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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB TEORIA, CRÍTICA E HISTÓRIA DA ARTE – TCHA HISTÓRIA DA ARTE 4 Surrealismo no olhar feminino: uma breve introdução GABRIELA PERIM Brasília - DF Maio de 2021 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB TEORIA, CRÍTICA E HISTÓRIA DA ARTE – TCHA HISTÓRIA DA ARTE 4 Gabriela Perim - 19/0028289 O Surrealismo no olhar feminino: uma breve introdução Caracterizar o surrealismo como uma escola artística nunca foi uma intenção. Mais do que um movimento artístico, o surrealismo foi “um movimento de revolta do espírito e uma tentativa de re-encantamento do mundo” (LÖWY, 2002). Foi o último movimento das vanguardas. Seu início é considerado como em 1924, com a publicação do Manifeste de Surrealisme de André Breton, embora o grupo já estivesse em atividade desde 1919. O surrealismo retoma a discussão dadaísta de imposição à razão, é uma arte que critica o modo racional da sociedade burguesa através de uma imagética relacionada aos sonhos e as utopias. Surge em meio a uma crise de valores e apreensões incitadas por um período pós-guerra, em uma sociedade desestabilizada que procura manter viva a imaginação e a liberdade. Representados pelo inconsciente e inspirados, desde a psicanálise desenvolvida Freud até o pensamento dialético Hegeliano, os surrealistas propõem uma abordagem diferente da apresentada pelo Dada, uma que não indicasse desconstrução, e sim utilizasse dos meios herdados das academias do século anterior. Com seu interesse crítico e revolucionário, a ideia de uma arte do inconsciente, do amor igualitário que acolha a estranheza de simplesmente ser, torna-se deveras atraente, cativando a atenção de artistas mulheres. Inicialmente só era permitido a esse grupo feminino que entrassem no círculo surrealista como acompanhantes de algum artista ou enquanto modelo para eles. A participação das mulheres como artistas torna-se mais visível e marcante a partir de 1930, algumas das principais razões para isso ser possível estava nos princípios fundamentais de valores surrealistas, tido como uma arte irracional e intuitiva o movimento encaixava-se bem na conotação negativa do feminino, nesse momento da década de 30 foi também quando o movimento tornou-se conhecido internacionalmente atraindo um grupo de mulheres de diversos países além da França, que se sentiram convidadas a se juntarem ao grupo. Dorothea Tanning, Leonora Carrington, Remedios Varo, Frida Khalo e Dora Maar são alguns dos grandes nomes dessa porção de artistas mulheres que alcançaram reconhecimento UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB TEORIA, CRÍTICA E HISTÓRIA DA ARTE – TCHA HISTÓRIA DA ARTE 4 Gabriela Perim - 19/0028289 hoje e ajudaram a internacionalizar o movimento. É possível observar uma grande variedade de estilos entre as artistas, isso porque o que as ligava era o pensamento, uma busca pela liberdade e pela individualidade. A partir disso, trago uma obra que acredito que expresse muito dos motivos apresentados como uma forma de concretização e síntese. Dorothea Tanning (1910 - 2012), Eine Kleine Nachtmusik, óleo sobre tela, 64 x 83,3 cm, 1943, Tate Museum, UK © DACS, 2021 Essa é uma das mais famosas obras de Dorothea Tanning, uma americana que se juntou ao surrealismo e esposa de Max Enrst. Em seus trabalhos, é possível observar elementos que se repetem frequentemente, como portas, a figura de meninas e girassóis. Os girassóis para ela, eram vistos como um símbolo de todas as coisas que a juventude deve passar e enfrentar. Eine Kleine Nachtmusik, é inspirada pela serenata de Mozart, um dos tópicos favoritos de conversação entre ela e seu marido. Nela há a representação de um corredor de hotel com portas enumeradas, onde a que está mais longe encontra-se entreaberta com um https://www.tate.org.uk/about-us/policies-and-procedures/website-terms-use UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB TEORIA, CRÍTICA E HISTÓRIA DA ARTE – TCHA HISTÓRIA DA ARTE 4 Gabriela Perim - 19/0028289 feixe de luz que por ela vaza, um girassol gigante se encontra no chão com duas pétalas jogadas na escada e uma terceira na mão de uma figura feminina encostada em uma das portas que pode ser identificada como uma boneca, por seu torso contornado e seu cabelo alinhado, com roupas similares a da menina que fica de pé diante do girassol. A menina tem suas roupas desalinhadas e seu cabelo fica de pé como se após uma grande luta, uma rajada de vento houvesse por ali passado. Tanning diz que: “É sobre confrontação, todo mundo acredita que ele\ela é seu próprio drama. Enquanto eles nem sempre tem girassóis gigantes (a mais agressiva das flores) para competir com, há sempre escadas e corredores, até mesmo os teatros privados onde as sufocações e finalidades estão esgotando, o carpete vermelho sangue ou os cruéis amarelos, o atacante, a vítima em deleite…” REFERÊNCIAS GARCIA, Sueli . O Surrealismo e a Moda. Revista Belas Artes , v. 2, p. 01-12, 2010. GÊNERO e arte: a produção artística de mulheres pintoras no surrealismo. In: SOUSA, Ivan Vale. Linguística, Letras e Artes: Cânones, Ideias e Lugares. Ponta Grossa, Paraná: Atena, 2020. cap. 9, p. 94-237. GUINSBURG, J.; LEIRNER, S. O surrealismo. Traducao . [s.l.] Editora Perspectiva, 2008. QUERIDO, Fabio Mascaro. Romântico, moderno e revolucionário: o surrealismo e os paradoxos da modernidade. Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais, São Paulo, ed. 14/15, p. 81-97, 6 ago. 2012. MASSON, André. “A pintura é uma aposta,1941” in Teorias da arte moderna. CHIPP, H.B. 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