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Medidas Cautelares e Prisão Processual Penal

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Prisão, Medidas Cautelares e Liberdade Provisória
Parâmetros que devem orientar o juiz na fixação das medidas cautelares (art. 282, CPP):
· Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; e
· Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
Rol de medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, CPP):
A. comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;
B. proibição de acesso ou frequencia a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
C. proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
D. proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
E. recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
F. suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
G. internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26, CP) e houver risco de reiteração;
H. fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
I. monitoração eletrônica. 
O juiz, diante do caso, pode optar pela aplicação de uma ou mais destas medidas cautelares (art. 282, §1º, CPP).
O juiz pode aplicar de ofício as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP? Depende. O juiz pode aplicar as medidas cautelares, inclusive de ofício, durante o processo penal. Mas, na fase de investigação, para imposição das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, o juiz depende de representação da autoridade policial ou de requerimento do MP (art. 282, §2º, CPP). Assim, o juiz não pode aplicar de ofício tais medidas cautelares no curso do IP.
Ao receber um pedido de aplicação de qualquer dessas medidas cautelares, o juiz deverá proceder à intimação do investigado/acusado, possibilitando, assim, que tome ciência e se manifeste. Tal regra não deve ser observada no caso de urgência ou de perigo de ineficácia da medida caso haja ciência prévia (art. 282, §3°, CPP).
Se o acusado/investigado descumprir a medida cautelar que lhe foi imposta, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do MP, do assistente de acusação ou do querelante, poderá substituir a medida, cumulá-la com outra, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva. Do mesmo modo, é possível que o juiz determine a revogação da medida cautelar ou sua substituição por outra, quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem (art. 282, §§ 4° e 5°, CPP).
-art. 282, §6°,CPP: a prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar.
PRISÃO PROCESSUAL PENAL
Prisão é a constrição da liberdade ambulatória, ou seja, a restrição da liberdade de ir e vir. Em matéria processual penal, a prisão é chamada de provisória ou cautelar. Esta prisão é decretada antes do trânsito em julgado, com o objetivo de assegurar a eficácia das investigações ou do processo criminal.
A prisão processual deve ser medida excepcional, necessária e devidamente fundamentada, em respeito à garantia constitucional da presunção de inocência.
Súmula Vinculante 11 do STF reserva o uso de algemas para hipóteses excepcionais, de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros. 
art. 292, §ú, CPP: dispõe que é vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério imediato.
Espécies de prisões cautelares:
a) prisão em flagrante; b) prisão preventiva; e c) prisão temporária. A Lei 12.403/11 passou a prever, ainda, a possibilidade de prisão domiciliar, em substituição à prisão preventiva.
Toda prisão cautelar se funda na conjugação de dois pressupostos:
· fitmus comrníssí delíctí: prova da materialidade e indícios suficientes de autoria;
· periculum libertatis: demonstração do perigo concreto que a liberdade do agente representa para a persecução penal.
PRISÕES CAUTELARES EM ESPÉCIE
-Prisão em Flagrante
Espécies de flagrante: art. 302, CPP
· Flagrante próprio/real: agente está cometendo a infração penal ou acabou de cometê-la;
· Flagrante impróprio/irreal/quase flagrante: agente é perseguido, logo após o fato, em situação que faça presumir ser ele o autor da infração. "Logo após" é o período de tempo transcorrido entre o acionamento da polícia, seu comparecimento ao local e a perseguição imediata ao autor da infração penal.
Existe um prazo para que o agente seja preso em flagrante? A rigor, não! Se o agente for alvo de perseguição ininterrupta, a situação de flagrância pode perdurar por dias.
A perseguição, para caracterização deste flagrante, deve ser ininterrupta.
 
· Flagrante presumido/ficto/assimilado: agente é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas ou objetos que façam presumir ser ele o autor da infração. 
· Flagrante preparado/provocado: agente atua sob a influência de um agente provocador, alguém que o leva a praticar a infração penal. Este flagrante é ilegal, configura crime impossível, por ineficácia absoluta do meio (Súmula 145, STF).
· Flagrante esperado: autoridade policial limita-se a aguardar o momento da prática do delito. Não há qualquer indução (não há agente provocador). O flagrante é legal.
· Flagrante prorrogado/retardado/postergado/diferido: polícia retarda sua atuação, e aguarda o momento de prisão mais oportuno para a investigação ou colheita de provas. 
Sujeitos do flagrante (art. 301, CPP):
-Sujeito ativo:
• Flagrante facultativo: qualquer do povo pode prender em flagrante.
• Flagrante obrigatório: a autoridade policial e seus agentes devem prender a pessoa que se encontre em flagrante.
-Sujeito passivo: Em regra, qualquer pessoa pode ser presa em flagrante. Exceção: Presidente da República.
Flagrante nas várias espécies de crimes
· Crimes permanentes: crimes em que a consumação se prolonga no tempo, ex: sequestro. Nesse caso, é possível a prisão do agente em flagrante enquanto não cessar a permanência.
· Crimes habituais: crimes que exigem reiteração de condutas para se caracterizar. Ex: exercido irregular da medicina, arte dentária ou farmacêutica. Um ato isolado não caracteriza o crime, mas sim a prática de vários atos, o exercício. Por isso, há divergência na doutrina. Alguns defendem que é possível a prisão em flagrante, desde que se comprove a reiteração de condutas. Outros entendem que não é possível a prisão em flagrante, pois no momento da prisão o agente estaria praticando somente um ato, e um ato isolado não configura o crime.
· Crime de ação penal privada ou ação penal pública condicionada à representação: é possível a prisão em flagrante, ficando a lavratura do auto de prisão em flagrante condicionada à manifestação do ofendido (vítima)
· Crimes formais: é possível a prisão em flagrante, que deve ocorrer enquanto o agente estiver em situação de flagrância, praticando a conduta, e não no momento posterior, de exaurimento do delito.
· Infrações penais de menor potencial ofensivo: no caso das infrações de competência do juizado especial criminal, de acordo com o art. 69, parágrafo único, da Lei 9.099/95: "ao autor do fato que, após a lavratura do termo, forimediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança".
Formalização da prisão em flagrante: Após a captura do agente, tem início a formalização da prisão em flagrante. As providências que envolvem a formalização da prisão são as seguintes: 
· Apresentação do preso à autoridade policial do local onde ocorrer a captura;
· Oitiva do condutor, ou seja, aquele que conduziu o preso até a autoridade policial;
· Oitiva de testemunhas (também é pertinente ouvir a vítima, embora a lei não preveja). São necessárias no mínimo duas testemunhas para formalização do flagrante;
O condutor pode atuar como testemunha? Sim, admite-se que o condutor seja considerado, também, testemunha para a formalização da prisão em flagrante.
E se não houver testemunhas do fato? De acordo com o art. 304, §2°, do CPP, deve-se providenciar duas testemunhas que tenham presenciado a apresentação do preso à autoridade policial.
· Declarações da pessoa presa, que deve ser previamente cientificada de seus direitos, como o de comunicação da prisão à pessoa que indicar, de possibilidade de assistência de advogado, e de permanecer calada;
· Comunicação e remessa do auto de prisão em flagrante à autoridade judiciária competente, em 24h;
· Caso o autuado não possua advogado, cópia do auto de prisão em flagrante deve ser remetida à defensoria pública;
· Entrega da nota de culpa ao preso. Nota de culpa é o documento que informa os responsáveis pela sua prisão e o motivo desta. Deve ser entregue ao preso em até 24h após a sua captura.
-Prisão preventiva: pode ser decretada tanto durante o processo quanto durante a fase de investigação. É possível a decretação de prisão preventiva de ofício pelo juiz? O juiz somente pode decretar a prisão preventiva na fase de investigação se houver requerimento do MP, do querelante ou do assistente, ou representação da autoridade policial. Assim, de acordo com o CPP, o juiz pode decretar de ofício a prisão preventiva somente no curso do processo, não podendo decretá-la de ofício na fase de investigação. Porém, deve-se ficar atento às disposições de leis especiais. Seguindo a literalidade do art. 20, caput, da Lei 71.340/06, que prevê a possibilidade de decretação de prisão preventiva de ofício em crimes envolvendo violência doméstica contra a mulher.
Pressupostos da prisão preventiva (art. 312, caput, CPP:
Fumus commissi delicti: prova da existência do crime e por indícios suficientes de autoria.
Periculum libertatis: a liberdade do agente implica um prejuízo para o andamento das investigações ou do processo criminal. Funda-se, em qualquer uma das seguintes hipóteses:
-Garantia da ordem pública: Normalmente, é associada à gravidade do crime, à periculosidade do agente e à possibilidade de reiteração criminosa. Todavia, a gravidade do crime, por si só, não é motivo para decretação da prisão preventiva;
-Garantia da ordem econômica;
-Garantia de aplicação da lei penal: parte de dados concretos que indicam a iminência de fuga pelo investigado/acusado, inviabilizando a futura execução da pena;
-Conveniência da instrução criminal: necessidade da prisão, objetivando impedir que o agente traga algum prejuízo à produção das provas, por exemplo, ameaçando testemunhas, destruindo documentos etc.
-art. 312, CPP: a prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, §4º, CPP)
Hipóteses de cabimento da prisão preventiva (art. 313, CPP)
· Crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos;
· Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64, CP;
· Crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência; para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
· Houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.
-art. 315,CPP: a decisão que decreta a prisão preventiva deve ser fundamentada.
Há possibilidade de substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar.
São requisitos para a substituição da prisão preventiva pela domiciliar, de acordo com o art. 318 do CPP, que o agente apresente prova idônea de alguma das seguintes situações:
· seja maior de 80 anos; 
· esteja extremamente debilitado por motivo de doença grave;
· seja imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos de idade ou com deficiência; 
· seja gestante; 
· trate-se de mulher com filho de até 12 anos de idade incompletos; 
· tratando-se de homem que seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 anos de idade incompletos.
Prisão temporária: temporária é cabível:
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
lI - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: homicídio doloso, sequestro ou cárcere privado, roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro, estupro, atentado violento ao pudor, rapto violento, epidemia com resultado de morte, envenenamento de água potável ou substancia alimentícia/medicinal qualificada pela morte, associação criminosa, genocídio e qualquer de suas formas típicas, tráfico de drogas, crimes contra o sistema financeiro, crimes previstos na Lei de Terrorismo.
1) somente é cabível a prisão temporária durante a fase de investigação. Não é possível decretar a prisão temporária durante o processo.
2) não é possível ao juiz decretar a prisão temporária de ofício, é necessário que haja requerimento do MP ou representação da autoridade policial para o juiz decretar tal prisão;
3) somente é cabível a prisão temporária nos crimes previstos no art.-1°, 111, da Lei 7.960/89. 
Prazo: até 5 dias, prorrogáveis por igual período, em caso de extrema e comprovada necessidade. No caso de crimes hediondos e equiparados a hediondos, o prazo de duração da temporária é de até 30 dias, prorrogáveis por igual período, em caso de extrema e comprovada necessidade. Findo o prazo da temporária sem prorrogação, o preso deve ser imediatamente solto.
RELAXAMENTO DE PRISÃO, REVOGAÇÃO DE PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA
Relaxamento de prisão: cabível quando se está diante de uma prisão ilegal. É possível o relaxamento de qualquer prisão cautelar ilegal, inclusive por crime considerado hediondo (Súmula 697, STF). 
Revogação de prisão: cabível quando deixa de existir o motivo que levou à decretação da prisão. Ou seja, a prisão perdeu sua justificativa. É possível a revogação de prisão preventiva e de prisão temporária.
Liberdade provisória: instituto processual que substitui a prisão em flagrante, caso o agente preencha certos requisitos, ficando o mesmo sujeito ao cumprimento de certas condições. Somente é aplicável à prisão em flagrante.
-art. 310, caput, CPP: ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal; ou II- converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
-art. 321, CPP: ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código".
· Liberdade provisória mediante fiança, e
· Liberdade provisória independente de fiança (sem fiança).Para a concessão da liberdade provisória independente de fiança, é necessário somente: a) que não estejam presentes os requisitos da prisão preventiva; ou b) que esteja presente qualquer das causas de exclusão da ilicitude do art. 23, CP.
No caso de liberdade provisória mediante fiança, o agente deverá recolher um valor, que é fixado de acordo com os critérios do art. 325, do CPP. Em crimes com pena cominada de até 4 anos, a própria autoridade policial poderá conceder a fiança (art. 322, CPP). Se a pena for superior a este patamar, ou pretendendo o agente obter liberdade independente de fiança, o requerimento deverá ser dirigido ao juiz. 
- arts. 323 e 324 casos de inafiançabilidade: crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático, aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; em caso de prisão civil ou militar, quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312)."
Qual o destino do valor da fiança? O valor da fiança servirá para o pagamento das custas, da indenização do dano causado pelo crime, da prestação pecuniária e da multa, se o réu for condenado. Caso o acusado seja absolvido, de acordo com o art. 337 do CPP, o valor da fiança será restituído e sem desconto.
E se ocorrer a prescrição da pretensão executória da pena? Ainda que ocorrido a prescrição da execução da pena, o valor da fiança será destinado pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecuniária e da multa.

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