Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Linguagem Visual Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Maria Jose Spiteri Tavolaro Passos Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas • Introdução; • Categorias Conceituais – Estratégias de Comunicação Aplicadas à Composição Visual; • Finalizando: Afinal, para que Técnicas de Composição? • Defi nir e caracterizar as principais categorias conceituais de composição visual; • Analisar a aplicação das categorias conceituais como técnicas visuais aplicadas à composição em diferentes contextos. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Introdução A linguagem visual, como o próprio nome diz, depende fundamentalmente da visão. Mas, observe que de nada adiantará você ter o seu aparelho fisiológico per- feito – olhos, sistema nervoso, cérebro etc. – e um objeto qualquer diante dos olhos se predominar o escuro total. Nesse caso, todos seremos cegos! Observe que na situação descrita no parágrafo anterior, a luz assume o papel principal, de modo que o nosso aparelho visual ficará em segundo plano. Perceba, ainda, que a luz é tonal, ou seja, vai do brilho – ou luminosidade – à obscurida- de, percorrendo uma série de gradações. Então, no processo de ver dependemos dessas gradações de tons para que possamos apreciar os objetos. Nesse sentido, Dondis (2003, p. 102) nos adverte que [...] dentre todos os nossos sentidos, porém, não há dúvida de que a visão é aquele de que mais dependemos, e o que sobre nós exerce um poder superior. E a visão funciona com mais eficácia quando os padrões que observamos se tornam visualmente mais claros através do contraste. Portanto, tanto na natureza como na arte – seja qual for –, o contraste assume importância fundamental ao observador. No entanto, devemos sempre considerar a estreita e importante relação que ocorre de um lado entre a mensagem e o seu significado, e por outro lado com as técnicas visuais. As considerações e recomen- dações oferecidas a seguir e recomendadas pela Psicologia da Percepção, em espe- cial pelas leis da Gestalt, não devem ser encaradas como paradigmas, mas como bases sólidas para a tomada de decisão compositiva. Apesar dessa recomendação, duas variáveis são fundamentais no momento de se buscar uma solução compositiva. Uma diz respeito ao contraste e a outra à harmonia. O organismo humano parece buscar a harmonia; há uma necessidade de orga- nizar toda espécie de estímulos em totalidades racionais, tal como foi demonstrado pelos experimentos da Gestalt. Para quebrar essa tendência é que surge o contras- te (DONDIS, 2003, p. 99). O contraste atua, então, como força de oposição a essa tendência, desequilibrando, chocando, estimulando, chamando a atenção. A harmonia, ou o estado nivelado do design visual, é um método útil e quase infalível para a solução dos problemas compositivos que afligem o criador inex- periente e pouco hábil em mensagens visuais. As regras a serem observadas são extremamente simples e claras, de modo que se forem seguidas com rigor, certa- mente os resultados obtidos serão atraentes. Não há como errar. De um modo geral, as técnicas visuais de composição estão baseadas em pola- ridades, de modo que não devemos pensá-las apenas como duas opções extremas. Entre o branco e preto temos à nossa disposição muitas tonalidades de cinza, tal como todos os outros tipos de contraste nos oferecem inúmeras gradações e variações. Por esse motivo é que dispomos de vasta gama de possibilidades para expressarmos o que desejamos. Assim, nesta Unidade trataremos de conceitos fundamentais que, articulados em oposições extremas ou por meio de suas gradações, levem-nos a estratégias técnicas 8 9 para elaborar composições. Veja que em nossas criações todos esses conceitos po- dem ser combinados, arranjados, associados, gerando soluções interessantes. Então, considere que neste caso o que vale é a interpretação pessoal, ou seja, a sua! Você encontrará na literatura especializada – algumas indicações citadas nas Re- ferências desta Unidade, inclusive – diversos tipos de classificação das técnicas ou categorias conceituais compositivas. Não há uma certa e outra errada, mas opções possíveis, cabendo a você analisar e escolher qual lhe convém. Categorias Conceituais – Estratégias de Comunicação Aplicadas à Composição Visual As categorias conceituais possuem como finalidade básica oferecer subsídios para o processo criativo, no momento de concepção do trabalho, de qualquer natureza. Além disso, essas categorias também funcionam como auxiliares no mo- mento da leitura visual de uma imagem qualquer. Como já pudemos observar em outros momentos, a nossa percepção trabalha por associações e por contrastes. Desse modo, nada mais coerente do que pensar que essas categorias conceituais que diferentes autores consideram como básicas às composições, trabalhem também com oposições. Dondis (2003) estabeleceu algumas dessas relações, vejamos: Tabela 1 Equilíbrio Instabilidade Simetria Assimetria Regularidade Irregularidade Simplicidade Complexidade Unidade Fragmentação Economia Profusão Minimização Exagero Previsibilidade Espontaneidade Atividade Estase Sutileza Ousadia Neutralidade Ênfase Transparência Opacidade Estabilidade Variação Exatidão Distorção Planura Profundidade Singularidade Justaposição Sequencialidade Acaso Agudeza Difusão Repetição Episodicidade Fonte: adaptado de Dondis (2003) 9 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Veja que há enorme quantidade de termos – aqui temos 38 elencados, mas po- deríamos ter outros tantos – adiante trataremos de alguns dos quais –; para tanto, utilizaremos dos estudos do professor João Gomes Filho (2009) que, assim como Dondis (2003), apoiou-se nos fundamentos da Gestalt. “As opções de design, literalmente infinitas, tornam difícil a descrição das técnicas visuais segundo o procedimento rígido e definitivo com que esta- belecemos o significado comum das palavras”. (DONDIS, 2003, p. 137) Embora sem ordenar por oposição, tal como fez Dondis(2003), João Gomes Filho (2009, p. 77 e seguintes) também nos apresenta muitos desses conceitos –, os quais denomina técnicas visuais aplicadas –, e é a partir desse seu trabalho que trataremos das categorias. Ao estudar as técnicas visuais aplicadas, João Gomes Filho chama a nossa atenção para um ponto importante: as técnicas não são os eventuais efeitos visuais que podemos obter por meio do uso dos softwares, mas esses programas podem enfatizar e incrementar os efeitos que desejarmos obter em nossas imagens, dando mais expressividade aos elementos com- positivos e à mensagem. Ex pl or Clareza A clareza se manifesta quando observamos uma imagem bem organizada, uni- ficada, harmoniosa, equilibrada; uma imagem com essas características oferece condições de decodificação e compreensão imediata do todo. A clareza é independente do objeto; pode ter estrutura formal simples – com poucas unidades –, ou complexa – com muitas unidades compositivas. As suas ca- racterísticas básicas são facilidade de leitura e rapidez de inteligibilidade. Figura 1 – Exemplo de clareza: girafas da África selvagem correndo na savana (Quênia) Fonte: iStock/Getty Images 10 11 Observe a Figura 1, onde a clareza está evidente: possui poucas unidades com- positivas e a sua organização formal é harmoniosa; a leitura visual é fácil e ime- diata. O Sol irradiando gradientes de cores quentes. As girafas em primeiro plano conferem leveza e, ao mesmo tempo, movimento à imagem. Simplicidade A simplicidade é uma tendência natural constantemente atuante em nossa men- te. É a responsável por produzir a organização mais harmoniosa e unificada possí- vel. Comumente apresenta poucas informações, tornando-se livre de complicações ou de elaborações secundárias. A simplicidade se caracteriza por imagens fáceis de assimilar, ler e compreender. Está associada à clareza. Eventualmente, uma imagem pode ter simplicidade mes- mo retratando um objeto complexo, condição esta que dependerá da organização visual da configuração formal (Figura 2). Figura 2 – Exemplo de simplicidade Fonte: iStock/Getty Images Na Figura 2 há poucas unidades formais. A sua configuração é clara e de fácil compreensão. O fundo liso faz com que a imagem da jovem em primeiro plano fique em destaque, contribuindo para a sua rápida decodificação funcional. Minimidade A minimidade diz respeito a usar o mínimo pos- sível para transmitir uma mensagem. Aqui menos é mais. Igualmente denominada monossêmica ou econômica, a sua característica é o uso de reduzidos elementos na composição. Naturalmente, a clareza e simplicidade estão presentes nessa técnica e são realçadas em razão do aparecimento de um mínimo de elementos informacionais, quase sempre regidos pelo essencial. Figura 3 – Anéis de ouro de casamento Fonte: iStock/Getty Images 11 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Nesse caso, para valorizar o significado de união contido nas alianças, o fotó- grafo optou por apresentar os anéis entrelaçados. Com o mínimo de elementos, transmitiu significativa quantidade de informações. Importante! Que o conceito de minimidade foi – e continua a ser – utilizado por muitos criadores nas mais diversas áreas? Coco Chanel, uma das mais revolucionárias estilistas do século XX, já na década de 1920 era adepta do “menos é mais”, tornando-se referência a criadores da moda e do design. Foi Madame Chanel – como era amplamente conhecida – quem criou o conceito do “pretinho básico”, o vestido preto, liso sobre o qual a mulher lançaria mão de um ou outro acessório, podendo, assim, variar o visual ao ter como base uma única peça do guarda-roupa. Figura 4 – Coco Chanel (1935), Man Ray, Museu Reina Sofia, Madri, Espanha Fonte: Wikimedia Commons Você Sabia? Os conceitos de simplicidade e minimidade estão também nas bases de um importante mo- vimento artístico do século XX, o minimalismo, onde se destacaram grandes nomes, tais como Donald Judd, Dan Flavin, Carlos Fajardo e outros. Você poderá conhecer mais a respeito da minimal art em: https://goo.gl/6CLGcF Ex pl or Complexidade A complexidade constitui uma elaboração polissêmica – que tem mais de um significado. Indica complicação visual por causa da presença de inúmeras unidades formais na organização do objeto, tanto das partes formais como do todo em si. A complexidade dificulta a leitura rápida da imagem, exigindo mais tempo, ob- servação e interpretação formal do observador. Lembrando-nos dos conceitos da Gestalt, diríamos, neste caso, que o objeto apresenta baixa pregnância da forma. 12 13 Na foto de São Paulo (Figura 5), podemos verificar como atua a complexidade, afinal, inúmeras unidades visuais se desdobram em outras: prédios, avenidas, ruas, veículos etc. Todos esses fatores concorrem para uma baixa pregnância, dificultan- do, em um primeiro momento, a leitura e apreensão detalhadas. Figura 5 – Exemplo de complexidade: vista aérea do centro da Cidade de São Paulo Fonte: iStock/Getty Images Profusão A profusão também é uma técnica associada à complexidade polissêmica, pois apresenta diversas unidades informacionais na elaboração da mensagem. O que a diferencia da complexidade é que na profusão ocorre a ênfase em objetos espe- cíficos. Ademais, a profusão tende a representações rebuscadas, com excesso de detalhes na ornamentação. Geralmente, as composições em que ocorre a profusão são ricas em significados, principalmente simbólicos. A profusão está associada, comumente, ao poder da riqueza e, na história da arte, pode ser encontrada em inúmeras manifestações da produção do Oriente Médio, bem como nas artes tradicionais chinesa, tailandesa e outras; assim como na produção ocidental, em estilos como o gótico, barroco, art nouveau etc. Observe, na Figura 6, a profusão de detalhes colocados no templo na Tailândia, com elaborados motivos artísticos, todos com função decorativa. Já na Figura 7, a profusão ocorre pelo excesso de elementos na ornamentação das paredes desse belo palácio construído pelos mouros, na Espanha, entre os séculos XIII e XIV. Figura 6 – Exemplo de profusão Fonte: iStock/Getty Images Figura 7 – Arcos mouriscos no Allahmbra, Granada Fonte: iStock/Getty Images 13 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Coerência A coerência se caracteriza por oferecer uma organização visual absolutamente integrada, equilibrada, harmoniosa, congruente, sem contradições. Expressa, prin- cipalmente, compatibilidade de estilo e linguagem formal uniforme e consoante. Figura 8 – Exemplo de coerência: grupo de mascarados no Carnaval de Veneza, Itália Fonte: iStock/Getty Images Na Figura 8 há uniformidade na organização do espaço, dos motivos, das for- mas e demais componentes da linguagem visual. A distribuição balanceada dos pe- sos visuais, os contrastes cromáticos e o jogo das tonalidades oferecem à imagem equilíbrio e harmonia. Incoerência A incoerência se caracteriza por apresentar organização visual contraditória, incongruente, conflitiva, seja nas partes ou no todo compositivo. Comumente, os objetos oferecem resultados formais desarticulados, desintegrados e desarmônicos. Figura 9 – Exemplo de incoerência Fonte: iStock/Getty Images Na Figura 9 observa-se forte incoerência na construção da cena: uma escada que não nos leva a uma porta. Ao verificar a imagem, sentimos confusão, confli- to, desintegração. 14 15 Exagero O exagero é um conceito que, em geral, apoia-se na extravagância, algumas ve- zes apresentando proporções enormes. O seu objetivo é chamar a atenção e atrair o olhar pela aplicação de expressões visuais intensas e/ou amplificadas. Algumas vezes essa “exageração” também emprega muitos elementos visuais; no entanto, quando a imagem está bem articulada e balanceada, o exagero pode oferecer ri- queza visual e, de fato, chamar a atenção para o objeto. Observe, na Figura 10, como a grande cúpula da igreja de Santa Maria del Fiore se destaca na paisagem da cidade italiana de Florença. O olhardo observador é au- tomaticamente direcionado ao grande volume que, por suas dimensões, sobrepõe- -se a todos os demais prédios registrados na imagem. O edifício da Figura 11 é o Agbar, uma imensa torre localizada na Cidade de Barce- lona, Espanha; aqui o conceito do exagero foi utilizado de forma radical: a monumen- talidade da construção evidencia o seu sofisticado estilo que se destaca no cenário da cidade pelo seu formato inusitado, evocando uma ogiva, ou mesmo uma nave espacial. Figuras 11 – Exemplo de exagero Fontes: Wikimedia Commons Figura 10 – Santa Maria del Fiore, Florença, Itália Fonte: iStock/Getty Images Edifício Agbar, na Cidade de Barcelona, disponível em: https://goo.gl/3CPNer Ex pl or Arredondamento As formas arredondadas costumam nos trazer a sensação de aconchego, de calor. O arredondamento apresenta como principal característica a suavidade, brandura, delicadeza e sensação de maciez que as formas orgânicas normalmente transmitem. O arredondamento também está associado à continuidade, ou seja, os nossos olhos percorrem a imagem tranquilamente, sem dificuldades, quebras ou rupturas. No universo do design, por exemplo, as linhas arredondadas se alternam com os 15 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas projetos mais angulosos e assim, volta e meia, retornam como uma tendência nos mais diversos produtos – da tipografia aos projetos automobilísticos. Figura 12 – Exemplo de arredondamento Figura 13 – Exemplo de arredondamento Fonte: iStock/Getty Images Na Figura 12, a marca Rede Globo se caracteriza por formas orgânicas, com formato arredondado composto por dois globos; conta ainda com equilíbrio axial simétrico, o que lhe confere boa harmonia. Já o cronômetro da Figura 13 apresenta formas totalmente orgânicas, com desenho ergonômico – adequado ao formato da mão –, botões colocados na po- sição dos dedos que os acionam, de modo que a sua forma transmite delicadeza e suavidade. Transparência Física A transparência física ocorre quando os materiais utilizados permitem a visuali- zação através do objeto, podendo se dar também pela sobreposição de objetos, de modo que aqueles que estão atrás podem ser vistos pelo observador. Essa visualiza- ção tanto pode ocorrer de forma total ou parcial – conforme as seguintes figuras. Ademais, a transparência pode conferir à composição leveza, delicadeza, sensação de fragilidade etc. Figura 14 – Exemplo de transparência física Fonte: iStock/Getty Images 16 17 Na Figura 14, o cristal nos oferece transparência total, de modo que somos capazes de ver a roupa e a mão segurando o copo, assim como a quantidade de água que este contém. Figura 15 – Lanternas, Ana Alves Fonte: pxhere.com No entanto, na Figura 15, a lanterna em primeiro plano nos permite entrever a lâmpada em seu interior, bem como partes das lanternas que estão atrás da primei- ra – e as outras atrás dessas. Assim, a transparência não é integral. Figura 16 – Exemplo de translucidez Fonte: iStock/Getty Images Há corpos que, por sua natureza física, limitam parcialmente a passagem da luz, tratando-se dos materiais translúcidos, foscos, leitosos, coloridos e/ou texturizados. Veja, na Figura 16, o que ocorre com as lanternas de papel iluminadas, deixando a luz atravessar; contudo, não vemos através dessas – tal como ocorre nas figuras 14 e 15. 17 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Transparência Sensorial Na transparência sensorial, a percepção de transparência não ocorre pelas ca- racterísticas do objeto, mas por manipulações efetuadas, comumente, com técnicas importadas de outras linguagens, tais como o desenho e a pintura, por exemplo. Contemporaneamente, as manipulações digitais são as mais utilizadas para a cons- trução desses efeitos. Figura 17 – Exemplo de transparência sensorial Fonte: iStock/Getty Images Figura 18 – Anatomia do corpo humano Fonte: Pixabay Todos esses exemplos tratam da transparência sensorial produzida por meio da manipulação digital das imagens, conferindo características específicas que podem envolver, inclusive, novos significados aos objetos. Figura 19 – Exemplo de transparência sensorial Fonte: iStock/Getty Images Opacidade A opacidade implica no bloqueio da visibilidade através dos objetos ou, também, na ocultação de elementos visuais, seja em partes ou no todo. Observe, na Figura 20, uma comparação entre os três conceitos: transparên- cia, translucidez e opacidade: a primeira esfera é completamente atravessada 18 19 pela luz; na segunda isso ocorre parcialmente; enquanto que a terceira esfera blo- queia totalmente a passagem da luz: Figura 20 – Exemplos de transparência, translucidez e opacidade Fonte: Wikimedia Commons Observe como, na Figura 21, o corpo da câmera bloqueia completamente a passagem da luz proveniente da fonte luminosa posicionada no fundo da ima- gem. Isso nos mostra como os seus materiais opacos se transformam em uma barreira para a luz a ponto de não permitirem que vejamos os mecanismos inter- nos do equipamento. Figura 21 – Exemplo de opacidade: corpos bloqueando a passagem da luz Fonte: iStock/Getty Images No entanto, na Figura 22 vemos o equipamento fotográfico por outro ângulo: a lente é a retratada; de modo que a transparência do vidro nos permite visualizar o mecanismo interno desse equipamento e, assim, podemos identificar o obturador, corpo opaco responsável pelo controle da entrada de luz. Figura 22 – Transparência versus opacidade Fonte: iStock/Getty Images 19 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Redundância A redundância se caracteriza pela repetição ou pelo excesso de elementos iguais, algumas vezes considerados supérfluos. Apesar disso, com essa caracterís- tica podemos ressaltar determinados aspectos da mensagem que, de outra forma, poderiam passar desapercebidos, e isso já justifica a sua aplicação. Nesse sentido, a repetição cria um ritmo, chama a atenção, atrai o olhar, facilita a memorização de uma parte em especial, um objeto, uma mensagem na composição. Na Figura 23, observamos a repetição das batatas fritas tanto no formato, quan- to na cor, textura e disposição dos elementos no espaço. Na roda-gigante (Figura 24), a redundância está na repetição de seus diversos componentes – aros, assentos etc. –, criando um ritmo que nos remete à noção de tempo e espaço, já que à medida que os assentos se distanciam do observador, diminuem de tamanho. É a ideia de ciclo, girando na grande roda que se desloca em torno de seu próprio eixo. Figura 23 e 24 – Exemplo de repetição Fonte: iStock/Getty Images Ademais, observe o que ocorre na Figura 25: temos a repetição da possível imagem da pessoa com chapéu, segurando um quadro entre as mãos. Essa figura, bem como a paisagem como um todo, repete-se dentro do próprio quadro, criando uma sensação de profundidade ilimitada, de infinito impossível. Figura 25 – Exemplo de repetição Fonte: iStock/Getty Images A redundância pode reforçar a fixação da informação e, por este motivo, é co- mumente aplicada pelo universo da publicidade. 20 21 Ambiguidade Gomes Filho (2009, p. 90) afirma que “[...] a ambiguidade é um fator que con- corre para a indefinição geométrica ou orgânica da forma e que pode induzir a interpretações diferentes daquilo que é visto”. Ainda no mesmo texto, o autor nos adverte que “[...] é uma técnica que não deve ser utilizada para objetivos funcionais, nos quais se requer clareza, segurança e precisão na informação ou na configuração dos objetos” (GOMES FILHO, 2009, p. 90). Apesar disso, é uma técnica que pode dar resultados bem interessantes e instigantes, provo- cando a surpresa visual. Observe que na Figura 26 a ambiguidade acon- tece pelo efeito de ilusão de ótica. A sensação que o desenho nos passa é de algo que parece viável no primeiro instante; contudo, o que percebemos é que a representação é impossível – porém, o seu efeito surpreende. As forças de organização da for- ma agem emnosso cérebro de maneira a encon- trar a melhor configuração estrutural para facilitar o nosso entendimento. Um importante artista do século XX que trabalhou intensamente com esse conceito em suas composições foi Mauritis Cornelis Escher (1898-1972). As suas obras se tornaram referências para estudiosos das mais diversas áreas, entre as quais a Matemática. Articulando engenho- samente os elementos visuais, Escher criou universos fantásticos, situações impossíveis com escadas que sobem e descem e personagens que as percorrem sem chegar a destino algum. Conheça mais a respeito de sua produção em: https://goo.gl/by7mhF Ex pl or Na Figura 27, a ambiguidade está na visualização do predomínio ora do perfil do velho de barba e turbante, ora das figuras que compõem o olho, nariz, a orelha e barba. Isso acontece por causa das forças internas de organização da forma que dependem das condições de maior ou menor força de acuidade visual, variável entre as pessoas. Figura 27 – Exemplo de ambiguidade Fonte: iStock/Getty Images Figura 26 – Exemplo de ambiguidade Fonte: iStock/Getty Images 21 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Espontaneidade A espontaneidade se caracteriza pela aparente falta de planejamento visual. Trata-se de uma técnica que evoca o natural, instintivo, onde aparentemente as coisas não são premeditadas. A Figura 28 nos dá a sensação de espontaneidade: o traço livre, a caneta, a palavra Paris grafada de forma manuscrita, enfim, tudo isto nos transmite a im- pressão de reprodução da caligrafia manual: Figura 28 – Exemplo de espontaneidade Fonte: iStock/Getty Images Figura 29 – Coleção de estampas de fumaça isolada em fundo preto Fonte: iStock/Getty Images Na Figura 29 vemos registros do movimento da fumaça, o que aparentemente nos traz a sensação de algo muito leve, não premeditado, logo, espontâneo. No en- tanto, se refletirmos, perceberemos que o registro dessas imagens envolveu o olhar do fotógrafo que capturou a cena, com precisão: o delicado movimento da fumaça dançando e se diluindo no ar. 22 23 Aleatoriedade A aleatoriedade se caracteriza por elementos dispostos de modo a obedecer a um esquema rítmico, de forma não sequencial: incerto, casual, fortuito, acidental. Eventu- almente, a aleatoriedade pode passar a sensação de falta de planejamento, desorgani- zação, ou apresentação acidental da mensagem. Essa técnica exige, além de criativida- de, significativo domínio da linguagem visual para se obter resultado satisfatório. Observe que o copo de leite (Figura 30) nos transmite essa sensação de aleatoriedade, mas sabemos que a imagem apresentada proposi- tadamente tenta transmitir a sensação de que é acidental e fortuita. O copo derramando passa, de forma criativa e original, a sensação de que o leite está, de fato, alastrando acidentalmente, ainda que o movimento tenha sido estudado para que o registro ocorresse no momento exato em que o leite se movimentasse como um tecido esvoaçante no espaço. Essa figura nos transmite o entendimento de aleatoriedade, no entanto, tudo isso é rea- lizado com planejamento e previsão do que se pretende obter; esse processo de planejamen- to cobra acurado controle sobre os elementos a fim de que se alcance o resultado desejado. Fragmentação Gomes Filho (2009, p. 93) afirma que “[...] a fragmentação é uma técnica de organização formal que geralmente está associada à decomposição dos elementos ou de unidades em peças separadas que se relacionam entre si, porém, conservan- do seu caráter individual”. Figura 31 – Exemplo de fragmentação Fonte: iStock/Getty Images Figura 30 – Exemplo de aleatoriedade Fonte: iStock/Getty Images 23 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Assim, observe a Figura 31, em que a perspectiva atua como força de fragmen- tação; perceba como sentimos o movimento, a força, o impacto que é produzido pelo avanço dos elementos projetados para frente – a bola, os tijolos se deslocan- do, o céu ao fundo oferecendo a fragmentação tridimensional, tudo dentro de um equilíbrio dinâmico. Sutileza A sutileza é a elegância, suavidade, delicadeza, distinção. É utilizada para carac- terizar e conferir graciosidade, leveza e refinamento à composição. Ademais, a sutileza envolve grande subjetividade e, portanto, pode gerar dife- rentes interpretações de acordo com o repertório do observador. Observe, na Figura 32, a sutileza do fotógrafo ao registrar a teia de aranha: ba- nhada por gotículas de orvalho ao amanhecer, o conjunto se transformou em uma trama composta por grandes fios de contas. Figura 32 – Exemplo de sutileza Fonte: pxhere.com Diluição A diluição tem como objetivo suavizar, abrandar ou atenuar visualmente a ima- gem de um objeto (GOMES FILHO, 2009, p. 95). Isso nos indica que a diluição não busca a precisão e nitidez, mas pode transmitir a sensação de sonho e ilusão. Quando utilizamos a técnica da diluição, comumente as imagens estão desfoca- das, não são definidas claramente; outras vezes empregamos os efeitos causados pela percepção de movimento visual. Podemos, ainda, variar o grau de intensidade da diluição, dependendo do objeto e da mensagem que se pretende transmitir. Observe como temos a impressão de que os grãos de café (Figura 33) estão, de fato, caindo; isso acontece porque os grãos ao fundo estão desfocados, como se estivessem efetivamente em movimento. 24 25 No caso da bailarina (Figura 34), a impressão que temos é de algo surreal, pro- vocado, principalmente, pelo uso dos movimentos do corpo e que aparecem de forma não perfilada e definida por conta da iluminação e do jogo de luzes e som- bras. Tudo isso confere à imagem um equilíbrio harmonioso e dinâmico. Figura 33 e 34 – Exemplo de diluição Fonte: iStock/Getty Images Distorção A distorção se caracteriza, como o próprio nome nos indica, pela deformação, desvirtuamento, mudança de sentido, ampliação, desproporção formal do objeto; mas quando bem utilizada produz efeitos interessantes. Gomes Filho (2009, p. 96) diz que a “[...] distorção força e dramatiza o realismo [...]”. Na Figura 35, observe como os lábios e óculos da modelo parecem despropor- cionais; nesse caso o efeito é proposital para chamar a atenção ao beijo. Já na Figu- ra 36 a distorção utilizada é mais sutil: observe que é um pequeno peão de xadrez que se reflete no espelho como um rei, maior e mais poderoso. Figura 35 e 36 – Exemplo de distorção Fonte: iStock/Getty Images A charge e caricatura são campos vastos para a distorção. Comumente, procu- ra-se uma característica marcante do retratado e trabalha-se sobre a qual – lembre- -se da técnica do exagero –, acentuando-a e produzindo um efeito bem-humorado e positivo. 25 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Atualmente, os programas de computação gráfica permitem aplicar ideias criati- vas, produzindo imagens bem interessantes – tal como a que aparece na Figura 37. Figura 37 – Exemplo de distorção Fonte: Pixabay.com Profundidade A profundidade se apresenta, de acordo com Gomes Filho (2009, p. 97), “[...] nas variações de imagens retilíneas, baseadas em gradientes de estimulação ordi- nal”. A sensação que esses gradientes transmitem pode ser de distanciamento do objeto, portanto, conduzindo à ideia de profundidade, perspectiva. A perspectiva geralmente apresenta uma sucessão de figuras que concorrem para a visão tridimensional do objeto. A questão mais importante na técnica da profun- didade é o ângulo de tomada do objeto. Gomes Filho (2009, p. 97) afirma que “[...] tomadas feitas de baixo para cima geralmente dramatizam o assunto, sobretudo quando associadas a variações angulares do próprio equipamento [fotográfico]”. Na perspectiva da vista aérea do Rio de Janeiro (Figura 39), a profundidade é panorâmica e ampla. Em primeiro plano observa-se a Cidade, o mar, oceano e as montanhas, com destaque, no centro da Figura, ao Pão de Açúcar. Figura 38 – Exemplo de profundidade Fonte: iStock/GettyImages 26 27 Já na perspectiva dos balões (Figura 39), a profundidade é dada pelos gradien- tes formados pela sucessão de planos, desde o solo até as nuvens ao fundo e pela sucessão dos mencionados balões. A harmonia é destacada pela profusão e con- trastes dimensionais das cores e a proporcionalidade dos diversos elementos que compõem a imagem. Figura 39 – Exemplo de profundidade Fonte: iStock/Getty Images Superfi cialidade A superficialidade está entre as mais antigas formas de representação utilizadas pela humanidade (Figura 40), caracterizando-se pelo aspecto plano, fazendo re- ferência à representação bidimensional, ou seja, ao contrário da profundidade ou perspectiva – as quais fazem referência à tridimensionalidade. Figura 40 – A representação de imagens com ênfase na bidimensionalidade está presente na arte desde a Antiguidade: câmara funerária de Nefertari, esposa de Ramsés II, cuja cena mostra as divindades Re-Harakhty e Amentit (a deusa do Ocidente) Fonte: Wikimedia Commons 27 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Observe como, na Figura 41, vemos as silhuetas das pessoas. Embora pos- samos reconhecê-las, não é possível identificar qualquer aspecto volumétrico nessas representações. Figura 41 – Exemplo de superficialidade Fonte: iStock/Getty Images Note que ao compararmos as figuras 42 e 43 podemos verificar que o simples fato de mudar o ângulo de observação do objeto pode nos trazer a sensação de profundidade. Figura 42 e 43 – Tomada frontal do objeto (ênfase para a superficialidade) Fonte: iStock/Getty Images Sequencialidade É possível criar uma sensação de continuidade quando repetimos determinados elementos como linhas, planos, volumes, cores, texturas, brilhos etc., independen- temente de sua disposição visual – por justaposição, sobreposição, alinhando-os lado a lado etc. –, desde que esses elementos sigam uma ordem lógica. Assim, a sequencialidade se caracteriza pela ordenação de unidades de modo contínuo, sequencial e lógico, em função dos princípios de harmonia e equilíbrio. Observe atentamente cada uma das seguintes figuras. No caso da escadaria (Figura 44), a sequencialidade está presente na repetição dos planos verticais e horizontais que formam os degraus, assim também ocorre nas barras do corrimão. Na série de colunas que vemos na Figura 45, a sequencialidade está no posicio- namento dos elementos – colinas e estátuas. A configuração curva realça a harmo- nia e o equilíbrio por movimento ritmado (GOMES FILHO, 2009, p. 99). 28 29 Figura 44 – Exemplo de sequencialidade Fonte: iStock/Getty Images Figura 45 – Colunata de Bernini, Vaticano Fonte: Wikimedia Commons Na Figura 46, a sequencialidade se dá pela disposição radial das hastes da som- brinha (jyanomekasa). Na estrada com carvalhos (Figura 47), a sequencialidade se dá pela sucessão das ár- vores que formam uma espécie de túnel, proporcionando a sensação de profundidade. Figura 46 e 47 – Exemplo de sequencialidade Fonte: iStock/Getty Images Sobreposição A sobreposição se caracteriza pela organização de elementos de modo que um seja posicionado sobre o outro. É importante observar que, de acordo com as ca- racterísticas desses elementos – translucidez, opacidade, transparência –, podere- mos obter diferentes resultados. [...] a singularidade da técnica de sobreposição consiste no domínio e na busca do maior controle visual possível dos elementos sobrepostos em termos, por exemplo, de posicionamento, tamanho, densidade, propor- ção etc. de parte do objeto ou do objeto como um todo. (GOMES FILHO, 2009, p. 100) 29 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Na Figura 48, a sobreposição ocorre pela profusão de unidades visuais, dispos- tas ao longo das linhas diagonais da composição e que parecem dirigir o nosso olhar. Essa fragmentação das unidades compositivas, promovida pela sobreposi- ção, reforça a complexidade dessa composição e a sua baixa pregnância. Figura 48 – Exemplo de sobreposição Fonte: iStock/Getty Images Observe que na Figura 49 podemos encontrar outro exemplo de sobreposição, no entanto, a transparência dos objetos nos traz uma sensação de entrelaçamento das formas; já a propriedade do vidro de entrever as superfícies posteriores confere uma leveza a essa composição. Figura 49 – Sobreposição com transparência Fonte: pxhere.com 30 31 Na Figura 50 temos, ao mesmo tempo, a transparência do vidro, a translucidez da fatia do fruto e a opacidade da rolha, de modo que a sobreposição desses ele- mentos cria uma situação simultaneamente instigante e harmoniosa. Figura 50 – Sobreposição com transparência, opacidade e translucidez Fonte: pxhere.com Ajuste Ótico O ajuste ótico é utilizado tanto em configurações formais bi ou tridimensionais, “[...] se trata de algum tipo de correção, ajuste ou de controle visual, principalmente nas linhas que contornam ou delimitam as organizações formais” (GOMES FILHO, 2009, p. 101) É um refinamento no trato da forma do objeto. Na fotografia, o ajuste ótico pode corresponder à busca de melhor ângulo para registrar determinado modelo, valorizando as suas linhas. Veja, nas seguintes figu- ras, como a mudança de ângulo de iluminação altera a percepção das linhas do rosto da atriz e diretora estadunidense Madeleine Stowe, suavizando a linha do nariz, por exemplo; o mesmo pode ocorrer com o uso da maquiagem e dos efeitos obtidos por meio de computação gráfica: Figura 53 – Madeleine Stowe (2002) Fonte: Wikimedia Commons Figura 51 – Madeleine Stowe (2011) Fonte: Wikimedia Commons Figura 52 – Madeleine Stowe (2008), Joshua Skaroff Fonte: Wikimedia Commons 31 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas O conceito de ajuste ótico remonta aos projetistas do passado que, já nos templos greco-ro- manos (Figura 54), utilizavam essa técnica para produzir efeitos harmoniosos e de equilíbrio visual em suas obras. As colunas, por exemplo, eram dimensionadas com ligeiras curvaturas convexas para que, aos olhos do observador e a certa distância, parecessem retas. Figura 54 – Exemplo de ajuste ótico Fonte: Wikimedia Commons Na produção televisiva, cinematográfica e mesmo na mídia impressa, são inúmeros os ajus- tes óticos realizados para produzir efeitos diferenciados. O desenvolvimento de softwares para o tratamento de imagens fixas ou em movimento em muito contribuiu à correção de pequenas imperfeições nos mais diversos tipos de objetos retratados e, principalmente no caso das figuras humanas, eliminando rugas e outros sinais (Figura 55), rejuvenescendo ou envelhecendo os modelos, acentuando ou suavizando a expressão facial etc. Figura 55 – Exemplo de ajuste ótico Fonte: iStock/Getty Images Ex pl or Ruído Visual O ruído visual diz respeito a interferências, distorções que perturbam a harmo- nia ou o equilíbrio visual em um objeto. Embora o ruído possa distrair a atenção do observador e, portanto, compro- meter a comunicação, se utilizado de forma criativa pode promover centros de interesse, contribuindo até para valorizar detalhes. 32 33 Na Figura 56, em princípio as luzes do palco podem “soar” como ruído visual, já que comprometem a visualização dos músicos; por outro lado, recriam a cena, conferindo à imagem uma atmosfera diferenciada. Figura 56 – O ruído visual utilizado favoravelmente à imagem Fonte: pxhere.com Embora a distorção formal possa igualmente comprometer a visualização de um objeto, em alguns casos poderá ser positiva. Observe, na Figura 57, como o fotógrafo registrou a praia de Copacabana ao amanhecer e, com a distorção pro- porcionada pela lente, criou uma sensação de que em algum momento os dois ex- tremos da praia se tocarão, o que de fato não acontece; ao mesmo tempo, temos a imensidão do mar unindo-se ao céu frente à praia. Figura 57 – Exemplo de ruído visual Fonte: iStock/Getty Images Finalizando: Afi nal, para que Técnicas de Composição? Ao longo desta Disciplina discutimos vários temas ligados à linguagemvisual: desde os tópicos mais simples, como os elementos que compõem a visualidade, até os pontos mais complexos, como a sua articulação no campo plástico, ou seja, a composição. Nesta Unidade tratamos de alguns conceitos que embasam técnicas aplicáveis à composição de imagens. Mas caberia ainda uma reflexão: para que precisamos de todos esses conceitos? É sempre bom lembrar que, tal como todo processo comunicacional, as diferentes formas de expressão visual envolvem um emissor – quem cria a 33 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas imagem –, um receptor – quem vê a imagem – e uma mensagem – o con- teúdo da imagem em si. Assim, a composição não deve ser um “[...] meio interpretativo de controlar a reinterpretação de uma mensagem visual por parte de quem a recebe”. (DONDIS, 2003, p. 131). Ademais, veja que nesta Unidade trabalhamos com muitos conceitos: • Clareza; • Simplicidade; • Complexidade; • Minimidade; • Profusão; • Coerência; • Incoerência; • Exagero; • Arredondamento; • Transparência – física e sensorial; • Opacidade; • Redundância; • Ambiguidade; • Espontaneidade; • Aleatoriedade; • Fragmentação; • Sutileza; • Difusidade; • Profundidade; • Superficialidade; • Sequencialidade; • Correção ótica; • Ruído visual. Ao retomá-los, vemos que é possível estabelecer relações de oposição entre muitos dos quais; assim, verificamos que a experiência visual envolve a interação entre polaridades, de modo que saber explorá-las, extraindo o seu melhor, é um longo e precioso exercício. Aprendemos as teorias porque são importantes, já que a percepção depende de fatores naturais, entre os quais o sistema nervoso humano. Mas é sempre bom lembrar que os fundamentos são os mesmos para todos e as técnicas são apenas ferramentas, cabendo ao criador articulá-las em função da mensagem que desejar transmitir ao seu público – e é isso que tornará a sua obra única e exclusiva. 34 35 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Rosangela Rennó Conheça um pouco do trabalho da brasileira Rosangela Rennó, que se destaca por atuar intensamente com várias das técnicas apontadas nesta Unidade. https://goo.gl/Lniitf Livros Laboratório de artes visuais: fotografia digital e quadrinhos SCOVILLE, A. L; ALVES, B. O. Laboratório de artes visuais: fotografia digital e quadrinhos. Curitiba, PR: Intersaberes, 2018. Neste livro você poderá tomar contato com diferentes aspectos ligados à fotografia e ao universo das Histórias em Quadrinhos (HQ). Em um formato atualizado, didático e ilustrado, os autores nos apresentam o rico universo das duas linguagens. Vídeos Apresentação da Exposição - Moderna para Sempre (2014) - Videoguias - Parte 1/7 https://youtu.be/I75jPRWJikY Moderna para Sempre (2014) – Rubens Fernandes Entrevista com o pesquisador e crítico Rubens Fernandes, tratando da fotografia modernista brasileira, onde aborda questões ligadas ao pictorialismo, à formação do Foto Cine Clube Bandeirante e da estética radical que desse emergiu. https://youtu.be/e0IwWkvM8Sw Fotogramas, Montagens, Recortes - Moderna para Sempre (2014) - Videoguias - Parte 6/7 Conheça as experimentações de importantes fotógrafos, tal como Geraldo de Barros, entre outros, as quais se destacaram no cenário brasileiro: da manipulação da câmera no momento da captura à interferência nos negativos e positivos quando da ampliação. https://youtu.be/UZ3YsSXJzZg 35 UNIDADE Conceitos Compositivos: Técnicas Visuais Aplicadas Referências ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. FRACCAROLI, C. A percepção da forma e sua relação com o fenômeno ar- tístico: o problema visto através da Gestalt. (Aula n. 30). São Paulo: Edusp, 1952. GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. 9. ed. São Paulo: Escrituras, 2009. OCVIRK, O. G. et al. Fundamentos de arte: teoria e prática. São Paulo: Mc- Graw-Hill, 2015. 36
Compartilhar