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Livro digital II - ANTROPOLOGIA_RAÇA_CULTURA

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A CONSTRUÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO. 
 
 
O trabalho escravo, núcleo do sistema produtivo do Brasil colônia, vai 
sendo gradativamente substituído pelo trabalho livre no decorrer dos anos 1800. 
Essa substituição, no entanto, dá-se de uma forma particularmente excludente. 
 
Mecanismos legais, como o Decreto 1.331 de 1854, o qual no seu artigo 
69, que não permitia aos escravos o acesso à escola pública, a Lei de Terras, 
de 1850, que restringe a compra de terras no Brasil, a Lei da abolição, de 1888, 
e mesmo o processo de estímulo à imigração, formaram um cenário no qual a 
mão de obra negra passa a uma condição de força de trabalho excedente, 
sobrevivendo, em sua maioria, dos pequenos serviços ou da agricultura de 
subsistência1. 
 
Nesse contexto, a consolidação da visão, de cunho racista, de que o 
progresso do país só se daria com o “branqueamento”, suscitou a adoção de 
medidas e ações governamentais que findaram por desenhar a exclusão, a 
desigualdade e a pobreza que se reproduzem no país até os dias atuais2. 
 
No período pré-abolicionista, foram se desenvolvendo vários argumentos 
a favor da extinção do regime de produção colonial, bem como várias ideias de 
branquear o povo brasileiro diante do fato irreversível da miscigenação. Esses 
argumentos pró-branqueamento procediam, de modo geral, de uma adaptação 
brasileira da “teoria cientifica” de Joseph Arthur Gobineau, que disse, após uma 
visita ao Brasil em 1869: 
 
Nem um só brasileiro tem sangue puro porque os exemplos de 
casamentos entre brancos e negros são tão disseminados que as 
 
1 THEDORO, Mario. A formação do mercado de trabalho e a questão racial no Brasil. Brasilia: 
Ipea, 2008. p.15. 
2 Idem, ibidem 
nuances de cor são infinitas, causando uma degeneração do tipo ais 
deprimente tanto nas classes mais baixas como nas superiores3. 
 
Desde o período anterior a abolição, já havia defensores da vinda de 
trabalhadores europeus para o desenvolvimento do país, não só com a 
suposição da superioridade racial dos brancos, como também da produtividade 
maior da mão de obra europeia com relação à mão de obra negra. 
 
De um modo geral, até a metade do século XIX, as cidades se 
caracterizavam por uma grande concentração de negros. Isso foi particularmente 
mais intenso nos casos das áreas urbanas da região Nordeste (Recife, Salvador 
e São Luís), que não receberam o afluxo significativo de imigrantes europeus4. 
 
Segundo Mattoso, em síntese, nas cidades brasileiras daquela época, 
havia dois tipos de prestadores de serviços (além, logicamente, do escravo 
domésticos): de um lado, os trabalhadores livres (brancos, mulatos e negros) e, 
de outro, os escravos, seja como negros de ganho, que deveriam entregar ao 
seu senhor a totalidade, ou por vezes, uma parte do que ganhavam vendendo 
seus serviços, seja no trabalho em manufaturas e empreendimentos industriais5. 
 
A população do Brasil, na primeira década do século XIX, era de cerca de 
três milhões de habitantes, sendo que destes, 1,6 milhões eram escravos. Havia 
ainda cerca de 400 mil negros e mulatos libertos e um milhão de brancos. Essa 
população vai alcançar um total de dez milhões, em 1872, chegando a 17,3 
milhões na virada do século XX, sendo que na época da abolição livres e libertos 
representavam um contingente de dez milhões de indivíduos, enquanto 
mantinha-se 720 mil indivíduos na condição de escravos. 6 
 
 
3 SKIDMORE, Th. E. (1976) Preto, no Branco – Raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. 
Rio de Janeiro: Paz e Terra, p.46. 
4 Idem, ibidem 
5 MATTOSO, K.M. de Queiróz. Bahia: A cidade de Salvador e seu mercado no século XXI. São 
Paulo: Hucitec, 1978. Pp 531. 
6 Dados do Recenseamento do Brasil (Cf. Costa, 1985) 
Os negros e mulatos, ditos “livres e libertos”, (THEODORO, 2008) 
constituirão o subgrupo populacional que mais crescerá no decorrer do século 
XIX. 
Nas áreas rurais, exercerão atividades ligadas principalmente à 
agricultura, pecuária de subsistência. Nas cidades e vilas, desenvolver-se-ão 
nos ramos de serviços em geral, na produção artesanal e ainda em atividades 
manufatureiras. Muitos, entretanto, não encontravam outras atividades além do 
trabalho ocasional em pequenos serviços, quando não se encontravam em 
situação de privação de trabalho. 
 
Em 13 de maio de 1888, a abolição colocou a população negra em uma 
situação de igualdade política e civil em relação aos demais cidadãos. Contudo, 
entrega uma possibilidade de inclusão socioeconômica extremamente limitada. 
Esse processo foi marcado tanto por uma ausência de políticas públicas em favor 
dos ex-escravos e à população negra livre, como pela perspectiva da própria 
diluição do grupo racial negro no contexto nacional. 
 
 A abolição significará a exclusão dos ex-escravos das regiões e setores 
dinâmicos da economia. Em sua grande parte, eles não serão ocupados em 
atividades assalariadas. Com a imigração massiva, os ex-escravos vão se juntar 
aos contingentes de trabalhadores nacionais livres que não tem oportunidades 
de trabalho senão nas regiões economicamente menos dinâmicas, na economia 
de subsistência das áreas rurais ou em atividades temporárias, fortuitas, nas 
cidades (Thedoro, Mario. 2008). 
 
Em princípio, a abolição poderia significar a perspectiva de que os antigos 
escravos pudessem, eles mesmos, continuar a trabalhar nas fazendas adotando 
um novo status de homens livres, o que, aparentemente, não colocaria 
problemas técnicos de grande monta. Os escravos dominavam o processo de 
trabalho, assim como as evoluções técnicas mais importantes à época nas 
atividades que realizavam7. 
 
 
7 THEDORO, Mario. 2008. 
Inclusive, essa havia sido a opção de algumas ilhas das Antilhas inglesas, 
onde a abolição teve um caráter puramente formal, sendo que o escravo passou 
a receber um salário, fixado ao nível mínimo de subsistência. 
 
Uma segunda opção, seria a da utilização total ou parcial, do contingente 
de livre e libertos no lugar dos antigos escravos. Esse grupo remontava, em 
1872, quase oito milhões de indivíduos, ultrapassando em muito o número de 
escravos, que totalizavam cerca de 1,5 milhões. 
 
A partir de 1850, os investimentos desviados do tráfico foram aplicados 
em empresas que precisavam de trabalhadores especializados. Surgiram 
indústrias e as estradas de ferro iniciaram a expansão gradativa, iniciando a 
industrialização brasileira. 
 
Entretanto, das várias regiões do Brasil, São Paulo foi a mais afetada pelo 
processo de industrialização, urbanização e desenvolvimento capitalista 
moderno. Para examinar como a herança da escravidão agrícola nesse país 
contribui diretamente nas transformações e nas condições do século XX, São 
Paulo é claramente o caso mais avançado dessa transformação. 
 
O estado de São Paulo e mais especificamente sua capital, eram uma 
área de importância secundária durante o período colonial do Brasil (Andrews, 
p. 47,1998), no século XIX, tendo se envolvido em um processo que foi pouco a 
pouco se acelerando, de crescimento econômico e demográfico, que finalmente 
conduziu a sua atual posição de destaque na federação brasileira. 
 
De uma pequena cidade de 35.000 habitantes em 1880, a capital do 
Estado explodiu para cerca de 600.000 mil habitantes em 1920 e 2,2 milhões em 
1950. Em 1980, mais da metade da população do Estado vivia na Grande São 
Paulo, transformando-a na terceira maior cidade do mundo, só superada pela 
Cidade do México e por Tóquio.8 
 
 
8 ANDREWS, George Reid, Negros e Brancos em São Paulo (1888-1988). Tradução Magda 
Lopes. Bauru: Edusc, 1998. p. 49) 
Esse crescimento começou, aponta Andrews, no início do século XIX, 
com os primórdios do cultivo de café na província. Em 1900, impulsionada pela 
imigração europeia, a população do estado de São Paulo crescia em uma 
proporção de quase o dobro da país como um todo. Em 1920, São Paulo possuía 
a segundamaior população do país, superada apenas por seu vizinho, Migas 
Gerais. No censo nacional seguinte, em 1940, São Paulo era o estado mais 
populoso do Brasil. 
 
Na década de 1860 a província de São Paulo baseou toda inteiramente a 
sua expansão agrícola café. Desde 1850, O Brasil produzia metade do 
suprimento mundial de café, sendo que cinquenta anos mais tarde, somente o 
Estado de São Paulo era responsável por metade do suprimento mundial, com 
o restante do Brasil contribuindo com mais um quarto. 
 
Embora o crescimento econômico e demográfico de São Paulo, tenha se 
baseado incialmente no café, no decorrer do século XX a economia do estado 
assumiu um caráter cada vez mais industrial. Estimulando pelo investimento de 
capital e pela demanda local gerada pelos lucros do café, na década de 1920 a 
economia industrial de são Paulo superou seus competidores dos outros 
Estados tornou-se e nos agora é responsável por mais da metade da produção 
industrial da nação. 
 
Uma das consequências mais importantes da escravidão, segundo Karl 
Monsma (2016) e dos seus desdobramentos racistas nas primeiras décadas 
após a abolição é o que denomina de “mercado de trabalho cindido”. 
 
Monsma, explica que: 
 
Em função do racismo, os descendentes de africanos escravizados 
ficavam, em sua grande maioria, restritos aos setores subordinados e 
mal remunerados do mercado de trabalho e impedidos de continuar 
sua formação nos níveis maias avançados do sistema escolar, o que, 
por sua vez, garantia sua exclusão das profissões escolarizadas. Nas 
primeira décadas pós- abolição, isso significava que eram restritos ao 
trabalho braçal, embora alguns fossem artesãos, e a grande maioria 
continuava analfabeta, e mesmo aqueles que estudavam não podiam, 
a não ser em casos excepcionais, frequentar as escolas secundárias. 
Com o passar do tempo, a natureza das divisões no mercado de 
trabalho e no sistema educacional foram mudando, mas a grande 
maioria dos negros continuava restrita aos setores mais baixos de 
ambos os campos9. 
 
Os fazendeiros eram incapazes de imaginar, quanto mais aceitar, o 
conceito de barganhar com seus ex-escravos. E aqueles que eram capazes 
disse estavam profundamente pessimistas quanto aos prováveis resultados de 
uma negociação desse tipo. Se pessimismo era baseado na suposição – produto 
de séculos de experiências com a escravidão – de que os trabalhadores não 
trabalhariam, a menos que fossem obrigados. Os fazendeiros acreditavam que 
se isso fosse verdade, não só em relação aqueles brasileiros que nasceram 
escravos, mas também aqueles que nasceram livres. 
 
Na época da abolição essas crenças foram fortemente reforçadas 
pelas correntes de racismo científico que estavam assolando o mundo 
atlântico, que decretavam a irreparável inferioridade dos povos não 
brancos e racialmente misturado. Em sua visita ao país, o naturalista 
francês Luis Couty resumiu de maneira concisa a aplicação dessas 
teorias ao Brasil em sua declaração de que “o Brasil não tem povo, ou 
melhor, o povo que lhe foi dado pela mistura de raças e pela alforrias 
não desempenham um papel ativo e útil” no desenvolvimento do país. 
(ANDREWS, 1998. p. 85) 
 
Essas avaliações pessimistas da população racialmente misturada do 
Brasil encontravam eco nos sentimentos da elite nacional, que durante os três 
séculos anteriores vinha desenvolvendo sua autóctone ideologia da vadiagem, 
uma crença arraigada e inabalável na indolência e na irresponsabilidade do 
negro e das massas brasileiras de raça mista. 
 
Esta crença era baseada na difícil experiencia da agricultura de 
exportação no Brasil. Era uma verdade inegável que os escravos não 
queriam trabalhar sob essas condições; e era igualmente verdade que 
 
9 MONSMA, Karl Martin. A reprodução do Racismo: fazendeiros, negros e imigrantes no oeste 
paulista,1880-1914. São Carlos. EduFScar,2016. pp. 326. 
as pessoas livres também não o queriam. Os escravos não tinham 
escolha nessa questão; as pessoas livres sim, e usavam esse poder 
de escolha para manter a maior distância possível entre elas e o 
trabalho nas fazendas. Para os fazendeiros, a conclusão a ser extraída 
dessa experiência histórica era óbvia: tanto o escravo quanto os 
trabalhadores livres eram vadios, imprestáveis e vagabundos, que só 
trabalhavam sob a ameaça de extrema força – e, frequentemente, nem 
mesmo assim. Na verdade, muitos fazendeiros declaravam – em 
resposta aos abolicionistas – que, com trabalhadores livres de tão má 
qualidade, o Brasil não tinha outra escolha senão continuar com a 
escravidão, pois só com a escravidão as fazendas teria satisfeitas as 
suas carências de mão de obra. Até os brasileiros que se opunham à 
instituição da escravidão tendiam a compartilhar da ideologia da 
vadiagem e aceitavam, implícita ou explicitamente, a ideia de que a 
emancipação não significaria o fim da coerção no local de trabalho. 
(ANDREWS, 1998, p. 85) 
 
Vieram os imigrantes, afastando os negros do trabalho livre, reduzindo-os 
à mão de obra em reserva, uma espécie de lumpemproletariado, ou seja, aquela 
classe sem consciência política, vivendo na miséria, a um passo da 
criminalidade. Esmagados pela herança da escravidão, os negros não 
constituem uma força produtora significativa e não se definiram como classe 
trabalhadora. Ironicamente o negro perdeu importância ao se transformar em 
homem livre: não conseguiu a emancipação nem atingiu o estágio de trabalhador 
engajado nas novas formas de produção que surgiram no país. 
 
Em 1871 e 1872 a Assembleia de São Paulo reservou fundos para 
subvencionar os custos dos fazendeiros que desejavam trazer imigrantes da 
Europa para trabalhar em suas fazendas. Os Europeus não estavam sujeitos ao 
racismo científico, pois eram brancos, nem a ideologia da vadiagem, pois os 
fazendeiros não tinham experiencia bastante com eles para compor fortes 
impressões. 
 
A imigração ganhou força no final da década de 1870, sendo que em 
1886, por sugestão do governador da província e com apoio de fundos do 
Estado, a Sociedade Promotora da imigração, de cunho privado, foi estabelecida 
para coordenar a campanha de São Paulo para atrair trabalhadores europeus. 
Em 1895, tais funções foram assumidas pelo Departamento de Agricultura do 
Estado de São Paulo. 
 
Desse modo, somente em 1887, quando fugas maciças de escravos 
das fazendas prognosticavam o fim iminente da escravidão, a 
imigração europeia anual para a província de superou pela primeira 
vez a marca de 10 mil. Quando isso aconteceu, ela saltou 
imediatamente para 32 mil, mais que os últimos cinco anos juntos. A 
abolição formal, em 1888, quase triplicou esse número, para 92 mil – 
coincidentemente, apenas pouco menor que o número de escravo 
libertados naquele ano na província pela alforria. Entre 1890 e 1914, 
mais de 1,5 milhão de europeus cruzaram o Atlântico ruma a São 
Paulo, com a maioria (63,6 por cento) das passagens pagas pelo 
governo do Estado. (ANDREWS, 1998. p. 98) 
 
Mesmo depois da abolição, não havia um parque industrial no Brasil: 
existiam pequenos núcleos industriais e um artesanato funcionando com 
imigrantes europeus. As grandes indústrias eram raras.10 O censo Industrial de 
1907 registrou menos de 3.000 empresas industriais em todo o país, 90% das 
quais empregando 4 ou menos trabalhadores (ANDREWS, p. 149). 
 
A partir de 1860 as empresas estrangeiras que dominariam a indústria 
começaram a fixar-se no Brasil. Depois da depressão de 1873, em 1875 os 
ingleses fizeram grandes investimentos. Esse progresso e a presença de 
imigrantes brancos, tidos como operários superiores, contribuíram para afastar 
o negro e estimular o desejo de branqueamento. 
 
A sociedade racista admitia o negro como escravo; para o trabalho livre 
trouxe o europeu, alegando que os negros não tinham mentalidade para se 
integrarem aos modos de produção modernos.10 CHIAVENATO, Julio José. O negro no Brasil. 1ed. São Paulo: Cortez Editora, 2012. pp. 208-
210. 
Andrews aponta que o mercado de trabalho de São Paulo, nos anos 
imediatamente subsequentes à abolição da escravidão era moldado por um 
direcionamento e intervenção do estado em nível incomum. Esta era uma 
intervenção supostamente desprovida de qualquer conteúdo racial, mas na 
verdade, optando por investir recursos em trabalhadores europeus e se 
recusando a realizar investimentos comparáveis nos brasileiros, os fazendeiros 
da província, e o aparato do Estado que eles controlavam, tornaram claras como 
cristal suas preferências étnicas e raciais. 
 
A Constituição Brasileira de 1891 proibiu especificamente a imigração 
africana e asiática para o país, e os governos nacionais e estaduais 
transformaram a atração da imigração europeia para o Brasil em uma prioridade 
do desenvolvimento nacional. E quando os imigrantes chegaram, aponta 
Andrews, os sociólogos e cientistas brasileiros ocuparam-se com pesquisas e 
escritos que demonstrassem a eles próprios a ao mundo como o Brasil estava 
rapidamente se transformando – de um lugar atrasado e miscigenado que 
parecia “mais um canto da África que uma nação do Novo mundo” em uma 
republica progressista povoada por europeus e seus descendentes. 
 
Entretanto, em sua grande maioria os imigrantes europeus que vinham 
para o Brasil também era analfabeta ou lia muito pouco11. 
 
O censo de 1890 registrou um índice de alfabetização de apenas 12,5% 
entra a população nativa do Estado versus 41,7 por cento entre a população 
estrangeira. 
 
A disparidade entres os imigrantes e os negros provavelmente era maior 
ainda. O censo de 1890 não separou os índices de alfabetização por raça, mas 
dados do censo de 1940 sugerem que o índice de alfabetização entre brasileiros 
natos na virada do século era aproximadamente o dobro para os brancos em 
relação aos negros12. 
 
 
11 MONSMA. 2016, p. 333. 
12 ANDREWS, 1998. p. 121 
Entretanto, o problema exacerbou-se mais ainda após a abolição, devido 
às políticas educacionais da República. A constituição de 1891 partiu da 
Constituição imperial de 1824, isentando o governo federal da obrigação de 
patrocinar a educação pública, e ao mesmo tempo privando de direitos os 
analfabetos. Somente no início do século XX o Estado de São Paulo começou a 
elaborar os rudimentos de um sistema de ensino elementar, ou seja, as escolas 
secundarias, as quais só se tornaram uma questão importante no orçamento 
paulista na década de 1920. 
 
Na virada do século, como a maior parte dos trabalhadores fabris de São 
Paulo aprendia sua habilidade no emprego, a questão das habilidades industriais 
previamente adquiridas podia nem sequer ser relevante. Isto acontecia 
particularmente como os menores, que constituíam quase 1/3 dos trabalhadores 
das trinta e uma fábrica têxteis investigadas pelo Departamento de Trabalho do 
Estado em 1912. Brasileiros, africanos e europeus pareciam todos igualmente 
capazes de dominar as operações básicas do trabalho na fábrica (ANDREWS, 
1998). 
 
As consequências do racismo decorrente da imigração são mais 
evidentes no estado de São Paulo e nos estados do Sul, onde os brancos 
constituem a maioria das população, mas em todo o Brasil o pós -abolição viu a 
consolidação de divisões raciais no mercado de trabalho, com diferenças 
regionais na localização da fronteira entre os empregos considerados 
adequados para negros e os reservados para brancos. 
 
A mão-de-obra imigrante substitui a dos escravos principalmente nos 
centros mais dinâmicos da economia. No início, são as novas regiões produtoras 
de café, com destaque para o Oeste Paulista, que vão receber os imigrantes 
europeus. Especialmente após 1874, a substituição do trabalho escravo 
acelerou-se13. 
 
 
 
13 THEDORO, Mario. 2008. p.25. 
De certa forma, para os antigos escravos, assim como para os 
trabalhadores livres não havia alternativas ao antigo trabalho. Apesar da 
existência de um fluxo considerável de ex-escravos para as maiores cidades do 
como Recife, uma grande parte da força de trabalho liberada continuará nas 
propriedades rurais, sob o regime de baixíssima remuneração, seja como 
assalariados, meeiros, parceiros, entre outros. No Nordeste, essa forma de 
organização da economia, após abolição da escravidão, restringiu o fluxo de 
renda monetária e, em decorrência disso, impediu a formação efetiva de um 
mercado interno. Diferentemente, no caso Centro-Sul, o fim da escravidão 
significou o crescimento do fluxo interno de renda monetária e a consolidação do 
mercado interno, apesar da existência da economia de subsistência em áreas 
de fronteiras agrícolas. 
 
Existiram particularidades no que concerne à passagem da economia de 
base escravocrata à economia baseada no trabalho-livre. Observa-se de um 
lado, um processo de reagrupamento da mão-de-obra escrava nas regiões mais 
dinâmicas, sobretudo em São Paulo14, para onde se dirigiu, numa etapa 
posterior, a maior parte dos imigrantes. 
 
Além dos estados do Centro Sul, São Paulo, Minas Gerais e Rio de 
Janeiro, também houve uma significativa imigração europeia para os estados do 
Sul do País – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde a perspectiva 
estava ligada, sobretudo, à ideia de colonização15. 
 
Por exemplo, nas primeiras décadas depois da abolição era bem mais 
fácil encontrar operários negros se empregarem no porto do Rio de Janeiro que 
na indústria de São Paulo, porque não havia brancos o suficiente para preencher 
todas as vagas portuárias do Rio16. 
 
 
14 KOWARICK, 1994. p. 86. 
15 THEDORO, Mario. 2008. p.26. 
16 ARANTES, E.B. Pretos, Brancos, Amarelos e vermelhos: conflitos e solidariedade no porto do 
Rio de Janeiro. In: Goldmacher, M.; Mattos, M.B.; Terra, P.C (Org). Faces do Trabalho: 
escravizados e livre. Niterói: Editora da UFF, 2010. 
A imigração e a grande concentração da população branca nas regiões 
mais prosperas do país, como o estado de São Paulo, também inibiram a 
transferência da população negra para estas regiões. A chegada de grandes 
levas de europeus, e números menores de japoneses, a São Paulo nas primeiras 
décadas após a abolição desestimulou a migração espontânea do Nordeste 
porque os nordestinos sabiam de teriam de enfrentar a competição desses 
imigrantes no mercado de trabalho. 
 
Essa realidade só vai ser alterada após as restrições 
à imigração e a reserva de vagas para brasileiros na era Vargas. A migração de 
nordestinos para o estado de São Paulo, começando nos anos 1940, virou um 
grande fluxo ao longo das décadas de 1950,1960,1970, entretanto em 
desvantagem em relação as famílias de imigrantes que haviam chegado nas 
primeiras duas décadas da abolição. 
 
Nos estados de grande maioria negra, como a Bahia, o monopólio branco 
só se realizou nas posições mais altas no mercado de trabalho, como as 
profissões que exigem a formação superior. 
 
Além disso, os empregadores imigrantes favoreciam seus compatriotas, 
o que equivalia a discriminação contra todos os outros, e muitos empregadores 
brancos, especialmente estrangeiros, evidenciavam atitudes abertamente hostis 
aos negros17. 
 
Na cidade de São Paulo, o crescimento urbano esteve diretamente ligado 
ao processo de industrialização, que começou nos últimos anos do século XIX, 
e que empregará quase que unicamente mão-de-obra de origem europeia, seja 
aquela saída das fazendas, seja a que chegava para trabalhar diretamente no 
espaço urbano. 
 
Na cidade quanto no campo, os imigrantes desfrutavam da mesma 
preferência na contratação. O censo de 1893 da Cidade de São Paulo mostrou 
 
17 MONSMA, Karl Martin. A reprodução do Racismo: fazendeiros, negros e imigrantes no oeste 
paulista,1880-1914. São Carlos. EduFScar,2016. pp. 327. 
que 72% dos empregados do comércio, 79% dos trabalhadores das fabricas, 
81% dos trabalhadoresdo setor de transportes e 86% dos artesão eram 
estrangeiros; o Correio Paulistano estimou que 80% dos trabalhadores do setor 
de construções eram italianos; e um estudo de 1912 sobre a força de trabalho 
em 33 indústrias têxteis do Estado descobriu que 80% dos trabalhadores têxteis 
eram estrangeiros, a grande maioria italianos18. 
 
De acordo com os dados disponíveis, no começo do século XX, 92% dos 
trabalhadores industriais na cidade de São Paulo eram estrangeiros, sobretudo 
de origem italiana19. 
 
No Rio de Janeiro, então capital do país e a cidade de maior importância 
econômica, a participação de estrangeiros na indústria representava quase a 
metade da mão-de-obra ali ocupada. 
 
Observa-se com o desenvolvimento do comércio e da indústria, o 
nascimento de um proletariado e também de uma classe média urbana, mas os 
trabalhadores negros não tiveram oportunidade de engrossar as fileiras daqueles 
grupos. 
 
Segundo Hoffmann: 
 
Em 1920, enquanto no país como um todo os estrangeiros (mais de 
um milhão e meio) representavam pouco mais de 5% da população 
total, nos dois principais centros industriais, Rio e São Paulo, 
representavam respectivamente 20% e 35%. As parcelas de 
imigrantes estrangeiros na força de trabalho dos estabelecimentos 
industriais, nesse mesmo ano, ainda são impressionantes: 17% para o 
conjunto do país e {...} 51% da força de trabalho industrial na cidade 
de São Paulo20 (HOFFMANN, Helga. 1980, p. 26) 
 
 
18 ANDREWS, 1998. p. 112. 
19 KOVARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem: a origem do trabalho livre no Brasil. Rio de Janeiro 
Paz e Terra. P 92. 
20 HOFFMANN, Helga. Desemprego e Subemprego no Brasil. 2.ed. São Paulo: Ática 1980. 
Kovarich (1994, p. 93), ainda destaca que no caso de São Paulo, o grupo 
de mão-de-obra industrial que não era estrangeiro, em sua maioria, era 
composto por filhos de imigrantes: 
 
A utilização do braço estrangeiro na indústria paulista não decorreu da 
melhor qualificação do imigrante, que, por sinal, só excepcionalmente 
trazia uma experiencia industrial prévia. (KOVARICH, 1994). 
 
Esta persistente preferência por europeus e euro-brasileiros afetava 
diretamente os afro-brasileiros. Florestan Fernandes declarou que em 1920 sua 
posição na economia urbana era ainda pior do que havia sido vinte ou trinta anos 
antes, apesar do fenomenal desenvolvimento da Industria, da construção e do 
comércio ocorrido nesse meio tempo. Os negros estavam quase que totalmente 
barrados do trabalho nas fabricas, e os artesão negros desapareceram por 
completo da cidade. Os negros pobres e pertencentes a classe trabalhadora, 
encontraram suas oportunidades de trabalho restritas ao sérvio doméstico e ao 
que hoje poderia ser denominado de setor informal21. 
 
As mulheres negras dessas décadas evidentemente merecem muito, se 
não a maior parte, do crédito por terem sustentado a comunidade negra durante 
uma época em que as oportunidades alternativas de emprego eram quase 
inexistentes. Mas os afro-brasileiros nunca perderam de vista o fato de que o 
serviço doméstico e o ocasional trabalho por dia eram os refugos de uma 
economia urbana em expansão. 
 
Os empregos nas fábricas, oficinas e lojas da cidade não eram para os 
afro-brasileiros. Isto não era resultado de uma legislação 
discriminatória ou de decretos que vinham de cima, mas de milhares – 
milhões, com o passar dos anos - de decisões tomadas pelos patrões 
relativas a quem iriam ou não contratar. Embora alguns se mostrassem 
dispostos a contratar trabalhadores negros nessa época a maioria se 
negava a fazê-lo (ANDREWS, 1998.pp. 117,118) 
 
 
21 Fernandes, 1998. Integração do Negro, pp. 60-97. Apud ANDREWS, 1998. p. 113. 
Entre 1907 e 1920, a produção industrial no Brasil quase quintuplicou, 
sendo que entre 1920 e 1940, ela aumentou outros 7.800%, e nessa altura o 
Brasil possuía mais de 70.000 firmas industriais empregando um total de 1,4 
milhões de trabalhadores. Entre 1946 e o início da década de 80, a produção 
industrial continuou a crescer em um índice de 9%, e a diversificar daquelas 
áreas tradicionais dos têxteis e dos processamentos de alimentos, para o aço, 
automóveis, produtos químicos e maquinaria elétrica. Em 1980 o Brasil 
vangloriava-se de possuir a sétima maior produção industrial do mundo 
capitalista, sendo que São Paulo estava na vanguarda deste processo, como 
principal estado industrial do Brasil22. 
 
ANDREWS (1998, p. 91), conclui que em parte alguma do Brasil este 
esforço para europeizar o país foi maior que em São Paulo, e em parte alguma 
do Brasil seus efeitos foram mais fortemente sentidos. Um maciço programa 
estatal para subsidiar a imigração europeia para o Estado resultou em que mais 
da metade dos europeus que vieram para o Brasil durante a república, veio para 
São Paulo. Entretanto, além do objetivo de europeizar o Estado, o principal 
propósito do programa era reverter as consequências econômicas da “revolução 
“da abolição e restaurar o controle do proprietário de terras sobre a força de 
trabalho. No início da década de 1890, seus impactos já eram evidentes, 
particularmente entre os beneficiários recentes da abolição: os afro-brasileiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 ANDREWS, 1998. p. 150. 
 O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL E A EXCLUSÃO DO NEGRO 
DO MERCADO DE TRABALHO 
 
 
O racismo brasileiro na sua estratégia age sem demonstrar a sua rigidez, 
não aparece a luz, é ambíguo, pegajoso, mas altamente eficiente em seus 
objetivos. Essa ideologia é difundida no tecido social como um todo e influência 
o comportamento de todos – de todas as camadas sociais, e até mesmo as 
próprias vítimas da discriminação racial. 
 
A explicação mais plausível, segundo Munanga, dessa interiorização 
quase inconsciente da discriminação racial no Brasil, estaria na forma da 
ideologia racista aqui desenvolvida pelo segmento dominante da sociedade. O 
silêncio, o implícito, a sutileza o velado, o paternalismo, são alguns aspectos 
dessa ideologia. 
 
A partir da ideia de um povo misturado desde os primórdios, foi 
elaborado, lenta e progressivamente, o mito da democracia racial. 
Somos um povo misturado, portanto miscigenado e, acima de tudo, é 
a diversidade biológica e cultural que dificultaria a nossa união e o 
nosso projeto enquanto nação e povo. Somos uma democracia racial 
porque a mistura gerou um povo que está acima de tudo, acima das 
suspeitas raciais e étnicas, um povo sem barreiras e sem preconceitos. 
Trata-se realmente de um mito, pois a mistura não produziu a 
declarada democracia racial, como demonstram as inúmeras 
desigualdades sociais e raciais que o próprio mito ajuda a dissimular – 
dificultando, aliás, até a formação da consciência e da identidade 
política dos membros dos grupos oprimidos23 
 
O mito da democracia racial, como todos os mitos, funciona como uma 
crença, uma verdadeira realidade uma ordem. Daí a dificuldade para arrancar do 
brasileiro uma confissão de que é racista. O mito proclamou no brasil o paraíso 
racial, onde as relações entre brancos e negros, brancos, brancos e índios, etc., 
são harmoniosas, isto é, sem preconceito e sem discriminação, a não ser de 
 
23 MUNANGA, Kabengele. 1996. 
ordem socioeconômica, que atinge todos os brasileiros e não se baseia na cor 
da pele. 
 
A democracia racial faz parte de um complexo que verteu para a ideologia: 
no lugar de restaurar, encobre; no lugar de revelar o invisível, esconde. No jogo 
de encobrir- revelando, revelar-descobrindo, o mito da democracia racial 
mistifica, cria a ilusão. Mais precisamente, disfarça as relações raciais no Brasil, 
isto é, o que é ideológico é percebido sob a ótica do natural, fragmentando a 
etnicidade, impossibilitando que o grupo atue coletivamente24. 
 
Se perguntarmos, hoje, a norte-americanos, sul-africanos e brasileiros 
sobre a existência de preconceito ou discriminação racial, eu suas 
respectivassociedades teremos, respostas distintas. Estadunidenses 
e Sul-africanos poderão dar respostas diretas e claras, inclusive 
apontando eventualmente que preconceitos raciais recuaram. Alguns 
franceses e alemães poderão dizer que em sua sociedade existe 
apenas xenofobia e não preconceito racial. A mesma questão feita a 
brasileiros pareceria inconveniente e até perturbadora. Muitos, não 
dariam respostas claras e diretas. Elas seriam ambíguas e fugitivas, 
para muitos ainda o Brasil não é um país preconceituoso racista, sendo 
a discriminação sofrida por negros e não brancos em geral, uma 
questão econômica ou de classe social, sem ligação com os mitos de 
superioridade e inferioridade raciais. Nesse sentido, os negros e 
indígenas e outros não brancos são discriminados por serem pobres. 
Em outros termos, negros e brancos pobres, negros e brancos da 
classe média ou negros e brancos ricos não se discriminam entre si, 
tendo em vista que pertencem a mesma classe econômica iguais. 
(MUNANGA, Kabengele.2017. p.33-34) 
 
O silêncio, o não dito, é outra característica do racismo à brasileira25. Além 
de matar fisicamente, ele alija, pelo silencio, a consciência tanto das vítimas 
quando da sociedade como um todo, branco e negros. 
 
 
24 BERNARDO, Teresinha. Racismo no Século XXI. pp. 147,148. In Ciências Sociais na 
atualidade: movimentos/ (orgs.) Teresinha Bernardo e Paulo Edgar Almeida Resende, São 
Paulo: Paulus, 2005. 
25 MUNANGA, Kabengele. 2017. 
O racismo brasileiro desmobiliza as vítimas, diminuindo sua coesão, ao 
dividi-las entre pretos e pardos. Cria a ambiguidade dos mestiços, 
dificultando o processo da formação de sua identidade quando, ainda 
não politizados e conscientizados, muitos deixam de assumir sua 
negritude e preferem o ideal do branqueamento que, segundo creem, 
ofereceria vantagens reservadas a branquitude. A figura do mestiço e 
da mestiça é muito manipulada na ideologia racial brasileira, ora para 
escamotear os problemas da sociedade, ora para combater as 
propostas de políticas afirmativas que beneficiam os que se assumem 
como negros. (MUNANGA, Kabenqele. 2017. P. 41) 
 
Nesse debate de ideias, a miscigenação, um simples fenômeno biológico, 
recebeu uma missão política da maior importância, pois dela dependeria o 
processo de homogeneização da identidade nacional brasileira. Foi nesse 
contexto que foi cunhada a ideologia do branqueamento, peça fundamental da 
ideologia nacional brasileira, pois acreditava-se que, graças ao intensivo 
processo de miscigenação, nasceria uma nova raça brasileira, mais clara mais 
arianizada, ou melhor, mais branca fenotipicamente, embora mestiça 
genotipicamente. 
 
Assim, desapareceriam índios, negros e os próprios mestiços, cuja 
presença prejudicaria a presença do Brasil como povo e nação26. 
 
Com a chegada dos anos 1930, chega também uma profunda mudança 
da orientação política, raça e o racismo seriam absorvidos por outras orientações 
políticas que, num silenciar, fariam da democracia racial o emblema da 
identidade nacional. 
 
O nacionalismo dos anos 1930 em diante assimilava o mestiço e com ele 
o preconceito de ter preconceito27. 
 
 
26 MUNANGA, Kabeguele. Prefacio In Psicologia social do racismo: estudos sobre branqitude e 
branqueamento no Brasil. Iray Carone, Maria Aparecida da Silva Bento. Petropolis. RJ. Vozes: 
2002. 
27 SILVA, Mozart Linhares. Educação, Etnicidade e preconceito no Brasil. Santa Cruz do Sul: 
Edunisc,2007, pag, 47,78 
O mito da democracia racial compôs, junto com outros símbolos da 
nacionalidade, uma ideologia formulada pelo grupo dominante capaz de 
comunicar uma visão menos desigual e contraditória da sociedade brasileira, ou 
melhor, uma visão na qual as desigualdades e as hierarquias presentes desde o 
período da fundação do Estado Brasileiro se justificassem. 
 
Entre 1930 e 1950, a questão racial é subsumida por um discurso que 
visava dar sustentabilidade à mestiçagem como elemento positivo da identidade 
nacional. 
 
Nesse contexto, a obra mais importante sobre a identidade nacional é 
Casa Grande & Senzala, publicado em 1933 por Gilberto Freyre. 
 
O elogio a mestiçagem presente na obra de Freyre funcionou como 
dispositivo para outros discursos mais acentuados no que concerne a ideia de 
nação. Entre eles o mais problemático é a ideia da inexistência do racismo no 
Brasil. 
 
A democracia racial prega que no Brasil a convivência entre negros e 
brancos ocorre sem conflitos e de forma pacífica28. 
 
Na esteira de Freyre, vários cientistas sociais norte-americanos 
procuraram entender as diferenças entre as relações raciais nos Estados Unidos 
e no Brasil. 
 
Donald Pierson (1900-1995), ao estudar as relações raciais no Brasil em 
1930, acabou por concluir a inexistência do racismo, atribuindo a inferiorização 
social do negro as permanecias do estigma da escravidão e, portanto, não à 
questão racial, mas sim ao status quo social que o negro ocupava e que como 
tempo a tendência seria a de uma harmonização da representação social entre 
negros e brancos 
 
 
28 SILVA, Mozart Linhares. Educação, Etnicidade e preconceito no Brasil. Santa Cruz do Sul: 
Edunisc, 2007, pp. 47,78 
A democracia racial enquanto ideia identitária induzida politicamente, tem 
no período Vargas um arranjo pontuado, e visava constituir uma amalgama 
nacional que viabilizasse não só uma noção de homogeneidade nacional não-
conflituada, nem mesmo de classe, mas acentuasse a ideia de povo unificado. 
 
A ideia de que em função da miscigenação o Brasil estaria imune ao 
racismo foi uma tônica durante os anos de 1930 a 1950. Entretanto, os 
diferencialismos de cor e status sociais advindos da própria situação da escala 
cromática da sociedade brasileira, que instituía hierarquizações não formais, não 
podiam ser reparadas simplesmente pela negação do racismo. 
 
A democracia racial embaçava, na realidade, as hierarquizações e os 
processos de navegações sociais advindos do status de cor, calcado como 
estava no branqueamento como condição de ascensão social 29. 
 
Em 1930, das quase 10 milhões de pessoas economicamente ativas, 6,3 
milhões dedicavam-se à agricultura (69,7%), apenas 1,2 milhão à indústria 
(13,8%) e outro 1,5 milhão ao setor de serviços (16,5%)30. 
 
No final dos aos 1930, o governo brasileiro limita o ingresso de imigrantes 
e reserva pelos menos dois terços dos postos de trabalhos para brasileiros nas 
empresas, a partir de 1931. 
 
Concomitantemente, inicia-se a expansão dos empregos públicos, o que 
segundo Monsma (2008), ajudou muitos negros, porque o racismo influenciava 
menos os concursos públicos que as decisões de emprego nas empresas 
privadas. 
 
 
29 PIERSON, Donald. Brancos e Pretos na Bahia. Estudo de contato racial. 2.ed. São Paulo: 
Companhia Editora Nacional, 1971 
30 Costa, Marcos. A história do Brasil para quem pressa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Valentina, 2016. 
epub. posição 1129. 
O trabalho no Brasil passa por intensas mudanças com o surgimento da 
carteira de trabalho e direitos trabalhistas, como a limitação da jornada de 
trabalho. 
. 
Entretanto, os segmentos beneficiados, perfazendo uma minoria da 
classe trabalhadora, sendo justamente aqueles com maior proporção de 
trabalhadores brancos31. 
 
A grande maioria da população, aproximadamente 70% da população era 
rural no início da década de 1940, tendo ficado a margem dos novos direitos. 
Boa parte da população urbana também era excluída, porque trabalhava na 
informalidade, como autônomos ou em serviços domésticos32. 
 
Os direitos trabalhistas beneficiavam muito mais o conjunto de 
trabalhadores brancos que o conjunto de trabalhadores negros porque a 
proporção de trabalhadores brancos com empregos formalizados era muito 
maior33. 
 
A extensão dos direitos trabalhistas a somente uma minoria dos 
trabalhadores aumentou ainda mais as desigualdades raciais. A divisãocentral 
entre o trabalho formalizado, com direitos, e o trabalho informal, quase sem 
direitos, perdura até hoje, sendo que em 2018, dos 91,2 milhões de 
trabalhadores no Brasil, 53,9 milhões eram formais e 37,3 milhões informais, ou 
seja, aproximadamente 40% da força de trabalho do Brasil trabalha na 
informalidade34. 
 
Some-se ainda, a questão da elevada escalada da urbanização. 
 
Theodoro, aponta que: 
 
31 FISCHER, B. A poverty of rights: citizenship and inequality in twentieh-century. Rio de Janeiro. 
Stanford: Stanford University Press.2008. 
32 FISCHER, 2008, p. 125-136. 
33 MONSMA, 2016, p. 330. 
34 Disponível em < https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/08/31/desemprego-cai-mas-
aumento-do-trabalho-informal-dificulta-retomada-da-economia.ghtml > acessado em 
10/10/2019. 
 
 A questão da urbanização, ou seja, os problemas concernentes à 
excessiva concentração de população em certas cidades mostram-se 
de maneira mais complexa a partir de 1930. Contudo, pode-se 
observar, já no final do século XIX, o início de um processo de 
aglomeração da pobreza e da exclusão nas cidades35, resultante da 
profusão de contingentes de ex-escravos. Nessa época já 
proliferavam, nas maiores cidades, as favelas, verdadeiros guetos 
onde se encontravam os pobres. No que concerne aos primeiros anos 
de trabalho livre pode-se constatar que, em 1900, a população total do 
Brasil era de 16,5 milhões de habitantes, dos quais 1,1 milhão eram 
imigrantes, os quais se concentravam nos setores de atividade mais 
dinâmicos da economia. Nos anos seguintes, até 1920, assiste-se à 
intensificação da industrialização e do crescimento urbano, sem 
maiores alterações no perfil da mão-de-obra absorvida (THEODORO, 
Mario. 2008, p.29). 
 
O estado de São Paulo tinha uma população, em 1940, de 7,1 milhões de 
habitantes, dos quais 1,3 milhão vivia na capital. Somente duas outras cidades - 
campinas e Santos – tinham populações com mais de cem mil habitantes, e 
metade da força de trabalho do Estado estava empregada na agricultura. Até 
meados dos anos 80 essa população irá mais que triplicar, para 25 milhões, e 
nessa época mais pessoas viviam na capital do que o número de habitantes de 
todo o estado em 1940. Quase 90% da população era urbana, a maior parte dela 
(12,6 milhões) morando na cidade de São Paulo e em seus subúrbios industriais. 
(ANDREWS, 1998. pp.243-244) 
 
Roger Bastide e Florestan Fernandes (Brancos e Negros em São 
Paulo,1955), tratando da questão das barreiras na escolha de uma profissão, na 
década de cinquenta, apresentam uma realidade que se mantem inalterada. 
 
 
35 Utiliza-se aqui a expressão “exclusão” em relação ao mercado de trabalho e no seu sentido 
mais simples, qual seja, o que serviu para designar os esquecidos pelo crescimento econômico, 
assim considera-se como excluídos aqueles que não tem emprego regular, ou seja, que não 
estão dentro do setor formal, e também, no que se refere ao período da escravidão, àqueles que 
estavam fora do binômio senhor-escravo. 
 
Os autores apontam que a industrialização de São Paulo permitiu ao preto 
melhorar muito a sua situação econômica, e em quase todas as profissões 
encontram-se homens de cor. Mas a curva de distribuição mostra que o preto é 
uma exceção em certos setores, ao passo que, em outros, domina, nos trabalhos 
duros ou sujos, como no trabalho manual não-especializado. 
 
Os empreiteiros dizem que ao selecionar os ajudantes, não se importam 
com a cor, mas com a capacidade; e um grande número de pretos concordam 
com o critério e consideram que não estão em condições de subir, e que um 
branco do mesmo nível profissional, tão pouco iria mais longe. Porém, outros 
estereótipos ainda funcionam, além da falta de capacidade, se referem a 
moralidade ou ao comportamento do preto 
 
“Exemplo: Por que não aceita pretos? Por causa da clientela? – Não, 
na nossa casa (acessórios de automóveis) o público não tem muita 
importância. É por causa do próprio serviço. Precisamos de pessoas 
honestas, com quem se possa contar. Ora, a maioria dos pretos não 
tem senso de responsabilidade. Além disso, precisamos de operários 
cuidadosos, as peças não podem ser retiradas e depois largadas em 
qualquer lugar. Ora, os negros não têm ordem. Outro fator importante 
aqui é a limpeza, e os pretos não têm nenhuma higiene.36 
 
Todas estas razões fazem com que o negro seja barrado. Seria fácil 
estabelecer uma lista das empresas industriais ou comerciais que não aceitam 
negros, exceto para o serviço pesado, que o branco se recusa a fazer. As 
técnicas de seleção variam alias conforme as profissões. 
 
Com a assertividade e clareza Bastide e Florestan apontam que quando 
o exame é feito por testes é ainda mais fácil recusar os candidatos negros: 
 
Faz-se preencher uma ficha de candidatura ao emprego, 
obrigatoriamente acompanhada de uma fotografia, ou então põe-se um 
sinal disfarçado para designar as pessoas de cor. Não que esse sinal 
 
36 BATISDE, Roger, FERNADES, Florestan. Brancos e Negros em São Paulo: ensaio sociológico 
sobre aspectos da formação, manifestações atuais e efeitos do preconceito de cor na sociedade 
paulistana. 4 ed. São Paulo: Global, 2008. pp 176 
seja um explicito sinal de recusa, mas o candidato será orientado para 
as firmas ou para trabalhos que aceitam pretos. 
 
Chega-se a uma forma de preconceito particularmente marcante, ou seja, 
o preconceito estético. Uma população branca na sua maioria desenvolve com 
efeito uma série de normas de beleza relacionadas com sua própria cor, e, na 
medida em que um indivíduo se afasta dessas normas, é considerado feio, sendo 
que a mulher negra é particularmente vítima desse estado de coisas37. 
 
É certo que “quanto mais o preto sobe mais encontra barreiras”, ao menos 
essa é a conclusão de Batisde e Florestan, apontando o que se depreende de 
quase todas as biografias. Essa resistência cada vez maior, à medida que 
subimos na escala social, segundo os autores, é o sinal de que o branco não se 
deixa facilmente destituir dos postos de mando e de direção. E esses brancos 
defendem asperamente o seu status, sempre que o consideram ameaçado. 
 
Contra ao negro que sobe, outros estereótipos vão agir, além dos que 
mencionamos, falta de moralidade ou de capacidade: por exemplo, diz-
se que o preto que se eleva e não tem pratica de mandar é autoritário, 
tirânico, desagradável para com os colegas e subordinados, 
pretenciosos e arrogantes, que se vinga, por meio de mesquinharias 
ou de sadismo, de todas as humilhações que possa ter sofrido para 
subir38. 
 
A evidências abrangentes de que havia no mercado de trabalho paulista 
uma discriminação sistemática, sendo que embora trabalhadores negros e 
branco experimentassem promoções em proporções comparáveis, essas 
promoções para os trabalhadores negros interrompiam-se consistentemente 
antes das posições de colarinho branco ou gerenciais. 
 
As oportunidades para os negros sempre foram mais restritas em São 
Paulo do que no Rio de Janeiro e no Nordeste, e com a chegada dos imigrantes 
elas se reduziram mais ainda. Tendo o acesso negado à educação pública 
elementar, e já marginalizada nos empregos de trabalho braçal, a população 
 
37 Idem, ibidem 
38 Idem, ibidem 
negra de São Paulo estava muito mal posicionada para lutar para ser admitida 
nesta nova classe de colarinho branco. 
 
O censo de 1900 e 1920 nada revelam dessa luta; no entanto, o censo de 
1940 indica até que ponto os negros haviam chegado nos cinquenta anos desde 
a abolição da escravidão, e quanto eles tinham ainda para caminhar. Os afro-
brasileiros estavam situados bem atrás da população branca em todas as áreas, 
e particularmente nos setores urbanos e das profissões a liberais e na posse de 
empresas industriais e comerciais. Em todo o Estado, de uma população negra 
de 826.255, somente 623 afrobrasileiros possuíam negóciosnão agrícolas, 
empregando um ou mais trabalhadores. 
 
Nas profissões liberais, os afro-brasileiros eram responsáveis por 
apenas 3,2% de todos os profissionais liberais, em um estado em que 
os negros representavam 12,2 por cento da população em idade 
produtiva (dez anos em diante). No campo, os fazendeiros negros 
pareciam à primeira vista ter conseguido mais êxito. Entretanto, 
quando se leva em conta que, 1940, o setor agrícola tinha uma 
composição desproporcionalmente negra, a sub-representação dos 
proprietários agrícolas negros é comparável aquela dos profissionais 
negros. Os pardos e os pretos compunham 15% por cento do total da 
força agrícola em São Paulo, mas apenas 5,5% dos proprietários das 
empresas agrícolas que empregavam mão-de-obra de fora da fazenda. 
(ANDREWS, 1998. pp.198-199.) 
 
O censo sugere que a única área de emprego da classe média em que os 
afro-brasileiros começaram a se aproximar de alguma paridade em sua 
representação na população como um todo foi o setor público. Entretanto, a 
maior partes destes empregos do setor estatal estava bem distante da classe 
média. Eles incluíam aqueles empregos servis, como varredores de rua, 
trabalhadores da construção, porteiros e serventes. 
 
Em si mesmo (Monsma, 2016), a divisão racial do mercado de trabalho 
deve aumentar bastante a desigualdade social. Com o monopólio quase total 
das profissões mais desejáveis, os brancos nessas posições enfrentam menos 
competição e ganham remuneração maior do que teriam se os negros tivessem 
oportunidades iguais. Por outro lado, a mesma exclusão dos negros dos níveis 
mais altos do mercado de trabalho aumenta a competição pelos empregos 
disponíveis a negros. 
 
Com a mobilidade social e intergeracional dos negros restrita as camadas 
inferiores da estrutura social, também é mais fácil aos brancos da classe média, 
e até os da elite da classe trabalhadora, garantirem que seus filhos não sofram 
a mobilidade descendente. Ou seja, o mercado de trabalho cindido também 
contribui para o engessamento da estrutura de classes sociais, ou na 
estratificação social39. 
 
As desigualdades raciais decorrentes da divisão racial do mercado de 
trabalho, do sistema escolar e da concentração regional da população branca e 
negra, se amplificavam ao longo do tempo. Em parte, isso é consequência 
“natural” da tendência de os pais transmitirem patrimônio econômico, cultural e 
social aos filhos, ou seja, usarem seus recurso para das vantagens aos seus 
filhos – por exemplo, pagando escolas particulares para seus filhos poderem 
ingressar nos cursos universitários mais disputados e alcançarem posições 
melhores no futuro, mas também é uma consequência das políticas públicas, 
que muitas vezes favorecem os brancos, especialmente quando atingem 
somente uma parte da população40. 
 
Durante a primeira metade do século, poucos paulistas eram capazes de 
completar sequer o segundo grau. Isso acontecia me parte devido ao número 
limitado de escolas de cada nível no Estado, e em parte porque a maior parte 
das famílias precisava enviar seus filhos para a força de trabalho relativamente 
cedo, em geral antes deles terem terminado a escola primária. Em vista disso, 
em 1940, menos de 2% da população de São Paulo graduou-se no segundo 
grau ou na universidade41. 
 
 
39 MONSMA, Karl Martin. A reprodução do Racismo: fazendeiros, negros e imigrantes no oeste 
paulista,1880-1914. São Carlos. EduFScar,2016. pp. 327-328. 
40 Idem, ibidem 
41 ANDREWS, 1998, p. 244. 
Estas duas condições começaram a mudar durante as décadas de 1940 
e 1950. As famílias das classes médias e operária que havia tirado proveito do 
crescimento econômico do Estado tinha agora os meios de manter alguns ou 
todos os seus filhos fora do mercado de trabalho e frequentando a escoa. E, na 
década de 1940, essas famílias tiveram acesso a uma infraestrutura educacional 
mais desenvolvida. O governo do Estado começou a expandir o sistema das 
escolas secundarias na década de 1920, e 1934 estabeleceu a Universidade de 
São Paulo, que quase que imediatamente tornou-se a principal instituição de 
ensino superior do Brasil. 
 
(...) Em 1980, como resultado do crescimento do sistema de educação 
superior de São Paulo, 9% da população do Estado graduou-se no 
segundo grau ou no ensino superior. O índice de aumento foi mais 
rápido ainda entre os afro-brasileiros, embora esse índice tenha se 
elevado em comparação com a base chocantemente baixa da 
realização educacional dos negros em 1940: o censo desse ano 
indicou que apenas 344 afrobrasileiros, de uma população negra total 
de 862.255, graduaram-se no nível superior; 1.717 formaram-se no 
segundo grau. Em 1950, a situação melhorou um pouco no segundo 
grau, onde o número de graduados negros duplicou, para 3.538. 
Entretanto, o número de brancos que se graduou no segundo grau 
quase triplicou durante o mesmo período, de 101.617 para 297.653; 
embora o número de brancos que se graduaram na universidade tenha 
aumentado em quase 50%, 28.882 para 44.562, o número de afro-
brasileiros graduados na universidade realmente declinou para 265. 
Em 1940, aproximadamente 1 entre 2500 afrobrasileiros que viviam no 
estado era formadas no nível superior; em 1950, essa proporção caiu 
para 1 entre 3.850. (ANDREWS, 1998. p. 246) 
 
Segundo Terezinha Bernardo (2013), em uma sociedade em que a 
desigualdade social, econômica, política entre brancos e negros é imensurável 
ela alastra-se penetrando nas várias dimensões, da vida da população afro-
brasileira atingindo o próprio corpo do negro. 
 
A partir de 1950, forma-se um grande consenso teórico, que transformará 
o processo de industrialização em onipresente de todos os fenômenos sociais 
brasileiros. Tal paradigma se consubstancia na ideia de transição, seja do 
tradicional para o moderno, seja do patrimonial para a ordem social competitiva, 
seja do escravismo para o capitalismo, seja do capitalismo mercantil para o 
capitalismo industrial42. 
 
Os anos 60, assistiram ao avanço da teoria das classes e a consolidação 
da influência do marxismo, e de todas as formas de explicação estrutural, na 
Sociologia brasileira. A vontade de desenvolvimento econômico e social passou, 
cada vez mais a vincular-se a uma expectativa de que classes sociais (fosse o 
empresariado industrial, fosse operariado nascente, fossem as classes médias) 
adquirissem a consciência necessária para assumir o que se pensava o seu 
papel histórico: quer a superação das oligarquias agrarias no poder, quer a 
implantação socialismo. 
 
Entretanto, o realismo ontológico das ciências sociais buscava o 
conhecimento de essências e a formulação de explicações causais, 
negligenciando a tecedura discursiva e metafórica que escondia o racismo sob 
uma linguagem de status e de classe. Desse modo, a simetria entre o discurso 
classista e racial no Brasil, quando percebida, foi tomada, por equívoco, como 
prova de insignificância das “raças”. 
 
A invisibilidade da discriminação racial no Brasil se deve ao fato de que 
os brasileiros, em geral, atribuem à discriminação de classe a destituição 
material a que são relegados os negros. O termo “classe”, utilizado dessa 
maneira, passa a significar, ao mesmo tempo, condição social, grupo de status 
atribuído, grupo de interesse e forma de identidade social. 
 
 Tratava-se, porém, de uma tendência mundial43. No pós-guerra, a luta 
antirracista foi muito clara e precisa em seus objetivos: demonstrar o caráter não 
científico e mitológico da noção de “raça”, e denunciar as consequências 
inumanas e barbaras do racismo. Ambas as metas foram levadas a cabo num 
 
42 GUIMARAES, Antônio Sergio Alfredo. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 
2012. p. 15. 
43 GUIMARAES, Antonio Sergio Alfredo. Racismo e antirracismo no Brasil São Paulo: Editora 34, 
2009. p. 43. 
ambiente de vívido realismo e deexperiencia empírica, que prescindiam de 
maiores justificativas ontológicas: o holocausto e a desmoralização das “raças” 
como conceito científico. 
 
O antirracismo aglo-americano, entretanto, não foi um participante menos 
ativo na mistificação e idealização do Brasil como “paraíso racial”. Hellwing 
(1992) reúne impressões de viajantes e cientistas sociais norte-americanos 
negros sobre o Brasil, entre 1910 e 1940, sem um único registro sobre 
discriminação racial no país; de 1940 a 1960, os registros de discriminação são, 
em geral, ambivalentes, ou subsumidos em raciocínios classistas44. 
 
As percepções começaram a mudar apenas quando a segregação racial 
foi desmantelada nos Estado Unidos, em consequência do Movimento dos 
Direitos Civis. Foi aí que as desigualdades raciais passaram a ser claramente 
atribuídas à operação de mecanismos sociais mais sutis – a educação escolar, 
a seletividade do mercado de trabalho, a pobreza, a organização familiar, etc. 
 
Desde então, a denúncia das desigualdades raciais, mascaradas em 
termos de classe social ou de status, passou a ser um item importante na pauta 
antirracista. 
 
Paralelamente, neste século, houve uma mobilização coletiva dos negros 
brasileiros, que começa com a Frente Negra Brasileira, anos 30 em São Paulo, 
que tem como alvo principal a luta contra a segregação espacial e social dos 
negros, registrada sistematicamente nos fatos correntes de discriminação racial 
informal e ilegal. O Teatro Experimental do Negro, nos anos 50, ampliará a 
agenda antirracista no Brasil, incluindo de forma incisiva, a luta contra a 
introjeção do racismo pela população negra, por meio do ideal de 
embranquecimento, dos valores estéticos brancos e da detração da herança 
cultural africana. Apenas nos anos 80, o movimento negro passa a assumir, 
cada vez mais, um discurso racialista e multicultural. 
 
 
44 HELLWIG, David J. African-American Reflections on Brazil’s Racial Paradise. Philadelphia: 
Temple University.1992. 
Assim, abriu-se uma outra frente de luta, agora contra desigualdades 
raciais, ou seja, para além das discriminações raciais cometidas individualmente, 
passa-se a combater também a estrutura injusta de distribuição de riquezas, 
prestígio e poder entre brancos e negros. Essa frente, descolada agora de 
qualquer ideário monocultural e universalista – como o socialismo -, irá 
desembocar, mais tarde, na reivindicação de políticas corretivas, 
compensatórias ou afirmativas, voltadas para a população negra. 
 
Estatisticamente, está bem estabelecido e demonstrado o fato de que a 
pobreza atinge mais os negros que os brancos, no Brasil. Mais que isto: está 
também demonstrado na literatura sociológica, desde os anos 1950, que, no 
imaginário, na ideologia e no discurso brasileiros, há uma equivalência entre 
preto e pobre, por um lado, e branco e rico, por outro45. 
 
Há, portanto, no Brasil, seja na mentalidade popular, seja no pensamento 
erudito, seja na demografia ou na sociologia, economia ou na antropologia, seja 
entre governantes e governados de que os pobres são pretos e os ricos são 
brancos. 
 
Guimarães (2012) faz o seguinte questionamento: Quais as causas da 
pobreza negra? 
 
A explicação normalmente aceita, tanto pelos governos, quanto pelo 
povo é de que a discrepância entre brancos e negros se deve ao 
passado escravista. Seria, portanto uma herança do passado, que 
desapareceria com o tempo. Tal explicação, embora tenha um cerne 
de verdade, esconde alguns problemas graves. Primeiro, isenta as 
gerações presentes de responsabilidade pela desigualdade atual; 
segundo, oferece uma desculpa fácil para a permanência das 
desigualdades (“como reverter em cinco anos o que é produto de cinco 
séculos”, esta tem sido a frase mais repetida pelos diversos governos 
republicanos); terceiro deixa sugerido que os diversos governos tem 
buscado corrigir, gradualmente, tais disparidades (as vezes, mais que 
sugerido, o argumento é explícito entre os economistas: é preciso que 
 
45 GUIMARAES, 2009. 
o a economia cresça para que os problemas socias resolvam-se) 
(GUIMARAES, 2009.p. 72) 
 
Contra tal explicação conservadora têm se insurgido, ao longo dos anos 
(pelos menos desde 1930 de forma organizada), as lideranças negras, para as 
quais as causas da pobreza negras são a falta de oportunidades, o preconceito 
e a discriminação racial. 
 
Até bem pouco tempo46, (a mudança pode ser datada de 1988), quando 
se escreveu a atual Carta Constitucional, os argumentos das lideranças negras 
eram peremptoriamente rejeitados: não haveria nem discriminação, nem 
preconceitos raciais, sendo a pobreza negra puramente pobreza. Atualmente, 
nota-se uma mudança importante, tanto governo, quanto opinião pública 
reconhecem, em alguma medida, a discriminação racial47. 
 
Hasenbalg e Silva (1992) chamam de “ciclo cumulativo de desvantagens” 
dos negros. As estatísticas demonstram que não apenas o ponto de partida dos 
negros é desvantajoso (a herança do passado), mas que, em cada estágio da 
competição social, na educação e no mercado de trabalho, somam-se novas 
discriminações que aumentam tal desvantagem. Ou seja, as estatísticas 
demonstram que a desvantagem dos negros não é apenas decorrente do 
passado, mas é ampliada no tempo presente, através das discriminações48. 
 
O mais importante é o caráter dessa discriminação. Dificilmente se 
poderia afirmar, para o Brasil, como se fez, no passado, para os Estados Unidos 
ou para a África do Sul, que o fator racial seja um motivo de discriminação 
 
46 Idem. 
47 A administração Fernando Henrique Cardoso reconheceu publicamente, em diversas 
oportunidades que existe racismo no Brasil. No plano da opinião pública, pesquisa Datafolha, 
realizada em 19995, mostrou que 89% dos brasileiros também acreditam que os brancos tem 
preconceito contra os negros e 58% acham que o fato de a população negra viver em condições 
piores que a branca se deve ao favorecimento e à discriminação dos brancos aos negros 
(Datafolha, 1995) 
48 HASENBALG, Carlos; Silva, Nelson do Valle. (1992). Relações raciais no Brasil. Rio de Janeiro: 
Rio Fundo Editora 
explicito ou diretamente detectável. Ao contrário, no Brasil, o fator racial está, 
geralmente, diluído numa série de características pessoais, todas da ordem 
atribuída. 
 
Tome-se, como exemplo, o acesso ao trabalho, que 45% dos negros 
brasileiros, segundo o Datafolha (1995), consideram ser o principal problema 
que a população negra enfrenta, no Brasil. No mercado de trabalho, valores 
estéticos e comportamentais (como já apontavam Batisde e Florestan), que se 
traduzem na noção de “boa aparência”, são, em parte, grandes responsáveis 
pela discriminação dos negros e dos pobres. Além da “boa aparência”, para os 
jovens universitários que buscam emprego, outro fator decisivo é o renome da 
sua universidade, sendo que as universidades públicas e gratuitas, de ingresso 
mais concorrido, são muito mais bem aceitas pelo mercado que as universidades 
privadas, sendo que poucas universidades privadas fogem dessa regra. 
 
De outro lado, em parte alguma da economia de São Paulo os salários 
dos negros são iguais aos dos brancos49, os negros são contratados para os 
cargos de classe média em proporções muito mais baixas que aquelas dos 
brancos, e uma vez que estejam em posições, recebem muito menos. 
 
Se inquirida a maior parte dos patrões brasileiros negaria prontamente 
que discriminam os candidatos negros a empregos em suas firmas, pois um ato 
desses seria um pecado mortal em uma democracia racial. Andrews, aponta que 
é interessante notar que embora a maior parte destes executivos reconhecem a 
prática de algum grau de discriminação, muito poucos aceitariam a 
responsabilidade por essas práticas. Em vez disso responsabilizavam suas 
ações à recusa do “público”, ou dos trabalhadores da firma, ou da chefia mais 
elevadaou de alguma combinação disso tudo. 
 
O racismo contra os negros brasileiros não se apresenta apenas em 
práticas interpessoais visíveis, uma ostensiva manifestação de grupo contra 
grupo e, finalmente, de indivíduo contra indivíduo. A subordinação impingida 
 
49 ANDREWS, 1998. p. 254. 
sobre africanos e afrodescendentes formou uma herança que se cristalizou em 
instituições, formou procedimentos muitos automáticos e mais invisíveis de 
rebaixamento e segregação. A burocracia, habitualmente, participa dos 
preconceitos racistas e os vem reiterar, movimentando-os de modo mais ou 
mesmo mecânico, interpessoal. 
 
Chega a parecer que o racismo não dependeria mais de seus praticantes 
e que, por assim dizer, funcionária por si só, quase dispensando nossa 
consciência e nossa motivação. Todavia, essas instituições, para serem 
derrubadas ou superadas, dependem de práticas que constituam um 
contrapoder. E, nas horas de constituição e exercício de um contrapoder, tudo o 
que estava institucionalmente amortecido reaparece de movo vivido: o os 
antagonismos voltam a manifestar-se ativamente. 
 
Com práticas de contratação e promoção como estas, quem precisa da 
ideologia racista? E na verdade há uma ideologia racista por trás dessas ações, 
a ideologia dos brancos, segundou rotulou Octávio Ianni, ideologia está também 
enfatizada por Andrews (1998), que é parte da classe média paulista. 
 
Ela emerge rápida e frequentemente em conversas com membros dessa 
classe, e disso deduz-se que eles não a consideram socialmente objetável. Essa 
ideologia aceita os princípios da democracia racial e da igualdade formal, mas 
exige que os negros não testem esses princípios tentando empurrá-los para 
posições onde eles são “indesejados”, ou seja, para procurar melhor educação, 
empregos, habitação, etc. 
 
Esses brancos expressam um forte desejo de harmonia racial, mas depois 
insistem que permaneça em “seu lugar” e não criam “situações desagradáveis” 
de competição e desafio. 
 
Essa ideologia dos brancos, continua Andrews, também contém um 
poderoso componente de estereótipo antinegros que tem suas raízes profundas 
na história, no folclore e na cultura brasileira, mas que vai soar dolorosamente 
familiar a qualquer cidadão dos Estados Unidos. 
 
Torna-se determinante entender a dinâmica da sociedade brasileira e por 
sua vez também a paulista, que desde o período colonial, em grande parte 
devido a sua intima associação com a escravidão, o trabalho braçal no Brasil é 
considerado uma condição socialmente degradante e humilhante. O serviço de 
casa, considerado fundamental na vida doméstica nos Estados unidos – lavar e 
passar roupa, lavar o carro, cortar a grama, serviços de carpintaria e pequenos 
consertos – é encarado no Brasil como improprio e inadequado para as pessoas 
de classe média. 
 
O fato central da vida da classe média no Brasil, é que ela representa uma 
fuga do mundo de trabalho braçal, do mundo do povo, degradado e associado a 
pobreza. Por isso os empregos de colarinho branco carregam consigo benéficos 
psicológicos que complementam, e as vezes excedem, seus benefícios 
financeiros. 
 
Aqueles que competem pelo status do colarinho branco usam todos os 
recursos de que dispõem: educação, ligações pessoais e familiares, boa 
aparência e status racial. 
 
Na virada do século, os imigrantes usavam esse status para conseguir 
obter posições vantajosas no mercado de trabalho; e nas décadas 
recentes seus descendentes, os euro-brasileiros de segunda e terceira 
geração, repetiam esta realização, embora agora no nível da classe 
média. Como executivos e empregadores, como trabalhadores e como 
consumidores de bens e serviços, os brancos de São Paulo uniram-se 
para pôr em pratica a “solidariedade racial” prevista por Batisde e para 
reservar para eles próprios as áreas mais cobiçadas do mercado de 
trabalho paulista (ANDREWS, 1998. p.265) 
 
 
 
 
 
 
 
 
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