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13/04/2020 Comunicação
https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller# 1/27
COMUNICAÇÃO
CAPÍTULO 1 - PRECONCEITO
LINGUÍSTICO E GÊNEROS TEXTUAIS:
ENTRAVES OU DESIMPEDIMENTOS NA
COMUNICAÇÃO? 
Adriana Paula da Silva Amorim
INICIAR
13/04/2020 Comunicação
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Introdução
Você certamente já ouviu falar em preconceito, mas e quanto a expressão
“preconceito linguístico”? Será que existe mesmo uma discriminação relacionada
ao modo como alguém fala ou escreve? Quantas formas de uso da nossa língua
existem? 
Para Terra (2008, p. 15), “[...] a língua é nosso principal veículo de comunicação e
não conseguimos viver em sociedade sem nos comunicar”. Por isso, a língua é tão
importante para as comunidades quanto outros meios de expressão, como gestos
e expressões faciais. Afinal, é por meio da língua que exercemos nossa cidadania e
podemos colocar em prática nossas ideias, nossos sentimentos e nossas emoções.
A língua possui, portanto, uma importante função social. Aliás, também é por
conta dela que é realizada a comunicação no mundo profissional, nas
modalidades oral e escrita.
Sendo assim, para entendermos melhor quanto a esse assunto, neste primeiro
capítulo iremos estudar conceitos essenciais sobre linguística, tais como a
linguagem, a língua e a fala; além de discutirmos questões relacionadas aos
variados usos que nós, falantes de um determinado idioma, fazemos da língua.
Isso porque, embora haja um padrão nos sistemas linguísticos delimitado pela
norma culta, existe, também, uma heterogeneidade nos usos práticos da língua
por parte de seus usuários, fenômeno conhecido como variação linguística. 
Além disso, ao longo de nossos estudos também compreenderemos o conceito de
gêneros textuais — por meio dos quais ocorre a comunicação em todas as esferas
da sociedade — e de intertextualidade, que é a relação que um texto estabelece
com outros textos.
Vamos em frente!
1.1 Usos linguísticos
Sabemos que, na sociedade contemporânea, existe uma diversidade de práticas
sociais, ou seja, comportamentos comuns às culturas humanas. Temos, por
exemplo, o cumprimento representado pelo aperto de mãos, gesto que significa
cordialidade e confiança. 
13/04/2020 Comunicação
https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller# 3/27
Nesse contexto, são inúmeras as práticas sociais que se relacionam com a
linguagem. Assim, se você precisa se comunicar com o síndico do seu prédio para
protestar contra o uso inadequado das áreas comuns aos condôminos por parte
de alguns moradores, você possivelmente escreverá uma carta de reclamação. Em
contrapartida, se o síndico precisa divulgar aos condôminos alguma alteração na
coleta de lixo do prédio, por exemplo, ele provavelmente fixará um aviso em um
local de fácil acesso a todos os moradores. 
A partir desses exemplos, é possível perceber que fazemos diferentes usos da
linguagem para atender às nossas necessidades de comunicação com os outros
indivíduos. Além disso, assim como a humanidade é composta por pessoas
diferentes em diversos aspectos — sociais, econômicos, geográficos ou históricos
— a linguagem utilizada pelas pessoas também pode variar em função da sua
posição social, geográfica etc. Nos aprofundaremos sobre isso a partir de agora!
1.1.1 Linguagem, língua e fala
Embora os termos “linguagem”, “língua” e “fala” sejam comumente utilizados
como sinônimos, há uma distinção entre eles, a qual não é percebida na prática
por serem três aspectos do mesmo fenômeno: a comunicação humana. 
De acordo com Kristeva (1969), a linguagem é tida como a representação do
pensamento, mas também é concebida como um instrumento de comunicação,
por meio da elaboração de esquemas que ilustram o sistema de comunicação
entre um emissor e um receptor. 
Contudo, essa concepção foi criticada, principalmente por considerar a
comunicação de forma unilateral, ou seja, um indivíduo fala/escreve, enquanto
outra pessoa escuta/lê. No entanto, em um diálogo existem intensas trocas entre
os participantes, que não se limitam a assumir unicamente a posição de emissor
ou receptor da mensagem. Dessa forma, a linguagem passou a ser vista como
processo de interação, a partir do qual os falantes usam-na para “[...] realizarem
ações, para atuarem sobre o outro, ou seja, é pela linguagem que interagimos com
os outros e produzimos sentido numa dada esfera social, histórica e ideológica”
(TERRA, 2008, p. 18).
Com isso, podemos concluir que a linguagem é um conceito amplo que engloba
quaisquer códigos utilizados pelos sujeitos, a fim de interagirem uns com os
outros. Esses códigos, por sua vez, podem ser classificados em verbais e não
verbais.
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Existe, ainda, a linguagem mista, que se manifesta tanto por sinais verbais quanto
por sinais não verbais. São exemplos dessa linguagem as histórias em quadrinhos,
que reúnem, além das palavras, imagens.
VOCÊ SABIA?
Foi levantada a ideia da existência de uma linguagem animal, mas essa hipótese foi
derrubada pelo fato de que, diferentemente do sistema de comunicação humano, o
código utilizado por algumas espécies animais não permite um diálogo e nem a
formação de frases de significados diversos, como ocorre com a linguagem
humana.
Por conseguinte, a língua é um aspecto da linguagem que utiliza as palavras como
código comunicativo e se materializa por meio da fala. A língua é, portanto, 
Quadro 1 - A linguagem verbal e a não verbal se distinguem pela natureza dos elementos que as
compõem. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em TERRA, 2008; Arcady, Shutterstock, 2018.
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[...] um sistema de natureza gramatical, pertencente a um grupo de indivíduos,
formado por um conjunto de sinais e por um conjunto de regras para a combinação
deles [...]. É uma instituição social de caráter abstrato, exterior aos indivíduos que a
utilizam, que somente se concretiza por meio da fala, o ato individual de vontade e
inteligência. (TERRA, 2008, p. 22).
Nessa perspectiva, enquanto a língua possui caráter social e coletivo, a fala é de
cunho individual. Esse fato se comprova pelo fato de que um indivíduo não pode
alterar as regras da língua, caso queira. A fala, no entanto, pode diferir de um
usuário para o outro. 
Assim, a língua pertence à comunidade, enquanto que a fala pertence ao
indivíduo; a língua é abstrata, enquanto que a fala é concreta. Essa dicotomia
entre língua e fala foi desenvolvida pelo linguista Ferdinand de Saussure e seus
alunos em 1916, na obra “Curso de Linguística Geral”. 
Na prática comunicativa, embora haja restrições no uso da língua pelos falantes —
como colocar o substantivo antes do artigo: “menino o pegou bola a” —, é possível
haver peculiaridades na forma como esses falantes se expressam, de acordo com a
situação comunicativa em que estejam inseridos. É nesse contexto que
discutiremos, a seguir, o fenômeno da variação linguística.
1.1.2 Variação linguística
Assim como a sociedade é dinâmica e sofre modificações, a língua — importante
aspecto da sociedade — também sofre alterações. 
O primeiro fator de mudança é o próprio tempo. As variações diacrônicas são
aquelas que ocorrem por meio da evolução da língua ao longo do tempo. Em uma
continuidade histórica, algumas palavras deixam de ser utilizadas, tornando-se
arcaicas, enquanto outras palavras novas surgem. De fato, são perceptíveis as
mudanças na língua portuguesa. Há muito tempo atrás, havia a expressão “vossa
mercê”, que foi se modificando com o uso dos próprios falantes da língua. Assim,
em um processo de economia linguística, passou a ser apenas “você”. Essa
mudança é chamada de variação histórica.
As demais variações linguísticas são sincrônicas, ouseja, acontecem em um
mesmo período histórico, em um recorte de tempo específico. No quadro a seguir,
apresentamos cada uma delas, acompanhadas de seu conceito e alguns
exemplos.
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Além disso, podemos dizer que as variações da língua podem ser de ordem
fonológica (pronúncia), sintática (organização dos termos na frase) e lexical (de
vocabulário). 
Quadro 2 - Os tipos de variação linguística são definidos pelos fatores que motivam as mudanças no
uso da língua. Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
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O “Dicionário de Cearês: termos e expressões populares do Ceará”, escrito por Marcus Gadelha,
apresenta o significado de expressões típicas da comunidade linguística cearense, como “abestado”,
“alpercata” e “agora deu”. Vale a pena ler e entender melhor sobre essas variações! 
Ainda no contexto da dinamicidade da linguagem, é importante destacar os
neologismos, ou seja, novas palavras criadas pelos usuários da língua que, aos
poucos, vão sendo incorporadas às práticas de linguagem. São exemplos de
neologismos as palavras relacionadas às novas tecnologias, como “deletar” e
“viralizar”. 
Ademais, temos que toda língua possui uma variedade linguística considerada
padrão, também chamada de norma. No tópico a seguir, trataremos desse
assunto.
VOCÊ QUER LER?
1.2 Norma
De acordo com o Dicionário de Português Dicio, norma é um “[...] princípio que
serve de regra, de lei”. Assim, ao se falar em norma na língua, pensa-se quase que
imediatamente na gramática normativa, que busca explicitar como a língua deve
ser. 
Conforme Terra (2008, p. 52), “[...] funcionando como uma espécie de guia de
conduta, de um receituário, as normas têm função de impor um comportamento
padrão. [...] Elas são estabelecidas pela sociedade para serem cumpridas”.
Contudo, a real utilização da língua pelos falantes não reflete as normas
gramaticais. Isso ocorre porque, conforme vimos anteriormente, os usos
linguísticos revelam variações históricas, regionais, sociais e situacionais. A língua
— no seu uso prático — é heterogênea, embora haja uma norma geral que
padroniza a comunicação formal, como a redação de documentos e textos
acadêmicos.
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A partir de agora, trataremos do conceito e da aplicação da norma padrão da
língua, assim como também discutiremos sobre a noção de “erro” e o fenômeno
do preconceito linguístico presente na sociedade.
1.2.1 A norma culta
A norma padrão de uma língua é estabelecida a partir da variedade utilizada pela
camada mais culta da comunidade linguística. Por isso, ela também é conhecida
como norma culta (GUIMARÃES, 2012). 
A escolha da variedade considerada padrão leva em consideração, também, a
escrita de textos literários consagrados nacionalmente, geralmente obedientes à
escrita gramaticalmente aceita como “correta”. Dessa forma, a norma possui um
caráter estático, enquanto que a fala — materialização da língua pelos usuários —
é dinâmica, o que permite sua evolução a partir, por exemplo, do contato com
outras línguas, das quais surge o que se chama de empréstimos linguísticos. Esse é
o caso de palavras como “marketing” e “status”, que são comumente utilizadas
pelos falantes da língua portuguesa no Brasil, sem a necessidade de uma
tradução. Com o frequente uso dessas expressões, elas acabam sendo
incorporadas ao vocabulário da população. 
Em contrapartida, quando uma norma ou regra da variedade padrão da língua não
é obedecida, costuma-se dizer que há um erro. Mas esse conceito vem sendo
discutido e criticado, pois, muitas vezes, a ausência de aplicação de uma regra
gramatical não prejudica a comunicação. É o que se pode perceber no poema
“Pronominais”, de Oswald de Andrade (2003, p. 167), publicado pela primeira vez
em 1925.
Pronominais
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro
[...]
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No poema, o autor apresenta uma crítica à norma gramatical que dita a colocação
dos pronomes, enfatizando que os cidadãos brasileiros, no uso cotidiano na
língua, não aplicam as regras gramaticais de próclise, mesóclise e ênclise. Embora
a norma não revele o uso real da língua pela população, é preciso enfatizar sua
importância para que haja padronização no uso formal da língua, em situações
como a redação de documentos oficiais, discursos políticos, trabalhos acadêmicos
e apresentações de palestras.
1.2.2 O conceito de erro na língua
Para explicar o conceito de erro em relação à comunicação, tomemos o exemplo
apresentado por Terra (2008, p. 96): “qual seria a roupa ‘certa’: paletó e gravata ou
camiseta, sandália e bermudas? Evidentemente, a resposta só pode ser: depende”.
Ou seja, você escolhe sua vestimenta de acordo com a ocasião. Quanto mais
formal a situação for, mais formal sua vestimenta será. Portanto, não existe roupa
certa ou errada, existe apenas uma roupa adequada ou inadequada. 
Com a linguagem ocorre algo semelhante. Em uma conversa espontânea com
amigos e familiares, em um churrasco de domingo, por exemplo, a linguagem
utilizada certamente será a informal, também conhecida como linguagem
coloquial, sem preocupação com as normas gramaticais. Contudo, não se pode
afirmar que, nessa situação, as pessoas estejam falando errado, uma vez que a
linguagem está adequada à situação comunicativa em que se encontram. 
Se, por outro lado, você é convidado pelo chefe do departamento em que trabalha
para palestrar em uma conferência em que estarão diversos representantes de
outras empresas, torna-se necessário que a linguagem utilizada seja formal, o
mais próximo possível do que ditam as regras da gramática da língua. Não seria
adequado, nesse caso, utilizar a linguagem coloquial, pois a situação
comunicativa exige um nível de formalidade maior da linguagem, assim como da
vestimenta. 
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Há, ainda, casos em que a norma culta é quebrada de forma intencional, como é
comum vermos em poemas, como o “Pronominais”, que lemos anteriormente.
Assim, o autor conhece a norma, mas não a obedece com um objetivo específico.
No caso de Oswald de Andrade, a ideia é mostrar que, na prática, essa norma nem
sempre é utilizada e, portanto, em situações cotidianas informais ela pode ser
deixada de lado.
VOCÊ SABIA?
Os Parâmetros Curriculares da Língua Portuguesa, ou PCN, que orientam o ensino
de língua portuguesa nas escolas, assinalam a importância de compreender o
contexto de comunicação para adequar o registro da fala à situação. Para a
compreensão do contexto, é importante considerar o que se fala, para quem e com
que objetivo: “A questão não é de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso,
de utilização adequada da linguagem” (BRASIL, 1998, p. 31).
Figura 1 - Situações formais exigem vestimenta e linguagem formais. Fonte: Shutterstock, 2018.
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É necessário, portanto, que sejam consideradas nos estudos da língua as suas
diversas formas de utilização pelos falantes. Além disso, ressalta-se a importância
da escolarização ou educação formal para que todos os indivíduos de uma
comunidade linguística sejam capazes de transitar entre um ou outro nível de
linguagem, dependendo da adequação à situação de comunicação. 
A seguir, trataremos de um assunto importante quanto a variação e o erro
linguístico:o preconceito em relação ao modo como se fala.
1.2.3 Preconceito linguístico
A definição de preconceito linguístico, segundo Bagno (s./d., s./p., grifos do autor),
é que:
O termo preconceito designa uma atitude prévia que assumimos diante de uma pessoa
(ou de um grupo social), antes de interagirmos com ela ou de conhecê-la, uma
atitude que, embora individual, reflete as ideias que circulam na sociedade e na
cultura em que vivemos. Assim como uma pessoa pode sofrer preconceito por ser
mulher, pobre, negra, indígena, homossexual, nordestina, deficiente física,
estrangeira etc., também pode receber avaliações negativas por causa da língua que
fala ou do modo como fala sua língua.
Dessa forma, assim como existe o preconceito social, existe, também, o
preconceito em relação ao uso que se faz da língua, fruto da comparação entre a
norma culta — considerada o modelo ideal de uso da língua — e as diferentes
formas de uso da língua, desconsiderando o fenômeno da variação linguística.
Ainda de acordo com Bagno (2008), o preconceito linguístico se manifesta com a
rotulação da fala de um determinado grupo social ou regional como “errado” ou
“feio”. Um exemplo disso é o que ocorre em relação a ausência da marcação de
plural presente, em geral, na fala de pessoas com pouca ou nenhuma
escolaridade, como na frase “nós trabalhava nas fábrica”. Essa forma de falar é
estigmatizada pelas classes mais favorecidas da sociedade, sendo tachada
negativamente e reprovada socialmente. 
Uma área da linguística chamada Sociolinguística investiga os processos de
variação e mudança da língua, considerando que existe uma forte relação entre a
forma como as pessoas falam e os fatores sociais, como a origem geográfica do
falante, o grupo social ao qual pertence ou a idade. Com isso, a Sociolinguística
explica que a ausência de marcação nos termos da frase, como no caso acima,
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ocorre porque, pela marcação do plural em “nós” e em “nas”, intuitivamente o
interlocutor conclui o sentido completo da frase. Em situações comunicativas
informais, essa fala é considerada adequada. Inclusive, eventualmente, pode ser
falada por pessoas de nível de escolaridade alto. 
Marcos Bagno, conceituado linguista brasileiro que se dedica a pesquisar sobre as variações
linguísticas do português e sobre o preconceito linguístico no Brasil, fala, em uma entrevista para a
PNAIC, sobre o que é o preconceito linguístico e como ele ocorre na sociedade brasileira. Vale a pena
conferir no link: <https://youtu.be/UbdSNWv9XDQ (https://youtu.be/UbdSNWv9XDQ)>.
Ainda assim, a variedade padrão da língua é privilegiada nas escolas e apontada
como único meio para se conseguir prestígio social. Além disso, muitas vezes, a
norma culta da língua tem sido instrumento de dominação social e discriminação
de pessoas, seja porque falam o dialeto de uma determinada região do país ou
porque não tiveram a oportunidade de estudar (LUCCHESI, 2015). De fato, é
importante e necessário aprender a norma culta da língua, visto que ela é utilizada
em situações formais, como no mercado de trabalho. No entanto, as outras
variantes não devem ser esquecidas e/ou consideradas inferiores.
O livro “Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística e Educação”, de Stella Maris Bortoni-
Ricardo, é fruto de uma pesquisa sociolinguística realizada no Brasil. A obra é direcionada a professores
de línguas ou outros profissionais da linguagem interessados na relação entre linguagem e sociedade.
Vale a pena ler seu conteúdo e se inteirar sobre o assunto.
VOCÊ QUER VER?
VOCÊ QUER LER?
https://youtu.be/UbdSNWv9XDQ
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Com tudo isso, Bagno (2008) afirma que “[...] uma formação docente adequada,
com base nos avanços das ciências da linguagem e com vistas à criação de uma
sociedade democrática e igualitária, é um passo importante na crítica e na
desconstrução desse círculo vicioso”. A saída, para ele, é ensinar as crianças a
valorizarem todas as modalidades de registro, mostrando que nenhuma é melhor
ou pior do que as outras.
No próximo tópico, discutiremos um conceito relativamente recente nos estudos
linguísticos e suas aplicações em relação ao uso da língua pelos seus falantes.
1.3 Gêneros discursivos
Quando se fala na língua em uso, logo vem à tona os gêneros textuais. Isso porque,
ao longo de nossa vida, nos deparamos com textos diversos: histórias em
quadrinhos, fábulas, crônicas, poemas, anúncios, piadas, bulas, artigos científicos,
entre inúmeros outros.
Sendo assim, para que melhor entendamos as particularidades dos gêneros
textuais, neste tópico discutiremos a noção de texto, o conceito de gêneros
textuais e sua aplicação nas práticas de comunicação, sejam elas de caráter
pessoal, acadêmico ou profissional.
1.3.1 Texto e contexto
O texto é considerado uma unidade de sentido por meio da qual interagimos. Ele
permeia toda a nossa atividade comunicativa, seja ela falada ou escrita. Assim,
não há comunicação sem texto. Um anúncio ou uma cartilha, por exemplo,
descrevem bem esse conceito, conforme vemos na figura a seguir.
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Como podemos perceber, o exemplo nos mostra uma campanha publicitária que
busca alertar os jovens sobre a importância da vacinação, a fim de prevenir a
meningite e o HPV. No material produzido, encontram-se elementos verbais
(palavras) e não verbais (imagens, ícones, cores). Além disso, é considerado um
texto, uma vez que é uma unidade de sentido, com um propósito comunicativo
direcionado a um público específico, em uma determinada situação comunicativa.
Dessa forma, toda interação verbal ocorre por meio de manifestações linguísticas
conhecidas como textos. Beaugrande (1997, p. 10) afirma que o texto é “[...] um
evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, culturais, sociais e
cognitivas”, ou seja, para se produzir e para ler um texto, são necessários mais do
que os conhecimentos básicos sobre a língua, visto que eles estão inseridos em
algo maior, ou seja, existe um contexto.
Para Koch e Elias (2006, p. 59), o contexto é “[...] tudo aquilo que, de alguma forma,
contribui para determinar a construção do sentido”. Sendo assim, o sentido do
texto não está nele mesmo, mas é construído ao longo do processo de interação
entre autor, texto e leitor. Dessa forma, ao lermos ou produzirmos um texto, sem
perceber, ativamos processos sociocognitivos e recorremos a três tipos de
conhecimentos armazenados em nossa mente: o linguístico, o enciclopédico e o
interacional (CAVALCANTE, 2012).
Figura 2 - Uma campanha é um exemplo de texto composto de linguagem verbal e não verbal. Fonte:
BRASIL, s./d.
Deslize sobre a imagem para Zoom
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O conhecimento linguístico diz respeito ao entendimento do código, dos sinais
verbais e não verbais utilizados no texto, incluindo ortografia, gramática e
vocabulário da língua (KOCH; ELIAS, 2011). Para compreender a campanha do
Ministério da Saúde, por exemplo, é necessário que o leitor decodifique o texto
escrito, a imagem das crianças e saiba o que significa a sigla “HPV”. 
Por conseguinte, o conhecimento enciclopédico, ou conhecimento de mundo, é
ativado quando acionamos nosso repertório de informações armazenadas em
nossa memória, a partir de vivências e experiências diversas (KOCH; ELIAS, 2011). 
Voltando ao exemplo da campanha, ainda podemos dizer que, para seu
entendimento, deve fazer parte do conhecimento de mundo dos leitores
informações sobre meningite (infecção que afeta as meninges que envolvem a
medula espinhal e o encéfalo) e HPV (vírus causador de problemas de ordem
cutânea, que, se não for tratado, pode causar câncer de colo do útero).Assim,
alguém que, por ventura, não possua esses conhecimentos prévios, certamente
terá dificuldades em interpretar efetivamente o texto.
Por fim, com o conhecimento interacional, recorremos ao que sabemos sobre as
práticas interacionais. Consideramos, portanto, quem são os interlocutores (quem
produziu o texto e para quem), o objetivo do texto, o nível de formalidade da
linguagem empregada e a organização das informações no texto (KOCH; ELIAS,
2006). No exemplo que estamos analisando, o texto — composto por elementos
verbais e não verbais, organizados de forma clara e objetiva com uma linguagem
simples — é direcionado para jovens em fase de pré-adolescência e,
indiretamente, a seus pais; tendo como objetivo alertá-los sobre o risco de
contaminação por essas doenças e orientar a solicitação do exame para
diagnóstico.
Nessa perspectiva, percebemos que, para que um texto seja plenamente
compreendido, é necessário considerar mais do que está dito. Afinal, estão
envolvidos em um texto fatores contextuais, de ordem social, histórica e cognitiva,
que norteiam as práticas de linguagem.
A seguir, apresentaremos conceito e exemplos de gêneros textuais, por meio dos
quais nos comunicamos socialmente.
1.3.2 Gêneros textuais
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Certamente você, quando era criança, ouvia muitos contos de fadas e fábulas. No
entanto, à medida que foi crescendo, seu interesse passou para as histórias em
quadrinhos, os contos e os poemas. Hoje, já na fase adulta, provavelmente
acrescentou às suas leituras muitas notícias, cartazes, anúncios e piadas. Esses e
outros textos fazem parte do seu cotidiano.
Nessa perspectiva, como você sabe que uma fábula é uma fábula? Ou que uma
notícia é uma notícia, de fato? 
De acordo com Koch e Elias (2006, p. 101), sabemos dessas características porque
esses textos possuem “[...] formas padrão e relativamente estáveis de
estruturação”. Assim, por exemplo, toda fábula se constitui de uma narrativa em
que os animais são personificados, ou seja, agem como seres humanos: pensam,
raciocinam e falam. Embora uma ou outra possua características divergentes,
todas seguem esse padrão para serem consideradas fábulas. 
Bakhtin (1992, p. 301-302, grifos do autor), por sua vez, afirma que,
Para falar, utilizamo-nos sempre dos gêneros do discurso, em outras palavras, todos
os nossos enunciados dispõem de uma forma padrão e relativamente estável de
estruturação de um todo. Possuímos um rico repertório dos gêneros do discurso orais
(e escritos). Na prática, usamo-los com segurança e destreza, mas podemos ignorar
totalmente a sua existência teórica.
Portanto, toda a nossa comunicação escrita ou oral se baseia em formas padrão,
as quais denominamos gêneros textuais, ainda que não saibamos da existência
desses enunciados. Você mesmo, até hoje, pode nunca ter ouvido falar desses
termos, mas com certeza já utilizava muito bem os gêneros textuais em seu
cotidiano. Bakhtin (1992) menciona que eles são apenas relativamente estáveis,
porque, assim como a comunicação é dinâmica, os gêneros textuais também são
maleáveis e passíveis de mudanças. 
VOCÊ O CONHECE?
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Mikhail Bakhtin, filósofo russo, dedicou-se a investigar a linguagem e revolucionou os estudos
linguísticos a partir da teoria dos gêneros textuais. Segundo seus pressupostos teóricos, a linguagem só
existe em função dos sujeitos (quem fala/escreve e o que escuta/lê) e da situação comunicativa que
suscita a produção dos textos por meio dos quais interagimos socialmente.  
Além disso, novos gêneros surgem a cada dia, enquanto que outros deixam de ser
utilizados pelos indivíduos. Não é raro vermos pessoas enviando mensagens
instantâneas de seus smartphones ou tablets, mas não vemos mais ninguém
enviando telegramas. Ou seja, enquanto as mensagens instantâneas são um
gênero textual emergente, o telegrama não faz mais parte das práticas
comunicativas da atualidade.
De acordo com os pensamentos de Maingueneau (2004), os gêneros se configuram
como fator de economia e praticidade da comunicação. Assim, quando desejamos
nos comunicar, dependendo do nosso propósito comunicativo, selecionamos o
gênero textual mais adequado. Contudo, se não houvessem esses padrões,
ficaríamos perdidos em meio à variedade de práticas comunicativas possíveis na
interação humana. Então, se alguém deseja compartilhar seu conhecimento sobre
o preparo de um prato culinário, por exemplo, certamente produzirá uma receita,
composta pelas seções: ingredientes e modo de preparo. Se uma empresa deseja
divulgar seu produto e atrair o público consumidor, por outro lado, produzirá um
anúncio, que pode ser transmitido de forma impressa, por áudio ou por vídeo.
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Outro aspecto importante na definição dos gêneros textuais é o suporte. De
acordo com Marcuschi (2003, p. 08, grifo do autor), “[...] o suporte é o locus físico
ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do
gênero materializado como texto”. Nesse sentido, são exemplos de suporte o
outdoor, o jornal, a tela de um computador, a revista, o livro, o muro, entre tantos
outros. Existem, ainda, alguns suportes pouco convencionais, como as paradas de
ônibus, que se tornam suporte para anúncios; ou o próprio corpo, que se torna
suporte para textos tatuados na pele.
Figura 3 - O verbete de um dicionário é um gênero textual com o propósito de definir um termo da
língua. Fonte: Feng Yu, Shutterstock, 2018.
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Em uma entrevista intitulada “Bakhtin e sua Filosofia da Linguagem”, o professor e pesquisador Carlos
Alberto Faraco discute o pensamento bakhtiniano e a filosofia da linguagem desenvolvida por esse
grande expoente dos estudos dialógicos da linguagem. Você pode ver em:
<https://www.youtube.com/watch?v=IJMByQS0oQc (https://www.youtube.com/watch?
v=IJMByQS0oQc)>.
Agora que entendemos melhor quanto aos gêneros textuais, na sequência
apresentaremos a noção de sequências textuais e sua diferenciação em relação
aos gêneros.
1.3.3 Sequências textuais
Adam (2008) defende que todo texto é formado de sequências, que são esquemas
linguísticos que constituem os diversos gêneros. Em outras palavras, as
sequências compõem os gêneros textuais, sendo elas:
1. Narração;
2. Descrição;
3. Injunção;
4. Explicação ou exposição;
5. Argumentação.
A sequência narrativa apresenta uma sucessão de fatos ou eventos ao longo de
um tempo. Há predominância do uso de verbos de ação e, às vezes, diálogo. São
exemplos de gêneros predominantemente narrativos o conto, a fábula e o
romance.
A sequência descritiva, por sua vez, apresenta a caracterização de algo, de
alguém ou de algum lugar, por meio da utilização de verbos de estado e adjetivos.
É comum haver descrição em anúncios, por exemplo, em que o produtor enfatiza
as qualidades do produto anunciado. 
Já a sequência injuntiva apresenta uma orientação, uma ordem, um pedido ou
um conselho, por meio de verbos no imperativo. Um anúncio, um tutorial e uma
bula de remédio são textos que contêm injunção.
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A sequência explicativa ou expositiva responde uma pergunta, objetivando
informar sobre algo, com o uso predominante de verbos no presente do indicativo.
Essa sequência é bastante utilizada nos artigos de divulgação científica, nas aulas
expositivas e nos documentários de televisão.
Por fim, a argumentação apresenta argumentos e contra-argumentos em defesa
de um ponto de vista, buscando convencero leitor/ouvinte acerca de um
posicionamento. São exemplos de gêneros tipicamente argumentativos os artigos
de opinião e os debates.
É importante destacar que os gêneros não são determinados pelas sequências,
tendo em vista que o mesmo gênero textual pode conter mais de uma sequência
textual. É o caso da receita culinária, que possui descrição na seção de
ingredientes e injunção na seção de como se prepara o prato. No quadro a seguir,
podemos ver a distinção entre gêneros e sequências textuais.
De fato, toda a atividade comunicativa humana ocorre por meio dos gêneros
textuais, que são estruturados pelas sequências textuais. Eles não são contrários,
mas se complementam na constituição da organização textual.
No tópico seguinte, abordaremos um fenômeno recorrente na comunicação: a
relação entre o texto e outros escritos ou ditos anteriormente. É a chamada
intertextualidade.
Quadro 3 - Distinção entre gêneros e sequências textuais. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em
MARCUSCHI, 2008.
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1.4 Intertextualidade
A intertextualidade é um fenômeno linguístico bastante estudado. Ele diz respeito
à relação que existe entre os textos. Segundo Kristeva (1969), todo texto é um
mosaico de outros que o antecederam e lhe deram origem. Mais especificamente,
existem em muitos textos menções a outros textos já proferidos anteriormente.
Dessa forma, a identificação e a compreensão do processo intertextual depende
dos conhecimentos de outros textos por parte dos interlocutores. Vejamos o
exemplo dos versos da segunda parte do Hino Nacional Brasileiro (ESTRADA,
1831):
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores".
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Você conseguiu identificar com qual texto o Hino Nacional possui uma relação de
intertextualidade? Acertou se pensou no poema “Canção do Exílio”, publicado em
1843, por Gonçalves Dias, cuja primeira estrofe é: 
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
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Como percebemos, “[...] conhecer o texto-fonte [...] é condição necessária para a
construção de sentido” (KOCH; ELIAS, 2006, p. 85). Além disso, é interessante notar
que a retomada de outros textos, em novas situações comunicativas, por meio da
intertextualidade, pode gerar a construção de novos sentidos. 
Assim, existem dois tipos de intertextualidade: a intertextualidade explícita e a
intertextualidade implícita, que exige do interlocutor um conhecimento mais
aguçado do texto-fonte. A seguir, discutiremos esses dois tipos de
intertextualidade, bem como a intergenericidade, que ocorre entre gêneros
textuais.
1.4.1 Intertextualidade explícita
A intertextualidade explícita ocorre quando a fonte do intertexto é citada ou
existe a presença de fragmentos desse texto anteriormente produzido. É o caso da
citação, bastante utilizada na escrita acadêmica, inclusive neste material didático,
em que são citados textos de autores que já escreveram sobre os assuntos que
estão sendo tratados. É um exemplo desse tipo de intertextualidade a relação
existente entre o Hino Nacional Brasileiro e o poema “Canção do Exílio”, uma vez
que um trecho do poema, inclusive marcado pela presença de aspas, encontra-se
explícito na letra do Hino Nacional.
A função da intertextualidade explícita na escrita acadêmica é atribuir ao novo
texto um argumento de autoridade, que fundamenta os conceitos abordados por
outros estudiosos e pesquisadores. Na escrita literária, por sua vez, a
intertextualidade contribui para o processo criativo de construção dos sentidos no
texto.
1.4.2 Intertextualidade implícita
A intertextualidade implícita ocorre quando não há a citação expressa da fonte
ou de um trecho do texto-fonte. Nesse caso, é necessário apelar para a memória, a
fim de recuperar informações sobre o intertexto e construir o sentido. Quando
essa recuperação não ocorre, ou quando há o desconhecimento do texto-fonte, a
construção dos sentidos do texto pelo interlocutor fica prejudicada. 
Com a intertextualidade implícita, ocorre a apropriação do texto-fonte, que sofre
modificações, seja com acréscimos, supressões ou substituições, que podem
preservar ou subverter o sentido do texto original. A paráfrase, por exemplo, —
interpretação de um texto com as próprias palavras — em que não há citação do
texto-fonte, temos a intertextualidade implícita presente. As paráfrases são
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bastante utilizadas por professores em aulas expositivas, já que procuram explicar
os conteúdos de forma simplificada para os alunos. Analogamente, quando você
precisa apresentar um seminário sobre um tema específico, faz as leituras prévias
e, oralmente, por meio de paráfrases, expõe aos colegas e ao avaliador as ideias e
informações com suas próprias palavras, não é?
Além das paráfrases, as paródias são comumente conhecidas como músicas que
passam por transformações na letra, causando efeito de humor e/ou de ironia. No
entanto, no campo da linguagem, a paródia “[...] é um recurso bastante criativo
que se constrói a partir de um texto-fonte retrabalhado [...] com o intuito de atingir
outros propósitos comunicativos, não só humorísticos, mas também críticos,
poéticos, etc.” (CAVALCANTE, 2012, p. 154).
CASO
Para melhor entendimento quanto a intertextualidade, uma professora
resolveu levar seus alunos para assistir a uma peça teatral, intitulada
“Hermanoteu na Terra de Godah”. Na peça, temos um hebreu, pastor de
ovelhas, que recebeu de Deus a missão de peregrinar por muitos anos até
achar uma terra prometida chamada Godah. Pelo caminho, ele passou por
Roma, pelo Egito, por Jerusalém e muitos outros lugares ligados a
personagens e histórias bíblicas do antigo e do novo testamento.
Com isso, os alunos puderam entender que a intertextualidade é a relação
existente entre diferentes textos. Para eles, ficou clara a relação entre a
peça que assistiram e os textos bíblicos ligados às civilizações da
antiguidade.
Ao se valer da intertextualidade implícita, o autor não pretende esconder o texto-
fonte, mas pressupõe que o interlocutor identificará o intertexto e os novos
sentidos provocados pelas transformações dos textos-fonte e pelos propósitos
comunicativos dos novos textos. 
Ademais, há textos que apresentam características de gêneros textuais distintos, o
que chamamos de intergenericidade, a qual apresentaremos a seguir.
1.4.3 Intergenericidade
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A intertextualidade entre gêneros textuais ocorre quando um gênero assume a
forma de outro, em função de um propósito comunicativo. A hibridização,
intergenericidade ou, ainda, intertextualidade intergêneros, pode ser bastante
perceptível em anúncios, tirinhas e charges.
Como podemos observar na figura, estruturalmente, o texto parece uma questão
de prova, com a presença de opções para o suposto aluno marcar. No entanto,
considerando o contexto de produção desse texto, logo chegamos à conclusão de
que não se trata de uma questão de prova, mas, sim, de um anúncio publicitário
de um programa educativo do Detran. 
Em síntese, o que, de fato, determina a classificação do gênero textual em casos
de intergenericidade é o seu propósito comunicativo, e não a sua estrutura. Não
há, portanto, alteração da função desse texto, uma vez que ele continua
divulgando o programa educativo por meio do processo criativo da
intertextualidade intergêneros.Figura 4 - Intergenericidade: anúncio ou questão de prova? Fonte: DETRANPR, 2017.
Síntese
Você concluiu o primeiro capítulo de Comunicação. Agora, já conhece alguns
conceitos importantes quando tratamos da comunicação, como a distinção entre
norma e uso da língua, preconceito linguístico, gêneros textuais e
intertextualidade. Esperamos que esses conceitos e suas aplicações sejam úteis
para sua formação acadêmica e para sua atuação profissional. Foram muitos
conteúdos importantes em um único capítulo, e ainda vem muito mais pela
frente. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
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reconhecer as diferenças entre os usos da língua e as práticas sociais;
identificar atitudes de preconceito linguístico;
identificar e comparar tipos (sequências) e gêneros textuais;
analisar textos cujos gêneros discursivos estão de acordo com a sua prática
profissional;
identificar e classificar as relações intertextuais.
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13/04/2020 Comunicação
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COMUNICAÇÃO
CAPÍTULO 2 - COMO EVITAR A FALTA DE
COERÊNCIA TEXTUAL?
Adriana Paula da Silva Amorim
INICIAR
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Introdução
A comunicação efetiva ocorre por meio de gêneros textuais. Cada situação comunicativa
exige a utilização de um gênero textual específico. As notícias, por exemplo, são
produzidas para informar a população sobre fatos ocorridos; enquanto que os
anúncios, por sua vez, são elaborados com a finalidade de divulgar produtos e serviços
para um público específico. 
Nesse contexto, é preciso se atentar para alguns aspectos relevantes na produção
textual: a adequação ao meio em que o texto é veiculado, a coesão e a coerência. Afinal,
com o advento da internet, surgiram novas formas de linguagem e novos gêneros
textuais. A tela como suporte de textos digitais propicia maior dinamicidade na
comunicação virtual e possibilita a composição dos textos a partir de elementos verbais
e não verbais, como imagens, sons, vídeos, cores, ícones, entre outros. 
Além da adequação ao suporte, é imprescindível que os textos possuam coerência e
coesão, a fim de que cumpram plenamente seu propósito comunicativo. A coerência diz
respeito ao sentido: um texto coerente é um texto que possui sentido. Para tanto, é
necessário que as informações apresentadas na superfície textual estejam coerentes
entre si e coerentes com o mundo que nos cerca. A coesão, por sua vez, é a conexão
entre as ideias apresentadas em um texto, contribuindo substancialmente para a
manutenção da coerência. 
Sendo assim, ao longo deste capítulo, trataremos da forte relação entre gêneros
discursivos e tecnologia, a partir da análise de como essa relação ocorre na
comunicação por meio das tecnologias digitais emergentes. Ademais,trataremos da
coerência e da coesão separadamente, com finalidade didática, reconhecendo que, na
prática comunicativa, elas se manifestam de forma complementar e simultânea.
Vamos aos estudos!
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2.1 Gênero e tecnologia
Com o advento das tecnologias digitais, a sociedade passou por substanciais
transformações. A comunicação se tornou consideravelmente mais ágil e as distâncias
foram encurtadas com o uso da internet como meio de transmissão de mensagens. Isso
acarretou no surgimento do hipertexto, “[...] forma híbrida, dinâmica e flexível de
linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua
superfície formas outras de textualidade” (XAVIER, 2000, p. 171). 
Como efeito, podemos exemplificar o hipertexto pelas mensagens instantâneas
enviadas e recebidas através de sites de relacionamentos, como o Facebook e o Twitter;
ou de so�wares e aplicativos de comunicação, como o WhatsApp e o Telegram.
Figura 1 - A comunicação pela internet é ágil e prática. Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.
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Dessa forma, surgem novos gêneros textuais, propiciados pela emergência das
tecnologias digitais, caracterizados por duas características: a hipertextualidade e a
multimodalidade.
2.1.1 Gêneros discursivos digitais
O advento e a evolução das tecnologias digitais propiciaram o surgimento de novas
formas de construir os textos, a partir da utilização de elementos visuais e sonoros além
da escrita, o que não é possível no texto impresso. São exemplos de gêneros textuais
digitais o e-mail, o blog, as mensagens instantâneas, o fórum, a homepage e tantos
outros que permitem, com a tecnologia de que dispõem, agilidade e eficiência na
comunicação.
Há alguns anos, era comum que as empresas utilizassem a carta como forma de
comunicação interinstitucional. No entanto, esse cenário começou a mudar.
Atualmente, utiliza-se muito mais o e-mail com essa finalidade. Por outro lado, a
comunicação interna das empresas passou a ocorrer também por meio de aplicativos
de mensagens instantâneas. Esse tipo de comunicação, além de ser ágil, permite o
compartilhamento de imagens, vídeos, documentos, links e ícones que complementam
a linguagem verbal. 
Figura 2 - Textos originalmente impressos se adequaram às tecnologias digitais. Fonte: Zerbor, Shutterstock,
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Outras áreas da sociedade também aderiram à tecnologia e adequaram seu conteúdo e
os recursos textuais ao chamado mundo virtual. De fato, atualmente, as grandes
empresas de jornalismo possuem páginas na internet, sendo que, a partir delas,
veiculam notícias. Contudo, além de texto escrito e das imagens, essas notícias em meio
digital também ganham links, vídeos e áudios. O mesmo ocorre com outros textos,
como os anúncios publicitários, que antes eram produzidos somente para divulgação
impressa, mas que, hoje, são desenvolvidos para a mídia digital, explorando recursos de
imagem e som.
Diante dessa realidade, é possível perceber o quanto nós, enquanto cidadãos da
sociedade da informação, estamos habituados a convivermos com gêneros textuais tão
diversos. Utilizamos as tecnologias de informação e comunicação diariamente para
estudar, trabalhar, nos comunicar com familiares e amigos, nos informar e nos entreter.
Por isso, é comum utilizarmos os gêneros digitais, como o e-mail, as mensagens
instantâneas, o bate-papo, a vídeo chamada, o vídeo tutorial, entre tantos outros
exemplos de textos produzidos e veiculados digitalmente.
Essa gama de possibilidades da virtualidade é conhecida como hipertextualidade, da
qual trataremos na sequência.
2.1.2 Hipertextualidade
A virtualidade propicia a produção de uma linguagem mista e híbrida que une a
linguagem verbal escrita a outros recursos, como sons, imagens estáticas e com
movimento e links. As páginas de internet que costumamos acessar possuem
propriedades específicas e mesclam gêneros textuais diversos em um mesmo
ambiente. Em um site cujo assunto principal é o mundo automobilístico, por exemplo,
encontramos notícias, reportagens, anúncios, infográficos, vídeos, tutoriais, resenhas e
muitos outros textos referentes ao tema central. Com efeito, a tela do computador, do
tablet e do smartphone possibilitam essa heterogeneidade de informações ao alcance
do usuário. Assim, “A hipertextualidade seria, então, um conjunto multienunciativo de
hipertextos, em razão de sua heterogeneidade” (CAVALCANTE, 2012, p. 56).
Ao abrirmos uma homepage no navegador de internet, são apresentados múltiplos
caminhos que podemos acessar com a ajuda dos links. Da mesma forma, quando
utilizamos os meios tecnológicos para estudar, outras possibilidades estão ao nosso
dispor, a fim de que possamos explorar, navegar e adquirir conhecimento. 
2018.
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Sobre a definição de hipertexto, Koch (2007, p. 25) afirma que se trata de uma escrita
“[...] não-sequencial e não-linear, que se ramifica de modo a permitir ao leitor virtual o
acesso praticamente ilimitado a outros textos, na medida em que procede a escolhas
locais e sucessivas em tempo real”. Em linha com a autora, o leitor, conhecido como
navegador, torna-se coautor do texto, visto que, diante das inúmeras possibilidades de
acesso e de leituras que a internet lhe proporciona, segue os links de seu interesse e se
aprofunda nos temas que atraírem a sua atenção.
Você mesmo, enquanto estudante de uma disciplina cursada a distância, tem nas mãos
o poder de, autonomamente, construir o conhecimento a partir da busca por
informações em diversas fontes disponíveis na rede. Sabemos, no entanto, que se faz
necessário filtrar essas fontes para que as informações obtidas sejam confiáveis e úteis
aos seus objetivos de estudo.
Figura 3 - Homepages reúnem vários elementos visuais além do texto escrito, como imagens, cores e sinais.
Fonte: Haywiremedia, Shutterstock, 2018.
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No artigo “Hipertexto e gêneros digitais: modificações no ler e escrever?”, de Gislaine Gracia Magnabosco, são
discutidas as transformações que a internet trouxe para a leitura e para a escrita. Em seu texto, a autora
enfatiza a importância do desenvolvimento de um letramento digital, ou seja, que os usuários sejam
orientados — já na escola — sobre a utilização dessas ferramentas midiáticas como instrumento interativo de
escrita e de leitura. Você pode ler o texto em:
<www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewFile/14/13
(http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewFile/14/13)>.
Outra característica marcante do texto da era digital é a multimodalidade, sobre a qual
discutiremos a seguir. 
2.1.3 Multimodalidade
Você já parou para pensar na evolução da linguagem ao longo dos tempos? Já analisou
como, atualmente, estamos nos comunicando muito mais pelo meio digital em
detrimento do meio impresso? Notou como o texto digital permite novas possibilidades
de composição dos textos que a escrita no papel não possibilitava?
A multimodalidade é um conceito desenvolvido por Kress e Van Leeuwen (1996) para
descrever os diversos modos ou modalidades semióticas pelos quais os textos são
compostos. São exemplos de elementos multimodais o som, a imagem (estática ou em
movimento), o texto escrito, o gesto, o uso das cores, entre outros. Cada uma dessas
modalidades possui potencial para a construção do sentido no texto.
Em relação ao hipertexto, facilmente percebemos a presença da multimodalidade nos
gêneros digitais. Um exemplo disso são os emoticons, ícones utilizados em conversas on-line para transmitir a emoção dos indivíduos. O uso dos emoticons complementa as
informações verbais digitadas e expressa a informação de forma singular. Alguns, por
exemplo, não teriam o mesmo sentido se fossem descritos com a linguagem verbal. O
mesmo ocorre com o uso de outros recursos multimodais. Em síntese, esses ícones
possuem valor complementar à escrita, já que, nos dias atuais, os recursos visuais têm
ganhado relevância na comunicação.
Aliás, você deve ter notado que muitas informações no suporte digital, isto é, a tela, são
representadas por ícones, não é mesmo?
Q
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Assim, a hipertextualidade permite a exploração de recursos multimodais em textos
conhecidos antes mesmo da internet, como notícias, anúncios e tutoriais. Xavier (2002)
chama a atenção para o fato de que, no texto digital, os recursos multimodais coexistem
— ou seja, som, imagem, texto escrito e outros recursos disponíveis se sobrepõem e
podem ser acessados de qualquer lugar a qualquer momento —, desde que haja as
condições técnicas necessárias, como a conexão com a internet.
Note que os anúncios digitais, por exemplo, são compostos por uma gama de cores,
sons e imagens em movimento, mas organizados em um determinado layout (design,
esquema e arranjo), contribuem para a produção de significados. 
 Figura 4 - O
texto digital é composto pela mistura de diferentes modos enunciativos. Fonte: Elaborado pela autora,
baseado em XAVIER, 2002.
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A escolha e a organização desses recursos na composição do texto não ocorrem por
acaso. O produtor do texto seleciona os recursos para atender seus objetivos
comunicativos e os organiza em um layout que atraia a atenção do público-alvo. Nos
anúncios da figura acima, o produto anunciado (ou algo que o represente) aparece no
centro, em posição de ênfase, enquanto que as informações verbais geralmente
aparecem nas bordas. Além disso, informações importantes — como os nomes das
marcas — aparecem em destaque, com fontes em tamanho e cores de evidência.
No entanto, vale ressaltar que isso só é possível com a coerência textual, competência
extremamente relevante para a comunicação verbal.
Figura 5 - O suporte digital permite o uso de recursos multimodais em anúncios. Fonte: Lissandra Melo,
Shutterstock, 2018.
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2.2 Coerência textual
O texto é a unidade básica da comunicação. Ao nos comunicarmos, o fazemos por meio
de textos, seja um requerimento, um pedido, uma prece, um bilhete, um anúncio, um
relatório ou um artigo científico. Nesse contexto, quando nos comunicamos, desejamos
nos fazer entender pelos textos orais ou escritos que produzimos. Da mesma forma,
quem escuta ou lê um texto, qualquer que seja, procura nele um sentido. 
O livro “Coerência textual”, de Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia, publicado em 2009, trata do
conceito de coerência, dos fatores de coerência e da relação entre coerência e ensino, sempre com exemplos
de textos reais, o que torna a aprendizagem dos conceitos mais fácil e satisfatória.
Tomaremos como objeto de análise o texto escrito por Carlos (26 anos, ensino superior),
informante do corpus Discurso & Gramática da cidade de Natal (CUNHA, 1993, p. 13), ao
narrar uma experiência pessoal:
Eu ia para Pium em um jipe sem capota, aqueles de praia, com o meu irmão, meu pai, a
empregada, que ia grávida, e o motorista. Fui pela manhã e quando cheguei lá o pessoal
tomou umas cervejas o dia todo, quando foi à tarde, quase à noite nós saímos de Pium e
quando vínhamos na BR 101 próximo à fábrica Soriedem aconteceu o acidente. Nós
vínhamos à esquerda da BR e um ônibus da empresa Nordeste pediu para ultrapassar,
porque as ultrapassagens são feitas pela esquerda, mas o motorista não, passou pela
direita, então o ônibus passou pela direita e trancou a gente e jogou todo mundo na
estrada. Ficou todo mundo espalhado pela BR 101, a sorte da gente foi que não passou
nenhum carro na hora, apesar de ser um horário de muito trânsito. Passaram alguns carros
e nos socorreram na hora. Meu pai teve escoriações leves pelo corpo, meu irmão, a
empregada e o motorista também, apesar do motorista ter sofrido um corte na testa de
leve. A empregada que estava grávida mais tarde teve o menino lá em casa, nasceu vivo e
depois morreu no hospital, devido o susto que tomou. Eu fui o único que ficou internado
no hospital Valfredo Gurgel com escoriações e pancadas na cabeça, tive que fazer uma
cirurgia plástica no rosto que ficou aparecendo os ossos e as raízes dos dentes, no braço
esquerdo também fiz uma plástica porque arrastou no chão e comeu a carne. Passei mais
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ou menos um mês internado, só recebia visitas uma vez por semana, eu ficava de um lado
do prédio e os meus pais do outro sem poder se tocar. Fiquei em cadeiras de rodas, porque
pensava que não podia andar. Depois comecei a andar normalmente.
A seguir, nos aprofundaremos sobre o conceito de coerência e os fatores envolvidos na
interpretabilidade dos textos, como no da citação anterior. 
2.2.1 O que é coerência?
A coerência diz respeito à construção dos sentidos no texto, à sua interpretabilidade.
Segundo Koch e Travaglia (2009), embora existam textos com problemas de coerência,
não existem textos totalmente incoerentes, visto que, logicamente, todos desejam ser
compreendidos. Portanto, essas incoerências localizadas podem ser superadas por
meio da reescrita.
Na fala, esse processo pode ser realizado com a correção verbal, como quando
explicamos uma informação mal interpretada usando outras palavras, de forma a deixá-
la mais clara. 
VOCÊ SABIA?
Marcuschi (2008) considera que, sendo o texto um evento comunicativo, três aspectos se
articulam para a produção de sentidos: aspectos linguísticos, aspectos sociais (o contexto
sócio-histórico) e aspectos cognitivos (conhecimentos armazenados na memória dos
participantes da comunicação).
Assim, a coerência é composta pelo domínio linguístico, que define a coerência interna
do texto; e os domínios pragmático e extralinguístico, que determinam a coerência
externa no texto.
No domínio linguístico, é possível perceber no texto do informante Carlos o uso
coerente de recursos gramaticais e a seleção adequada de palavras e expressões, a fim
de esclarecer sobre o ocorrido, não havendo contradição em nenhum momento. Além
disso, o texto progride com novas informações sendo acrescentadas, o que contribuiu
para a progressão textual e, consequentemente, para a coerência textual.
Já o domínio pragmático diz respeito à interação: o contexto, o tipo de ato de fala, os
valores e as crenças dos interlocutores. Assim, o texto de Carlos é coerente, visto que
atende ao que é solicitado (uma narrativa de experiência pessoal), e é adequado à
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situação comunicativa em questão.
Por conseguinte, o domínio extralinguístico se relaciona ao conhecimento de mundo
dos interlocutores e ao conhecimento partilhado entre eles, o que confere sentido
completo ao texto. Esse domínio também é chamado de coerência externa, pois diz
respeito à veracidade das informações, se elas condizem com o mundo exterior ao qual
pertence.
Desse ponto de vista, o texto produzido pelo informante é coerente, pois não contradiz
o mundo real. 
2.2.2 Fatores de coerência
A construção da coerência ocorre pela consonância de fatores linguísticos e
extralinguísticos. Os principaisdesses fatores são os elementos linguísticos, o
conhecimento de mundo, o conhecimento compartilhado e a inferência.
Ingedore Villaça Koch, autora alemã naturalizada brasileira, é professora do Departamento de Linguística do
Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade de Campinas. É um dos principais expoentes da
Linguística Textual no Brasil, com estudos sobre texto e interação por meio da linguagem. Vale a pena melhor
conhecer tal personalidade para nos aprofundarmos em nossos estudos!
Sem dúvida, os elementos linguísticos são importantes para o desenvolvimento da
coerência em um texto. A seleção das palavras, sua organização sintática (em frases) e
sua relação com outras palavras são pistas que conduzem o leitor à plena interpretação
dos sentidos do texto. Assim, para que possamos interpretar a escrita com qualidade, o
primeiro passo é conhecer o significado das palavras utilizadas e compreender a
organização das informações na superfície textual.
No entanto, é preciso reconhecer que o componente linguístico está apenas na
superficialidade do texto, e que a construção dos sentidos é um processo bem mais
profundo, que ocorre na ativação do nosso conhecimento de mundo. É quase
impossível construir o sentido de um texto que trate de um assunto o qual
VOCÊ O CONHECE?
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desconheçamos completamente. Para a maioria de nós, compreender um relatório
técnico de viagem espacial, por exemplo, constitui-se em uma tarefa muito complexa,
pois esse tipo de experiência não faz parte de nosso conhecimento de mundo.
Além disso, esse conhecimento de mundo ou repertório é adquirido ao longo de nossas
vivências e de nossas leituras. Essas experiências ficam arquivadas na memória e são
resgatadas quando, ao nos depararmos com um texto, procuramos sentido nas palavras
a partir da semelhança do que é dito com o que já vivenciamos. No texto em análise,
Carlos relata uma ultrapassagem de carro que causou um acidente na estrada. Assim, se
tivermos o conhecimento de que toda ultrapassagem deve acontecer pela esquerda,
inferimos que a ultrapassagem forçada pela direita causou o acidente.
Dessa forma, podemos entender que o conhecimento compartilhado diz respeito ao
conhecimento de mundo comum ao produtor e ao receptor de um texto. Os
participantes envolvidos em uma situação comunicativa precisam ter o máximo de
conhecimento compartilhado, a fim de que os dois se compreendam mutuamente. No
depoimento de Carlos, ele afirma que foi para Pium, sem apresentar mais nenhuma
explicação sobre esse termo. Isso significa que o seu interlocutor, nesse caso um
entrevistador, partilha com ele o conhecimento sobre o município de Pium, que fica na
região metropolitana de Natal. Sem esse conhecimento compartilhado, a compreensão
do texto poderia ser prejudicada, pois o leitor teria dúvidas sobre seu significado
(embora linguisticamente ele saiba que se trata de nome próprio, ou seja,
possivelmente pertencente a uma pessoa ou a um lugar).
A inferência, por outro lado, é uma operação dedutiva por meio da qual o leitor chega a
conclusões que não estão explícitas no texto, mas que podem indicar um caminho para
o que está implícito. Ao produzir um texto, oral ou escrito, omitimos algumas
informações que julgamos desnecessárias por considerarmos que o interlocutor será
capaz de realizar as inferências. No depoimento de Carlos, após narrar o acontecimento
do acidente, ele afirma que os feridos foram socorridos e faz uma espécie de salto para
explicar o estado hospitalar de cada um. Ele não explicita, por exemplo, como ocorreu o
resgate: será que uma ambulância foi acionada ou as próprias pessoas que passavam
pelo local colocaram os feridos nos seus carros e os levaram para suas respectivas
casas? Essa informação não está explícita, mas é possível inferir, com base nas pistas
que o texto nos dá, que os feridos foram encaminhados ao hospital, menos a
empregada, que deu à luz em casa.
Segundo Koch e Travaglia (2009, p. 79), “[...] todo texto assemelha-se a um iceberg – o
que fica à tona, isto é, o que é explicitado no texto, é apenas uma pequena parte daquilo
que fica submerso, ou seja, implicitado”, por isso, a coerência é considerada bem mais
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como um processo cognitivo do que linguístico.
A seguir, discutiremos outra competência importante para a eficiência da comunicação:
a coesão textual. 
2.3 Coesão textual
A coesão é a propriedade de articulação das ideias no texto. É “[...] o conjunto de
estratégias de sequencialização responsável pelas ligações linguísticas relevantes entre
os constituintes articulados no texto” (OLIVEIRA, 2017, p. 195). Em outras palavras, é o
que faz do texto uma unidade, a fim de que não seja apenas um grande emaranhado de
informações desconexas. 
Figura 6 - A coesão é a ligação das ideias na tessitura textual. Fonte: maradon 333, Shutterstock, 2018.
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A partir de agora, estudaremos o conceito de coesão, as estratégias utilizadas para que
um texto seja considerado coeso e falaremos da importante relação entre a coesão e a
coerência textual.
2.3.1 O que é coesão?
Como dito anteriormente, a coesão é a conexão existente entre as ideias. Ela se
manifesta por meio de elementos linguísticos utilizados para relacionar as ideias, de
forma a contribuir para a coerência textual. É o caso do uso de conectivos, como
preposições e conjunções, para articular as partes de um texto. 
O esquete em vídeo intitulado “Problemas linguísticos”, produzido pelo grupo Porta dos Fundos, trata de
forma bem-humorada e exagerada os casos de uso inadequado de conectivos na comunicação verbal, o que
interfere diretamente na coerência, podendo tornar o texto incompreensível. Assista em:
<https://www.youtube.com/watch?v=j-PSnhvG5fQ&feature=youtu.be (https://www.youtube.com/watch?v=j-
PSnhvG5fQ&feature=youtu.be)>.
É a coesão que confere harmonia ao texto, que deixa de ser uma sequência de
informações soltas e passa a formar uma unidade de sentido. Para Koch e Travaglia
(2009, p. 14), “[...] a coesão textual, mas não só ela, revela a importância do
conhecimento linguístico (dos elementos da língua, seus valores e usos) para a
produção do texto e sua compreensão e, portanto, para o estabelecimento da
coerência”.
Vale destacar, contudo, que há algumas estratégias linguísticas de coesão e que se
manifestam no texto que estamos analisando como exemplificação, conforme Halliday
e Hasan (1976). Vamos entender melhor sobre essas estratégias na sequência.
2.3.2 Estratégias de coesão
Halliday e Hasan (1976) elencam cinco estratégias de coesão. São elas: a referência, a
substituição, a elisão, a conjunção e a coesão lexical.
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A referência é o processo de retomada ou antecipação de referentes no texto. No trecho
“Eu ia para Pium em um jipe sem capota, aqueles de praia”, o pronome “aqueles”
retoma o referente citado anteriormente pela expressão “jipe sem capota”. Esse
procedimento é chamado de anáfora. A anáfora também pode ser indireta, quando não
retoma o referente em sua totalidade, mas parcialmente, como ocorre no trecho “[...]
um ônibus da empresa Nordeste pediu para ultrapassar [...], mas [...] o motorista passou
pela direita e trancou a gente e jogou todo mundo na estrada”, em que a palavra
“motorista”, que retoma o referente “ônibus da empresa Nordeste”, ainda que apenas
parcialmente.
Já no trecho “[...] na BR 101 próximo à fábrica Soriedem aconteceu o acidente”, o termo
“acidente” antecipa todo o relato posterior que descreverá o ocorrido,configurando-se
como uma catáfora.
A referência é importante para o texto na medida em que contribui para sua
manutenção temática e para a sequenciação de ideias, evitando repetições excessivas e
desnecessárias.
A substituição também é um recurso eficaz na progressão textual, pois, ao substituir
uma palavra ou expressão já citada no texto, não ocorre somente a troca de um
vocábulo por outro, mas novos sentidos podem surgir e contribuir para a composição
textual. No excerto “[...] então o ônibus passou pela direita e trancou a gente e jogou
todo mundo na estrada. Ficou todo mundo espalhado pela BR 101”, a expressão “BR
101” substitui a palavra “estrada”, e – mais do que isso – especifica a informação dada
anteriormente.
A elisão, ou elipse, é um processo linguístico interessante que consiste na recuperação
de um referente sem citá-lo. Esse fenômeno também é chamado de anáfora zero.
Quando o informante diz que “[...] o ônibus passou pela direita e trancou a gente e
jogou todo mundo na estrada”, não se faz necessário repetir o sujeito das ações, que é
“o ônibus”, antes de cada um desses verbos. Na verdade, essa informação está clara,
apesar das omissões, evitando redundâncias.
A conjunção, por sua vez, ocorre pela utilização de mecanismos coesivos que
estabelecem vínculos entre frases, sejam eles vínculos de tempo, causa, consequência,
alternância, oposição, condição, finalidade, entre outros. No trecho “[...] no braço
esquerdo também fiz uma plástica porque arrastou no chão”, a palavra “porque”
estabelece uma relação de causa e consequência entre essas frases, sendo a segunda a
causa da primeira.
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Por fim, a coesão lexical ocorre de forma mais sutil, pois se trata da seleção e do uso de
palavras que se relacionam entre si, articulando as ideias de maneira que a forma e o
conteúdo do texto estejam harmoniosamente organizados. Veja o trecho:
Eu fui o único que ficou internado no hospital Valfredo Gurgel com escoriações e pancadas
na cabeça, tive que fazer uma cirurgia plástica no rosto que ficou aparecendo os ossos e as
raízes dos dentes, no braço esquerdo também fiz uma plástica porque arrastou no chão e
comeu a carne [...]
Nele, percebemos que as informações (hospital, escoriações, pancadas, cirurgia, ossos,
dentes e braço) estão organizadas de forma a produzir na mente do interlocutor uma
produção eficiente dos sentidos.
A escrita, em relação à fala, é mais propícia à utilização dos elementos linguísticos de
coesão, visto que é possível reler e alterar a forma textual, enquanto que na
dinamicidade da fala a coesão nem sempre está explícita pelos elementos linguísticos,
mas por elementos extratextuais. Ou seja, quando conversamos oralmente com
alguém, espontaneamente deixamos algumas frases soltas, mudamos de assunto sem
relacionar explicitamente um com o outro. Contudo, essas relações ficam claras por
meio do conhecimento partilhado entre os interlocutores e por outros elementos
próprios da conversação, como gestos, expressões, pausas e entonação.
2.4 Princípios da coerência e coesão
textual
Quando lemos um texto, não decodificamos e interpretamos cada parte isoladamente,
mas apreendemos o seu sentido global. Dessa forma, ainda que não haja marcas
linguísticas explícitas de coesão, é possível que a conexão entre as ideias ocorra
intuitivamente por parte do leitor. É o que se pode perceber na leitura de um trecho do
conto “Circuito fechado”, de Ricardo Ramos (2012, p. 13):
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Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme
de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha.
Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata,
paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros,
caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos.
Quadros. Pasta, carro. [...] Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa,
sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
O que você entendeu do texto que leu? É apenas uma sequência aleatória de palavras e
expressões? Trata-se de um texto sem coesão e sem coerência?
No conto de Ramos (2012), há poucos elementos linguísticos de coesão, além de apenas
algumas preposições e conjunções, como “de” e “e”, respectivamente. Não há uma
relação explícita entre as palavras no texto. No entanto, por meio de um processo
cognitivo, conseguimos compreender o sentido global do texto e a relação existente
entre as partes. O conhecimento linguístico nos permite decodificar o vocabulário
utilizado pelo autor e perceber a relação de significado que se estabelece entre essas
palavras.
Por conseguinte, o conhecimento de mundo partilhado entre o autor e nós, leitores,
permite-nos reconhecer que a narrativa apresenta um dia comum na vida de um
homem de negócios. A coerência não está no texto em si, ela não pode ser destacada ou
apontada na superfície textual. Na verdade, ela é construída na interação entre os
participantes da situação comunicativa. Os processos de coesão e coerência, portanto,
ocorrem de forma simultânea na mente do leitor.
“O texto de Ricardo Ramos é uma prova de que a coesão superficial do texto não é
necessária para a textualidade. Contudo, isto não significa que ela seja irrelevante [...]
Aqui, a coesão é inferida a partir da coerência” (MARCUSCHI, 2008, p. 106). Desse modo,
a coesão é gramatical, mas também é semântica, pois, em muitos casos, a relação entre
as partes do texto se dá com a percepção dos significados e da interação entre os
interlocutores. Como podemos perceber, então, existe uma forte relação entre a coesão
e a coerência, visto que aquela contribui para esta.
Como vimos, não são necessariamente os processos gramaticais que contribuem para a
construção de sentidos no texto, mas os processos cognitivos. “Isto quer dizer que a
coerência seria uma espécie de princípio global de interpretação” (MARCUSCHI, 2008, p.
125). Assim, ainda que um texto não seja completamente incoerente, é preciso
considerar que alguns textos podem apresentar quebras de coerência em pontos
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localizados. Esses eventuais problemas de coerência podem ser resolvidos com uma
boa correção textual, com base nos princípios ou metarregras de coerência, formuladas
por Charroles (1988) e divulgadas por Costa Val (1999).
Segundo Charroles (1988) e Fonseca (1992), os princípios básicos da coerência são a
continuidade, a progressão, a não contradição e a articulação.
A continuidade é a retomada de elementos e ideias no decorrer do texto. A coesão
realizada por meio da referência é, pois, uma estratégia de continuidade. Na prática,
todo texto precisa tratar de um tópico central, ou seja, um assunto global mantido ao
longo de todo o texto com retomadas. Isso se aplica facilmente a textos escritos, porém,
no diálogo cotidiano oral, é possível perceber que geralmente há muitos tópicos
discursivos envolvidos na conversa sem que, no entanto, a conversa perca sua
coerência.
Além disso, para que a coerência de um texto seja mantida, é necessário que haja
continuidade dos tópicos ou assuntos abordados. No entanto, para que o texto não se
torne um grande círculo em que as informações giram e se repetem de forma
redundante, é necessário que haja a progressão, manifesta pelas novas informações
que são acrescentadas ao tópico central, fazendo-o progredir. Em outras palavras, é
preciso que o texto possua um eixo central e que surjam novas informações
relacionadas a ele para que as ideias possam fluir.
Segundo o dicionário on-line de português, Dicio, a tautologia consiste na repetição de

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