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QUIJANO, A. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, B. S.; MENESES, M. P. (Org.) Epistemologias do Sul. Edições Almedina, 2009. p.73-117. 
 O sistema capitalista e suas estratégias, assim como seu poder, atuam a muitos séculos no estabelecimento de formas de viver e de olhares sobre o mundo, influenciando de forma direta diversos processos que se desenrolaram durantes os anos. A colonialidade é um exemplo dessa intervenção, que ocorre de forma tão profunda que acaba por assimilar essa prática aos elementos constitutivos do padrão do poder capitalista (QUIJANO, 2009). 
 Aspectos como a busca incessante pelo capital e pelos benefícios atrelados a esse, assim como a validação do uso do poder para a dominação e exploração de classes consideradas inferiores em relação aquelas que estão em posições privilegiadas, evidenciam a utilização explicita das relações de poder como estratégia do capitalismo. Esquemas como esses apontam as bases fundamentais que possibilitaram ao capitalismo exercer influencia significativa sobre a colonialidade, tendo em vista que a dominação/exploração são práticas essenciais para a imposição das classificações próprias a esse processo repressor. Além disso, o capitalismo tende a não considerar os sujeitos como particularidades de um sistema total, buscando a anulação das subjetividades em contraposição a instituição de uma massificação dessas. Mais uma vez o poder do capitalismo mostra-se propício, e posteriormente eficiente, na imposição a ser realizada no processo de colonialidade, através da delimitação de classificações raciais/étnicas que passam a reverberar nas outras esferas da sociedade (QUIJANO, 2009). Dessa forma, em busca da padronização e da organização de uma totalidade, o padrão mundial do poder capitalista eurocêntrico estabelece “novas identidades geoculturais e das relações de poder no mundo” e produz novas relações intersubjetivas de dominação e um conhecimento mundialmente imposto como único racional (QUIJANO, 2009). 
 Assim como ocorre na colonialidade, o padrão mundial do poder capitalista estabelece relações com o movimento histórico-cultural, este ocorrendo através de elementos heterogêneos que variam entre os momentos historicamente situados. Quijano (2009) aponta que as estruturas societais são compostas por experiências e produtos que passam a ser descontruídos historicamente, mas que ainda assim conseguem realizar ligações entre si, articulando-se e produzindo campos de relações diversas, sempre perpassados por esses aspectos e tantos outros, entre eles o capital e a autoridade, características do padrão capitalista eurocêntrico. Dessa forma, são estipulados modos viver e relações para cada momento da história e de cada sociedade, mesmo que ainda estejam sujeitos a influencias diversas, podendo apontar duas faces do movimento histórico-cultural, uma perspectiva homogeneizante que tende a manutenção do já posto, e outra heterogênea e propícia a mudança. Haja visto as possíveis movimentações e processualidades desse seguimento heterogêneo, novas configurações podem surgir, olhares e pensamentos diferentes que podem chocar-se com aqueles já firmados e levar a mudanças histórico-culturais. No entanto, é importante ressaltar a possibilidade desse processo de mudança levar a perspectiva homogênea do movimento histórico-cultural, indo de uma totalidade historicamente imposta a outra equivalente a ela (QUIJANO, 2009). 
 Em relação a estes movimentos que ocorrem durante a toda a história, desencadeando em novas perspectivas e formulações acerca do sujeito e das suas relações com o mundo, é possível observar a formulação de um entendimento diferente sobre as classes sociais. Essas, pautadas no ideal capitalista, com o passar dos anos passou a ser encarada como uma limitação, além das lacunas que passaram a ser identificadas nas suas definições e entendimentos. Além desse decaimento intelectual no que se refere ao conceito de classe social, o estabelecimento do discurso neoliberal do capitalismo também estimulou uma nova compreensão sobre as possíveis classificações a serem determinadas, ou flexibilizadas. Assim, foi desenvolvida uma nova categoria, a classificação social, definida por Quijano (2009) como uma proposta que considera os “processos de longo prazo nos quais os indivíduos disputam o controle dos meios básicos de existência social e de cujos resultados se configura um padrão de distribuição do poder”, esse podendo ser realizado através de relações de exploração, dominação e/ou conflito. Esse novo conceito ainda apresenta-se como uma análise historicamente situada, além de considerar os aspectos da história pregressa da população de determinada sociedade e as diferentes intersecções que perpassam as relações, como a raça e o gênero. 
 Através desta nova perspectiva, a classificação social, nota-se um olhar dinâmico e fluido sobre as relações estabelecidas, encarando o poder de forma amplificada, considerando os papeis desempenhados no controle do trabalho, do sexo, da subjetividade e da autoridade, além dos recursos e dos produtos associados a cada um desses elementos. Como já apontado, a historicidade possui um fundamental nessa nova compreensão, sendo necessária a análise da história que perpassa os conflitos que compõem determinada sociedade. 
 Apesar dessa inovação na compreensão das relações sociais, ainda é preciso destacar a importância de buscar o rompimento dessas, não como conceito e análise sociológica, mas como realidades de opressão e desigualdade, pensando novas possibilidades e novos caminhos a serem traçados em busca da igualdade entre todos. No entanto, para que esta igualdade possa ser alcançada é necessária a consideração das diferenças ainda existentes, como é indicada pela classificação social, buscando a mitigação das injustiças e desigualdades e o respeito as diferenças, além do estímulo das expressões de individualidade de cada sujeito.