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Discentes: Brenda Maria, Diego Paulo e Sabrina de Cássia Universidade Estadual da Paraíba - UEPB Centro de Ciências Biológicas e da saúde - CCBS Departamento de Farmácia Componente Curricular: Citologia Clínica Docente: Valéria Morgiana Gualberto Duarte Moreira Lima TRICOMONÍASE FLORA VAGINAL ➢ O conteúdo cérvico-vaginal normal é constituído por células (epiteliais escamosas, células colunares endocervicais, células endometriais - no período menstrual -, etc), muco cervical, microbiota bacteriana variada, água e ácido láctico. ➢ Esses microrganismos formam um ecossistema complexo entre a vagina e colo uterino no qual estudos demonstram que esses desempenham um papel fundamental no desenvolvimento, fisiologia, nutrição e imunidade da região. ➢ A maior parte dessas bactérias são adaptadas às especificidades dessa área (pH, temperatura…) e, portanto, não são colônias passivas/transitórias (Ex: Lactobacillus). A manutenção desses microrganismos indicam condições normais, enquanto que mudanças drásticas em suas proporções é um mau indicativo. ➢ Alguns fatores que podem influenciar na microbiota: 1. Gestação: com a elevada secreção de hormônios estrógenos ocorre descamação de células escamosas que são ricas em glicogênio e, por conseguinte, proporciona ambiente favorável ao desenvolvimento de microrganismos. 2. Parto: ocorre depressão hormonal seguida de atrofia da mucosa escamosa o deixa o pH alcalino. 3. Menstruação: com a depressão hormonal ocorre a descamação endometrial o que diminui o pH vaginal. O fluxo menstrual retira o tampão mucoso que protege contra infecções ascendentes. 4. Menarca/Menopausa: baixa significativa na secreção dos hormônios sexuais femininos, o que acarreta na presença de epitélio escamoso vaginal atrófico ou hipotrófico e assim diminuir a população de Lactobacillus e até de outros microrganismos. 5. Dentre outros, como drogas e doenças. FLORA VAGINAL ➢ O trato genital inferior apresenta comunicação com o ambiente externo que pode desencadear o desenvolvimento de reações inflamatórias e não inflamatórias. ➢ Os principais sintomas são: leucorreia, irritação volvovaginal, coceira, dor, ulceração e sangramento. ➢ É válido ressaltar que a maior parte desses processos permanecem localizados, mas existe a possibilidade do microorganismo migrar para trato genital superior (cavidade uterina, tuba uterina e ovários) que é uma região estéril em condições de normalidade. Dentre esses microrganismos, os mais frequentemente isolados são: Lactobacillus, Streptococcus ssp, Staphylococcus epidermidis, Bacteroides ssp e Gardnerella vaginalis. FLORA VAGINAL TRICOMONÍASE ➢ É uma doença venérea, ou seja, uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis; ➢ O protozoário desta espécie não possui forma de cisto e seu trofozoíto se apresenta em formato oval ou elipsóide. Além disso, é plástico e emite pseudópodes que servem para captura de alimentos e para fixação; ➢ Em preparações fixadas mede cerca de 9,7 µm de comprimento por 7 µm, mas os espécimes vivos bem conservados podem chegar a tamanhos maiores; ➢ Possui quatro flagelos livres de diferentes tamanhos e uma membrana ondulante característica; ➢ É desprovido de mitocôndrias, mas apresenta hidrogenossomos, grânulos densos que podem ser vistos nos espécimes vivos ao microscópio óptico. TRICOMONÍASE ➢ O T. vaginalis é um microrganismo anaeróbio facultativo que cresce muito bem na ausência de oxigênio, em pH entre 5 e 7,5 e temperatura entre 20 e 40ºC; ➢ Utiliza glicose, frutose, maltose, glicogênio e amido como fonte de energia; ➢ Seu habitat é o sistema geniturinário humano, onde se instala e infecta homens e mulheres. Transmissão ● Ocorre, principalmente, pela via sexual. O protozoário pode sobreviver por mais de uma semana no prepúcio do homem sadio, após coito com uma mulher infectada. Com a ejaculação, os tricomonas na mucosa da uretra são levados à vagina pelo esperma. ● Outras formas de transmissão são consideradas raras, mas a tricomoníase neonatal em meninas pode ser adquirida durante o parto. TRICOMONÍASE ➢ Gestação: a tricomoníase pode provocar ruptura prematura da membrana, parto prematuro e baixo peso do recém-nascido, endometrite pós-parto, natimorto e neonatal → a resposta inflamatória provocada pelo protozoário afeta diretamente ou indiretamente a membrana fetal. ➢ Fertilidade: essa doença aumenta consideravelmente o risco de infertilidade, especialmente em mulheres → a inflamação destrói a estrutura tubária e danifica as células ciliadas da mucosa tubárias → inibe a passagem de espermatozóides ou de óvulos pela tuba uterina. ➢ Transmissão do HIV: a tricomoníase pode facilitar o acesso do HIV, devido a inflamação e a atração de linfócitos TCD4+ para o local, ou, pelos pontos hemorrágicos na mucosa que facilitam o acesso do vírus à corrente sanguínea, bem como aos fluidos corporais, o que também expande sua porta de saída. Patologia TRICOMONÍASE ➢ Para se estabelecer na região vaginal, o T. vaginalis eleva o pH local para maior que 5. Isso provoca redução na quantidade de Lactobacillus acidophilus e um aumento de bactérias anaeróbias; ➢ O primeiro contato entre o protozoário e leucócitos leva à formação de pseudópodes, internalização e degradação das células imunes nos vacúolos fagocitários do tricomonas; ➢ A citotoxicidade e adesão do parasito são resultado dos fatores de virulência, como adesinas, cisteína-proteases (degradam IgG, IgA e IgM presentes na vagina), integrinas, cell-detaching factor (CDF) e glicosidades, que são altamente citotóxicos. Patologia TRICOMONÍASE Patologia Mulheres ● O tricomonas afeta o epitélio escamoso cervical e vaginal; ● A tricomoníase pode ser assintomática ou desencadear uma resposta inflamatória severa (vaginite); ● A vaginite frequentemente causa corrimento devido à infiltração de leucócitos, sendo esse defino e escasso a espesso e abundante, variando de acordo com a paciente; ● O corrimento clássico amarelo, abundante e espumoso e mucopurulento acontece em apenas 20% dos casos; ● Odor vaginal anormal e prurido vulvar intenso também podem ser sentidos; ● Podem aparecer pontos hemorrágicos na parede cervical (colpitis macularis - aspecto de morango), e a vagina e o cérvice adquirem aspecto edematoso e eritematoso. TRICOMONÍASE Patologia Homens ● Normalmente a infecção é autolimitada; ● É mais frequentemente assintomática, mas pode se apresentar como uretrite purulenta abundante; ● Pela manhã, antes da passagem da urina, pode-se observar um corrimento claro, viscoso e pouco abundante, acompanhado de ardência miccional; ● Complicações: prostatite, balanopostite, cistite e epididimite. DIAGNÓSTICO ● A tricomoníase pode ser confundida com outras doença sexualmente transmissíveis (DSTs), pois o clássico achado da cérvice com aspecto de morango é observado somente em 2% das pacientes, e o corrimento espumoso, em apenas 20% das mulheres infectadas. ● A investigação laboratorial é importante para o diagnóstico da tricomoníase, pois determina o tratamento adequado e controla a propagação da infecção. Exame de preparações a fresco e de corrimentos vaginais e uretrais, bem como da secreção prostática e também da urina. Recomendações para as preparações a fresco: ● As amostras devem ser examinadas com no máximo 1 hora após a coleta; ● As amostras biológicas não devem ser refrigeradas; ● A coloração de gram não é recomendada; ➢ Diagnóstico clínico ➢ Diagnóstico laboratorial DIAGNÓSTICO ● Cérvice de morango característico de tricomoníase observado em cerca de 2% das pacientes, visto sob colposcopia. ➢ Colposcopia ● Corrimento abundante e espumoso também característico de tricomoníase, observado em 20% dos casos. ➢ Colheita da Amostra para esfregaço Mulheres: As mulheres não deverão realizar a higiene vaginal durante um período de 18 a 24 horas anterior à colheita do material, e não devem ter feito uso demedicamentos tricomonicidas, tanto vaginais (geléias e cremes) como orais, há 15 dias. Homens: O horário apropriado para colheita da amostra é pela manhã, é necessário que ele não urine e nem tenha utilizado medicamentos tricomonicidas há 15 dias. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO ➢ Papanicolau ● A técnica do Papanicolau é utilizada para o diagnóstico de tricomoníase. ● No esfregaço citológico corado pelo Papanicolau, é possível observar alterações causadas por T. vaginalis. Devido a elevação do pH vaginal, ocorre a redução dos lactobacilos e aumento da microbiota anaeróbia, sendo mais comum do tipo mista ou cocoide. ➢ O esfregaço cérvico vaginal corado por Papanicolau, mostra os parasitos ovais ou arredondados, de cor rosada, com núcleo excêntrico, borrado e pouco definido, de aparência degenerada. Há presença de microbiota mista. CARACTERÍSTICAS DOS ESFREGAÇOS ➢ Característica gerais do esfregaço colpocitológico ● O exame de amostras vaginal e cervical pode se mostrar sem alterações celulares, sem presença de infiltrado leucocitário e com fundo limpo, ou, revelar alterações citomorfológicas induzidas pelo T. vaginalis. ● Em caso de alterações, o esfregaço é rico em elementos polimorfonucleares e apresenta grande número de células epiteliais inflamatórias isoladas. ● O esfregaço é dito sujo devido à quantidade de leucócitos, histiócitos e detritos celulares produzidos pela lise citoplasmática das células escamosas. Também observa-se citólise e muco característico de aspecto granuloso CARACTERÍSTICAS DOS ESFREGAÇOS ➢ Característica gerais do esfregaço colpocitológico ● Nas células epiteliais, as inflamações são intensas, com apagamento de bordas citoplasmáticas, halos perinucleares, anfofilia, pseudoeosinofilia leucocitose e outras. ● As células parabasais podem descamar em consequência do desgaste promovido pelos parasitos. Já o núcleo das células escamosas pode apresentar cromatina grosseira, hipercromasia, binucleação e cariomegalia. ➢ Esfregaço cervicovaginal com presença de T. vaginalis com núcleos fracamente corados. Também há presença de células escamosas com pseudoeosinofilia, algumas com halo perinucleares. CARACTERÍSTICAS DOS ESFREGAÇOS ➢ Característica do parasito ● No esfregaço citológico, T. vaginalis aparecem de formas ovais ou arredondados, com núcleo excêntrico, borrado e quase indefinido, por conta da sua aparência degenerada. ● Identificar o núcleo é importante, pois ele diferencia células metaplásicas degeneradas, núcleos desnudos, histiócitos ou polimorfos nucleares. ● Em preparações a fresco, é possível observar grânulos citoplasmáticos vermelhos que podem auxiliar na diferenciação do tricomonas, mas em preparações cervicais esses raramente aparecem. ➢ Característica das células de descamação As células mostram as alterações gerais típicas da resposta inflamatória e apresentam aspectos peculiares da infecção específica do protozoário. As alterações podem ser divididas em nucleares e citoplasmáticas. ➢ Alterações citoplasmáticas Pseudoeosinofilia e anfofilia, que parecem ser produzidas por uma oxidação dependente do metabolismo do parasita ou por esse provocar uma queratinização patológica da mucosa vaginal, que também afeta as células intermediárias e parabasais. ➢ Alterações nucleares Anisocariose, aumento do tamanho nuclear (1,5 a 2,0 vezes maior que o normal), reforço da membrana nuclear por degeneração celular com depósito de grumos cromáticos, hipercromasia, binucleação ou multinucleação, são as alterações mais comuns. CARACTERÍSTICAS DOS ESFREGAÇOS EXAMES COMPLEMENTARES ➢ O método de cultura é o padrão-ouro para o diagnóstico, pois é simples de interpretar e requer somente 300 a 500 tricomonas/mL de inóculo para iniciar o crescimento. No entanto, são necessários alguns dias para a identificação do parasito, tempo durante o qual os pacientes infectados podem continuar a transmitir a infecção. EXAMES COMPLEMENTARES Preparações não-coradas: A microscopia da secreção vaginal ou cervical dos exsudatos uretrais e do líquido prostático diluídos em solução salina isotônica (0,15M) tépida é o exame de rotina usual para a identificação do T. vaginalis. Preparações coradas: Os corantes são adicionados às montagens salinas com o objetivo de aumentar a sensibilidade do exame microscópico direto. Apesar dos tricomonas não se corarem com safianina, verde-de-malaquita, azul- demetileno e com azul-cresil-brilhante, os elementos celulares tomam os corantes e contrastam com os organismos vivos não-corados. Preparações fixadas e coradas: Novos métodos de coloração têm sido indicados para a pesquisa de tricomonas, devido às limitações do exame direto. Os principais são: alaranjado de acridina, Giemsa, Leishman, Diff-Quik, Fontana, ácido periódico de Schiff, imunoperoxidase e hematoxilina fémca, segundo Heidenhain. ➢ Exame Direto a Fresco ➢ Imunológico ● As reações antígeno-anticorpo, como a aglutinação, métodos de imunofluorescência direta ou indireta fixação do complemento, hemaglutinação indireta, difusão em gel e técnicas imunoenzimáticas (ELISA), elevam o índice de certeza do resultado e são capazes de identificar a presença de anticorpos anti-trichomonas. EXAMES COMPLEMENTARES ● A Cultura da urina ou swabs uretrais é o único teste validado para detectar T. vaginalis em homens, pois em homens, a microscopia da urina é insensível. ● Assim como no diagnóstico de qualquer DST, pacientes com tricomoníase devem realizar testes a fim de excluir outras DST comuns, como gonorreia e infecção por clamídia. TRATAMENTO Secnidazol ou Tinidazol ………………2 comp Tomar 2 comp em dose única em jejum ou Flagyl 500 mg ……………………………..30 comp Tomar um comprimido a cada 12 h por 7 dias Metronidazol Creme …………………… 1 cx Usar a noite por 7 dias Importante: Gestantes e Lactantes jamais devem fazer uso de dose única! Secnidazol ou Tinidazol ………………2 comp Tomar 2 comp em dose única em jejum ou Flagyl 500 mg ……………………………..30 comp Tomar um comprimido a cada 12 h por 7 dias ➢ Mulheres ➢ Homens Referências FEITTOSA, C. F.; CONSOLARO, M.E.L. Tricomoníase: aspectos gerais e diagnóstico pela colpocitologia de papanicolaou. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, 9(3), set./dez. p.199-206, 2005. KOSS, G. L.; GOMPEL, C. Introdução à citopatologia ginecológica com correlações histológicas e clínicas. São Paulo: Roca, 2006. Lopes, CONSOLARO, Márcia Edilaine, and MARIA-ENGLER, Silvya Stuchi (orgs.).Citologia Clínica Cérvico-Vaginal – Texto e Atlas. Roca, 2012. MACIEL, G. P.; DE CARLI, G. A. Aspectos clínicos, patogênese e diagnóstico de Trichomonas vaginalis. J. Bras. Patol. Med. Lab. v. 40, n. 3, p.152-160, 2004. Neves, DP. Parasitologia Humana, 11ª ed, São Paulo, Atheneu, 2005.
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