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1 Clara Rêgo – 6° semestre 2021.1 Esquistossomose Mansoni Agente etiológico É uma doença causada pelo parasita Schistosoma mansoni → parasita que ficam nos vasos sanguíneos do ser humano, alimentando-se dos nutrientes circulantes. O S. mansoni tem o homem como hospedeiro definitivo, no qual vive no sistema venoso mesentérico, e tem como hospedeiro intermediário o caramujo, os quais vivem em água doce de rios e lagos em regiões endêmicas do país (Rio Grande do Norte, sul da Bahia, Minas Gerais são os principais). CICLO EVOLUTIVO E TRANSMISSÃO O habitat do esquistossoma adulto no homem são os ramos do sistema venoso porta, principalmente no território da veia mesentérica inferior. ➔ Hospedeiro intermediário: caramujo. ➔ Hospedeiro definitivo: homem. PATOGÊNESE O contato das formas evolutivas do S. mansoni com o ser humano pode produzir a doença em três fases diferentes: 1. Penetração cutânea das cercarias: isso pode causar uma dermatite localizada após 24 a 48 horas após contato. 2. Evolução para vermes adultos: após 4 a 8 semanas da infestação, o parasita amadurece para forma adulta e se instalam na circulação venosa mesentérica. Esse momento o paciente pode desenvolver uma síndrome febril aguda eosinofílica, 2 Clara Rêgo – 6° semestre 2021.1 chamada de febre de Katayama. Essa provavelmente acontece pela resposta imunológica à antígenos liberados pelo parasita. A Febre de Katayama é mais comum em pessoas de áreas não endêmicas, que viajaram e tiveram contato com o S. mansoni. 3. Disseminação e instalação tecidual dos ovos eliminados pelas fêmeas adultas: isso resulta na reação imunológica local contra esses ovos. Os ovos adultos ficam vivos por 12 dias, e quando morrem liberam antígenos que desencadeiam uma resposta inflamatória que resultam no granuloma esquistossomótico. Esse é composto por células do sistema imune (como linfócitos, células de Langhans) ao redor do ovo, que se formam em diferentes tecidos, mas principalmente na mucosa colorretal e espaços-porta do fígado. ▪ Dos ovos depositados nas vênulas mesentéricas, um terço é eliminado pelas fezes (importante para o diagnóstico), outro terço fica alojado na microvasculatura da mucosa colorretal (possível ver pela biópsia retal), e o último terço é levado para circulação porta, atingindo principalmente o fígado, mas outros órgãos também: pulmão, SNC, etc. ✓ Mucosa colorretal: esses ovos retidos na mucosa colorretal podem se apresentar de duas formas. Primeira como a forma intestinal, marcada pela diarreia do tipo colite, e a forma pseudotumoral, que confunde diagnóstico com neoplasia colorretal. ✓ Espaços porta hepáticos: os ovos alojados aí são responsáveis por duas formas de apresentação da doença, a forma hepática e forma hepatoesplênica da esquistossomose crônica. O que acontece é que esses ovos desenvolvem uma progressiva fibrose periportal: fibrose de Symers, que inicialmente causam hepatomegalia de consistência endurecida e nodular, com predomínio do lobo hepático esquerdo. Ainda pode evoluir para hipertensão portal (intra-hepática pré-sinusoidal), a qual traz consequências porto- cava, como varizes esofagianas, que podem romper e causar hemorragia digestiva alta; esplenomegalia congestiva, ✓ Disseminação para outros tecidos: por conta da hipertensão portal, parte do sangue é desviado para a cava, por onde chega aos pulmões, medula espinal... ▪ Outro mecanismo fisiopatogênico é a reação antígeno anticorpo, o qual forma imunocomplexos circulantes, os quais se depositam nos casos renais, sendo a explicação para a glomerulonefrite esquistossomótica. QUADRO CLÍNICO I. Esquistossomose aguda: dermatite cercariana + febre de Katayama. ➔ Dermatite cercariana: prurido na região por onde as cercarias penetraram. ➔ Febre de Katayama: decorrente da reação imunológica contra antígenos do parasita. Manifesta-se entre 4 a 8 semanas após infestação cercariana. Geralmente é autolimitado. ▪ Febre alta de início abrupto: 39°C. A febre é intermitente, mas pode durar por 4 semanas; ▪ Calafrios; ▪ Tosse seca; ▪ Broncoespasmo; ▪ Náuseas e vômitos; ▪ Diarreia, podendo ter disenteria associada, associada à dor abdominal. ▪ Pacientes podem apresentar anorexia e perda ponderal. ➔ Exame físico: hepatoesplenomegalia (pode durar até 2 a 3 anos), micropoliadenopatia generalizada (afecção de pequenos gânglios linfáticos), rash cutâneo do tipo urticária ou púrpura com prurido e até angioedema. ➔ Laboratório: intensa eosinofilia e leucócitos altos (> 25.000/mm³ → reação leucemiode); há aumento de neutrófilos – o que contribui para leucocitose; VHS bem elevado e pode haver hipergamaglobulinemia policlonal. ➔ Diagnóstico diferencial: com várias síndromes febris, o que chama atenção na esquistossomose é a eosinofilia importante e procedência ou viagem de área endêmica – com banho de rio nas últimas 4 a 8 semanas. II. Esquistossomose crônica: maior parte é assintomática. Para pensar em esquistossomose crônica, precisamos investigar na história procedência e se viagens recentes à áreas endêmicas (Minas Gerais, sobe pelo litoral nordestino na Bahia e Paraíba). ➔ FORMA HEPATOINTESTINAL: 3 Clara Rêgo – 6° semestre 2021.1 ▪ Mais comum entre crianças e adultos jovens (5 a 20 anos). ▪ Essa forma acontece por presença de ovos nos sistemas porta do fígado, no intestino e mucosa colorretal. ▪ Clínica é muito variada: em geral são sintomas dispépticos (náuseas, vômitos, plenitude gástrica, pirose, anorexia...), também dor abdominal, surtos diarreicos... ▪ Laboratorial: eosinofilia NÃO tão frequente. ▪ Exame físico: emagrecimento e hepatomegalia (2-6 cm abaixo do rebordo costal direito – hipertrofia do lado esquerdo) indolor, consistência endurecida e superfície irregular. Baço não é palpável nem percutível. ➔ FORMA HEPATOESPLÊNICA: forma clínica mais importante da esquistossomose. ▪ Os pacientes que evoluem da hepatointestinal para hepatoesplênica dependem de diversos fatores, como imunidade, carga parasitária, raça, outras comorbidades... ▪ Esplenomegalia associada à hipertensão portal. ▪ Esses pacientes apresentam achados de hipertensão portal: varizes de esôfago e esplenomegalia. Ascite não é comum. ▪ Manifestação clínica mais proeminente é hematêmese, causada pela ruptura de varizes de esôfago. ▪ Exame físico: hepatoesplenomegalia, endurecida e nodular, com aumento maior do lobo esquerdo (sob apêndice xifoide). As vezes o baço pode atingir fossa ilíaca esquerda ou cicatriz umbilical. DIAGNÓSTICO I. Métodos parasitológicos: O exame de fezes é fundamental, com especial importância para técnicas de Lutz e Kato-Katz → detecta presença de ovos nas fezes, o que ocorre após 40 dias de infecção. Ele tem sensibilidade de 50%, por isso é recomendado por volta de 6 amostras. A biópsia retal (oograma – contagem de ovos) tem sensibilidade de 80%. É muito importante no controle de cura. II. Provas imunológicas: A reação imunológica só acontece na fase crônica da doença, então as provas imunológicas só se tornam positivas a partir do 25° dia. Sua importância aumenta com a cronificade da doença, sua progressão. III. Avaliação inespecífica: leucopenia e eosinofilia. Pode haver plaquetopenia, e anemia hemolítica (pelo hiperesplenismo) é raro. TRATAMENTO ➔ Fase aguda: ▪ Dermatite cercariana: trata com anti-histamínico tópicos e corticoide tópico, associado ao tratamento específico. ▪ Febre de Katayana: podem requerer internação hospitalar. Hidratação + antitérmicos + analgésicos + antiespasmódicos. Além disso a terapia específica associada à predinisona ➔ Fase crônica: ▪ Tratar quando presente: sintomas diarreicos, dispépticos. Na forma hepatoesplênica, importante condutas para redução de risco de hemorragias, com uso de betabloqueadores e escleroterapia de varizes de esôfago. ➔ Tratamento específico: ▪ Praziquantel → todas as fases da doença. Dosede 40mg/kg em tomada única. ▪ Oxaminiquine → 15mg/kg em tomada única para adultos, e 20 mg/kg para crianças. ➔ Para controle de cura: seis exames parasitológico de fezes (uma vez por mês ou a cada 2 meses), e/ou biópsia retal no sexto mês pós-tratamento.
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