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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH Licenciatura em História - EAD UNIRIO/CEDERJ AD 1 - PRIMEIRA AVALIAÇÃO A DISTÂNCIA- 2021.1 DISCIPLINA: HISTÓRIA DA AMÉRICA I Coordenação: Anderson de Oliveira Nome: Amanda Silva Ferreira Matrícula: 17116090185 Pólo: Cantagalo O filme “1492: A conquista do paraíso”, de Ridley Scott, produzido em 1922, é um longa- metragem que aborda a conquista da América e a trajetória do navegador Cristóvão Colombo no contexto das grandes navegações, portanto, na transição entre Idade Média e Idade Moderna. A produção cinematográfica apresenta Colombo como um idealista que visava chegar à Ásia pelo Oeste, o que jamais havia sido tentado. No entanto, para realizar este empreendimento, era necessário o consentimento da igreja católica, órgão mais influente da época. Para alcançar tal objetivo o navegador convenceu as autoridades de que havia muito ouro muitas especiarias nas terras ainda não exploradas. Após muito esforço, a rainha da Espanha concedeu o seu aval e ele pode, enfim, dar início à sua expedição, contando com todos os recursos reivindicados. A primeira viagem demorou mais do que Colombo tinha afirmado aos seus companheiros de navegação, de modo que quase houve uma rebelião contra ele. No entanto, a situação foi contornada e, dias depois, finalmente chegaram à terra, que foi batizada como San Salvador, localizada, hoje, nas Antilhas. Após observarem um pouco a terra, os europeus se depararam com os nativos. Aqui, há um ponto chave abordado na aula um do caderno didático, tendo em vista que a obra cinematográfica retratou os nativos de forma passiva e ingênua. Além disso, foi possível identificar o eurocentrismo na produção. O eurocentrismo dos conquistadores também foi demonstrado no filme, primeiramente, quando afirmaram que os nativos os confundiam com deuses devido à sua aparência e, depois, por desejarem impor o cristianismo, sua cultura e seus costumes aos nativos, inclusive ao chamá-los de índios. Segundo o material didático, o termo índio surgiu a partir de um equívoco geográfico e de uma visão europeia generalizante, isto porque, a princípio, os espanhóis acreditavam estar indo para às Índias e, também porque possuiam uma visão de mundo eurocêntrica, considerando-se superiores em relação a outras etnias e culturas. Embora tal termo seja nitidamente generalizante e eurocêntrico, Ronaldo Vainfas afirma que não deve ser abandonado, uma vez que já foi consagrado pela historiografia e, mesmo porque foi apropriado por muitos grupos autóctones, especialmente no âmbito público e para demandar direitos políticos específicos. Outro aspecto importante é a forma como o filme apresenta a relação dos europeus com os nativos. Neste sentido, o primeiro contato em cada ilha teria sido amigável, segundo palavras do próprio Colombo, sempre foram recebidos de forma hospitaleira e “tratados como deuses” por causa de sua aparência. Após um tempo, Colombo precisou retornar à Espanha, onde foi questionado sobre o sucesso de sua investida, tendo em vista que regressou com pouca quantidade de ouro e outros metais, não tendo encontrado grandes fontes rentáveis, mas, novamente, convenceu as autoridades a autorizarem uma nova expedição em busca de um novo continente. Desta vez, o navegador voltou decidido a construir cidades no “Novo Mundo”, além de evangelizar os indígenas e conquistar um novo continente. Neste contexto, a mão de obra indígena escrava foi explorada, bem como o processo de evangelização foi empreendido, não sendo respeitadas as crenças e as tradições dos nativos americanos. A aula três do caderno didático apresenta algumas formas de resistência indígena na América hispânica, o que não foi bem retratado pela obra cinematográfica, exceto no conflito brutal entre espanhóis e nativos. Por isso, cabe destacar as idolatrias como importante forma de resistência à conquista. Segundo Vainfas, havia dois tipos de idolatrias: as ajustadas e as insurgentes. As primeiras estavam diretamente ligadas ao sincretismo cultural e ocorriam de forma silenciosa, tendo perdurado por bastante tempo. As segundas se opõem às primeiras, mas também se tratam de maneiras importantes de resistência à dominação europeia. A aula três dispõe, ainda, que ao aprenderem o idioma dos conquistadores, os nativos obtinham vantagem para resistir, pois assim era possível confundir os invasores, tendo em vista que o idioma nativo também era mantido. Isto remete ao aliado indígena de Colombo que, ao se rebelar, afirma que o navegador nunca aprendeu a falar sua língua. Como o filme goza de liberdade poética, não deve ser julgado, mas pode ser analisado criticamente. Neste sentido, algumas coisas não foram retratadas, pelo menos de forma explícita, na obra, como, por exemplo, o processo de mestiçagem, o genocídio indígena por causa das doenças trazidas pelos europeus – principalmente, e os abusos sexuais sofridos. A autora Elisa Garcia, em seu texto “Identidades e Políticas Coloniais”, dispõe sobre a complexidade da construção das identidades indígenas na América, observando que devem ser levados em conta as políticas coloniais espanholas e os interesses das comunidades indígenas no processo de negociação com os colonizadores. Garcia afirma, ainda, que o governo espanhol tinha por objetivo separar os colonizadores e os indígenas. Neste ponto, deve ser observada a diplomacia de alguns líderes indígenas, também relatada no filme, a fim de garantir alguns interesses de seu povo e, também de manter privilégios próprios. Pelo exposto, pode-se dizer que a obra relata algumas partes da história da conquista de forma correta e outras de forma errônea - historiograficamente falando. Mas alguns aspectos devem ser destacados, como a representação da época, os figurinos e os cenários, pois foram apresentados com excelência. Neste sentido, o cinema pode ser um aliado no ensino de História, desde que observado cautelosa e criteriosamente. De acordo com Marc Ferro, o filme não deve ser visto apenas como uma obra de arte, mas como um documento histórico, um produto que traz uma abordagem social e histórica sendo, portanto, muito relevante. Referências Bibliográficas FERRO, Marc. História e Cinema. Trad. Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. GARCIA, Elisa Frühauf. Identidades e Políticas Coloniais: guaranis, índios infiéis, portugueses e espanhóis no Rio da Prata, c.1750-1800. Anos 90, Porto Alegre, v. 18, n. 34, p.55-76, 2011. História da América I. v. único. / Larissa Viana...[et al.] - 3ª ed. - Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2014. Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH Coordenação: Anderson de Oliveira
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