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HISTÓRIA DA ARQUITETURA MATERIAL AVA UNI 04

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- -1
HISTÓRIA DA ARQUITETURA E 
URBANISMO II
DO BARROCO AO NEOCLÁSSICO
Carina Mendes dos Santos Melo
- -2
Olá!
Você está na unidade Do Barroco ao Neoclássico. Conheça aqui as manifestações artístico-estilísticas que se
desenvolveram no Brasil do século XVIII até princípios do XIX. Partindo das escolas regionais do barroco e do
rococó, veremos como os referenciais estilísticos de matrizes europeias foram sendo interpretados, adaptados e
aclimatados no Brasil, como é o caso, por exemplo, do estilo Aleijadinho.
Veja também como ocorreu o processo de urbanização no Brasil, a partir da segunda metade do século XVIII,
com a intensificação do surgimento de vilas e cidades, e como essas se configuram arquitetônica e
urbanisticamente. Por fim, faremos uma introdução ao estudo do neoclassicismo, entenda como ocorreram as
primeiras manifestações desse estilo.
Bons estudos!
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1. Escolas regionais do Barroco no Brasil
Ao ler no título deste item “barroco no Brasil”, é bem provável que, já de antemão, algumas imagens ou palavras-
chave venham à mente do leitor: igrejas, ciclo do ouro, Minas Gerais, Aleijadinho, entre outras. Todas elas são
pertinentes e se associam ao tema que trataremos aqui, mas não só. De antemão, é preciso dizer que a expressão
do barroco na arquitetura extrapolou a região das Minas Gerais e também teve palco em outras cidades
brasileiras; por isso falaremos aqui sobre algumas escolas regionais.
Vamos lembrar que a ascensão do estilo barroco esteve estreitamente vinculada à descoberta do ouro no Brasil,
que ocorreu ainda em fins do século XVII. O enriquecimento rápido proporcionado pela mineração mudou a
rotina colonial ao longo do século seguinte, com a “intensificação da vida urbana, capital de giro, contato com a
Europa, valorização do luxo e do conforto, [...] cenário extremamente favorável para abrigar o gosto barroco”
(MENDES et al., 2010a, p.193). Será sobretudo nas igrejas que veremos a sua expressão, especialmente naquelas
das ordens seculares e leigas (ordens terceiras, irmandades e confrarias), já que a Coroa proibiu a instalação das
ordens regulares nas proximidades dos locais de mineração. Tratou-se de uma postura de disputa política,
especialmente contra os jesuítas, cujo poder vinha aumentando progressivamente.
Cabe esclarecer que as ordens terceiras, organizações vinculadas a uma ordem religiosa, antes do século XVIII,
não tinham edificações próprias, ocupando capelas no corpo das igrejas primeiras ou segundas (MENDES et al.,
2010a). Com o ciclo do ouro, passaram a construir edifícios próprios, principalmente carmelitas e franciscanos,
que ascenderam economicamente no período. Assim, é comum vermos conjuntos com a igreja da ordem
religiosa e outra anexa, tão imponente quanto, pertencente à ordem terceira.
Há um debate sobre a originalidade do chamado “barroco mineiro”, mas Oliveira (2001) relativiza essa visão, e a
atribui, de forma mais ampla, às regiões que emergiram como centros de poder político e econômico no século
XVIII. Primeiramente, a capitania de minas do ouro e seu porto, o Rio de Janeiro, esse enriquecido pelo comércio
e pela condição de sede do governo a partir de 1763. Depois, as capitanias de Pernambuco e Paraíba, seguidas
por Belém do Pará, ambas com economias fortalecidas em função das companhias de comércio regionais.
Veremos a seguir duas dessas escolas, uma no interior e outra no litoral, e algumas de suas particularidades.
Antes, contudo, vale relembrar que sua origem deriva do barroco italiano, cujas características, são assim
sintetizadas por Oliveira (2008, p.119):
[...] formas grandiosas das construções, com ornamentação abundante e desenho variado e complexo
das plantas e fachadas, com emprego de secções curvilíneas. Nas decorações internas, a regra é a
opulência, com revestimento integral das superfícies e uso de materiais nobres e preciosos, como os
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mármores policromos e o bronze dourado. Da mesma forma, os relevos de madeira ou estuque
recobertos com folhas de ouro ou prata foram usados nos países ibéricos e na Europa Central.
O , contudo, deriva de sua pré-adaptação em Portugal, e já nesse país apresenta variações.barroco brasileiro
Bom ter em mente que, apesar do conceito de obra integral, isto é, que segue o princípio de integração das artes
(arquitetura, pintura, escultura); o estilo se manifestou com mais recorrência nos interiores, ganhando as
plantas e fachadas já na segunda metade do século XVIII. Por isso, é cabível a intepretação de Mendes et al.
(2010a, p.211), de que a arquitetura genericamente denominada barroca, produzida no referido período, “(...)
contou com manifestações singulares que incluíam resquícios do maneirismo dos séculos anteriores, o
dinamismo espacial do barroco propriamente dito e a decoração superficial do rococó”.
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/c02122f3ebef06a67fe329dadeb9a0c6
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1.1 Barroco Mineiro
O distanciamento da região aurífera do litoral acabou conferindo à arquitetura que ali se desenvolveu certas
particularidades. O uso de materiais locais é uma delas. A dificuldade de transportar a pedra lioz que chegava
nos navios até a região mineira, incorreu na sua substituição pela , de fácil trabalhabilidade epedra sabão
largamente disponível naquelas bandas. Ademais, elementos decorativos, como azulejos, também foram
substituídos por pinturas, que contavam com a habilidade de profissionais como o Mestre Manoel da Costa
Athaíde.
O distanciamento da região aurífera do litoral acabou conferindo à arquitetura que ali se desenvolveu certas
particularidades. O uso de materiais locais é uma delas. A dificuldade de transportar a pedra lioz que chegava
nos navios até a região mineira, incorreu na sua substituição pela pedra sabão, de fácil trabalhabilidade e
largamente disponível naquelas bandas. Ademais, elementos decorativos, como azulejos, também foram
substituídos por pinturas, que contavam com a habilidade de profissionais como o Mestre Manoel da Costa
Athaíde.
Sem dúvida, atribui-se aos trabalhos de pedra sabão uma das originalidades do barroco mineiro. As portadas de
igrejas, ricamente decoradas, constituem traço do estilo. Além das portadas, foi empregado também em cunhais,
molduras, vergas, sobrevergas, frisos e em magníficos grupos escultóricos, como no adro do Santuário de Bom
Jesus de Matosinhos, a última grande obra do Mestre Antônio Francisco Lisboa, o .Aleijadinho
O barroco, sobretudo em sua fase inicial, terá expressão nos interiores, em trabalhos de talha, pinturas e
esculturas. Nos primeiros exemplares, as paredes eram decoradas com pinturas emolduradas com talhas
douradas, formando painéis, como na Capela de Nossa Senhora do Ó, em Sabará. Mas, conforme foi evoluindo,
transmutou-se para uma visão global, sem divisões, preenchendo todo o ambiente. Nos forros, a ornamentação
também era assim compartimentada, panos de pintura emoldurados, os chamados “caixotões”; evoluindo mais
tarde para as pinturas ilusionistas, com céu em perspectiva, dando efeito tridimensional. Eram pinturas sobre
forros abobadados em tabuado corrido.
As mudanças em plantas só vão ocorrer a partir de meados do século XVIII, com a introdução das plantas
poligonais e curvilíneas. Os movimentos do espaço interior e da fachada vão contribuir para a grande retórica
, sua dramaticidade e opulência. São poucas, entretanto, as plantas a apresentar essa característica, quebarroca
contabilizam 13 apenas, num universo de centenas construídas nesse período no Brasil (cf. OLIVEIRA, 2001). Em
Minas, de tipologia poligonal temos a Igreja Nossa Senhora do Pilar, de Ouro Preto (1731), e de tipologia
curvilínea, ainda no espírito barroco, as de São Pedro dos Clérigos, de Mariana (1753), e de Nossa Senhor do
Rosário, de Ouro Preto (1757).
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Mais comum continuavam a ser as plantas retangulares seguindo ainda o estilo jesuítico (ou maneirista), e as
fachadas com aberturasformando um “V”, isto é, com a porta centralizada e duas janelas simétricas situadas na
altura do coro. Bury (2006) observa que, no segundo quartel do século XVIII, foram construídas várias igrejas de
pedra de tamanho considerável e com torres ladeando a fachada, no entanto, manteve-se o padrão de abertura
diagonal da fachada, contrastando com outras soluções adotadas no litoral. O autor atribui esse conservadorismo
à situação de isolamento territorial de Minas. Caracterizam ainda as fachadas barrocas mineiras, os frontões
curvilíneos e bem ornamentados e a abertura de óculos acima das portadas com a adequação da cornija ou do
entablamento.
Principais característica do Barroco Mineiro
Pinturas e esculturas com temática sacra/cristã;
Adereços e ornamentos em ouro e outros materiais nobres no interior das igrejas;
Utilização da pedra-sabão
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1.2 Barroco carioca
Por sua condição portuária, o Rio de Janeiro assimila mais rápida e diretamente os referenciais estilísticos
europeus do período, além do fato de tornar-se capital em 1763. Observa, assim, Oliveira (2008) que essa foi a
primeira cidade a assimilar a talha joanina (em referência ao monarca) e a pintura em perspectiva, novidades
importadas da Itália e que revolucionaram o barroco português no período de D. João V. O mesmo ocorreu com
as plantas poligonais e curvilíneas, que foram primeiramente adotadas nas igrejas cariocas, cerca de vinte anos
antes de suas incidências em Minas Gerais.
Exemplo de maior relevância, ainda hoje existente e considerada a “joia barroca” da cidade, é a Igreja de Nossa
Senhora da Glória do Outeiro, cuja planta se configura pela intersecção de dois polígonos (octógonos), gerando
volumetria com interessante movimento de fachadas. Curioso nesse caso é a torre única à frente da fachada,
sobre galilé de um arco, constituindo tipologia diversa daquela de duas torres laterais, comumente empregada
nas igrejas brasileiras setecentistas. Mendes et al. (2010a) atribuem ao referido exemplar o papel de fonte
inspiradora para as igrejas mineiras com torre única no eixo da composição.
Salvo raros exemplares, as plantas e fachadas não se libertaram da regularidade e rigidez formal típicas do
maneirismo, e o barroco se restringiu a detalhes ou trechos da composição, como nas formas curvas e no
exagerado relevo de elementos. Analisando a igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, no centro da
cidade, Carvalho et al. (2010, p.10) registram aspectos característicos do barroco luso: “a força da cornija
superior e da modenatura do frontão e a respectiva sombra que projeta na fachada, associada à expressividade
de seu revestimento total em pedra e aos grandes capitéis de ordem gigante”. Além da portada com torção de
elementos verticais, característica encontrada em vários retábulos.
Muitos interiores receberam ornamentação de inspirações barroca, altares, arcos-cruzeiros, retábulos, todos
eram ricamente recobertos de talha dourada, pintura com coloridos quentes, e ainda azulejos, muitas vezes
monocromos, em branco e azul. Mas, como observa Oliveira (2008), a condição do Rio de Janeiro como local de
novidades, fez com que se sobrepusessem estilos mais facilmente do que naqueles exemplares de Minas Gerais,
cujo rápido declínio da exploração aurífera, praticamente cessou a produção arquitetônica naquela região. Ainda
assim, no Rio de Janeiro, apesar de algumas mudanças, existem exemplares que mantiveram de forma
dominante a estética barroca em seu interior, como podemos ver na Figura “Nave principal da Igreja de Nossa
Senhora de Montserrat”, pertencente ao Mosteiro de São Bento.
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Figura 1 - Nave principal da Igreja de Nossa Senhora de Montserrat no Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Shutterstock, 2020
#PraCegoVer: Vemos na imagem a Nave Principal da igreja Nossa Senhora de Montserrat, no Rio de Janeiro (RJ),
com características barrocas.
A Igreja São Pedro dos Clérigos situada na cidade do Rio de Janeiro constituía outro exemplar
de planta curvilínea de inspiração barroca, em um desenho que associava cinco formas de
seção curvilínea à nave central de formato elíptico. Infelizmente, a igreja foi totalmente
demolida em 1943, em função da abertura da Avenida Presidente Vargas.
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2. Rococó no Brasil
Na historiografia da arte e da arquitetura, o rococó foi definido como estilo a partir da década de 1940. Antes
disso, suas características eram consideradas pertencentes ao quadro mais amplo do barroco. Nasceu na França,
durante o reinado de Luiz XV, vinculado à ideia de conforto e prazer, expressando-se sobretudo na decoração
. Caracterizava-se pela suavidade e leveza, podendo ser interpretado “como umade interiores e no mobiliário
suavização e diluição das fortes, expressivas e dinâmicas formas do barroco” (CARVALHO et al., 2000, p.11)
Em termos de ornamentação, os temas eram as conchas, pedrinhas, curvas, contracurvas, flores e folhagens,
apresentando formato irregular e ondulante. Esses ornatos, quando internos, geralmente eram dourados e
combinados com fundos brancos ou de tons suaves, mantendo-se espaços sem preenchimentos, para “descanso
dos olhos”. Eram aplicados em paredes e tetos por meio de painéis emoldurados com perfis delicados. Quando
nas fachadas, os ornatos eram em pedra, contrastando com as alvenarias brancas.
No Brasil, o rococó passou a ser adotado mais largamente a partir de aproximadamente 1770, portanto, já em
fins do século XVIII. Nessa época o ciclo do ouro vinha apresentando sinais de exaustão, e a adoção de um estilo
menos ornamentado, tornou-se mais adequado economicamente, diminuindo os gastos com o excesso de
ornamentação e de douramentos. Em fins desse século, muitos templos permaneceram inacabados, em função
do empobrecimento das ordens leigas. “Vilas do sertão e cidades litorâneas assistiram à interrupção de um ciclo
de prosperidade que se refletia no cotidiano, nas migrações de retorno, na tentativa de retomar a agricultura
abandonada” (MENDES et al., 2010a, p.218).
O estilo rococó no Brasil também cabe ser estudado por meio de suas expressões regionais, das quais
destacaremos duas escolas, mais uma vez a mineira, em função de sua centralidade econômica e artística; e, para
proporcionar um comparativo com a abordagem anterior do barroco, a pernambucana, trazendo o panorama de
outra cidade litorânea. Cabe dizer, entretanto, que também teve expressão do rococó no Rio de Janeiro.
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2.1 Rococó mineiro
Parte da originalidade atribuída ao barroco mineiro, sobretudo pelos modernistas em princípios do século XX, se
vinculam mais apropriadamente ao rococó que, como vimos, só foi delimitado como estilo por volta da década de
1940 na Europa. E as obras de Aleijadinho representam a expressão máxima desse estilo.
Suas primeiras manifestações ocorreram nos interiores, nas talhas, com o emprego do tema da rocalha e,
sobretudo, nos retábulos encontraremos essa linguagem. Oliveira (2001), assinala que o mais característico do
rococó em Minas foi o retábulo com coroamento em arbaleta (um tipo de arma medieval, também chamada
canga de boi), mas outros dois tipos merecem atenção:
1. O retábulo com coroamento em frontão, conjugando curvas e contracurvas;
2. O retábulo com a colocação de grupos escultóricos, criação de Aleijadinho, e característica circunscrita à sua
obra.
Nas naves das igrejas, a decoração se dava pela sequência rítmica desses retábulos, configurando estruturas
autônomas e não inseridas em arcadas. Esta conformação favoreceu o aumento de sua altura, adequando-se à do
pé direito da nave, com a aplicação de sanefas protetoras (ou guarda-pó; é uma barra disposta na parte superior
do retábulo, horizontalmente). O efeito visual de movimento é obtido pelo desenho ondulado destas sanefas
dispostas ao longo das paredes; acima das quais, janelas permitem a entrada de luz, “fazendo cintilar os ornatos
dourados da talha contra os fundos brancos ou em tons suaves, segundo a estética própria do rococó”.
(OLIVEIRA, 2001,p.160)
Nos tetos abobadados entram as pinturas em perspectivas realizadas sobre tabuados corridos. Oliveira (2001)
destaca que um padrão de particular popularidade foi o que desenhava uma varanda ou muro baixo na parte
baixa do teto, no encontro com as paredes, deixando um espaço vazio entre esse elemento e o medalhão que se
localizava na parte central. Evidências do estilo serão encontradas também nas portadas, como a que vemos na
Figura “Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto”, elaborada por Aleijadinho. Aliás, essa igreja vem sendo
considerada como a obra prima do rococó.
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Figura 2 - Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto (MG)
Fonte: Shutterstock, 2929
#PraCegoVer: vemos na imagem uma foto da fachada e da área externa da Igreja São Francisco de Assis, Ouro
Preto (MG).
Na mesma igreja pode ser observada outra característica do rococó mineiro, a planta de partido curvilíneo
sinuoso, onde as superfícies laterais da fachada levemente curvadas se conectam com as torres de formato
cilíndrico. Essa característica também pode ser encontrada nas igrejas de Nossa Senhora do Carmo, em Ouro
Preto; e na igreja de São Francisco de Assis, em São João del Rei.
- -12
2.2 Rococó pernambucano
Pernambuco, assim como o Rio de Janeiro, era favorecido pela condição litorânea, e encontrava sua economia
fortalecida em função das companhias de comércio regionais. Essa condição favorecia a chegada das novidades
das terras europeias, com forte influência das formas portuguesas do rococó. Afirma Oliveira (2001) que, assim
como Minas, as manifestações do estilo ultrapassaram os interiores, atingindo aspectos externos das igrejas,
como frontões e coroamento de torres. Merece destaque também o uso de azulejos portugueses, importados em
larga escala, decorando o interior de construções religiosas; mono ou policromos com cabeceiras recortadas,
como os dos claustros dos conventos franciscanos de Olinda e Recife.
A ornamentação interna das igrejas pernambucanas desse estilo associavam a talha dourada, os azulejos e as
pinturas, numa composição integrada e harmônica. Os trabalhos de talha apresentavam a conjugação de
referenciais eruditos portugueses com expressões dos artistas locais. Os retábulos, por sua vez, foram sendo
progressivamente liberados dos nichos tradicionais, ganhando como proteção, as sanefas, que tinham também
caráter ornamental. Dos forros, abobadados e em tabuado corrido, possuímos poucos registros das pinturas em
perspectiva, segundo Oliveira (2001), isto ocorre do fato de que muitos não chegaram mesmo a ser executados, e
outros porque foram arruinados em épocas posteriores.
Arquitetonicamente, assim como nas demais regiões em que teve presença o rococó, as plantas continuaram a
ser retangulares, composta por nave única e capela mor alongada. Constitui exceção apenas a igreja de São Pedro
dos Clérigos em Recife, com seu espaço interno poligonal. As fachadas apresentam particularidades em função
do tratamento elaborado dos frontões, cada vez mais altos, com desenhos escultóricos de volutas, combinando
curvas e contracurvas; pelo coroamento das torres em bulbos; e pelo movimento ondulatório da cimalha
(OLIVEIRA, 2001). São exemplos: a igreja matriz de Santo Antônio; a igreja da Ordem Terceira do Carmo; e a
igreja do convento de Nossa Senhora do Carmo, todas localizadas em Recife.
Conheça mais sobre o vocabulário específico relativo à arte sacra, bem como algumas das
características estilísticas de talhas, retábulos e pinturas, acessando o “Guia de Identificação da
Arte Sacra” do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN): http://portal.
iphan.gov.br/uploads/publicacao/guia_arte_sacra.pdf
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3. Outros estilos do século XVIII
É sempre tarefa complicada encaixar as manifestações artísticas em “gavetas”, ou tentar colocar “etiquetas”, a
partir de semelhanças encontradas em diversos exemplares. Mas é isso que a história da arte e da arquitetura
basicamente tenta fazer, seja para melhor compreender essas manifestações e suas relações com outros aspectos
da história (social, política, econômica etc), seja para facilitar o ensino.
Apesar dos estilos característicos do século XVIII serem o barroco e o rococó, já abordados até aqui, há
historiadores que identificam outros, em função de suas peculiaridades, que podem configurar um afastamento
dessas correntes principais. Vejamos então os chamados estilo pombalino e o estilo Aleijadinho.
O Estilo pombalino teve como matriz a arquitetura erigida na reconstrução de Lisboa, promovida pelo Secretário
de Estado, Marquês de Pombal, logo após o terremoto de 1755. Por contenção de despesas e pela necessidade de
rápida solução, foi empregada uma forma de construção mais simplificada, mais rígida, retornando à matriz
clássica. Tais construções foram caracterizadas pelas fachadas planas e inteiramente revestidas em pedra, com
ornamentação concentrada nas portadas, painéis e sobrevergas, torres em forma de bulbo e frontões
contracurvados com terminação em ápice, como os que vemos no Rio de Janeiro, nas igrejas da Ordem Terceira
do Carmo e de São Francisco de Paula. Nos interiores, predomina o revestimento em mármore, ou a pintura
marmorizada.
Mas o estilo desenvolve-se aqui de forma particular. Nos interiores há a preferência pela talha, mas sem o
trabalho de douramento, adotando-se a decoração rococó, e nas fachadas, a preferência se dá pelo emprego do
contraste da pedra com o branco, como na igreja da Candelária no Rio de Janeiro. Sobre essa igreja e seu caráter
criativo, descrevem Carvalho et al. (2000, p.10): “A leveza da sua composição resulta em grande parte do
movimento suave e ondulante obtido pela diferença na altura e no perfil das sobrevergas curvas dos vãos, cuja
forma é enfatizada pelos painéis de cantaria que as encimam”.
A igreja da Ordem Terceira do Carmo, da qual destacamos anteriormente suas feições barrocas da fachada,
impressas na cornija, no frontão e nos capiteis de ordem gigante, são mais especificamente enquadradas por
Oliveira (2001), como características do pombalino. Não é um erro ou um contrassenso estas duas visões, já que
o pombalino pode ser classificado como um barroco tardio, sendo esse o gosto empregado nas reconstruções
lisboetas.
Conta a autora que as formas do pombalino aqui aportaram sobretudo pelos elementos ornamentais de pedra
lioz, importados e vindos de Portugal como lastro dos navios comerciais. Não por acaso, ele ocorre somente em
duas cidades brasileiras que por conjuntura política estiveram mais ligadas à Lisboa nesse período: o Rio de
- -14
Janeiro, transformada em capital dos vice-reis a partir de 1763, e Belém do Pará, capital do extremo Norte, que
teve como governador a partir de 1751, um irmão do Marquês de Pombal.
Além da introdução dos elementos em pedra lioz em Belém, marco fundamental na adoção do estilo pombalino
nessas terras, outro fator importante foi a presença do arquiteto italiano Antonio Guiseppe Landi, que ali
permaneceu por quase quatro décadas, desde 1753. Suas primeiras intervenções ocorreram em igrejas com
construção já adiantada, de planta retangular, onde, além das portadas e molduras já previstas em projeto,
adicionou frontões contracurvados e coroamentos de torres de inspiração bolonhesa (sua terra de origem). O
projeto da matriz de Santana e da igreja de São João Batista, são integralmente concebidos por ele, conectando-
se diretamente à tradição italiana, configuradas com plantas de espaços centralizados com cúpulas e sem torres,
apesar da primeira tê-las recebido posteriormente (OLIVEIRA, 2001).
O Estilo aleijadinho foi o termo cunhado pelo historiador John Bury em 1955 para delimitar as obras do Mestre
Aleijadinho, já que elas apresentam traços tanto barrocos quanto rococós, não se encerrando assim em nenhum
dos dois estilos. Abarca um total de cinco construções que são a ele integralmente atribuídas: igrejas da Ordem
Terceira do Carmo e de São Francisco de Assis em Ouro Preto; asde mesmo nome em São João del Rei; e o adro
da igreja de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo. Cabe dizer, contudo, que Aleijadinho também
executou trabalhos em outras obras, mas esses de forma parcial, sendo interpretado como modelos de transição
pelo historiador.
O estilo teve caráter ocasional, de forma que seu momento criativo se restringe basicamente ao último quartel do
século XVIII. Poucos artistas aderiram. Além do próprio Aleijadinho, os pedreiros Domingos Moreira de Oliveira
e Francisco de Lima Cerqueira, e o pintor Manoel da Costa Athaíde. O estilo não apresentava novidade em si,
explica Bury (2001, p.117):
A originalidade está em sua combinação, na maneira como foram empregadas. O aspecto mais nítido
e marcante é a ornamentação externa esculpida em alto-relevo, essencialmente associada à atuação
do próprio Aleijadinho. A pedra-sabão local [...] permite que seja trabalhada tão facilmente quanto a
madeira, o que possibilitava aos escultores mineiros a obtenção de efeitos ornamentais e delicadeza
extraordinárias.
Bury (2006) considera a expressão máxima da obra de Aleijadinho, representando-o de modo mais completo, a
igreja São Francisco de Assis, de São João del Rei. Apesar da fachada apresentar o traçado habitual português
para igrejas matrizes, os princípios do tratamento maneirista foram abandonados. Especialmente nas torres,
onde apresentam formato cilíndrico, e são encimadas por cúpulas semi-ovais coroadas por obeliscos. A nave da
igreja é elíptica e a porta principal precedida por uma escadaria monumental, com acesso ao adro.
- -15
O autor delineia, em linhas gerais e do ponto de vista arquitetônico, como traços típicos do estilo, o tratamento
refinado da ornamentação de fachadas e os efeitos alcançados pelo uso de seções curvas nas paredes,
combinadas de forma harmônica entre si, e com as superfícies planas adjacentes.
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4. Processo de urbanização no Brasil colonial (1750-1822)
A descoberta do ouro na Capitania de Minas Gerais contribuiu para o processo de interiorização do Brasil. Os
locais de mineração passaram a atrair pessoas de todos os tipos. Nos primeiros anos, “diversos arraiais
nasceram e desapareceram, alguns sem deixar notícias de sua existência” (MENDES et al, 2010a, p.35), pois
tratava-se do ouro de aluvião, que rapidamente se exauriu. Somente com a exploração das minas de ouro e
diamante, ocorreu de fato a fixação de arraiais, normalmente no fundo dos vales e próximos às regiões de
interesse, erigindo-se neles construções mais duradouras. Apareceram núcleos urbanos como Vila Rica (atual
Ouro Preto), Vila do Carmo (atual Mariana), São João Del Rei, entre outros.
Contribuíram também para esse processo de interiorização, os bandeirantes, que faziam expedições em busca de
metais preciosos e de índios; e a pecuária, cujo produto, que servia à força tração e à alimentação, era necessário
tanto nas regiões mineiras, como nas fazendas de cana-de-açúcar ainda existentes. Surgiram assim, vilas nas
estradas e caminhos que compunham a rota do ouro (inclusive na sua conexão com os portos escoadouros), bem
como nos da rota do gado (cuja criação se dava em áreas longínquas, como no sertão da paraíba e nos pastos na
região sul, gerando longos deslocamentos).
A importância econômica da região mineira acabou contribuindo ainda para a transferência da capital para o Rio
de Janeiro em meados do século XVIII, pela maior proximidade do novo polo econômico. Essa mudança,
associada ainda aos movimentos migratórios, acabou esvaziando de importância regiões até então prósperas do
Nordeste brasileiro, como a Bahia.
Esses processos marcam uma nova etapa de urbanização no Brasil, com o rápido aparecimento de cidades e
vilas, especialmente ao longo dessas rotas, a partir da segunda metade do século XVIII.
A rapidez com que surgiram as vilas mineiras ajudam a explicar o traçado irregular de sua malha, aspecto
fortalecido pelas necessidades de adequação topográfica, entre morros e vales. Mas, além de Minas, foram
muitas as vilas que surgiram ao longo do século XVIII, decorrentes de processos diversos. Santos (1968) nos
fornece um panorama amplo de exemplos que evidenciam a diversidade de suas origens: Goiás (hoje Goiás
Velho) e Cuiabá foram fundadas por bandeirantes; Manaus e Macapá foram fundadas nas proximidades de
fortificações; Barcelos foi fundada por religiosos da ordem carmelita; e Mazagão, por um “mameluco aventureiro
‘audacioso e intrépido’” (SANTOS, 1968, p.63).
Percebe-se, sobretudo a partir da metade do século XVIII, a preferência pelos traçados ortogonais naqueles
núcleos urbanos implantados a partir de projetos, tanto por influência da Engenharia Militar, como da
proximidade dos modelos hispânicos de cidades. Santos (1968) observa que a opção pelo desenho xadrez
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perfeito seguida pelos militares se deve à essa influência hispânica, num momento marcado pelas aproximações
entre os dois povos, especialmente em função do Tratado de Madrid (1750), que ensejou trabalhos relativos à
demarcação das novas fronteiras. Pará, Amazonas e Mato Grosso foram percorridos pelos engenheiros da
Comissão de Demarcação, onde, dentre outros, estava Landi, que, como já vimos, teve grande destaque no
projeto de igrejas em Belém.
Propagou-se assim a malha xadrez, cuja rigidez só era distorcida em função da presença de acidentes
geográficos. Esse foi o caso por exemplo de Mazagão (AP), elevado a vila em 1770, cuja monotonia da malha
xadrez foi rompida pela necessária adequação aos algadiços, igarapés etc. Mas não foi o caso de Vila Bela da
Santíssima Trindade (MT), cujo terreno permitiu a implantação do traçado retilíneo quase perfeito, com a praça
quadrada e ruas partindo ortogonalmente dos cantos, seguindo quase à risca os traçados hispânicos como os de
Buenos Aires e Santiago do Chile. (SANTOS, 1968)
Os estilos arquitetônicos eram empregados nas construções de maior porte – nas construções religiosas ou das
classes mais abastadas. No geral, a arquitetura de menor porte seguia um padrão muito semelhante ao século
anterior, isto é, com a edificação colada nas divisas laterais e frontal do lote, espaço ao fundo para o quintal, e
coberta com telhado capa e canal com cumeeira paralela à rua. Explica essa persistência a configuração da
própria sociedade, ainda escravocrata, que mantinha o mesmo esquema de uso das habitações e os mesmos
métodos construtivos tradicionais.
A implantação no lote praticamente não se alterou, seguiu-se o mesmo padrão por praticamente todo o período
colonial. Algumas pequenas alterações foram sendo realizadas, sobretudo em função de novos materiais. Reis
Filho (1997, p.36), evidencia algumas, ao descrever um conjunto de sobrados daquela época ainda existente na
rua do Catete, no Rio de Janeiro:
Sua aparência difere apenas em pequenos detalhes das construções coloniais. Em alguns a porta de
entrada, maior do que as outras, ocupando posição central, abre para um saguão relativamente
amplo, valorizado por barras de azulejos coloridos e pela presença de uma escada de madeira
torneada. Em outros, como nos velhos modelos descritos por Debret, essa passagem corresponderia
ao acesso às estrabarias do quintal e abrigo para carruagens.
A economia mineradora ajudou a conformar áreas com uma população de caráter expressivamente urbano. O
fluxo de metais e pedras preciosas promoveu o enriquecimento de camadas da população residentes nas vilas e
cidades; além do incremento e da diversidade de atividades comerciais e relações sociais que ali se estabeleciam.
Ocorreu assim um processo de adensamento das áreas urbanas que, sem uma infraestrutura de serviços
adequada, piorou a qualidade de vida da população residente. Assim, no século XVIII, apareceu a tipologia das
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casas de chácaras, um meio termo entre a morada urbana e a rural, localizadas nas periferias das vilas e cidades,
para onde se deslocou a população mais abastada (MENDES et al., 2010a). O novo arranjo resolvia a questãode
abastecimento, constantemente em crise nas zonas urbanas. Nas chácaras, além da criação de alguns animais e
da plantação de subsistência, aliavam-se as vantagens da proximidade aos cursos d´água, suprindo a carência
dos equipamentos hidráulicos das áreas urbanas (REIS FILHO, 1991).
Somente com a vinda da família real, em 1808, e a consequente abertura dos portos às nações amigas, naquele
mesmo ano, haverá alterações mais significativas nos esquemas de implantação e configuração arquitetônica,
viabilizadas pela introdução em massa de novos materiais construtivos. Além disso, um novo estilo arquitetônico
começa a despontar no início do século XIX: o neoclássico.
O filme brasileiro Carlota Joaquina, princesa do Brasil, conta a história da rainha, esposa de
Dom João VI, registrando sua vida na corte portuguesa e depois em terras brasileiras.
Recomendamos o filme não só pela diversão, mas também pelo registro e reconstituição de
época, fornecendo um bom retrato do Brasil em princípios do século XIX.
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5. Introdução ao neoclassicismo
O neoclassicismo é o nome dado ao estilo arquitetônico que retoma a matriz clássica da Antiguidade greco-
romana, já interpretada pelo Renascimento. Pautado nos ideais iluministas e classicizantes, Rocha-Peixoto
(2000), identifica sua entrada no Brasil ainda em meados do século XVIII, interpretando alguns exemplares
arquitetônicos associados ao estilo pombalino por outros autores como neoclássico. Foi principalmente por meio
do Marquês de Pombal que uma nova racionalidade se instalou oficialmente no país.
No entanto, podemos dizer que somente a partir da chegada da família real ao Brasil em 1808, o neoclassicismo
começa a se firmar como tendência da arquitetura oficial, especialmente no Rio de Janeiro, cidade que
comportou os membros da coroa portuguesa e sua comitiva. Some-se a esse evento, a vinda da Missão Francesa,
logo após, em 1816, e a abertura da Academia Imperial de Belas Artes, em 1826, que tiveram papeis
fundamentais e estruturantes na aceitação e propagação desse estilo, que vigorou ao longo de quase todo o
século XIX.
A arquitetura neoclássica, difundida pela Academia, era marcada pela composição rígida de elementos tomados
do vocabulário clássico, caracterizado pela simplicidade das formas e constância das proporções (ROCHA-
PEIXOTO, 2000, p.34). Essas características eram mais facilmente perceptíveis nas construções de caráter
excepcional, como edificações públicas e residências da classe dominante. Entre o casario do centro da cidade, a
adoção do estilo limitou-se quando muito ao emprego simplificado do vocabulário clássico, que passava a
revestir superficialmente construções já existentes.
No que diz respeito a essa arquitetura popular, modificações mais significativas se deram sobretudo em função
da entrada em maior volume de materiais de construção, como o ferro e o vidro. A possibilidade da execução de
calhas, por exemplo, permitiu esconder os telhados pelo uso das platibandas, bem como a execução de desenhos
mais elaborados de cobertura. Assim, as construções urbanas ao longo do século XIX foram progressivamente se
afastando das divisas, recebendo aberturas nas fachadas laterais, que passaram a iluminar e ventilar cômodos
que antes permaneciam na penumbra. Entretanto, para essa introdução, nos concentraremos na arquitetura
erudita, aquela que serviu ao gosto oficial do recém-instaurado Império do Brasil.
Características do Neoclassicismo no Brasil
Influência das ideias do Iluminismo, ligadas à razão.
Características do Neoclassicismo no Brasil
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Valorização de temas e padrões estéticos da arte clássica da Antiguidade Ocidental.
Características do Neoclassicismo no Brasil
Valorização da simplicidade e pureza estética, em contraste com o Barro e o Rococó.
Assista aí
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5.1 O sistema Beaux-Arts
Retomemos antes, como era o ensino da arquitetura e da engenharia na França e que constituiu a base de
referência para o neoclassicismo brasileiro. O denominado Sistema Beaux-Arts surgiu em princípios do século
XIX, fruto da união dos processos de projeto da École des Beaux-Arts e da École Polytechnique. Segundo Mendes
et al. (2020b), os arquitetos da École des Beaux-Arts se pautavam num processo de projeto baseado na
composição tipológica, cujo repertório era buscado nos partidos da Antiguidade Clássica, isto é, templos,
panteões, arcos do triunfo, basílicas etc. A preferência por essa linguagem e repertório vinha de encontro à
necessidade de representar os regimes políticos – de base republicana –, surgidos após as Revoluções Francesa e
Americana, erigindo-se monumentos de ares clássicos imponentes e destacados na paisagem.
Já os engenheiros da École Polytechnique se baseavam em um método de projeto criado pelo professor Jean-
Nicolas-Louis Durand, em que tomava por base a coluna como elemento de comando da composição. Projetava-
se a partir de um quadrado reticulado, de forma que “a planta era caracterizada pela modulação, simetria axial e
ritmo constante, determinando sempre o sistema construtivo que poderia ser composto de paredes, arcadas,
corpos de edifícios, pátios interior” (MENDES et al, 2010b, p.37). O método atendia às necessidades das novas
tipologias arquitetônicas surgidas durante a Revolução Industrial, entre o século XVIII e XIX, como fábricas,
estações ferroviárias, hospitais, escolas, entre outros. Pelo método, os engenheiros livraram-se da necessidade
de relacionar a linguagem da construção à alguma referência da Antiguidade, conferindo grande flexibilidade aos
arranjos.
Os modelos de composição tipológico e metodológico se uniram e formaram o sistema Beaux-Arts que foi usado
por todo o século XIX. Explica ainda Mendes et al. (2010b), que, para que o processo tipológico não ficasse
esvaziado, Quatremère de Nincy criou os conceitos de decoro, linguagem e caráter próprio, atributos que
deveriam ter a obra arquitetônica, como elementos prévios ao processo projetivo. Essas diretrizes se somaram à
metodologia de Durand.
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5.2 Missão Francesa e a linguagem acadêmica
No Brasil, o estilo neoclássico passou a vigorar efetivamente a partir do funcionamento da Academia Imperial de
Belas Artes no Rio de Janeiro, isto é, já depois da Proclamação da Independência. A Missão Francesa, chefiada por
Joaquim Lebreton, trouxe uma leva de artistas para o país, dentre os quais Jean-Baptiste Debret, pintor e
desenhista, cujos registros até hoje nos ajudam a delinear como era vida em terras brasileiras nas primeiras
décadas do século XIX. Entre outros, veio também, o único arquiteto da comitiva, Grandjean de Montigny, a quem
pode ser atribuído o papel de responsável pela introdução do ensino regular de arquitetura no país.
Em termos de linguagem, o neoclassicismo rejeitava a profusão ornamental do rococó e do barroco tardio,
pregando por uma linguagem simples e austera. No entanto, “não significou a rejeição de qualquer forma de
ornato, mas apontou para a escolha dos temas decorativos passíveis de serem racionalmente justificados”
(ROCHA-PEIXOTO, 2000, p.26). A linguagem era formada a partir do vocabulário clássico, ajustado dentro de um
rígido padrão de composição, conforme os preceitos do Sistema Beaux-Arts.
O Rio de Janeiro, por sua centralidade e importância política naquele momento, tornou-se o centro irradiador da
tendência classicizante. A instalação da família real na cidade deu início a uma série de transformações urbanas e
incrementou as atividades econômicas. Instaurou-se sem dúvida uma nova urbanidade. Foram criadas
instituições como o Banco do Brasil, a Biblioteca Real e o Jardim Botânico. O neoclassicismo como linguagem
arquitetônica atendia aos novos paradigmas e uma série de construções com essas feições de releitura clássica
foram construídos na cidade, a exemplo do prédio da antiga Casa da Moeda (atual Arquivo Nacional), e da antigaPraça do Comércio (atual Casa França Brasil), esse último, projeto de autoria do próprio Grandjean de Montigny.
Assista aí
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é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• Aprofundar o conhecimento sobre o barroco brasileiro, a partir de suas escolas regionais, podendo 
perceber como a linguagem artística proveniente da Europa foi recebendo contornos e características 
locais;
• Conhecer o estilo rococó, um novo gosto artístico que teve seus reflexos aqui no Brasil já em fins do 
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• Conhecer o estilo rococó, um novo gosto artístico que teve seus reflexos aqui no Brasil já em fins do 
século XVIII, cuja preferência era por uma linguagem mais leve e suave se comparada aos tons fortes e 
carregados do barroco;
• Distinguir as características gerais do barroco e do rococó;
• Aprender sobre outros estilos que se desenvolveram no Brasil durante o século XVIII derivados das 
correntes predominantes: o estilo pombalino, em referência à arquitetura da reconstrução de Lisboa e 
que ficou restrito ao Rio de Janeiro e à Belém do Pará; e o estilo aleijadinho, em referência à obra do 
Mestre Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho) e que ficou restrito à Minas Gerais;
• Compreender o processo de urbanização no Brasil a partir da segunda metade do século XVIII, com a 
preferência pelo desenho urbano em malha xadrez, que podia apresentar pequenas distorções a 
depender do sítio de implantação;
• Entender que houve pouca alteração na arquitetura popular, ordinária, que acabou mantendo as 
características do século anterior;
• Iniciar seus conhecimentos sobre o estilo neoclássico, sabendo sobre sua origem francesa e como passou 
a figurar como tendência dominante, a partir de princípios do século XIX.
Referências
BURY, Arquitetura e arte no Brasil Colonial. Brasília: IPHAN/Monumenta, 2006
CARVALHO, C. et al. Guia da arquitetura colonial: introdução. In: CZAJKOWSKI, Jorge. Guia da arquitetura
colonial, neoclássica e romântica no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: Prefeitura da Cidade do Rio
de Janeiro, 2000.
MENDES, C. et al. Arquitetura no Brasil: de Cabral a Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010a.
MENDES, C.et al. Arquitetura no Brasil: de Dom João VI a Deodoro. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010b.
OLIVEIRA, M. A. R. Barroco e Rococó na arquitetura religiosa brasileira. In: IPHAN. Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, n.29, 2001.
OLIVEIRA, M. A. R. Barroco e Rococó nas igrejas do Rio de Janeiro. Brasília: IPHAN / Programa Monumenta, 2008.
SANTOS, P. F. Formação de cidades no Brasil colonial. Coimbra: V Colóquio Internacional de Estudos Luso-
Brasileiros, 1968.
REIS FILHO, N. G. Contribuições ao estudo da evolução urbana do Brasil (1500/1720). São Paulo: Editora da USP,
1968.
REIS FILHO, N. G. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Editora Perspectiva, 1997.
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