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Meios de Expressão Professor Me. César Biegas Faquin Professor Me. Dênis Martins de Oliveira Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP F218m Faquin, César Biegas Meios de expressão / César Biegas Faquin, Dênis Martins de Oliveira. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 95 p.: il. Color. 1. Desenho. 2. Percepção visual. 3. Desenho – Técnica. I. Oliveira, Dênis Martins França. II. Centro Universitário UniFatecie. III. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 744 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTORES Professor Mestre Dênis Martins de Oliveira ● Mestrado em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela Unicesumar (2020). ● Especialização em EAD e as novas Tecnologias Educacionais. Centro Universi- tário de Maringá, UNICESUMAR (2019). ● Curso superior de Tecnologia em Design de Interiores pela Unicesumar (2018) ● Bacharelado em Moda pela Unicesumar (2016). ● Pós graduação em Docência no Ensino Superior, Centro Universitário de Maringá (2016). ● Licenciatura em Artes Visuais pelo Centro Universitário de Maringá (2012). Possui experiência na área de Moda, com ênfase em Artes. Ministrando as discipli- nas de: História da Arte e do Design; Teoria e Fundamentos do Design; Linguagem Visual; Processo Criativo Avançado; Visual Merchandising; Materiais e Expressão Gráfica; Dese- nho de Moda; Pintura e Gravura; Materiais e Técnicas Artísticas; Visagismo e Consultoria de Imagem. Professor de graduação e pós graduação. Consultor de Imagem. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/787808509434425 Professor Mestre César Biogás Faquin ● Mestre em Cinema e Audiovisual pelo Programa de Pós-Graduação em Comu- nicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP/Curitiba), com pesquisa sobre intermidialidade e intertextualidade em produções audiovisuais. ● Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Imagem e Contemporaneidade (GP CIC) da UTP. ● Graduado em Comunicação e Multimeios pela Universidade Estadual de Maringá (Paraná, Brasil), com estudos voltados para o hibridismo dos meios e observatório de mídias. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/8285244350749881 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Caro(a) aluno(a), este material tem como objetivo orientar os estudos em meios de expressão e representação no âmbito das diferentes áreas criativas que utilizam o desenho como forma de expressão. Desta forma, entendendo que o desenho é o meio pelo qual se materializam as ideias, o material didático apresenta técnicas e métodos para que você desenvolva habilidades de expressão e representação à mão livre, incentivando a prática por meios de exercícios de traço e desenho livre. Essas habilidades serão fundamentais para o desenvolvimento de sua formação acadêmica, assim como para a criação de sua linguagem de expressão enquanto profissio- nal da área criativa. A Unidade I abordará os conceitos introdutórios acerca do desenho de observação e sobre a percepção visual que é essencial para o processo de desenvolvimento do dese- nho a mão livre. Na Unidade II, serão abordadas algumas definições sobre a linguagem visual aplicada ao desenho visando proporcionar a você, aluno(a), o conhecimento sobre os aspectos estruturais que compõem o ato de desenhar e os resultados que se pretende obter por meio do desenho. A Unidade III é dedicada à tipologia das representações; nela, serão apresentadas as possibilidades e definições para que você compreenda os diferentes tipos de desenho observando os efeitos de proporção e equilíbrio, além do ponto de vista. Na Unidade IV, trabalharemos os aspectos de luz e sombra, abordando técnicas que envolvem o elemento cor, técnicas tonais e os contrastes e efeitos volumétricos causados pelas nuances de luz e sombra. Dessa forma, este material tem como objetivo estimular o conhecimento, reflexão e exercício prático sobre as formas de representação a mão livre por meio do desenho, contemplando os conteúdos necessários à formação de um profissional capacitado. Bons Estudos!!! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Desenho de Observação UNIDADE II ................................................................................................... 21 Linguagem Visual Aplicada ao Desenho UNIDADE III .................................................................................................. 44 Tipologia das Representações UNIDADE IV .................................................................................................. 66 Desenho e Cromatização 3 Plano de Estudo: ● História, conceitos e definições de desenho; ● Exercícios e representações; ● Importância perceptiva e psicológica; ● Proporção. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar o processo de desenho manual; ● Compreender os tipos de exercícios de representação gráfica; ● Estabelecer a importância perceptiva e psicológica do processo de desenho; ● Conhecer os princípios de proporção no desenho. UNIDADE I Desenho de Observação Professor Me. César Biegas Faquin Professor Me. Dênis Martins de Oliveira 4UNIDADE I Desenho de Observação INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a)! Nesta primeira unidade, abordaremos um assunto que alguns alunos(as) temem por acreditarem ser algo destinado a pessoas com talento especial: o desenho. É importante aluno(a) que você compreenda que o ato de desenhar envolve um processo de aprendiza- gem, resultado de muita dedicação e treino. No caso de profissões ligadas a área de projeto, o desenho é um recurso primor- dial, e auxilia não só na representação gráfica do projeto em si, mas também no domínio da visualidade, colaborando para as noções espaciais e para a formação e exercício do alfabetismo visual. Seja por meio de um esboço, um desenho técnico ou simplesmente pelo traçado de linhas guias na elaboração de um rascunho, o fato é que os conhecimentos acerca do desenho são fundamentais para a externalização das ideias na área do design, arquitetura, engenhariae afins. Você notará como o desenho foi e é essencial para a geração do nosso entorno artístico, arquitetural, comunicacional, cultural, social e tecnológico. O objetivo aqui é trazer para você aluno(a) informações verbais e visuais a fim de ampliar seu repertório e desmis- tificar o processo de desenho como sendo algo complicado. Veremos a importância do desenho enquanto representação gráfica, e como o pro- cesso de percepção auxilia nas representações, bem como veremos sobre a importância do olhar e do ato de observar para extrair rereferências e compor nossas representações usando o desenho como técnica visual. O foco neste primeiro contato com o desenho é lhe dar embasamento teórico e estimulá-lo (a) a desenhar mais (se você já desenha) ou a começar (se nunca desenhou). Entendendo alguns conceitos básicos sobre a história, as composições, os processos e as proporções que regem o universo do desenho. Bons estudos!!! 5UNIDADE I Desenho de Observação 1. HISTÓRIA, CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE DESENHO O processo de desenho é uma atividade que permeia as mais variadas profissões. No campo do design, arquitetura, arte e engenharias, desenhar é primordial para colocar no papel as ideias que estão na mente. O desenho, portanto, é uma ferramenta para o desenvolvimento de projetos, produtos ou artefatos criativos. REFLITA Para mim, o desenho é a conexão mágica entre inspiração e expressão. Jean Charles de Castelbajec Fonte: Jean Charles de Castelbajec (1989). Dentre os diversos tipos de desenho, temos a opção de trabalhar com o desenho digital e o desenho manual, mas para que seja possível desenhar por meio de recursos digitais, o profissional precisa entender dos princípios basilares que fundamentam o desenho manual, para assim desenvolver a destreza e a habilidade para o desenho auxiliado por recursos digi- tais. Assim para iniciar o processo de desenho, é importante compreender que desenhar está intimamente ligado ao ato de observar, pois o desenho é uma representação gráfica daquilo que vemos, ou daquilo que estamos projetando e que se tornará um produto palpável no futuro. 6UNIDADE I Desenho de Observação O desenho de observação é uma atividade exclusivamente humana e per- manece na esfera do desenho feito à mão livre. Quando é feito à mão livre, o desenho assume, naturalmente, a personalidade e o ponto de vista de seu autor. Nossos croquis pessoais, assim como nossa caligrafia, são únicos e fáceis de identificar, pois não se revelam apenas no caráter dos traços utiliza- dos para fazer as linhas, criar tonalidades e capturar uma cena; nossos esbo- ços também revelam nossa maneira de ver, aquilo que nos chama atenção e os aspectos particulares que optamos por enfatizar. (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 113). A prática do desenho se inicia com dois elementos básicos, o papel, que será a base para a representação gráfica, e a “tinta”, que pode ser qualquer recurso que imprima uma cor e se destaque no papel para formar as linhas que darão forma a composição. Co- mumente iniciamos nosso processo de desenho com o lápis grafite, pois é um material de fácil acesso, e efeito imediato no processo de representação. Curtis (2015), nos apresenta um breve histórico sobre o grafite enquanto matéria prima para o desenho: A grafite (do grego graphein: “desenhar/escrever”) foi descoberta na Ingla- terra em 1564. Originalmente, acreditava-se que era um tipo de chumbo, por isso o termo em inglês lead pencil (lápis de chumbo). Essa denominação popular sobreviveu por quase quinhentos anos. A grafite não era muito usada como instrumento de desenho até 1795, quando foi fabricada na forma de lá- pis com corpo de madeira pelo francês Nicholas Conté. Assim como o carvão vegetal, a grafite é misturada a diferentes quantidades de argila para criar diferentes durezas e valores tonais. (CURTIS, 2015, p. 09). Desde as pinturas rupestres, o homem usa de artifícios para representar o que o cerca. Seja por meio de grafite, tinta, argila, pigmentos naturais ou recursos químicos, o processo de representação gráfica é parte da história da humanidade e evoluiu a cada nova descoberta ou possibilidade de material que surgiu ao longo da história. FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA Fonte: Freepik É na arte e na história da arte que temos as principais referências para o desenvol- vimento de técnicas de representação gráfica. Para o campo do design e de áreas relativas ao desenvolvimento de projetos, o ato de representar graficamente uma composição, vai para além da estética conforme nos narra Ching e Juroszek (2001): 7UNIDADE I Desenho de Observação O termo representação gráfica traz à mente os desenhos de apresentação utilizados para persuadir o observador com relação aos méritos da proposta do projeto. Também são familiares os desenhos executivos ou de detalhamento, que oferecem instruções gráficas para produção ou execução de um projeto. Todavia, os projetistas também utilizam processos e produtos de desenho de outras maneiras. Ao longo de um projeto, a função do desenho se expande para registrar o que existe, trabalhar novas ideias e especular e planejar o futuro. Durante o projeto, o desenho é utilizado para guiar o desenvolvimento de uma ideia, desde seu conceito até a proposta concretizada. (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 02). Um profissional que utiliza do desenho como parte de seu processo criativo, precisa conhecer as possibilidades e definir qual o melhor material para expressar sua composição gráfica e assim registrar no papel suas ideias. O processo de desenho, ou o ato de desenhar não é nenhum “dom divino”, trata-se de um processo de técnico, e como toda técnica é passível de aprendizagem e reprodução, cabe apenas exercitar e praticar, para que os traços, linhas e cores se tornem formas e façam sentido na organização de um projeto gráfico. Ching e Juroszek (2001) nos apresenta a importância do desenho para o profissional ligado a area criativa: As imagens que surgem na mente normalmente são nebulosas, resumidas e muito enganosas. Mesmo quando nítidas e claras, podem vir à mente e então desaparecer de repente. A menos que as capturemos em um desenho, elas podem facilmente cair no esquecimento e ser substituídas por outras no fluxo da consciência. Assim, desenhar é uma extensão natural e necessária do pensamento visual. À medida que a imagem mental guia o movimento de nossos olhos e da mão no papel, o desenho que emerge simultaneamente se funde com a imagem em nossa mente. Outros pensamentos vêm à mente e são integrados ao processo de imaginar e desenhar. (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 09). Desta forma, desenhar não envolve somente a técnica, trata-se de um processo em que a imaginação ganha voz, e o registro da ideia se manifesta combinando papel e o meio pigmentado que se deseja utilizar para que a composição gráfica se manifeste. É por meio do desenho que o olhar crirativo do artista, arquiteto, designer ou ilustrador se manifesta, gerando uma representação de caráter bi ou tridimensional, mesmo sobre uma base bidi- mensional, essa é a mágica da técnica essencial aos profissionais criativos e projetistas. 8UNIDADE I Desenho de Observação 2. EXERCÍCIOS E REPRESENTAÇÕES Diversas são as possibilidades para trabalhar a manipulação de materiais e criar composições visuais por meio do desenho, ou das diferentes técnicas de desenho. Cabe a você aluno(a) encontrar o material, bem como a técnica com a qual você se identifique para assim conseguir expressar sua criatividade por meio do desenho. Conhecer os diferentes materiais é essencial para encontrar uma técnica com a qual você se identifique e assim possa explorar seu potencial criativo em uma combinação em que a técnica valorize o seu projeto, conforme apresenta Curtis (2015, p. 02): a sensibilidade do toque do instrumento de desenho na superfície a ser dese- nhada e a capacidade de diferenciar as mudanças sutis nos traços à medida que a ferramentacorre sobre a superfície são os componentes mais impor- tantes do processo de desenho. FIGURA 2 – POSSIBILIDADES CRIATIVAS Fonte: Freepik. 9UNIDADE I Desenho de Observação O processo de desenho consiste, portanto, na capacidade de dominar o material utilizado para a representação visual da composição. É importante caro(a) aluno(a) que você exercite e conheça o material com o quela você estará lidando, o material de desenho pode ser conhecido também, como “meio” ou seja, é o elemento que você utiliza para dar vida a sua representação. No caso de um desenho em aquarela o “meio” utilizado pode ser a tinta aquarela ou o lápis de cor aquarelável, por exemplo. É essencial para aqueles que praticam ou utilizam do desenho como ferramenta de trabalho, que se tenha domínio do traço, portanto, você pode praticar com exercícios de coordenação motora, a fim de “soltar” sua mão e fazer com que haja fluidez no traço. Conforme Abling (2011) o primeiro exercício é de relaxamento. Usando um lápis HB, você pode fazer uma série de linhas, círculos e ovais. Trabalhe rapidamente, sem perder tempo com detalhes e movendo, para isso, o braço inteiro. Como segundo exercício, você realiza um treinamento de traços fundamentais. Você deve reproduzir os tipos de traços a seguir usando lápis HB. ● Traços verticais curtos. ● Traços angulares curtos. ● Traços horizontais curtos. ● Linhas verticais irregulares longas. ● Linhas curtas curvas em várias direções. ● Traços verticais curtos em várias direções. Praticar esses exercícios farão com que você, aluno (a), tenha maior domínio so- bre o material e consiga desenhar de forma mais livre. É importante ressaltar que não há necessidade de forçar o lápis no papel, pois se for necessário você terá que apagar, e isso pode marcar seu papel, deixando o desenho desleixado. Com os exercícios de coordena- ção motora, você conseguirá maior domínio técnico, desta forma Curtis (2015) fala sobre a importância técnica no processo de desenho. É importante que você entenda, desde o primeiro momento, que a efetividade de um desenho é determinada, antes de tudo, pela riqueza e variedade dos traços utilizados. A consciência, a sensibilidade e o controle das característi- cas de traço do instrumento de desenho e da textura da superfície do papel são os fatores que determinam a vitalidade de um desenho. O nível de inte- resse visual gerado por um desenho depende, primeiramente, da energia, da clareza, da variação, do ritmo e da tatilidade dos traços que os constituem. Os traços criam significados, em primeiro lugar, ao preservar, documentar e comunicar a experiência sensorial do próprio ato de desenhar. O primeiro nível de conteúdo de um desenho sempre está nos próprios traços. (CURTIS, 2015, p. 03). 10UNIDADE I Desenho de Observação O processo de desenho, independente da temática ou do objetivo que se tenha com o mesmo, é um meio de expressão que influencia o pensamento, assim como o pen- samento dirige o desenho, trata-se de uma via de mão dupla em que a imaginação flui por meio da representação e a representação estimula a imaginação. Portanto, organizar uma ideia no papel nos permite explorá-la e torná-la clara trata-se de expressar-se por meio da visualidade, assim como fazemos com a palavras no caso da verbalização. O desenho enquanto recurso visual pode ser o pontapé inicial para a criação de um projeto, por meio de um desenho de esboço, assim como pode se desenvolver como o projeto em si, quando falamos de desenhos técnicos por exemplo. O fato é que todas as vertentes do desenho se tornam fundamentais para profissionais da área criativa, como ferramenta de exteriorização das ideias, conforme Ching e Juroszek (2001): O desenho é essencial nas fases iniciais e de desenvolvimento de um projeto. Um artista que contempla várias composições para uma pintura, um coreó- grafo que orquestra uma sequência de dança para o palco e um arquiteto que organiza as complexidades espaciais de uma edificação – todos eles usam desenhos nessa etapa exploratória, para imaginar possibilidades e especular sobre o futuro. (CHING e JUROSZEK 2001, p. 09). Explorar as técnicas de desenho como recurso criativo, tras, além de valorização do processo criativo do profissional, valorização da personalidade do mesmo. O senso estético, estilístico e projetual é um processo gradual cuja ferramenta do desenho entra como alicerce. SAIBA MAIS A visão é o principal canal sensorial através do qual temos contato com o mundo. É o nosso sentido mais desenvolvido, de maior alcance; o sentido em que nos apoiamos, prioritariamente, nas atividades cotidianas. Ver fortalece nossa habilidade de desenhar, ao passo que desenhar revigora a visão. Fonte: CHING e JUROSZEK (2001, p. 03). 11UNIDADE I Desenho de Observação 3. IMPORTÂNCIA PERCEPTIVA E PSICOLÓGICA Para que haja entendimento daquilo se está representando graficamente por meio de uma técnica de desenho, é necessário que o profissional criativo tenha domínio do ato de observar. O desenho de uma composição é o reflexo ou o resultado de observação que se externaliza na composição bidimensional graficamente apresentada no papel. Você alu- no(a), deve ter em mente que o processo de desenho inclui o ir e vir no ato de observação da composição, para Curtis (2015), você irá analisar sua composição, ora no detalhe, ora com um certo distanciamento para contemplá-la como um todo. Os olhos são os órgãos sensoriais mais volúveis. Funcionam melhor quando exposto a informações dinâmicas. Sempre que você olha para seu desenho de uma distância diferente, está, na verdade, resgatando sua capacidade de discriminação visual. A vantagem de se afastar frequentemente do desenho é muito demonstrada em aulas de desenho quando se solicita aos alunos que exponham seu trabalho depois de uma longa sessão (CURTIS, 2015, p. 18). Diante do processo de observação e estimulando a visão ao representar o que vemos, o desenho de observação é uma excelente ferramenta, para que você consiga por meio de traços rápidos e dinâmicos, elaborar uma composição visual que capte o espaço ou elemento observado, conforme apresenta Curtis (2015): Para estimular o processamento espacial intuitivo, é recomendável que a pressão aplicada com o instrumento de desenho seja extremamente suave. Isso permite muitos movimentos gestuais sem poluir o desenho. Na verdade, é bom começar o gesto intuitivo sem sequer tocar no papel. Movimentos “fur- tivos” sobre a superfície do desenho permitem a você que assimile as infor- mações sobre o tamanho e a localização dos objetos antes de fazer qualquer traço. Quando o lápis finalmente toca o papel, ele deve deixar, inicialmente, apenas um registro mínimo da localização aproximada, do tamanho relativo e de outras estimativas sobre a distância entre os objetos. O lápis deve passar pela superfície do desenho de maneira rápida e suave, saltando constante- mente de uma área para outra, imitando os movimentos espontâneos, não lineares, não sequenciais e impulsivos dos seus olhos (CURTIS, 2015, p. 40). 12UNIDADE I Desenho de Observação Cada um de nós, conforme nossas bagagens pessoais, teóricas e imagéticas, te- mos um acervo rico de informações que podem ser combinadas para que a representação do desenho ocorra de forma coerente. Desta forma quem representa uma composição por meio do desenho acessa o repertório individual, e quem observa a composição faz o mesmo exercício, portando cada um de nós pode ter diferentes visões sobre um mesmo elemento no momento de representá-lo. FIGURA 3 – INTERPRETAÇÕES Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 22). Ao construirmos uma representação gráfica de um determinado elemento ou ao pro- jetarmos um determinado produto, utilizamos todo o nosso acervo intelectual e perceptível, para transformar o que está em nossa mente, em uma composição que faça sentido para o observador. É claro, que cada um de nós terá uma visão única do objetoa ser representado, e é justamente esse olhar individual e singular que faz do desenho uma ferramenta ideal para exploração da personalidade criativa de cada profissional que utiliza a técnica como recurso. Vejamos o exemplo do desenho de uma mesa, conforme a Figura 4. 13UNIDADE I Desenho de Observação FIGURA 4 – PERSPECTIVA SOBRE UMA MESA Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 10). A representação gráfica de uma mesa pode ser composta das mais diversas formas, com os mais diversos materiais e sob a mais diferentes perspectivas. Tudo vai depender da intencionalidade que o desenhista quer imprimir em seu projeto por meio do desenho. Ching e Juroszek (2001) nos diz que: Os dados visuais recebidos pelos olhos são processados, manipulados e fil- trados pela mente em sua busca ativa por estrutura e significado. A mente cria as imagens que vemos, e estas são as imagens que tentamos representar ao desenhar. Portanto, desenhar é mais do que uma habilidade manual; envolve a construção de imagens visuais que estimulam a imaginação, enquanto imagi- nar realimenta nosso desejo de desenhar (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 03). Cada um de nós irá acessar seu repertório imagético e suas referências de mesa, para compor visualmente um desenho que represente o móvel em si. Nesse caso não há certo ou errado, há um processo de representação gráfica e de detalhamento do objeto que será explorado por cada um a fim de transmitir visualmente, por meio do desenho, uma composição que remeta a uma mesa. FIGURA 5 – A MESA FINALIZADA Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 10). 14UNIDADE I Desenho de Observação Por meio do processo de percepção visual e combinando essas referências com o domínio da técnica, as representações gráficas tendem a ganhar não só legibilidade visual, mas também personalidade, pois a forma de traçar, alinhas, combinar, construir e represen- tar cada linha do objeto a ser desenhado é única e está intrínseca a nossa personalidade criativa, conforme enfatiza Ching e Juroszek (2001): As imagens da nossa mente não se limitam ao que vemos no presente. A mente é capaz de formar, explorar e recombinar imagens além dos limites naturais de tempo e espaço. Pensando em retrospectiva, conseguimos vi- sualizar memórias de coisas, lugares e eventos de outrora. Com a previsão, também somos capazes de olhar para a frente no tempo – usar nossa imagi- nação para visualizar um futuro possível. Portanto, a imaginação nos permite tanto ter uma noção da história quanto elaborar um plano para o futuro. A ima- ginação estabelece conexões – pontes visuais – entre o presente, o passado e o futuro (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 08). O caráter imaginativo é algo pertencente somente aos seres humanos, e desta forma, quando projetamos ou representamos uma composição, somos capazes de realizar diferentes conexões, estimular diferentes ideias e constituir uma infinidade de possibilidades. Por isso, o ato de desenhar é importante, pois nos permite arquivar de forma visual, aquilo que existe somente em nossa mente, e que possa vir a se perder se não houver o registro. 15UNIDADE I Desenho de Observação 4. PROPORÇÃO Para que exista coerência visual entre o que vemos e o que representamos, além da capacidade analítica e perceptiva que nossos olhos permitem formar, se faz necessário representar as composições, objetos ou qualquer elemento visual, de forma proporcional, ou seja, é necessário que haja equilíbrio visual entre os elementos de uma composição. Mas o que define a proporção de um elemento? O que é proporção? Ching e Juroszek (2001) nos apresenta uma breve definição do termo: A proporção é a relação comparativa, adequada e harmoniosa de uma parte com outra ou com o todo, relativa à grandeza, à quantidade ou à ordem. Re- lações proporcionais são uma questão de razões; e razão é a relação entre duas partes de um todo ou entre qualquer parte e o conjunto. Ao observar um objeto, devemos estar atentos às relações de proporção que regulam nossa percepção de tamanho e formato (CHING e JUROSZEK 2001, p. 72). O entendimento sobre a proporção é bem simples de ser compreendido quando trazemos para uma aplicação. Observe ao seu redor, um copo precisa ser um objeto pro- porcional a sua mão para que seja possível pegá-lo, assim como uma porta precisa ser proporcional a sua altura para que seja possível passar por ela. Todos os objetos a nossa volta apresentam de uma forma ou de outra alguma proporção, quando comparamos o objeto em si a um outro objeto. “A proporção é a relação comparativa entre duas coisas no que se refere ao tamanho, à quantidade ou ao peso” (CURTIS, 2015, p. 77). 16UNIDADE I Desenho de Observação 16UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho FIGURA 6 – COMPOSIÇÃO GERAL NATUREZA MORTA Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 33). Na Figura 6, temos uma composição de natureza morta, cujo é possível observar diferentes elementos visuais (objetos de cozinha), e a aplicação dos princípios de propor- ção ficam evidentes. O pires é proporcional a xícara, que por sua vez é proporcional a jarra; assim como a fruteira é proporcional ao tamanho das peras. No caso dessa composição o entendimento é bem claro e a forma de representar é fácil, pois o único elemento de origem natural, ou seja, oriundo da natureza é a pera, assim os demais itens da representação podem ser desenhados considerando a proporção de uma pera em comparação a fruteira, a jarra, a xícara e ao pires. FIGURA 7 – RECORTE DA COMPOSIÇÃO Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 33). Na verdade, é justamente esse exercício que você aluno(a) precisa fazer para conseguir apresentar proporção em suas composições. Entender o todo e quais elementos estão ou serão representados, e depois estabelecer as relações entre cada elemento que se encontra na composição. Independente do tipo de desenho (Paisagem, Natureza Morta, Marinha, Figurativo, Abstrato, Arquitetônico ou Projetual) é preciso que haja coerência visual entre os itens que estarão dispostos no desenho. Curtis (2015) apresenta um olhar importante sobre a proporção: 17UNIDADE I Desenho de Observação Nos desenhos, a proporção geralmente se refere ao tamanho relativo e cos- tuma ser utilizada para comparar as dimensões exteriores (largura/altura) de uma figura ou objeto, o tamanho relativo de suas partes constituintes, o ta- manho de qualquer uma de suas partes em relação ao todo ou o tamanho geral de uma figura ou objeto em comparação à sua contraparte (CURTIS, 2015, p. 77). Você pode estar se perguntando, mas e se eu quiser representar um objeto maior do que ele é, somente para efeito visual, ou para expressar um detalhe ou um estilo próprio de desenho? É claro que é possível extrapolar as proporções e trabalhar com uma estética única de representação, tudo vai depender de sua intencionalidade com o desenho, e qual é o objetivo dessa representação. Os desenhos nem sempre precisam ser realistas, basta haver clareza na representação para que o observador entenda o que está sendo desenhado. Mas para que você consiga explorar tanto as representações de forma proporcio- nal, quanto de forma criativa é necessário estabelecer paralelos, ou seja, compreender a constituição básica de cada elemento e assim transformar o visual em desenho. Para isso, observe a Figura 8: FIGURA 8 – FORMAS BÁSICAS Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 74). Todo e qualquer elemento a ser representado pode ser resumido a alguma forma geométrica, ou seja, tudo o que vemos pode ser desenhado ou representado de forma básica com linhas geométricas. Se você, aluno(a), por acaso encontrar dificuldade com o processo de desenho, inicie suas composições usando essa técnica. Reduza o objeto que você pretende representar a alguma ou algumas formas geométricas e aos poucos vá acrescentando os detalhes, desta forma sua composição ficará coerente e você poderá manipular as linhas e formas de modo a construir uma composição visual harmônica, pro- porcional e equilibrada,que transmita com clareza o objeto que você deseja representar. 18UNIDADE I Desenho de Observação CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa primeira unidade, estimado aluno (a), observamos as principais considerações sobre o processo de desenho de forma introdutória, a fim de desmistificar, algumas percep- ções e trazer para você, o entendimento básico sobre o que é desenhar, e qual a importância desse processo para a realização de projetos e externalização de sua criatividade. A diversidade de desenhos existentes (ilustração técnica, ilustração artística, dese- nho de observação, desenhos técnicos, desenho esquemático etc.) nos mostra um campo de atuação amplo e versátil, portanto nos permite transitar de forma criativa entre as várias possibilidades, desde que a intencionalidade com o desenho seja clara para você. O ato de desenhar nos permite acessar nosso repertório e ainda combiná-lo às de- mais áreas do conhecimento em prol de explorar a visualidade, como forma de expressão, e assim criar composições únicas, com personalidade criativa e domínio técnico. A proposta aqui foi desmistificar o desenho, ou seja, mostrar a você maneiras simples de observar e entender aquilo que se vê. Aprender a observar, além de nos fazer melhores desenhistas, nos faz mais críticos, perceptivos e detalhistas, características es- senciais a qualquer profissional. O ponto mais importante é que estamos falando de uma técnica, ou seja, desenhar pode ser aprendido, por meio de exercício e dedicação. Desta forma você verá que aos poucos seu traço, seus esquemas, suas proporções e representações se tornarão cada vez melhores. Não deixe de praticar! 19UNIDADE I Desenho de Observação LEITURA COMPLEMENTAR Ver ajuda a desenhar O desenho de objetos que estão diante de nós, incluindo a cópia cuidadosa de uma obra de arte, tem constituído treinamento tradicional para artistas e projetistas. O desenho de observação é um método clássico de desenvolver a coordenação entre olho-mente-mão. Experimentar e examinar o mundo visual de forma direta, por meio do desenho, torna-nos mais conscientes das dinâmicas da visão. Este entendimento, em contrapartida, ajuda-nos a desenhar. Desenhar revigora a visão Normalmente, não vemos tudo que somos capazes de enxergar. Noções preconce- bidas do que esperamos ou daquilo que acreditamos estar aí fora direcionam nossa visão. Por causa do sentimento de familiaridade, tendemos a passar por cima de coisas que nos defrontamos e usamos diariamente sem realmente observá-las. Esses preconceitos perceptivos tornam nossa vida mais simples e segura. Não temos de prestar tanta atenção a cada um dos estímulos visuais como se os estivéssemos vendo pela primeira vez a cada dia. Pelo contrário, podemos selecionar apenas aqueles que fornecem informações pertinentes a nossas necessidades momentâneas. Essa forma ativa de visão conduz-nos ao uso coletivo de imagens estereotipadas e de clichês visuais. A rotulação de estereótipos visuais, como elementos necessários para evitar o caos perceptivo, também nos impede de olhar com estranhamento o que reconhecemos como familiar. O ambiente visual é geralmente mais denso e rico do que normalmente percebe- mos em um golpe de vista. Para fazer uso total de nossas faculdades visuais — ver mais que símbolos —, devemos aprender a ver as coisas como se fôssemos desenhá-las. Desenhar encoraja-nos a estar atentos, a experimentar um amplo leque de fenô- menos visuais e apreciar a singularidade da mais simples das coisas. Ao desenvolver o conhecimento mais crítico e intenso do ambiente visual, a prática do desenho também ali- menta a compreensão e melhora nossa memória visual. Quando desenhamos com base na imaginação, relembramos percepções passadas e desenhamos a partir destas memórias. Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 06). 20UNIDADE I Desenho de Observação MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Arte e percepção visual, uma psicologia da visão criadora. Autor: Rudolf Arnheim Editora: THOMSON PIONEIRA Sinopse: essa obra instrumentaliza a experiência da apreciação ar- tística a partir da inata capacidade humana de entender por meio do olhar, e propõe-se a discutir qualidades da visão, objetivando fortalecê- -las e dirigi-las. O autor preocupa-se em delinear o papel da atividade artística como principal instrumento de exploração da personalidade humana, e ressalta que os princípios do pensamento psicológico nele expressos provêm da teoria da Gestalt enquanto disciplina (portanto, amplificando seu entendimento para além das fronteiras de método), que desde suas origens teve afinidade com a arte. FILME / VÍDEO Título: Com amor Vincent Ano: 2017 Sinopse: Um ano após o suicídio de Vincent Van Gogh, Armand Roulin encontra uma carta escrita pelo pintor e enviada ao irmão Theo, que jamais chegou ao seu destino. Decidido a entregar ele mesmo a correspondência, Armand parte para a cidade francesa de Arles na esperança de encontrar algum contato com a família do artista falecido. Lá, inicia uma investigação junto às pessoas que conheceram Van Gogh, no intuito de decifrar se ele realmente se matou. http://www.livrariacultura.com.br/busca;_lcid=avOuV30LwbXHV1ePsB1aarUkD-UliAn7JWeriAZpCPjUO_ZKgNJC%21-1966663286?Ntt=THOMSON+PIONEIRA&Ntk=product.vendorName 21 Plano de Estudo: ● Ponto, linha e plano; ● Textura; ● Volumetria; ● Profundidade e espaço. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar os elementos básicos da visualidade; ● Compreender os tipos de texturas e seus processos de representação; ● Entender o processo de concepção volumétrica no desenho; ● Analisar a importância dos efeitos de profundidade e espaço na composição do desenho. UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho Professor Me. César Biegas Faquin Professor Me. Dênis Martins de Oliveira 22UNIDADE I Desenho de Observação 22UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à segunda unidade de nosso material didático de Meios de Expressão. Nesta unidade, abordaremos conteúdos essenciais para a compreensão do processo de estruturação do desenho que certamente proporcionarão expansão intelectual à sua atuação profissional. Sempre que traçamos ou esboçamos algo, o conteúdo visual dessa comunicação é composto por uma série de propriedades visuais, que constituem a noção básica daquilo que vemos. Nesta unidade em questão, abordaremos, fundamentalmente, como os desenhos se estruturam e qual a ligação desses elementos visuais com o processo de comunicação por meio de uma representação gráfica, que neste caso é o desenho. Quando falamos em Forma e suas composições, devemos partir do pressupos- to de que o termo “Forma” permite definições bastante abrangentes. Para Gomes Filho (2009), autor referência nos estudos sobre o processo de comunicação visual por meios de diferentes teorias, as significações sobre esse termo admitem sentido epistemológico, filosófico, lógico e, por que não, estético. Esse último sentido, com ligação direta à área da visualidade, é entendido como sendo a imagem visível do conteúdo, nos informando a natureza da aparência externa de algo, logo, tudo que visualizamos tem uma forma. Comunicar-se é expressar-se, via comunicação verbal ou não verbal, por meio de gestos e imagens, ou seja, há um arsenal de linguagens disponíveis não só para nos comunicarmos socialmente, mas que também pode ser utilizado na comunicação por meio do desenho e expressar inúmeros significados. Desse modo, esperamos que o material contribua de maneira representativa à sua formação, e que lhe proporcione bons momentos de leitura. 23UNIDADE I Desenho de Observação 23UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho 1. PONTO, LINHA E PLANO A nossa leitura de mundo é, antes de tudo, visual. Com a proliferação de inúmeros apelos visuais expressos em todos os ambientes que nos afetam diariamente, é gerada uma “concorrência”, no sentidode tentar buscar impacto efetivo no momento de idealizar e comunicar uma determinada mensagem. Para que uma mensagem se estabeleça no campo visual, ou seja, para que vi- sualmente compreendamos a mensagem por trás da imagem, ou para com a imagem, é necessário que conheçamos os elementos que estruturam qualquer composição visual. Assim, entendendo cada elemento de forma isolada, podemos posteriormente, juntá-los para formar nossas representações visuais por meio do desenho e das diferentes técnicas que serão trabalhadas nesse material didático. Iniciamos o processo de entendimento dos elementos que compõem uma estrutura visual, com o Ponto. Este pode ser definido segundo Ching e Juroszeek (2001) como: Um ponto não tem dimensão ou escala. Quando se torna visível, estabelece uma posição no espaço. Conforme o ponto se move pela superfície, ele traça o caminho de uma linha, o elemento essencial do desenho. Baseamo-nos principalmente na linha para retratar as arestas e os contornos de objetos que percebemos no espaço visual. Ao estabelecer estes limites, a linha natu- ralmente começa a definir um formato – o elemento pictórico que estabelece a figura em nosso campo visual e organiza a composição de um desenho (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 15). 24UNIDADE I Desenho de Observação 24UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho Toda composição visual terá o elemento ponto em alguma parte, este ponto pode ser um elemento mínimo como nos apresentou Ching e Juroszek (2001), assim como pode ser um elemento que se destaque na composição, assim, ele se tornará o que chamamos de Ponto Focal, pode não ter caráter de minimidade, assim como pode apresentar outras formas, mas também é parte do processo de comunicação visual. No caso do desenho o elemento ponto, pode ser utilizado para construir uma composição como um todo, chama- mos esse processo de Pontilhismo dentro do universo das Artes Visuais. FIGURA 1 – LUZ E SOMBRA COM PONTILHISMO A técnica de pontilhismo pode ser organizada para construir efeitos de Luz e Som- bra e assim, trazer volumetria para a composição, criando tridimensionalidade no objeto a ser representado. FIGURA 2 - PAISAGEM COM PONTOS E LINHAS Fonte: Francis (2015, p. 02). Na sequência de análise de elementos que compõem a comunicação visual, temos a Linha. Segundo Curtis (2015, p. 05) “A linha, provavelmente por ser tão simples, está entre os instrumentos visuais mais diretos e efetivos para provocar uma sensação de movimento em nossa mente”. Doyle (2007) complementa a definição sobre o elemento Linha: 25UNIDADE I Desenho de Observação 25UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho A linha é uma “necessidade abstrata” utilizada por todos os artistas e dese- nhistas para delinear contornos e silhuetas de formas e volumes. As linhas não existem na realidade como a percebemos; você as utiliza como uma convenção para descrever os contornos de suas ideias de forma bem econô- mica. (DOYLE, 2007, p. 34). O uso das linhas nas mais variadas direções auxilia no processo de direcionamento do olhar para que o espectador percorra toda a composição de seu desenho. Cada tipo de linha utilizada também impacta de diferentes formas, conforme tabela a seguir: TABELA 1 – LINHA E PERCEPÇÃO Tipo de Linha Impacto Visual Linha Comprida Firmeza Linha Curta Vivacidade Linha Reta Horizontal Calma, repouso, largura Linha Reta Vertical Segurança, energia, vigor, masculinidade, austeridade, elevação, altura Linha Diagonal Movimento, continuidade, ação, dinamismo, deslocamento, determinação, estabilidade Linha Sinuosa, Curva, Espiralada ou Ondula- da Graciosidade, feminilidade, leveza, sensualidade, sensibilidade, movimento, elegância Linha Mista Ritmo, ação, conflito, liberdade, variedade, criatividade, informalidade Linhas Cruzadas Tensão, conflito, desordem Fonte: Adaptado de: Lourenço e Sam (2011, p. 148-149). Cada composição visual ao trabalhar a união entre pontos e linhas, chegam em um outro elemento que é o Plano. O Plano é o elemento que vai iniciar a orientação visual para criar o efeito de profundidade em uma composição. FIGURA 3 - DESENHO COM LINHAS Fonte: Francis (2015, p. 15). 26UNIDADE I Desenho de Observação 26UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho A Figura 3 nos apresenta uma composição por meio de linhas no qual podemos observar diversos Planos. Note que a primeira coluna a esquerda (que se destaca) já é um elemento que se encontra em segundo plano, pois a pequena coluna está a frente dele é o objeto que se apresenta primeiramente na composição e, portanto, está em primeiro Plano. Para entender os elementos estruturais do processo de representação gráfica e que se tornam componentes da comunicação visual, observe a Figura 4. FIGURA 4 – ELEMENTOS EM CONJUNTO Fonte: Adaptado de Francis (2015, p. 02). Na Figura 4, temos a sequência de variações dos elementos estruturais de uma composição visual. O número 1 é o Ponto (elemento mínimo); o número 2 é a Linha (um ponto em movimento forma uma linha); a Linha por sua vez quando se desloca em profundi- dade se torna um Plano, como no número 3; e esta combinação entre Linha e Plano quando ganham Largura, Altura e Profundidade se tornam o Volume apresentado no número 4. No decorrer de sua jornada no universo no desenho, você sempre utilizará desses elementos visuais para estruturar suas representações, é importante entendê-los isolada- mente, para que você possa explorar de forma conjunta suas estruturas e criar composi- ções cada vez mais ricas em detalhes. Doyle (2007) reforça a importância de pensar nas estruturas de uma composição: É importante ter à sua disposição uma série de espessuras diferentes de materiais para traçado para a criação de desenhos de projeto; praticamente qualquer tipo serve, desde que você se sinta à vontade trabalhando com ele. Estes materiais devem permitir traçar linhas bem escuras, possuir uma boa qualidade de representação e, se possível, ser facilmente apagáveis, de for- ma que eventuais resíduos não possam ser percebidos no desenho acabado (DOYLE, 2007, p. 34). 27UNIDADE I Desenho de Observação 27UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho Suas composições visuais acontecem por meio do desenho, poderão ser estrutu- radas com pontos, linhas, planos e formas básicas, ou ainda com um detalhamento rico e primoroso, caberá a você enquanto profissional da área criativa, definir qual será a estética de seus projetos. REFLITA As imagens são comunicadores poderosos por causa de seus significados emocionais, culturais e factuais, lidos em seu conteúdo. Fonte: Ambrose e Harris (2012, p. 94). 28UNIDADE I Desenho de Observação 28UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho 2. TEXTURA Usando dos elementos básicos apresentados no primeiro tópico, você aluno (a), poderá explorar outras configurações e criar inúmeras combinações visuais, para trans- ferir para seu desenho as sensações táteis que temos no mundo real, e esse é o caso do processo de representação de texturas. Para entendermos um pouco mais sobre tais composições e a criação de efeitos no desenho Ching e Juroszek (2001) diz: A modelagem de valores tonais, do claro ao escuro, pode descrever a na- tureza de uma superfície – seja ela plana ou curva, lisa ou áspera. Areas luminosas podem emergir do fundo escuro, como se fossem morros que se elevam sobre a terra, enquanto áreas escuras podem parecer recuar no fun- do da superfície de desenho. Transições graduais de claro a escuro ocorrem nas superfície de cilindros, cones e formas orgânicas, enquanto mudanças abruptas de tom ressaltam o encontro angular de planos em cubos, pirâmides e outras formas prismáticas (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 48). Usando dos diferentes materiais que você poderá empregar para desenhar suas composições, você poderá criar as mais variadas texturas. Observe algumas possibilidades na Figura 5. 29UNIDADE I Desenho de Observação 29UNIDADE II LinguagemVisual Aplicada ao Desenho FIGURA 5 – TEXTURAS Fonte: Munari (1997, p. 43). A representação de diferentes texturas, permite com que você, aluno(a), eleve seu desenho a um outro nível de compreensão, pois ao colocar a textura do material que você estará representando, o desenho passa a realmente possui maior leiturabilidade, ou seja, quem observar sua composição facilmente entenderá de que material se trata. Mas você pode se perguntar, representar a textura é obrigatório em um desenho? A resposta é: Não necessariamente, mas é um diferencial que você pode trazer para imprimir personalidade em suas composições. Veja mais algumas possibilidades: FIGURA 6 – TEXTURAS SUAVES E IRREGULARES Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 61). Na Figura 6, temos o uso de linhas para compor diferentes texturas, na primeira imagem temos linhas diagonais para criar um efeito de textura mais suave e juntamente com o posicionamento das linhas formam-se espaço de Luz e Sombra, que garantem volumetria para os potes. Na imagem 2 (traços irregulares) o desenho é o mesmo, mas o uso de linhas irregulares garante uma outra textura para a composição. Veja mais alguns exemplos: 30UNIDADE I Desenho de Observação 30UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho FIGURA 7 – POSSIBILIDADES COM TEXTURAS Fonte: Ching e Juroszek (2001, p. 61). Na Figura 7, temos 4 imagens diferentes, apresentando processos texturizados que garantem resultados completamente diferentes uns dos outros. Quando usamos o lápis grafite e esfumamos levemente as sombras, conseguimos um efeito de superfície lisa, em que não há marcas do lápis, como podemos observar na Figura 1. Já se trabalharmos com traços mais marcados e um lápis grafite mais macio (6B) é possível criar um efeito áspero como na imagem 2. Ainda podemos utilizar dos pontos e linhas para criar diferentes efeitos e impactos visuais texturizados, cujo por meio de linhas e pontos em escala menor conseguimos delicadeza, e quando usamos traços e pontos em escala maior, criamos um peso visual na representação, o que também proporciona um resultado interessante. 31UNIDADE I Desenho de Observação 31UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho Cada material que será empregado na construção de seu projeto, apresenta uma textu- ra diferente, e nem sempre é fácil de representá-la, por isso é válido exercitar o olhar e treinar o processo de representação dos mais variados materiais; pedra, metal, madeira, vidro, plástico, tecidos, enfim tufo o que apresenta um tipo de textura pode ser representado no desenho. FIGURA 8 – TEXTURA DE MADEIRA Fonte: O autor (2021). Na Figura 8, temos o processo de representação de uma tábua de madeira, com dois materiais diferentes, primeiramente em lápis grafite esfumado e posteriormente, com lápis de cor e diversos tons. Trazer as texturas para seus projetos por meio do desenho, garantirá entendimento no processo de comunicação visual de sua composição, bem como maior similaridade com a realidade do material que será utilizado no projeto final. 32UNIDADE I Desenho de Observação 32UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho 3. VOLUMETRIA O entendimento e o uso dos elementos apresentados até aqui, permitem com que você aluno (a) consiga elaborar suas composições visuais por meio do desenho, de modo claro, objetivo e consequentemente fidedigno ao que se encontra no mundo real. Desta maneira, ao unir os elementos apresentados até aqui, você consegue estruturar uma deter- minada Forma, e essa forma pode apresentar diferentes estruturas, e consequentemente diferentes volumetrias. FIGURA 9 – FORMATOS Fonte: Adaptado de: Kandinsky (2001). 33UNIDADE I Desenho de Observação 33UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho Considerando o elemento Forma que pode ter as mais variadas configurações, trabalhamos em conjunto o elemento Volume, ou seja, a estrutura de um elemento em altura, largura e profundidade conforme nos apresenta Ching e Juroszek (2001): O volume se relaciona à extensão tridimensional do objeto ou da região do espaço. Conceitualmente, um volume é delimitado por planos e tem três di- mensões: largura, altura e profundidade. Ao desenhar, nos esforçamos para expressar a ilusão tridimensional de volumes sólidos e do espaço em uma superfície bidimensional. (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 67). Complementando a fala de Ching e Juroszek (2001), Gomes Filho (2009) nos diz que como algo que se propaga em dimensões espaciais, o volume pode ser físico e pictórico. Físico é aquele cuja dimensão é palpável, que se pode pegar, a exemplo de um instrumento musical, bloco de notas, objetos de decoração e uma pessoa, entre outros, já o volume pictórico é aquele feito no desenho, cujo temos uma composição bidimensional que representa um objeto tridimensional. Uma composição visual, independente do segmento de projeto, terá contato com a volumetria, pois se trata do processo de construir no plano bidimensional, um objeto, pro- duto ou item com suas formas tridimensionais, e alguns pontos valem a atenção conforme traz Ching e Juroszek (2001): Os formatos perceptíveis de um objeto sempre são alterados ou transforma- dos pela distância e pelo angulo de visão. Podem ocorrer simples mudanças de tamanho ou uma transformação mais complexa de relações formais. Ainda assim, conseguimos identificar objetos mesmo quando as imagens particulares que visualizamos se movem ou mudam de posição em nossa percepção. Esse fenômeno, conhecido como fidelidade de formato, permite-nos compreender as características estruturais de algo independentemente dos fenômenos per- ceptivos que experimentamos (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 28). É considerando os aspectos gerais da forma do objeto que podemos estruturá-lo de maneira legível em um desenho, desta forma Curtis (2015) nos diz que o processo de percepção visual e o exercício de observação do objeto de sua relação com os demais objetos ao redor é de extrema importância para que haja coerência no desenho: Ao calcular as proporções gerais de um único objeto (comparando sua largu- ra aparente com sua altura aparente), é importante que se lembre de diversos fatores: o caráter geométrico desse objeto (cilindro, sólido retilíneo, etc.), sua orientação no espaço e sua posição no campo de visão em relação ao obser- vador. Cada fator pode fazer a proporção observada parecer bem diferente do que você esperaria quando baseado em seu conhecimento conceitual do objeto. (CURTIS, 2015, p. 83) Este entendimento sobre a representação da volumetria de um objeto, proporciona ao profissional compreender as dimensões e proporções de cada elemento que compõe a cena que será desenhada, e isso fará com que seus projetos por meio do desenho, tenham coerência visual e sejam legíveis. 34UNIDADE I Desenho de Observação 34UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho SAIBA MAIS A prática artística na educação estimula a imaginação e a criatividade, além de desper- tar vocações que podem se desenvolver em direção às áreas de criação e expressão. Fonte: Costa (2004, p. 13). 35UNIDADE I Desenho de Observação 35UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho 4. PROFUNDIDADE E ESPAÇO Usando dos artifícios visuais ou também chamados truques visuais, que os elemen- tos básicos vistos até aqui nos proporcionam, você conseguirá elaborar composições com maior fidelidade entre o real e o desenho. Ressalto que não estamos falando de desenho realista e sim, de capacidade de representação e entendimento da mensagem visual por meio de um desenho. Para que haja leiturabilidade em seu desenho, se faz necessário organizar a composição visual de modo que os itens nela dispostos estejam agrupados (ou não) de forma harmônica. Assim você, aluno (a), poderá explorar mais dois processos em suas composições, para trazer personalidade e legitimidade aos seus desenhos. Ao pensarmos em Profundidade e Espaço, estamos falando da delimitação visual na qual se organiza-rá a composição do desenho; isso implica na distância entre o desenho e o observador (profundidade), bem como no posicionamento dos elementos no papel e sua organização e distribuição (espaço). Ching e Juroszek (2001) complementam esse entendimento apre- sentando o processo de desenho por meio de preenchimento do espaço compositivo: Sempre que uma figura se sobrepõe ao plano de fundo ou ocupa sua maior parte, ela começa a organizar os espaços circundantes em formatos reconhe- cíveis. Desenvolvem-se relações de figura e fundo mais interativas e integra- das. Surgem movimentos visuais entre formatos negativos e positivos, e a ten- são visual resultante se torna interessante (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 32). 36UNIDADE I Desenho de Observação 36UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho O uso organizado de um espaço compositivo no processo de desenho garanti- rá o sucesso de sua representação, quanto maior for o cuidado com a distribuição dos elementos, a forma como estarão representados, as linhas que direcionarão o olhar do espectador e a similaridade com algo real de forma legível, maior será o impacto positivo e a assertividade na comunicação de seu projeto gráfico. FIGURA 10 – ESPAÇO INTERNO Fonte: Francis (2015, p. 21). A Figura 10 nos apresenta o desenho de um espaço interno de um ambiente, esse desenho nos auxilia na compreensão e na aplicação do processo de desenho para várias áreas que usam do recurso visual como parte de um projeto. Para um arquiteto pode- mos analisar os componentes estruturais do espaço, vigas, janelas, degraus, que estão distribuídos no recorte do desenho fazendo parte da cena. Já um designer de interiores pode observar a distribuição do mobiliário no ambiente, bem como a configuração visual do espaço pensando no melhor layout para valorização do espaço e dos elementos nele distribuídos. Um designer de produtos pode observar o próprio design dos itens que fazem partes da cena, desde as almofadas, vasos, mesas, até mesmo a estrutura o piso em si. O importante é que a composição como um todo é organizada de modo a transmitir o efeito de profundidade, desde os objetos que se encontram no primeiro plano do desenho, até aqueles que estão mais ao fundo, fazendo com que toda a composição fique preenchida de modo dinâmico simulando uma cena real, ou uma vista de um espaço. 37UNIDADE I Desenho de Observação 37UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho FIGURA 11 - PERCEPÇÃO E EFEITOS Fonte: Francis (2015, p. 37). A Figura 11 apresenta outros detalhes compositivos que nos permite valorizar ainda mais as noções de profundidade e espaço. Observe que as linhas e as formas são combi- nadas com a representação de diferentes texturas; a madeira das paredes, a pedra rústica dos muros, ou ainda as plantas nas extremidades e ao fundo da composição, e para trazer o efeito de profundidade o arco que forma o túnel que corta a casa expressa de maneira clara a luz a sombra necessárias para trazer profundidade para a composição. FIGURA 12 – ESPAÇOS Fonte: Francis (2015, p. 91). 38UNIDADE I Desenho de Observação 38UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho A Figura 2 nos permite observar uma noção criativa sobre o processo de repre- sentação gráfica, para valorizar o design das cadeiras de sol, as linhas de acabamento da imagem se fundem na representação de uma cadeira no primeiro plano, e a medida que o olhar avança sobre a composição, inúmeros processos são apresentados, como a silhueta dos arbustos que não possuem preenchimento, assim como a silhueta humana a beira da piscina, ainda podemos notar o processo de profundidade nas diferentes montanhas atrás da casa, no qual a distância faz com que cada vez mais elas fiquem claras, perdendo cor, como na realidade ao observarmos elementos distantes no horizonte. O processo de utilizar elementos sobrepostos, como se estivessem em camadas e utilizar também de efeitos visuais por meio das linhas criando texturas para então preen- cher os espaços e representar profundidade são excelentes ferramentas para exercitar e desenvolver cada vez mais a estética na representação de projetos por meio das diferentes técnicas de desenho. 39UNIDADE I Desenho de Observação 39UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) aluno (a), finalizamos aqui nossa segunda unidade do livro, no qual apren- demos sobre composição e estruturação da forma, suas propriedades, categorias e técnicas conceituais, das fundamentais às aplicadas, entendendo assim quais são as estruturas que podem compor uma imagem, em específico o processo de composição do desenho. Existem métodos, técnicas, processos, meios e sistemas normativos para a capta- ção e utilização de elementos estéticos que auxiliam na organização mental e na criação de composições visuais, que neste caso ganham forma por meio do ato de desenhar. A representação gráfica por meio do desenho é parte de um processo de comunicação, em que a visualidade é o recurso primordial e os componentes estruturais auxiliam na configu- ração da mensagem. O processo de abstração e questionamento constante para construir pensamentos e elementos diferentes e usar da criatividade para inovar nos projetos de forma única, são aspectos fundamentais que você deve levar para sua jornada criativa no universo do desenho. O processo de criação de projetos e o uso das diferentes técnicas atreladas a comunicação visual, fará com que você tenha bagagem para transformar suas criações em composições únicas, expressando da melhor forma a intencionalidade criativa e funcional de seus croquis, projetos, desenhos e composições. Continue exercitando e praticando as diferentes formas de se expressar por meio do desenho, pois somente com a prática você conseguirá melhores resultados em suas composições. Esperamos, assim, que o conhecimento desenvolvido neste livro seja de grande valia no seu processo de expansão intelectual. 40UNIDADE I Desenho de Observação 40UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho LEITURA COMPLEMENTAR A busca do desenho infantil Segundo Derdyk (1988, p. 32), O desenho, uma língua tão antiga e tão permanente, atravessa a história, atravessa todas as fronteiras geográficas e temporais, escapando da polêmica entre o que é novo e o que é velho. É fonte original de criação e invenção de toda sorte, o desenho é exercício da inteligência humana. Portanto, além de forma visual que revela o imaginário de um indivíduo, é também uma importante ferramenta que nos auxilia a entender a realidade, através da integração da percepção, investigação e reflexão. Tais processos convergem, por fim, para a formulação de uma consciência lógica, atrelada a construção de um pensamento. No âmbito da percepção, notamos a necessidade de filtrar os elementos a serem re- presentados. Portanto, o ato de desenhar requer um olhar informado, atento e apto a realizar uma exploração criativa e projetual do contexto em questão. Diferentemente das influências advindas do período Renascentista, em que desenho era sinônimo de uma representação mimética do objeto, hoje o desenho se configura como um meio de expressão. Assim como descrito por Solana (2007), este instrumento é uma forma de colocar no papel, através dos traços, uma visão, uma leitura e uma proposta para um determinado lugar. Para compreender- mos melhor tal visão, Gouveia (1998) nos define que o desenho, como forma de pensamento e expressão da vivência do indivíduo, nos auxilia no desenvolvimento perceptivo. Em um pequeno texto, Mário de Andrade (1975) cita que o desenho fala, chegan- do a ser muito mais uma escritura e uma caligrafia do que uma arte plástica. Tal raciocínio evidencia o desenho como ferramenta de pensamento, extensão da inteligência e atividade investigativa, algo que nos evoca e convida. No entanto, esta forma de exploração do dese- nho como ferramenta de estudo e de criação, em geral, não éaplicada da 8 maneira devida e/ou suficiente, principalmente no âmbito escolar dos Ensinos Fundamentais I e II no Brasil. Como consequência desde fato, na área do ensino de Arquitetura e Urbanismo brasileiros, há uma maior dificuldade em se fazer projeto, já que as ideias surgem de modo paulatino, as representações não são claras e as propostas, muitas vezes, acabam sendo incoerentes. Neste contexto, como uma alternativa para entendermos a perda deste traço in- vestigativo e da criatividade primeira, certos artistas do começo do século XX nos chamam a atenção ao tentar recuperar e compreender justamente tais elementos. Com a virada do século, as diversas ideias que tinham começado a se estruturar no final do XIX ganham 41UNIDADE I Desenho de Observação 41UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho forças e diretrizes, manifestando-se através da chamada antiarte. Sendo assim, como o próprio nome explica, os valores pregados como belo pela estética clássica perdem seu va- lor, passando-se a valorizar outros aspectos. Agora, ao invés de apreciar a obra terminada, o destaque se dá para o momento criador que origina o produto final. Este “insight” criativo, valorizado nas vanguardas artísticas, se aproxima da ati- tude das crianças ao se expressarem através de alguma forma gestual. Isso porque a criança, segundo Meredieu (1997, p. 06), não se apega espontaneamente às suas obras, e quando o faz parece que é sob a influência do adulto. Ou seja, nesta perspectiva o que realmente tem valor é o gesto, sendo que uma das características do artista do início do século XX é o dinamismo do traço, fazendo com que o desenho seja antes de tudo motor. Portanto, assim como a criança, o artista movimenta todo o corpo ao realizar tal atividade, sentindo prazer nesta gesticulação. Outro ponto que aproxima tais artistas das formas de expressão infantil é a busca pela não separação entre vida e arte. Assim como pensa Meredieu (1997, p. 06), o real e o imaginário no mundo das crianças são indissolúveis, sendo a infância um período de intercâmbio e aprendizado constantes, caracterizado pela instantaneidade da invenção, tão almejada pelos pintores e escultores. Alguns nomes como Dubuffet, Paul Klee, Wassily Kandisky, Pablo Picasso e Juan Miró ao estudarem os desenhos infantis, entre outras artes esquecidas naquele momento histórico, lançaram premissas estéticas diferentes das vigentes na época, o que caracte- rizaria os movimentos de vanguarda. Segundo Leeds (1989, p. 99), ao invés dos padrões acadêmicos, do clássico, do sublime, do nobre e do ideal, eles tomaram o primitivo, o autêntico, o expressivo, e o inventivo como parâmetros de excelência. Buscava-se o redescobrimento da infância por causa de seu caráter espontâneo, sensível, cujo traço é ágil e livre de preconceitos estéticos. Tal pesquisa se deu de diferen- tes maneiras, sendo que cada artista adotou um método para dialogar com as produções infantis. O interesse se deu para com crianças de diferentes idades, organizando espaços para que filhos de seus amigos ou seus próprios filhos pudessem desenhar. Outros artistas buscaram seus próprios desenhos, resgatando suas memórias longínquas. Uma visão importante nesse contexto de desenho infantil são os estudos do filósofo e etnógrafo francês Luquet, que baseou seus estudos de doutorado nos desenhos de sua filha e estão publicados em seu livro “O Desenho Infantil”, de 1927. Ele nos revela que o desenho infantil é marcado pela intenção de representar o meio no qual a criança está inserida. 42UNIDADE I Desenho de Observação 42UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho Após as fases iniciais de experimentação da criança com o papel, lápis e objetos (Realismos fortuito e falhado, respectivamente), ele afirma que tal desenho é dotado de um realismo lógico, em oposição ao realismo visual, característico do adolescente e do adulto. Sendo assim, segundo o autor, a criança desenha o que sabe e o que julga necessário no objeto, e não necessariamente o que está vendo enquanto está observando. Para ele, “o desenho infantil é realista pela escolha de seus motivos e também pelo seu fim”. Fonte: ARAUJO, Ana Carolina Hidalgo. O desenhar do arquiteto um estudo sobre a utilização do desenho a mão à livre como forma de investigação. Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos IAU – USP São Carlos, 2014. 43UNIDADE I Desenho de Observação 43UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho MATERIAL COMPLEMENTAR FILME Título: Aprenda a Desenhar - Guia completo Autor: Walter Foster. Editora: Quarto Editora. Sinopse: Ideal para artistas que queiram aprimorar o seu estilo e suas técnicas de desenho, com lições passo a passo, fáceis de acompanhar, e muitas dicas e exemplos ilustrados. VÍDEO / FILME Título: Cidade Cinza Ano: 2013 Sinopse: Alguns pensam que São Paulo tem excesso de cinza. Este documentário compila as vozes de reconhecidos artistas ur- banos que colorem a cidade com grafites e se manifestam contra as autoridades que cobrem suas obras com a cor do cimento. 44 Plano de Estudo: ● Perspectiva, Luz e Sombra; ● Desenho figurativo e abstrato; ● Natureza morta; ● Paisagem. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar os princípios de perspectiva, luz e sombra; ● Compreender as diferenças entre o desenho figurativo e o desenho abstrato; ● Entender as características de uma natureza morta e de uma paisagem. UNIDADE III Tipologia das Representações Professor Me. César Biegas Faquin Professor Me. Dênis Martins de Oliveira 45UNIDADE III Tipologia das Representações INTRODUÇÃO Olá Caro aluno(a), seja bem-vindo(a) a terceira unidade de nosso material didático, a caminhada até o momento foi de muita informação, e de muito conteúdo para que você tivesse todo embasamento necessário para construir um repertório significativo com relação ao processo de desenhar. Agora, você já sabe como podem ser construídos os desenhos e quais são os as- pectos históricos que envolvem o processo de desenho, é possível perceber que desenhar envolve o processo criativo, mas também envolve técnica, assim não se trata de um dom e sim de um processo que pode ser aprendido, e exige muito exercício e dedicação para que bons resultados sejam alcançados. Nesta unidade, veremos sobre as tipologias de desenho, ou seja, sobre as diferentes formas de se trabalhar as composições visuais, por meio da representação bidimensional que envolve o desenho manual. Veremos sobre os principais aspectos que envolvem o desenho figurativo e o desenho abstrato, em seus elementos compositivos, e veremos ainda sobre a estrutura organizacional e quais são as formas de se representar a assim chamada natureza morta e as paisagens. É notório que aprender sobre desenho engloba diversos aspectos do fazer artístico, desta forma, é fundamental possuir um repertório vasto e completo, para que se tenha to- dos os subsídios necessários para conseguir transmitir por meio do desenho seus projetos gráficos enquanto profissional da área criativa. Vamos juntos desvendar mais um pouco do universo do desenho? 46UNIDADE III Tipologia das Representações 1. PERSPECTIVA, LUZ E SOMBRA Pensar o processo de desenho, envolve o planejamento da composição visual que se deseja representar. O desenho, portanto, é uma das formas de transformar aquilo que está organizado na mente, trazendo à tona por meio das linhas, cores e formas, uma com- posição visual que represente um determinado elemento, paisagem, produto ou referência, desta forma, entender e conhecer o universo das visualidades é de grande valia para utilizar dos recursos estéticos e aplicá-los nos projetos de modo a materializar a criatividade por meio do desenho conforme afirmam Ching e Juroszek (2001): A percepção visual é um vigoroso processo de busca de padrões. A mente usa os impulsos extraídos das imagens formadas na retina para fazer supo- sicões intelectuais sobreo que encontramos. Nossa mente busca ativamente as características que se encaixam em nossa imagem do mundo: ela procura limitar o significado e a compreensão dos modelos recebidos. (CHING e JU- ROSZEK, 2001, p. 05). Ao idealizarmos uma composição visual, se faz necessário pensar na forma como essa composição se manifestará, ou seja, é necessário entender de proporção, luz, sombra e volumetria para que os elementos representados na composição façam sentido. Reforça- mos que não se trata de realismo, mas sim de entendimento da estrutura de uma imagem, que pode ou não ser realista. Nesse sentido, é primordial que a composição tenha de forma correta a representação da perspectiva, para que seja possível localizar e compreender a noção espacial na qual a composição se encontra, observe a Figura 1. 47UNIDADE III Tipologia das Representações FIGURA 1 – AQUARELA EM ALTO MAR Fonte: O autor (2021). A Figura 1 nos apresenta algumas noções de perspectiva, por diversos motivos. Para entender uma composição e usar da perspectiva como ferramenta para trazer realis- mo ao desenho, pense em camadas que devem ser construídas; primeiramente, temos o reflexo do barco na água, depois temos o braço em si, as nuances do mar e ao fundo as montanhas e o céu. Essa organização faz com que nosso olhar percorra a composição e assim conseguimos um efeito de profundidade em uma superfície bidimensional, conforme nos fala Ching e Juroszek (2001): A percepção visual é, portanto, uma criação mental. Os olhos são cegos para aquilo que a mente não vê̂. Uma figura, em nossa mente, não é baseada ape- nas nos impulsos extraídos da imagem que se forma na retina, mas também é formada a partir dos interesses, do conhecimento e das experiências que cada um de nós agrega ao ato de ver. O ambiente cultural também modifica nossa percepção e nos ensina a interpretar os fenômenos visuais que expe- renciamos. (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 05). Cada um de nós irá construir as composições visuais por meio do desenho conside- rando as referências também visuais, culturais e criativas que temos, é esse potencial criativo a ser explorado em cada profissional da área criativa, que nos faz únicos, pois a capacidade de transformar uma ideia em realidade materializando-a por meio de um projeto gráfico, ma- quete, protótipo, peça piloto ou qualquer outro meio de representação físico ou digital é o que nos permite construir um estilo e criar uma identidade criativa enquanto profissionais. 48UNIDADE III Tipologia das Representações A perspectiva pode ser trabalhada de diversas formas, trata-se de uma questão de ângulo, ou seja, de onde você enquanto criador está apresentando a composição e de como você quer que o observador veja tal composição, observe a Figura 2. FIGURA 2 – RUA DO COMÉRCIO EM NANQUIN Fonte: O autor (2021). A composição é apresentada como sendo um recorte, parte de uma composição maior, chamamos esse processo de figura “sangrada”, pois existem partes que não estão na composição, mas, entendemos que elas existem devido a necessidade de continuida- de das linhas existentes na imagem. Repare caro(a) aluno(a) que as linhas da rua e dos prédios direcionam o olhar para fora da composição, criando um efeito de continuidade, ou seja, a perspectiva que temos é de que o desenho não termina. Outra ferramenta essencial para representarmos as mais variadas composições, além da perspectiva, são os efeitos de Luz e Sombra. A luz e a sombra em um desenho, auxiliam na concepção da volumetria e da ênfase visual que se pretende criar com a com- posição, com relação aos efeitos de luz e sombra Ching e Juroszek (2001, p. 53) nos apresentam algumas definições: O formato e a orientação da sombra exprimem tanto a localização da fonte de luz, quanto a direção de seus raios. ● Sombras projetadas se voltam na direção oposta à da fonte de luz. ● A iluminação frontal cria sombras projetadas mais profundas, atrás do objeto, que se distanciam da visão do observador. 49UNIDADE III Tipologia das Representações ● A iluminação de topo (ou zenital) cria sombras projetadas a pouca distância ou diretamente sob o objeto. ● A iluminação lateral deixa um lado do objeto em penumbra e projeta sombras na direção oposta à da fonte de luz. ● A iluminação inclinada e a três quartos, de cima e sobre o ombro do observador, gera uma forte sensação de volume e revela a textura da superfície do objeto. ● A iluminação posterior cria sombras projetadas profundas na direção do obser- vador e ressalta a silhueta do objeto. Usar dos artifícios de luz e sombra para criar volumetria nas composições e trazer realismo aos objetos no desenho, é uma forma de humanizar o projeto, ou seja, fazer com que o espectador compreenda sua proposta e entenda os elementos da composição. FIGURA 3 – ESBOÇO FEMININO EM HACHURAS Fonte: O autor (2021). A Figura 3 apresenta um esboço de uma figura feminina feita por meio de linhas (hachuras) em que o ensaio para a volumetria é feito por meio de luz e sombra. Nota-se que a luz vem da esquerda para a direita e o efeito de sombra é trabalhado com o maior preenchimento da parte onde a luz não atinge a figura. 50UNIDADE III Tipologia das Representações FIGURA 4 – UTENSÍLIOS DOMÉSTICOS Fonte: O autor (2021). Na Figura 4, temos uma composição de natureza morta feita em lápis grafite, cujo os objetos representados apresentam luz e sombra, nesse caso, a fonte de luz está tam- bém na esquerda, mas um pouco a frente, pois somente um dos objetos projeta sombra e todos eles fazem sombra na parede ao fundo. Esse entendimento de estruturação de uma composição considerando os efeitos de luz e sombra combinados com a perspectiva garantem ao desenho legitimidade, e faz com que seja possível entender de forma clara a volumetria e a estruturação da composição. 51UNIDADE III Tipologia das Representações 2. DESENHO FIGURATIVO E ABSTRATO Dentre os tipos de desenho e suas estruturas no processo de representação de uma composição, podemos categorizá-lo em dois tipos, e assim entender como cada um deles pode ser utilizado em projetos gráficos. Temos então o desenho Figurativo e o Desenho abstrato. Ao trabalhar com as estruturas que fazem parte da composição visual nos desenhos, se faz necessário pensar em quais elementos podem ser agrupados na composição, desta forma é possível pensar primeiramente em especial nos elementos geométricos. Ching e Juroszek (2001) nos dizem que: Ao desenhar a partir de observação direta, nos baseamos em nosso sistema visual para interpretar as informações tridimensionais absorvidas pelos nos- sos olhos a fim de tentar retratar uma cena em uma superfície bidimensional. No entanto, nossos olhos não enxergam aquilo que nossas mentes não estão preparadas para ver. Com frequência, vemos aquilo que esperamos ver e, no processo, ignoramos elementos de importância igual ou maior na cena. Nos- sa tendência é perceber as coisas que nos interessam e ignorar as demais. Podemos, às vezes, perceber elementos individuais, mas não as relações entre eles (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 11). Assim, para que a percepção visual ocorra, se faz necessário conhecer as mais variadas formas, que combinadas formam então outras estruturas compositivas; iniciamos este entendimento pelos desenhos geométricos, que por sua vez formam figuras, ou seja, composições figurativas, que representam algo. Portanto, o desenho figurativo consiste em uma composição visual em que se pode perceber os elementos e associá-los a um objeto real, que tenha forma, estrutura e se assemelhe a um item que exista no meio físico. 52UNIDADE III Tipologia das Representações SAIBA MAIS A “Arte Figurativa” ou “Figurativismo”, ao contrário da arte abstrata (abstracionismo) é um estilo artístico das artes visuais (pintura, escultura, gravura, etc.), pautado na representa- ção das formas, seja de seres humanos, objetos, animais, paisagens, dentre outros. Fonte: AIDAR,L. Arte Figurativa. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/arte-figu- rativa/. Acesso em: em 23 nov. 2021. Quando idealizamos uma composição visual, temos uma intencionalidade enquanto profissionais da área criativa, essa intencionalidade por meio do desenho, muitas vezes faz com que percamos a noção da qualidade do desenho, pois nos preocupamos com a repre- sentação realística daquilo que vemos, e isso se mistura com as imagens de referência que já temos em nossa mente. Portanto ao trabalhar o processo de desenho de observação, ou seja, quando você está olhando para um objeto e então começa a desenhá-lo, você, aluno(a), deve focar na observação e não na imaginação, pois são formas diferentes de acessar o cérebro e desenhar, conforme nos fala Curtis (2015): É preciso relaxar e resistir à tendência de definir os formatos emergentes e de se ater aos detalhes nas primeiras etapas. Quando se começa pelo formato reconhecível de um objeto, geralmente ele se baseia mais no que você pensa do que no que você vê. Ao iniciar um desenho baseando-se principalmente em um estilo de processamento racional, você tende a produzir formatos e detalhes simbólicos gerais. Aplicar o processamento ra- cional ao gesto logo no começo sempre gera distorções feias e indesejáveis de tamanho, formato, localização e proporção. Não pense, olhe! (CURTIS, 2015, p. 42) Esse exercício de observação e representação das composições, é o pontapé inicial para pensarmos as composições abstratas, ou seja, composições que não possuem vínculo com a realidade e podem servir de fonte de inspiração para outros projetos ou ainda como forma de extravasar a criatividade de quem trabalha com desenhos. O processo de desenho abstrato tem como referência a desconstrução das formas, cujo a miscelânea de elementos forma uma composição, mas não há vínculo com objetos conhecidos, o entendi- mento da composição e o processo de percepção da mesma, se dá de forma diferente de indivíduo para indivíduo, pois cada um irá enxergar elementos diferentes, uma vez que a mente tende a buscar por formas reais compreensíveis, mesmo em meio ao abstracionismo da composição, Curtis (2015) nos fala da importância de pensar as composições para além do tradicional e comumente observado: 53UNIDADE III Tipologia das Representações Você deve se esforçar para começar com um novo olhar e resistir à ten- dência natural de se render a abstrações para representar o que vê. Essas abstrações racionalizadas limitam sua flexibilidade mental e prejudicam sua tolerância para a complexidade de suas percepções. Um gesto intuitivo é um processo progressivo de percepção, avaliação, correção e reavaliação. Você deve estar preparado para sempre fazer ajustes ao seu desenho (CURTIS, 2015, p. 42) Então, pensar o desenho, seja figurativo, seja abstrato, é usar dos artifícios visuais para criar uma composição que faça sentido considerando a necessidade de representa- ção. Não se trata de um processo em que há certo ou errado, e sim de usar da técnica para expressar e representar a melhor ideia, frente a problemática com a qual você, aluno(a), estará lidando. O desenho é um meio que pode ser útil para trazer à tona sua ideia e se fazer entendível de forma criativa. Veja a fala de Ching e Juroszek (2001, p. 08): O pensamento por meio de imagens – ou a construção de imagens visuais – permeia todas as atividades humanas, é parte essencial do cotidiano. Pensa- mos em termos visuais quando dirigimos pela rua em busca de um endereço, arrumamos a mesa para um jantar especial ou contemplamos um movimento no jogo de xadrez. Nosso pensamento toma forma visual sempre que busca- mos constelações no céu à noite, construímos um armário com base em um conjunto de desenhos ou projetamos uma edificação. Em cada uma dessas atividades, procuramos rapidamente relacionar as imagens que estamos for- mando naquele momento com aquelas que guardamos mentalmente. Podemos então pensar nas composições visuais do desenho a partir de elementos básicos, como o ponto, a linha e a junção dos dois que resulta na forma que por sua vez ainda pode ser bidimensional ou tridimensional, dependendo do efeito criado por meio da ilusão ótica que pode ser construída no desenho. Ainda podemos trabalhar nas composições os efeitos de luz e sombra, combinados as questões de perspectiva e utilizando os mais variados materiais e técnicas para que a proposta seja representa da melhor forma possível. 54UNIDADE III Tipologia das Representações 3. NATUREZA MORTA É por meio do desenho que podemos expressar os mais diversos sentimentos, os artistas estudaram e expressaram durante séculos a composição, o desenho, a cor, a forma, a textura e o comportamento da luz através de pinturas e desenhos. Por meio do desenho é possível representar objetos que nunca poderiam existir, realidades fictícias que testam a lógica com mistério, ou ainda criar representações realísticas de objetos, pessoas ou paisagens; os efeitos de luz e sombra, são fundamentais para se ter a volumetria neces- sária nas composições visuais e assim criar os efeitos necessários de representatividade. Dentre os diferentes tipos de desenhos existentes para representar as mais variadas áreas da visualidade, temos a categorização da Natureza Morta. Os elementos inventados por nós homens são os registros históricos deixados por nós para narrar nossa existência; cada item pensado, desenhado, criado e utilizado por nós no dia a dia apresentam as marcas de nosso tempo e lugar. As composições de natureza morta, são, portanto, aquelas que trazem a representação de objetos inanimados que podem ser de origem natural como alimentos, flores, plantas, rochas ou conchas ou de origem artificial, utensílios domésticos, livros, vasos, joias, moedas etc. Observar os objetos que nos rodeiam e representá-los é parte do processo de desenho, e nos permite exercitar o olhar conforme narra Ching e Juroszek (2001, p. 28): 55UNIDADE III Tipologia das Representações O que sabemos a respeito de um objeto geralmente interfere em nosso desenho no que se refere a como seu formato é percebido pelos olhos. Por exemplo, às vezes tende- mos a desenhar um formato em escorço de modo a sugerir que o estamos observando de cima ou pelo lado. Apesar de o tampo circular de uma mesa se manifestar como tendo um formato elíptico, podemos estar dispostos a desenhá-lo como um círculo. Ao pensar em uma composição de natureza morta, você pode fazer um bom desenho com praticamente qualquer combinação de objetos, segundo Com- bs e Hoddinott (2016), você pode por exemplo escolher objetos que combi- nem por causa de alguma relação de funcionalidade, como ingredientes e utensílios necessários para o café da manhã. Ou a escolha de objetos pode ser feita em razão da combinação por semelhança visual, como um grupo de itens redondos ou com uma mesma estampa. REFLITA A Natureza morta é a melhor matéria na arte de aprender e ensinar as habilidades de desenho e pintura. Isto ensina como olhar para objetos e vê-los com uma consciência perceptiva de seu contorno, forma, proporção, tom, cor, textura e composição. Fonte: ATOM. Natureza Morta. Desenhe Tudo. Disponível em: https://desenhetudo.blogspot.com/p/blog- -page.html. Acesso em 23 nov. 2021. FIGURA 5 – FRUTAS Fonte: O autor (2021). 56UNIDADE III Tipologia das Representações FIGURA 6 – UTENSÍLIOS DE COZINHA Fonte: O autor (2021). Muitos desenhos de natureza morta incluem temas clássicos, como frutas, pratos adornados, objetos ornamentais e flores, mas a escolha dos objetos deve fazer sentido, principalmente se o caso for a representação de produtos que fazem parte de um projeto com vários itens. Uma composição de natureza morta, serve para entender como se pode organizar visualmente um conjunto de objetos que façam sentido entre si e que venham a expressar uma mesma inspiração, como uma coleção, de forma coerente e harmônica.57UNIDADE III Tipologia das Representações 4. PAISAGEM Outra categoria importante no processo de desenho são as composições de pai- sagens, que podem servir de referência para pensarmos projetos arquitetônicos, paisagís- ticos ou de interiores. Ao conhecermos as diferentes temáticas que podem ser abordadas quando trabalhamos o desenho e suas composições, temos em mãos não só o potencial criativo que já se encontra em nosso subconsciente imaginativo, mas também o potencial combinatório entre as técnicas que podem lhe auxiliar na representação do projeto, essa soma de possibilidades, juntamente com a técnica expressiva é o que podemos chamar de processo criativo no desenho. Trata-se de um processo contínuo, o ato de desenhar conforme Ching e Juroszek (2001): A atividade de desenhar não pode ser dissociada daquilo que vemos ou pen- samos sobre o tema representado. Não podemos desenhar um objeto ou uma cena a menos que os vejamos como modelos ou que nos sejam sufi- cientemente familiares para que possam ser recriados pela memória ou pela imaginação. Consequentemente, a proficiência no desenho deve estar acom- panhada do conhecimento e da compreensão do que desejamos representar graficamente (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 03). O processo de desenho de uma paisagem envolve a representação de uma com- posição natural, ou não, que contenha em sua visualidade elementos naturais ou criados pelo homem nos quais se possa transitar. É por meio do processo de observação que somos capazes de recriar composições reais, desenhando-as no papel, e a cada avanço tecnológico e aprimoramento no ato de olhar o homem ganha mais recursos para conseguir transpor no desenho aquilo que está observando. 58UNIDADE III Tipologia das Representações Observar a natureza e toda a sua referência de cores, linhas e formas bem como o efeito de profundidade por meio da perspectiva, fez com que o homem melhorasse a técnica de representação da paisagem por meio do desenho. FIGURA 7 – PAISAGEM 1 Fonte: O autor (2021). A realidade que percebemos em três dimensões, quando a representamos sobre o papel só dispomos de uma superfície plana, de duas dimensões. Ao projetarmos correta- mente, conseguimos uma representação que expressa profundidade, graças aos princípios básicos da perspectiva que permite elaborar uma representação coerente, conforme vimos anteriormente. Observar e representar são princípios a serem seguidos quando falamos do desenho de paisagens, conforme complementa Ching e Juroszek (2001): À medida que nos tornamos mais sensíveis às características particulares do que vemos e desenhamos, não podemos perder de vista a imagem global. Nenhum elemento do desenho está isolado na composição: todas as partes dependem umas das outras para o impacto visual, a função e o significado. Para garantir que os objetos permaneçam em seus lugares apropriados e em relação uns com os outros – como, por exemplo, visualizar tanto as árvo- res quanto a floresta e evitar transformar montanhas em morretes, devemos prestar atenção à proporção (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 72). Quando se trata de paisagem, o processo deve se iniciar pelo ponto de vista e o enquadramento para então reproduzir o efeito de distanciamento; A primeira coisa que devemos fazer se quisermos desenhar uma paisagem em perspectiva será situar a linha do horizonte no desenho. Trata-se de uma linha imaginária no plano horizontal que passa exa- tamente na altura de nossos olhos. A posição do horizonte dependerá do enquadramento e nos servirá de referência ao longo do trabalho. 59UNIDADE III Tipologia das Representações FIGURA 8 – PAISAGEM 2 Para que a representação de sua composição fique harmônica, considerando o desenho de paisagens, você deve ir alterando a cor e o tamanho dos objetos. Pense na seguinte questão, tudo que você observa e que está muito distante perde a forma, bem como a cor, ou seja, ao se distanciarem os componentes de sua paisagem devem ficar menores e ganharem uma cor mais “apagada”, (escala de cinza ou azul). FIGURA 9 – PAISAGEM 3 Esse efeito de distanciamento por meio de elementos difusos na composição da paisagem, cria o efeito de tridimensionalidade e a perspectiva valoriza a percepção de profundidade. A representação da terceira dimensão se dá por meio da composição e do contraste entre luz e sombra, criando assim a profundidade, cujo os elementos da frente ficam mais nítidos, ou seja, com mais cor, e os elementos ao fundo vão ficando sem cor ou mais claros à medida que se tem o distanciamento do primeiro plano. 60UNIDADE III Tipologia das Representações FIGURA 10 – PAISAGEM EM GIZ PASTEL SECO Fonte: O autor (2021). As paisagens sempre colaboram quando pensamos em desenho de observação, pois elas não saem do nosso alcance quando pensamos em trabalhar com o desenho livre em observação real. As composições no desenho de paisagens podem ser trabalha- das com os mais variados tipos de materiais, bem como através das combinações entre eles, e, cabe ao profissional estruturar as linhas e formas que a composição irá ter, para que a imagem a ser desenhada transmita a mensagem que se deseja passar, conforme a necessidade do projeto. 61UNIDADE III Tipologia das Representações CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade, e podemos perceber que o desenho possui as mais variadas formas de ser representado, bastam três componentes básicos, lápis, papel e criatividade. O ato de desenhar envolve não só a técnica e os materiais, mas também as diferentes temáticas que permeiam o processo criativo do profissional criativo, desenhar é a primeira e mais singela forma de se expressar e desde crianças somos estimulados a usar o desenho como forma de expressão, seja para se manter ocupado, seja como atividade didático pedagógica, o fato é que desenhar para os amantes da arte é um processo expressivo, e agora você conhece o desenho como ferramenta profissional para o desenvolvimento de projetos em sua área de atuação. Vimos no decorrer da unidade, que o desenho pode se mostrar das mais variadas formas, desde aquelas complexas e disformes, como o caso de composições abstratas, até aquelas organizadas e estruturadas como o caso do desenho figurativo, que faz com que consigamos perceber familiaridade entre as linhas e formas da composição. Observamos também as especificidades do desenho de natureza morta, bem como o desenho de paisagem e toda sua organização compositiva, no que diz respeito à representação da perspectiva, planos, luz e sombra, bem como os detalhes para causar os efeitos de profundidade na composição. Continue treinando e até a próxima! 62UNIDADE III Tipologia das Representações LEITURA COMPLEMENTAR Desenho como linguagem Segundo Löbach (2001), quando um designer projeta algum produto, ele também determina as funções deste produto, a fim de satisfazer às necessidades do usuário. Es- sas funções podem ser práticas, relacionados aos aspectos fisiológicos de uso; estéticas, relacionadas a um processo sensorial; e simbólicas, quando a espiritualidade do homem é estimulada pela percepção dos objetos. Cardoso (2012) exemplifica esses diferentes significados que um produto comunica para o usuário a partir do objeto “relógio de pulso”, que pode variar muito prática, estética e simbolicamente, se tomarmos um relógio Rolex, um Swatch ou um da marca Casio. Esta relação é de fácil compreensão quando falamos de produtos físicos já produzidos. Porém, como é possível criar a linguagem de um produto que ainda não existe? Sem dúvida, sem o desenho, é impossível comunicar ideias que no futuro se tornarão produtos reais. Muitos podem supor que o desenho iniciou sua contribuição ao design na Revolu- ção Industrial, quando a tarefa de quem desenvolvia os artefatos e a de quem os produzia foi segmentada (PEVSNER, 1994). Porém, o desenho como instrumento de projeto vem muito antes do adventodos processos mecânicos de reprodução. Não há como comprovar os motivos que levaram nossos ancestrais a gravarem imagens nas paredes das cavernas, mas para Bronowski (1992), a arte rupestre é um exemplo de como o desenho pode servir como linguagem de projeto. Para o autor, as imagens gravadas exemplificam o poder da antecipação, de imaginar o futuro e, por isso, podemos interpretar como um projeto para o futuro, semelhante ao que é feito por um designer automotivo quando apresenta a uma equipe de projeto, através de seus esboços, o carro que está idealizando. Bronowski (1992) explica o que seria a imaginação do futuro: Através dessas pinturas o caçador não só se familiarizava com os perigos da caça, mas também podia antecipar as situações a serem enfrentadas. Quando pela primeira vez, um caçador era levado até esses lugares secre- tos e obscuros, e a luz projetava-se bruscamente naquelas figuras, ele via o bisão a ser enfrentado, o veado em carreira, a investida do javali. E o jovem caçador sentia-se tão sozinho diante deles como em uma caçada real. Era a iniciação ao medo; a postura com a lança tinha de ser aprendida, e o temor dominado. O pintor imortalizara o momento do medo, e o caçador o vivia através das pinturas (BRONOWSKI, 1992, p. 54). 63UNIDADE III Tipologia das Representações Esta ação de estratégia pode ser comparada ao que é feito em métodos projetuais hoje em dia. Um dos métodos mais destacados na atualidade é o Design Thinking, em que os “Design Thinkers” produzem soluções que geram novos significados, e que esti- mulam os diversos aspectos (cognitivo, emocional e sensorial) envolvidos na experiência humana (VIANNA et al., 2012). Para exemplificar a semelhança do “design” feito pelos nossos ancestrais e os métodos atuais, é possível analisar a ferramenta de desenho de Storyboard, por exemplo. Segundo Vianna et al. (2012) esta ferramenta é a representação visual de uma história através de quadros estáticos, compostos por desenhos, colagens, fotografias ou qualquer outra técnica disponível. Esta ferramenta, assim como possivelmente a arte rupestre, serve para comunicar uma ideia a terceiros ou para visualizar o encadeamento de uma solução, com o objetivo de se detectar aspectos em aberto no produto ou refinar um serviço final (VIANNA et al., 2012). Pode-se perceber, portanto, que o desenho como linguagem vem acompanhando constantemente a evolução humana. Gombrich (2007) ressalta que a linguagem, seja ela visual ou verbal, também evolui. Para o autor, em alguns casos, a raiz original do significado muda tanto a ponto de o mesmo não poder ser reconhecido e, mesmo assim, esta mudança ainda é inteligível. Na arte, Gombrich explica que “[...] tal capacidade da mente humana de assimilar o novo ao antigo também está presente no humilde recurso do mimetismo decora- tivo. É uma forma de metáfora” (GOMBRICH, 2007, p. 227). Este é um aspecto importante, de compreender que a linguagem possui a capacidade de ser estendida e alterada a fim de adaptar-se ao novo. Desta forma, é possível inventar nomes, símbolos e produtos novos para cada coisa nova (GOMBRICH, 2007). Talvez devido à grande complexidade que novos termos de linguagem ocasionam, o desenho perdeu importância como ferramenta de expressão. Esta deterioração do dese- nho como linguagem pode ser vista nas universidades de arte, design e arquitetura. Ayiran (2008) explica que na educação arquitetônica e também no ensino de design, a teoria e o pensamento verbal possuem muito mais valor por causa da dominação do caráter científico nas universidades. Observa-se nos ambientes acadêmicos, de um modo geral, que os estudantes relegam o uso de esboços e outras mídias visuais em seus projetos. Trata-se de uma conjuntura não totalmente surpreendente. Há séculos, educa-se enfatizando a impor- tância da expressão verbal em todos os domínios da educação e, em seguida, espera-se que os alunos adotem um processo de concepção artístico e criativo (AYIRAN, 2008). 64UNIDADE III Tipologia das Representações Vilém Flusser (2007) alerta que a epistemologia ocidental é baseada na premissa cartesiana de que pensar significa seguir a linha escrita, ou seja, aprendemos na escola a ler, interpretar e pensar linearmente; porém, existe outra forma de “leitura” que o autor identifica como pensamento em superfície, e traz diferentes possibilidades de raciocínio. Em seu livro, Flusser (2007) exemplifica o pensamento em superfície através de uma pedra e suas representações: A fotografia representa a pedra na forma de imagem e a explicação em texto a representa na forma de um discurso linear. Isso significa que posso imagi- nar a pedra se leio a fotografia, e posso concebê-la ao ler as linhas escritas da explanação. As fotografias e as explicações são mediações entre mim e a pedra; elas se colocam entre nós, e me apresentam a pedra. (FLUSSER, 2007, p. 111) Para Flusser (2007) a vantagem da linguagem não linear está na liberdade, quando lemos as linhas, seguimos uma estrutura que nos é imposta, mas quando lemos uma figura ou pintura movemo-nos de certo modo livremente dentro de uma estrutura que nos foi apresentada. Por outro lado, para Zhu (2010) o desenho é uma forma de linguagem que todos os designers profissionais devem entender como “falar”. Assim como a escrita, o desenho é um conjunto de regras e fórmulas desenvolvidas através da história para ajudar a comu- nicar ideias. Se a universidade não fornece esse tipo de aprendizagem, não restam muitas alternativas para os estudantes. Desta forma, o resultado é a formação de designers com projetos embasados em teorias, material de pesquisa e ideias escritas, mas com poucos projetos em desenho. Ao mesmo tempo, grande parte do que é desenvolvido na indústria é visual, e é crucial para os profissionais saberem se comunicar através do desenho, pois as empresas não querem ideias explicadas por textos, e sim equipes de projeto que se comuniquem de forma eficaz e gerem resultados (ZHU, 2010). Fonte: FERNANDES, Stefan von der Heyde; SILVA, Tânia Luisa Koltermann da. A prática do desenho e seu papel no desenvolvimento de projeto de produto. XXI simpósio nacional de geometria analítica e desenho técnico. Graphica 13, Florianópolis. Disponível em http://www.exatas.ufpr.br/portal/de- graf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2018/02/A-PRATICA-DO-DESENHO-E-SEU-PAPEL-NO-DESEN- VOLVIMENTO-DE-PROJETO-DE-PRODUTO.pdf . Acesso em 30 set. 2021. http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2018/02/A-PRATICA-DO-DESENHO-E-SEU-PAPEL-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-PROJETO-DE-PRODUTO.pdf http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2018/02/A-PRATICA-DO-DESENHO-E-SEU-PAPEL-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-PROJETO-DE-PRODUTO.pdf http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2018/02/A-PRATICA-DO-DESENHO-E-SEU-PAPEL-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-PROJETO-DE-PRODUTO.pdf 65UNIDADE III Tipologia das Representações MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Desenhando com o lado direito do cérebro Autor: Betty Edwards Editora: Ediouro Sinopse: Traduzido em treze idiomas, mais de dois milhões e meio de exemplares vendidos, “Desenhando com o Lado Direito do Cérebro” é o livro de ensino de desenho mais utilizado em todo o mundo. Tanto para os que se acham com pouco talento, ou duvidam que um dia serão capazes de aprender, quanto para os artistas profissionais, o livro mostrará como adquirir a habilidade desejada, como confiar nesta habilidade e como aprofundar a per- cepção artística. Minuciosamente revista e atualizada, esta edição do Desenhando com o Lado Direito do Cérebro traz como novidade: progressos recentes de pesquisas sobre o cérebro, relacionadas ao desenho; novas abordagens no uso de técnicas de desenho no mundo empresarial e na educação; orientações para a expressão pessoal através do desenho; maneiras de avançar do desenho em brancoe preto para o colorido; informações detalhadas quanto à aplicação das cinco habilidades básicas do desenho para resolver problemas. FILME / VÍDEO Título: Como o Cérebro Cria Ano: 2019. Sinopse: O neurocientista David Eagleman explora o processo criativo de vários profissionais inovadores e nos mostra formas impressionantes e arriscadas de aguçar a criatividade. 66 Plano de Estudo: ● Conceito e materiais; ● Técnicas; ● Cor e composição; ● Criação de projetos cromatizados. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar os diferentes tipos de materiais e suas possibilidades no processo de desenho; ● Compreender os tipos de técnicas e seus processos de representação; ● Estabelecer a importância da cor e da organização de uma composição no desenho; ● Entender a aplicabilidade das técnicas de cromatização em diferentes contextos. UNIDADE IV Desenho e Cromatização Professor Me. César Biegas Faquin Professor Me. Dênis Martins de Oliveira 67UNIDADE IV Desenho e Cromatização INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Nesta unidade, abordaremos as técnicas que envolvem o desenho como forma de expressão para a área de projetos. É importante aluno(a) que você sempre se lembre de que o ato de desenhar envolve um processo de aprendizagem, resultado de muita dedica- ção e treino, portanto nunca deixe de treinar. Enquanto profissionais da área criativa, entender sobre desenho é primordial, pois assim você será capaz de expressar não só na representação gráfica do projeto em si, mas também o seu olhar criativo frente ao desafio de organizar visualmente uma composição que atenta as necessidades do cliente ou da problemática com a qual você estará lidando. Você poderá observar que existem diversos materiais, técnicas e formas de criar por meio do desenho. O objetivo aqui é trazer para você aluno(a) informações sobre essas possibilidades, para que você possa experimentá-las e assim se expressar criativamente usando o desenho como manifestação. Veremos a importância da cor e como podemos pensar as estruturas cromatizadas para trazer realismo e identificação para cada forma de representação visual. Assim como será possível entender as diferentes possibilidades combinatórias entre os materiais para expressar de forma criativa uma composição projetual em um processo de desenho. Desejamos a você uma ótima leitura. Bons estudos!!! 68UNIDADE IV Desenho e Cromatização 1. CONCEITO E MATERIAIS Diante das diferentes possibilidades que permeiam o processo de representação gráfica por meio das técnicas de desenho, é preciso considerar os materiais com os quais você poderá lidar. É válido reforçar que nem todo mundo se adapta a todas as técnicas, e nem todas as técnicas são aplicáveis para projetos criativos, tudo vai depender da forma com a qual você trabalha, do seu gosto pelo desenho e da disponibilidade de uso e adap- tabilidade ao material. O primeiro material e mais importante é o tipo de papel com o qual você vai trabalhar. Temos desde papeis com gramatura fina, como o papel sulfite comum que possui gramatu- ra de mais ou menos 70g/m² até os papeis de aquarela que possuem uma alta gramatura de mais ou menos 300g/m². Isso significa que o papel sulfite é mais fino enquanto o papel de aquarela é um papel mais grosso. Doyle (2007) nos apresenta algumas informações importantes sobre a aplicabilidade dos papéis: A grande variedade de tipos de papel, normalmente usados nas profissões de design, pode ser usada com bom resultado em desenhos de projeto a cores. Cada um destes papéis – até mesmo o papel manteiga branco – pode ser usado em fotocopiadora em preto-e-branco. Isso permite a fácil transferência de desenhos a traço, por exemplo, do papel manteiga para o papel Canson, para obter um desenho a cores com melhor acabamento. Essa possibilidade também permite ao projetista fazer mais de uma cópia de um desenho a traço quando uma ilustração tiver que ser refeita ou corrigida (DOYLE, 2007, p. 44). 69UNIDADE IV Desenho e Cromatização Ao escolher um papel para iniciar seu processo de desenho é importante entender que os papeis de gramatura baixa são indicados para técnicas secas como o grafite ou lápis de cor; já para trabalhar com tintas como aquarela ou guache, ou ainda com canetas nanquins ou hidrocolor, você deve utilizar papeis mais grossos para que a tinta não danifique o papel e para que ele não enrugue. O ideal é trabalhar com no mínimo um papel que tenha 180gm². Dentre os materiais essenciais e mais comuns temos o lápis grafite, material básico para trabalhar os esboços ou croquis, e que podem ser explorados para criar uma compo- sição por completo usando este material de forma única. FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO DE TECIDO EM GRAFITE Fonte: O Autor (2021). Podemos explorar também o lápis de cor, por se tratar de um material de fácil acesso, é comum trabalharmos nossos primeiros esboços com este material. Como dica o ideal é que você tenha lápis de cor aquareláveis, pois assim você terá dois materiais em um. Marcas comuns como a Faber Castell são materiais com um custo benefício excelente no mercado nacional, mas existem materiais profissionais e com qualidade técnica excep- cional conforme narra Doyle (2007): Os lápis Sanford Prismacolor e Design Spectracolor são duas das melhores marcas. Os lápis de ambas as marcas têm grande variedade de cores, são suficientemente macios para serem aplicados de forma fácil e suave e conseguem dar uma cor sólida e brilhante quando preciso. Os lápis de cor Bruynzeel Design Fullcolor (da Holanda), e os lápis de cor Derwent Studio, da empresa britânica Rexel Cumberland, são ligeiramente mais duros que os lápis Prismacolor e Spectracolor, sendo mais difícil criar cores brilhantes sem marcar a superfície do papel (DOYLE, 2007, p. 39). 70UNIDADE IV Desenho e Cromatização É válido reforçar que você aluno (a) pode experimentar os diferentes materiais e assim perceber com qual mais se identifica, para então investir em opções de qualidade. Você pode ainda, ter várias marcas e cores de materiais, para mesclá-los e assim criar composições únicas, visto que cada variante de cor muda de marca para marca. FIGURA 2 – COMPOSIÇÃO FEITA EM AQUARELA E EM LÁPIS AQUARELÁVEL. Fonte: O autor (2021). Na Figura 2 temos dois desenhos, na primeira imagem foi utilizado tinta aquarela e os contornos foram feitos em nanquim; já na segunda imagem foi utilizado lápis de cor aquarelável com contornos em nanquim. É possível notar que enquanto resultado final os dois processos são muito similares, portanto, vale a pena investir no lápis de cor aquarelável para iniciar suas aventuras no universo no desenho. Uma outra opção de material são as canetas hidrocores ou hidrocolor que servem como uma tinta, mas garante um maior domínio e menos destreza do que a manipulação de tinta aquarela por exemplo. A respeito desse material Doyle (2007) nos diz que: As hidrocores são usadas para aplicar uma camada de cor transparente se- melhante à aquarela. A maioria das hidrocores utiliza um corante concentra- do, geralmente anilina, misturado com um diluente volátil à base de álcool ou xileno. Suas pontas, antigamente de feltro, são feitas agora de plásticos patenteados. Entretanto, a maioria dos projetistas ainda as chamam de hidro- cores de “ponta de feltro”. As hidrocores não enrugam o papel como os ma- teriais aquarelados à base de água costumam fazer, pois o diluente evapora rapidamente. Esta característica as torna um excelente material de colorir para projetistas, uma vez que é compatível com a maioria dos tipos de papel que costumam ser usados nessa área (DOYLE, 2007, p. 37). 71UNIDADE IV Desenho e Cromatização FIGURA 3 – COMPOSIÇÃO EM HIDROCOR Além de poder explorar materiais acessíveis como o grafite, lápis de cor e as canetas hidrocor, o profissional que trabalha com desenho pode também trabalhar com materiais que tenham um foco artístico, como é o caso do giz pastel,que pode ser seco ou oleoso. O giz pastel seco é como se fosse um giz escolar, mas com variações tonais ótimas para croquis rápidos e esfumados excelentes; já o giz pastel oleoso é parecido com o giz de cera, mas com uma estrutura um pouco mais pastosa. Doyle (2007) apresenta algumas informações importantes sobre o giz pastel: Entre os materiais para colorir apresentados, os pastéis são os mais rápidos e fáceis de usar (podem ser trabalhados com os dedos), mas também são os mais difíceis de controlar nas bordas das formas, ou seja, apresentam maior tendência a “sair da linha” do que outros materiais. Indicados para serem usa- dos livremente, são rápidos de aplicar a um esboço ou estudo, muito bons de misturar e são mais adequados em combinações de cor “alto grau” – aqueles que se situam no âmbito de valor mais claros. São especialmente indicados para criar cores mais claras e sutis (DOYLE, 2007, p. 41). FIGURA 4 – COMPOSIÇÃO EM GIZ PASTEL OLEOSO Fonte: O autor (2021). 72UNIDADE IV Desenho e Cromatização A Figura 4 apresenta dois recipientes elaborados com giz pastel oleoso sobre papel Vergê texturizado. Repare que algumas cores podem ser misturadas e com a ajuda de seu próprio dedo você consegue esfumar a cor e criar sombras como no caso da base onde os recipientes se encontram. FIGURA 5 – COMPOSIÇÃO COM FIZ PASTEL SECO E OLEOSO Fonte: O autor (2021). A Figura 5 apresenta uma mescla de dois tipos de giz, o pastel seco no fundo esfumaçado e nos pontos em branco e amarelo das flores, e nas partes verdes e azuis temos o giz pastel oleoso. Combinar diferentes materiais depende do efeito visual que você queira causar em seu projeto, tudo é possível desde que se tenha um objetivo, o importante é você testar e experimentar até que se identifique com um material e queira utilizá-lo com maior frequência em seus projetos. REFLITA Ao desenhar, marcamos a superfície para representar graficamente o que vemos à nos- sa frente ou imaginamos mentalmente. Desenhar é um meio natural de expressão que cria um mundo de imagens separado, mas paralelo, que se comunica com nossos olhos. Fonte: CHING e JUROSZEK (2001, p. 03). 73UNIDADE IV Desenho e Cromatização 2. TÉCNICAS Conhecer um material de desenho é diferente de dominá-lo, lembre-se de que desenhar é técnica, portanto, é necessário exercício para se chegar a um bom resultado enquanto projeto gráfico. Observe a composição a seguir: FIGURA 6 – DESENHO A LÁPIS DE COR Fonte: DOYLE (2007, p. 61). 74UNIDADE IV Desenho e Cromatização A primeira imagem é a foto real de um vaso e um tecido, já a segunda imagem é a reprodução da composição, mas agora pintada em lápis de cor. Desta forma podemos compreender que o processo de desenho nada mais é do que uma organização visual que exige técnica e nos permite trazer resultados gráficos incríveis. Ressaltamos que não se trata de realismo e sim de domínio técnico para representar o projeto da melhor forma possível. Doyle (2007) a respeito da Figura 6 nos diz que: Os lápis de cor são a base do desenho a cores mostrado nesta obra. Eles são os materiais para colorir mais usados, mais flexíveis (podem ser aplica- dos de leve ou com pressão) e os mais precisos. Em desenhos pequenos, a hidrocor é bem menos usada como base colorida, pois os desenhos colori- dos somente exigem um material de colorir que possa ser aplicado de forma precisa sobre uma determinada área, e ser removido se o projetista cometer algum erro ou mudar de opinião. Na verdade, o lápis de cor é muitas vezes o único material de colorir necessário para completar desenhos pequenos, especialmente aqueles que possuem muitos detalhes (DOYLE, 2007, p. 37). Você pode trabalhar com o lápis de cor de diversas formas, o importante é entender que quanto maior for a pressão do lápis sobre o papel, mais escuro será a pigmentação, assim, quanto mais você treinar, maior será seu domínio para criar nuances tonais e cons- truir efeitos de luz e sombra em seus desenhos. Conforme a Figura 7, você pode trabalhar com o lápis de forma raspada (assim como o giz pastel seco) e por meio do pó, criar um fundo em seu desenho e posteriormente, você pode ir criando as nuances tonais fazendo um processo de gradação tonal para trazer volumetria, luz e sombra para seus desenhos. FIGURA 7 – MANIPULANDO MATERIAIS Fonte: DOYLE (2007, p. 52). Outro material essencial e que nos permite criar diversas camadas e combinações é a caneta hidrocor, “muitas vezes usamos hidrocores para criar as cores de “base”, em desenhos que posteriormente são modificados pela aplicação de lápis de cor, pastel e, até mesmo, cane- tas para traçado para obter a ilusão de materiais, padrões e luz” (DOYLE, 2007, p. 37). 75UNIDADE IV Desenho e Cromatização FIGURA 8 – MANIPULANDO HIDROCOLORES Fonte: DOYLE (2007, p. 55). Usando as canetas hidrocolores de forma adequada, você pode construir camadas e assim mesclar cores, ou ainda criar sombras em suas composições para trazer aspecto de profundidade, volumetria, enfatizar ângulos e perspectivas, é um dos materiais mais versáteis que temos a disposição ao pensarmos em desenho. Mas alguns cuidados devem ser tomados ao trabalhar a mescla de materiais com a hidrocolor como afirma Doyle (2007): É preciso observar que muitos tipos de hidrocores não são compatíveis com alguns materiais usados para traçado. Os hidrocores não deveriam ser usa- das sobre lápis de cor, pois este não só́ vai borrar devido ao diluente, mas o pigmento do lápis vai grudar na ponta do hidrocor, o que poderá́ causar também uma surpresa desagradável quando a cor de uma hidrocor não sair como você̂ espera. As hidrocores à base de álcool, se aplicadas com uma pressão muito forte da mão, podem borrar ligeiramente certos tipos de linhas. Entretanto, na prática, tanto as hidrocores à base de álcool como à base de xileno podem ser usadas com segurança sobre a maioria das canetas de feltro, sobre todos os tipos de papel, ou até mesmo um sobre o outro, desde que usadas com cuidado (DOYLE, 2007, p. 37). FIGURA 9 – CAMADAS DE HIDROCORES. Fonte: DOYLE (2007, p. 55). 76UNIDADE IV Desenho e Cromatização Outro excelente material para ser trabalhado em croquis e desenhos de expressão é a caneta de tinta nanquim. No mercado você aluno(a) encontra esse tipo de caneta com as mais variadas formas, marcas e numerações de pontas, o que facilita o trabalho de desenho, pois você poderá trabalhar com traços grossos ou traços finos e criar efeitos de luz e sombra por meio de diferentes linhas chamadas de hachuras. Veja alguns exemplos: FIGURA 10 – TIPOS DE HACHURAS Fonte: DOYLE (2007, p. 50). A criação de composições por meio de hachuras permite trazer para seu desenho a volumetria necessária para que ele seja legível, veja agora algumas aplicações. 77UNIDADE IV Desenho e Cromatização FIGURA 11 – APLICAÇÕES DE HACHURAS I Fonte: O autor (2021). FIGURA 11 – APLICAÇÕES DE HACHURAS II Fonte: O autor (2021). Outra técnica excelente para cromatizar grandes áreas e trabalhar com o desenho de forma criativa é a aquarela, cujo por meio de tinta e água, é possível construir compo- sições únicas. A aquarela pode ser encontrada em formato de pastilha ou de tubo de tinta, mas para quem está começando no universo do desenho, sugerimos que você trabalhe com o lápis de cor aquarelável, pois assim você não precisa investir em tintas e pincéis. 78UNIDADE IV Desenho e Cromatização FIGURA 12 – COMPOSIÇÃO EM AQUARELA Fonte: O autor (2021). O processo consiste em esboçar a composição com lápis e depois você pode seguir dois caminhos (no caso de usar a tinta), você pode molhar a parte do desenho em que você deseja colocar a cor e então passar o pincel na tinta e depositar a tinta na parte molhada do papel; isso fará com que a tinta se espalhe e crie um efeito aguado. A outra forma é você molhar o pincel primeiro e passar na tinta, para depois passar no papel seco, assim você terá maior domínio da tintae conseguirá manipular a cromatização da composição. A vantagem da aquarela, é que se ainda estiver molhada, você pode passar o pincel limpo e ir “retirando” o pigmento do papel caso perceba que tem muita tinta na parte pintada. Já se você for trabalhar com o lápis de cor aquarelável, como sugestão, indicamos que você faça um fundo com o pó do lápis e depois cromatize as bordas do desenho, para então só no final colocar água e ativar a tinta. Para qualquer um dos processos com aquarela, o papel precisa ser na maior gramatura possível, pois ele irá absorver a água, e para não enrugar é preciso ser grosso. 79UNIDADE IV Desenho e Cromatização 3. COR E COMPOSIÇÃO Dentre os elementos que podem ser trabalhados em projetos criativos que lidam com o desenho como ferramenta de expressão gráfica, sem sombra de dúvidas a manipu- lação de cor é um dos recursos mais importantes. Doyle (2007) nos apresenta uma reflexão sobre o processo de cromatização dos desenhos: Qualquer combinação de materiais para colorir, quer sejam semelhantes, tais como lápis sobre lápis, quer sejam diferentes, como pastel sobre hidrocor, é válida para a intenção de mistura e combinação de cores, desde que os ma- teriais sejam compatíveis. Ao tentar modificar uma cor, você̂ obterá́ melhores resultados se para isso usar uma outra cor. O uso excessivo de cores neutras (cinza, preto ou branco), aplicadas sobre outras cores para modificá-las, po- derá́ deixar seu desenho com aspecto opaco e sujo (DOYLE, 2007, p. 55). Independente do material utilizado, podemos explorar o recurso da cor para criar impacto visual e trazer personalidade ao projeto, de modo a fazer com que o público-alvo do projeto se identifique com o mesmo desde a elaboração de seu desenho. Pensando nisso é importante que você conheça a preferência das pessoas com relação as diferentes cores. Eva Heller (2013) em seu livro A Psicologia das Cores, elaborou uma vasta pesquisa para entender a preferências das pessoas pelas diferentes cores e o resultado foi o seguinte: 80UNIDADE IV Desenho e Cromatização FIGURA 13 - AS CORES PREFERIDAS. Fonte: Adaptado de: Heller (2013). Ao entender sobre a preferência do público com relação as cores, é possível tra- balhar em nossos projetos, combinações cromáticas que vão ao encontro dos anseios do público, para que assim, a proposta do projeto seja assertiva não só na questão funcional, mas também na questão estética. Criar um projeto e trabalhar nele os conceitos de cores, nos faz pensar sobre a importância de se organizar o processo criativo e de trazer para o desenho um olhar amplo sobre o que se pretende executar e como isso ocorrerá nas diferentes fases do projeto, que se iniciam com o desenho. Ching e Juroszek (2001), nos apresenta o seguinte olhar: Organizar a composição de um desenho ou projeto é basicamente distribuir formatos. Quando começamos a desenhar em uma folha de papel, enfren- tamos a necessidade de tomar decisões como que tamanho terá́ a imagem, onde ela estará́ e que orientação terá́ com referência à dimensão, ao formato e às bordas do papel. Também temos de determinar o que deve ser incluído e o que será omitido em relação ao que vemos ou imaginamos. Estas decisões afetam o modo como percebemos as relações de figura e fundo resultantes entre formatos positivos e negativos. (CHING e JUROSZEK, 2001, p. 32). 81UNIDADE IV Desenho e Cromatização A cor como parte desse processo, deve ser pensada enquanto um recurso comple- mentar ao processo de desenho e de elaboração de um projeto, mas de extrema importância, uma vez que seu impacto pode enaltecer uma proposta ou levá-la a ruínas, visto que se um projeto não agradar pela cor a aceitação deste pode ser prejudicial para os negócios, pois ao final de tudo um projeto precisa ser vendável e atender as necessidades do(s) cliente(s). FIGURA 14 - CÍRCULO CROMÁTICO Fonte: Pedrosa (2010, p. 33). Pedrosa (2010, p. 26-27) mostra algumas outras classificações das cores para que haja a compreensão mais completa da organização do sistema de percepção tonal. ■ Cor natural: é a coloração existente na natureza. Para a reprodução aproximada de sua infinita variedade. ■ Cor aparente ou acidental: é a cor variável apresentada por um objeto, segundo a propriedade da luz que o envolve ou a influência de outras cores próximas. ■ Cor induzida: é a coloração acidental de que se tinge uma cor sob a influência de uma cor indutora. Nessa indução reside a essência da beleza cromática. Em certa medida, podemos classificar como indução as manifestações dos contrastes simultâneos de cores, das mutações cromáticas e do fenômeno da cor inexistente. 82UNIDADE IV Desenho e Cromatização ■ Cor irisada: é a que apresenta fulgurações análogas às cores espectrais, co- muns das asas de borboletas e nas refrações de um modo geral. ■ Cor dominante: é a que ocupa a maior área da escala em determinada relação cromática. ■ Cor local: é o conjunto de dados e circunstâncias que, numa obra de arte, carac- teriza o lugar e o tempo. ■ Cor crua: é a cor pura, que não apresenta gradações. ■ Cor cambiante por: é a cor que varia segundo o ângulo em que se coloca o observador em relação ao objeto colorido. ■ Colorido: diz-se da distribuição das cores na natureza. Efeito da aplicação de cor-pigmento (ou tinta) sobre uma superfície. Como você pode observar caro(a) aluno(a), trabalhar com cores nos permite ex- plorar um universo de possibilidades; essas possibilidades devem estar alinhadas com os objetivos do projeto, para que o recurso seja utilizado como impulsionador e agregador na composição visual como um todo da proposta que você estará desenvolvendo em seu processo criativo por meio do desenho. 83UNIDADE IV Desenho e Cromatização 4. CRIAÇÃO DE PROJETOS CROMATIZADOS Ao projetarmos uma composição visual, se faz necessário traçar um objetivo, para que o resultado dessa composição fique harmônico e legível; quando projetamos por meio do desenho, é necessário pensar nas linhas, cores, formas e texturas que estamos imprimindo na proposta visual, para que a leiturabilidade do projeto seja possível. Doyle (2007) nos diz que: Nos estágios iniciais do processo de design, uma de suas tarefas é utilizar a linguagem da ilustração para rapidamente transformar as muitas decisões a respeito de forma, espaço, proporção, escala e atmosfera de um projeto em imagens – normalmente chamadas de estudos ou esboços – para sua própria avaliação e para revisão feita por terceiros. Algumas dessas imagens podem ser perfeitamente transmitidas através de meros croquis. No entanto, é a comunicação visual da informação complementar a respeito do caráter do espaço – cor, luz, materiais, padrões, texturas e acessórios – que vai trans- formar um espaço em um ambiente (DOYLE, 2007, p. 60). Pensar na cromatização dos projetos de uma forma criativa, inovadora e que atenda o Briefing e vá ao encontro das necessidades estéticas e estilísticas que o públi- co procura, nem sempre é tarefa fácil; pelo contrário, é necessário conhecer a fundo o público para o qual o projeto se destina e assim pode articular possibilidades cromáticas para impactar positivamente o consumidor final do projeto. Heller (2013) nos traz algumas atribuições no que tange os tipos de contrastes entre algumas cores e como as pessoas percebem esse processo. 84UNIDADE IV Desenho e Cromatização TABELA 2 - CONTRASTES TONAIS E SEU IMPACTO Cores Psicologicamente opostas Contraste Simbólico Vermelho - Azul Ativo-Passivo Quente-Frio Ruidoso-Silencioso Masculino-Feminino Corpóreo-Mental Vermelho - Branco Forte-Fraco Cheio-Vazio Passional-Insensível Azul - Marrom Mental-Terreno Nobre-Plebeu Ideal-Real Amarelo - Cinza e Laranja - Cinza Radioso-Turvo Exibido-Secretivo Laranja - Branco Colorido-Incolor Insolente-Recatado Verde - Violeta Natural-Antinatural Realístico-Mágico Branco - Marrom Limpo-Sujo Nobre-Plebeu Claro-Abafado Inteligente-EstúpidoPreto - Rosa Forte-Fraco Grosseiro-Delicado Duro-Macio Insensível-Sensível Exato-Difuso Grande-Pequeno Masculino-Feminino Prata - Amarelo Frio-Quente Decente-Insolente Metálico-Imaterial Ouro - Cinza e Ouro - Marrom Puro-Impuro Caro-Barato Nobre-Trivial Fonte: Heller (2013, p. 159). 85UNIDADE IV Desenho e Cromatização Conhecendo as principais percepções a respeito dos contrastes tonais, você enquanto profissional da área criativa poderá trabalhar usando dessas referências para construir cartelas de cores e variações tonais que valorizem o produto final em seu proces- so criativo. Quando falamos em projeto e pensamos em desenho, quanto mais completa for a atmosfera de seu projeto, mais encantador será para o cliente ou público alvo; você poderá se conectar com este público e agradá-lo na medida em que você explora a fundo as possibilidades cromáticas e criativas e se conecta com as necessidades do cliente, conforme nos fala Doyle (2007): Para criar suas ilustrações de projeto, talvez seja interessante ter uma gran- de variedade de referências visuais sempre à mão. Este banco de informa- ções, formado por livros de fotografias, revistas, etc., permitir-lhe terminar seus desenhos mais rapidamente. Ele pode incluir imagens de pessoas (de pé, sentadas, recostadas, caminhando), materiais de construção, elementos paisagísticos (árvores, arbustos, pisos, paisagens distantes, silhuetas de edi- fícios), veículos (inclusive bicicletas), situações diversas de iluminação (in- terna e externa), materiais refletores (águas corrente ou tranqüilas, vidros, janelas, metais), materiais de decoração (acabamentos, móveis e objetos) e uma coletânea de tudo aquilo que você possa precisar, caso seu projeto seja especializado, como animais, barcos ou aviões (DOYLE, 2007, p. 78). Para cada área que desenvolve projetos e usa o desenho como ferramenta, pode- mos explorar diferentes possibilidades, vejamos algumas delas a seguir: FIGURA 15 - PROJETO DE INTERIORES MAXIMALISTA EM GIZ GEL AQUARELÁVEL Fonte: O Autor (2021). 86UNIDADE IV Desenho e Cromatização FIGURA 16 - ESTUDO ARQUITETÔNICO CRIATIVO EM AQUARELA. Fonte: O autor (2021). FIGURA 17 - PERSPECTIVAS E CORES NO PROJETO DE MOBILIÁRIO EM AQUARELA E NANQUIM Fonte: O autor (2021). 87UNIDADE IV Desenho e Cromatização FIGURA 18 - ESTUDO DE FORMAS BOTÂNICAS E HUMANAS EM TINTA GUACHE. Fonte: O autor (2021). É válido reforçar caro(a) aluno(a), que o processo de desenho a mão livre é uma ferramenta única, pois além de permitir a livre expressão do profissional, também faz com que cada proposta visual apresentada tenha personalidade, pois dificilmente será possível replicar um desenho igualmente duas vezes. Para mostrar isso, executamos um esboço de paisagem em aquarela, e mesmo fazendo o processo nas duas partes ao mesmo tempo, os resultados são diferentes. Observe a figura a seguir: FIGURA 19 - ESTUDO DE REPLICAÇÃO DE PAISAGEM EM AQUARELA Fonte: O autor (2021). 88UNIDADE IV Desenho e Cromatização O universo do desenho nos permite explorar não só as técnicas, mas também a forma de pensar a aplicação de cores e a construção do traçado. O que você deve sempre ter em mente, é que cada um possui uma forma de criar por meio do desenho, por isso é importante que você domine a técnica que mais lhe agradar e aos poucos você construirá a sua própria linguagem criativa de desenho, trazendo cada vez mais personalidade para seus projetos. SAIBA MAIS Compor até mesmo a mais simples natureza morta pode parecer desafiador se você nunca fez isso antes, segue algumas dicas para ajudá-lo: Escolha uma variedade de objetos que se complementam. Mantenha a simplicidade. Decida onde arranjar sua natureza morta. Monte algum tipo de plano de fundo atrás da natureza morta. Decida o que usar como base. Experimente várias posições. Pense se vai usar o papel na vertical ou na horizontal. Encontre uma posição confortável para desenhar. Fonte: Combs e Hoddinott, 2016, p. 238. 89UNIDADE IV Desenho e Cromatização CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa unidade, estimado aluno (a), observamos as principais considerações sobre o processo de desenho atrelado ao universo da cor, conhecendo algumas técnicas e seus resultados e compreendendo qual a importância desses processos para a realização de projetos e externalização de sua criatividade. A diversidade de desenhos existentes (ilustração técnica, ilustração artística, dese- nho de observação, desenhos técnicos, desenho esquemático etc.) nos mostra um campo de atuação amplo e versátil, portanto nos permite transitar de forma criativa entre as várias possibilidades, desde que a intencionalidade com o desenho seja clara para você aluno(a). O processo de desenhar nos permite acessar nosso repertório e ainda combiná-lo a demais áreas do conhecimento em prol de explorar a visualidade como forma de expres- são, e assim criar composições únicas, com personalidade criativa e domínio técnico. A proposta aqui foi mostrar a você maneiras simples de observar e entender aquilo que se vê e como levar aquilo que se projeta na mente, para o papel, usando como técnica alguns diferentes materiais. Continue exercitando, experimente diferentes materiais, combine-os de forma criativa e aos poucos você irá conseguir uma linguagem autoral no que diz respeito a repre- sentação gráfica por meio do desenho. Seja criativo!!! 90UNIDADE IV Desenho e Cromatização LEITURA COMPLEMENTAR Desenho como pensamento Apesar de a linguagem verbal predominar em nossas universidades, como exposto anteriormente, o raciocínio visual não limita o pensamento científico. Um exemplo é o tra- balho de Einstein (1879 – 1955), um dos cientistas mais importantes de todos os tempos, que ao escrever sobre seu processo criativo disse que a imagem visual ocorria primeiro e que a palavra a acompanhava (MILLER, 1989 apud AYIRAN, 2008). Não há como deduzir o grau de importância dessa forma particular de pensar no desenvolvimento da teoria da relatividade, mas, para Miller, o conhecimento do cientista alemão está relacionado às imagens visuais que ele utilizava em seus estudos (MILLER, 1989 apud AYIRAN, 2008). Leonardo da Vinci (1452-1519) é citado por alguns autores como o primeiro desig- ner, por ter desenvolvido estudos não somente de anatomia, mas de óptica e de mecânica, entre outros (BÜRDEK, 2006). Em seus cadernos e anotações, é nítida a importância do desenho para o seu raciocínio intelectual. Gombrich (2012) ressalta que o desenho como forma de pensamento e expressão não precisa ser uma representação explícita da realida- de. Nos desenhos de anatomia feitos por Leonardo da Vinci, eram subtraídas ou reveladas partes do corpo, dependendo do objetivo do artista. A imagem, portanto, embora buscasse uma representação naturalista, era também editada. Para Gombrich, “[...] a imagem realista de uma dissecação não apenas provocaria a aversão, como também, provavelmente, não conseguiria mostrar aspectos que devem ser visualizados” (GOMBRICH, 2012. p. 51). Por isso, os desenhos de Leonardo da Vinci são exemplos da supressão deliberada de certas características em prol da maior clareza do conceito. Os seus esboços não são retratos fiéis do que é visto pelos olhos humanos, mas expressões visuais funcionais, cor- tes em vistas, e ilustrações que o artista fez sobre a estrutura do corpo humano, a fim de visualizar melhor suas partes, músculos, ossos e componentes. Nos dias atuais, vários autores defendem o uso de ferramentas e técnicas de proje- to que priorizam o “pensamento visual” (BAXTER, 2000; BROWN, 2010. LÖBACH, 2001). É neste contexto, por exemplo, que o método de criação de mapas mentais se insere. Ele é a representação visual das relações existentes em diferentes tópicos, e oferece um senso mais intuitivo do todo sem impor estruturas fixas para interpretação (BROWN, 2010). 91UNIDADE IV Desenho e Cromatização O mapa mental é uma ferramenta de visualizaçãodesenvolvida por Buzan (2009) que apresenta o objeto principal no centro de uma página e suas demais conexões, utili- zando ilustrações e figuras para melhor expressá-las. Este método é destinado a arma- zenar, organizar e priorizar informações, porém, ao contrário dos sistemas tradicionais de anotação, como os textos lineares, o mapa mental adota um esquema de ramificações e desenhos que se irradiam em torno de uma ideia principal. Método semelhante com relação à expressão visual não linear criada por Buzan (2009) é utilizado no ensino, mas com o nome de mapas conceituais para aprendizagem significativa (MOREIRA, 2012). Os mapas conceituais são instrumentos que podem gerar modificações positivas na maneira de ensinar, avaliar e de aprender. Para Moreira (2012) esses mapas “[...] procuram promover a aprendizagem significativa e entram em choque com técnicas voltadas para aprendizagem mecânica” (MOREIRA, 2012, p. 08). Baxter (2000) apresenta também, como ferramenta visual, os painéis de imagens para transmitir certos sentimentos e emoções ao projeto dos produtos a serem desenvol- vidos. Através dos painéis de estilo de vida, painéis de expressão do produto e painéis do tema visual, o designer é capaz de visualizar, por meio das inúmeras imagens coletadas, como deverá ser projetado o produto. Após a construção dos três tipos de painéis, é possí- vel, então, concentrar-se no estilo do novo produto. Todos esses métodos e ferramentas visuais vêm ao encontro da definição de Zhu (2010) para as “bibliotecas visuais”. Segundo o autor, a função do designer é solucionar problemas. Contudo, para isso, é necessário compreender o contexto em que está inserido este problema. Analisando o que está desenhando, o designer está alimentando o seu cérebro com potenciais soluções e ideias visuais. Para Zhu (2010, s/p): Alguns desses elementos incluem a compreensão da forma, perspectiva, ma- teriais, luz e composição. Com relação à biblioteca visual, desenhando temas como pássaros, plantas, aeronaves, carros, insetos, pessoas e etc., você apresenta seu cérebro às formas e proporções que criam esses temas. Infelizmente, apenas incentiva-se a ampliar a biblioteca visual de cada indivíduo enquanto se é criança. O ato de desenhar é desencorajado pela sociedade muito antes do indivíduo entrar na faculdade, pois até mesmo no ensino fundamental ou no médio, os alunos são incentivados a pensar de forma cartesiana e linear, raramente utilizando o desenho como forma de pensamento (ZHU, 2010). Então, quando elas entram para a fa- culdade ou em uma escola de design, elas já esqueceram completamente como desenhar, e muitas dessas escolas nem mesmo oferecem o tipo de curso adequado de desenho, e, consequentemente, de pensamento (ZHU, 2010). 92UNIDADE IV Desenho e Cromatização Segundo Gomes (1996), muitas pessoas acreditam que o verbo e a aritmética são suficientes para que o indivíduo se desenvolva plenamente. Porém, este pensamento é equi- vocado e demonstra que boa parte dos governantes que embasam e direcionam a educação formal talvez nunca utilizaram a expressão do desenho. Desta forma, desconhecem e desva- lorizam o potencial que o desenho proporciona para que as pessoas participem diretamente dos processos de transformação, aprimoramento e mudanças culturais (GOMES, 1996). Fonte: FERNANDES, Stefan von der Heyde; SILVA, Tânia Luisa Koltermann da. A prática do desenho e seu papel no desenvolvimento de projeto de produto. XXI simpósio nacional de geometria analítica e desenho técnico. Graphica 13, Florianópolis. Disponível em http://www.exatas.ufpr. br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2018/02/A-PRATICA-DO-DESENHO-E-SEU-PA- PEL-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-PROJETO-DE-PRODUTO.pdf . Acesso em: 30 set. 2021. http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2018/02/A-PRATICA-DO-DESENHO-E-SEU-PAPEL-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-PROJETO-DE-PRODUTO.pdf http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2018/02/A-PRATICA-DO-DESENHO-E-SEU-PAPEL-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-PROJETO-DE-PRODUTO.pdf http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2018/02/A-PRATICA-DO-DESENHO-E-SEU-PAPEL-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-PROJETO-DE-PRODUTO.pdf 93UNIDADE IV Desenho e Cromatização MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Manual do Artista Autor: Ralph Mayer. Editora: Martins Fontes. Ano: 2015. Sinopse: O Manual do Artista tornou-se uma obra de referência indispensável para milhares de artistas em todo o mundo. A 5º edição, que serviu de base para a presente tradução, foi prepa- rada por Steven Sheehan, diretor do Ralph Mayer Center, Yale University School of Art, nos Estados Unidos. O texto vem sendo sistematicamente revisado e ampliado para incorporar os resulta- dos das mais recentes pesquisas. Trata-se de obra da mais alta importância no campo da arte; não existe outro livro que tenha uma abrangência tão grande, nem que desfrute de tão grande reputação em todo o mundo. FILME / VÍDEO Título: Abstract Ano: 2017 Sinopse: Descubra como pensam designers inovadores e saiba como influenciam todos os aspectos da nossa vida. 94UNIDADE IV Desenho e Cromatização REFERÊNCIAS ABLING, Bina. Desenho de moda volume 1. São Paulo: Blucher, 2011. AMBROSE, Gavin; HARRIS, Paul. Fundamentos de design criativo. Porto Alegre: Bookman, 2012. CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Representação gráfica para desenho e projeto. Barce- lona: Gustavo Gili, 2001. COMBS, J.; HODDINOOTT, B. Desenho para leigos. Rio de Janeiro: Atlas Books, 2016. COSTA, C. Questões de Arte: o belo, a percepção estética e o fazer artístico. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. CURTIS, Brian. Desenho de observação. 2. Ed. Porto Alegre : AMGH, 2015. DOYLE, Michael E. Desenho a cores: técnicas de desenho de projeto para arquitetos, paisagistas e designers de interiores. Porto Alegre: Bookman, 2007. FRANCIS, D. K. Ching. Arquitetura, Forma, Espaço e Ordem. Barcelona: Gustavo Gili, 2015. GOMES FILHO, J. Gestalt do Objeto: Sistema de Leitura Visual da Forma. 8. ed. São Paulo: Escrituras, 2009. HELLER, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo: Gustavo Gili, 2013. KANDINSKY, V. Linha e Ponto sobre o Plano. São Paulo: Martins Fontes, 2001. LOURENÇO, F.; SAM, J. O. Vitrina - veículo de comunicação e venda. São Paulo: SENAC, 2011. MUNARI, B. Design e comunicação visual: contribuição para uma metodologia didática. São Paulo: Martins Fontes, 1997. PEDROSA, I. Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2010. 95 CONCLUSÃO GERAL Caro(a) aluno(a), você fez uma fascinante viagem pela disciplina de Meios de Expressão, buscando aflorar o seu lado artístico e criativo em todos os aspectos, com um estilo de representação gráfica único. Buscamos revelar para você, futuro profissional da área criativa, os processos cognitivos que dominam a percepção e a expressão visual. Este material une os princípios fundamentais do desenho enquanto ferramenta criativa para a construção de projetos para uma abordagem aos aspectos mais importantes do desenho artístico, observamos e estudamos os diferentes tipos de recursos e estratégias de desenho, mostrando como executá-los e onde aplicá-los para obter resultados visuais criativos e com personalidade. Lembre-se que todo profissional criativo desenvolve uma linguagem própria no seu traço, que se transforma em sua marca pessoal, assim como uma metodologia projetual, na qual o croqui é parte integrante e fundamental deste processo. Cabe agora a você, aluno(a), usar os recursos apresentados neste material para construir sua linguagem de expressão usando o desenho como base. Os conteúdos aprendidos no decorrer deste material certamente estarão presentes por toda sua vida profissional; assim, esperamos que você continue se aprimorando, e explorando a criatividade por meio das diferentes técnicas de representação, seja de formaisolada ou combinando-as, nunca deixe de se expressar, pois a criatividade é um diferencial único no mercado de trabalho. Até breve! +55 (44) 3045 9898 Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR www.unifatecie.edu.br UNIDADE I Desenho de Observação UNIDADE II Linguagem Visual Aplicada ao Desenho UNIDADE III Tipologia das Representações UNIDADE IV Desenho e Cromatização