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Subjetivação da População Negra

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GUATTARI, Felix; ROLNIK, Suely. Subjetividade e História. In: GUATTARI, Felix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 25-45. 
 A subjetividade dos indivíduos encontra-se em circulação no meio social, onde passa a ser assumida e vivida por esses sujeitos em suas particularidades, utilizando-se de diferentes configurações (GUATTARI, ROLNIK, 1996). Dessa forma, processos de produção de subjetividades são desenvolvidos e atuam como matéria-prima para a constituição de novos entrecruzamentos e possibilidades de vivências. A Psicologia situa-se como um desses meios produtores, haja visto que auxilia na constituição e “descobrimento” de novos modos de representação do mundo. Essa ciência opera auxiliando os indivíduos em processos de autoconhecimento e no desenvolvimento de comportamentos e posicionamentos funcionais, além de trazer para o âmbito da pessoalidade questões sociais, próprias de um olhar macro sobre as instâncias que exercem influência sobre esse sujeito. Portanto, ao empreender essas reflexões e percepções no processo terapêutico interventivo, a Psicologia contribui para a formulação e/ou amplificação do movimento de integração de subjetividades, além do estímulo ao desdobramento de processos atrelados a individualização desse. 
 Dessa maneira, através da atuação sobre essas processualidades, é concebível o envolvimento da Psicologia nos meios micropolíticos através dos agenciamentos neles presentes, elucidando campos de possibilidades de subjetivação e, consequentemente, de intervenções nesse (GUATTARI, ROLNIK, 1996). No que se refere as questões etnicorraciais, são diversas as linhas de frente que podem ser utilizadas, tendo em vista as diversas subjetividades as quais pode-se entrar em contato e as suas especificidades. 
 Na busca de uma prática psicológica baseada nessas relações micropolíticas, profissionais podem envolver-se com estas diversidades próprias dos indivíduos, principalmente aquelas referentes a raça e culturas, levando em consideração as múltiplas dimensões que transpassam essas temáticas. Pensar o sofrimento psíquico que pode ser desencadeado no nível das relações interpessoais mediadas pelo racismo, assim como as ações alternativas de luta e resistência desses indivíduos frente a estruturas macro que persistem em discriminar os corpos desses indivíduos e suas subjetividades, são apenas algumas formas de atuação na Psicologia levando em consideração essa temática. É importante ressaltar que a discussão acerca dessas questões ainda é incipiente e muitas vezes até mesmo inexistente na formação de profissionais nessa área, o que dificulta a realização de trabalhos qualificados de escuta e atuação sobre essas especificidades discriminatórias, indicando a necessidade da ampliação do debate e do contato com essas vivências. 
 As subjetividades resultantes de processos diversos e de seus agenciamentos podem ser encaradas como subjetividades delirantes quando se opõem as estruturas e visões de mundo impostas, essas sempre pautadas em um sistema capitalista, colonial, racista, patriarcal, misógino e homofóbico. Atuando com novos posicionamentos e percepções, como por exemplo através da concepção de negritude e as suas implicações práticas, esses sujeitos passam a desencadear novas organizações psíquicas e sociais, buscando desestabilizar e fazer desmoronar os sistemas de subjetividades dominantes (GUATTARI, ROLNIK, 1996). Lutas constantes são travadas, atuando de forma política no que se refere a participação social, em busca de mudanças não apenas nas esferas micro, mesmo que se baseiem nessas, mas também visando o macro. 
 As expressões de racismo encontram-se nestes espaços amplos na constituição da sociedade, desempenhando um papel importante na manutenção desse sistema de dominação, tornando-se estrutural e estimulando concepções de inferioridade, infantilização e culpabilização (GUATTARI, ROLNIK, 1996). Assim, como o nível macropolítico também está envolvido na produção de subjetividades, é importante a atuação das subjetividades delirantes também nesses espaços, agindo em busca de novas constituições sociais que não tenham como alicerce a discriminação, e mais especificamente o racismo (GUATTARI, ROLNIK, 1996). Em contrapartida, é possível observar o estimulo, por parte dessas condutas divergentes, a processos que visam o desenvolvimento de subjetividades originais e singulares, que levem em consideração as individualidades de cada sujeito e as suas relações próprias no meio micropolítico. Além disso, é válido ressaltar a importância da interligação entre esses diversos aspectos que atuam sobre/a partir das subjetividades, esses devem ser levados em consideração tanto em intervenção a serem realizadas pela prática psicológica, como também pelos movimentos individuais e políticos. Estas intersecionalidades possibilitam um olhar integral sobre os indivíduos, auxiliando no debate de múltiplas temáticas e na promoção de mudança e cuidado no que se refere as facetas passiveis de intervenção sobre esses sujeitos. 
 Portanto, podem ser vistos diversos movimentos que objetivam a construção de novos olhares, novas constituições moldadas pelo respeito e pela valorização dos aspectos particulares de cada sujeito, em suas diferentes dimensões e vivências. Além das ações instituídas pelos próprios indivíduos de forma “autônoma”, ainda podem ser indicadas as possibilidades de atuação e participação da Psicologia no incentivo e apoio a essas mudanças estruturais e subjetivas. Pode-se destacar a necessidade de uma prática antirracista, que não reafirme as violências raciais que estão postas pelas subjetividades dominantes, utilizando de movimentos contrários a esta e auxiliando no desmonte desses, de forma crítica, humanizada e empática.

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