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- -1 Conceito e espécies de tributos Lucas Gomes da Silva Introdução Neste tema, vamos analisar a competência tributária, a qual nada mais é do que a capacidade concedida pela Constituição Federal, de forma privativa, para que os entes federados, por lei, possam instituir determinados tributos. Você sabe quais tributos os entes federados são autorizados a criar? Tais tributos podem ser impostos, taxas, contribuições de melhoria ou empréstimo compulsório. Acompanhe os estudos deste tema e entenda mais! Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender o conceito de competência tributária, comparando-o com as espécies de tributo presentes no Brasil. Conceito de competência tributária Para Sabbag (2017), a competência tributária é a possibilidade constitucionalmente atribuída ao ente político para que este, por lei, proceda à instituição da exação tributária. Esse exercício pode ocorrer a qualquer tempo, o que dota a competência tributária de imprescritibilidade. Conforme Amaro (2008), é o poder de criar tributos, o qual é repartido entre os vários entes políticos, assim, cada um tem competência para impor prestações tributárias, dentro do nível permitido pela Constituição. Mazza (2017) entende que é a habilitação para criar tributos, pela lei. Essa competência tributária é uma espécie de competência legislativa, sendo exercida somente pelo Parlamento. Trata-se também de manifestações do exercício da competência tributária a modificação, a redução e a extinção de tributos. Mesmo em situações nas quais a Constituição Federal autoriza a modificação de alíquotas por ato do Poder Executivo, essas modificações estão restritas aos termos e limites estabelecidos em lei (art. 153, § 1º, da CF). Para Mazza (2017), como somente o Legislativo pode criar tributos, apenas as entidades federativas são dotadas de competência tributária: a União, os estados, o DF e os municípios. Além disso, a titularidade da competência tributária é exclusiva de pessoas jurídicas de direito público • SAIBA MAIS A competência tributária possui seis características essenciais: indelegabilidade, privatividade, facultatividade, irrenunciabilidade, incaducabilidade e inampliabilidade. Para entender mais sobre esse ramo do Direito, leia “Curso de Direito Tributário”, de Carvalho (2011). - -2 Além disso, a titularidade da competência tributária é exclusiva de pessoas jurídicas de direito público integrantes da Administração Direta (União, estados, DF e municípios), não sendo permitida a delegação a outras pessoas (MAZZA, 2017). Competência tributária e capacidade tributária ativa A competência tributária não se confunde com a capacidade tributária ativa. Mazza (2017, p. 416) esclarece que “Competência tributária é a aptidão para criar tributos por meio de lei. [...] Capacidade tributária ativa é a aptidão administrativa para cobrar ou arrecadar tributos”. Observe as diferenças entre competência tributária e capacidade tributária ativa no quadro seguinte. Quadro 1 - Diferenças entre competência tributária e capacidade tributária ativa Fonte: Adaptado de Mazza, 2017. Pode-se concluir que a competência tributária é indelegável, intransferível, inalterável e irrenunciável, pois admitir a delegação de competência para instituir um tributo é admitir que seja a CF alterada por norma infraconstitucional (SABBAG, 2017). Conforme o art. 8º do CTN, “O não exercício da competência tributária não a defere a pessoa jurídica de direito público diversa daquela a que a Constituição a tenha atribuído” (BRASIL, 1966). Perceba que esse artigo reforça o caráter indelegável da competência tributária. FIQUE ATENTO Competência tributária e capacidade tributária são coisas distintas! Enquanto a primeira refere-se à capacidade de criar tributos pela lei, atribuição indelegável, pertencente aos entes federados, a segunda refere-se à atividade administrativa de cobrar e arrecadar tributos, podendo ser delegada (art. 7º, CTN), o que se denomina parafiscalidade. - -3 Classificação da competência tributária A competência tributária pode ser classificada em: privativa, comum, cumulativa, especial, residual e extraordinária. a) Privativa: é o poder dos entes federativos para instituir os impostos que são enumerados exaustivamente na CF. Então, “designa-se privativa a competência para criar impostos atribuída com exclusividade a este ou àquele ente político” (AMARO, 2008, p. 95). b) Comum: está relacionada aos tributos chamados vinculados: às taxas e às contribuições de melhoria. Para estes não se estipularam “listas” enumeradas na CF, indicando, com exclusivismo, a entidade tributante correspondente ao plano de instituição do tributo vinculado respectivo (SABBAG, 2017, p. 525). c) Cumulativa: ou múltipla, prevista no art. 147 da CF, prende-se ao poder legiferante de instituição de impostos pela União, nos Territórios Federais e pelo DF, em sua base territorial (SABBAG, 2017, p. 526). d) Especial: traduz-se no poder de instituir os empréstimos compulsórios (art. 148, CF) e as contribuições especiais (art. 149, CF), justificando-se tal classificação pelo fato de terem subsistido, durante largo período, inúmeras polêmicas acerca da natureza tributária desses dois tributos (SABBAG, 2017, p. 527). e) Residual: ou remanescente, encontra guarida em dois dispositivos do texto constitucional: o art. 154, I, e o art. 195, § 4º. A temática afia-se ao poder de instituir o tributo diverso daqueles já existentes. Daí se falar “daquilo que resta, de algo genuinamente restante ou residuário” (SABBAG, 2017, p. 529). f) Extraordinária: é o poder de instituição, pela União, por lei ordinária federal, do imposto extraordinário de guerra (IEG), conforme se depreende do art. 154, II, da CF e art. 76 do CTN (SABBAG, 2017, p. 532). Quadro 2 - Resumo da classificação da competência tributária Fonte: Adaptado de Sabbag, 2017. Além disso, Mazza (2017, p. 418) ensina que “o veículo normativo por meio do qual é exercida a competência tributária, como regra, é a lei ordinária da entidade federativa competente para instituição do tributo”. - -4 Pelo princípio da legalidade estrita do Direito Tributário, é reservada à lei a instituição de tributos pelo ente tributante. Figura 1 - A instituição do tributo é reservada à lei Fonte: Pixelbliss, Shutterstock, 2019. Passemos agora ao estudo dos conceitos compreendidos pela competência tributária. Conceito de imposto, taxas, contribuições de melhorias, empréstimos compulsórios e contribuições Conforme Sabbag (2017), há cinco tributos no atual sistema tributário brasileiro, conforme a teoria pentapartida (pentapartite ou quinquipartida), conheça-os! FIQUE ATENTO A CF define as competências tributárias mas nenhum . Definir a competêncianão cria tributo tributária é estabelecer qual entidade federativa poderá, com exclusividade, criar determinado tributo. Somente a Constituição define as competências tributárias, mas a criação do tributo propriamente dita é realizada no plano infraconstitucional, pelo legislador da entidade federativa competente (MAZZA, 2017). - -5 Imposto É tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa à vida do contribuinte ou a seu patrimônio (art. 16 do CTN; SABBAG, 2017). Um ponto fundamental acerca dos impostos é a sua vinculação ao princípio da não afetação, previsto no inciso IV do art. 167, da CF, que dispõe ser proibida a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa. Vamos entender agora sobre outro conceito: o de taxa. Taxas São tributos vinculados, cobrados para remunerar atividades estatais específicas relativas ao contribuinte; além disso, o fato gerador da taxa está vinculado a uma atividade estatal relacionada ao contribuinte. Quadro 3 - Taxa x tarifa Fonte: Adaptado de Mazza, 2017. Perceba que, de modo diverso do que ocorre com os impostos, a arrecadação de taxas pressupõe uma ação estatal e, depois, promove-se a cobrança do tributo, considerando-se a contraprestação daatuação realizada (MAZZA, 2017). EXEMPLO José paga seu IPTU regularmente, pois é proprietário de imóvel situado em área urbana. Seu bairro não possui asfalto, rede de águas pluviais, esgotamento sanitário, e a iluminação pública é precária. Porém, com base no princípio da não afetação sobre o imposto, o valor pago a título de tributo não está vinculado a ser gasto com melhorias no bairro do José, fazendo parte do montante global e sendo usado pela Administração Pública segundo a sua necessidade. - -6 Contribuição de melhoria São tributos vinculados, de competência comum entre União, estados, DF e municípios, cobrados quando a realização de uma obra pública implica acréscimo ao valor do imóvel localizado na área beneficiada direta ou indiretamente pela melhoria. O elemento finalístico dessa espécie tributária é a absorção da “mais valia” que a obra pública produz no patrimônio imobiliário do contribuinte (MAZZA, 2017). Empréstimo compulsório Conforme Mazza (2017, p. 198), “os empréstimos compulsórios são tributos restituíveis de competência exclusiva da União”. O aspecto restituível caracteriza a sua natureza jurídica e constitui o elemento que dá identidade aos empréstimos compulsórios, diferenciando-os das demais espécies tributárias (MAZZA, 2017). Contribuições especiais São tributos finalísticos qualificados pela destinação. O elemento que confere identidade às contribuições, em relação aos demais tributos, é a finalidade para a qual são instituídos (MAZZA, 2017). Fechamento Neste tema, estudamos que a competência tributária é a capacidade concedida pela CF aos entes federados de instituir tributos. Vimos também os conceitos das cinco espécies de tributos:imposto, taxas, contribuições de melhoria, empréstimo compulsório e contribuições. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • compreender o conceito de competência tributária, comparando-o com as espécies de tributo presentes no Brasil. Referências AMARO, L. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.Direito tributário brasileiro. BRASIL. [Constituição (1988)]. . Brasília: CongressoConstituição da República Federativa do Brasil de 1988 Nacional, 1988. BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966. CARVALHO, P. de B. . 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.Curso de Direito Tributário MAZZA, A. . 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de direito tributário SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário • - -1 Competência conforme a espécie do tributo Lucas Gomes da Silva Introdução Neste tema, analisaremos a competência conforme a espécie do tributo, pois, ao outorgar competência aos entes federados, a CF (1988) criou tributos específicos para cada um. Alguns tributos possuem competência comum a todos esses entes; outros possuem competência extraordinária, e assim por diante. Acompanhe os estudos deste tema e entenda mais. Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar os órgãos competentes para a instituição de cada tributo, reconhecendo a legitimidade de cada instância estatal (federal, estadual e municipal). Competência para instituir impostos Segundo Mazza (2017, p. 156), os impostos são a “espécie tributária mais importante na ordem jurídica brasileira, pois são tributos desvinculados de uma atividade estatal relativa ao contribuinte”. Dispõe o art. 16, do CTN, que “imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte” (BRASIL, 1966). Sabbag (2017) assevera que a CF (1988) repartiu a competência legislativa para instituir os impostos entre as pessoas públicas de Direito Público interno (União, estados, DF e municípios). A estes entes foi indicado quais os impostos que lhes cabe instituir. É possível afirmar que a CF (1988) prevê, de modo taxativo ou numerus clausus , o rol de impostos federais, estaduais e municipais. Mazza (2017, p. 157) lembra que a competência para instituir impostos é atribuída, privativamente, a cada uma das entidades federativas, conforme arts. 153, 155 e 156 da CF. Essa atribuição é marcada pela indelegabilidade, impossibilitando que uma pessoa política transfira a qualquer outra entidade a competência para instituir impostos (art. 7º, CTN). • - -2 Figura 1 - Lista de impostos Fonte: Adaptada de Sabbag, 2017. Para Sabbag (2017), há várias classificações que podem ser adotadas para os impostos. Conheça-as! - -3 Figura 2 - Classificação dos impostos Fonte: Adaptada de Sabbag, 2017. Os impostos previstos na CF (1988) deverão ser criados, via de regra, por lei ordinária. Contudo, temos duas exceções, em que impostos federais são instituídos por meio de lei complementar: o imposto sobre grandes fortunas (art. 153, VII, CF) e o imposto residual (art. 154, I, CF). Imposto residual O art. 154, I da CF, apresenta a possibilidade de instituição do imposto residual, pela União, mediante lei complementar, de impostos não previstos no art. 153, desde que não sejam cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na CF (BRASIL, 1988). - -4 Conforme Mazza (2017, p. 161), essa possibilidade é a chamada competência impositiva residual, relativa à instituição de impostos novos ainda não previstos entre os atualmente atribuídos pela CF às entidades federativas. Competência para instituir taxas A competência para criar a taxa cabe à mesma entidade federativa que exerceu a atividade ensejadora da sua arrecadação. Por exemplo, “a competência para instituir taxa remuneratória de determinado serviço público municipal é do município que realizar a prestação” (MAZZA, 2017, p. 170). Então, a competência para instituir taxas é comum a todos os entes federativos (arts. 145, II, da CF e 77 do CTN). Quanto à competência residual para a instituição de taxas, cabe aos estados (art. 25, § 1º, da CF) (MAZZA, 2017). Mazza (2017) destaca que as taxas devem ser instituídas e disciplinadas por lei ordinária, editada pela entidade competente para sua instituição. Em âmbito federal, é possível a instituição de taxa por Medida Provisória, pois as MPs possuem o mesmo caráter jurídico das leis. Então, a competência para instituir taxa é comum, conforme expresso no art. 145, II, da CF e art. 77 do CTN, à União, aos estados, DF e municípios, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição (BRASIL, 1988; 1966, art. 77). SAIBA MAIS A criação de imposto residual deve seguir um conjunto de regras: a) deve ser instituído pela União; b) a criação se dá por meio de lei complementar; c) não pode haver cumulatividade com outro tributo; d) não se pode tributar duas vezes (bitributação). Acerca dessa temática, leia “Direito tributário”, de Cassone (2018). FIQUE ATENTO Como as taxas são tributos remuneratórios, a competência residual para sua instituição cabe à entidade federativa com atribuição para prestar serviços públicos ou atividades de polícia não discriminados na CF. Com base no referido dispositivo constitucional, conclui-se que a competência residual para instituição de taxas é dos estados-membros (MAZZA, 2017). - -5 Figura 3 - Características e classificação das taxas Fonte: Adaptada de Sabbag, 2017. Para Mazza (2017), a receita originada da arrecadação das taxas deve ser destinada ao custeio da atividade estatal que implicou sua cobrança, sendo inconstitucional qualquer forma de destinação dessas receitas às entidades privadas. Competência para instituir contribuições de melhoria Contribuições de melhoria são tributos “vinculados de competência comum entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cobrados quando a realização de uma obra pública causa acréscimo no valor do imóvel localizado nas áreas beneficiadas direta ou indiretamente pela obra”(art. 1º do Decreto-Lei nº 195/67). - -6 Figura 4 - A contribuição de melhoria e a valorização do imóvel Fonte: Shutterstock, 2019. O art. 145, III, da CF esclarece que a União, os estados, o DF e os municípios podem instituir os tributos de contribuição de melhoria decorrentes de obras públicas (BRASIL, 1988). É importante salientar que a instituição da contribuição de melhoria é disciplinada por lei ordinária da entidade federativa executora da obra pública. Em âmbito federal, nada impede também a edição de medida provisória com o mesmo objetivo (MAZZA, 2017). A contribuição de melhoria está prevista no Código Tributário Nacional (arts. 81 e 82). EXEMPLO O artigo 2º do Decreto-Lei nº 195/67 estabelece quais obras públicas estão autorizadas a instituir a cobrança da contribuição de melhoria. Um exemplo extraído do mencionado dispositivo é a pavimentação ou alargamento de uma rua, em determinado bairro da cidade, o que ocasiona a valorização dos imóveis ali situados, ensejando a instituição e cobrança do tributo. FIQUE ATENTO Taxas e contribuições de melhoria são tributos vinculados cuja principal diferença consiste na atividade estatal ensejadora da cobrança. Enquanto as taxas são cobradas para retribuir a prestação de serviços públicos e o exercício do poder de polícia, as contribuições de melhoria surgem para remunerar a realização de obra pública (MAZZA, 2017). - -7 Competência para instituir empréstimos compulsórios Para Sabbag (2017, p. 658), o empréstimo compulsório é de competência tributária da União, sendo vedado a um município instituí-lo. Também é proibido ao DF e a qualquer estado-membro fazê-lo, sob pena de usurpação da competência tributária, que privativamente foi conferida à União. Então, somente a União poderá criá-lo, por meio de lei federal, no caso, lei complementar, pois tal tributo é uma receita pública que se enquadra como extraordinária; um ingresso que ocorre em situação de excepcionalidade, com forte caráter temporário (SABBAG, 2017). Os elementos autorizativos da sua instituição estão previstos nos incisos I e II do art. 148 da CF. Competência para a estabelecer contribuições A CF aborda a instituição e o regime das contribuições especiais em três artigos: 149, 149-A e 195. Segundo Mazza (2017), o art. 149 da CF afirma que a competência para instituir contribuições cabe exclusivamente à União. Como regra geral, quando a Constituição define uma competência exclusiva, inexistem exceções. Essa é a diferença fundamental para as competências privativas, pois estas admitem exceções (MAZZA, 2017). Em regra, compete à União instituir contribuições especiais, com exceção daquelas previstas nos arts. 149, § 1º, e 149-A, da CF (MAZZA, 2017), lembrando que apenas a Constituição Federal poderá definir novas hipóteses de contribuições não federais. Fechamento Neste tema, estudamos que a CF (1988) atribuiu a cada ente federado competência para atribuir espécies tributárias específicas, contudo, em alguns casos, essa competência é comum ou, ainda, exclusiva ou extraordinária. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • identificar os órgãos competentes para a instituição de cada tributo, reconhecendo a legitimidade de cada instância estatal (federal, estadual e municipal). Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. . Brasília: CongressoConstituição da República Federativa do Brasil de 1988 Nacional, 1988. BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966. BRASIL. . Decreto-Lei nº 195, de 24 de fevereiro de 1967 Dispõe sobre a cobrança da Contribuição de Melhoria. Brasília: DF, 1967. CASSONE, V. . 28. ed. São Paulo: Atlas, 2018.Direito tributário • - -8 CASSONE, V. . 28. ed. São Paulo: Atlas, 2018.Direito tributário MAZZA, A. . 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de direito tributário SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário - -1 Princípios do Direito Tributário Lucas Gomes da Silva Introdução Você sabe o que são os princípios, no âmbito jurídico? Os princípios, no sistema jurídico-tributário, funcionam como a base de sustentação, os alicerces, o preceito fundamental e orientador das normas. Ao criar a norma, o legislador deve balizar-se pelos princípios, assunto de que trataremos neste tema. Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer os princípios norteadores do Direito Tributário, compreendendo sua importância para a aplicação prática das normas tributárias. Conceito e natureza dos princípios Os princípios tributários são preceitos de observância obrigatória pelo legislador e pelo fisco, pois seu descumprimento causa a nulidade do tributo ou de sua cobrança. São instituídos em favor do contribuinte e contra o fisco, nunca o contrário, ou seja, proteções estabelecidas para defesa do lado hipossuficiente da relação fisco-contribuinte (MAZZA, 2017). Figura 1 - Os princípios são a base do Direito Tributário, tal como em uma construção Fonte: Worakit Sirijinda, Shutterstock, 2019. Entenda, a seguir, sobre cada um. • - -2 Princípio da legalidade (arts. 150, I, da CF e 97 do CTN) Conforme o art. 97 do CTN, somente a lei pode estabelecer: a instituição de tributos, ou sua extinção; a majoração de tributos, ou sua redução (salvo o disposto nos arts. 21, 26, 39, 57 e 65); a definição do fato gerador da obrigação tributária principal (salvo o disposto no inciso I, § 3º do art. 52, e do seu sujeito passivo); a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo (salvo o disposto nos arts. 21, 26, 39, 57 e 65); a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários ou de dispensa ou redução de penalidades (BRASIL, 1966). Esse princípio segue a ideia de que não há tributo sem lei, expressa no art. 150, I, da CF, vedando a criação ou o aumento de tributo sem lei que o estabeleça, cuja justificativa está na autotributação (os próprios contribuintes determinam o de tributos que pretendem pagar), por meio de seus representantes nas casasquantum legislativas (ABRAHAM, 2018). Proíbe-se a criação ou modificação de tributo por portarias, resoluções ou decretos, salvo as próprias exceções ao princípio, previstas na CF, de natureza extrafiscal ou regulatória (ABRAHAM, 2018). Tal princípio possui algumas exceções previstas no art. 153, § 1º da CF: é facultado ao Poder Executivo, atendidos condições e limites estabelecidos em lei, alterar alíquotas (não a base de cálculo) de impostos com fim extrafiscal sobre importação de produtos estrangeiros; exportação de produtos nacionais ou nacionalizados; produtos industrializados e operações de créditos, câmbio e seguro, ou de títulos ou valores mobiliários (ABRAHAM, 2018). Há também exceção da legalidade estrita para redução e restabelecimento de alíquotas, previstos no art. 177, § 4º, I, b, acerca da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) relativa a combustíveis e a referente ao ICMS-combustíveis, em que a alíquota pode ser alterada por convênio do Confaz (art. 155, § 4º, IV, c e § 5º). Esse princípio tem foco na instituição, majoração, redução ou extinção de tributo, sempre dependendo de lei. Ademais, a CF prevê seis tributos cujas alíquotas podem ser modificadas por ato do Executivo (MAZZA, 2017). FIQUE ATENTO Em todos os casos de exceção ao princípio da legalidade, a alteração por ato do Executivo diz respeito somente às alíquotas (art. 153, § 1º, da CF), nunca às bases de cálculo, as quais, como regra, somente podem ser disciplinadas por lei (art. 97, IV, do CTN). - -3 Quadro 1 - Princípio da legalidade e sua exceções Fonte: Adaptado de Mazza (2017). Enquanto nos quatro primeiros impostos a CF permite ao Executivo as alíquotas, quanto a Cidealterar /combustíveis e ICMS/combustíveis a expressão utilizada é as alíquotas (MAZZA, 2017).reduzir erestabelecer Princípio da anterioridade (art. 150, III, b e c, da CF) Também chamado de “princípio da não surpresa ou da eficácia diferida [...] estabelece um intervalo mínimo entre a publicação da lei que cria ou majora o tributo e a data de sua efetiva exigência”, cuja finalidade é dar um “prazo de respiro” para que o contribuinte possa preparar-se para pagar novos valores ao fisco (MAZZA, 2017, p. 268). A alínea c foi incluída pela Emenda Constitucional nº 42/2003, dando maior efetividade ao princípio em caso de leis publicadas poucos dias antes do término do ano (ABRAHAM, 2018). Tal princípio pode ser classificado como: (a tributação só pode produzir efeitos noanterioridade ordinária primeiro dia do exercício seguinte - 1º de janeiro); (a tributação só pode produziranterioridade nonagesimal efeitos após decorridos 90 dias da sua publicação); (a tributação só pode produzir efeitosanterioridade plena no primeiro dia do exercício seguinte, contando-se cumulativamente 90 dias da sua publicação (anterioridade ordinária + nonagesimal) (ABRAHAM, 2018). O § 1º do art. 150 da CF apresenta um conjunto de três grupos de exceções a esse princípio: “a vedação do inciso FIQUE ATENTO Esse princípio não deve ser confundido com o de anualidade, que se refere à periodicidade anual de uma autorização orçamentária para a criação ou majoração de determinado tributo, que não esteja mais previsto na Constituição (na anterior era); nem com o antigo princípio da anualidade orçamentária, próprio do Direito Financeiro, que se refere à vigência anual do orçamento (ABRAHAM, 2018). - -4 O § 1º do art. 150 da CF apresenta um conjunto de três grupos de exceções a esse princípio: “a vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I” (BRASIL, 1988). Quadro 2 - Exceções ao princípio da anterioridade Fonte: Adaptada de Abraham, 2018. Assim, tributo instituído (criado) ou majorado (aumentado) em um exercício (ano) somente poderá ser exigido no ano seguinte, respeitado o intervalo mínimo de 90 dias (MAZZA, 2017). Entenda como fazer a contagem da anterioridade. Quadro 3 - Contagem da anterioridade Fonte: Adaptado de Mazza, 2017. - -5 Agora, entenda mais sobre o princípio da isonomia. Princípio da isonomia (art. 150, II, da CF) O princípio da igualdade tributária proíbe que seja dado tratamento diferenciado a contribuintes que se encontrem em situação equivalente (MAZZA, 2017). Não há violação ao princípio quando é estabelecida uma atribuição mais benéfica ou distinta das demais em favor de determinado grupo, desde que haja motivação e fundamentação que comprove essa distinção (imunidades, isenções, anistias, moratórias etc.) e se demonstre a motivação para tal (ABRAHAM, 2018). Princípio da irretroatividade (art. 150, III, a, da CF) Veda a cobrança de tributos “em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado”. A norma que modificar um tributo somente produzirá efeitos nos fatos geradores ocorridos após a sua existência, respeitando-se o princípio da anterioridade (ABRAHAM, 2018, p. 119). As exceções ao referido princípio (art. 116 do CTN) são lei interpretativa e lei mais benéfica em matéria de infração. EXEMPLO A contagem desenvolvida no quadro considerou, para fins da anterioridade nonagesimal, meses de 30 dias. A verificação de uma data real precisaria levar em conta o número de dias dos meses em questão. Recomenda-se o uso de um calendário na aferição da data exata. SAIBA MAIS Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado aos entes federativos instituir tratamento desigual entre contribuintes que estejam em situação equivalente (BRASIL, 1988, art. 150). Para saber mais, leia a “Seção II – das limitações do poder de tributar” da CF (1988). - -6 Princípio da vedação do confisco (art. 150, IV, da CF) Proíbe que a tributação seja estabelecida em patamar exorbitante, em que o bem tributado inviabilize o exercício de atividade econômica. Assim, estabelece que é vedado aos entes federados utilizar tributo com efeito de confisco (MAZZA, 2017). Princípio da uniformidade geográfica (art. 151, I, da CF) Determina que o tributo deve incidir pela alíquota e base de cálculo e sobre idênticos fatos geradores em qualquer ponto do território nacional, devendo ser geograficamente uniforme (ABRAHAM, 2018). Não deve haver distinção ou preferência em relação a entes federados, visando evitar discriminações injustificadas por parte do ente central. Princípio da não limitação (art. 150, V, da CF) Esse princípio impede que o tributo seja utilizado para restrição do trânsito de pessoas e bens no território nacional. A cobrança de pedágio pela utilização de vias públicas é exceção (MAZZA, 2017). Princípio da não cumulatividade (arts. 153, § 3º, II, e 155, § 2º, I, da CF) Objetiva impedir que os tributos plurifásicos “incidam em cascata”, evitando que o recolhimento do tributo recaia sobre o valor dele mesmo, inserido na base de cálculo devido a sua incidência na operação anterior (MAZZA, 2017). - -7 Princípio da seletividade (arts. 153, § 3º, I, e 155, § 2º, III, da CF) Tal princípio exige que as alíquotas do ICMS e do IPI sejam graduadas de acordo com a essencialidade da mercadoria, serviço ou produto. Quanto maior a importância social que o item tributo tiver, menor a alíquota aplicável (MAZZA, 2017). Princípio da não discriminação quanto à procedência (art. 152 da CF) Tal princípio proíbe tratamento diferenciado em razão da procedência ou destino de bens ou serviços. Princípio do (art. 118, I, do CTN)non olet Esse princípio contempla o pagamento do tributo devido não importando a origem do dinheiro do contribuinte e nem se a atividade tributada é ilícita ou imoral (MAZZA, 2017). Fechamento Neste tema, estudamos sobre os princípios que dão base ao ordenamento jurídico-tributário, os quais balizam o legislador ao elaborar e aplicar as normas, constituindo mecanismo de proteção ao contribuinte. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • reconhecer os princípios norteadores do Direito Tributário, compreendendo sua importância para a aplicação prática das normas tributárias. Referências ABRAHAM, M. . Rio de Janeiro: Forense, 2018.Curso de direito tributário brasileiro BRASIL. [Constituição (1988)]. . Brasília: CongressoConstituição da República Federativa do Brasil de 1988 Nacional, 1988. BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966. MAZZA, A. . São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de direito tributário SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário • - -8 SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário - -1 Limitações constitucionais ao poder de tributar Lucas Gomes da Silva Introdução Neste tema, vamos estudar sobre as limitações constitucionais ao poder de tributar. A Constituição de 1988, ao insculpir os princípios constitucionais de Direito Tributário, bem como as imunidades, criou um sistema de proteção e garantias fundamentais ao contribuinte, em contrapartida à sede estatal pela arrecadação de tributos e o ingresso na esfera patrimonial dos indivíduos. Acompanhe os estudos deste tema e entenda mais! Ao final desta aula, você será capaz de: • entender os princípios constitucionais tributários como limitações ao poder de tributar, identificando suas regulamentações. Os princípios constitucionais como limitações ao poder de tributar De acordo Sabbag (2017, p. 52), “A Constituição Federal impõe limites ao poder de tributar, ou seja, limites à invasão patrimonial tendente à percepção estatal do tributo”. Tais limitações advêm,basicamente, dos princípios e das imunidades constitucionais tributárias dispostos nos arts. 150, 151 e 152 da Carta Magna. Isto porque, conforme o art. 150, sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, União, Estados, DF e Municípios estão vedados de exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; instituir tratamento desigual entre contribuintes que estejam em situação equivalente; cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos 90 dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou (BRASIL, 1988). Também é vedado a tais entes utilizar tributo com efeito de confisco; estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, exceto a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público (BRASIL, 1988). Ademais, conforme o art. 151 é vedado à União instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional (sendo admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as regiões do país); tributar a renda das obrigações da dívida pública dos estados, do DF e dos municípios; instituir isenções de tributos da competência dos estados, do DF ou dos municípios (BRASIL, 1988). Já o art. 152 dispõe que é vedado aos Estados, ao DF e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino (BRASIL, 1988). Sobre esse assunto, Mazza (2017, p. 250) postula que a CF/1988 define duas espécies de limitações • - -2 Sobre esse assunto, Mazza (2017, p. 250) postula que a CF/1988 define duas espécies de limitações constitucionais ao poder de tributar: 1) princípios e 2) imunidades. Ainda conforme o autor, “verifica-se inicialmente que, junto com as imunidades, os princípios são normas constitucionais que restringem a atividade tributante”. Além disso, os princípios são preceitos instituídos em favor do contribuinte e contra o fisco, nunca o contrário; são proteções sistêmicas erigidas para a defesa da parte hipossuficiente na relação fisco-contribuinte. Não faz qualquer sentido invocar um princípio contra o interesse do contribuinte (MAZZA, 2017). Figura 1 - Limitações constitucionais ao poder de tributar Fonte: Adaptada de Abraham, 2018. Nessa linha, esclarece Mazza (2017, p. 250) que o art. 150 da CF/1988 trata dos princípios como verdadeiras “garantias fundamentais do contribuinte”. Portanto, o texto constitucional de 1988 confere aos princípios tributários uma natureza dúplice, sendo, ao mesmo tempo, do ponto de vista do fisco, limitações ao poder de tributar e representando, para o contribuinte, garantias fundamentais. - -3 Figura 2 - Garantias de controle à invasão patrimonial do contribuinte por parte do Estado Fonte: Syda Productions, Shutterstock, 2019. Para Paulsen (2018), é comum o entendimento das limitações constitucionais ao poder de tributar como princípios constitucionais tributários, mas esse critério não é tecnicamente correto. Ainda segundo o autor, há princípios que não estão explícitos no art. 150, como o da segurança jurídica em matéria tributária, cujo conteúdo deve ser construído por dedução do princípio do Estado de direito e por indução, a partir das regras de legalidade, de irretroatividade e de anterioridade ou de outros elementos, das referências à decadência e à prescrição. “Outros princípios não constam do art. 150, mas têm suporte expresso em outro dispositivo, como é o caso do princípio da capacidade contributiva, estampado no art. 145, § 1º, da Constituição Federal" (PAULSEN, 2018, p. 69). Regulamentação das limitações constitucionais ao poder de tributar Conforme Costa (2018, p. 60), as limitações constitucionais ao poder de tributar contemplam o conjunto de princípios e outras normas disciplinadoras da definição e do exercício da competência tributária. “As limitações à competência tributária são traduzidas, essencialmente, na repartição de competências tributárias, bem como na indicação de princípios e imunidades”. Além disso, para o autor, a repartição de competências tributárias entre as pessoas políticas é uma autêntica limitação, pois a Constituição de 1988, ao definir a aptidão para instituir tributos, a cada ente federativo, privativamente, exclui as demais pessoas políticas da mesma aptidão. Por exemplo, é atribuída à União a competência para instituir imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, afastando-se, consequentemente as demais pessoas políticas da possibilidade de fazê-lo (COSTA, 2018). Ademais, os princípios constitucionais, relativos ao chamado Estatuto do Contribuinte (legalidade, anterioridade, irretroatividade, igualdade, capacidade contributiva e vedação ao confisco), constituem-se limitações ao poder de tributar, pois indicam como deve ser exercida a competência tributária. Também as imunidades são vedações à competência tributária, veiculando situações de intributabilidade (COSTA, 2018). Essas limitações entrelaçam-se. A repartição de competências estabelece o conjunto de atribuições deferido a - -4 Essas limitações entrelaçam-se. A repartição de competências estabelece o conjunto de atribuições deferido a cada pessoa política; as imunidades e os princípios constitucionais tributários, por sua vez, aproximam-se porquanto compõem o âmbito de exercício da competência tributária atribuída a cada pessoa política, fixada constitucionalmente. Estes, porque orientam o válido exercício da competência tributária; aquelas, porque demarcam a amplitude das normas atributivas de competência (COSTA, 2018). Para Mazza (2017, p. 251), considerando que os princípios são garantias fundamentais do contribuinte e, simultaneamente, limitações constitucionais ao poder de tributar, decorrem dessa natureza dúplice as seguintes consequências: · constituem cláusulas pétreas: pois, nos termos do art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal, não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir o inciso IV – direitos e garantias fundamentais. Nesse sentido, os princípios fazem parte do núcleo imodificável da Constituição Federal, não podendo ser suprimidos ou ter seu alcance reduzido por emenda constitucional (MAZZA, 2017); · sua regulamentação infraconstitucional, se necessária, exige lei complementar: de acordo com o art. 146, II, da CF, cabe à lei complementar regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. Por essa razão, torna-se necessária a promulgação de lei com o objetivo de viabilizar a aplicação concreta de qualquer princípio tributário. Tal lei deve ser uma lei complementar, vedada a edição de medida provisória com esse fim (art. 62, § 1º, III, da CF); SAIBA MAIS Os princípios jurídicos são normas fundantes de um sistema, tipificadas pelo forte conteúdo axiológico e pelo alto grau de generalidade e abstração, ensejadores do amplo alcance de seus efeitos, os quais cumprem o papel fundamental de orientar a interpretação e a aplicação de outras normas. Para saber mais, consulte “Curso de Direito Tributário”, de Costa (2018). FIQUE ATENTO Registre-se, todavia, o entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido de que os princípios tributários que não constam do art. 150 da Constituição Federal não são cláusulas pétreas, pois estariam fora da lista do que o do referido dispositivo constitucionalcaput denominada “garantias asseguradas ao contribuinte”, tais como os princípios da seletividade e da não cumulatividade (MAZZA, 2017). FIQUE ATENTO As imunidades são normas aplicáveis a situações específicas, perfeitamente identificadas na - -5 · devem receber interpretação ampliativa: como toda norma consagradora de garantias fundamentais, os princípios devem ser interpretados ampliativamente (MAZZA, 2017). Figura 3 - Limitações ao poder de tributarFonte: Adaptada de Costa, 2018. Como você pôde perceber, os pilares do sistema de limitações constitucionais ao direito tributário se fundam nesses dois pilares fundamentais: imunidades tributárias e princípios limitadores. Para que você entenda claramente sobre a limitação ao poder de tributar, analise o exemplo prático apresentado. Agora que já conhecemos os princípios constitucionais limitadores do poder de tributar, conheça as imunidades tributárias que também limitam esse poder tributante. As imunidades são normas aplicáveis a situações específicas, perfeitamente identificadas na Lei Maior. Nesse aspecto, pois, reside a primeira distinção entre os princípios e as imunidades. À generalidade e à abstração ínsita aos princípios contrapõe -se à especificidade das normas imunizantes. EXEMPLO O prefeito do município W resolve majorar o IPTU. Para isso, o princípio da legalidade obriga que tal ato ocorra por meio de lei, no nosso caso, lei ordinária. Se ele majorar por decreto administrativo, tal ato não é válido. Outro ponto importante é o de que o fisco não pode tributar mais de uma vez um mesmo fato gerador. Já o princípio da anterioridade visa evitar a surpresa para o contribuinte, fazendo com que este possa se preparar para a cobrança do novo tributo. - -6 Figura 4 - Imunidades tributárias em espécie Fonte: Adaptada de Costa, 2018. Com estes estudos, podemos entender que há princípios constitucionais tributários que agem como limitadores ao poder de tributar pelo Estado, bem como existem as imunidades tributárias. Fechamento Neste tema, aprendemos que as limitações constitucionais ao poder de tributar decorrem dos princípios e das imunidades tributárias. Tais mecanismos são proteções desejadas pelo constituinte originário, ao elaborar a Constituição, a fim de evitar que o Estado exceda os limites razoáveis de invasão à esfera patrimonial dos indivíduos, em nome do interesse público, para recolher os tributos necessários à manutenção de sua atividade. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender os princípios constitucionais tributários como limitações ao poder de tributar, identificando suas regulamentações. Referências ABRAHAM, M. . Rio de Janeiro: Forense, 2018.Curso de direito tributário brasileiro BRASIL. [Constituição (1988)]. . Brasília: CongressoConstituição da República Federativa do Brasil de 1988 Nacional, 1988. BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966. COSTA, R. H. . 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.Curso de direito tributário MAZZA, A. . 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de direito tributário SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário PAULSEN, L. . 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.Curso de direito tributário completo • - -1 Imunidades genéricas e específicas Lucas Gomes da Silva Introdução Quando se fala em imunidade, o que vem a sua cabeça? Provavelmente, estar imune a algo, estar livre de algo. Esse termo é muito usado na área da saúde, principalmente para referir-se ao indivíduo que tomou determinada vacina e, por isso, está imune a determinada doença. É mais ou menos isso que ocorre no Direito Tributário. Acompanhe os estudos deste tema e entenda! Ao final desta aula, você será capaz de: • diferenciar a imunidade genérica da imunidade específica, compreendendo o conceito jurídico de cada uma; • compreender o sistema de imunidades, comparando-o com as diferentes espécies de tributos. Conceito de imunidade genérica e imunidade específica Segundo Mazza (2017, p. 346), assim como os princípios tributários, “as imunidades têm natureza jurídica dúplice na medida em que são, ao mesmo tempo, limitações constitucionais ao poder de tributar, restringindo o poder do Fisco de instituir tributos, e também garantias fundamentais do contribuinte”. • • - -2 Figura 1 - Imunidade tributária tal como na área da saúde Fonte: UGREEN 3S, Shutterstock, 2019. Reunindo os elementos fundamentais integrantes dos conceitos apresentados pela doutrina é possível concluir acerca da conceituação do instituto das imunidades tributárias: 1) são normas contidas no texto da Constituição de 1988; 2) atuam limitando as regras de competência tributária das entidades federativas; 3) afastam a possibilidade de instituição de tributos sobre determinados atos, fatos e pessoas (MAZZA, 2017). Conclui-se, portanto, que imunidades são normas constitucionais que limitam a competência tributária, afastando a incidência de tributos sobre determinados itens ou pessoas (MAZZA, 2017). Quanto à imunidade geral ou genérica, Mazza (2017) define como a que, objetivando proteger determinada pessoa ou produto, afasta a incidência de mais de um tributo. São exemplos de imunidades genéricas, sem excluir outras, as constantes do art. 150, VI, da CF/1988: a) das entidades federativas (alínea a); b) religiosa (alínea b); c) dos partidos políticos e outras entidades (alínea c); d) de imprensa (alínea d); e) dos fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil (alínea e). No que tange às imunidades específicas, Mazza (2017, p. 361) assevera que estas “são as previstas no Texto Constitucional afastando a incidência de um só tributo”. Existem diversas hipóteses de imunidades específicas previstas na CF/1988, por exemplo: a) IPI sobre produtos destinados ao exterior (art. 153, § 3º, III, CF); b) ITR sobre pequenas glebas rurais (art. 153, § 4º, II, CF); c) ICMS sobre operações com ouro definido em lei como ativo financeiro (art. 155, § 2º, X, c, CF); d) ICMS sobre serviço de comunicação nas modalidades de radiodifusão SAIBA MAIS A imunidade tributária constitui-se exceção ao princípio jurídico da tributação, decorrente de preceito constitucional e que, como tal, não admite interpretação extensiva. No Brasil, são imunizados os casos expressos, relacionados apenas aos impostos (arts. 150-152 da CF/1988). Para saber mais sobre expressões utilizadas no Direito Tributário, consulte o “Dicionário Jurídico” de Sidou (2016). - -3 ativo financeiro (art. 155, § 2º, X, c, CF); d) ICMS sobre serviço de comunicação nas modalidades de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita (art. 155, § 2º, X, d, CF). As imunidades mais importantes, segundo Mazza (2017), são as quatro dispostas no art. 150, VI, da CF, conhecidas como imunidades gerais. São elas: imunidade recíproca (art. 150, IV, a); imunidade religiosa (art. 150, IV, b); imunidade dos partidos políticos art. 150, IV, c); imunidade de imprensa (art. 150, IV, d). Para nos ajudar a compreender a diferença entre imunidade, isenção e não incidência é importante analisarmos com calma a figura seguinte. Figura 2 - Imunidade, isenção e não incidência Fonte: Adaptada de Palsen, 2018. Imunidade e isenção são coisas inconfundíveis, do ponto de vista jurídico-tributário. Conforme Mazza (2017), a imunidade ocorre no plano constitucional, interagindo com as regras que definem a competência para instituição de tributos antes que o fato gerador ocorra. Por sua vez, a isenção constitui-se um benefício legal concedido pelo legislador. Assim, excluindo o crédito tributário (art. 175 do CTN), é liberado o contribuinte de fazer o pagamento do tributo após a ocorrência do fato gerador. FIQUE ATENTO As imunidades excluem apenas a obrigação tributária principal, isto é, o dever de pagar o tributo. As chamadas obrigações tributárias secundárias ou acessórias (ou deveres instrumentais) subsistem mesmo para quem foi beneficiado pela norma imunizante (MAZZA, 2017). - -4 Figura 3 - Imunidade e isenção Fonte: Adaptada de Mazza, 2017. Passemos agora ao estudo do que é imunidade genérica de impostos. Prossiga! Imunidade genérica de impostos Conforme Sabbag (2017, p. 401), “é cediço que os impostos diretos não devem incidir sobre os entes públicos, por força do manto protetor da norma imunizante”. Essa é a razão por que não haverá,por exemplo, a incidência de IPTU sobre a propriedade de bem imóvel da União, de IPVA sobre a propriedade de veículo automotor de município, ou de IR sobre a remessa de juros para o exterior, feita por Estado-membro, por contrato de mútuo (SABBAG, 2017). Figura 4 - A classificação doutrinária das imunidades Fonte: Adaptada de Mazza, 2017. É importante frisar que a imunidade para os templos de qualquer culto consiste na desoneração de impostos que possam recair sobre a propriedade desses bens imóveis (SABBAG, 2017). Nessa medida, não estão exonerados os demais tributos, diversos dos impostos, que terão a normal incidência, pois, considerando que o texto constitucional fala de impostos, refere-se ao fato de tal imunidade, não se aplicando, portanto, às taxas, à contribuição de melhoria, às contribuições sociais ou parafiscais e aos empréstimos compulsórios (SABBAG, 2017). Possuem também imunidade de impostos os partidos políticos e as fundações atreladas aos partidos políticos. - -5 Possuem também imunidade de impostos os partidos políticos e as fundações atreladas aos partidos políticos. Isto porque, objetivando a divulgação da ideologia partidária, muitos partidos políticos costumam criar fundações, o que resulta na imunidade a tais fundações dos partidos políticos, em relação a impostos incidentes sobre o seu patrimônio, renda ou serviços (SABBAG, 2017). Há a imunidade para os sindicatos de empregados, os quais possuem imunidade em relação a patrimônio, renda e serviços, isto é, tais entidades estão imunes à incidência de impostos sobre patrimônio, renda e serviços, a serem exigidos por quaisquer entidades tributantes (SABBAG, 2017). Temos ainda a imunidade musical, que objetiva reduzir a carga de impostos de tais produtos, ou seja, propiciar a baixa de preços nos CDs, DVDs e Blue-Rays que contenham a obra artística musical e também nas músicas comercializadas pela internet ou via telefonia, objetivando desestimular a comercialização clandestina de “cópias piratas” (SABBAG, 2017). Existe previsão de imunidades de impostos também para instituições de educação e entidades de assistência social. Ademais, o art. 150, VI, “d”, da CF prevê imunidade para os impostos que incidem sobre livro, jornal, periódico e papel destinado à impressão de tais veículos de pensamento (SABBAG, 2017). Imunidade da contribuição social para a seguridade social Presente no artigo 195, § 7º, da Constituição Federal, essa imunidade diz respeito às contribuições de seguridade social, abrangendo as contribuições previdenciárias, as contribuições de PIS e Cofins, inclusive na importação, e a contribuição social sobre o lucro. Contribuições com outras finalidades, ainda que incidentes sobre as mesmas EXEMPLO A imunidade musical e a imunidade dos livros e dos periódicos são exemplos de imunidade objetiva. Já a imunidade conferida aos partidos políticos e aos sindicatos dos empregados são exemplos de imunidades subjetivas conferidas pela legislação tributária. FIQUE ATENTO A imunidade musical possui característica objetiva, pois afeta apenas os objetos relacionados à música, como o ICMS, entre outros. Aqueles tributos incidentes sobre a gravadora (IPTU, IPVA, taxas, contribuições) continuarão a incidir normalmente, porquanto a norma imunizante é clara ao desonerar apenas as obras musicais e os objetos afetos a ela (SABBAG, 2017). - -6 a contribuição social sobre o lucro. Contribuições com outras finalidades, ainda que incidentes sobre as mesmas bases, não são alcançadas (PAULSEN, 2018). Além disso, a imunidade do art. 195, § 7º, da CF não abrange as contribuições destinadas a terceiros, como as contribuições ao Sesc, Senac, Sebrae, Apex e ABDI (PAULSEN, 2018). No mais, os requisitos são os estabelecidos pela Lei nº 12.101/09, cujo texto estabelece a certificação, como entidades beneficentes de assistência social, para fins de desoneração às contribuições de seguridade social, das entidades de direito privado, sem fins lucrativos, que prestem serviços nas áreas de assistência social, saúde ou educação, sendo que deverão obedecer ao princípio da universalidade do atendimento, sendo vedado dirigir suas atividades exclusivamente a seus associados ou a categoria profissional (PAULSEN, 2018). A imunidade em questão diz respeito às contribuições de seguridade social, o que abrange todas aquelas instituídas no exercício da competência delimitada pelo art. 195, I a IV, da CF/1988, e também as instituídas no exercício da competência residual outorgada pelo § 4º do mesmo dispositivo (PAULSEN, 2018). Imunidade da contribuição social sobre o lucro líquido A Emenda Constitucional 33/2001 acrescentou o dispositivo enumerado como inciso I, § 2º, no art. 149 da CF, o qual dispõe sobre a não incidência sobre as receitas decorrentes de exportação para as contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico relacionadas no do artigo (PAULSEN, 2018), a saber: “Competecaput exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas”, sendo observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e no art. 195, § 6°, acerca das contribuições a que alude o dispositivo (BRASIL, 1988). Fechamento Neste tema, estudamos que as imunidades também fazem parte do sistema de limitações ao poder de tributar, constituindo-se uma forma garantia ao contribuinte. As imunidades visam proteger os temas que são mais caros à democracia, às liberdades e à sociedade como um todo. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • diferenciar a imunidade genérica da imunidade específica, compreendendo o conceito jurídico de cada uma; • compreender o sistema de imunidades, comparando-o com as diferentes espécies de tributos. Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. . Brasília: CongressoConstituição da República Federativa do Brasil de 1988 Nacional, 1988. BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966. CASSONE, V. . 28. ed. São Paulo: Atlas, 2018.Direito tributário • • - -7 CASSONE, V. . 28. ed. São Paulo: Atlas, 2018.Direito tributário MAZZA, A. . 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de direito tributário PAULSEN, L. . 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.Curso de direito tributário completo SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário SIDOU, J. M. O. : Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 11. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Dicionário Jurídico Forense, 2016. - -1 Interpretação do Direito Tributário Raquel Puti de Souza Introdução Na interpretação do Direito Tributário, ocorre a aplicação dos dispositivos do Código Tributário Nacional, focando na importância da norma para o estabelecimento e exercício da competência tributária. Nesse contexto, de que forma podemos interpretar o Direito Tributário para que ocorra o estabelecimento da competência tributária? De que forma é exercida a competência tributária? Como podemos entender os conceitos tributários? Acompanhe os estudos deste tema e obtenha as repostas para essas perguntas. Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender os aspectos gerais da interpretação do Direito Tributário, identificando sua relevância para o estabelecimento e exercício da competência tributária. Noções gerais sobre a interpretação do Direito Tributário Os conceitos para os estudos da legislação tributária encontram-se resumidos nos artigos 107, 108, 109, 110, 111 e 112 do Código Tributário Nacional. Dessa forma, a interpretação desse ramo do Direito consiste em dar sentido ao pensamento do legislador no momento em que elaborou a lei. • - -2 Figura 1 - Legislação e o Código Tributário Nacional Fonte: vasabii, Shutterstock, 2019. Assim, deve-se interpretar a legislação buscando a exploração de seu verdadeiro sentido, designando com exatidão e significadosuficiente para abarcar as hipóteses de sua aplicação pela norma. Passemos agora ao estudo dos conceitos e institutos jurídicos relativos ao Direito Tributário. Interpretação do Direito Tributário Conforme o Código Tributário Nacional, a legislação tributária deve ser interpretada em consonância com suas disposições. Além disso, não havendo disposição expressa, a autoridade que aplicará esta legislação deve analisar cada caso a partir: a) da analogia, b) dos princípios gerais do Direito Tributário, c) dos princípios gerais do Direito Público e d) da equidade. Além disso, a analogia não pode implicar a exigência de tributo não previsto FIQUE ATENTO Para interpretar uma norma, deve-se observar os conceitos jurídicos que ela aborda, bem como o alcance do seu conteúdo. O jurista deve procurar obter uma linguagem única e homogênea, empregada pelo legislador ao mencionar os conceitos no artigo elaborado. - -3 do Direito Público e d) da equidade. Além disso, a analogia não pode implicar a exigência de tributo não previsto em lei, assim como a equidade não pode permitir a dispensa do pagamento do tributo (BRASIL,1966, arts. 107 e 108). Figura 2 - A legislação tributária regulamenta a interpretação da cobrança de tributos Fonte: Zerbor, Shutterstock, 2019. Conforme o CTN, os princípios gerais do Direito Privado podem utilizar-se dos seus conceitos e formas, porém, sem definição dos respectivos efeitos tributários. Ademais, a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas do Direito Privado que sejam utilizados, direta ou indiretamente, pela Constituição Federal, constituições dos Estados ou leis orgânicas do DF ou dos Municípios, definindo ou limitando competências tributárias (BRASIL, 1966, arts. 109 e 110). Ainda de acordo com o CTN, será interpretada literalmente a legislação tributária que dispuser sobre suspensão ou exclusão do crédito tributário, outorga de isenção ou dispensa de obrigações tributárias. Além disso, a lei tributária, nas definições de infrações ou penalidades, deve ser interpretada de forma favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto à capitulação legal do fato; à natureza ou circunstâncias materiais do fato, assim como sua extensão; à autoria, imputabilidade ou punibilidade; e à natureza da penalidade aplicável ou sua graduação (BRASIL, 1966, arts. 111 e 112). Lembre-se de que o CTN possui algumas particularidades, porém, é possível interpretá-lo como qualquer outro ramo do Direito, aplicando, inclusive, subsidiariamente, norma de Direito Civil, princípios gerais do Direito, analogia e os próprios princípios gerais do Direito Tributário. Isto porque os princípios não são normas sobre interpretação, mas orientações que o intérprete deve seguir (SABBAG, 2017). Destaca-se que, no art. 108, estão as medidas de integração das normas tributárias, criando métodos que o aplicador da lei deve seguir. Tais métodos serão utilizados para preencher lacunas que não foram sanadas pelos artigos, leis e decretos expressamente regulamentados no ordenamento jurídico. - -4 Figura 3 - Integração das normas tributárias na resolução de lacunas da legislação Fonte: Shutterstock, 2019. Assim, há lacunas quando uma norma deixa de regular determinada situação, e esta não regulamentação gera uma insatisfação ao suposto titular do direito. O “vazio” da lei fere o ordenamento jurídico, devendo ser preenchido para que haja a satisfação do sistema jurídico (SABBAG, 2017). A interpretação de conceitos, institutos e formas para o estabelecimento das competências tributárias e o seu exercício O aplicador da legislação tributária deve ir além da literalidade, exceto nos casos de compreensão estrita (SABBAG, 2017), em que a lei será insuficiente para solucionar o caso concreto, tornando-se indispensável o processo de integração. Ainda conforme o art. 108 do CTN, a ordem de interpretação a ser seguida refere-se ao fenômeno de integração da legislação tributária (SABBAG, 2017), em que, primeiramente, o intérprete deve utilizar a analogia; em seguida, se for necessário, os princípios gerais de Direito; e por último a equidade. É importante destacar que o processo de integração, mesmo sendo regulamentado em lei, deve ser realizado em face do caso concreto, com peculiar observância às características dos tributos. Nesse sentido, para Sabbag (2017), a integração está dentro da interpretação. Caso o intérprete não identifique o significado de algum comando, por alguma lacuna, fará a devida interpretação pelas formas da integração. Desse modo, não havendo possibilidade de interpretar a norma tributária, recorre-se à integração do Direito, ou seja, quando a lei for omissa, o intérprete decidirá o caso pelo uso de analogia, costumes e princípios gerais do Direito. - -5 Percebe-se, assim, que a analogia não pode ser utilizada para exigir tributo, pois a instituição e a cobrança do tributo ocorrem somente por meio da lei. Dessa maneira, quando surgir conflito entre legalidade e analogia, deve prevalecer o primeiro. Vale lembrar de que os princípios gerais de Direito Tributário e de Direito Público não possuem hierarquia, pois é a Constituição Federal quem afirma a igualdade e boa-fé, dispensando os preceitos do artigo 108 do CTN (SABBAG, 2017). Também é possível ao intérprete utilizar um princípio mais específico do Direito Tributário em vez de um princípio do Direito Público, pois os princípios do Direito Público são considerados auxiliadores na integração da norma tributária. Assim, a equidade aparece como um dos instrumentos de integração (SABBAG, 2017). Trata-se, para Sabbag (2017), da mitigação do rigor da lei, seu abrandamento para adequá-la ao caso concreto. Dessa forma, a equidade atua corrigindo as injustiças que a aplicação rigorosa e inflexível da lei poderia proporcionar sem, contudo, dispensar o pagamento do tributo. Importa mencionar ainda que, quanto às modalidades interpretativas, não há uma hierarquização, pois são vias complementares, e não taxativas. De acordo com o CTN, no seu art. 109, os princípios gerais do Direito Privado serão usados para pesquisas de definição de conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não serão utilizados para análise e definição dos efeitos tributários (BRASIL, 1966). Portanto, com esse artigo a lei visa estabelecer uma hierarquia de métodos para a interpretação da norma. Analisando-se o art. 109, juntamente com o art. 110, é possível concluir que se prioriza o método sistemático. Porém, analisando apenas o art. 109, isoladamente, subentende-se que deve ser privilegiado o método teleológico ou a interpretação econômica do fato gerador (SABBAG, 2017). Dessa forma, os conceitos de Direito Privado não serão modificados ou utilizados para definir ou limitar competências tributárias, assim, a norma tributária deve aplicar os conceitos definidos pelo Direito Privado quando se tratar de competência de tributos, não podendo aplicar-lhes entendimento diverso. Significa que se privilegia mais a lei como fonte do Direito Tributário do que a jurisprudência (SABBAG, 2017). SAIBA MAIS No caso de ausência expressa de norma legal, os agentes públicos devem utilizar a analogia; em seguida, os princípios de Direito Tributário; na ausência, os princípios gerais de Direito Público e, por fim, a equidade. Para ter clareza sobre a correta interpretação do Direito Tributário, consulte o Código Tributário Nacional (1966), “Interpretação e Integração da Legislação Tributária”. FIQUE ATENTO É importante destacar que o parágrafo 1º, do art. 108, do CTN, traduz um conceito que já era pacífico na doutrina e sobre o qual, hoje, no Estado Moderno de Direito, não se aceitam mais discussões. Trata-se da proibição de exigência de tributos por analogia. - -6 Figura 4 - Análise do Imposto de Renda como exemplo de interpretação do Direito Tributário Fonte: Paul Maguire, Shutterstock, 2019. Por autonomia do Direito Tributário, entende-se que os conceitos de Direito Privado possuem consequências próprias quandoaplicados na norma tributária. Acerca da ilicitude da elisão, este método considera tributável o fato que não apresente correspondência entre a forma e o conteúdo, considerando-se efeitos econômicos que a lei declara como hipótese de incidência. A arbitrariedade do juiz consiste em entender o que é ou não é um fato gerador tributável, partindo da análise do conteúdo econômico previsto pela norma. Ademais, a ideia de justiça está ligada a métodos que são mecânicos e casuais de arrecadação, então, se um fato econômico foi praticado e estava previsto na norma como tributável, a quantia devida deverá ser exigida pelo Fisco. A cobrança do tributo pode ser classificada, então, como a aplicação do princípio da legalidade, pois a administração pública deve ter todos os seus atos pautados pela aplicação da lei (SABBAG, 2017). EXEMPLO Quando um contribuinte deixa de pagar Imposto de Renda, sua declaração cairá na malha-fina, portanto, deverá prestar declarações à Receita Federal do Brasil. Assim, ao julgar esse caso, o aplicador da lei – que, no caso, é o fisco, representado pela pessoa do auditor fiscal – se baseará nas normas expressas no Código Tributário Nacional para exigir o crédito do respectivo contribuinte. - -7 Fechamento Neste tema, vimos que o aplicador da lei pode se deparar com um caso prático para o qual não existe dispositivo legal, o que resulta em interpretar a legislação tributária e integrar as normas para que possam ser aplicados os conceitos de analogia; depois, os princípios de Direito Tributário, seguidos dos princípios gerais de Direito Público e a equidade. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • compreender os aspectos gerais da interpretação do Direito Tributário, identificando sua relevância para o estabelecimento e exercício da competência tributária. Referências BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966. SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário • - -1 Integração do Direito Tributário Raquel Puti de Souza Introdução Neste tema, estudaremos que, na integração do Direito Tributário, a lei é estática, do ponto de vista de sua formulação, o que implica uma interpretação adequando a lei ao caso concreto. Entenderemos o sentido da expressão “integração do Direito”, e de que modo podemos dar sentido à expressão “lacuna no Direito”, bem como a identificação de suas espécies, com a distinção entre os processos de interpretação e integração. Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar os principais métodos de integração do Direito Tributário, diferenciando-os dos métodos interpretativos. Conceito de integração O conceito de integração diz respeito aos casos em que a lei é insuficiente para solucionar o conflito, sendo necessário utilizar o processo de e interpretação da legislação tributária, pois, na interpretação, ointegração intérprete deve exteriorizar o sentido literal da norma. Figura 1 - Normas e regulamentos jurídicos Fonte: BrunoWeltmann, Shutterstock, 2019. Para Sabbag (2017), o intérprete não cria, não inova, apenas clarifica o mandamento normativo, porém, se houver casos concretos para os quais não existe regra jurídica prevista, este deve preencher a lacuna existente. Para tanto, deverá utilizar os meios de integração da norma, a qual se relaciona com a interpretação. Dessa forma, o intérprete tentará encontrar o significado do comando, mas, não podendo encontrar de plano, • - -2 Dessa forma, o intérprete tentará encontrar o significado do comando, mas, não podendo encontrar de plano, pela existência de lacuna, aplicará as formas de integração, afinal, na impossibilidade de ser interpretada a norma tributária, recorre-se à integração do Direito (SABBAG, 2017). Destaca-se que o CTN não admite que, no caso de lei omissa, o juiz declare simplesmente que “o autor é carecedor do direito”, pois, mesmo diante da lacuna da lei, o juiz deve julgar o pedido com base nos recursos de integração (BRASIL, 1966). Isto porque o nosso Direito Positivo acolheu a “Teoria das Lacunas”, conforme o art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (“quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”), e o art. 126 do CPC (atual art. 140 do NCPC) (“o juiz não se exime de sentenciar ou despachar, alegando lacuna ou obscuridade da lei [...] caber-lhe-á aplicar as normas legais, não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito”). Figura 2 - Quebra-cabeça da legislação e o CTN Fonte: Korionov, Shutterstock, 2019. A interpretação é tarefa de caráter declaratório, nascendo do que já existe, enquanto a integração não parte de uma lei aplicável ao caso, pois esta não existe, mas procura norma que regule caso similar ao não contemplado, sem criar direito (SABBAG, 2017). O art. 108 do CTN acolheu o princípio do , pelo qual é vedada a denegação de justiça, então, as leisnon liquet devem estabelecer preceitos máximos, regras gerais, e os princípios fecundos, facilitando que o aplicador, diante do fato concreto, possa deduzir a generalidade da lei aos preceitos particulares que acomodem as situações práticas e o contexto da situação na qual o sujeito passivo da obrigação tributária está inserido (SABBAG, 2017). Assim, o art. 108 do CTN dispõe sobre normas de integração, criando uma ordem de métodos a serem seguidos SAIBA MAIS A definição teórica de lacuna indica que o legislador não obteve previsão de todos os casos práticos possíveis de ocorrer, deixando de apreciar alguns deles por questões de deficiência de técnica legislativa. Para saber mais, leia “Manual de Direito Tributário”, de Sabbag (2017). - -3 Assim, o art. 108 do CTN dispõe sobre normas de integração, criando uma ordem de métodos a serem seguidos pelo aplicador, os quais devem ser utilizados apenas na ausência de disposição expressa; quando houver lacunas na lei. Lacuna há quando uma norma deixa de regular determinada situação e essa não regulamentação gera uma insatisfação ao suposto titular do direito. Embora se pressuponha uma legislação totalmente codificada, a questão da existência de lacunas abarca fatos que estão necessitados de regulamentação, à medida que surgem fatos novos e atuais. Diferença entre integração e interpretação A interpretação se utiliza da integração de forma a contribuir com o esclarecimento da norma tributária. Nesse contexto, as interpretações extensiva e restritiva se diferenciam, pois uma aborda o dispositivo de forma mais geral, e a outra restringe. Assim, a legislação tributária deve ser encarada de forma técnica, sem inspirações hermenêuticas. Ademais, dispôs o art. 107 do Código Tributário Nacional que a legislação tributária deve ser interpretada de acordo com os seus enunciados prescritivos. O art. 111 do CTN, versando sobre a interpretação, estabelece que a legislação deve ser interpretada de forma literal, portanto, remete a uma interpretação literal e restrita da norma tributária que disponha sobre outorga de isenção, suspensão ou exclusão do crédito tributário e dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias. Já o art. 112 do CTN veicula regra de interpretação das leis de infrações e sanções tributárias, determinando que devem ser interpretadas em favor do acusado, em caso de existência de dúvida. Figura 3 - Na interpretação, a lei é a direção FIQUE ATENTO Outro ponto de vista que exige atenção envolve questões práticas que a legislação tenta abordar de forma completa, mas que existem situações as quais esta não prevê, sendo, portanto, denominadas lacunas, que equivalem à manifestação dessa insuficiência legislativa. - -4 Figura 3 - Na interpretação, a lei é a direção Fonte: xtock, Shutterstock, 2019. Considerando que o intérprete da legislação não tem o poder de criar lei nova, restringindo-se a clarificar o mandamentonormativo, integra a norma no sistema jurídico vigente, com o intuito de que sua regra tenha eficácia, ou seja, para que incida sobre os fatos. Assim, a grande diferença entre interpretação e integração está no fato de que a primeira procura identificar a norma legal e o sentido dela, com base no alcance do trabalho interpretativo; na segunda, ocorre o esgotamento da interpretação da lei ou norma. Integração do Direito Tributário: a analogia; os princípios do Direito Tributário; os princípios do Direito Público; a equidade A integração esgota todos os meios de interpretação necessários para adequar a norma ao caso concreto, buscando utilizar outras fontes do Direito para que o intérprete da norma possa preencher a lacuna deixada pela legislação. Não havendo disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará, sucessivamente, a analogia; os princípios gerais de Direito Tributário; os princípios gerais de Direito Público; a equidade. A analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei; a equidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido (BRASIL, 1966, art. 108). Os princípios gerais de Direito Privado utilizam-se do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não definem os respectivos efeitos tributários (BRASIL, 1966, art. 109). Ademais, a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de Direito Privado, utilizados pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do DF ou dos municípios, para definir ou limitar competências tributárias (BRASIL, 1966, art. 110). EXEMPLO Ao elaborar a lei, o legislador tenta incorporar a maioria das situações possíveis, distinguindo as situações particulares por meio da aplicação do princípio da personalização e progressividade, com sua consequente seletividade. Tais princípios previnem eventuais injustiças legislativas, favorecendo a equidade na repartição das receitas. Por exemplo, o Imposto de Renda, o qual possui alíquotas maiores para aqueles que auferem maiores rendas, não havendo cobrança das pessoas de baixa renda. - -5 Figura 4 - Aplicação dos conceitos tributários Fonte: IvelinRadkov, Shutterstock, 2019. Isso comprova que, ao se deparar com uma lacuna na lei, o agente aplicador do Direito deve seguir a ordem indicada pelo CTN: · analogia: observa-se uma relação de duas ou mais entidades distintas, portanto, aplica-se asemelhança entre analogia quando, em um caso concreto, não existir regulamentação por lei, assim, outra lei semelhante regulará o fato. Pode-se sintetizar a analogia segundo a antiga fórmula jurídica romana: “ ”ubieademratio, ibieadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo direito). No Direito Tributário, há somente a possibilidade da analogia , jamais havendo aplicação da analogia em relação aos elementos constitutivos da obrigaçãoin favorem tributária (SABBAG, 2017); · princípios gerais do Direito Tributário: são enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico em sua aplicação e integração ou mesmo para a elaboração de novas normas. Conforme Carvalho (2011), são princípios gerais de Direito Tributário os que, explícita ou implicitamente, irradiam-se pelos subsistemas das normas tributárias, penetrando-as e ativando-as em certa direção; · princípios gerais do Direito Público: são máximas dispostas na Constituição ou que se despregam das regras do ordenamento positivo. Tais princípios aparecem como linhas diretivas que iluminam a compreensão do ordenamento jurídico (CARVALHO, 2011); · equidade: trata-se da solução que resultar mais benéfica, mais humana ou mais suave ao contribuinte. É a mitigação do rigor da lei; seu abrandamento para adequá-la ao caso concreto. O termo equidade transmite significado de justiça, corrigindo as injustiças que a aplicação rigorosa e inflexível da lei escrita poderia implicar (SABBAG, 2017). Nesse contexto, ainda de acordo com artigo 108 do CTN, ao fazer uso da analogia, o agente responsável pela FIQUE ATENTO De acordo com artigo 108, do Código Tributário Nacional, parágrafo 1º, deve-se atentar para o fato de que, ao fazer uso da equidade, com vistas ao preenchimento de alguma lacuna da lei, o aplicador da norma não deverá dispensar o pagamento do tributo. - -6 Nesse contexto, ainda de acordo com artigo 108 do CTN, ao fazer uso da analogia, o agente responsável pela aplicação da lei não poderá criar tributo, pois, assim, estará desrespeitando o princípio da legalidade, o qual determina que todo tributo só pode ser criado ou majorado por meio de lei específica. Fechamento Neste tema, estudamos que, caso o intérprete da lei se depare com lacuna na norma tributária, deverá utilizar de mecanismos para integrá-la ao caso concreto, por meio da interpretação literal ou aplicação de analogia; em seguida, pelos princípios de Direito Tributário; depois, dos princípios gerais de Direito Público e, por fim, da equidade. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • identificar os principais métodos de integração do Direito Tributário, diferenciando-os dos métodos interpretativos. Referências BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966. BRASIL. . Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 Rio de Janeiro, 1942. BRASIL. . Código de Processo Civil. Brasília: DF, 2015.Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 CARVALHO, P. de B. . 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.Curso de Direito Tributário SABBAG, E. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Manual de direito tributário • - -1 Incidência da norma tributária Raquel Puti de Souza Introdução Neste tema, estudaremos sobre a incidência da norma tributária, compreendendo seus elementos de existência, validade, eficácia e aplicabilidade. Entenderemos que a incidência da norma significa descrever um acontecimento no mundo social e adequá-lo às condições de espaço e de tempo, conforme os critérios estabelecidos na norma geral e abstrata. Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer o fenômeno da incidência da norma tributária, compreendendo seus elementos de existência, validade, eficácia e aplicabilidade. Norma tributária e sua incidência A norma jurídica tributária é uma hipótese de conduta inserida em um código ou regulamento. Pode ser definida como um conjunto de normas que compõem o ordenamento jurídico e regulam a conduta dos indivíduos; uma regra de conduta imposta; é a proposição normativa inserida em uma fórmula jurídica (lei, regulamento), garantida pelo Poder Público (Direito Interno) ou pelas organizações internacionais (Direito Internacional). A aplicação da norma jurídica compreende as transformações do que sejam fatos jurídicos e os efeitos de transformar os suportes fáticos que o legislador considerou relevante para inserir no universo jurídico. Considerando que a norma jurídica é constituída por uma proposição descritiva unida à outra, prescritiva, observa se o conectivo “dever-ser”, sempre que no mundo dos fatos previstos incide a qualificação dos fatos jurídicos (SABBAG, 2017). • - -2 Figura 1 - Códigos e normas Fonte: Elena Kharichkina, Shutterstock, 2019. De acordo com o art. 114 do CTN, a incidência liga-se à ocorrência, na realidade fática, da hipótese prevista abstratamente em lei como necessária e suficiente para o surgimento da obrigação tributária. Quando o fato se materializa, a norma de tributação gera efeitos. Segundo Carvalho (2011), a norma tributária define a incidência fiscal. Há uma hipótese, suposto ou antecedente, que se conjuga a um mandamento, consequência ou instituição. Tipificando as normas tributárias, tem se que as leis e normas trazem as hipóteses de incidência, as quais o caso concreto deve se adequar. Do contrário, haverá lacunas
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