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Didática Aplicada à Pessoas com Deficiência Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Sueli Yngaunis Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Deficiência e Educação: Contexto • De Qual Lugar Falamos como Professores: • Revendo Conceitos-chave; • Educação Especial ou Educação Inclusiva? • Reconhecer o papel ativo do professor na Educação Inclusiva; • Reconhecer e valorizar as diferentes formas de comunicação e de aprendizado dos alunos com defi ciência; • Desenvolver habilidades de pesquisar novas formas de intervenção em sala de aula, considerando a especifi cidade de cada aluno. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Defi ciência e Educação: Contexto Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Deficiência e Educação: Contexto De Qual Lugar Falamos como Professores? Se você fizer uma busca nos sites de pesquisa disponíveis na internet, encontra- rá muitas coisas sobre deficiência como, por exemplo, a legislação, artigos médicos, conceitos e tipos de deficiência, artigos escritos por pesquisadores de várias áreas do conhecimento; porém, se prestar mais atenção, perceberá que majoritariamente se tratam de pesquisas e relatos de quem aprende agora com o tema, no exercício de suas profissões. E a maioria foi escrita por especialistas, muito pouco por pesso- as com deficiência. É alguém que tenta encontrar a melhor forma de proceder com a pessoa com deficiência, na sua área de atuação. Então vêm as seguintes perguntas: o que escrever sobre didática aplicada à pessoa com deficiência? O que aplicaremos? Temos que encontrar alguma fórmula mágica que resolverá todas as dificuldades do aluno com deficiência? Por que a dificuldade de um aluno que não tem deficiência é mais aceitável, do que a do aluno que tem deficiência? A culpa dessa dificuldade é da doença. Sim, a deficiência sempre foi vista como uma doença, um mal que deve ser curado. Refletiremos sobre os estereótipos que aprendemos ao longo de nossas vidas? Vamos nos lembrar que a maioria dos pro- fessores que chegam às salas de aula sequer teve qualquer formação sobre como proceder se tiver um aluno surdo ou cego em sua sala de aula, e que as dificulda- des deixam de ser somente do estudante, passando também a ser compartilhadas pelo professor, o que configura excelente oportunidade de aprendizado para todos; muitas vezes causa desconforto, pois significa repensar as práticas docentes que costumam dar certo para a grande maioria. Pensar estratégias práticas de ensino para alunos com deficiência pressupõe po- tencializar a aprendizagem desses estudantes, a partir das especificidades de cada um, uma vez que diferentes tipos de deficiência acarretam desafios e dificuldades inerentes ao tipo de comprometimento que a deficiência impõe e essas dificuldades são causadas pela ausência dos recursos necessários para a equiparação de opor- tunidades – que devem ser iguais para todos. Ou seja, não é a deficiência em si que coloca a pessoa em desvantagem, mas sim o fato de não lhe ser disponibilizadas as condições adequadas ao seu desempenho no ambiente escolar – para que este seja satisfatório. Porém, é importante ressaltar que os desafios não existem somente para os alu- nos com deficiência, mas também aos professores que, na maioria das vezes, dão aulas para turmas regulares, precisando dar conta da tarefa de passar o conteúdo de sua disciplina tanto aos alunos com diferentes tipos de deficiência, como tam- bém ao restante da turma. A pergunta que fica é: como dar conta dessa tarefa, em um ambiente onde a diversidade fica mais evidente, quando há alunos com deficiência na turma em que o professor dá aulas? Tal questão é pertinente nos tempos atuais, já que vivemos em um momento de aprender fazendo, ou seja, devemos nos atentar que a inclusão é uma demanda 8 9 recente na sociedade. Por milênios, as pessoas com deficiência ficaram à margem da coletividade – primeiramente foram eliminadas, depois segregadas em casas de assistência. A ausência de pessoas com deficiência nas ruas, escolas e na vida social poupou a sociedade em desenvolver maneiras e estratégias para lidar com essas pessoas, de modo que a sociedade não foi estruturada de forma a atender às necessidades específicas das pessoas com deficiência. Esse contexto configurou uma situação de desvantagem para essas pessoas, as quais foram responsabilizadas por não conseguir o nível ideal de participação nas diversas atividades sociais; logo, a culpa pelo fracasso recaía sobre as quais – e isto ainda acontece nos dias atuais, quando a sociedade valoriza mais o que as pessoas com deficiência não conseguem fazer do que as suas competências. Dois documentos foram importantes para que o mundo começasse a pensar em políticas públicas de Educação Inclusiva – sendo que Educação Especial e Educação Inclusiva são diferentes, embora estes termos sejam empregados como sinônimos. O primeiro documento é a Declaração de Jomtien, assinada em 1990, afir- mando que a Educação é um direito de todos; já a Declaração de Salamanca, assinada em 1994, recomenda que a Educação das pessoas com deficiência deve acontecer no ensino regular – e não separadamente. A Declaração de Jomtien é um documento elaborado na Conferência Mundial sobre Edu- cação para Todos, que aconteceu na Cidade de Jomtien, Tailândia, em 1990. Essa Declaração fornece definições e novas abordagens sobre as necessidades básicas de aprendizagem, com o objetivo de que os signatários desse documento assumissem o compromisso de garantir a todas as pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, visando a uma sociedade mais humana e justa. Confira o documento em: https://uni.cf/2FxL0o9 Ex pl or Figura 1 Fonte: Getty Images 9 UNIDADE Deficiência e Educação: Contexto A Declaração de Salamanca é um documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação Especial, em Salamanca, Espanha, em 1994. É considerada um dos principais documentos mundiais, com o objetivo de fornecer diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social, consolidando a Educação Inclusiva. Confira este documento em: http://bit.ly/2sXfmxOEx pl or O foco principal do professor deve ser as potencialidades do estudante com defi- ciência – e não as suas limitações. O docente deve ter em mente que esse estudante vive as suas dificuldades desde o momento em que foi constatada a sua deficiência, seja qual for – visual, auditiva, intelectual e/ou física. Necessitou aprender a lidar com as suas dificuldades e encontrar caminhos alternativos para a resolução dos desafios que encontrava no dia a dia. As questões que ficam para o professor são: como lidar com o conteúdo, tornando-o acessível ao estudante com defici- ência? Como esse estudante aprende? Como a informação lhe chega? Como consegue dar a sua devolutiva? Se o professor usar os mesmos parâmetros empregados à grande maioria dos alunos, certamente colocará o estudante com deficiência em desvantagem – não porque este não aprendeu, mas porque não encontrou canais alternativos disponí- veis, tanto de aprendizagem, quanto para demonstrar o que sabe. Podemos elencar cinco pontos que merecem atenção no planejamento das au- las, sendo importante: • Conhecer as especificidades do tipo de deficiência; • Conhecer as especificidades de cada aluno com deficiência; • Conhecer os recursos de acessibilidade disponíveis para auxiliar no ensino; • Conhecer os instrumentos alternativos de avaliação da aprendizagem; • Descobrir como estimular a aprendizagem desses alunos. Por exemplo, no Núcleo de Acessibilidade de uma instituição de Ensino Su- perior é adotada uma entrevista inicial com o aluno que se matriculou em algum curso dessa universidade. O objetivo não é apenas saber qual é a sua deficiência, mas também o de conhecer a experiência anterior desse estudante, saber como foi o seu percurso nas escolas que frequentou. Muitas vezes o próprio aluno revela estratégias que podem ser adotadas pelos professores, relatando como aprende, assimila a informação, como consegue demonstrar o que aprendeu. O processo de inclusão na escola deve ser de construção coletiva, pois é conversando, observan- do, trocando ideias que se torna possível encontrar um caminho viável para todos. É claro que com o estudante jovem ou adulto fica mais fácil, uma vez que já percorreu uma trajetória escolar, tendo o que contar. Para quem trabalha com Edu- cação Básica, a experiência acontece no dia a dia, por meio da observação e apli- cação das metodologias aprendidas. Porém, a flexibilidade e adaptação devem fazer parte da rotina docente, necessitando estar aberto para testar novas abordagens, assim como para as frustrações, pois não há metodologia única que atenda a todos. 10 11 Neste sentido, reveja os seus paradigmas sobre o que é deficiência. Perceba que a nossa atenção pode estar mais voltada ao que a pessoa com deficiência não pode fazer – do que para as suas competências. Essa mudança de olhar foi proposta pela Union of the Phisically Impaired Against Segregation (Upias), no Reino Unido, uma organização fundada em 1972, por Paul Hunt, quem defendia a abor- dagem social da deficiência em contraposição à abordagem médica, surgindo, en- tão, o modelo social da deficiência (UNION OF THE PHISICALLY IMPAIRED AGAINST SEGREGATION, 1976). Para esse grupo não é a deficiência em si a causa da exclusão social, mas a forma como a sociedade responde ou interage com uma pessoa com deficiência. Com esse movimento, as pessoas com deficiência reivindicam que as suas vozes sejam ouvidas – e não apenas as dos especialistas. O vídeo a seguir foi escolhido com a preocupação – docente – em saber se era legendado ou não – assim devemos pensar para poder atender às pessoas com deficiência auditiva – neste caso e vídeo é possível acionar a legenda no YouTube. Disponível em: https://youtu.be/jQKD5mIMJsM Ex pl or Em resumo, podemos concluir que a pessoa com deficiência não é incapaz, pois são as condições do ambiente que inviabilizam a sua participação na sociedade de forma plena. Assim, nós, professores, por exemplo, devemos analisar as condições da sala de aula, as nossas metodologias de aula, as condições da escola e encontrar meios para adequar tanto as aulas, como os espaços para as demandas dos alunos com deficiência. Mas qual é o papel da escola na vida do estudante? O que é esperado do aluno após a escolarização? Deve conhecer os saberes que foram historicamente acumu- lados; deve aprender a atuar de forma crítica nos processos deliberativos da socie- dade; deve aprender a ser solidário e dialógico, respeitar e valorizar as diferenças no cotidiano. Como podemos criar estímulos para que os alunos possam desenvolver essas habilidades? Não basta dominar as disciplinas, mas se constituir como um ser social capaz de interagir com o ambiente em que se vive? Não é diferente em relação ao aluno com deficiência, a única mudança reside nos recursos de acessibilidade e adaptação na didática e metodologia de aula – as- pectos que serão necessários para que possa se desenvolver. Por exemplo, há alunos surdos que alertam sobre a necessidade de os professo- res explorarem mais os recursos imagéticos em suas aulas, afinal, o principal canal de absorção de informações desses estudantes é o visual. No entanto, acredita-se ainda que a simples presença do intérprete da língua de sinais – no Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) – seja suficiente. Mas se assim fosse para todos, pode- ríamos imaginar uma aula expositiva em que o professor só falasse em voz rítmica e mecânica, sem variação na entonação de voz ou outros ruídos característicos de uma sala de aula. Ao surdo resta apenas observar os movimentos constantes do intérprete que está à sua frente, perdendo o que acontece ao redor – pois precisa prestar atenção aos sinais. 11 UNIDADE Deficiência e Educação: Contexto Importante! Segundo o Parágrafo único da Lei n.º 10.436, aprovada em 24 de abril de 2002, entende-se como Libras a forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de trans- missão de ideias e fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas em nosso país. Você Sabia? Figura 2 Fonte: Getty Images Revendo Conceitos-chave É importante fazer uma distinção sobre alguns termos utilizados muitas vezes de forma leviana, ou seja, é necessário ter clareza sobre o que significa cada conceito. Assim, reveremos algumas palavras, não na forma de um glossário padrão, mas contextualizadas para a realidade da relação professor e aluno, a fim de que possa- mos compreender melhor a nossa atuação em sala de aula. Muito se diz sobre acessibilidade, mas a primeira imagem que deve vir às nos- sas mentes pode ser a de uma rampa para cadeiras de rodas; igualmente a bengala é um instrumento de acessibilidade para o cego; o intérprete de Libras o é para um aluno surdo em sala de aula ou em algum espetáculo. Ao nos referirmos a uma aula, a acessibilidade acontece quando é propiciado ao aluno com deficiência os recursos necessários para a sua participação plena na aula: se for um estudante cego, que possa receber a transcrição das figuras que o professor utilizar para ilustrar algum conteúdo abordado; se for um aluno surdo e o professor trouxer um vídeo, que este seja legendado; se se tratar de um discente com deficiência intelectual como, por exemplo, o autismo, que lhe seja propicia- do um ambiente tranquilo e o ritmo da aula possa atender à sua necessidade. 12 13 Acessibilidade em sala de aula significa adotar medidas para que a informação possa chegar ao aluno com deficiência e seja assimilado por este; logo, saber como processa as informações e aprende é de suma importância. O modelo médico da deficiência responsabiliza esta pelas limitações que a pes- soa com deficiência tem; porém, como já vimos, não é a posição do modelo social da deficiência, o qual afirma serem as barreiras que a sociedade impõe que limitam a participação de pessoa com deficiência em condições de igualdade. Mas o que significam condiçõesde igualdade? Equidade, ou seja, não se trata de disponibilizar o mesmo recurso para todos, mas segundo a sua necessidade, para que todos participem em pé de igualdade. Por exemplo, um aluno cego pode muito bem fazer uma prova sozinho se lhe for dado um computador com software de voz, para que possa realizar a avaliação com autonomia, por meio do computador. Quando esse recurso não é disponibilizado, configura uma barreira para que esse estudante possa realizar a prova – tal como a ausência do intérprete de Libras em sala de aula impede que o aluno surdo possa acompanhar o professor. Igualdade e Equidade, disponível em: http://bit.ly/36phkp2 Ex pl or Acessibilidade: segundo a Lei brasileira da inclusão, trata-se da possibilidade e condição de alcance para a utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamen- tos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive os seus sistemas e as suas tecnologias, bem como de outras instalações e serviços abertos ao público, de uso público, coletivo ou privado, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2015). Barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, liberdade de movimento e expressão, comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, circulação com segurança, entre outros aspectos (BRASIL, 2015). Ex pl or Quando mencionamos barreiras, não são apenas físicas, presença ou ausência de algum recurso de tecnologia assistiva ou de acessibilidade arquitetônica. A Lei brasileira de inclusão (BRASIL, 2015) menciona seis tipos de barreiras: urbanísti- cas, arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações, atitudinais e tecnológicas. Na área da Educação interessa para a nossa atuação como docentes prestar mais atenção nas barreiras nas comunicações e atitudinais. Segundo a Lei brasileira de inclusão, entende-se como barreiras nas comunica- ções “[...] qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação”. (BRASIL, 2015) Por exemplo, uma aula acontece em determinado horário e lugar, quan- do o professor transmite informações aos alunos, caracterizando um processo de 13 UNIDADE Deficiência e Educação: Contexto ensino, que é uma forma sistemática de transmissão de conhecimentos. Se houver algo que impeça o aluno com deficiência de receber essas informações, configura- -se uma barreira de comunicação – não apenas do que o professor fala em sala de aula, mas também em relação ao material didático disponibilizado. Já a barreira atitudinal aparece quando existem atitudes ou comportamentos impedindo que pessoas com deficiência participem da sociedade em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas. Por exemplo, quando um professor não adapta a sua aula para atender a uma necessidade específica de um aluno com deficiência pode se configurar em uma barreira atitudinal. Porém, frise-se que o professor sozinho não consegue dar conta desse desafio, necessi- tando receber o suporte da instituição, em que todos estejam comprometidos em encontrar soluções para garantir a plena participação desse estudante em todas as atividades acadêmicas. Seguindo com o nosso glossário contextualizado, discorreremos sobre comunicação sob o ponto de vista da Educação Inclusiva, dado que este termo é citado na Lei brasileira da inclusão (Lei n.º 13.146). Comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as lín- guas, inclusive a Libras, visualização de textos, o Braille, sistema de sinalização ou de co- municação tátil, os caracteres ampliados, dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da infor- mação e das comunicações (BRASIL, 2015). Ex pl or Já mencionamos as barreiras de comunicação, de modo que veremos as formas de comunicação que podem e devem ser adotadas para que pessoas com defici- ência possam acessar a informação transmitida em qualquer atividade acadêmica. Quando um dos sentidos está comprometido, é necessário adotar formas de co- municação alternativas. No caso da deficiência visual, pode variar desde algum tipo de baixa visão até a cegueira total, esta última pode demandar material em Braille, quando o aluno foi alfabetizado em Braille, ou mesmo o uso de um computador com software de voz, que possibilite a conversão de textos escritos para a síntese de voz, para áudio, permitindo que a pessoa com deficiência visual possa gerenciar computadores. Porém, uma pessoa com baixa visão poderá demandar diferentes tipos de recursos; são pessoas que não conseguem enxergar os detalhes do dia a dia como, por exemplo, um aluno pode enxergar a lousa, mas não conseguir ler o que está escrito nessa – em tais casos é necessário pensar em material com fonte ampliada, por exemplo. O que é visão subnormal ou baixa visão? disponível em: http://bit.ly/2QQ4pG4 Ex pl or 14 15 O próximo conceito que abordaremos será adaptações razoáveis, que são as modificações e os ajustes que podem ser adotados, sem grande ônus, para que as pessoas com deficiência consigam desempenhar – em igualdade de condições – as atividades do cotidiano. Quando nós, professores, preparamos uma avaliação e providenciamos a sua impressão, talvez precisemos imprimir algumas com fontes ampliadas como, por exemplo, fonte Arial 18. Com tal providência o aluno com baixa visão e que es- colheu esse tamanho de fonte poderá realizar a sua prova com autonomia. É um exemplo de adaptação razoável, uma vez que não demanda grandes mudanças. Em outro exemplo, um aluno surdo que foi alfabetizado na língua de sinais e que não domine a língua portuguesa, pode ter dificuldade em entender enunciados longos e com muitas palavras abstratas, por isso, a presença do intérprete é impor- tante; no entanto, outra adaptação razoável nesse caso pode ser permitir ao aluno responder às perguntas da prova por meio da língua de sinais; as escolhas depen- derão do modo como a instituição de ensino organizou as práticas pedagógicas – o quarto Capítulo da Lei brasileira da inclusão, especificamente em seu Artigo 28, prevê essa adaptação: V – adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem em instituições de ensino. Tais medidas individualizadas são consideradas adaptações razoáveis. Com este tópico esperamos ter estimulado a reflexão sobre o uso desses concei- tos na prática docente. O objetivo não foi técnico, pois paralelamente há discussões sobre as tecnologias assistivas disponíveis, sendo fundamental acompanhar estas novidades, pois muitos aplicativos que fornecem auxílio para vários tipos de defici- ências sensoriais têm surgido. Educação Especial ou Educação Inclusiva? Receber alunos com deficiência e realizar as adaptações necessárias significa lidar com as diferenças dos estudantes e as suas limitações em sala de aula, sendo o atendimento educacional especializado garantido pelo Artigo 208 da Constitui- ção Federal, significando que aprender não é responsabilidade somente do aluno, devendo ser compartilhada com os pais e com os professores – assim como o cur- rículo deve receber as adaptações necessárias. A Educação Inclusiva implica na inclusão de alunos com necessidades especiais na escola regular; embora existam muitas controvérsias a respeito, é importante que você assista ao vídeo sobre a política nacional para a Educação Inclusiva: 15 UNIDADE Deficiência e Educação:Contexto avanços e desafios – indicado no Material Complementar desta Unidade –, a fim de conhecer a opinião de pesquisadores que defendem essa abordagem. A Educação Inclusiva não dispensa o atendimento educacional especializado, que auxiliará o aluno em suas necessidades especiais, tais como aprender Braille, saber lidar com o material digitalizado etc. Mas o conhecimento é transmitido pelo professor da disciplina – e não pelo docente responsável pelo atendimento educa- cional especializado. Atendimento Educacional Especializado (AEE): é um serviço da Educação Especial que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as bar- reiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas (BRASIL, 2008). Ex pl or Já a Educação Especial pressupõe que o estudante que tenha algum tipo de de- ficiência seja educado em uma sala especial, separado dos demais alunos. Porém, devemos nos atentar que a sala de aula é o espaço onde os estudantes podem socializar as suas experiências com os seus colegas, favorecendo o seu desenvolvi- mento afetivo, cognitivo e social; portanto, a convivência do estudante com defici- ência com os demais alunos é enriquecedora para todos, inclusive para o professor, que terá a oportunidade para desenvolver um olhar diferenciado para ensinar esses alunos, sem se esquecer que o seu papel é o de estimular o estudante a aprender, respeitando a forma como aprende. Embora ambas as denominações sejam largamente utilizadas, o importante para esta Disciplina é que lhe fique claro que não existem “receitas de bolo” para a Edu- cação Inclusiva ou Especial; afinal, se todos os seres humanos são diferentes entre si, tornam-se necessárias medidas individualizadas. Embora isto possa assustar o professor que venha a ter uma turma numerosa, verá que com o tempo a sua prá- tica docente incorporará aos poucos as necessidades que identificar no aluno com deficiência. A inclusão se constrói dia a dia, experimentando, inovando, criando, de modo que algumas estratégias funcionarão e outras não. Mas vale registrar essas experi- ências e respeitar as diferenças de cada um. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Diálogos | Educação Especial e Inclusiva https://youtu.be/iaPpSYGm7Ww A política nacional para a Educação Inclusiva: avanços e desafios – legendado https://youtu.be/NgLUGoaYjtU Leitura Lei nº 13.146, de 6 de Julho de 2015 Lei brasileira de inclusão http://bit.ly/31JStZV O papel do professor da Educação Especial na construção e no desenvolvimento do projeto político pedagógico da escola http://bit.ly/2T2ZtR9 17 UNIDADE Deficiência e Educação: Contexto Referências BRASIL. Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015. Lei brasileira de inclusão da pes- soa com deficiência. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso em: 20 set. 2018. ______. Decreto n.º 5.626. Regulamenta a Lei n.º 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e o Artigo 18 da Lei n.º 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 dez. 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 26 set. 2016. ______. Ministério da Educação. Política nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Documento elaborado pelo Grupo de Traba- lho nomeado pela Portaria n.º 555/2007, prorrogada pela Portaria n.º 948/2007, entregue ao ministro da Educação em 7 de janeiro de 2008. Brasília, DF, 2008. UNION OF THE PHISICALLY IMPAIRED AGAINST SEGREGATION. The fundamental principles of disability. London, 1976. Disponível em: <https:// disability-studies.leeds.ac.uk/wp-content/uploads/sites/40/library/UPIAS- fundamental-principles.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2019. 18