos de 
capital mais rápidos, capazes de transcender as estratégias de controlo e intervenção directas do 
governo. Com a nova tecnologia, os mercados de câmbio podem transaccionar transferências de 
milhares de milhões de dólares pelo mundo fora numa fracção de segundo. Não só a extensão da 
economia até áreas fora do governo do Estado-nação está a causar preocupação quanto à 
capacidade dos Estados-nação para actuarem, como o ritmo e a magnitude a que o capital é 
mobilizado deixou os bancos sem capacidade para influenciar as taxas de câmbio da forma 
como é esperado que o façam (Sassen, 1999). 
 O mapa da globalização é um mapa onde economias nacionais separadas estão a tornar-
-se parte de uma nova economia descentralizada. Agora, os Estados-nação não têm estratégias 
económicas nacionais, mas antes «estratégias que operam num sistema económico global» 
(Castells, 1999: 48). Em resultado disso, surgiram receios de que os países perdessem a sua 
autonomia - que a globalização trouxesse consigo a dissolução dos Estados-nação -, reforçados 
pela formação de blocos comerciais, pela moeda única para a Europa e pelo desenvolvimento da 
lei internacional. 
 No entanto, o poder do Estado-nação é essencial em muitos aspectos para os processos 
de globalização. Os Estados são cúmplices na globalização, já que é o seu consentimento que 
faz avançar a economia global de forma a melhorar a sua própria posição económica. Além 
disso, os países dominantes desempenharam um importante papel na preparação de estruturas 
legais e políticas essenciais para as operações das empresas multinacionais. 
 A globalização não é simplesmente uma ocorrência económica. A sua dimensão cultural 
inclui o entretenimento global, a fast food, a moda e o turismo. A globalização cultural é muitas 
vezes entendida como uma forma de americanização . No entanto, essa abordagem nega a 
diversidade de formas como os produtos são recebidos e transformados através do uso cultural. 
Esses usos e estratégias estão longe de ser uniformes. A cultura «global» pode existir lado a 
lado com comunidades, identidades e gostos locais e tradicionais, encorajando uma 
multiplicidade de culturas e proporcionando condições para o aparecimento de novas culturas. 
 Entretanto, ninguém se pode dar ao luxo de não entrar no jogo. A China, por exemplo, 
que tem uma cultura política nacionalista fortemente centralizada e um grande receio do caos 
interno e da interferência externa, saudou apesar de tudo a sua aceitação tardia na OMC, em 
Dezembro de 2001, como um marco fundamental para o desenvolvimento nacional. A própria 
dimensão, o dinamismo e a especificidade da China terão inevitavelmente efeitos de retorno 
sobre a economia globalizada - influenciando na mesma medida em que é influenciada. O 
mesmo se aplica à Índia. 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
15 
 
STUART HALL A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso 
tempo (1.1. A centralidade da cultura: a dimensão global), cap. 5 da obra Media and Cultural 
Regulation, organizado por Kenneth Thompson e editado na Grã-Bretanha 1997. Trad. e revisão de 
Ricardo Uebel, Maria Isabel Bujes e Marisa Vorraber Costa. { www.educacaoonline.pro.br } 
 
Os recursos que antes iam para a indústria pesada da era industrial do séc. 
XIX — carvão, ferro e aço — agora, na virada do terceiro milênio, estão sendo 
investidos nos sistemas neurais do futuro — as tecnologias de comunicação digital 
e os softwares da Idade Cibernética. 
Em termos de padrões absolutos de julgamento e preferência estéticos, os 
produtos culturais desta revolução não podem ser comparados em termos de valor 
às conquistas de outros momentos históricos — as civilizações egípcias e da antiga 
China, por exemplo, ou a arte do Renascimento italiano. Entretanto, em 
comparação com a estreita visão social das elites, cujas vidas foram positivamente 
transformadas por esses exemplos históricos, a importância das revoluções 
culturais do final deste século XX reside em sua escala e escopo globais, em sua 
amplitude de impacto, em seu caráter democrático e popular. A síntese do tempo e 
do espaço que estas novas tecnologias possibilitaram — a compressão tempo-
espaço, como denomina Harvey (1989) —, introduz mudanças na consciência 
popular, visto que vivemos em mundos crescentemente múltiplos e — o que é mais 
desconcertante — “virtuais”. A mídia encurta a velocidade com que as imagens 
viajam, as distâncias para reunir bens, a taxa de realização de lucros (reduzindo o 
“tempo de turn-over do capital”), e até mesmo os intervalos entre os tempos de 
abertura das diferentes Bolsas de Valores ao redor do mundo — espaços de 
minutos em que milhõesde dólares podem ser ganhos ou perdidos. Estes são os 
novos “sistemas nervosos” que enredam numa teia sociedades com histórias 
distintas, diferentes modos de vida, em estágios diversos de desenvolvimento e 
situadas em diferentes fusos horários. É, especialmente, aqui, que as revoluções da 
cultura a nível global causam impacto sobre os modos de viver, sobre o sentido que 
as pessoas dão à vida, sobre suas aspirações para o futuro — sobre a “cultura” num 
sentido mais local. 
Estas mudanças culturais globais estão criando uma rápida mudança social 
— mas também, quase na mesma medida, sérios deslocamentos culturais. Como 
observa Paul du Gay, “a nova mídia eletrônica não apenas possibilita a expansão 
das relações sociais pelo tempo e espaço, como também aprofunda a interconexão 
global, anulando a distância entre as pessoas e os lugares, lançando-as em um 
contato intenso e imediato entre si, em um “presente” perpétuo, onde o que ocorre 
em um lugar pode estar ocorrendo em qualquer parte (...) Isto não significa que as 
pessoas não tenham mais uma vida local — que não mais estejam situadas 
contextualmente no tempo e espaço. Significa apenas que a vida local é 
inerentemente deslocada — que o local não tem mais uma identidade “objetiva” 
fora de sua relação com o global.” (du Gay, 1994). 
Um efeito desta compressão espaço-tempo é a tendência à homogeneização 
cultural — a tendência (…) de que o mundo se torne um lugar único, tanto do 
ponto de vista espacial e temporal quanto cultural: a síndrome que um teórico 
denominou de McDonaldização do globo. É, de fato, difícil negar que o crescimento 
das gigantes transnacionais das comunicações, tais como a CNN, a Time Warner e a 
News International tende a favorecer a transmissão para o mundo de um conjunto 
de produtos culturais estandartizados, utilizando tecnologias ocidentais 
padronizadas, apagando as particularidades e diferenças locais e produzindo, em 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
16 
 
seu lugar, uma ‘cultura mundial’ homogeneizada, ocidentalizada. Entretanto, todos 
sabemos que as conseqüências desta revolução cultural global não são nem tão 
uniformes nem tão fáceis de ser previstas da forma como sugerem os 
‘homogeneizadores’ mais extremados. É também uma característica destes 
processos que eles sejam mundialmente distribuídos de uma forma muito 
irregular — sujeitos ao que Doreen Massey (1995) denominou de uma decisiva 
“geometria do poder” — e que suas conseqüências sejam profundamente 
contraditórias. Há, certamente, muitas conseqüências negativas — até agora sem 
solução — em termos das exportações culturais do ocidente tecnologicamente 
superdesenvolvido, enfraquecendo e minando as capacidades de nações mais 
antigas e de sociedades emergentes na definição de seus próprios modos de vida e 
do ritmo e direção de seu desenvolvimento (…). Há também diversas tendências 
contrapostas impedindo que o mundo se torne um espaço culturalmente uniforme 
e homogêneo. A cultura global necessita da “diferença” para prosperar — mesmo 
que apenas para convertê-la em outro produto cultural para o mercado mundial 
(como, por exemplo, a cozinha étnica). É, portanto, mais provável que produza 
“simultaneamente” novas identificações “globais” e novas identificações locais do 
que uma cultura global uniforme e homogênea. 
O resultado do mix cultural, ou sincretismo, atravessando velhas fronteiras, 
pode não ser a obliteração do velho pelo novo, mas a criação de algumas 
alternativas híbridas, sintetizando elementos de ambas, mas não redutíveis a 
nenhuma delas — como ocorre crescentemente nas sociedades multiculturais, 
culturalmente diversificadas, criadas pelas grandes migrações decorrentes de 
guerras, miséria e das dificuldades econômica do final do séc. XX. […] 
O próprio ritmo e a irregularidade da mudança cultural global produzem 
com freqüência suas próprias resistências, que podem, certamente, ser positivas, 
mas, muitas vezes, são reações defensivas negativas, contrárias à cultura global e 
representam fortes tendências a “fechamento”. Por exemplo, o crescimento do 
fundamentalismo cristão nos EUA, do fundamentalismo islâmico em regiões do 
Oriente Médio, do fundamentalismo hindu na Índia, o ressurgimento dos 
nacionalismos étnicos na Europa Central e Oriental, a atitude anti-imigrante e a 
postura euro-cética de muitas sociedades do ocidente europeu, e o nacionalismo 
cultural na forma de reafirmações da herança e da tradição (…), embora tão 
diferentes entre si, podem ser considerados como reações culturais conservadoras, 
fazendo parte do retrocesso causado pela disseminação da diversidade efetuada 
pelas forças da globalização cultural. 
Todos estes fatores, então, qualificam e complexificam qualquer resposta 
simplista, puramente celebratória em relação à globalização como forma 
dominante de mudança cultural num futuro previsível (…). Estes fatores não 
podem, no entanto, negar por completo a escala de transformações nas relações 
globais constituída pela revolução cultural e da informação. Queiramos ou não, 
aprovemos ou não, as novas forças e relações postas em movimento por este 
processo estão tornando menos nítidos muitos dos padrões e das tradições do 
passado. Por bem ou por mal, a cultura é agora um dos elementos mais dinâmicos 
— e mais imprevisíveis — da mudança histórica no novo milênio. Não deve nos 
surpreender, então, que as lutas pelo poder sejam, crescentemente, simbólicas e 
discursivas, ao invés de tomar, simplesmente, uma forma física e compulsiva, e que 
as próprias políticas assumam progressivamente a feição de uma “política 
cultural”. 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
17 
 
 
Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, A cultura-mundo. Resposta a uma sociedade 
desorientada, Lisboa, Edições 70, 2010, pp. 154-157. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Americanização, crioulização, individualização 
 
 
 
 Embora exista uma força de intervenção universal das produções americanas, 
assistimos também ao desenvolvimento de bens culturais que, provindo de diferentes 
partes do mundo, se apropriam dos formatos mediáticos americanos, adaptando-os e 
conseguindo criar assim formas híbridas. As culturas particulares cruzam permanen-
temente a cultura-mundo e cruzam-se entre si, alimentando-se cada uma das demais. 
Vemo-lo já no cinema dos próprios Estados Unidos, em que realizadores chineses, 
europeus e australianos impregnam com a sua sensibilidade específica filmes 
produzidos e concebidos no sistema hollywoodiano: é a própria América que se 
mundializa. Vemo-lo nas formas híbridas que é a manga japonesa, os folhetins 
egípcios e as telenovelas brasileiras e mexicanas, fruto do encontro do modelo dos 
Estados Unidos com as realidades culturais locais. Vemo-lo também na prática dos 
jovens artistas plásticos africanos, que, em vez de se limitarem a "fazer africano", 
como lhes é pedido, obtêm inspiração num diálogo da sua africanidade com outros 
modelos, nomeadamente europeus. Vemo-lo ainda no desenvolvimento da world 
music, em que se misturam ritmos vindos um pouco de toda a parte: da Jamaica e da 
Europa de Leste, do Magrebe e da África negra. Bossa nova, reggae, salsa, rai, gipsy 
jazz: a música "sem fronteiras" baseia-se na fusão de ritmos modernos e ritmos 
tradicionais, de instrumentos eléctricos e instrumentos antigos, na hibridação do jazz e 
do samba, do rai argelino e do blues, do flamenco e do rock, das músicas locais e das 
músicas funk, pop ou rhythm & blues. A cultura-mundo é aquela em que coabitam 
produtos formatados e produções "crioulizadas", que se enriquecem com todas as 
correntes e estilos do mundo próximo e longínquo. 
 A cozinha revela a mesma tendência no que alguns chamam world cuisine. Se, 
por um lado, se defende a gastronomia tradicional dos países contra o neocolo-
nialismo americano, por outro, assiste-se ao desenvolvimento das novas cozinhas 
francesas, espanholas, bascas, catalãs, japonesas, alemãs ou californianas, que se 
enriquecem com produtos, técnicas e decorações estrangeiras (por exemplo,a 
apresentação dos pratos é marcada actualmente por uma estética japonizante). A 
mestiçagem dos modelos alimentares pode ser de vanguarda, mas pode ser também 
do agrado do grande público, como, por exemplo, a cozinha vietnamita, que soube 
adaptar-se aos gostos e usos ocidentais. A esse respeito, o que se destaca não é 
tanto uma americanização uniforme, mas sim o aumento da variedade alimentar, a 
multiplicação das interacções, a hibridação dos particularismos. 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
18 
 
 
 
 Até o McDonnald’s, que surge como figura paradigmática do imperialismo 
cultural americano, se caracteriza menos pela imposição dum modelo padronizado do 
que pela sua flexibilidade, a sua capacidade de integrar diferenças culturais, de propor 
produtos adaptados a situações locais diversas: Big Mac sem queijo, em Israel, sem 
carne de vaca, na Índia, MacSpaghetti, nas Filipinas, e McLaks de salmão, na 
Noruega. Se na América os empregados dos estabelecimentos da cadeia devem 
apresentar sempre um sorriso, o mesmo não se passa na Coreia, onde esse 
comportamento suscita desconfiança nos consumidores. A ideia dum mundo a 
absorver passivamente os produtos da América não corresponde à realidade: aquilo a 
que se assiste é a um processo de redefinição e de reciclagem deles em função dos 
contextos culturais. 
 Para além disso, o público mundial não esgota a totalidade dos consumidores 
do planeta. Por toda a parte vêm à superfície os particularismos, reivindicando a sua 
identidade, por todo o lado se afirma a indispensabilidade das "raízes" e a valorização 
da herança cultural e religiosa. Quanto mais se consome cultura americanizada, mais 
as reivindicações identitárias e a procura de diferenças culturais se tornam 
importantes. O grande consumo dos produtos culturais made in USA não conduz 
sistematicamente a uma cultura universal e homogénea, pois, em larga medida, são 
reinterpretados de diversas formas pelos diferentes povos do planeta. Embora o 
mundo consuma produtos americanos, estes não são recebidos por todos da mesma 
maneira: uma série de televisão não é vista com os mesmos olhos na América, na 
Argélia ou na Rússia. O consumidor não é um sujeito que absorve passivamente 
programas: em toda a parte os signos e as imagens, mesmo calibrados, são filtrados, 
reapropriados e arrastados para novas redes de imaginação e sentido. As imagens 
difundidas pela CNN durante a guerra do Golfo ou após o 11 de Setembro não foram 
entendidas da mesma maneira no Norte e no Sul, onde a informação americana é 
maciçamente rejeitada e sentida como uma forma de imperialismo cultural. Com a 
globalização, assiste-se à erosão das fronteiras e das barreiras geográficas, à 
compressão do espaço-tempo, mas não à anulação das distâncias culturais. Aliás, 
quanto mais os indivíduos têm acesso à cultura-mundo, mais sentem necessidade de 
defender as suas identidades culturais e linguísticas: face à CNN ergue-se agora a voz 
da Al-Jazira como fonte de informação. Não é o Uno Mundial que se prepara por 
influência da hiperpotência americana, é a vontade de assegurar o pluralismo cultural 
a fim de contrariar o sentimento de perda de si e revitalizar as identidades colectivas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
19 
 
Ana Isabel Cabo, Os novos movimentos sociais e os media. Os movimentos 
antiglobalização nas páginas do Público. Lisboa, Livros Horizonte, 2008. 
 
3. OS MOVIMENTOS ANTIGLOBALIZAÇÃO (MAG) - 3.1. O contexto dos MAG 
 No contexto dos novos movimentos sociais, analisemos agora o campo es-
pecífico em que trabalham os Movimentos Antiglobalização (MAG), cuja importância e 
estratégia são cada vez mais relevantes no desenrolar da actividade política e social 
no novo espaço público. Usamos a designação de antiglobalização - é a mais corrente 
-, embora ela não expresse da forma mais correcta a postura e a filosofia destes novos 
movimentos. O objectivo não é rejeitar liminarmente a globalização - até porque os 
activistas reconhecem-lhe alguns aspectos positivos -, mas propor alternativas à forma 
como aquela está a ser implementada. Estaríamos essencialmente perante 
Movimentos Alterglobalização; postura que poderá colocar novos desafios. Como 
refere Vital Moreira (2003), lutar por uma globalização diferente é mais exigente do 
que ser simplesmente contra a globalização existente, uma vez que a alternativa 
carece de programas de acção política e está necessariamente vinculada a mudanças 
de governo nos países que são vítimas da globalização neoliberal. 
 Feita esta importante ressalva, analisemos agora as características destas 
novas formas de acção colectiva e que, em certos casos, não se afastam das 
características dos novos movimentos sociais que foram referenciadas nos pontos 
anteriores. Antimo Farro (2004) aponta, como principais marcas distintivas dos MAG, a 
afirmação da subjectividade dos seus actores, a fluidez dos canais organizativos, a 
oposição à dominação económica e social, a resistência à homogeneização cultural e 
as ligações que estabelecem entre as iniciativas locais e as transnacionais com o 
objectivo de propor modelos alternativos de desenvolvimento. A procura de novas 
formas de democracia é, segundo o autor, outra das características fundamentais 
destes movimentos. 
 Analisemos, então, de forma mais pormenorizada, estas características. Na 
nossa perspectiva, […] é fundamental que a multiplicidade de elementos (Melucci, 
1998) sincrónicos e diacrónicos dos MAG seja captada. Como frisa Boaventura 
Santos, é importante captar as inúmeras energias que abrangem desde uma postura 
mais tradicional - e que passa pela tentativa de controlar o sistema político - até uma 
postura que tenha em conta a participação quotidiana na sociedade cívica. É esta 
multiplicidade de objectivos, de formas de luta, mas também de actores que 
caracteriza verdadeiramente os MAG e que tem levado à divisão destes movimentos 
em diversos campos. Em primeiro lugar, aqueles que intervêm em iniciativas globais 
de um ponto de vista económico, social, cultural e político e que, no fundo, podem ser 
subdivididos num ramo mais cultural e num ramo mais político. Em segundo lugar, 
encontramos grupos, associações ou mesmo particulares que trazem para os novos 
movimentos abordagens mais tradicionais, como é o caso dos ambientalistas ou das 
feministas. Finalmente, um terceiro campo que mais não é do que um 
desenvolvimento do sindicalismo e de movimentos de agricultores. 
 Apesar de se situarem em campos distintos, todos estes actores desenvolvem 
uma acção comum para a qual é essencial a constituição de uma rede 
comunicacional. Esta é uma outra característica importante e não significa a perda da 
especificidade e identidade; os MAG definem-se pelo que são e pelo que fazem como 
 
Introdução aos Estudos Culturais 
20 
 
actores constitutivos de uma acção colectiva delineada com o objectivo de criticar as 
formas dominantes de organização social, económica e cultural e de orientar a vida 
social (Farro, 2004: 636). No fundo, o que está aqui em causa é a importância dada à 
questão da identidade, definida em função das relações no seio do movimento e do 
movimento com os outros actores do espaço público, questão que já foi abordada 
anteriormente no capítulo dedicado à acção colectiva. A identidade surge, assim, 
intimamente ligada à questão da comunidade e solidariedade. Apesar dos fenómenos 
da globalização estarem a levar à erosão da ideia tradicional de "local", ainda que as 
lutas e protestos locais se dirijam a forças que se inscrevem numa lógica global, o que 
é facto é que as bases de determinação da acção e de protesto colectivo permanecem 
geralmente enraizadas em contextos claramente espacializados (Estanque, 1999). 
 A rede comunicacional, a existência de canais de comunicação e de circulação 
da informação vão possibilitar a fluidez das relações entre os diferentes actores dos 
MAG. São estes canais que irão, de resto, permitir construir as infra-estruturasorganizacionais no seio do movimento e fazê-las funcionar em rede. Mas não se trata 
de uma rede qualquer, já que irá permitir ligar iniciativas locais e transnacionais, 
afirmando assim a subjectividade e a solidariedade do movimento na prossecução de 
alternativas à dominação económica e social e à tentativa de homogeneização 
cultural. Para que estas redes funcionem entre os diversos actores, mas também entre 
estes e o público a quem querem divulgar a sua mensagem, é fundamental o recurso 
à Internet, uma espécie de universo de informação paralelo e independente dos mass 
media tradicionais, cada vez mais utilizado pelos MAG. Flexíveis, fáceis de partilhar e 
abandonar e ainda susceptíveis de se reorganizarem de forma fluida na sequência da 
entrada ou saída de organizações, as redes da Internet reduzem os custos da 
comunicação, transcendem as barreiras geográficas e temporais, atingindo 
localizações tão remotas que ultrapassam largamente as fronteiras dos media 
tradicionais. Já vimos também que a Internet possibilita a circulação da informação 
sem os filtros editoriais dos media, enfraquecendo assim a capacidade de selecção da 
imprensa tradicional (Bennett, 2004). Neste sentido podemos dizer que a Internet está 
a contribuir para uma nova forma de fazer notícias. 
 Os MAG têm sabido aproveitar plenamente as capacidades deste novo 
medium. A Internet permite uma difusão ampla dos seus discursos, alarga o âmbito 
dos seus protestos, coordenando-os, actualiza informações sobre actividades 
planeadas, permite a co-existência de organizações com perspectivas políticas 
diferentes, substituindo em muitos casos a falta de uma liderança organizativa forte e 
centralizada. A criação, após os confrontos de Seattle, da rede de informação Indy 
Media-Centro de Media Independentes é um exemplo claro da eficácia proporcionada 
pela Internet. Hoje, são inúmeros os sites ao serviço dos MAG. 
 Mas se é verdade que ajuda à manutenção de um activismo global, também é 
verdade que estas redes comunicacionais, ao oferecerem alternativas aos media 
tradicionais e aos académicos, podem enfraquecer a coerência temática das ideias 
que difundem, dificultando assim a formulação de uma ideia comum e proporcionando, 
por outro lado, o aparecimento de novas formulações ideológicas (Bennet, 2004). A 
difusão proporcionada pelas redes da Internet vai despoletar o aparecimento e a 
divulgação em grande escala de perspectivas diferentes, susceptíveis, assim, de 
quebrar a unidade ideológica dos MAG.

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