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ANÁLISE DE MERCADO UNIDADE I Prof. Me. Victor Olszenski SUMÁRIO 1. OBJETIVOS E DEFINIÇÕES ..................................................................................................... 3 2. A EMPRESA ................................................................................................................................. 4 3. MISSÃO, VISÃO E VALORES ................................................................................................... 5 4. POSICIONAMENTO .................................................................................................................... 8 Estudo de Caso – Aos 160 anos, Singer enfrenta o desafio de vender máquinas de costura .......................................................................................................................................... 10 5. SEGMENTAÇÃO DE MERCADO ............................................................................................ 13 Marketing de nicho ........................................................................................................ 14 6. O COMPOSTO DE MARKETING ............................................................................................ 16 7. PROPOSTA DE VALOR ........................................................................................................... 20 Estudo de caso: proposta de valor ................................................................................ 21 8. REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 24 3 1. OBJETIVOS E DEFINIÇÕES Como qualquer outro campo do conhecimento, quanto mais se estuda, mais se descobre a necessidade de abrir subclasses de conhecimento para dar-se conta de todas as demandas dos profissionais que usam esses conhecimentos. Com o marketing se passa a mesma coisa. Nascido basicamente da comunicação, o século XX viu a mudança de importância entre o marketing e a comunicação, passando esta a ser uma das diversas ferramentas daquele para garantir sua eficácia. Dentro do campo de marketing, a análise de mercado estabelece uma visão geral da empresa e sua inserção no mercado e, a partir daí, o profissional tem condições de aprofundar seu trabalho, de acordo com as necessidades atuais e futuras da empresa sob sua análise. O objetivo da disciplina de análise de mercado é, portanto, estabelecer uma visão geral do contexto do mercado atual e futuro da empresa, entendendo e se antecipando às necessidades e às oportunidades com as quais essa empresa se depara atualmente e como esse mercado tende a evoluir. Ao final da disciplina, o aluno estará apto a compreender o posicionamento de uma empresa, seus clientes, seus concorrentes, os vários vetores que influenciarão direta e indiretamente esse mercado e quais as medidas a serem aplicadas em cada caso típico. As definições e matrizes apresentadas na disciplina são as mais comumente utilizadas no âmbito profissional, levando-se em conta os pré-requisitos necessários para cursá-la. 4 2. A EMPRESA Para o marketing, uma empresa pode ser qualquer unidade de fabricação, beneficiamento, venda de produtos ou prestação de serviços que minimamente tenha algo a entregar ou a prestar, alguém que se interesse por receber esse produto ou serviço e reconheça neles um valor pelo qual esteja disposto a pagar. Dessa forma, desde uma pessoa que venda amendoins num sinal de trânsito, até a empresa mais valiosa do mundo, que, no início de 2019 era a Amazon1, podem utilizar as ferramentas de análise relacionadas aqui para se beneficiar e ampliar sua capacidade de fazer negócios lucrativos. Começando do começo O ciclo básico de entendimento de qualquer negócio passa por quatro questões fundamentais: 1. O que fazemos? Isto é, quais são nossas habilidades, capacidades e disponibilidades que podem ser transformadas em um produto desejado por alguém disposto a pagar por isso? 2. Para quem fazemos? Isto é, quais necessidades detectamos em um público-alvo alcançável, para as quais nosso produto ou serviço pode ser uma alternativa mais barata, mais completa, mais atraente ou mais importante? 3. Quanto cobramos? Isto é, qual valor nosso público-alvo está disposto a atribuir para atender à necessidade do item anterior, de forma a compensar o esforço realizado e realimentar esse ciclo de forma sustentável no longo prazo? 4. Quem pode tomar o meu mercado? Isto é, quais empresas, circunstâncias ou tendências entregam ou, poderão entregar no futuro, ao meu público-alvo um nível de satisfação igual ou superior ao que posso ou que estou disposto a entregar? Essas perguntas abrem uma infinidade de dúvidas e necessidades de aprofundamento e essa visão será pelo menos em parte oferecida nesse percurso. Dentro da análise de mercado, começamos pelas definições do que é a empresa, a partir de suas predisposições, constituídas basicamente pelas motivações de seus sócios, diretores e empregados. 1 Amazon assume a 1ª colocação em valor de mercado em 07/01/2019 após fechar o pregão Nasdaq (NY-EUA) com o valor aproximado de US$ 797 bilhões (fonte: NASDAQ). 5 3. MISSÃO, VISÃO E VALORES A primeira questão a ser discutida dentro da análise de mercado é O que fazemos? Essa pergunta enseja outras correlatas que ajudam a clarificar qual direção uma empresa tomará, a partir de suas competências essenciais. Essas competências são a reunião das capacidades, conhecimentos, técnicas e experiências, catalogadas e acumuladas ao longo do tempo e organizadas de forma a ser úteis sempre que necessário. Grandes empresas começaram seus negócios a partir de competências de uma só pessoa ou de uma tradição familiar: sapateiros, cozinheiros, costureiros, agricultores e uma infinidade de profissões e ofícios deram origem a grandes grupos nacionais e internacionais que seguiram pela trilha da competência desenvolvida. Nos dias de hoje, a tendência de empreendedorismo que cresce no Brasil e no mundo baseia-se também na busca dessas competências fundamentais, que se constituem num dos principais pilares do sucesso empresarial. Conhecer essas competências estabelece o direcionamento da missão, visão e valores da empresa os quais, quando adequadamente definidos, dão a todos os que trabalham nela e por ela a noção clara da importância de seu trabalho para a obtenção dos resultados almejados. Essas competências e motivações devem nortear o desenvolvimento de todas as ações da empresa para que seus colaboradores sejam direcionados a oferecer o melhor produto2 aos clientes e que ela garanta a prática da definição do seu negócio. Vejamos o exemplo no quadro a seguir: Negócio: Startup de uma nova rede social para quem gosta de viagens Missão Aproximar pessoas que viajam e querem trocar experiências autênticas sem interesses comerciais. Visão O mundo está cada vez mais próximo de todos e nossa rede social aproxima culturas e pessoas para tornar suas experiências mais interessantes e profundas. Valores Respeito às pessoas, aos lugares e culturas; Compromisso com o participante; Sustentabilidade; Inovação. Pensando no exemplo dado, os sócios e funcionários dessa startup claramente têm em comum a paixão pelas viagens, pelo conhecimento de novos lugares e novas pessoas. Eles não recrutarão para trabalhar com eles pessoas acomodadas e que não partilhem desses desejos. Ao definirmos esses eixos e torná-los públicos e claros a todo o público interno da organização, fazemos com que cada ação realizada, da mais simples à mais 2 O melhor produto que uma empresa pode oferecer aos seus clientes, é aquele que representa a melhor solução às necessidades do clientenaquele momento, com maior valor agregado em relação a seus concorrentes. 6 complexa, esteja alinhada e possa contribuir para o alcance de objetivos. Vamos analisar individualmente esses três importantes elementos de definição da empresa: Missão: é a expressão da razão de ser da empresa e aquilo que em última análise ela entrega a seu cliente. É o elemento que estabelece o que a empresa fará e como cada público de interesse se relacionará com essa missão. Tem sido comum entre as empresas adotarem missões prontas reforçando algumas obviedades. Que a empresa dê lucro, que os funcionários sejam felizes e que os clientes fiquem satisfeitos. Ora, esse tipo de missão, além de não ajudar a definição da empresa, apenas confunde seus funcionários porque não atinge o que de fato a empresa faz, nem o que ela quer e espera de sua operação no mercado. Para que possamos definir adequadamente a missão de uma empresa, é necessário reunir pelo menos três elementos que podem defini-la e torná-la clara a todos: Competências principais: uma ou mais competências que estabelecem a singularidade da empresa e definem sua razão de ter se lançado no mercado. Pode- se falar aqui tanto de técnicas produtivas, agilidade em processos, atendimento diferenciado como no conjunto dessas ou de outras competências. Note-se que não se fala de desejos da empresa, mas de situações claramente definidas em que a empresa de fato pode se destacar. Públicos de interesse: modernamente, uma empresa precisa entender com quem ela vai se relacionar, em vários aspectos, não só o tradicional “para todo o mercado”. Do ponto de vista de clientes, salvo mercados eminentemente monopolistas (como os monopólios regidos por lei – Petrobrás como distribuidora de alguns derivados de petróleo no Brasil3), não existe mais aquela empresa que detenha 100% de todo o seu mercado potencial, considerando que em muitos casos, mesmo uma marca consolidada e líder absoluta em seu mercado sempre terá concorrentes que poderão ameaçar sua posição. Além dos clientes possíveis, uma empresa hoje tem de levar em consideração diferentes tipos de públicos que, mesmo não sendo clientes, interferem em seus processos internos. Entre eles, podemos citar o público-interno; os fornecedores; o governo na forma de leis e regulamentos específicos para o ramo de atividade da empresa ou genéricos, como o Código de Proteção ao Consumidor, a imprensa e organizações que representem a sociedade civil na parcela que possa ser afetada pela atividade da empresa. O conhecimento prévio desses públicos vai influenciar no modo como a missão será formulada a fim de dar a todos a clareza necessária sobre o papel da empresa junto a cada um dos públicos que forem relevantes para ela. Orientação da essência: em geral, cada empresa tem modos muito peculiares de planejar e executar ações que a levem à execução de seus objetivos. Esse modo de pensar e agir estabelece um comportamento empresarial que também precisa ser claro a todos na medida em que modos diferentes de execução causam ruídos e choques que prejudicarão o alcance dos objetivos traçados pela empresa. Esse é o mais fluido e menos tangível dos três elementos e muitas vezes empresas que não 3 A Petrobrás detém até então o monopólio da distribuição de combustíveis derivados de petróleo como a gasolina, o óleo diesel e o querosene de aviação, outros combustíveis como o etanol ou outros derivados como a nafta por exemplo, são distribuídos em larga escala pela Petrobrás, mas podem ser distribuídos por outras empresas). 7 conseguem determinar esse terceiro elemento sofrem pesadas perdas por negligenciar esse aspecto. Nenhum funcionário desatento às questões ambientais ficará muito tempo na Natura, assim como nenhum funcionário pouco competitivo sobreviverá muitos anos na Ambev embora essas características intrínsecas das empresas sejam tratadas mais como cultura empresarial do que necessariamente como missão. Visão: É a conceituação do entendimento da inserção da empresa na sociedade. A visão tem caráter mais amplo e é construída a partir da compreensão do ambiente social, cultural e tecnológico no qual a empresa está ou pretende se inserir no médio e longo prazo. Podemos dizer que sejam as apostas de evolução do meio no qual essa empresa crescerá e gerará riqueza para si, seus funcionários, acionistas e para a sociedade. Muitas vezes, a visão de uma empresa pode ser traçada imaginando-se a sociedade cem anos à frente. A partir desse quadro, a empresa se prepara e direciona a contribuir positivamente ou criar meios para sua sobrevivência dentro de cenários diferentes daqueles em que ela foi criada. Por exemplo, todas as empresas do ramo de tabaco sabem que o número de fumantes tende a diminuir gradativamente até sua extinção. Diante desse cenário contrário a seus interesses, elas repensam seus negócios para garantir sua sobrevivência nas próximas décadas. Esse é o papel da visão da empresa. Valores: são os conceitos e juízos fundamentais nos quais a empresa se apoiará para realizar sua missão declarada. Fazem parte desse conjunto todos os atributos e conceitos reais a partir de que a empresa toma suas decisões. Numa sociedade estruturada em bases legais, não se consideram valores óbvios ou que, se não praticados, levariam a empresa a uma situação de risco. Por exemplo: não faz sentido dizer que uma empresa tem a honestidade ou o cumprimento das leis como valores, já que, para se estabelecer, ela aceita se submeter às leis existentes. Ao se estabelecerem valores corriqueiros, também não se transfere ao público interno a responsabilidade sobre o cumprimento desses valores ou estes acabam por ser inócuos e a empresa perde uma grande oportunidade de aglutinar esse público interno. Ser ético por exemplo é condição óbvia de trabalhar na sociedade e não dá ao funcionário a noção do que de fato ele deve fazer. Entretanto, assumir o valor da pontualidade, por exemplo, responsabiliza todo funcionário a cumprir e fazer cumprir esse valor, na forma do atendimento ao cliente, mas também na forma da pontualidade em reuniões e início de atividades, mudando assim o jeito de ser da empresa. Essa é a primeira etapa da análise para que se possa entender quais elementos nortearão a tomada de decisões. Agora que já sabemos como estabelecer os rumos para a empresa, passamos à segunda etapa: planejar como a empresa será percebida pelos seus clientes. 8 4. POSICIONAMENTO Não existe um consenso sobre as definições de Posicionamento, mas apenas uma convergência entre definições que relacionam a empresa, seu produto, seu cliente e o processo de uso ou consumo do produto ou serviço. Usaremos a definição de Mitsuru Yanaze que, de certa forma, agrega as demais vertentes: Posicionamento significa apresentar o produto ao mercado revestido das condições mais favoráveis para conquistar a preferência do consumidor. Caracteriza-se, principalmente, pela diferenciação, isto é, por uma série de qualidades e situações favoráveis que o distingam da concorrência e o coloquem em uma posição privilegiada (YANAZE, 2006, p. 67). Para ir à busca da conquista das preferências do consumidor, a empresa necessita entender com profundidade o que é relevante para seu cliente em relação a todos os fatores do mix de marketing. O valor da marca é calculado com base nos atributos tangíveis e intangíveis dos produtos e serviços que representam. No entanto, os atributos intangíveis acabam se sobrepondo aos tangíveis pois estão ligados a processos emocionais – que têm uma tendência maior a ficar na mente das pessoas. Estes processos são decorrentes da experiência com a marca e as possíveis associações que o indivíduo faz. Os elementos que compõem o valor da marca são a lealdade do cliente com a marca, a consciência e qualidade percebida de seus produtos e serviços, as possíveisassociações positivas que realiza ao se relacionar com a marca e outros ativos da marca. Estes elementos podem ser positivos ou negativos e resultam na percepção de significado da marca. Caso esses elementos sejam positivos, a empresa pode se beneficiar pela melhoria dos programas de marketing, reforço de lealdade à marca, possibilidade de aumentar o preço e ter melhores margens de lucro, aproveitar-se dessa percepção de valor para agregar novos produtos e serviços à marca, agregar outros canais de distribuição para alavancar suas vendas, ganhar uma vantagem competitiva no mercado. Em contrapartida, isso ajuda os clientes a ser receptivos e interpretar as informações sobre novos produtos, ter maior confiança em sua decisão de compra e aumentar sua satisfação na utilização desses produtos ou serviços. No posicionamento estabelecido, precisa ficar claro qual é a empresa ou marca que está vendendo (qual personalidade desejo passar com a marca que estou utilizando), o que está vendendo (qual produto e serviço e como ele poderá satisfazer meus clientes) e para que grupo de clientes (qual perfil características os distinguem). Precisamos levar em consideração que existe uma diferença em como a marca deseja ser posicionada e como os clientes perceberão essa marca por meio de suas interações. Sabemos que no processo comunicacional existe um fator, o ruído, que precisa ser considerado. Por isso, a empresa precisa desenvolver adequadamente a definição do seu posicionamento para evitar possíveis entendimentos errôneos sobre o que se deseja passar. Algumas estratégias que as empresas podem utilizar para definição de seu posicionamento: 9 - Por atributo – Qual a principal característica de seu produto ou serviço? - Por benefício – Quais benefícios o produto ou serviço trarão para o cliente? - Por aplicação ou utilização – Quais as formas de utilização do produto ou serviço? - Por usuário – Destacando um grupo homogêneo de clientes para destinar o produto. - Por concorrente – Ser melhor ou mais eficaz que a concorrência. - Por categoria de produtos – Com foco em sua categoria de atuação. - Por qualidade ou preço – Trazendo para o posicionamento quais as estratégias em qualidade ou preço – muito utilizado por empresas com enfoque em preço baixo ou dentro do mercado de luxo. Para fixar seu posicionamento, a empresa precisa valer-se de alguns critérios a fim de criar diferenciação em relação aos concorrentes: – Qual o grau de importância: verificar qual é o real benefício de valor reconhecido por grande parte do público-alvo. – O diferencial oferecido em relação à concorrência deve ser destacado para ser facilmente reconhecido pelo cliente. – É possível criar diferenciação para que a empresa obtenha lucros? – Criar superioridade da marca em relação a outras maneiras (concorrência) de se obter o benefício. – Estabelecer um posicionamento que seja difícil de ser copiado por outras empresas (tem de ser única). – Qual o nível de acessibilidade do cliente para comprar o que está sendo oferecido? A empresa precisa evitar algumas armadilhas que podem envolver o processo de desenvolvimento de posicionamento (FURRIER; SERRALVO, 2008), são elas: – Desenvolver conceitos óbvios que não impactam o público de maneira eficaz. – Focar em posicionamento futuro (o que desejo e não o que ofereço). – Estabelecer mensagens muito elaboradas, de difícil compreensão do público. – Pensar de dentro da empresa para fora, sem levar em consideração o que o cliente deseja. – Não se comprometer com o compromisso em longo prazo. Mudanças rotineiras de posicionamento refletem falta de foco da empresa. – Excesso de alterações no processo de desenvolvimento do posicionamento também reflete falta de foco e do que se deseja comunicar. 10 Uma excelente forma de desenvolver o posicionamento de uma empresa é pela criação de uma matriz, na qual são colocados na mesma tabela os posicionamentos da concorrência em relação a seus clientes, como a seguir: A partir desse quadro, podemos escolher o posicionamento que melhor se adéque aos princípios básicos norteadores da empresa, ao mesmo tempo que seja pertinente ao entorno competitivo e ao público-alvo escolhido. Estudo de caso – Aos 160 anos, Singer enfrenta o desafio de vender máquinas de costura4 Costurar é um hábito do passado? Os costumes e os motivos que levam os consumidores mais jovens a usar uma máquina de costura mudaram, mas a ação continua forte na vida dos brasileiros. Com 160 anos de mercado, a Singer confia no potencial do seu principal produto para continuar atuando no Brasil e nos mais de 150 países em que está presente. Se antes as donas de casa prendadas precisavam saber costurar e, mais do que isso, encontravam na atividade um meio de sustento, quando ainda não trabalhavam fora, hoje, os jovens veem na tradição um modo de se diferenciar socialmente. Com cerca de 10 lançamentos por ano, a norte-americana Singer possui 83% do mercado de máquinas de costura brasileiro e está sempre investindo no portfólio de produtos para estimular cada vez mais o interesse dos consumidores. Atualmente, a marca tem trabalhado bastante para afastar do seu setor a imagem de ferramenta ultrapassada, investido na produção de máquinas eletrônicas e na participação em eventos de moda. “Muitas pessoas acham que a costura é algo démodé, mas poucas percebem a importância que tem no cotidiano. Desde a hora em que acordamos, nos lençóis e colchas, nas nossas roupas e até quando usamos a carteira ou a bolsa. Ela também tem a sua função decorativa e, por isso, dificilmente será extinta ou 4 Fonte: ALASSE, Letícia. Mundo do marketing. Disponível em: <www.mundodomarketing.com.br>. Acesso em: 02 mar. 2019. http://www.mundodomarketing.com.br/ http://www.mundodomarketing.com.br/ 11 substituída por alguma outra tecnologia”, afirma Fábio Narahara, Gerente de Marketing da Singer na América Latina, em entrevista ao Mundo do Marketing. Caráter inovador da marca A postura de inovação está no DNA da Singer, que desde os primórdios da sua participação no mercado brasileiro inseriu dois elementos de negociação para facilitar a compra. O primeiro foi o sistema de franchising, criado pela empresa nos Estados Unidos, que concedia o direito de uso de marca e de venda dos seus produtos a comerciantes independentes. Outro modelo de negócio trazido pela empresa foi a concessão de crédito. A Singer implementou a venda em prestações no país, possibilitando que as consumidoras pagassem pela máquina com o rendimento mensal obtido com o produto. A utilização de representantes de vendas também foi um grande passo da companhia na exportação para os diferentes países de atuação, o que levou a rede de manufatura a tornar-se a primeira multinacional norte-americana. “Logo no começo do processo de internacionalização da marca foi dada autonomia para que os representantes locais pudessem lidar com a legislação, a burocracia e os costumes locais. Por meio da verba de propaganda da matriz, deviam criar uma linguagem de comunicação mais adequada conforme as características do país”, explica Narahara. Liderança no mercado Hoje, a Singer continua a dominar o mercado de máquinas de costura, sendo o seu principal produto. No passado, entretanto, a empresa chegou a fabricar produtos de linha branca e linha marrom, mas não obteve o êxito esperado. Apesar da grande força da marca, para continuar crescendo, a empresa se arma de ações para impulsionar a categoria como um todo. Nos últimos anos, a companhia tem patrocinado salas de costura nas principais escolas de modas do país, como as unidades do SENAC, da FAAP e a Faculdade Santa Marcelina. As ações tentam acompanhar a mudança de comportamento do público ao longo de mais de 100 anos. De olho no público formador de opinião, os estilistase os estudantes de moda, a empresa também patrocina os principais eventos e festivais da área, como o Brasil Fashion Design, em Fortaleza, e o Festival Brasileiro de Quilt e Patchwork de Gramado, no Rio Grande do Sul. Para conquistar o público jovem, o próximo passo da empresa será promover uma reformulação do site da marca e dos seus canais nas redes sociais no fim de outubro com a produção de mais conteúdo e algumas ferramentas. Por meio do blog Singer, a companhia investe no relacionamento com os clientes, apresentando dicas de costura desde porta-níquel a vestidos, conselhos para quem trabalha em casa e até como realizar a venda das peças pela internet. O blog conta com a participação ativa das clientes, que também ganham um espaço na página para apresentar as suas produções […] Bem de consumo e bem de produção Para manter-se jovem, a empresa tem investido na comunicação com o consumidor e apostado no maior número de lançamentos para a categoria doméstica. O mercado de máquina de costura industrial, no entanto, é o dobro do de costura doméstica e representa a maior concentração de vendas da marca. Apesar de não liberar números, a Singer afirma que o faturamento segue de forma constante nos últimos 10 anos, sem picos e aquisições, acompanhando o crescimento do PIB nacional. Com mais de 60 modelos de máquinas domésticas e 100 de costura industrial no portfólio, a empresa não para de produzir novas tecnologias e produtos mais práticos para o mercado. Os modelos caseiros http://www.mundodomarketing.com.br/ http://www.mundodomarketing.com.br/ http://www.singer.com.br/blog/ 12 variam de R$ 449,00 a R$ 4.500,00, enquanto os industriais estão entre R$ 800,00 e R$ 12.000,00. Em 2011, a marca manteve o foco nas consumidoras domésticas e apresentou cinco lançamentos de modelos eletrônicos, que chegam a ter até 193 pontos diferentes, incluindo para patchwork e bordados, comprovando a ascendência da costura por conta dos hábitos de customização e artesanato estarem em voga. “Lançamos produtos todos os anos, mas o ciclo de vida de uma máquina de costura não é algo tão dinâmico como o de um aparelho celular que se renova a cada três meses. Mesmo assim, procuramos lançar no mínimo 10 produtos por ano, entre máquinas de indústria e domésticas. Oferecemos modelos para todos os bolsos, desde uma máquina de R$ 449,00 para iniciantes até uma marca mais sofisticada para as pessoas que desejam fazer uma decoração. Para 2012, devemos manter o mesmo ritmo de novidades”, aponta Narahara. Futuro da categoria Mais de um século depois, a invenção de Isaac Merrit Singer segue firme na liderança da categoria, apostando no crescimento da indústria de moda e na utilização da máquina como fonte de renda para centenas de brasileiros. Além da parcela da população que encontra na atividade uma forma de criar seu próprio estilo, produzir objetos de decoração ou passar o tempo. “A liderança da Singer se dá pela combinação de dois fatores. Primeiro é a ausência de concorrentes para desafiá-la e, segundo, é a tradição da marca, pois o consumidor brasileiro mantém certo conservadorismo”, Marcos Machado, Professor de gerenciamento de produtos e marcas na pós- graduação da ESPM, em entrevista ao portal. Durante todos estes anos, a empresa procurou tornar a marca sólida, de modo que atualmente é encarada como sinônimo do seu próprio produto. “Se você perguntar para o consumidor o nome de uma marca de máquina de costura, não tenho dúvida que 90% responderão Singer. A força da marca é o nosso principal ativo junto com todas as inovações que foram criadas pela Singer e implementadas no Brasil ao longo destes 160 anos de existência”, define Narahara. 13 5. SEGMENTAÇÃO DE MERCADO Para realizarmos uma segmentação adequada em relação ao mercado da empresa onde atuamos, precisamos definir quais estratégias serão usadas para a escolha do(s) segmento(s)-alvo. Para segmentarmos o público-alvo, podemos fazer por classe socioeconômica, demográfica, geográfica e psicográfica: A classificação socioeconômica é a divisão das classes sociais (A, B, C, D e E) – o mercado publicitário se baseia no Critério Brasil, estabelecido a partir da posse de alguns em domicílio e grau de escolaridade do chefe de família. Para cada quantidade de itens, o critério atribui pontos e a somatória é utilizada para diferenciar a população nos seguintes estratos de classificação econômica definidos por A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E. A questão geográfica define em que região o público se concentra (nacionalmente, estados, cidades, núcleos comunitários). Os aspectos demográficos são definidos em relação a sexo, idade, atividade profissional e escolaridade. Os dados psicográficos são características dos indivíduos, que os descrevem em termos psicológicos e comportamentais, ou seja, como eles se ocupam e quais fatores direcionam esses padrões de comportamento. Psicografia é a ciência da mensuração e categorização do estilo de vida do consumidor. São levantadas informações em relação às atitudes, interesses e opiniões dos indivíduos, além de comportamento de compra, grupos e associações entre outras informações. Para que a segmentação de mercado seja feita, é importante avaliar quais as chances de sucesso para os diferentes negócios da empresa. Para uma empresa saber se é viável trabalhar no segmento escolhido, ela precisa entender os diferentes segmentos de mercado que, para lhe serem úteis, devem ser: Heterogêneo: quando existirem diferenças nas preferências de consumo por parte do consumidor. Mensurável: quando esses mercados são identificáveis e capazes de ser relacionados com variáveis mensuráveis, como idade, sexo, estilos de vida, usos do produto, entre outras coisas. Substancial: quando o segmento proposto tem tamanho e poder aquisitivo suficientes para que a empresa lucre nele. Acionável: quando a empresa é capaz de responder às preferências do consumidor com um composto de marketing adequado e lucrativo. Acessível: quando o segmento de mercado proposto é acessível e atingível com programas direcionados. 14 Depois de analisar os requisitos necessários à escolha dos segmentos, a empresa terá cinco alternativas de estratégias de cobertura de mercado: a) Se a empresa possui afinidade natural com o segmento, ela trabalhará com concentração em um único segmento. b) Caso sejam escolhidos os segmentos que apresentam atratividade e são adequados aos objetivos e recursos da empresa, ela trabalhará com o que chamamos de especialização seletiva. c) Uma empresa que pretende se especializar em fazer um tipo de produto e o vende a diversos grupos de consumidores adotará a estratégia de especialização de produto. d) Uma empresa que deseja se especializar em atender às diversas necessidades de um mercado deverá escolher a estratégia de especialização de mercado. e) A estratégia de cobertura total de mercado será adotada se a empresa pretende atender a todas as necessidades de produtos de todos os segmentos de mercado. Nesse caso, temos a estratégia de marketing indiferenciado (que consiste em oferta a todo o mercado), ou marketing diferenciado (que consiste em trabalhar com compostos de marketing específicos a cada segmento). Marketing de nicho Continuando na segmentação do mercado-alvo, chegamos a um mercado relativamente pequeno, com um composto de marketing mais especializado que do nível anterior. É o que chamamos de marketing de nicho. Ou seja, os nichos são subgrupos dentro dos segmentos. Se a empresa opta por trabalhar com calçados esportivos para os públicos masculino e feminino, temos o segmento de calçados esportivos. Se continuamos o processo de segmentação de mercado até chegarmos ao ponto dessa empresa fabricar tênis masculinos para corridas, temos então um nicho de mercado. Segundo Kotler (2000), Um nicho é um grupo definido mais estreitamente, geralmente identificado peladivisão de um segmento em subsegmentos ou pela definição de um grupo com um conjunto distinto de características que pode buscar uma combinação especial de benefícios. Continuando na segmentação de um nicho de mercado, chegamos ao micromarketing, que é a prática de desenvolver produtos e programas de marketing sob medida para atender aos gostos das pessoas e locais específicos. Ele inclui o marketing local e o marketing individual. O marketing local tem como objetivo desenvolver marcas, produtos e serviços para grupos de clientes locais, como cidades e bairros. Um exemplo são os supermercados de bairro. Como desvantagens temos a possibilidade do aumento dos custos de distribuição e de produção. Por outro lado, o marketing local ajuda as empresas trabalharem de forma mais eficaz com seus clientes. 15 Para segmentarmos um determinado mercado, seguimos alguns critérios e estágios. Kotler (2000) cita três procedimentos para a segmentação de mercado: levantamento de dados, estágio de análise desses dados e determinação do perfil. O levantamento de dados consiste em entrevistas informais e discussão em grupo com o objetivo de identificar o que motiva a compra, as atitudes e comportamentos do público-alvo. Os dados a serem coletados vão desde os atributos de um produto e a classificação da importância de cada um deles até a percepção da marca, preferência por mídias, comportamento de uso dos produtos, atitudes em relação à categoria de produtos e dados demográficos, psicográficos, hábitos de mídia e comportamento digital. Na análise dos dados, a empresa identifica as variáveis que apresentam alto grau de correlação por meio das análises de fatores. Logo após, aplica a análise por conglomerados com o objetivo de determinar um número de segmentos com diferenciação. Na fase de determinação de perfil, cada segmento deverá ter o seu perfil traçado em termos de variáveis como: atitudes, comportamentos, características demográficas e psicográficas, hábitos de consumo e de mídia. 16 6. O COMPOSTO DE MARKETING O composto de marketing compreende o que chamamos de 4 Ps: produto, preço, praça e promoção. Quando definimos o composto de marketing total, iniciamos com o entendimento de necessidades e desejos do consumidor, que é importante para todo o processo de segmentação. Para que o consumidor tenha suas necessidades atendidas de forma plena, é preciso entendê-lo. Para isso, precisamos identificar aqueles que podem ser os compradores de um produto específico. Somente depois disso é que será possível desenvolver um composto de marketing adequado e coerente com o perfil do público-alvo. Vamos às definições: • Produto: parte tangível do produto ou serviço considerando as possíveis etapas da experiência que o consumidor terá sobre a entrega feita pela empresa. Leva em consideração também a embalagem, o uso do produto ou serviço, chegando aos eventuais serviços de logística reversa5 sempre que necessário. • Preço: o mais denotativo dos itens do composto, refere-se especificamente ao preço ao consumidor, considerando todas as suas variações e implicações: descontos; parcelamentos; financiamentos; custos de frete; e todas as variáveis que possam influenciar no valor monetário do produto ou serviço pelo qual o consumidor paga efetivamente, levando-se em conta inclusive as análises de valor que faremos mais à frente. • Praça: ambiente físico ou virtual no qual o produto é comercializado, experimentado e entregue. Leva em consideração as variáveis de logística, exposição, características geográficas, sazonais e culturais do ambiente no qual o produto é ofertado. • Promoção: toda a ação promocional, publicitária e comercial necessária à comercialização regular ou esporádica do produto, levando-se em conta também as ações sazonais, como ofertas de Natal por exemplo. Incluem-se aí também os incentivos a vendas, exibitécnica, ações cooperadas e suas assemelhadas. O sucesso do desenvolvimento do composto do marketing está diretamente ligado à identificação do cliente potencial e da análise de seus hábitos. É o resultado dessa análise que vai nortear o marketing direcionado, a segmentação e o posicionamento no mercado. Daí surgem os conceitos de marketing de massa, marketing de segmento, marketing de nicho e micromarketing. No marketing indistinto não há segmentação e no micromarketing temos a segmentação completa. 5 Sistema pelo qual o produto tem descarte especial, sob responsabilidade do fabricante ou varejista que vendeu o produto. Legalmente estabelecido e muito empregado na Indústria eletroeletrônica. 17 No mercado de massa (ou Business to Consumer – B2C), a empresa adota uma única estratégia para produzir e vender um produto, praticando o marketing padronizado ou, de acordo com Kotler (2000): […] no marketing de massa, o vendedor produz, distribui e promove em massa um produto para todos os compradores. […] O argumento do marketing de massa é de que as empresas deveriam ter custos e preços mais baixos e criar o maior mercado potencial possível. Quando a empresa decide escolher um mercado ou um segmento-alvo, está em um nível intermediário entre o marketing de massa e o marketing individual. Neste caso ela divide o mercado em grupos distintos e define as estratégias do composto de marketing diferentes para cada um desses grupos. Esse é o marketing customizado. Os profissionais que atuam no mercado empresarial (Business to business – B2B) fazem uso de alguns critérios para segmentação do mercado onde atuam ou pretendem atuar. Os clientes desejam efetuar negócios com empresas que ofereçam serviços agregados a seus produtos, antes, durante e depois da venda. Em alguns casos, os profissionais de marketing preferem segmentar o mercado geograficamente por ser mais lucrativo e concentrar-se em áreas específicas com altas taxas de crescimento ou então onde o clima ou a concentração de clientes crie uma forte demanda pelo produto. O processo de segmentação de mercado envolve escolher as bases apropriadas para a segmentação. Segundo Churchil e Peter (CHURCHIL; PETER, 2005), esse processo pode ser dividido em quatro etapas: a) Análise das relações cliente-produto: busca entender o comportamento do consumidor e do comprador organizacional para descobrir como esses compradores definem valor e como fazem as compras. b) Investigação das bases de segmentação: uma vez que as empresas podem apresentar categorias diferentes de compradores e como cada um tem um entendimento diferente sobre valor, cada comprador fará a compra de um modo diferente. Assim, essa etapa consiste em analisar as várias maneiras possíveis de divisão do mercado em segmentos, usando as bases apresentadas anteriormente. Se falarmos, por exemplo, do mercado de automóveis, podemos dividi-lo em médios, de luxo, compactos, utilitários, passeio etc. c) Desenvolvimento do posicionamento do produto: o posicionamento de um produto baseia-se na percepção de seus benefícios em relação aos produtos concorrentes pelo ponto de vista do cliente, por esse motivo os profissionais de marketing devem estar muito atentos para posicionarem o produto corretamente. Esse posicionamento pode ser por concorrentes, por atributos, pelo uso ou aplicação, por usuário e por classe de produto. Os profissionais consideram sempre a participação de mercado do produto e como ele pode criar mais valor que os produtos concorrentes. d) Seleção da estratégia de segmentação: consiste na decisão dos profissionais de marketing com relação à melhor estratégia para escolha do mercado: marketing de massa, por segmentos ou marketing individual. Nos dois últimos casos, a empresa precisa definir em qual segmento-alvo focará suas ações. 18 As estratégias de segmentação devem ser revisadas constantemente conforme as necessidades dos clientes e as atividades dosconcorrentes, pois as variáveis macroambientais sofrem influência direta do microambiente e consequentemente do ambiente interno. Para uma empresa avaliar se é interessante entrar em determinado mercado e definir qual a melhor estratégia de segmentação a ser adotada, precisa estar atenta a alguns fatores que consideramos imprescindíveis, como: a) Mensurabilidade do mercado: avalia as informações sobre as características particulares dos compradores, se existe ou pode ser obtida. b) Acessibilidade: verifica se a empresa pode efetivamente focar seus esforços de marketing nos segmentos escolhidos. c) Substancialidade: avalia se os segmentos são grandes ou rentáveis o suficiente para tratá-los com uma política de marketing diferenciada. d) Compatibilidade: ajuda a empresa a identificar e avaliar se potencialidades da organização vendedora são compatíveis com o ambiente tecnológico e competitivo do mercado atual e futuro, em termos de marketing de negócios. Portanto, podemos dizer que, durante a elaboração do seu plano estratégico, a empresa que decide vender em qualquer mercado, o qual consideramos como amplo (consumidor, corporativo, governamental ou revendedor) sabe que, de modo geral, não tem como atender a todos os consumidores, porque, além de serem em grande número, possuírem necessidades e exigências diferentes, encontram-se muito dispersos. Por essas razões, as organizações optam por buscar segmentos mais atrativos e rentáveis. Segundo Kotler e Armstrong (2004), a adoção do targeting envolve um processo de três etapas: segmentação, direcionamento e posicionamento de mercado. Cada uma das etapas possui duas fases: • Primeira etapa – Segmenting: consiste em identificar e agrupar compradores distintos que podem exigir produtos e compostos de marketing separados. Ou seja, nessa etapa são consideradas as variáveis de segmentação, os perfis e avaliação dos segmentos. As fases dessa etapa são: a) Identificar as bases para a segmentação de mercado. b) Desenvolver um perfil dos segmentos resultantes. • Segunda etapa – Targeting: consiste na escolha o mercado-alvo. Ou seja, é definido o direcionamento de mercado. Nessa etapa são definidas as estratégias que serão direcionadas para o mercado-alvo, identificação de quantos e quais segmentos-alvo serão considerados. As fases dessa etapa são: a) Desenvolver métodos de mensuração da atratividade do mercado. b) Selecionar o(s) segmento(s)-alvo. • Terceira etapa – Positioning: estabelece uma posição competitiva para o produto, comunicando seus benefícios ao mercado. É nela que a organização busca compreender as opiniões e visões dos clientes. Suas fases são: a) Desenvolvimento do composto de marketing para cada segmento-alvo. b) Desenvolvimento do posicionamento para cada segmento-alvo. 19 Independente de qual seja o modelo a ser seguido, o importante é que o composto de marketing (ou marketing mix), seja definido da forma mais adequada ao segmento escolhido após as etapas propostas por CHURCHIL e PETER (2005) ou por Kotler (2000). 20 7. PROPOSTA DE VALOR Segundo Kotler (2003), as empresas devem criar e fornecer valor para seus clientes por meio de suas ações de marketing e com isso, captar as vantagens decorrentes destas ações. Kotler afirma ainda que valor é a combinação de qualidade, serviço e preço fornecida aos clientes e a capacidade de criar satisfação a eles. O valor criado varia de pessoa para pessoa e de empresa para empresa – o que é qualidade para um, pode não ser para outro, por exemplo. O processo aqui está baseado em como podemos estabelecer uma proposta de valor adequado para superar o desempenho dos concorrentes, gerando maior visibilidade da marca e encantamento dos clientes. Valor é diferente de preço. Preço é o que a pessoa paga pelo produto ou serviço em questão. Valor tem a ver com os aspectos tangíveis e intangíveis presentes nessa troca. Envolve todo o significado e representação do produto para ele, os serviços envolvidos, o atendimento e a imagem da marca. Quando o valor atribuído atende as expectativas do público, gera satisfação, ou seja, inconscientemente, ele faz uma comparação entre expectativa e desempenho e toda vez que esse desempenho for plenamente atendido, criará um vínculo com a marca, gerando lealdade a ela. Quando falamos em serviços, existem quatro deficiências que precisam ser monitoradas em relação à qualidade da proposta de valor: – Deficiência entre a expectativa do cliente e as percepções dos gestores: para isso, é bom pesquisar o que o cliente espera e monitorar como está sendo percebida a proposta de valor em relação à qualidade da empresa, de seus produtos e serviços. – Deficiência entre a percepção do gestor e as especificações da qualidade do produto e/ou serviço: com base nas expectativas do cliente, devem ser traçadas as especificações das políticas internas de qualidade em relação ao desenvolvimento do produto e a prestação de serviço. – Deficiência entre as especificações da qualidade e a execução do gestor: treinamento e motivação são a base para o excelente desempenho da equipe. Além disso, precisa haver um sistema de monitoramento para medir o que está sendo executado versus o que é esperado pelo cliente. – Deficiência entre o desempenho do produto, a prestação de serviço e a comunicação: os gestores de marketing precisam tomar cuidado com uma promessa que esteja acima da capacidade de cumprimento por parte da equipe. Isso gerará uma alta expectativa no cliente e baixa satisfação. O trabalho da empresa está em estruturar a oferta certa para o cliente, no preço que ele está disposto a pagar, por meio de canais que tem acesso. Em conjunto, a empresa deverá desenvolver toda estrutura, equipe e processos para suportar essa oferta. 21 O quadro a seguir detalha as interações envolvidas na construção da percepção de valor para o cliente de um produto ou serviço: Estudo de caso: proposta de valor Como Neve revolucionou a sua categoria. Evoluções contínuas e alinhamento premium são receita do sucesso (MARTINS, Claudio. Mundo do marketing. Disponível em: <www.mundodomarketing.com.br>. Acesso em: ) Vender papel higiênico agregando valores de sofisticação tem sido o desafio de Neve em sua história. A marca, lembrada por muitos consumidores pela figura do personagem “Alfredo”, procura se diferenciar da concorrência se aliando a estilistas ou realizando ações promocionais que reforcem o posicionamento “premiunizado” do produto. O maior desafio para a empresa, no entanto, é fazer com que os consumidores vençam a barreira do preço mais elevado e experimentem Neve. A marca é líder no mercado de folha dupla de papel higiênico, com 47% de market share, segundo dados da Nielsen. A categoria foi inaugurada pela própria empresa, na década de 1970, quando qualidade e preço bastavam para chamar a atenção e se diferenciar da concorrência. Com a evolução do mercado, no entanto, a Kimberly- Clark passou a ampliar o portfólio de Neve, contando hoje com opções que vão desde papel higiênico perfumado até ecologicamente correto. Um dos fatores que colaboraram para o sucesso da marca é o apelo aspiracional que o produto vem apresentando desde o seu lançamento. A ideia é que, entre os consumidores, a compra de Neve esteja associada a status social e, ao adquirir o papel, os clientes também incorporem um ideal de requinte, transmitido pela figura do mordomo. 22 Estratégia democrática Acompanhando o crescimento da categoria de folha dupla, que em 2010 chegou a responder por 25% das vendas de papel higiênico no Brasil, a Kimberly-Clark decidiu inovar mais uma vez, com o objetivo de se destacar da concorrência. A empresa lançou o Neve Supreme, produto com folha tripla, categoria inexistente no país até o momento. A novidade foi divulgada com a participação do ator Reynaldo Gianecchini no papel de Alfredo e a promoção via SMS“Mordomia Neve”, que sorteou seis casas e seis carros, além de prêmios de R$ 400,00. O lançamento também colaborou para o aumento da fatia de mercado da companhia, que encerrou 2010 com 18,3% de market share. Para que o produto tenha penetração em todas as classes sociais, a empresa adotou algumas medidas. “Estimulamos a experimentação do Neve Supreme criando uma versão com rolos de 20 metros e preço mais acessível. Em 2011, esperamos que a novidade represente 10% das vendas da marca”, explica Prya Patel, Diretora da Categoria de Cuidados com a Família, da Kimberly-Clark, em entrevista ao Mundo do Marketing. Produtos sustentáveis Além do lançamento Neve Supreme, a cada ano, a companhia tem procurado oferecer uma novidade ao consumidor. Em 2005, a marca apresentou o Neve Decorado, que conta com desenhos de flores nos rolos de papel. No ano de 2008 foi a vez de Neve com Toque de Seda, voltado para divulgar o atributo mais explorado pela marca, a maciez. Já em 2009 foi lançado Neve Naturali, produto com apelo sustentável, fabricado com fibras recicladas e celulose de áreas de reflorestamento. Foi nesse ano também que a empresa introduziu o conceito compacto, que colabora para o compromisso sustentável. O produto tem uma capacidade maior de compressão, facilitando a logística de transporte e permitindo que menos caminhões circulem com mais produtos para reduzir a emissão de CO2 na cadeia de distribuição. A iniciativa também envolve o consumidor. A embalagem de Neve Naturali possui alças para que o cliente não necessite de sacolas plásticas ao adquirir o produto. A sustentabilidade também estará presente nos próximos lançamentos da empresa, que devem chegar ao mercado ainda no segundo semestre. Comunicação e brindes para a consumidora Segundo dados da empresa, 90% das compras da categoria são feitas por mulheres e é para elas que a marca constrói seu planejamento de Marketing. No ponto de venda, a Kimberly-Clark procura oferecer algo a mais para conquistar a cliente, mantendo sempre a conversa em um universo que remeta à moda e à modernidade. Algumas das iniciativas para transmitir essa sensação foram as parcerias com os estilistas Ronaldo Fraga e Isabela Capeto. Os profissionais criaram estampas para latas comemorativas, em edições limitadas. “Essa iniciativa permite uma associação 23 quase subliminar com a marca e ainda possibilita que o consumidor expresse o seu gosto por meio do produto”, explica Berenice Ring, Coordenadora do Curso de Branding da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, em entrevista ao portal. A Neve também contou com a ajuda do personagem Alfredo nos pontos de venda. A marca vestiu promotores como mordomos em supermercados das regiões Sul e Sudeste, que esclareciam os atributos do lançamento de Neve Toque de Seda, em 2008. Além do preço e qualidade Essas iniciativas atendem expectativas cada vez maiores dos consumidores em relação aos produtos. “Hoje, além do preço e qualidade, os clientes também procuram por glamour e auto-expressão ao adquirir algum item. Ao se aliar a ícones, a marca ganha visibilidade e gera valores superiores para a sua imagem”, diz Júlio Moreira, Sócio da Consultoria TopBrands, em entrevista ao Mundo do Marketing. Outro fator que pode ter colaborado para o bom desempenho da marca foi a consistência na comunicação e a criação de atributos. Diferente de outras empresas, que mudam constantemente seu plano de Marketing, Neve se manteve fiel às propostas que pretende transmitir aos consumidores. “A Neve é uma marca tradicional, não se curvou aos modismos e preservou sua personalidade, transmitindo com humor sua mensagem”, afirma o executivo da TopBrands. 24 8. REFERÊNCIAS BHAT, Suboth; REDDY, Srinivas K. Symbolic and functional positioning of brands. Journal of Consumer Marketing. 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