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LETÍCIA ARRUDA – UFPE Antibióticos no tratamento da doença periodontal Medicamentos que eliminam ou bloqueiam a multiplicação de bactérias em concentrações que são relativamente inócuas aos tecidos do hospedeiro e podem ser usados para tratar as infecções causadas por bactérias. São um grupo de agentes antimicrobianos, que incluem antivirais, antifúngicos e antiparasitários. A capacidade de o medicamento chegar ao local infectado e de as bactérias-alo resistirem ou desativarem o agente determina a efetividade da terapia. Com base no efeito em concentração toleradas pelos hospedeiros: bactericidas X bacteriostáticas. Dependendo da gama de bactérias suscetíveis: espectro estreito X amplo espectro. Problemas emergentes do uso generalizado dos antibióticos: muitas bactérias desenvolveram capacidade significativa de resistir aos agentes antibióticos ou repeli-los. Princípios do uso de antibióticos em periodontia Lembrando da etiopatogenia das DP, sabemos que a partir do desenvolvimento de um biofilme, de uma comunidade microbiana é que os primeiros sinais e sintomas das DP vão aparecer. A partir do momento que a placa supragengival não é removida e ela atinge um determinado nível tanto qualitativo quanto quantitativo de complexidade bacteriana, isso começa a ser incompatível com a saúde gengival levando ao desenvolvimento da gengivite. A placa supragengival é o fator etiológico principal na inflamação gengival. A placa subgengival, derivada da placa supragengival, está associada às lesões avançadas das doenças periodontais. É essa palca subgengival que esta associada as lesões mais avançadas das DP. Se essa gengivite não for tratada ela poderá, em algum momento, evoluir para uma periodontite. A partir do momento que se tem perda de inserção, perda óssea, formação de bolsa, essa placa que estava apenas na parte supragengivel vai ganhando a região subgengival. O reconhecimento da periodontite como uma infecção causada ou sustentada por bactérias presentes nos locais doentes é fundamental para qualquer conceito de tratamento antimicrobiano. Os antibióticos podem eliminar ou suprimir as bactérias residentes, mas não são capazes de remover o cálculo e os resíduos bacterianos, o que é considerado crucial na terapia pediodontal. Caso Nesses 3 casos, faz sentido prescrever o antibiótico? NÃO! LETÍCIA ARRUDA – UFPE Nada vai adiantar se não remover o biofime. O primeiro pilar da terapia periodontal será sempre a remoção mecânica tanto do biofilme, quanto do cálculo sub e supragengival. A presença contínua de grandes massas de bactérias sobre as superfícies orais duras induz à inflamação nos tecidos moles adjacentes, como a gengiva e mucosa. Portanto, a importância da eliminação dos depósitos bacterianos para a resolução da gengivite ou da mucosite peri-implantar é inquestionável. Entretanto, a instrumentação mecânica sozinha pode não ser capaz de remover completamente os patógenos periodontais de todos os locais infectados. Bactérias podem ser inacessíveis aos instrumentos mecânicos em concavidades, lacunas, túbulus dentinários e nos tecidos moles invadidos. Trauma substancial no tecido duro pode surgir a partir de tentativa de instrumentação repetida em locais que não respondem ou com doença recorrente. Locais tratados com sucesso podem ser recolonizados por patógenos persistentes das áreas não dentárias. Características específicas da infecção periodontal Os microrganismos nos depósitos subgengivais podem causar danos aos tecidos sem penetrá-los. A invasão e a multipicação das bactérias nos tecidos periodontaos não são consideradas indispensáveis para o desenvolvimento da doença. Para serem efetivos, os agentes antimicrobianos usados na terapia periodontal precisam estar disponíveis em concentração alta suficientemente não apenas dentro, mas também fora dos tecidos afetados. O biofilme dentário tem a maioria das características de outros biofilmes atualmente conhecidos, com a resistência antimicrobiana bem maior. Patôgenos periodontais, como Aa e Pg possuem niveis mais altos de tolerância a vários agentes antimicrobianos quando incorporados pelos biofilmes do que como células planctônicas (isolados). Consenso geral: doenças periodontais não devem ser tratadas apenas com agentes antimicrobianos. O debridamento mecânico completo precisa sempre ser realizado para desfazer os agregados estruturados que protegem as bactérias incorporadas e reduzir acentualmente a massa microbiana que pode inibir ou degradar o agente antimicrobiano. Vias de administração Na terapia das doenças periodontais: via sistêmica (oral) ou por inserção direta na bolsa periodontal. A local tem diferentes formas, a da imagem por exemplo é um chip em que o antimicrobiano fica empregnado nesse chip que vai ser inserido diretamente na bolsa periodontal e vai ficar liberando o antimicrobiano somente naquele ponto que essa estrutura foi inserida. Nesse segundo caso, também local, tem-se a aplicação de um gel que é inserido na bolsa periodontal. LETÍCIA ARRUDA – UFPE Via de administração sistêmica Medicamentos mais investigados para o uso sistêmico: Tetraciclina Minociclina Doxiciclina Clindamicina Ampicilina Amoxicilina (com ou sem ácido clavulânico) Macrolídeos Eritromicina Espiramicina Azitromicina Claritromicina Metronidazol Ornidazol Compostos do nitroimidazol Combinações derivadas Os primeiros antibióticos usados na terapia periodontal foram as penicilinas administradas sistemicamente. A escolha foi inicialmente baseada em evidências empíricas. As penicilinas e as cefalosporinas agem inibindo a síntese da parede celular. Elas têm espectro estreito de atividade e são bactericidas. A estrutura molecular das penicilinas inclui um anel betalactâmico que pode ser clivado por enzimas bacterianas. Algumas betalactamases bacterianas têm alta afinidade pelo ácido clavulânico, uma molécula betalactâmica sem atividade antimicrobriana. Para inibir a atividade betalactamase bacteriana o ácido clavulânico foi adicionado com sucesso à amoxilina. Amoxicilina é escolhida para o tratamento da doença periodontal – considerável atividade contra os vários patógenos periodontais em níveis alcançáveis no líquido gengival. Tetraciclinas, clindamicina e macrolídeos: São inibidores da síntese de proteína, amplo espectro e bacteriostáticos Além do efeito antimicrobiano, as tetraciclinas são capazes de inibir a colagenase. Capacidade de unir-se às superfícies dentárias, a partir de onde podem ser liberadas lentamente com o tempo. Nitroimidazois (metronidazol e ornidazol) e Quinolonas (ciprofloxacino): inibidores da síntese de DNA. Metronidazol: especificamente ativo contra a parte obrigatoriamente anaeróbica da microbiota oral (Pg e outros microorganismos GRAM-negavitos pigmentados negro), mas não contra Aa (anaeróbica facultativa). Então, entende-se que dificilmente vai existir um único antimicrobiano que sendo prescrito dará conta dos diferentes patógenos periodontais. Associações de antimicrobianos Microbiota subgengival na periodontite abriga várias espécies patológicas para o periodonto, com diferentes suscetibilidades antimicrobianas. Combinação de agentes antimicrobianos com atividade de espectro mais amplo é mais interessante do que um agente único. Superposições nos espectros antimicrobianos podem reduzir o possível desenvolvimento de resistência bacteriana. Reações adversas LETÍCIA ARRUDA – UFPE Terapia antimicrobiana sistêmica em ensaios clínicos: Pacientes tratados com antibióticos (estudos clínicos): Nas bolsas profundas, um benefício específico em termos de mudança do nível de inserção clínica periodontal para a combinaçãode amoxicilina + metronidazol. Antibióticos tem efeito maior nos locais com bolsas profundas. RAR + amoxicilina + metronidazol Cronologia da terapia antibiótica sistêmica É recomendado que a terapia antimicrobiana comece imediatamento depois da terapia mecânica, ou seja, na noite após a última sessão do tratamento cirúrgico. Seleção dos pacientes para antibióticos sistêmicos Antibióticos sistêmicos devem ser considerados adjunvantes à RAR para os pacientes com: Bolsas profundas Formas de evolução rápida da periodontite (GRAU C) Locais “ativos” Perfis microbiológicos específicos Observar critérios: Gravidade da doença Envolvimento do paciente Diagnóstico Perfil microbiológico Risco de eventos adversos Com isso, entendemos que: Bolsas profundas são mais beneficiadas pelo uso de antibióticos do que as rasas. ATBs não devem ser prescritos para contrabalançar debridamento mecânico incompleto. Bom controle de placa, pelo paciente, é de fundamental importância. Diagnóstico: Periodontite estágios III e IV e grau C – amoxicilina + metronidazol. Indicação potencial desse regime especialmente nos casos de lesões com supuração ativa (muita secreção purulenta). Perfil microbiológico: amoxicilina + metronidazol Capacidade comprovada de suprimir Aa de lesões periodontais e outros locais orais, Portante, é a primeira escolha para tratamento da periodontite estágios III e I, ou Grau C associada a Aa. O padrão incisivo/molar tem uma característica de associação com Aa, então diante desses casos deve-se ponderar essa combinação. Risco de eventos adversos deve ser considerado, especialmente quando prescrito mais do que um antibiótico. Frequência x consequências dos efeitos Consequências para a saúde (de não suprimir rapidamente a infecção periodontal) = inconveniência, desconforto e financeiras de mais terapias. Fora as consequências sistêmicas. Estratégias para reduzir risco de resistência bacteriana aos antimicrobianos Para limitar o desenvolvimento da resistência microbiana antibiótica em geral e evitar risco dos efeitos sistêmicos indesejáveis é importante uma atitude cautelar e restritiva diante do uso dos ATBs. Combinação de agentes pode ser vantajosa. Preferível fornercer altas doses durante um menor tempo. Toda terapia antimicrobiana deve ser precedida por debridamento mecânico. Não prescrever quando o debridamento mecânico não cirúrgico conseguir solucionar o problema, como nos casos das periodontites estágios I e II e Grau A e B. LETÍCIA ARRUDA – UFPE Considerações finais: A administração de antibiótico, sistêmica ou localmente, pode melhorar o efeito da terapia periodontal. Limitar uso excessivo! Benefício adicional à RAR no tratamento de bolsas profundas reduzindo a necessidade de terapia cirúrgica adicional. Antibióticos sistêmicos úteis como adjuntos no retratamento dos casos com resposta insatifastória à terapia mecânica. Podem ser tratados com antibióticos locais, aqueles casos que não respondem ao tratamento e a doença é recorrente localizada. Depois da resolução da infecção periodontal, o paciente deve ser colocado na TPS para prevenir reinfecção. RAR + amoxicilina + metronidazol orais são a combinação mais bem documentada na literatura. RAR + metronidazol ou com azitromicina podem ser considerados, espcialmente nos pacientes com periodontite estágios III e IV.
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