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Julia Paris Malaco – UCT15 SP2 – Gastroenterologia Diarreia É definida por aumento do número de evacuações ou diminuição da consistência de fezes, sendo necessário um mínimo de 3 evacuações diárias. Alteração do hábito intestinal: Alteração da consistência (fezes amolecidas ou líquidas); Aumento da frequência das evacuações (mais de 3 vezes ao dia); Fazes com peso > 200 g/dia. Quanto ao tempo de duração Diarreia aguda: Duração < 14 dias (2 semanas). Diarreia persistente: Duração de 2 a 4 semanas (14 a 30 dias) Diarreia crônica: Duração > 4 semanas (maior que 30 dias) Alguns autores sugerem que o tempo mínimo para considerar diarreia crônica é de 6 semanas, a literatura médica em geral varia entre 4 e 8 semanas. Existe também uma condição chamada: Pseudodiarreia – Eliminação de fezes recorrentes, mas com peso <200 g/dia. Que é muito comum na Síndrome do intestino irritável. Quanto ao local anatômico Diarreia alta Proveniente do intestino delgado; Evacuações mais volumosas, pouco frequentes, cessa após jejum e contém restos alimentares; Causa síndrome disabsortiva associada com esteatorreia (fezes gordurosas) e distensão abdominal. Diarreia baixa Proveniente do cólon; Evacuações pouco volumosas, frequentes, pode ocorrer eliminação de muco, pus ou sangue; Não cessa após jejum - Associadas a tenesmo (sensação de evacuação incompleta) e urgência fecal (sensação de constante necessidade de defecar). Uma das mais importantes classificações da diarréia é quanto ao mecanismo fisiopatológico, podendo ser dividida em 5 grupos: Secretora: Aumento da secreção de água e eletrólitos. Com lesão da mucosa (alérgenos, vírus, bactérias ou parasitas) ou sem lesão (laxativos, diarreia dos viajantes, enterotoxinas). Osmótica: Solutos inabsorvíveis na luz intestinal causam aumento da passagem de líquido para ocorrer o equilíbrio osmótico. Pode ser secundária ao uso de produtos dietéticos que contém açúcar e produtos não absorvíveis. Melhora com o jejum. Motora: Presença de trânsito acelerado (hipertireoidismo, laxativos, drogas) ou diminuído (desnutridos, diabéticos, medicamentos, antiperistálticos). Exsudativa ou inflamatória: Presença de sangue, muco, pus (processos inflamatórios e infiltrativos). Disabssortiva: Impedimento da absorção por deficiência digestiva (esteatorreia) ou lesão da parede do intestino delgado (ex. por áscaris) Diarreia aguda As diarreias infecciosas representam uma das 5 principais causas de morte no mundo, evidenciando maior impacto em crianças. Em países subdesenvolvidos, a incidência é de 2 a 3 vezes maior. Fatores de risco Idade < 5 anos (lactentes e pré-escolares); Baixa condição socioeconômica; Precariedade no saneamento básico. As crianças são o grupo com maiores taxas de morbimortalidade (50 diarreias/ano, com 10% delas desenvolvendo quadros de desidratação significativa). Etiologia da diarreia aguda Infecções: 90% dos casos - Virais, bacterianas, parasitárias e até mesmo fúngicas. Medicamentos: Principais que causam diarreia: https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/diarreia_cronica.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/diarreias_infecciosas.htm Julia Paris Malaco – UCT15 o Orlistate (inibe a absorção de gordura, muito comum no tratamento da obesidade). o Metformina/acarbose (diminui a absorção de carboidrato, usado no tratamento do diabetes). o Procinéticos/diuréticos/antibióticos (pode causar uma lesão direta na mucosa intestinal). o AINES/quimioterápicos. Intolerâncias alimentares: Como intolerância à lactose. Outras causas: Como ingestão de um elemento osmótico (sorbitol + manitol), Síndrome da má absorção, uso excessivo de magnésio. Logo, a diarreia aguda pode ser de etiologia infecciosa e não infecciosa. A presença de: Sangue: indica doença inflamatória, infecciosa ou neoplásica; Muco: pode ser síndrome do intestino irritável; Líquido com flatulência: indica má absorção de carboidratos; Volumosas e cor branco-amarelada: esteatorréia. Diarreia aguda infecciosa A maioria das diarreias de causa infecciosa é aguda, sendo autolimitada ou de fácil tratamento. Há poucas infecções que causam diarreia prolongada - Ocorre mais em pacientes imunocomprometidos. Em geral, os casos mais comuns de diarreia infecciosa são virais (rotavírus). Transmissão: Via fecal-oral ou por ingestão de água e alimentos contaminados. A patogênese da diarreia bacteriana aguda pode ser classificada em 2 mecanismos básicos de ação: 1. Diarreia toxigênia – Enterotoxina é a principal causa do mecanismo patogênico. Agentes infecciosos produzem toxinas – Aumentam a secreção da mucosa intestinal. Liberam enterotoxinas nas células epiteliais do intestino delgado (enterócitos) que ativam a adenilato ciclase ou guanilato ciclase (proteínas transmembranas que ao ser alteradas por toxinas provocam efluxo de eletrólitos e água para a luz intestinal – perda de líquido extracelular. Causa diarreia com desidratação acentuada. Estimulam o aumento de secreção de fluidos pela mucosa intestinal – Hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito. O conteúdo fecal é aquoso e frequentemente volumoso, tendo origem no intestino delgado superior, onde a enterotoxina apresenta maior atividade. Desequilíbrio entre secreção e absorção da mucosa → Secreção de fluídos > absorção. O patógeno não invade a superfície mucosa → A arquitetura da mucosa permanece intacta, sem evidência de destruição celular. Exemplos – Salmonella, Vibrio cholerae e E. coli (ETEC). 2. Diarreia invasiva – O organismo penetra a superfície da mucosa como evento primário. Agentes infecciosos – Podem causar lesões ou uma inflamação direta na mucosa. Invasão do epitélio intestinal (intestino delgado inferior – íleo distal e cólon). O rotavírus infecta os enterócitos dentro do epitélio viloso do jejuno e do íleo. Causa destruição dos enterócitos e resulta em transudação no lúmen intestinal e perda de líquidos nas fezes – Lesão e inflamação direta da mucosa intestinal. Comprometimento da absorção intestinal (redução da absorção intestinal devido a lesão). Exsudação de sangue e material inflamatório. Entre o 4º e 5º dia após a infecção, as vilosidades adjacentes unem-se, reduzindo a área afetada e melhorando a integridade da barreira contra essa perda de líquidos. A partir do 6º ao 10º dia de infecção, a arquitetura das vilosidades é restaurada. Exemplos – Shigella, Salmonella, E. coli enteroinavsiva (EIEC), Campylobacter e Yersinia. Diarreia aguda causada por vírus Principal causa de diarreia aguda infecciosa - Rotavírus, norovírus, adenovírus entérico e astrovírus; Vírus produzem proteínas virais que atuam como toxinas. Diarreia leve associada a vômitos, geralmente não inflamatória; Geralmente é autolimitada e melhora em 72 horas (3 dias); Causa importante em crianças e idosos; Julia Paris Malaco – UCT15 Transmissão é mais comum no inverno. Norovírus e rotavírus: principais causadores de diarreia aguda. Os norovírus acometem crianças com mais de 4 anos de idade e adultos jovens. O rotavírus acomete crianças de 4 meses a 4 anos de idade e idosos. Diarreia aguda causada por bactérias 2ª principal causa de diarreia aguda infecciosa. Principais bactérias causadoras de diarreia aguda: Escherichia coli (principalmente a enterotoxigênica - ETEC); Salmonella sp; Campylobacter jejuni; Shigella; Staphylococcus aureus (intoxicação alimentar); Bacillus cereus; Yersinia enterocolitica;Clostridium diffícile; Vibrio cholerae (Vibrião da cólera); Diarreia aguda causada por parasitas Pode ter evolução mais prolongada; Duração > 7 dias. Diarreia dos viajantes Pode acometer de 10 a 50% dos viajantes; Transmissão por água ou alimentos contaminados; 80% dos casos são de infecção bacteriana; 25 a 50% dos casos – E. coli enterotoxigênica (Outras – Shigella, salmonella e Campylobacter, virus e parasitas); Quadro clínico de diarreia aguda O quadro clínico é bastante variável dependendo do agente etiológico. Algumas etiologias vão causar um quadro mais leve e autolimitado, já outras vão causar quadros mais graves e prolongados. Diarreia aquosa e leve (principalmente de etiologia viral autolimitada); Diarreia com sangue pus e muco (principalmente por bactérias que causam lesão inflamatória na mucosa intestinal – Shigella, Salmonella, Yersinia ,E. coli); Náuseas, vômitos, febre, dor abdominal; Flatulência, tenesmo, distensão abdominal. Diagnóstico de diarreia aguda Clínico: Na avaliação é importante determinar a duração dos sintomas, a frequência e as características das fezes. Observar os sinais de depleção do volume extracelular (perda de eletrólitos, sangue, água), como hipotensão ortostática e diminuição do turgor da pele (elasticidade). Indicações de avaliação diagnóstica adicional: Crianças, idosos, imunocomprometidos; Pacientes que evoluem com piora, apresentam comorbidades, indícios de diarreia inflamatória e toxemia; Febre alta; Diarreia com sangue e muco; Diarreia aquosa com sinais de hipovolemia; 6 ou mais evacuações de fezes formadas em 24 horas ou duração dos sintomas por mais de 48 horas; Dor abdominal intensa; Uso recente de antibióticos ou pacientes hospitalizados; Não respondem a antibioticoterapia empírica; Comprometimento sistêmico de outros órgãos. Exames complementares A maioria dos pacientes não necessita de exames complementares. Hemograma e eletrólitos; Ureia, creatinina (função renal); Leucócitos fecais – Indica processo inflamatório Coprocultura (exame bacteriológico das fezes); Parasitológico de fezes (pesquisa de parasitas); Hemocultura (etiologia); Sorologias para alguns agentes etiológicos. Tratamento Hidratação: Tratamento mais importante; O tratamento é principalmente de suporte com hidratação (desidratação representa 50% das causas de mortes por diarreia aguda). Na maioria das vezes pode ser feita via oral - A terapia de reidratação oral é a primeira escolha (eficaz em mais de 90% dos casos). Proporção dos soros formulados pela OMS: Solução para reidratação oral – 1 L de água potável, 3,5 g de NaCl, 20 g de glicose ou 40 g de sacarose, 1,5 g de KCl e 3 g de bicarbonato ou citrato de sódio. A reposição parenteral é reservada para casos graves (hipotensão, desidratação). Antibioticoterapia: Terapia antibiótica não é necessária, na maioria dos casos, desde que a doença seja autolimitada. Indicações para antibioticoterapia se houver sinais de alerta. Diarréia inflamatória – Com sangue, pus e muco + febre + sinais de toxemia e desidratação. Julia Paris Malaco – UCT15 Primeira escolha: Ciprofloxacina 500 mg (12/12h por 3 a 5 dias) ou levofloxacina; Sulfametoxazol + trimetroprina [Bactrim - alérgicos ou intolerantes a quinolonas]: VO 800/160 mg 12/12h por 5 dias Cefaclor, cefuroxima e azitromicina. Observações Antibióticos em pacientes com diarreia por E. coli enterohemorrágica: Pode evoluir com Síndrome Hemolítica urêmica, se uso de antibióticos. Diarreia com sangue, sem febre e sem sinais de toxemia podem ser observados. Sintomático: Metoclopramida e ondansetron para vômitos; Hioscina e dipirona para a dor. Antidiarreicos: O tratamento dos sintomas como dor abdominal e vômitos deve ser sempre realizado, já o tratamento sintomático da diarreia é controverso. A loperamida 2 mg uma droga que reduz a motilidade intestinal é seguro em pacientes sem diarreia inflamatória não prejudicando a evolução dos pacientes. São indicados 4 mg (2 cp.) como dose inicial e, em seguida, 2 mg após cada evacuação diarreica, não excedendo 16 mg/dia por 2 dias ou menos. Efeitos colaterais incluem constipação e piora da dor abdominal. A racecadotrila age como inibidor da enzima encefalinase e pode diminuir a quantidade de água em cada evacuação, a medicação é, entretanto, cara e com benefício sintomático mínimo. O uso de probióticos apesar de disseminado tem benefício questionável e não deve ser rotineiramente utilizado. Um risco potencial da administração de antidiarreico é o desencadeamento de síndrome hemolítica urêmica em pacientes infectados com EHEC. Diarreia crônica Alteração intestinal caracterizada por aumento da frequência ou consistência anormal das evacuações por mais de 4 semanas. Cerca de 5% das pessoas adultas apresentam quadros crônicos de diarreia. Os pacientes em geral não consideram que têm diarreia se não apresentam alteração da consistência das fezes, de forma que do ponto de vista prático, a procura do médico pela queixa de diarreia consiste principalmente na alteração da consistência das fezes. Uma das maiores dificuldades na avaliação de pacientes com diarreia crônica é o enorme número de etiologias possíveis. As principais etiologias variam conforme o país. Em países desenvolvidos as etiologias mais importantes são síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal idiopática e síndromes de má-absorção. Em países subdesenvolvidos as causas infecciosas são as mais importantes. O efeito na qualidade de vida é a principal complicação da doença, mostrando impacto negativo nesses pacientes. A diarreia é usualmente apenas no período em que o paciente está acordado, não necessitando levantar à noite com urgência intestinal. A diarreia crônica pode ser dividida em: Diarreia aquosa – Secretória ou osmótica; Diarréia inflamatória; Diarreia gordurosa ou por má absorção Diarréia secretória: Diarreia permanece mesmo quando o paciente se encontra em jejum (não cessa com jejum); Volume usualmente > 1 litro; Gap osmolar < 50 mosm é indicativo de diarréia secretória (GAP osm fecal baixo); A investigação adicional inclui: Coprocultura; Diagnóstico diferencial para doenças estruturais; Testes seletivos para pesquisa de diarreia secretória com pesquisa de toxinas ou neuro- hormônios. Diarreia osmótica: A maioria das diarreias osmóticas é causada por algum elemento osmoticamente ativo e não absorvível ou por ingestão de magnésio. Cessa com jejum; GAP osm fecal alto (Gap osmolar pode ajudar a diferenciar a diarreia osmótica da secretória); A investigação adicional inclui: Abuso de laxativos e intolerância à lactose; Avaliação de fezes com verificação de pH (pH diminuído pode ser má-absorção de carboidratos); Teste de intolerância à lactose. Diarréia inflamatória: São decorrentes da liberação de citoquinas e mediadores inflamatórios na mucosa intestinal. Têm a presença de muco, pus ou sangue nas fezes e sua causa clássica é a doença inflamatória intestinal. Em geral, o diagnóstico etiológico definitivo só é possível com a realização de biópsias. Julia Paris Malaco – UCT15 As doenças inflamatórias intestinais têm como primeira manifestação em geral 15 e 40 anos de idade e a diarreia tem características inflamatórias, com sangue nas fezes em cerca de 75% dos casos, a gravidade das exacerbações tem correlação frequente com o número de episódios diarreicos. Diagnóstico Sigmoidoscopia ou colonoscopia; Exames radiológicos contrastados ou tomografia de abdome; Coprocultura e exame protoparasitológico de fezes paraexcluir causas infecciosas. A pesquisa de leucócitos fecais é positiva em mais de 70% dos casos. Outras causas que devem ser avaliadas nesses pacientes são colite pseudo-membranosa, isquemia, enterite por radiação e neoplasia. Diarreia gordurosa (esteatorreia) – má absorção: Acompanha má absorção de lipídios e sempre tem origem no intestino delgado. Absorção defeituosa de gorduras, vitaminas lipo e hidrossolúveis, proteínas, carboidratos, eletrólitos e minerais e água. A má absorção crônica pode ser acompanhada por perda de peso, desnutrição, anorexia, distensão abdominal, borborigmos (produção excessiva de gases) e fraqueza muscular. Um marco da má absorção é a esteatorreia, caracterizada pela gordura excessiva nas fezes e por evacuação volumosa, espumante, gordurosa e de cor amarela ou de barro. Exemplos de distúrbios crônicos de má absorção são a insuficiência pancreática, a doença celíaca e a doença de Crohn. A doença intestinal do enxerto-versus-hospedeiro é uma causa importante de má absorção e diarreia após o transplante alogenético de células-tronco hematopoiéticas. Diarréia funcional: Sem sinal de disfunção orgânica - a absorção e secreção estão normais, porém não há tempo suficiente para ocorrer a absorção desses nutrientes corretamente. É um diagnóstico de exclusão, ou seja, quando há ausência de doença orgânica justificável. Ocorre por hipermotilidade intestinal. Exemplos: síndrome do intestino irritável e diarreia diabética (neuropatia autonômica). Esteatorreia Eliminação de gordura nas fezes. Fisiologia: digestão de gordura ocorre no intestino delgado, realizada pela ação de enzimas pancreáticas (lipase) = quebrar moléculas de gordura em outras menores → formam micelas por meio da ação de sais biliares e em seguida são absorvidas pela parede intestinal → Absorção e metabolismo dos lipídios A digestão dos lipídios ocorre com o auxílio de enzimas e de emulsificantes, que permitem uma maior área para a ação da enzima lipase pancreática. Grande parte deste processo ocorre no duodeno, jejuno e íleo (FREEMAN, 1985). Quando as gorduras provenientes do estômago ingressam no intestino delgado encontram um 4 ambiente alcalino (pH≅5,8-6,0), que permite uma atuação da bile produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar. A bile tem por função emulsificar os lipídios, aumentando a superfície dos mesmos com a formação de micro gotículas de gordura. Esteatorreia é a presença de excesso de gordura nas fezes. Isto é geralmente causado por problemas na digestão e absorção gastrointestinais. As mais comuns são doenças do intestino delgado ou do pâncreas. . Causas: má absorção causada por diferentes etiologias, como falhas no processo digestivo, falta de sais biliares ou danos na mucosa intestinal. A má absorção intraluminal deve-se à falta de bile (cirrose ou obstrução dos canais biliares) ou de enzimas pancreáticas (pancreatites ou câncer do pâncreas). A má absorção pela mucosa intestinal pode ocorrer pela destruição das células da mucosa intestinal por drogas, como algumas classes de anti-inflamatórios não esteroides e outros, por parasitas, doenças autoimunes ou por medicações que impeçam a absorção normal dos sais biliares. A obstrução pós-mucosa pode ser congênita (linfangite intestinal, por exemplo) ou adquirida (trauma, linfoma, carcinoma, etc.) Com a obstrução dos canais linfáticos, ocorre a má absorção de gorduras com perda de proteínas e linfócitos, sem prejuízo da absorção de carboidratos. Julia Paris Malaco – UCT15 Há outras causas de má absorção, como o supercrescimento bacteriano, obstrução intestinal anatômica e distúrbios de motilidade do intestino. Algumas doenças metabólicas também podem levar à má absorção, por meio de distintos mecanismos. Outra causa possível é a síndrome do intestino curto, que ocorre quando há ressecção extensa do intestino delgado, deixando menos de 200 centímetros. Diagnóstico: exame de amostras fecais ao microscópios Tratamento: redução da ingestão de gorduras e administração de enzimas pancreáticas. Disenteria diarreia + muco + sangue Presença de fezes escassas, sanguinolentas e/ou purulentas [muco ou pus] Diarreia com sangue: Shigella, Salmonella, Campylobacter, E. coli êntero-hemorrágica. Aumento no número e frequência de evacuações, em que as fezes têm consistência mais mole e também há presença de muco e sangue nas fezes, além de também haver o aparecimento de dores e cólicas abdominais, sendo normalmente indicativo de lesão na mucosa intestinal. Causas: infecções por bactérias (Shigella spp. e Escherichia coli), protozoários (Entamoeba histolytica) Diagnóstico: clínico + parasitológico de fezes Tratamento: hidratação, antimicrobianos. Sintomas: Febre, dor de cabeça, mal estar, anorexia, vômito, seguidas várias horas depois por diarreia aquosa e posteriormente pode surgir sangue nas fezes Infecção leve ou moderada em indivíduos saudaveis, desaparecendo em poucos dias Em outros casos, progressão dentro de horas a dias para disenteria franca com fezes de pequeno volume, porém frequentes, com sangue e muco, acompanhadas de dor abs inferior e tenesmo Sindrome de má absorção intestinal A má absorção refere-se ao comprometimento da absorção intestinal de nutrientes. P ode ser resultante de defeitos congênitos envolvendo o transporte de nutrientes; do comprometimento dos processos digestivos junto ao lúmen intestinal, ou de defeitos adquiridos nas células absortivas intestinais que revestem a superfície do intestino. A má absorção, outro fator relacionado a absorção de nutrientes, refere-se ao comprometimento da digestão de nutrientes junto ao lúmen intestinal. A má absorção pode afetar macronutrientes (p. ex., proteínas, carboidratos, gorduras) e/ou micronutrientes (p. ex., vitaminas, minerais), provocando excreção fecal excessiva, deficiências nutricionais e sintomas gastrointestinais. A má absorção pode ser global, com a absorção prejudicada de quase todos os nutrientes, ou parcial (isolada), com má absorção apenas de nutrientes específicos Em geral, existem 3 causas possíveis de má absorção de gorduras: doença do intestino de lgado, doença do trato biliar ou hepático e insuficiência pancreática exócrina. A digestão e a absorção ocorrem em três fases: 1. Hidrólise intraluminal de gorduras, proteínas e carboidratos pelas enzimas – sais biliares aumentam a solubilização das gorduras nessa fase 2. Digestão por enzimas da borda em escova e absorção dos produtos finais 3. Transporte linfático dos nutrientes O termo má absorção é comumente utilizado quando alguma dessas fases é prejudicada. Contudo, estritamente falando, o comprometimento da fase 1 envolve uma má digestão, em vez de uma má absorção Digestão dos carboidratos: A amilase da enzima pancreática e enzimas com borda em escova nos microvilos quebram carboidratos e dissacarídeos em monossacarídeos constituintes. Bactérias colônicas fermentam os carboidratos não absorvidos em CO2, metano, H2 e ácidos graxos de cadeia curta (butirato, propionato, acetato e lactato). Esses ácidos graxos provocam diarreia. Os gases causam distensão abdominal e excesso de gases. Lactase: quebra de lactose Sacarase: quebra de sacarose Julia Paris Malaco – UCT15 Maltase e alfa-dextrinase: quebra demaltose e polímeros de glicose Proteínas: A pepsina gástrica inicia a digestão das proteínas no estômago (e também estimula a liberação de colecistocinina que é crucialpara a secreção das enzimas pancreáticas). Enterocinase, uma enzima da borda em escova, ativa o tripsinogênio em tripsina, que converte muitas proteases pancreáticas em suas formas ativas. As enzimas pancreáticas ativas hidrolisam as proteínas em oligopeptídeos, que são absorvidos diretamente ou hidrolisados em aminoácidos. Peptidases (aminopolipeptidases e dipeptidases): clivam polipeptídeos em tripeptídeos e dipeptídeos até aminoácidos. Gorduras: Enzimas pancreáticas (lipase e colipase) dividem os triglicerídeos de cadeia longa em ácidos graxos e monoglicerídeos, os quais se juntam aos ácidos biliares e fosfolipídeos para formar micelas que passam pelos enterócitos jejunais. Os ácidos graxos absorvidos são ressintetizados e combinados com proteínas, colesterol e fosfolipídeos para formar quilomícrons, os quais são transportados pelo sistema linfático. Os triglicerídeos de cadeia média podem ser absorvidos diretamente. Gorduras não absorvidas adsorvem vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e possivelmente alguns minerais, causando sua deficiência. O hipercrescimento bacteriano provoca desconjugação e desidroxilização de sais biliares, limitando sua absorção. Sais biliares não absorvidos estimulam a secreção de água no cólon, causando diarreia Lipase entérica: pequena quantidade Sais biliares e lectina: emulsificam gorduras, fornecendo superfície maior para a ação das lipases. Os produtos finais são ácidos graxos e glicerol, que são carreados para a borda em escova pelas micelas. Síndrome do intestino irritável (SII) A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio intestinal funcional caracterizado por dor ou desconforto abdominal e alterações do hábito intestinal na ausência de anormalidades estruturais identificáveis. A SII geralmente é classificada como um distúrbio funcional, pois prejudica o funcionamento das atividades normais do organismo como, por exemplo, o movimento do intestino, a sensibilidade dos nervos intestinais ou o modo como o cérebro controla algumas dessas funções. Porém, embora o funcionamento normal esteja afetado, não há anormalidades estruturais que possam ser descobertas através de uma endoscopia, radiografias, biópsias ou exames de sangue. Assim, a SII é identificada pelas características dos sintomas e por resultados normais de testes, quando realizados. Fisiopatologia A anormalidade fisiopatológica básica é desconhecida, mas existem evidências científicas que sugerem a participação conjunta de três alterações em mecanismos fisiológicos: Alterações de motilidade do TGI, com peristalse acelerada ou retardada, ou aumento das contrações espasmódicas e aumento da pressão luminal. Hipersensibilidade visceral do TGI, com diminuição do limiar para percepção da distensão mecânica. Processamento sensorial alterado no SNC, tornando o paciente mais sensível à dor visceral. A patogênese da SII não está bem esclarecida, embora estudos tenham sugerido: Distúrbios das atividades sensitiva e motora do intestino; Disfunção do sistema nervoso central; Transtornos psicológicos; Inflamação da mucosa; Estresse e fatores intraluminais (má absorção de ácidos biliares e disbiose intestinal). A etiologia da SII provavelmente é multifatorial. Geralmente há indícios de hipersensibilidade visceral e distúrbios da motilidade. Ansiedade e/ou depressão acentuada, e seus sintomas frequentemente são agravados por estresse físico ou emocional, sugerindo uma interação anormal entre SNC e intestino. Anomalias genéticas envolvendo o sistema de transporte da serotonina nos nervos entéricos. Até 30% dos pacientes com SII poderão ter má absorção de ácidos biliares. Julia Paris Malaco – UCT15 Disbiose e anormalidades da permeabilidade da mucosa intestinal – Pode causar inflamação subclínica da mucosa intestinal. Anormalidades motoras (motilidade): Anormalidades motoras colônicas (do cólon) são mais proeminentes durante estímulo na SII. Os pacientes com SII podem apresentar hiperatividade motora do retossigmoide por um período de até 3 horas depois da ingestão de alimentos. Registros do cólon transverso, descendente e sigmóide mostraram que o índice de motilidade e a amplitude máxima das contrações propagadas de alta amplitude (CPAAs) em pacientes com SII e propensão à diarreia eram acentuadamente aumentados e estavam associados a um trânsito colônico rápido, acompanhado de dor abdominal. Hipersensibilidade visceral: Os pacientes com SII exibem frequentemente respostas sensoriais exageradas à estimulação visceral. A frequência de percepção de intolerância ao alimento é pelo menos 2 vezes mais comum do que na população geral. 74% dos pacientes com SII apresentam dor pós- prandial (após entrada do bolo alimentar no ceco). O jejum prolongado em pacientes com SII frequentemente está associado a uma melhora significativa dos sintomas. Os lipídeos reduzem os limiares para a primeira sensação de gás, desconforto e dor nos pacientes com SII. Os sintomas pós-prandiais dos pacientes com SII podem ser explicados por um componente sensorial exagerado da resposta gastrocólica dependente dos nutrientes. Os pacientes com SII não têm hipersensibilidade em outros locais do corpo. Assim, os distúrbios da via aferente na SII parecem ser seletivos para a inervação visceral, com preservação das vias somáticas. Os mecanismos responsáveis pela hipersensibilidade visceral podem ser devidos: À sensibilidade aumentada dos órgãos-alvo com recrutamento de nociceptores “silenciosos”; À hiperexcitabilidade espinal com ativação do óxido nítrico e, possivelmente, de outros neurotransmissores; À modulação endógena (córtex e tronco encefálico) da transmissão nociceptiva caudal; Com o passar do tempo à possível instalação de hiperalgesia em longo prazo, em razão do desenvolvimento de neuroplasticidade, resultando em alterações permanentes ou semipermanentes nas respostas neurais à estimulação visceral crônica ou recorrente. Desregulação neural central: Sugere-se uma associação clínica de transtornos emocionais e estresse com a exacerbação dos sintomas e pela resposta terapêutica aos fármacos que atuam nas áreas do córtex cerebral. Os exames de imagem funcionais do cérebro, como RM mostraram que, em resposta à estimulação colônica distal, o córtex singulado médio – uma região encefálica relacionada com os processos de atenção e seleção de resposta – mostrava ativação mais acentuada nos pacientes com SII. A modulação dessa região está associada a mudanças na sensação subjetiva não prazerosa da dor. Os pacientes com SII mostram também ativação preferencial do lobo pré-frontal, que contém uma rede de vigilância dentro do encéfalo, a qual exacerba o estado de alerta. Esses eventos podem representar um tipo de disfunção cerebral, levando a uma percepção exagerada da dor visceral. Manifestações psicológicas anormais: Manifestações psiquiátricas anormais são detectadas em até 80% dos pacientes com SII. A maioria desses pacientes demonstrava sintomas exagerados em resposta à distensão visceral, e essa anormalidade persistia mesmo depois da exclusão de fatores psicológicos. Os fatores psicológicos influenciam os limiares da dor dos pacientes com SII, pois o estresse altera os limiares sensitivos. Estudos demonstraram uma associação entre abuso sexual ou físico prévio e o desenvolvimento da SII. Estudos clínicos sugeriram que essa síndrome tem um componente forte relacionado com o desenvolvimento, que consiste em interações de fatores genéticose epigenéticos nos primeiros anos de vida. Esses fatores podem modular as redes cerebrais relacionadas com a estimulação emocional e/ou o controle, projeção e integração Julia Paris Malaco – UCT15 somatossensitiva dos estímulos autonômicos no nível central. O abuso está associado a queixas mais frequentes de dor, transtorno psicológico e consequências negativas para a saúde. Estudos de RM funcional do cérebro mostraram ativação exagerada das regiões posterior e dorsal média do córtex singulado, que está implicado no processamento do afeto, nos pacientes com SII que apresentam história pregressa de abuso sexual. Os pacientes com SII frequentemente têm reatividade motora exagerada do intestino delgado e do cólon a uma grande variedade de estímulos, bem como sensibilidade visceral alterada associada a limiares de percepção mais baixos. Essas anormalidades podem ser resultantes da desregulação do SNC-sistema entérico. SII pós-infecciosa: A SII pode ser induzida por infecção GI. Esse grupo de SII “pós-infecciosa” ocorre mais nas mulheres e acomete pacientes mais jovens. Os fatores de risco para o desenvolvimento da SII pós-infecciosa incluem, por ordem de importância, duração prolongada da doença inicial, toxicidade da cepa bacteriana infectante, tabagismo, marcadores inflamatórios da mucosa, sexo feminino, depressão, hipocondria e eventos adversos da vida nos 3 meses precedentes. Idade acima de 60 anos pode proteger contra a SII pós-infecciosa, ao passo que o tratamento com antibióticos foi associado a um risco mais alto. Os microrganismos envolvidos na infecção inicial são Campylobacter, Salmonella e Shigella. Os pacientes com infecção por Campylobacter positivo para toxina são mais suscetíveis a desenvolver SII pós-infecciosa. Aumentos das contagens de células enteroendócrinas e linfócitos T na mucosa retal e aumento da permeabilidade intestinal constituem alterações agudas depois da enterite por Campylobacter, que podem persistir por mais de 1 ano e contribuir para a SII pós-infecciosa. Ativação imune e inflamação da mucosa: Alguns pacientes com SII têm sinais persistentes de inflamação leve da mucosa com linfócitos ativados, mastócitos e expressão exacerbada de citocinas pró-inflamatórias. As células mononucleares no sangue periférico (PBMCs) dos pacientes com SII têm secreção anormal de citocinas pró-inflamatórias, incluindo interleucina (IL)-6, IL-1β e fator de necrose tumoral (TNF). Essas anormalidades podem contribuir para a secreção epitelial anormal e a hipersensibilidade visceral. Alguns membros da superfamília dos canais de cátions do receptor transitório de potencial (TRP), como os canais de TRPV1 (vaniloides), tenham importância central no início e na persistência da hipersensibilidade visceral. A inflamação da mucosa pode levar a uma expressão aumentada do TRPV1 no sistema nervoso entérico. Essa expressão aumentada dos canais TRPV1 nos neurônios sensitivos do intestino dos pacientes com SII parece estar correlacionada com a hipersensibilidade visceral e a dor abdominal. Há um aumento da permeabilidade intestinal nos pacientes com SII-D. O estresse psicológico e a ansiedade podem aumentar a liberação de citocinas pró- inflamatórias, que, por sua vez, podem alterar a permeabilidade intestinal. Portanto, há uma ligação funcional entre estresse psicológico, ativação imune e sintomas dos pacientes com SII. Alteração da flora intestinal: Observou-se uma alta prevalência de proliferação bacteriana excessiva no intestino delgado de pacientes com SII. Por conseguinte, o papel do teste para proliferação bacteriana excessiva no intestino delgado dos pacientes com SII ainda não está bem esclarecido. Observou-se a existência de diferenças significativas no perfil molecular da microbiota fecal dos pacientes com SII. É possível que a disbiose intestinal (quando ocorre um desequilíbrio entre bactérias protetoras e agressoras com a produção de efeitos nocivos ao organismo), quando atua simultaneamente com suscetibilidade genética e estímulos ambientais deletérios, possa alterar a permeabilidade da mucosa e aumentar a apresentação de antígenos às células imunes localizadas na lâmina própria. Isso pode ampliar a ativação dos mastócitos e alterar as funções dos neurônios e das células musculares lisas do trato intestinal, resultando nos sinais e sintomas da SII. A liberação de citocinas e quimiocinas pela mucosa inflamada pode causar outros sinais e sintomas associados à SII, incluindo fadiga, dor muscular e ansiedade. Manifestações clínicas da Síndrome do intestino irritável Os sintomas da SII tendem a aparecer e desaparecer ao longo do tempo e, com frequência, sobrepõem-se aos de outros distúrbios funcionais. A intensidade dos sintomas varia e pode afetar acentuadamente a qualidade de vida. Julia Paris Malaco – UCT15 Motilidade gastrintestinal (GI) alterada, hiperalgesia visceral, distúrbio da interação encefalointestinal, processamento central anormal, processos autonômicos e hormonais, fatores genéticos e ambientais e transtornos psicossociais estão envolvidos variavelmente, dependendo de cada indivíduo. Dor abdominal: A dor é um sintoma fundamental ao diagnóstico da SII. Esse sintoma deve estar associado à evacuação e/ou ter seu início relacionado com alguma mudança da frequência ou do aspecto das fezes. A dor é altamente variável em termos de intensidade e localização. Costuma ser transitória e do tipo em cólica, mas pode sobrepor-se a um quadro precedente de sensação desconfortável constante. Pode ser suficientemente leve a ponto de ser ignorada ou pode até mesmo interferir nas atividades da vida diária. Na maior parte das vezes, a dor é exacerbada quando o paciente come ou passa por estresse emocional e melhora com a eliminação de gases ou fezes. As mulheres com SII geralmente relatam agravação dos sintomas durante as fases pré- menstrual e menstrual. A desnutrição secundária à ingestão calórica inadequada é extremamente rara na SII. Diarreia noturna não ocorre com a SII. A privação de sono é incomum, pois quase sempre a dor abdominal ocorre apenas enquanto os pacientes estão acordados. No entanto, os pacientes com SII grave frequentemente são acordados repetidas vezes durante a noite, assim, dor noturna é um fator discriminante inadequado entre doença intestinal orgânica e funcional. Hábito intestinal alterado: É a manifestação clínica mais consistente da SII. O padrão mais comum é de alternância entre constipação e diarreia, em geral com predominância de um desses sintomas. Os pacientes cujo sintoma predominante é constipação podem ter semanas ou meses de constipação interrompidos por curtos períodos de diarreia. Em outros pacientes, a diarreia pode ser o sintoma predominante. Inicialmente, a constipação pode ser transitória, tornando-se contínua e cada vez mais refratária ao tratamento com laxantes. Em geral, as fezes são duras e de calibre estreitado, refletindo possivelmente a desidratação excessiva causada pela retenção colônica (do cólon) prolongada e pelo espasmo. A maioria dos pacientes também refere sensação de evacuação incompleta. A diarreia que resulta da SII geralmente consiste em pequenos volumes de fezes moles. Na maioria dos pacientes, os volumes fecais são < 200 mL. A diarreia pode ser agravada por estresse emocional ou pela ingestão de alimentos. As fezes podem ser acompanhadas da eliminação de grandes quantidades de muco. Sangramento não é uma manifestação clínica da SII,também não há má absorção ou emagrecimento. Gases e flatulência: Os pacientes com SII frequentemente se queixam de distensão abdominal e aumentos das eructações (arrotos) e flatulência – todas manifestações atribuíveisà produção aumentada de gases. Tendem a apresentar refluxo de gás da parte distal do intestino para os segmentos mais proximais, o que pode explicar as eructações. A maioria dos pacientes com SII apresenta alteração do trânsito e da tolerância aos volumes de gases intestinais normais. Alguns pacientes com abdome distendido por gases também podem apresentar distensão visível, com aumento da circunferência abdominal. Sintomas referidos ao trato GI superior: Entre 25 e 50% dos pacientes com SII queixam-se de dispepsia (desconforto na área superior do abdômen), pirose (azia), náuseas e vômitos. Isso sugere que outras áreas do trato GI, além do cólon, possam ser afetadas. Há alta incidência alta de anormalidades do intestino delgado durante o período diurno (acordado). A sobreposição entre dispepsia e SII é grande - - 55,6% dos pacientes com SII, 55,6% relatam sintomas de dispepsia. Os sintomas abdominais funcionais podem modificar-se com o passar do tempo. Os pacientes que têm predomínio de dispepsia ou de SII podem oscilar entre as duas. Julia Paris Malaco – UCT15 Diagnóstico O diagnostico é clinico baseado nos critérios de Roma e exame físico. Sinais de alarme: mais que 50 anos, emagrecimento, anemia, sangramento, mudança no calibre das feze , massa palpável, inicio recente dos sintomas Critérios de Roma III Para utilização desses critérios os sintomas devem ter iniciado pelo menos 6 meses antes do diagnostico Sintomas presentes, no mínimo 3 dias por mês nos últimos 3 meses Dor e/ou desconforto abdominal, contínuos ou recorrentes que apresentam pelo menos 2 das 3 características o Alivio dos sintomas com as evacuações o Inicio do quadro associado a alteração da frequência das evacuações o Inicio do quadro assosciado com alteraçao na forma (aparência) da fezes Sintomas que, quando presentes reforçam o diagnóstico da SII, porém não são considerados como elementos dos critérios disgnósticos Frequência da evacuação anormal (menor ou igual a 3 evacuações/semana ou maior que 3 evacuações dia) Formato anormal das fezes Dificuldade para defecar Urgência evacuatória ou sensação de evacuação incompleta Presença de muco nas fezes Distensão abdominal Classificação segundo os critérios de Roma SII-C: SII com constipação intestinal SII-D: SII com diarreia SII-M: SII mista, alterando entre constipação e diarreia SII-I: SII indeterminada Colonoscopia é realizada em casos de suspeita de neoplasia ou doença inflamatória intestinal em pacientes com mais de 50 anos. Diagnóstico diferencial: intolerância a lacotse e doença celíaca Tratamento É desafiante, pois não existe um tratamento verdadeiramente eficaz. O médico deve fazer o paciente entender que ele tem um distúrbio funcional. Dieta: De acordo com os sintomas que o paciente apresenta. Essencialmente, deve ser pobre em gorduras e em alimentos produtores de gás (feijão, repolho, couve-flor, cebola crua). Se o paciente tiver constipação intestinal, a dieta deve ser rica em fibras e líquidos. Tratamento medicamentoso: Apenas para tratamento dos sintomas. Diarreia: antidiarreicos (loperamida); Constipação intestinal: laxativos (fibras, óleo mineral); Dor: antiespasmódicos; Pacientes com sintomas mais graves ou refratários: antidepressivos tricíclicos ouinibidores seletivos da recaptação de serotonina. Atividade física, técnicas de relaxamento, tratamento psicológico. Probióticos e antibióticos: Ainda não há um consenso sobre o benefício deles. Doença celíaca A doença celíaca é uma enteropatia crônica do intestino delgado, de caráter autoimune, causada pela exposição ao glúten em indivíduos propensos geneticamente. Trata-se de um processo inflamatório que envolve a mucosa do intestino delgado, levando à atrofia das vilosidades intestinais e, consequentemente, à má absorção, além de uma variedade de manifestações clínicas. A doença celíaca constitui uma causa comum de má absorção de um ou mais nutrientes. O denominador comum para os pacientes com DC é a combinação variável de manifestações clínicas glúten-dependentes; autoanticorpos específicos antiendomísio e antitransglutaminase (EmA e anti-tTG) no soro; presença de haplótipos HLA DQ2 e/ou DQ8; e diferentes graus de enteropatia, que variam desde infiltração linfocitária no epitélio até completa atrofia de vilosidades. Fisiopatologia Forma crônica de enteropatia de mecanismo imunológico que afeta o intestino delgado de crianças e adultos geneticamente predispostos, precipitada pela ingestão de alimentos contendo glúten. A DC compromete o intestino delgado proximal, afetando a absorção de vários nutrientes. O comprimento do intestino lesado varia de um paciente para outro. Quanto mais grave a lesão e Julia Paris Malaco – UCT15 maior o segmento atingido, mais intensa será a má absorção e mais lesado será o indivíduo. Por outro lado, há pacientes celíacos com alterações discretas. O epitélio intestinal com as junções firmes entre as células, constitui barreira que regula o tráfego de macromoléculas entre o meio ambiente e o hospedeiro. Portanto, controla o equilíbrio entre tolerância e imunidade para antígenos não próprios. Zonulina é o único modulador fisiológico. Quando fica desregulado em indivíduos geneticamente suscetíveis, pode facilitar doenças. Algumas ações nesse nível podem preveni-las. Assim, alterações na função de barreira favorecem a penetração de peptídeos por falta de especificidade ou simplesmente por dano mucoso. Proteínas do leite de vaca ou da soja podem determinar anticorpos circulantes, trazendo implicações dietéticas importantes ao tratamento. Os efeitos decorrentes de tantas modificações resultam em má absorção, com predominância de um ou vários nutrientes, manifestando-se clinicamente por formas monossintomáticas ou até por síndrome carencial global. Fatores ambientais: O glúten é o fator ambiental desencadeador e mantenedor das alterações, mas há outros fatores a serem considerados, tais como: papel protetor do leite materno, a estação do nascimento, infecções gastrointestinais e o uso de antibióticos, disbiose no trato digestivo. Fatores genéticos: Semelhante a outras doenças autoimunes, a DC é uma doença para a qual o locus MHC é o fator genético mais importante, estimando-se que contribui com aproximadamente 40 a 50% da variação genética da enfermidade. A relação entre a DC e os genes HLA no cromossomo 6p21 (região CELIAC 1) é uma das associações HLA-doença tida como o exemplo mais forte e bem estabelecido até o momento. A maioria dos pacientes (90 a 95%) são portadores de uma variante particular de HLA- DQ2 enquanto aqueles que não o são (aproximadamente 5 a 10%) expressam o HLA- DQ8, ou carregam outra variante HLA-DQ2 (DQA1*02: 01, DQB1*02: 02, também conhecida como DQ2.2). Considerando que praticamente todos os pacientes com DC carreiam determinada variante HLA, é possível que esta possa ser considerada um fator necessário, mas não suficiente, para o desenvolvimento da doença. É importante ressaltar, que mesmo que esses alelos sejam relativamente comuns na população geral na qual a DC é prevalente (30 a 40%), apenas uma pequena proporção dos indivíduos que apresentam tais genes desenvolve a DC (~2 a 5%). Tipo infiltrativo (Tipo 1): arquitetura mucosa normal na qual o epitélio das vilosidades está marcadamente infiltrado por uma população de pequenos linfócitos não mitóticos glúten- dependentes (LIE). Tal lesão é encontrada em cerca de 40% dos pacientes portadores de DH não tratada e, aproximadamente, em 10% de familiares deprimeiro grau dos pacientes celíacos. Habitualmente não se associa a sintomas gastrointestinais ou má absorção. Tipo hiperplástico (Tipo 2): há semelhança com o tipo 1, mas soma-se alongamento das criptas cujo epitélio, como as vilosidades, também se apresenta infiltrado por pequenos LIE não mitóticos. É visto em aproximadamente 20% dos pacientes não tratados de DH e também quando se provoca o desafio com quantidades moderadas de glúten, revelando resposta imune mediada por linfócitos T. Tipo destrutivo (Tipo 3): lesão “típica” com mucosa achatada que preenche os critérios para considerá-la como do tipo imunidade mediada por células. Há hiperplasia de criptas e número aumentado de LIE. Ocorre em pacientes sintomáticos, mas pode também ser vista em cerca de 40 a 50% dos portadores de DH e em mais ou menos 50% dos familiares de primeiro grau dos celíacos. Tipo hipoplásico (Tipo 4): esta lesão é descrita nos casos de refratariedade à dieta isenta de glúten, nos quais a mucosa apresenta intensa hipoplasia de criptas, além da redução das vilosidades. Julia Paris Malaco – UCT15 Quadro clínico Sintomas escassos ou atípicos, enquanto uma minoria dos pacientes padece de má absorção (doença celíaca clássica). Doença celíaca clássica: Sintomas de má absorção e atrofia da mucosa Principalmente sintomas gastrointestinais (diarreia, desnutrição, perda de peso, esteatorreia e edema secundário à hipoalbuminemia). Atípica: nesta categoria, os pacientes podem apresentar sintomas gastrointestinais (dor abdominal, sintomas de refluxo gastroesofágico, vômitos, prisão de ventre, sintomas similares à síndrome do cólon irritável, distensão abdominal, borborigmos, etc.), o sintomas não gastrointestinais, também conhecidos como manifestações extra-intestinais (sem sintomas gastrointestinais). Esses pacientes costumam ser monossintomáticos ou oligossintomáticos. Doença celíaca assintomática (também conhecida no passado como doença celíaca silenciosa): o paciente declara não ter absolutamente nenhum sintoma, até mesmo em resposta a um interrogatório detalhado, apesar de apresentar uma lesão intestinal característica. Achado incidental em testes de screening para anticorpos antigliadina e transglutaminase tecidual Doença celíaca latente: Anticorpos positivos com mucosa normal na biópsia; Assintomáticos ou com poucos sintomas, podendo desenvolver doença franca com a exposição contínua ao glúten Diagnóstico Endoscopia com biopsia Biópsia intestinal → hiperplasia de criptas, linfocitose intraepitelial, e destruição do revestimento epitelial superficial. Padrão ouro!!! A biópsia deve ser realizada com o paciente em dieta rica em glúten, retirando pelo menos um fragmento do bulbo e quatro da segunda porção do duodeno. A histopatologia da doença celíaca é dividida em categorias de acordo com a classificação de Marsh. A biópsia também está indicada caso haja suspeita clínica evidente e as sorologias forem negativas, devido a possibilidade de doença celíaca soronegativa. A biópsia deve ser realizada com o paciente em dieta rica em glúten, retirando pelo menos um fragmento do bulbo e quatro da segunda porção do duodeno. A histopatologia da doença celíaca é dividida em categorias de acordo com a classificação de Marsh. Marsh tipo 0: fragmento sem alterações histológicas. Marsh tipo 1: lesão infiltrativa com vilos arquiteturalmente normais, mucosa normal, com aumento do número de linfócitos T intrepiteliais. Marsh tipo 2: lesão com hiperplasia dos elementos glandulares, com aumento do número de mitoses. Marsh tipo 3: graus variados de atrofia vilositária com hiperplasia das criptas glandulares, altura reduzida da superfície dos enterócitos e bordas em escova irregulares associado ao aumento de linfócitos T intraepiteliais, sendo subdividido em: o Marsh tipo 3a: atrofia vilositária leve. o Marsh tipo 3b: atrofia vilositária moderada. o Marsh tipo 3c: atrofia vilositária grave. o Marsh tipo 4: atrofia total com hipoplasia das criptas. O único tratamento para a doença celíaca é uma dieta estritamente livre de glúten por toda a vida. Exame de imagem A visualização completa da mucosa do intestino grosso através da colonoscopia é sabidamente de fundamental importância para o diagnóstico correto da maioria das afecções colorretais, com poucas exceções, como megacólon e doença diverticular na crise aguda. Quando o procedimento visa apenas a avaliação das porções do reto e do sigmóide, podemos utilizar procedimento semelhante, apenas mais restrito, chamado de retossigmoidoscopia. Julia Paris Malaco – UCT15 Devido ao fato de ser um exame invasivo, pode trazer certos riscos ao paciente, mesmo quando realizado por médico experiente. Dentre as indicações para a realização da colonoscopia, o sangramento retal e anemia são as causas mais comuns para a realização do exame, seguido pela alteração do hábito intestinal. Outras indicações, como história familiar de câncer colorretal, emagrecimento a esclarecer, exame de enema opaco inconclusivo e dor abdominal também são indicações frequentes. A Colonoscopia é particularmente importante para o diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais, como a Doença de Chron e a Retocolite Ulcerativa. Os diagnósticos mais frequentes nos exames realizados são os pólipos Apesar de sua alta sensibilidade, a colonoscopia pode apresentar resultados falso-negativos, fato que pode ser atribuído a impossibilidade anatômica de visibilizar o ceco, preparo intestinal inadequado ou técnica e treinamento inapropriados. É de fundamental importância o conhecimento das complicações associadas ao uso da colonoscopia, por ser exame rotineiramente utilizado. As principais citadas na literatura são: sangramento, perfuração e alterações cardiopulmonares associadas à sedação. Principais recomendações Investigação de sinais e sintomas. A colonoscopia pode ajudar no esclarecimento das situações de dor abdominal, retorragias (perda de sangue vivo nas fezes), alterações analíticas (por exemplo, anemia), alterações do trânsito intestinal ou diarreia crónica. Rastreio do cancro do colorretal. A colonoscopia é um dos métodos existentes para o rastreio do cancro colorretal. Nalgumas populações de risco (nomeadamente com antecedentes familiares de pólipos ou tumores colorrectais, ou síndromes que predisponham a maior risco de lesões) a colonoscopia é o método de eleição para o rastreio. Contraindicações Ausência de consentimento informado Cirurgia abdominal recente Suspeita de diverticulite ou perfuração do cólon Dificuldade respiratória Alterações graves da coagulação Patologia cardíaca descompensada (arritmias, insuficiência cardíaca) Gravidez https://www.sped.pt/index.php/publico/carcinoma-colorretal https://www.sped.pt/index.php/publico/carcinoma-colorretal
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