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Petição-Inicial-Caso-01-Pratica Juridica Real


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JUÍZO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE VITÓRIA — ESTADO DO 
ESPÍRITO SANTO 
 
 
 
 
 
 
 
IDAMAR XXX, estado civil XXX, profissão XXX, CPF nº XXX, e-mail XXX, domiciliado 
na Rua Dr. Arlindo Sodré, n. XXX, 1° pavimento, bairro Itararé, cidade de Vitória, Estado do 
Espírito santo, CEP 29.047-500, vem respeitosamente à Vossa Excelência, por meio dos seus 
advogados qualificados na procuração em anexo, com fulcro nos arts. 1.210, 1.510, 1.288, 
1.277, 1.299, 1311, 1336, 1343, 1.510-B e § único, todos do Código Civil brasileiro, ajuizar, 
 
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C AÇÃO DE MANUTENÇÃO DA 
POSSE C/C AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER, COM PEDIDOS 
DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E TUTELA DE URGÊNCIA, 
 
em face de MARIA DA HORA XXX, estado civil XXX, profissão XXX, CPF nº XXX, e-mail 
XXX, domiciliada na Rua Dr. Arlindo Sodré, n. XXX, 2° pavimento, bairro Itararé, Cidade de 
Vitória, Estado do Espírito santo, CEP 29.047-500, e MARIA DA CONCEIÇÃO XXX, 
estado civil XXX, profissão XXX, CPF nº XXX, e-mail XXX, domiciliada na Rua Dr. Arlindo 
Sodré, n. XXX, 3° pavimento, bairro Itararé, cidade de Vitória, Estado do Espírito santo, CEP 
29.047-500, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. 
1. PRELIMINARMENTE 
1.1. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA 
O autor atualmente está desempregado, tendo por responsabilidade sua própria subsistência, 
razão pela qual não pode arcar com as despesas processuais. Portanto, nos termos do art. 98 c/c 
art. 99, caput e § 3°, ambos do CPC, não possuir recursos suficientes para arcar com as custas, 
as despesas processuais e os honorários advocatícios, motivo pelo qual exerce neste ato o direito 
constitucionalmente assegurado à assistência jurídica integral e gratuita. 
Para tal benefício o autor junta declaração de hipossuficiência e comprovante de ausência de 
renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas judiciais sem 
comprometerem sua subsistência, conforme clara redação do art. 99 do CPC. Assim, por 
simples petição, sem outras provas exigíveis por lei faz jus autor ao benefício de gratuidade de 
justiça. Por tais razões, com fulcro no artigo 5°, inciso LXXIV da Constituição Federal de 1988 
e pelo artigo 98 do CPC, requer que seja deferida a gratuidade de justiça ao requerente. 
2. DOS FATOS 
O autor herdeiro do apartamento que ocupa no pavimento térreo, em virtude do falecimento de 
sua genitora Tereza XXX, em um imóvel localizado na Rua Arlindo Sodré, número XXX, 
bairro Itararé, nesta cidade, inscrição imobiliária na Prefeitura Municipal de Vitória número 
04.04.009.0341.001 e inscrição fiscal número 2-10661964, em pavimento imediatamente 
inferior aos apartamentos das rés. 
A época da fundação e construção inicial do imóvel foi o próprio pai do autor quem o construiu, 
por ser profissional da construção civil. Os dois andares superiores foram construídos com 
intuito de guardar objetos e servir de cobertura. Deste modo, o imóvel não foi construído com 
estrutura reforçada para suportar aumento de peso ou novas construções. 
Há doze anos, aproximadamente, os dois andares de cima foram vendidos a pessoas que o autor 
desconhece, que revenderam os pavimentos superiores às rés acima qualificadas. Com a nova 
venda, de imediato começaram obras de reforma, obras estas realizadas sem autorização da 
Prefeitura Municipal de Vitória. Assim que houve condições de moradia, as rés ocuparam cada 
uma, seu respectivo pavimento e fixaram moradia: a Sra. Maria da Hora ocupou o 1° Pavimento 
e a Sra. Maria da Conceição o 2° Pavimento. 
Estas obras irregulares, após a venda, ocasionaram excesso de peso nos andares superiores do 
imóvel, gerando colapso na estrutura do imóvel pela sobrecarga de peso, afetando diretamente 
a estrutura basilar. É possível observar rachaduras em alvenaria e em vigas no pavimento térreo, 
além de ferragens expostas. Além disso, um dos portões de acesso a residência do pavimento 
térreo não pode mais ser aberto para acesso à residência porque a estrutura do imóvel cedeu 
com o peso, travando este portão no solo. Estas obras realizadas pelas rés trouxeram inúmeros 
outros problemas ao autor: comprometeu a rede elétrica; canos de suprimento de água foram 
quebrados, provocando graves infiltrações no imóvel, deixando-a precária. 
Observando que as obras dos andares superiores causaram grandes danos à estrutura do imóvel 
e temendo riscos que poderiam advir ao imóvel e às vidas que o ocupam, o autor protocolou 
requerimento de vistoria técnica à Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de 
Vitória. No Relatório Técnico de Vistoria n° 341/2019 emitido em 06/06/2019 pelo órgão 
municipal, constatou-se Risco Médio para o pavimento térreo (moradia do autor), devendo 
urgente ser feita reestruturação de todo imóvel. Por risco médio subentende-se o risco de 
provocar a perda parcial de desempenho e funcionalidade da edificação sem prejuízo à operação 
direta de sistemas, e deterioração precoce. A orientação do órgão é buscar auxílio técnico 
qualificado para indicar a adequada intervenção a fim de evitar a evolução do grau desse risco. 
Em síntese, são necessárias obras de manutenção das condições de estabilidade, segurança e 
salubridade do imóvel. 
Desta forma, o Requerente realizou orçamentos de materiais e mão de obra para realização do 
serviço que se encontram na integra anexo e resumido abaixo para melhor compreensão: 
 - Média de preço do material ................................................... R$ 2.700,00; 
 - Mão de obra ........................................................................... R$ 14.800,00; 
 - Valor total: R$ 17.500,00 (Dezessete mil e quinhentos reais) 
Destaca-se que a necessidade desta reestruturação irá danificar inteiramente o imóvel em que o 
autor reside (demandará remover cerâmica, quebrar paredes, necessidade de nova pintura, em 
síntese, todo acabamento do imóvel). Deste modo, nova reforma visando reparar o acabamento 
do imóvel do autor será necessária após a obra de reestruturação (colunas e vigas). 
As Requeridas foram cientificadas sobre os danos causados ao primeiro pavimento e da 
necessidade de promoverem obras urgentes de reparo do imóvel em virtude do risco atribuído 
pela prefeitura municipal. Inclusive as rés compareceram a sessões de mediação no Núcleo de 
Prática Jurídica da Faculdade De Direito De Vitória — FDV visando promoção de acordo 
extrajudicial. Contudo, às rés se negam a, exclusivamente, custearem o valor das obras de 
reestruturação, argumentando que o autor também deveria contribuir com os custos por também 
ser morador do imóvel. Apesar de cientes, as rés mantêm-se inertes. 
Como se não bastasse, além de não providenciarem a reestruturação necessária do imóvel, visto 
que a obras irregulares ocasionaram todos os problemas posteriores, as rés proíbem o autor de 
ter acesso aos andares superiores do imóvel, impedindo-o de ter acesso à caixa d’água 
responsável por disponibilizar água no primeiro pavimento. Deste modo, o autor não consegue 
realizar manutenção periódica e limpeza da caixa d’água, podendo trazer sérios riscos à saúde 
de quem a consome, que é o próprio autor. Outrossim, as rés desrespeitam boas práticas, regras 
mínimas de convivência entre vizinhos, por incomodarem o autor diariamente ocasionado por 
barulhos advindos dos andares superiores, circunstancias estas que iniciam bem cedo pela 
manhã que perduram até horários da madrugada, colocando o autor em situação de desconforto 
e incômodos desnecessários. 
Assim, tem-se configurado o ato ilícito, motivando a presente ação, para fins de que seja 
determinada a realização das obras de reestruturação necessárias para cessar o risco estrutural 
do imóvel e à segurança dos ocupantes, cumulativamente fazer cessar o permanente estado de 
perturbação. 
Estes são os fatos em que há de se aplicar o direito. 
2. DO DIREITO 
2.1. DO DANO ESTRUTURAL 
Como demonstrado pelos fatos narrados acima, provas anexase provas testemunhais que serão 
produzidas no presente processo, o nexo causal entre o dano e a conduta das rés fica 
perfeitamente caracterizado pelas obras irregulares realizadas pelas rés após compraram seus 
pavimentos, excedendo o peso suportado pela estrutura vigente, causando ruinas e rachaduras 
no andar inferior. 
O Código Civil brasileiro conforme disposto nos artigos 1299 e 1311 preconiza que o 
proprietário pode levantar construções que lhe provier, mas para isso deve respeitar os direitos 
do vizinho. Ademais, não é permitida a execução de qualquer obra ou serviço suscetível de 
provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou que comprometa a segurança do prédio 
vizinho. As rés desconsideraram os preceitos da lei civil brasileira e realizaram suas construções 
a bel prazer, bem como sem as devidas autorizações dos órgãos municipais fiscalizadores. 
Torna-se claro, portanto, que tais danos ao imóvel do Requerente só ocorreram em decorrência 
da reforma dos andares superiores do imóvel feita de forma negligente. Sendo devido, portanto, 
a obrigação de fazer a recuperação do patrimônio lesado por meio da indenização, conforme 
parágrafo único do art. 1311. 
É neste sentido a jurisprudência do Egrégio STJ: 
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE CONSTRUIR. AÇÃO DEMOLITÓRIA. 
PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E PAISAGÍSTICO DE OLINDA. 
REFORMA DE IMÓVEL RESIDENCIAL SEM LICENÇA URBANÍSTICA E EM 
DESACORDO COM EXIGÊNCIAS LEGAIS. ARTS. 187, 1.228, § 1º, 1.299 E 1.312 
DO CÓDIGO CIVIL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA INICIAL. LEGITIMIDADE 
PASSIVA. POSSUIDORA DIRETA E RESPONSÁVEL PELO ACRÉSCIMO AO 
IMÓVEL. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 934, III, DO CPC. PERICULUM 
IN MORA REVERSO. UNESCO. CONVENÇÃO RELATIVA À PROTEÇÃO DO 
PATRIMÔNIO MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL. DIREITO DE 
CONSTRUIR E AÇÃO DEMOLITÓRIA 1. Inexiste direito de construir absoluto, 
na exata medida das limitações urbanístico-ambientais e da tutela dos vizinhos 
incidentes sobre o próprio direito de propriedade, que lhe dá origem e serve de 
suporte (art. 1.228, § 1º, do Código Civil). Embora caiba ao proprietário levantar 
em seu terreno as construções que lhe aprouverem, ficam ressalvados os direitos 
dos vizinhos e os regulamentos administrativos (art. 1.299 do Código Civil). Tal 
preceito se harmoniza com o princípio da função social da propriedade (art. 5°, 
XXIII, da Constituição Federal) e com o espírito da nova codificação civil, que 
considera ato ilícito o exercício de direito quando excede manifestamente os 
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons 
costumes (art. 187 do Código Civil). [...] 3. Apesar de o art. 1.299 do Código Civil 
referir-se apenas à figura do proprietário, o art. 1.312 prescreve que "Todo aquele que 
violar as proibições estabelecidas nesta Seção é obrigado a demolir as construções 
feitas, respondendo por perdas e danos". O dispositivo destina-se a quem descumprir 
obrigação de não fazer construção que ofenda comandos legais ou administrativos, 
assim como as normas de postura, seja na condição de possuidor, seja na de 
proprietário, seja na de simples detentor ocasional do imóvel. [...] 6. Tal qual quando 
socorre as promessas do futuro, o ordenamento jurídico brasileiro a ninguém atribui, 
menos ainda para satisfazer interesse individual ou econômico imediatista, o direito 
de, por ação ou omissão, destruir, inviabilizar, danificar, alterar ou comprometer a 
herança coletiva e intergeracional do patrimônio ancestral, seja ele tombado ou não, 
monumental ou não. 7. Cabe ao Poder Judiciário, no seu inafastável papel de último 
guardião da ordem pública histórica, cultural, paisagística e turística, assegurar a 
integridade dos bens tangíveis e intangíveis que a compõem, utilizando os 
mecanismos jurídicos precautórios, preventivos, reparatórios e repressivos fartamente 
previstos na legislação. Nesse esforço, destaca-se o poder geral de cautela do juiz, 
pois, por mais que, no plano técnico, se diga viável a reconstrução ou restauração de 
imóvel, sítio ou espaço protegido, ou a derrubada daquilo que indevidamente se 
ergueu ou adicionou, o remendo tardio nunca passará de imitação do passado ou da 
Natureza, caricatura da História ou dos processos ecológicos e geológicos que 
pretende substituir. 8. Recurso Especial parcialmente conhecido, e, nessa parte, não 
provido. (REsp 1293608/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA 
TURMA, julgado em 04/12/2012, REPDJe 24/09/2014, DJe 11/09/2014) (grifo 
nosso). 
Não obstante, o Art. 1.510-B do CC, preceitua que é expressamente vedado ao titular da laje 
prejudicar com obras novas ou com falta de reparação a segurança, portanto, as rés na condição 
de titulares das construção devem responder pelos danos que resultaram na ruína do imóvel do 
Autor. Além disso, os Arts. 1.336, incisos II, III e IV, bem como o art. 1343, todos do CC, 
determinam que a construção de outro pavimento, destinado a conter novas unidades 
imobiliárias, depende de aprovação dos condôminos. Bem como são deveres dos condôminos 
não realizar obras que comprometam a segurança da edificação; dar às suas partes a mesma 
destinação que tem a edificação, não prejudicando o sossego, salubridade e segurança dos 
possuidores. 
São perfeitamente aplicáveis ao presente caso estas argumentações, nos termos dos artigos 
acima expostos, visto que, a pretexto de exercer o direito real de laje, embora as Requeridas 
tinham o direito de utilizar seu imóvel da melhor maneira que lhe convier, tem-se configurado 
abuso de direito na utilização, no momento em que realizaram obras desautorizadas pelos 
condôminos e órgãos competentes, obras estas sem as devidas precauções e observância dos 
limites estruturais do imóvel, ocasionando nas ruinas e necessidades de reestruturação do 
pavimento térreo. 
2.2. DO ESBULHO POSSESSÓRIO 
Como demonstrado acima, o autor é proprietário e exercia a posse legítima do bem imóvel, 
devendo ser considerada possuidor, pois preencheu os requisitos ao exercício do direito de 
posse. Verifica-se que o autor teve seu direito cerceado pela atitude das rés, o qual tomaram 
parcialmente a posse das áreas de acesso comum do imóvel, impedindo o Autor de frequentá-
los (esbulho parcial da posse). Neste sentido, o Autor não pode ter acesso à sua caixa d’água 
no terraço do imóvel, ocasião essencial para manutenção e limpeza, bem como cessar riscos a 
saude dos utilizadores da água que supre a casa do Autor. Portanto, uma vez que vão de encontro 
ao preceito jurídico instituído pelo art. 1.210, CC, o autor tem o direito a ser mantida a posse 
visto que está configurado o esbulho parcial. In verbis: 
Art. 1.210, CC. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, 
restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser 
molestado. 
Há de se destacar também que os artigos 1.510-C e 1288 do CC preceituam que as despesas 
necessárias à conservação e fruição das partes que sirvam a todo o edifício e ao pagamento de 
serviços de interesse comum serão partilhadas entre o proprietário da construção-base e o titular 
da laje, deixando claramente nos incisos que os alicerces, colunas, pilares, paredes-mestras e 
todas as partes restantes que constituam a estrutura do prédio devem ser consideradas de 
interesse comum, bem como as instalações gerais de água, esgoto, eletricidade, em geral, as 
coisas que sejam afetadas ao uso de todo o edifício. Outrossim, o 1.288 deixa claro que a 
condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono 
ou possuidor do prédio superior. 
Pelo presente, o autor objetiva a reintegração de sua posse em face dos réus, posto que o diploma 
Civil brasileiro conforme artigo 1.210 do CC protege estas circunstâncias, determinando que o 
bem seja restituído na constatação da existência do esbulho possessório. Ou seja, diante da 
necessária restituição do acesso à caixa d’água, outro não poderia ser o entendimentose não do 
provimento da presente ação, concedendo a imediata reintegração de posse ao autor, bem como 
garantido após a plena reestruturação necessária e urgente do imóvel. 
2.3. DA PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO 
O Requerente também destaca a importunação constante em seus ouvindo, perturbando seu 
sossego, diante dos barulhos produzidos pelas Requeridas durante as obras ora realizadas. Sabe-
se, Excelência, que o autor é homem de boa conduta social, que sempre prezou (ou ao menos, 
tentou) pela boa convivência com as vizinhas, demonstrando-se tolerante e procurando o 
diálogo com as rés. Entretanto, a recíproca não se faz verdadeira. 
Conforme já demonstrado nesta peça inicial, os arts. 1299 e 1311 tratam dos direitos de um 
proprietário de imóvel em construir em seu terreno da maneira que lhe aprouver, mas deve 
respeitar o direito dos vizinhos, e não é permitida a execução de qualquer obra que comprometa 
a segurança do prédio vizinho. 
Ao Autor, no que se refere à vida privada, têm direito ao sossego. É um dos direitos abarcados 
nesta seara. O autor teve seu sossego perturbado pelas requeridas, durante a execução das obras 
que culminaram na deterioração da infraestrutura do imóvel, não apenas pelo barulho 
produzido, mas principalmente pelo desgaste mental e emocional ao perceber os danos 
causados em sua residência. No que dispõe o art. 1.277, do Código Civil: 
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar 
as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o 
habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha. 
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da 
utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações 
em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança. (grifo 
nosso). 
É nítido que o dispositivo normativo supracitado se encaixa plenamente no direito pleiteado 
pelo Requerido, visto que se pode comprovar a partir da vistoria realizada no imóvel pela 
Prefeitura de Vitória (anexo X) que as obras efetuadas pelas Requeridas afetam claramente a 
segurança e a vida do sr. Idamar, desrespeitando o aludido. 
Ademais, no que pese a insegurança com a qual as obras efetuadas pelas Requeridas, cabe 
ressaltar a aplicação teleológica dos dispostos nos arts. 1.311, todos do Código Civil, sendo este 
último dispositivo importante por indicar como dever dos condôminos “não realizar obras que 
comprometam a segurança da edificação”, entendimento que se segue no art. 1.311: 
Art. 1.311. Não é permitida a execução de qualquer obra ou serviço suscetível de 
provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou que comprometa a 
segurança do prédio vizinho, senão após haverem sido feitas as obras acautelatórias. 
Parágrafo único. O proprietário do prédio vizinho tem direito a ressarcimento 
pelos prejuízos que sofrer, não obstante haverem sido realizadas as obras 
acautelatórias. 
Ora, Excelência, resta provado que a relação de copossuidores é estremecida, porém, nada 
justifica a execução de obras que sacrifiquem a vida do Requerente. 
2.4. DO DEVER DE INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS 
Pelas obras irregulares, conforme já demonstrado, as Requeridas causaram danos no pavimento 
térreo, visto que o excesso de peso nos andares superiores fizeram a estrutura do imóvel 
começar a ceder; comprometeu a rede elétrica; canos de suprimento de água foram quebrados, 
provocando graves infiltrações no imóvel, de modo que as obras necessárias de contenção e 
reestruturação do pavimento térreo totalizam aproximadamente o valor de R$ 17.500,00 
(Dezessete mil e quinhentos reais). 
Analisando o Diploma Civil brasileiro percebe-se a previsão legal de reparação dos danos 
àquele que os causou: “Art. 927: aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo”. Verificamos, portanto, a incidência de tal dispositivo legal 
ao contexto fático aqui narrado, uma vez que enquanto os imóveis na posse das Requeridas, 
danificaram a estrutura basilar do imóvel, ocasionando infiltrações no interior da residência, 
rachaduras, ruínas na estrutura, colocando todos os habitantes em risco. 
Como demostrado, tais condutas causaram a necessidade de obras reparatórias urgentes, 
conforme provas que seguem anexas. Portanto, é de ser reconhecido o prejuízo causado e a 
consequente condenação das requeridas nos termos do artigo 927, do CC. 
 
3. DA TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA 
Conforme demonstrado nos fatos acima expostos, além de causarem danos ao patrimônio do 
Autor, as Requeridas o impedem de ter acesso à sua caixa d’água que fica alocada no terraço 
do imóvel responsável por fornecer água ao Autor; impedem o uso do imóvel, uma vez que a 
ruína causa risco à segurança do Autor, e ainda, perturbam o sossego com barulhos 
desnecessários. 
O Art. 1.313 do Código Civil aduz que o proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar 
que o vizinho entre no prédio, mediante prévio aviso, para: I - dele temporariamente usar, 
quando indispensável à reparação, construção, reconstrução ou limpeza de sua casa ou do muro 
divisório; [...] § 1° O disposto neste artigo aplica-se aos casos de limpeza ou reparação de 
esgotos, goteiras, aparelhos higiênicos, poços e nascentes e ao aparo de cerca viva. No que 
tange a necessidade de reformas urgentes é necessário que o autor viva em outro imóvel para 
que a reforma seja procedida, bem como o sossego deve ser assegurado por determinação 
judicial, visto que as rés não observam voluntariamente a boa convivência social. 
Há probabilidade de direito (fumus boni iuris) pois encontra-se no pleno direito do Requerente 
de usufruir do acesso à caixa d’água, pois se classifica como uma das áreas comuns da 
edificação, conforme o art. 1.335, II, CC, é direito do condômino “usar das partes comuns, 
conforme a sua destinação, e contanto que não exclua utilização dos demais copossuidores”. 
Resta claro o perigo da demora (periculum in mora) por se tratar de dano de difícil reparação, 
que tal como os ensinamentos de Didier Jr “é aquele que provavelmente não será ressarcido, 
seja porque as condições financeiras do réu não autorizam supor que não será compensado ou 
restabelecido, seja porque, por sua própria natureza, é complexa sua individualização ou 
qualificação precisa (...)”. É nítido que, caso a tutela que venha permitir o livre acesso às áreas 
comuns do imóvel não seja concedida, as requeridas continuaram a impedir o acesso do Sr. 
Idamar à caixa d’água, dificultando que este tome as medidas necessárias tanto para reparação 
e manutenção como para as reformar necessárias para garantir sua segurança, inclusive 
preocupando-se com a segurança das requeridas. 
Tal pedido também encontra fundamento na jurisprudência estadual, vejamos decisão proferida 
pelo magistrado nos autos do proc. Nº 0003187-44.2019.8.08.0004, publicado no DOU em 
janeiro de 2020: 
Para tomar ciência da decisão: 
DEFIRO ASSISTÊNCIA GRATUITA. 
Cuida-se do pedido de Antecipação de tutela formulado por Aureliano Gonçalves da 
Costa Filho em face de Amador Francisco Gonçalves da Costa para que efetue a 
retirada dos dois portões na subida da escada que dá acesso aos andares superiores, 
como também a retirada da porta que dá acesso à caixa d'água, inviabilizando a 
passagem do requerente e de sua família, e que seja interditada a obra mencionada nas 
fls.47, pois, não podendo suportar outras construções, corre risco do prédio desabar. 
É O RELATÓRIO. DECIDO. Para o deferimento da tutela de urgência, é necessário 
verificar a presença dos elementos autorizativos para a sua concessão, quais sejam, o 
fumus boni iuris e o periculum in mora. O artigo 300, do Código de Processo Civil 
assim dispõe: Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos 
que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado 
útil do processo.§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida 
quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. No caso dos autos, 
estão preenchidos os requisitos para o deferimento da tutela de urgência. Ao analisar 
os documentos acostados aos autos, em especial o de fl. 28 (Contrato Particular de 
Doação e Transferência de Direitos de Posse do Imóvel), foi possível identificar que 
era de conhecimento do réu que a Caixa d'água constituía uma área de uso comum, 
e consequentemente deveria ser preservado o acesso ao donatário (requerente), 
que possui uma unidade em outro andar do mesmo prédio. Tal disciplina decorre 
da lei, bastando analisar o que dispõe o art. 1.335, II, do CC, senão vejamos: Art. 
1.335. São direitos do condômino: II - usar das partes comuns, conforme a sua 
destinação, e contanto que não exclua a utilização dos demais compossuidores; desta 
forma, uma vez obstacularizada a utilização da área comum ao autor, entende-
se que a ilegalidade deva ser sanada, garantindo-se o livre acesso ao local. Quanto 
à construção realizada, extrai-se dos documentos de fls. 47/48, que a mesma não está 
devidamente autorizada pelas autoridades municipais, o que coloca em risco a 
segurança dos demais moradores do prédio. Desta forma, determino que seja liberado 
o acesso aos andares superiores, bem como que seja retirado quaisquer obstáculos que 
impeçam o acesso à caixa d'água. Ainda defiro a paralisação da obra que se encontra 
indevidamente em execução. Em caso de desobediência aos termos da presente, 
incidirá multa única no valor de R$ 1.000,00 (mil reais). INTIMEM-SE. 
CITE-SE O RÉU, PARA CONTESTAR NO PRAZO LEGAL CONTADO DA 
JUNTADA DO RESPECTIVO MANDADO/AR. Deixo de designar audiência de 
conciliação em razão da ausência de estrutura adequada ao CPC. 
Além de um direito, é razoável que o Autor possa prover manutenção e limpeza em sua caixa 
d’água, sendo de supra importância, visto que se trata também, de caso de saúde do Requerente 
e seus familiares que frequentam sua residência. Portanto, requer o Autor determinação às Rés 
que concedam livre acesso ao Autor as áreas comuns do imóvel, especificamente no local em 
que fica a caixa d’água. 
É também um direito do Autor poder estar acomodado em sua residência. Diante da necessidade 
de reformas urgentes, bem como o risco à segurança do Autor, não é possível que ele permaneça 
no imóvel enquanto as obras acautelatórias não forem realizadas. Deste modo, devem as Rés 
custear aluguel de outro imóvel para que o autor permaneça em segurança durante o período 
que ocorrerem as reformas necessárias e urgentes no imóvel. Há probabilidade de direito (fumus 
boni iuris) também na necessidade das Rés custearem aluguel de outro imóvel para que o autor 
possua moradia, pois encontra-se no pleno direito do Requerente de poder usar sua residência. 
Resta claro o perigo da demora (periculum in mora) por se tratar de dano de difícil reparação, 
uma vez que caso não seja concedida, o Autor ficará na sorte de não ser esmagado pela 
edificação superior que está com possibilidade de deteriorar e vir a desmoronar com o passar 
do tempo. 
Desta forma, o autor requer desde já a procedência dos pedidos de Tutela de Urgência, com 
fulcro no art. 300, §2º, CPC. 
4. DOS PEDIDOS 
Ante o exposto, requer-se que: 
a) Seja concedido ao autor o benefício da Assistência Judiciária Gratuita, com fulcro nos arts. 
5º, LXXIV, CFRB e 98 do CPC, em virtude de sua situação de miserabilidade econômica, sob 
pena de não poder arcar com as custas processuais; 
b) Seja deferida a medida liminar, para determinar às Requeridas que permitam o livre acesso 
do Autor às dependências dos andares superiores do imóvel, nos termos do artigo 1.311 do CC, 
visando ter acesso à caixa d’água que supre sua residência, em prazo a ser fixado pelo juiz sob 
pena de multa diária em caso de descumprimento; 
c) Seja deferida a medida liminar, para determinar às Requeridas que custeiem aluguem para o 
Autor no período que durar a obra, sob pena de multa diária em caso de descumprimento; 
d) Seja deferida a medida liminar, para determinar às Requeridas que cessem a perturbação do 
sossego no condomínio, sob pena de multa diária em caso de descumprimento; 
e) Ao final, seja ratificada todas as medidas liminares e determinada a concessão definitiva de 
autorização do Autor ao acesso às dependências dos andares superiores; o custeio dos alugueis 
enquanto durar a obra; e a cessação da perturbação do sossego; 
f) Sejam as Rés condenadas ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 
XXXXXXXX; 
g) A citação das Requeridas, ou pessoa de seus representantes legais, no endereço informado, 
para, se assim desejarem, apresentem contestação, no prazo legal, sob pena de revelia e 
confissão “ficta” de todos os fatos alegados na inicial; 
h) A designação de audiência de conciliação, nos termos do art. 319, VII, c/c 334, CPC; 
i) Sejam as Requeridas condenadas a procederem com as obras de reestruturação necessárias 
para contenção e escoramento do imóvel, conforme orientação de engenheiro civil, para cessar 
qualquer risco de desabamento do imóvel, devendo elas arcarem com todos os custos 
necessários à reparação; 
j) Sejam as Requeridas condenadas a procederem com a reforma de acabamento necessária para 
reparação da residência do Autor, visto que a obra de reestruturação irá danificar inteiramente 
a parte interna do imóvel, devendo elas arcarem com todos os custos necessários à reparação; 
k) Sejam os réus condenados ao pagamento das verbas sucumbenciais; 
l) A produção de todos os meios de provas admitidos em direito, como juntada de documentos, 
perícias, inquirição de testemunhas e depoimento pessoal dos réus, sob pena de confissão, 
requerendo desde já a juntada de novos documentos, caso necessário; 
 
Dá à presente o valor de R$ XXXXXXXX (XXXXXXX reais). 
Termos em que, pede e espera deferimento. 
Vitória, ES, Data XXX 
Advogado XXX 
OAB XXX 
 
Alunos: Alex Gomes De Oliveira e Mariana Rezende Da Silva Azevedo Correia 
Turma: 6º DN