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AULA 1 INDÚSTRIA 4.0 Profª Ana Carolina Bueno Franco 2 TEMA 1 – HISTÓRIA DAS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS Nos últimos anos, a sociedade tem vivenciado uma verdadeira revolução em seu modo de vida e nas formas de produção industrial. A chamada “Quarta Revolução Industrial” ou “Indústria 4.0” engloba uma gama de novas tecnologias que diariamente são aplicadas às mais diversas áreas, gerando meios mais produtivos e eficientes. Com isso, o setor industrial precisa se adequar e fazer essa transição de tecnologias, com o intuito de se tornar competitivo globalmente. Por isso, é tão importante entender quais são as novas tecnologias e seus impactos. Ao longo da história, a sociedade precisou organizar formas de produção que pudessem assegurar o seu sustento. Antes da primeira revolução industrial, a produção era artesanal e realizada em pouca quantidade. A primeira revolução industrial teve a Inglaterra como berço e está compreendida no período de 1780 a 1860. O grande destaque foi a invenção da máquina a vapor, por James Watt. Com isso, uma nova força motriz foi utilizada, impulsionando o uso de máquinas no ambiente fabril, gerando um aumento na produção. O uso do vapor impulsionou também o transporte (navios e locomotivas), ampliando a distribuição dos produtos. Outras máquinas foram criadas nesse período: a máquina de fiar, o descaroçador de algodão e o tear mecânico. A fonte de energia predominante foi o carvão mineral. Figura 1 – Primeira Revolução Industrial Créditos: Everett Historical /Shutterstock. 3 Outro destaque desse período foi o uso de um dispositivo para regular a velocidade e manter a rotação da máquina constante. Esse regulador é considerado como um dos primeiros dispositivos de automação. A segunda revolução industrial (segunda metade do século XIX) é caracterizada pelo uso da eletricidade e do petróleo como fontes de energia. O ferro é substituído pelo aço, sendo amplamente utilizado em construções e ferrovias. Surge um novo modelo de produção, proposto por Taylor: a introdução de postos de trabalho, para a realização de tarefas simples e repetitivas. Esse novo modelo possibilitou um aumento significativo no volume de produção (um exemplo famoso: fábrica da Ford). Na metade do século XX, a eletrônica impulsionou o surgimento dos computadores e da automação industrial. Com isso, teve início a terceira revolução industrial. A produção em massa ainda era utilizada, porém adotando novos conceitos de gestão (por exemplo: produção enxuta). Figura 2 – Sistema Toyota de produção enxuta Fonte: Sacomano et al., 2018. Nesse período, as telecomunicações também ganham destaque. Com relação à automação, surge o primeiro CLP (controlador lógico programável) que deu agilidade aos processos industriais e permitiu a integração dos processos e gestão. 4 Figura 3 – Revoluções industriais ao longo do tempo Créditos: Chicken Doodie Designs/Shutterstock. TEMA 2 – QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – TECNOLOGIAS DO MUNDO DIGITAL A quarta revolução é caracterizada por novas tecnologias que são aplicadas aos mundos digitais, físicos e biológicos. Essas tecnologias alteram significativamente o modo de produção industrial atual e consequentemente, exigem alteração no planejamento e execução da manutenção industrial. 2.1 Internet das coisas (Internet of Things - IoT) O termo internet das coisas foi usado pela primeira vez em 1999 e se refere à integração e à troca de dados entre dispositivos e máquinas por meio da internet. Os dispositivos se conectam e executam uma determinada tarefa. Na indústria, é chamada de Industrial Internet of Things – IIoT e refere-se às máquinas inteligentes, capazes de analisar, monitorar, coletar e enviar dados, possibilitando análises e diagnósticos, auxiliando diversos setores, dentre eles, a manutenção. Essa conectividade traz uma série de benefícios, tais como: • Com os dados obtidos é possível fazer uma análise, obtendo desta forma um diagnóstico da produção e de paradas; • Redução de paradas não programas, auxiliando a equipe de manutenção; • Rastreabilidade das etapas do processo; 5 • Agilidade na tomada de decisões; • Otimização da produção; • Análise e controle das máquinas do processo; • Monitoramento do consumo de energia. Figura 4 – Conectividade entre dispositivos (internet das coisas) Créditos: Elenabsl/Shutterstock. 2.2 Blockchain O blockchain foi criado inicialmente com o objetivo de viabilizar a implementação de um livro contábil, através de um banco de dados. Dessa forma, transações financeiras poderiam ser realizadas sem a necessidade de intermediários. Atualmente, é usado como solução em diversas áreas, visando à desburocratização. Saiba mais Assista ao vídeo a seguir: 6 IBM explica o que é o blockchain e como essa tecnologia impactará nos negócios. Amcham Brasil Câmara Americana de Comércio, 13 set. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wgAMF3zITck>. Acesso em: 7 jan. 2019. Figura 5 – Blockchain Créditos: Mokoland/Shutterstock. 2.3 Plataformas digitais A internet viabilizou o uso de plataformas digitais, que permitem a oferta de serviços com custos menores e sob demanda. Um bom exemplo desse tipo de tecnologia é o de transporte privado, que permite ao usuário solicitar transporte por aplicativo, identificar e localizar o motorista, bem como saber com antecedência, o valor que será cobrado e a rota traçada. Muitas indústrias já disponibilizam aplicativos, para que o consumidor faça suas compras de forma rápida. Em algumas, já existe a possibilidade de customização dos produtos. Isso faz com que a produção tenha que se adequar de forma rápida para atender à demanda. O consumidor acompanha todas as etapas da venda: desde a compra, início e fim da produção, status da entrega etc. Aqui, o papel da equipe de manutenção é crucial, pois é preciso ter disponibilidade das máquinas com alta performance de produção. Além disso, as plataformas digitais oferecem opções, por exemplo, o uso de realidade aumentada. A realidade aumentada consiste em um software que, https://www.youtube.com/channel/UCypjbl4d1YxtgcE-O_aCfDw 7 por meio da leitura de um código bidimensional (QRCode), projeta e exibe informações sobre o processo ou produto. Esse tipo de solução tem sido bastante aplicado como ferramenta de apoio à manutenção, conforme figura 5. Saiba mais Assista ao vídeo e veja um exemplo de aplicação do uso de realidade aumentada na manutenção: REALIDADE Aumentada - Reparação de uma válvula. TCA Innovation Experts, 2 out. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0hVVGNuB5Pg>. Acesso em: 7 jan. 2019. Figura 6 – Realidade aumentada na indústria Créditos: Nico El Nino/Shutterstock. 2.4 Inteligência artificial A inteligência artificial consiste, de forma geral, em métodos computacionais que buscam a solução de problemas usando raciocínio similar ao do ser humano. Esses métodos já são empregados há bastante tempo, mas vêm ganhando bastante notabilidade nos últimos anos. O objetivo é que seu uso indique as opções mais eficientes e possa auxiliar na análise dos dados, extraindo informações que sejam úteis e relevantes ao processo industrial. TEMA 3 – QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – TECNOLOGIAS DO MUNDO FÍSICO https://www.youtube.com/channel/UCwQEkInoXYjZlkNVPfayfpQ 8 Além das tecnologias citadas do mundo digital, outras já estão presentes em algumas indústrias e em pesquisas. A manufatura aditiva e o uso de robôs colaborativos são alguns exemplos. 3.1 Impressão 3D (Manufatura Aditiva) A manufatura aditiva ou impressão 3D permite a customização e criação de novos produtos. Geralmente, o processo de fabricação do produto é feito por meio da adição de camadas de materiais, com base em um protótipo. Essa nova tecnologia permite reduzir osestoques e assegurar a redução dos custos de energia na produção, bem como o desperdício de matéria-prima. Figura 7 – Impressão 3D Créditos: Trueffelpix/Shutterstock. Saiba mais Assista ao vídeo a seguir e veja como a impressão 3D tem ajudado a equipe de manutenção e aprimorar processos em uma indústria automobilística: RENAULT: a impressora 3D na Indústria 4.0. Autoindústria, 4 abr. 2018. Disponível em: <https://www.autoindustria.com.br/2018/04/04/renault- impressora-3d-na-industria-4-0/>. Acesso em: 7 jan. 2019. 3.2 Robótica avançada Os robôs já são amplamente usados na indústria, geralmente alocados em tarefas repetitivas e em locais com alto grau de exposição a riscos. Da mesma forma que as outras tecnologias, a robótica evoluiu para se adequar à nova revolução industrial. Nos últimos anos, uma nova geração de robôs vem ganhando destaque: são os robôs colaborativos. 9 Os robôs colaborativos são usados para trabalhar em conjunto com seres humanos, executando operações repetitivas. Para que um robô seja considerado colaborativo, é preciso que ele atenda aos seguintes requisitos: 1. Realize paradas monitoradas de segurança: se o um operador precisa realizar algum procedimento, ele pode entrar no espaço de trabalho do robô. Ao entrar no espaço de segurança predeterminado, o robô para a sua operação (ele ativa os freios, não desliga). 2. Há a possibilidade de ensiná-lo ou guiá-lo manualmente pelo caminho que deverá ser realizado. 3. Limitação no uso da força e potência, para garantir a segurança do operador. Figura 8 – Robô colaborativo Créditos: Suwin/Shutterstock. 3.3 Novos materiais A busca por inovação e sustentabilidade fomentam, a cada dia, a pesquisa e o desenvolvimento por materiais mais leves, recicláveis e que tenham melhor adaptação ao processo fabril, aumentando a possibilidade de criação e customização de novos produtos. Outra preocupação é como esses novos materiais vão interagir com o meio ambiente. TEMA 4 – IMPACTOS DA QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 10 A convergência de todas as tecnologias mencionadas anteriormente, está revolucionando não só a indústria, mas a sociedade de modo geral. Atualmente, o consumo é pautado não só pela qualidade do produto adquirido, mas pela experiência do consumidor em relação a todo o processo de compra. Figura 9 – Convergência das tecnologias – impactos na sociedade Fonte: Silva et al., 2018. A demanda crescente por novas tecnologias, estimula a criação de novos modelos de negócios. Em alguns setores, as indústrias estão investindo em internet das coisas (IoT), manufatura aditiva, entre outras tecnologias, como forma de se destacar perante os concorrentes. De modo geral, os impactos na área industrial são: • Redução de custos; • Diminuição do consumo de energia; • Aumento da segurança operacional e redução de acidentes de trabalho; • Otimização do uso de recursos naturais; • Redução de desperdício; • Aumento da participação do consumidor no processo de fabricação; • Criação de novos modelos de negócios (transparência); • Aumento na customização de produtos. 11 TEMA 5 – INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL Os países mais industrializados têm priorizado a adoção de políticas que estimulem a transição gradual e a adoção das tecnologias propulsoras da quarta revolução industrial. Essas ações visam assegurar uma maior competividade das indústrias no mercado global. No Brasil, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) vem realizando diversos estudos e pesquisas com o intuito de fomentar a sua implementação. De acordo com o estudo realizado, existem sete questões prioritárias para a adoção da indústria 4.0 no Brasil: • Adoção nas cadeias produtivas e desenvolvimento de fornecedores; • Difusão das novas tecnologias; • Pesquisa e desenvolvimento tecnológico; • Melhoria da infraestrutura para que seja possível a adoção das novas tecnologias; • Aspectos regulatórios; • Formação de recursos humanos; • Alinhamentos dessas políticas com o Estado. Devido à diversidade de processos, a conscientização e a adoção de novas tecnologias atingirá os setores industriais em épocas distintas. Existem alguns setores cuja produção ainda é pouco automatizada, portanto levará mais tempo para atingir o estágio de digitalização desejado. De acordo com a pesquisa realizada pela CNI em 2016, os principais entraves para o desenvolvimento da indústria 4.0 no Brasil são o desconhecimento e o alto custo das tecnologias envolvidas. 12 Figura 10 – Pesquisa CNI Fonte: CNI, 2018. De acordo com o gráfico 1, apenas 58% das empresas souberam apontar uma das principais tecnologias para a digitalização na indústria. Esse percentual é bastante preocupante, pois afeta a competitividade da indústria brasileira, uma vez que a digitalização contribui para o aumento significativo da eficiência. Com isso, a competitividade da indústria brasileira é menor. Boa parte das indústrias que já usam ao menos uma das novas tecnologias possuem como foco a melhoria do processo produtivo (Tabela 1). Pela análise da pesquisa, esse caminho pode ser considerado natural. Em um primeiro momento, há o investimento no processo e na sequência, ao desenvolvimento de novos produtos e novos modelos de negócios. A tecnologia digital mais citada foi o uso de automação digital com sensores (permite a identificação dos produtos, bem como, averiguar todas as etapas/status da produção). A segunda tecnologia citada tem o foco na melhoria e desenvolvimento de novos produtos. 13 Tabela 1 – Uso das tecnologias de digitalização na indústria Fonte: CNI, 2018. A pesquisa avaliou também quais são os benefícios esperados pelas indústrias com a adoção de tecnologias digitais (Tabela 2). 14 Tabela 2 – Benefícios esperados com a indústria 4.0 Fonte: CNI, 2018. Por fim, a pesquisa avaliou quais são os principais entraves para a implementação da indústria 4.0: • O alto custo para a implementação; • Incerteza com relação ao retorno do investimento; • Cultura da empresa; • Dificuldade na integração das novas tecnologias; • Infraestrutura inadequada (indústria / telecomunicações); • Falta de mão de obra qualificada; • Dificuldades para obter financiamento. Segundo as empresas consultadas, o governo tem um papel decisivo para acelerar a adoção da indústria 4.0. Dentre as ações esperadas para fomentar a sua implementação encontram-se as seguintes: • Melhorar a infraestrutura, como por exemplo, uso da banda larga; • Investir em educação para que haja a qualificação da mão de obra; • Disponibilizar linhas de crédito específicas; 15 • Interagir e colaborar com outros países em pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias. 16 REFERÊNCIAS CANAL DA AMCHAM BRASIL CÂMARA AMERICANA DE COMÉRCIO. IBM explica o que é o blockchain e como essa tecnologia impactará nos negócios. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wgAMF3zITck>. Acesso em: 7 jan. 2019. CNI – Confederação Nacional da Indústria. Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/cni/>. Acesso em: 7 jan. 2019. _____. Sondagem especial – Indústria 4.0: novo desafio para a indústria brasileira. Portal da Indústria, S.d. Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/estatisticas/sondesp-66-industria-4-0/>. Acesso em: 7 jan. 2019. RENAULT: a impressora 3D na Indústria 4.0. Autoindústria, 4 abr. 2018. Disponível em: <https://www.autoindustria.com.br/2018/04/04/renault- impressora-3d-na-industria-4-0/>. Acesso em: 7 jan. 2019. SACOMANO, J. B. et al. Indústria 4.0 – conceitos e fundamentos. São Paulo: Blucher, 2018. SILVA, E. et al. Automação & sociedade – Quarta Revolução Industrial, um olhar para o Brasil. Rio de Janeiro: Brasport, 2018. IBM explica o que é o blockchain e como essa tecnologia impactará nos negócios.Amcham Brasil Câmara Americana de Comércio, 13 set. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wgAMF3zITck>. Acesso em: 7 jan. 2019. REALIDADE Aumentada - Reparação de uma válvula. TCA Innovation Experts, 2 out. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0hVVGNuB5Pg>. Acesso em: 7 jan. 2019. RENAULT: a impressora 3D na Indústria 4.0. Autoindústria, 4 abr. 2018. Disponível em: <https://www.autoindustria.com.br/2018/04/04/renault-impressora-3d-na-industria-4-0/>. Acesso em: 7 jan. 2019.