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1 Margarida – Página 618 A função básica do sistema respiratório é suprir o organismo com oxigênio (02 ) e dele remover o produto gasoso do metabolismo celular, ou seja, o gás carbônico (C02). O sistema respiratório dos mamíferos é compreendido pela zona de transporte gasoso, formada pelas vias respiratórias superiores e pela árvore traqueobrônquica, encarregadas de acondicionar e conduzir o ar até a intimidade dos pulmões; pela zona respiratória, na qual efetivamente se realizam as trocas gasosas; e por uma zona de transição, interposta entre as duas primeiras, onde começam a ocorrer trocas gasosas, porém em níveis não significativos. Movimentos respiratórios Durante a INSPIRAÇÃO, a cavidade torácica cresce de volume e os pulmões se expandem para preen - cher o espaço deixado. Com o aumento da capacidade pulmonar e queda da pressão no interior do sistema, o ar ambiente é sugado para dentro dos pulmões. Na EXPIRAÇÃO há diminuição do volume pulmonar e expulsão de gás. Ao longo da expiração ocorre paulatina desativação da musculatura inspiratória, que contribui para a expulsão do gás dos pulmões A expiração em condições de repouso é passiva, ou seja, não há contração da musculatura expiratória A contração dos músculos respiratórios depende de impulsos nervosos originados dos centros respiratórios (situados no tronco cerebral), às vezes diretamente de áreas corticais superiores e também da medula (em resposta a estímulos reflexos oriundos dos fusos musculares) Músculos respiratórios São músculos esqueléticos estriados que, quando comparados com os esqueléticos da periferia, apresentam as seguintes características: maior resistência à fadiga, elevado fluxo sanguíneo, maior capacidade oxidativa e densidade capilar. Inspiração DIAFRAGMA Divide-se em hemidiafragma direito e esquerdo. É um septo musculofibroso, em forma de cúpula voltada cranialmente, que separa a cavidade torácica da abdominal. A cúpula diafragmática corresponde ao tendão central; a porção cilíndrica, ao músculo inserido na borda interna das costelas, também chamado de zona de aposição do diafragma Na realidade, o diafragma é constituído por dois músculos: o costal e o crural, inseridos em um tendão central não contrátil. o O diafragma crural se inicia nas vértebras lombares e nos ligamentos arqueados; o costal, nas margens superiores das seis últimas costelas e apêndice xifoide. O diafragma é inervado pelos nervos frênicos direito e esquerdo, oriundos dos segmentos cervicais 3, 4 e 5 2 Quando o diafragma se contrai, o conteúdo abdominal é forçado para baixo e para a frente, aumentando, por conseguinte, o diâmetro cefalocaudal do tórax. Além disso, as margens das costelas são levantadas para cima e para fora, ocasionando o incremento dos diâmetros anteroposterior e laterolateral torácicos. OBS: Quando o diafragma é paralisado, ele se move para cima, em vez de descender, durante a inspiração. Tal fenômeno é denominado movimento paradoxal e decorre da queda da pressão intratorácica MÚSCULOS INTERCOSTAIS INTERÓSSEOS Tracionam as costelas e o osso esterno para cima e para frente, aumentando o volume da caixa torácica no sentido horizontal (anteroposterior) Atuam também na respiração forçada MÚSCULOS PARAESTERNAIS E ESTERNO TRIANGULAR são músculos primários da inspiração Esses músculos se originam nas margens do esterno e se inserem na porção superior das costelas. A contração deles auxilia no levantamento do gradil costal superior. Quando tais músculos estão paralisados, a inspiração se dá principalmente por meio da expansão abdominal, já que o gradil costal se move paradoxalmente para dentro Os músculos intercostais paraesternais são cobertos em sua superfície interna por um fino músculo chamado de esterno triangular ou transverso torácico (mm expiratório) MÚSCULOS ESCALENOS os escalenos são sempre ativos na inspiração basal. A sua atividade começa no início da inspiração, juntamente com o diafragma e a musculatura paraesternal, e atinge o máximo no final da inspiração A contração do músculo escaleno eleva o esterno e as duas primeiras costelas, acarretando expansão para cima e para fora do gradil costal superior MÚSCULO ESTERNODEIDOMASTÓIDEO (acessório) Uma vez contraído, o esternocleidomastóideo eleva o esterno e expande o gradil costal superior. Em pessoas normais, ele é ativo em condições de aumento da ventilação (exercício) e altos volumes pulmonares (recrutado após a inspiração de três quartos da capacidade vital) Quando a demanda ventilatória excede a capacidade dos músculos respiratórios primários da inspiração, ou quando há disfunção de algum desses, músculos que em geral são utilizados para manter a postura assumem o papel de acessórios. o EX: : trapézio, grande dorsal, peitoral maior e elevador da espinha Os músculos abdominais podem funcionar como músculos acessórios da inspiração durante hiperventilação, exercício e paralisia diafragmática A ventilação efetiva depende da atvi i dade coordenada entre os músculos primários da inspiração e os músculos das vias respiratórias superiores. A ativação elétrica dos músculos adutores da laringe (cricoaritenoide posterior) ocorre imediatamente antes da ativação do diafragma e persiste por toda a inspiração. A ativação desses músculos mantém a estabilidade das vias respiratórias superiores, reduz a resistência das vias resprat i órias e diminui o trabalho respiratório. A insuficiência de tais músculos acarreta colapso das vias respiratóras i superiores no decorrer da inspiração. O estreitamento das vias respiratórias em combinação com a fraqueza de músculos inspiratórios leva a hipoventilação e hipoxemia. EXPIRAÇÃO A contração ativa dos músculos inspiratórios conduz à distensão dos tecidos elásticos dos pulmões e da parede torácica, com consequente armazenamento de energia potencial nesses tecidos. A retração dos tecidos distendidos e a liberação de energia armazenada promovem a expiração. Durante a respiração basal, a expiração é comumente passiva. Os músculos expiratórios contraem-se ativamente no decorrer de exercício, níveis elevados de ventilação, obstrução moderada a grave das vias respiratórias e fadiga 3 MÚSCULOS ABDOMINAIS Os músculos retoabdominal, oblíquos externo e interno, e transverso abdominal são os mais importantes músculos expiratórios. A contração concomitante desses músculos acarreta movimentação do gradil costal para baixo e para dentro, flexão do tronco e compressão do conteúdo abdominal para cima, deslocando o diafragma para o interior do tórax e reduzindo o volume pulmonar. Esses músculos também se contraem fisiologicamente durante tosse, vômito e defecação PEITORAL MAIOR A contração desse músculo desloca o manúbrio e as costelas superiores para baixo, comprimindo o gradil costal superior e aumentando a pressão intratorácica. Simultaneamente, o gradil costal inferior e o abdome se movem para fora TRANSVERSO DO TORAX Durante a expiração, ele puxa as costelas caudalmente, desinsuflando o gradil costal. Esse músculo em repouso é inativo, sendo ativado no decorrer de expirações forçadas, fonação e tosse Movimentos respiratórios Os movimentos fásicos de entrada e saída de gás dos pulmões constituem a ventilação. Denomina-se volume corrente a quantidade de gás mobilizada a cada ciclo respiratório. O volume de gás ventilado por minuto é o volume minuto ou ventilação global por minuto. Corresponde ao produto do volume corrente pela frequência respiratória Eupneia: Respiração normal, sem qualquer sensação subjetiva de desconforto. Taquipneia. Aumento da frequência respiratória. Bradipneia. Diminuiçãoda frequência respiratória. Hiperpneia: Elevação do volume corrente. Hipopneia: Redução do volume corrente. Hiperventilação: Aumento da ventilação global. Mais acertadamente, aumento da ventilação alveolar além das necessidades metabólicas. Hipoventilação: Diminuição da ventilação global. Com maior precisão, diminuição da ventilação dos alvéolos aquém das necessidades metabólicas. Apneia: Parada dos movimentos respiratórios ao final de uma expiração basal. Apneuse: Interrupção dos movimentos respiratórios ao final da inspiração. Dispneia: Respiração laboriosa, sensação subjetiva de dificuldade respiratória. Volumes e capacidades Os volumes primários não se sobrepõem, ao passo que as capacidades são formadas por dois ou mais volumes primários. Fisiologicamente, os volumes e capacidades pulmonares variam em função de muitos fatores tais como: gênero, idade, superfície corporal, atividade física, postura Volume corrente: Quantidade de ar inspirada ou expirada espontaneamente em cada ciclo respiratório. No repouso, o volume corrente humano oscila entre 350 e 500 ml Volume de reserva inspiratório: Volume máximo que pode ser inspirado voluntariamente a partir do final de uma inspiração espontânea. Volume de reserva expiratório: Volume máximo que pode ser expirado voluntariamente a partir do final de uma expiração espontânea. Volume residual: Volume de gás que permanece no interior dos pulmões após a expiração máxima. Capacidade vital: Quantidade de gás mobilizada entre uma inspiração e uma expiração máximas. A capacidade vital é a soma de três volumes primários: corrente, de reserva inspiratório e de reserva expiratório Capacidade inspiratória: Volume máximo inspirado a partir do final de uma expiração espontânea. Corresponde à soma dos volumes corrente e de reserva inspiratório. 4 Capacidade residual funcional: Quantidade de gás contida nos pulmões no final de uma expiração espontânea. Corresponde à soma dos volumes de reserva expiratório e residual. Capacidade pulmonar total: Quantidade de gás contida nos pulmões ao final de uma inspiração máxima. Equivale à adição dos quatro volumes primários Fisiopatologia respiratória Para um individuo normal a razão VEF 1,0/CVF é de aproximadamente 80%. VEF: volume expiratório forçado CVF: capacidade vital forçada Padrão obstrutivo o ar é exalado com maior lentidão, acarretando um VEF1,0 e a razão VEF 1,0/CVF reduzidos. Esta, quando inferior a 80%, indica fortemente um padrão obstrutivo. A obstrução das vias respiratórias acarreta um achatamento na curva volume-tempo Padrão restritivo a CVF e o VEF1,0 encontram-se reduzidos em valores absolutos, quando comparados com os padrões de normalidade, mas a razão VEF 1,0/CVF supera os 80%. Nota-se que, nas pneumopatias obstrutivas, a expiração máxima começa e termina em volumes pulmonares anormalmente elevados, e os fluxos são muito menores que o normal. Contrariamente, em pacientes com pneumopatias restritivas o volume mobilizado é menor. O fluxo aéreo está normal em relação ao volume pulmonar, já que o calibre das vias respiratórias encontra-se normal. Mecânica respiratória A pressão motriz do sistema respiratório, que em condições normais é aquela gerada pela contração muscular durante a inspiração, precisa vencer forças elásticas e resistivas para conseguir encher os pulmões. Assim, o processo cíclico da respiração envolve um certo trabalho mecânico por parte dos músculos respiratórios. O sistema respiratório é formado por dois componentes: pulmão e parede torácica. Os pulmões são separados da parede torácica pelo espaço pleural. o Cada pulmão tem acoplada a si a pleura visceral, que se reflete ao nível dos hilos pulmonares, recobrindo o mediastino, o diafragma e a face interna da caixa torácica (pleura parietal) o Dentro dessa cavidade virtual, existem alguns mililitros de líquido, de modo a permitir que uma pleura deslize sobre a outra durante os movimentos respiratórios Propriedades elásticas do sistema respiratório A elasticidade é uma propriedade da matéria que permite ao corpo retornar à sua forma original após ter sido deformado por uma força aplicada sobre ele. Quanto mais intensa a pressão gerada pelos músculos inspiratórios, maior o volume inspirado. Como as molas, os tecidos devem ser distendidos por meio de uma força externa (esforço muscular) durante a inspiração. Quanto maior a pressão aplicada, maior a variação de volume durante a inspiração. Essa relação entre volume e pressão depende apenas de medidas em condições estáticas, isto é, quando não há fluxo de ar na árvore traqueobrônquica, e não da velocidade com que o volume é alcançado. Quanto maior a complacência, mais distensível será o tecido; quanto menor, mais rígido ele será Nota-se que a complacência do sistema respiratório é constante na faixa de volumes pulmonares compreendidos entre 25 e 75% da capacidade vital. Abaixo e acima dessa faixa, a complacência tende a cair progressivamente, indicando que o sistema respiratório deixa de se comportar como um corpo quase perfeitamente elástico 5 Propriedades elásticas do pulmão A força de retração elástica dos pulmões (Pel,L) tende a trazê-los para seu volume mínimo, ou seja, eles tendem sempre a se retrair e colabar. Todas as estruturas desse órgão (vasos, bronquíolos, alvéolos etc.) encontram-se interligadas pela trama de tecido conjuntivo pulmonar, de sorte que, quando há insuflação, todos esses componentes se distendem. Esse fenômeno é chamado de "interdependência", que contribui para manter todos os alvéolos abertos, posto que, caso alguns se fechassem, seus vizinhos puxariam suas paredes e tenderiam a reabri-los. SURFACTANTE Há tensão superficial em uma interface ar-líquido porque as moléculas do líquido são atraídas com maior força para o interior do líquido que para dentro da fase gasosa. Considerando-se dois alvéolos de diferentes tamanhos conectados através de uma via respiratória comum, e com tensão superficial semelhante em ambos, pode-se depreender, com base na lei de Laplace (a pressão relaciona-se com o raio (R) e com a tensão superficial (T) da seguinte maneira: P = 4T/R, em que o número 4 representa duas interfaces ar-líquido (interna e externa) que a pressão nos alvéolos menores seria maior que a nos maiores. Consequentemente, os alvéolos menores se esvaziariam nos maiores, acarretando alvéolos colapsados e outros hiperinsuflados. Contudo, tal fato não ocorre nos pulmões normais, pois a tensão superficial do surfactante alveolar é consideravelmente menor que a da solução salina que recobre as mucosas pulmonares A tensão superficial do surfactante alveolar diminui acentuadamente com a aproximação entre as suas moléculas, o que acontece provavelmente durante a expiração, quando os alvéolos se tornam menores. Ademais, a tensão superficial cresce com o afastamento de suas moléculas, ou seja, é grande em alvéolos maiores. Como o surfactante evita o edema intersticial? Se aumentasse muito a tensão superficial na parede dos alvéolos, eles tenderiam a se fechar, elevando a tração sobre o interstício, onde se encontram os vasos. Este fato facilitaria a filtração pela diminuição da pressão intersticial e consequente aumento do diâmetro dos vasos. Sendo assim, estaria aumentada a passagem de líquido do interior dos vasos para o interstício. Composição do surfactante O surfactante pulmonar é secretado por células epiteliais alveolares especializadas chamadas de pneumócitos granulares ou tipo II. Tais células se localizam nos alvéolos, armazenam surfactante em corpos lamelares osmofílicos e secretam seu conteúdo no lúmen alveolar por intermédio de um processo de exocitose, estimuladapor mecanismos beta adrenérgicos. Os fosfolipídios são os principais componentes do surfactante, sendo os principais constituintes a dipalmitoilfosfatidilcolina (40%), a fosfatidilcolina monoenoica (25%) e o fosfatidilglicerol (10%). O surfactante está em constante estado de renovação Os pneumócitos tipo II reabsorvem parte do líquido que recobre as paredes alveolares pelas vilosidades presentes em sua região basal, sendo seu papel essencial para o turnover do surfactante 6 o surfactante deve ser levado ao local onde irá atuar, devendo sua taxa de formação e transporte normalmente igual à de sua perda ou reabsorção Redução patológica da complacência A complacência pulmonar aumenta com a idade e no enfisema. Em ambas as condições, a alteração do tecido elástico pulmonar é a responsável pela elevação da complacência. Para gerar um mesmo volume, o paciente com fibrose necessita de maior pressão que o indivíduo normal e o paciente enfisematoso. Consequentemente, o doente com fibrose apresenta uma complacência menor que o enfisematoso e o normal. O aumento da pressão venosa pulmonar, o pneumotórax, o edema alveolar e a atelectasia também levam à redução da complacência. SINDROME DO DESCONFORTO RESPIRATORIO AGUDO A perda de surfactante leva à redução da complacência pulmonar, áreas de atelectasia e alvéolos cheios de transudato. Este é o quadro patológico da síndrome do desconforto respiratório do recémnato, que é particularmente passível de surgir em crianças prematuras, cujo sistema de produção e extrusão do surfactante não se encontra ainda bem desenvolvido ou funcionante. A hipoxia, ou hipoxemia, pode acarretar redução da produção de surfactante ou aumento de sua destruição, contribuindo para o desenvolvimento da síndrome do desconforto respiratório agudo. PROPRIEDADES PULMONARES Enquanto o pulmão apresenta um comportamento semelhante ao de uma mola, sua complacência é constante. Todavia, em volumes pulmonares muito elevados (acima de 75% da capacidade vital) algumas regiões do pulmão já atingiram seu ponto máximo de distensão elástica perfeita e, consequentemente, será necessária maior variação de pressão para fazer variar o volume, isto é, o pulmão toma-se menos complacente A complacência pulmonar aumenta com a idade e no enfisema. Em ambas as condições, a alteração do tecido elástico pulmonar é a responsável pela elevação da complacência. Para gerar um mesmo volume, o paciente com fibrose necessita de maior pressão que o indivíduo normal e o paciente enfisematoso. Consequentemente, o doente com fibrose apresenta uma complacência menor que o enfisematoso e o normal. O aumento da pressão venosa pulmonar, o pneumotórax, o edema alveolar e a atelectasia também levam à redução da complacência.
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