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PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA Nelson Mattioli Leite Flávio Faloppa Organizadores P965 Propedêutica ortopédica e traumatológica [recurso eletrônico] / Organizadores, Nelson Mattioli Leite, Flávio Faloppa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2013. Editado também como livro impresso em 2013. ISBN 978-85-65852-47-0 1. Ortopedia – Propedêutica. 2. Traumatologia – Propedêutica. I. Leite, Nelson Mattioli. II. Faloppa, Flávio. CDU 617.3 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 2013 Versão impressa desta obra: 2013 © Grupo A Educação S.A., 2013 Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima Colaboraram nesta edição: Editora: Dieimi Deitos Assistente editorial: Adriana Lehmann Haubert Capa: Maurício Pamplona Ilustrador: Ricardo Correa Preparação do original: Alessandra B. Flach Leitura final: Bruna Correia de Souza Projeto gráfico e editoração: TIPOS – design editorial e fotografia Reservados todos os direitos de publicação à ARTMED EDITORA LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Embaixador Macedo de Soares, 10.735 – Pavilhão 5 Cond. Espace Center – Vila Anastácio 05095-035 – São Paulo – SP Fone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL AUTORES NELSON MATTIOLI LEITE – Médico ortopedista e traumatologista. Especialista em Cirurgia da Mão e em Ortopedia e Traumatologia pela Associação Médica Brasileira (AMB). Mestre e Doutor em Medicina pelo Programa de Pós-graduação da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). FLÁVIO FALOPPA – Médico ortopedista e traumatologista. Professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. Pesquisador do CNPQ. Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Mestre e Doutor em Ortopedia e Cirurgia Plástica Reparadora pelo Programa de Pós-graduação da UNIFESP/EPM. ANDRE YUI AIHARA – Médico radiologista. Diretor técnico do Instituto de Pesquisa e Ensino em Medicina Diagnóstica e Terapêutica (IPmed). Coordenador do Grupo de Estudos de Radiologia Musculoesquelética (GERME), da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR). Preceptor do Setor de Musculoesquelético da UNIFESP e médico radiologista da DASA. Mestre em Diagnóstico por Imagem pela UNIFESP. ANTONIO ALTENOR BESSA DE QUEIROZ – Médico ortope- dista e traumatologista. Especialista em Ortopedia e Cirurgia do Joelho e Artroscopia pela UNIFESP. Mestre em Ortope- dia e Cirurgia do Joelho e Artroscopia pela UNIFESP. Dou- torando em Ortopedia e Cirurgia do Joelho e Artroscopia pela UNIFESP. ANTONIO J. L. FERRARI – Médico reumatologista. Médico assistente de Reumatologia na UNIFESP. Doutor em Medi- cina. ARTUR DA ROCHA CORREA FERNANDES – Médico radiolo- gista. Professor associado do Departamento de Diagnóstico por Imagem da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Radiolo- gia Clínica pela UNIFESP/EPM. BENY SCHMIDT – Professor adjunto do Departamento de Anatomia Patológica da UNIFESP/EPM. Chefe do Laborató- rio de Doenças Neuromusculares da UNIFESP/EPM. Doutor ACARY SOUZA BULLE OLIVEIRA – Médico neurologista. Professor filiado da UNIFESP/EPM. Professor de Pós-gradua- ção da UNIFESP. Responsável pelo Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Medicina pela UNIFESP/EPM. Pós-doutor pela Columbia University, Nova Iorque, EUA. AKIRA ISHIDA – Médico ortopedista e traumatologista. Professor titular do Departamento de Ortopedia e Trauma- tologia da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP/EPM. ALBERTO DE CASTRO POCHINI – Médico ortopedista e traumatologista. Chefe do Centro de Traumato-ortopedia do Esporte (CETE) da UNIFESP. Membro da Sociedade Brasi- leira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC) e da Socieda- de Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ). Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. ALEXANDRE F. DE LOURENÇO – Médico ortopedista e trau- matologista. Médico assistente da disciplina de Ortopedia Pediátrica da UNIFESP/EPM. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica (SBOP). ANDRÉ ROSENFELD – Médico radiologista. Médico colabo- rador do Departamento de Diagnóstico por Imagem da UNIFESP. Médico radiologista musculoesquelético do CURA e da DASA. AUTORESvi em Anatomie Pathologique Neuropathologiqe pela Univer- sity Aix-Marseille III (Droit, Econ. et Sciences). Pós-doutor pela Columbia University. CAMILA P. PURYSKO – Médica radiologista. Membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Ima- gem (CBR). Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pela Medimagem/Real e Benemérita Sociedade Por- tuguesa de Beneficência, Hospital São Joaquim, SP. CARLOS HENRIQUE FERNANDES – Médico ortopedista e cirurgião da mão. Chefe do Grupo de Cirurgia da Mão da UNIFESP. Mestre e Doutor pela UNIFESP. CRISTIANE S. ZONER – Médica radiologista. Fellowship em Musculoskeletal Radiology na Universidade da Califórnia, San Diego. Especialista em Radiologia Musculoesquelética pela UNIFESP. DANILO MASIERO – Médico ortopedista e traumatologista e ortopedista pediátrico. Professor livre docente em Ortope- dia e Traumatologia da UNIFESP. Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. DENISE TOKECHI AMARAL – Médica radiologista do Hospital Sírio Libanês, São Paulo. Mestre em Medicina: Radiologia Clínica pela UNIFESP. EDGARD DOS SANTOS PEREIRA JUNIOR – Médico assistente do Grupo de Joelho da UNIFESP. Ex-research fellow da Uni- versidade de Pittsburg. Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP. Mestre em Medicina pela UNIFESP. EDMILSON TAKEHIRO TAKATA – Médico ortopedista e traumatologista. Chefe do Grupo de Patologias do Quadril Adulto da UNIFESP/EPM. Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. EDUARDO F. CARRERA – Médico ortopedista e traumato- logista. Presidente da Sociedade Latinoamericana de Ombro e Cotovelo. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBOT, 2010). Especialista em Cirurgia do Ombro e Cotovelo. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade de São Paulo (USP). EDUARDO BARROS PUERTAS – Médico ortopedista e trau- matologista. Professor associado livre docente da UNIFESP/ EPM. Chefe do Grupo de Coluna do Departamento de Orto- pedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor pela EPM. EIFFEL TSUYOSHI DOBASHI – Médico ortopedista e trau- matologista. Professor adjunto do Departamento de Orto- pedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. Chefe de clínica da disciplina de Ortopedia Pediátrica da UNIFESP. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP/EPM. ELOY DE ÁVILA FERNANDES – Médico radiologista. Especia- lista em Diagnóstico por Imagem pelo MEC e pelo CBR. Médico colaborador do Departamento de Diagnóstico por Imagem da EPM. Doutor em Ciências pelo Departamento de Diagnóstico por Imagem da UNIFESP/EPM. FÁBIO AUGUSTO CAPORRINO – Médico ortopedista e trau- matologista. Médico assistente da disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior e da Traumatologia do Esporte da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ortopedia e Trau- matologia pela UNIFESP. Doutor em Medicina pela UNIFESP/ EPM. FABIO PACHECO FERREIRA – Médico ortopedista e trau- matologista. Especialista em Ortopedia e Traumatologia pe- la UNIFESP. Especialista em Cirurgia do Joelho pela UNIFESP. Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. FERNANDO BALDY DOS REIS – Médico ortopedista e trau- matologista. Professor livre docente e chefe da disciplina de Traumatologia do Departamento de Ortopediada UNIFESP/EPM. Mestre em Ortopedia pela UNIFESP. FLAVIA AIKO SAKAMOTO – Médico radiologista. Especialista em Diagnóstico por Imagem do Sistema Musculoesquelé- tico pela UNIFESP/EPM. FLÁVIO JOSÉ BALLERINI – Médico ortopedista e trauma- tologista. Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Torno- zelo pela UNIFESP. FREDERICO SANTOS – Médico radiologista. Membro titular do CBR. Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Ima- gem pela Medimagem. GERALDO SÉRGIO DE MELLO GRANATA JÚNIOR – Médico ortopedista e traumatologista. Médico assistente do Grupo do Joelho do Departamento de Ortopedia da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ciências pelo Departamento de Ortope- dia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. GILBERTO MASTROCOLA MANZANO – Médico neurofisio- logista clínico. Chefe do Setor de Pós-graduação e Pesquisa em Neurofisiologia Clínica da UNIFESP/EPM. Doutor em Neurologia pela UNIFESP. AUTORES vii HELIO JORGE ALVACHIAN FERNANDES – Médico ortope- dista e traumatologista. Professor afiliado da disciplina de Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumato- logia da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. HENRIQUE F. R. PEREIRA – Médico ortopedista e trauma- tologista. Médico assistente do Grupo de Cirurgia do Ombro e Cotovelo da UNIFESP/EPM. Especialista em Cirurgia do Ombro e Cotovelo pela UNIFESP/EPM. HENRIQUE SODRÉ – Médico ortopedista e traumatologista. Professor livre docente do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP. Especialista em Ortopedia Pediátrica e Cirurgia do Pé pela UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. JADER J. DA SILVA – Médico radiologista. Especialista em Radiologia Musculoesquelética pelo Centre Hospitalier Ré- gional Universitaire (CHRU) de Lille, França, e pela UNIFESP/ EPM. Coordenador da Equipe de Radiologia Musculoesque- lética do Hospital do Coração (HCOR) de São Paulo. JEFFERSON BRAGA DA SILVA – Médico. Livre docente em Cirurgia da Mão da UNIFESP. Pesquisador na área de Produ- tividade em Pesquisa, nível 2, CNPq. Especialista em Cirurgia da Mão. Mestre em Neurociências pela Pontifícia Universida- de Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutor em Cirur- gia da Mão pela UNIFESP. JOÃO ANTONIO MACIEL NOBREGA – Médico neurologista. Livre docente pela UNIFESP. Especialista em Neurofisiologia Clínica. Doutor em Medicina pela UNIFESP. JOÃO BAPTISTA GOMES DOS SANTOS – Médico. Professor adjunto e chefe da disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior do Departamento de Ortopedia da UNIFESP/EPM. Especialista em Ortopedia e Traumatologia e em Cirurgia da Mão. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP/EPM. JOÃO CARLOS BELLOTI – Médico ortopedista e cirurgião da mão. Professor adjunto do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. Professor orientador do Programa de Pós-graduação em Cirurgia Translacional da UNIFESP. Doutor em Ciências pela UNIFESP. JORGE MITSUO MIZUSAKI – Coordenador do Curso de Espe- cialização em Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé da disciplina de Ortopedia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da EPM. Chefe do Grupo de Medicina e Cirur- gia do Pé e Tornozelo da disciplina de Ortopedia do Departa- mento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ciências pela UNIFESP/EPM. JOSÉ ANTONIO PINTO – Médico ortopedista pediátrico. Mes- tre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. LUIS RENATO NAKACHIMA – Médico assistente da disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. LUIZ A. MESTRINER – Médico ortopedista e traumatologista. Professor associado do Departamento de Ortopedia e Trau- matologia da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP/EPM. MARCEL JUN S. TAMAOKI – Médico ortopedista e trauma- tologista do Setor de Ombro e Cotovelo da UNIFESP/EPM. Doutor em Ciências pela UNIFESP. MARCELO HIDE MATSUMOTO – Médico ortopedista e cirur- gião do ombro e cotovelo. Membro do Grupo de Ombro e Cotovelo da UNIFESP. Mestre e Doutor em Ortopedia e Trau- matologia pela UNIFESP. MARCELO G. JANNINI – Médico radiologista. Médico colabo- rador do Departamento de Diagnóstico por Imagem (DDI) da UNIFESP. Especialista em Músculo Esquelético. MARCELO R. DE ABREU – Médico radiologista. Membro titular da International Skeletal Society. Pós-graduação em Ressonância Magnética pela Universidade da Califórnia. Mes- tre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). MARCELO SCHMIDT NAVARRO – Médico ortopedista e trau- matologista. Chefe do Grupo de Traumatologia Esportiva da disciplina de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). Especialista em Cirurgia do Joelho pela Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ) e em Traumatologia Esportiva pela Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE). Mestre em Ciências pela UNIFESP/EPM. Doutorando em Ciências pela FMABC. MARCELO SEIJI KUBOTA – Médico do Grupo do Joelho da UNIFESP/EPM. Mestre em Ciências pela UNIFESP. MARCUS V. M. LUZO – Médico ortopedista e traumatolo- gista. Professor afiliado do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. Especialista em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Medicina pela UNIFESP/EPM. AUTORESviii MARIO CARNEIRO FILHO – Professor afiliado da UNIFESP. Mestre e Doutor em Ciências pela UNIFESP/EPM. Doutor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. MARIO LUIZ VIEIRA CASTIGLIONI – Médico nuclear. Chefe da Coordenadoria de Medicina Nuclear do DDI da UNIFESP. MATIKO YANAGUIZAWA – Médica radiologista do Centro de Diagnósticos Brasil (CDB). Especialista em Músculo Es- quelético pela UNIFESP. MILTON LUIZ MISZPUTEN – Médico radiologista. Especialista em Radiologia Musculoesquelética pela UNIFESP/EPM. MOISES COHEN – Médico ortopedista e traumatologista. Professor livre docente e chefe do Departamento de Ortope- dia e Traumatologia da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP/EPM. NICOLA ARCHETTI NETTO – Médico ortopedista e traumato- logista. Membro da SBOT. Chefe do Setor de Ombro e Coto- velo da disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/ EPM. Mestre e Doutor em Ciências pela UNIFESP/EPM. PAULO KENJI HONMOTO – Médico ortopedista e traumato- logista. Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP. REYNALDO JESUS-GARCIA FILHO – Ortopedista oncologis- ta. Professor livre docente associado do Departamento de Ortopedia da UNIFESP/EPM. Chefe do Setor de Ortopedia Oncológica. Ex-presidente da International Society of Limb Salvage (ISOLS). Membro associado da Musculoskeletal Tumor Society (MSTS). Mestre e Doutor em Ortopedia pela UNIFESP. RENATA ROSA MARCHETTI – Médica nuclear. Médica cola- boradora da Coordenadoria de Medicina Nuclear do Depar- tamento de Diagnóstico por Imagem da UNIFESP. Especialis- ta em Medicina Nuclear pelo CBR. RICARDO BASILE – Médico ortopedista e traumatologista. Médico assistente do Grupo de Quadril Adulto da UNIFESP. Médico do Grupo de Patologias do Quadril Adulto da UNIFESP/EPM. Membro titular da SBOT. Membro titular da Sociedade Brasileira de Quadril (SBQ). Especialista em Ci- rurgia do Quadril pela UNIFESP. RICARDO DIZIOLI NAVARRO (falecido) – Médico ortopedista e traumatologista. Professor livre docente da UNIFESP/EPM. Chefe do Grupo de Cirurgia do Joelho e Artroscopia da UNIFESP/EPM. Mestre em Ortopedia e Cirurgia Plástica Re- paradora pela UNIFESP/EPM. Doutor em Ortopedia e Trau- matologia pela UNIFESP/EPM. RICARDO ZANUTO – Nutricionista esportivo. Especialista em Fisiologia do Exercício pelas Faculdades Integradas de Santo André (FEFISA). Especialista em Natação e Atividades Aquáticas pela UNIFMU. Mestre e Doutor em Fisiologia Humana pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP.ROBERTO DIAS B. PEREIRA – Fisioterapeuta. Especialista em Reabilitação Neurológica nas Doenças Neuromusculares pela UNIFESP. Mestre em Neurologia pela UNIFESP. Douto- rando em Neurologia pela UNIFESP. ROBINSON ESTEVES SANTOS PIRES – Médico traumato- logista. Professor assistente do Departamento do Aparelho Locomotor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em Traumatologia Ortopédica pela UNIFESP. Mestre em Ciências Aplicadas ao Aparelho Loco- motor pela UNIFESP/EPM. SERGIO S. KUWAJIMA – Médico ortopedista e traumatolo- gista. Mestre e Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP/EPM. SÔNIA DE AGUIAR VILELA MITRAUD – Médica radiologista. Médica assistente e coordenadora da Tomografia Computa- dorizada do Hospital São Paulo/UNIFESP. Especialista em Radiodiagnóstico por Imagem em Músculo Esquelético pela UNIFESP. Mestre e Doutora em Radiologia Clínica pela UNIFESP. VERA LÚCIA SZEJNFELD – Médica reumatologista. Profes- sora adjunta da disciplina de Reumatologia da UNIFESP/ EPM. Mestre e Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP. VICTOR ALEXANDRE FERREIRA TARINI – Profissional de Educação Física. Professor do Centro Universitário Adven- tista de São Paulo. Professor colaborador do Departamento de Ortopedia e Traumatologia e colaborador do Setor de Investigações das Doenças Neuromusculares da UNIFESP/ EPM. Especialista em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP/ EPM. Mestre em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP/EPM. Doutor em Ciências da Saúde pela UNIFESP/EPM. APRESENTAÇÃO O tratamento adequado de qualquer lesão ou patologia depende do diagnóstico, e o diagnóstico correto deve ser sempre precedido de uma boa propedêutica. Percebida como uma lacuna em termos de fontes de referência, a realização de uma obra que contemplasse especificamente a propedêutica em Ortopedia e Traumatologia, há muito tempo, vinha sendo considerada e estimulada pelo nosso saudoso Prof. José Laredo Filho. Este livro, coordenado pelo Dr. Nelson Mattioli Leite e pelo Prof. Flávio Faloppa, foi realizado no âmbito do nosso Departamento de Ortopedia e Traumatologia e contou com a contribuição de experientes colegas, tanto da Ortopedia como das áreas de Reumatologia, Neurocirurgia e Diagnós- tico por Imagem da Escola Paulista de Medicina. O assunto é apresentado em 41 capítulos amplamente ilustrados que abordam as bases científicas de introdução ao estudo do sistema músculo-esquelético e dos nervos periféricos, bem como os aspectos de diagnóstico por ima- gem e as particularidades das patologias. Parabéns aos organizadores, autores e editores pela grande contribuição a todos que estudam e exercem a nossa especialidade. WALTER MANNA ALBERTONI Professor titular livre docente do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da disciplina de Cirurgia da Mão da UNIFESP/EPM. Este livro é destinado a estudantes interessados em aprender a arte do diagnóstico de patologias e traumas que envolvem a coluna, a pelve, os membros superiores e os membros inferiores. Para tanto, buscamos o auxílio primoroso de co- legas da Escola Paulista de Medicina. O conteúdo desta obra foi desenvolvido por especialistas em Neurocirurgia, Reumatologia, Diagnósticos por Imagem e Ortopedia. O que nos motivou a escrever um livro de propedêutica foi a ideia clássica aliada a esse vocábulo, ou seja, mostrar as bases, os alicerces, ao se iniciar o estudo de uma ciência. Queríamos um livro bem abrangente, no qual fosse possível encontrar respostas às dúvidas que surgem ao tomarmos contato com um assunto novo. Além de um texto didático e objetivo, procuramos enriquecer cada capítulo com fotos e desenhos coloridos, ilustrando o conteúdo de forma a facilitar o entendimento do leitor. Agradecemos ao Grupo A e a Ramilson Almeida – nosso agente literário –, que abraçaram a nossa causa. Aproveita- mos para enaltecer o carinho e o auxílio da secretária do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), Patrícia Teixeira. Queremos agradecer também a todos os autores que escreveram os capítulos do livro, e de modo especial ao Doutor Artur da Rocha Correa Fernandes, que nos ajudou na coordenação de temas de Diagnóstico por Imagem. NELSON MATTIOLI LEITE FLÁVIO FALOPPA PREFÁCIO SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ! ix Walter Manna Albertoni 1 PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO ! 1 Victor Alexandre Ferreira Tarini, Ricardo Zanuto, Beny Schmidt, Acary Souza Bulle Oliveira, Flávio Faloppa, Roberto Dias B. Pereira 2 PROPEDÊUTICA DA CARTILAGEM ! 16 Nelson Mattioli Leite, Marcelo R. de Abreu 3 PROPEDÊUTICA DO OSSO ! 39 João Carlos Belloti, Marcel Jun S. Tamaoki 4 PROPEDÊUTICA DOS NERVOS PERIFÉRICOS ! 46 Nelson Mattioli Leite, Flávio Faloppa, Jefferson Braga da Silva 5 ELETRONEUROMIOGRAFIA: BASES E APLICAÇÕES ! 63 João Antonio Maciel Nobrega, Gilberto Mastrocola Manzano 6 PROPEDÊUTICA DO LÍQUIDO SINOVIAL ! 72 Antonio J. L. Ferrari 7 PROPEDÊUTICA DO OMBRO ! 82 Eduardo F. Carrera, Nicola Archetti Netto 8 PROPEDÊUTICA DO COTOVELO ! 93 Marcelo Hide Matsumoto, Henrique F. R. Pereira 9 PROPEDÊUTICA DA MÃO E DO PUNHO ! 102 Nelson Mattioli Leite, João Baptista Gomes dos Santos, Fábio Augusto Caporrino 10 PROPEDÊUTICA CLÍNICA DA MÃO E DO PUNHO ! 155 Fábio Augusto Caporrino, João Baptista Gomes dos Santos, Nelson Mattioli Leite 11 PRINCÍPIOS DE ARTROSCOPIA DO PUNHO ! 174 Carlos Henrique Fernandes, Luis Renato Nakachima 12 PROPEDÊUTICA DA COLUNA VERTEBRAL ! 179 Eduardo Barros Puertas 13 PROPEDÊUTICA DO QUADRIL E DA PELVE ! 187 Edmilson Takehiro Takata, Ricardo Basile 14 ANATOMIA E ANATOMOFISIOLOGIA DO JOELHO ! 203 Luiz A. Mestriner 15 PROPEDÊUTICA GERAL DO JOELHO ! 219 Antonio Altenor Bessa de Queiroz 16 PROPEDÊUTICA DA ARTICULAÇÃO FEMOROPATELAR ! 233 Ricardo Dizioli Navarro, Marcelo Schmidt Navarro 17 PROPEDÊUTICA DAS LESÕES LIGAMENTARES DO JOELHO ! 237 Edgard dos Santos Pereira Junior, Marcelo Seiji Kubota, Marcus V. M. Luzo 18 PROPEDÊUTICA DAS LESÕES MENISCAIS ! 245 Mario Carneiro Filho, Geraldo Sérgio de Mello Granata Júnior, Fabio Pacheco Ferreira 19 PROPEDÊUTICA DO PÉ ADULTO ! 248 Jorge Mitsuo Mizusaki, Flávio José Ballerini 20 PROPEDÊUTICA DA MARCHA ! 287 Eiffel Tsuyoshi Dobashi, Alexandre F. de Lourenço, José Antonio Pinto, Akira Ishida 21 PROPEDÊUTICA DAS DOENÇAS NEUROMUSCULARES ! 293 Danilo Masiero, José Antonio Pinto, Paulo Kenji Honmoto 22 PROPEDÊUTICA NA PARALISIA CEREBRAL ! 304 José Antonio Pinto, Alexandre F. de Lourenço, Eiffel Tsuyoshi Dobashi, Danilo Masiero 23 PROPEDÊUTICA DA MIELOMENINGOCELE ! 324 Alexandre F. de Lourenço, José Antonio Pinto, Eiffel Tsuyoshi Dobashi 24 PROPEDÊUTICA DA ARTROGRIPOSE ! 330 Danilo Masiero, José Antonio Pinto, Alexandre F. de Lourenço 25 PROPEDÊUTICA DOS TUMORES ÓSSEOS E DOS SARCOMAS DE PARTES MOLES ! 339 Reynaldo Jesus-Garcia Filho 26 PROPEDÊUTICA DA SÍNDROME DO COMPARTIMENTO ! 352 Fernando Baldy dos Reis, Helio Jorge Alvachian Fernandes, Robinson Esteves Santos Pires 27 PROPEDÊUTICA DO POLITRAUMATIZADO ! 358 Fernando Baldy dos Reis, Helio Jorge Alvachian Fernandes, Robinson Esteves Santos Pires 28 LESÕES MUSCULARES ! 366 Alberto de Castro Pochini, Moises Cohen 29 PROPEDÊUTICA DO PÉ DA CRIANÇA ! 375 Henrique Sodré 30 PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA DO QUADRIL PEDIÁTRICO ! 381 Akira Ishida, Sergio S. Kuwajima 31 DENSITOMETRIA ÓSSEA ! 386 Vera Lúcia Szejnfeld 32 MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ! 391 Milton Luiz Miszputen 33 ULTRASSONOGRAFIA ! 398 Marcelo G. Jannini, Eloy De Ávila Fernandes 34 MEDICINA NUCLEAR ! 406 Mario Luiz Vieira Castiglioni, Renata Rosa Marchetti 35 PROPEDÊUTICA POR ESTUDO RADIOGRÁFICO DA COLUNA VERTEBRAL ! 417 Denise Tokechi Amaral, Camila P. Purysko, Frederico Santos 36 PROPEDÊUTICA POR IMAGEM DO OMBRO ! 443 Andre Yui Aihara 37 PROPEDÊUTICA POR IMAGEM DO COTOVELO ! 472 André Rosenfeld 38 PROPEDÊUTICA POR IMAGEM DO PUNHOE DA MÃO ! 486 Jader J. da Silva 39 PROPEDÊUTICA POR IMAGEM DO QUADRIL ! 504 Matiko Yanaguizawa, Sônia de Aguiar Vilela Mitraud, Artur da Rocha Correa Fernandes 40 PROPEDÊUTICA POR IMAGEM DO JOELHO ! 522 Cristiane S. Zoner, Sônia de Aguiar Vilela Mitraud, Artur da Rocha Correa Fernandes 41 PROPEDÊUTICA POR IMAGEM DO TORNOZELO E DO PÉ ! 542 Flavia Aiko Sakamoto, Sônia de Aguiar Vilela Mitraud, Artur da Rocha Correa Fernandes ÍNDICE ! 573 SUMÁRIOxiv ! MÚSCULO ESQUELÉTICO O músculo esquelético é o tecido mais abundante no corpo humano. Muito além de cumprir a função de dar movimen- to ao esqueleto e estabilizar as articulações, participa de outros processos relacionados ao metabolismo. Atua como um importante regulador dos níveis glicêmicos; cerca de um quarto de toda a glicose disponibilizada pela digestão dos carboidratos é captada pelos músculos esqueléticos com a finalidade de produzir energia. 1,2 Outro importante papel desempenhado pelos músculos diz respeito à hemodinâmica. O retorno venoso recebe grande contribuição por parte dos músculos ativos que “or- denham” os vasos venosos, facilitando o regresso do san- gue para o lado direito do coração. 3,4 A atividade dos mús- culos esqueléticos apresenta como coproduto do metabo- lismo energético o calor, que contribui constantemente para a manutenção da homeostase térmica. 5,6 Ao notar as várias funções que o músculo esquelético desempenha, é possível compreender que o mau funciona- mento de parte ou, ainda, de todo o músculo esquelético, representa prejuízos às funções motoras, com repercussões metabólicas, hemodinâmicas e térmicas potencialmente graves. O músculo esquelético está sob controle do sistema nervoso somático (voluntário). Portanto, responde às diver- sas solicitações motoras, que também propiciam os estímu- los necessários para a manutenção e/ou o aprimoramento de sua capacidade – o movimento. O exercício é o meio pelo qual os músculos são estimula- dos. A falta dessa atividade (hipocinesia ou sedentarismo) é a principal causa de doenças do aparelho locomotor, 7 bem como de doenças metabólicas 8,9 e vasculares. 10 Como forma de prevenir o surgimento de tais doenças, é fundamental que se promova a prática de exercícios físicos e que essa prática seja supervisionada por profissional com- petente. 11 A prescrição do exercício deverá ser precedida de uma avaliação adequada. A força e a resistência muscular são capacidades do músculo esquelético que devem ser contempladas por testes que levem em consideração carac- terísticas individuais. EMBRIOGÊNESE DO MÚSCULO ESQUELÉTICO Para uma melhor compreensão do funcionamento do mús- culo esquelético, é fundamental compreender sua origem. A seguir, revisaremos o seu desenvolvimento embrionário. A partir da terceira semana de desenvolvimento embrio- nário (gastrulação), observa-se o início da formação das três camadas germinativas: endoderma, mesoderma e ec- toderma. Do endoderma surgirão os sistemas respiratório e digestivo, enquanto que, do ectoderma, surgirão o encé- falo, a medula espinal e a epiderme. É do mesoderma que surgirão, entre outras estruturas, os músculos esqueléticos. O tecido muscular esquelético tem origem no mesên- quima, um tecido embrionário derivado do mesoderma. Com a formação do tubo neural que ocorre no fim do primeiro mês de gestação, duas massas de tecido derivadas do mesoderma paraxial chamadas de somitos irão evoluir juntamente com o tubo neural. Dos somitos também sur- gem os miótomos (Figura 1.1), um agregado de células de onde surgirão todos os músculos do tronco. 12 Os miótomos se dividem em duas porções: dorsal e ventral, dando origem, respectivamente, aos músculos ere- tores da coluna, aos músculos abdominais e ao tórax. Já os PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO ! Victor Alexandre Ferreira Tarini ! Ricardo Zanuto ! Beny Schmidt ! Acary Souza Bulle Oliveira ! Flávio Faloppa ! Roberto Dias B. Pereira1 CAPÍTULO 1 ! PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO2 músculos dos membros são de natureza epitelial; suas célu- las são provenientes da porção ventral do dermomiótomo. Após a transformação do epitélio mesenquimal, as células migram para o membro. 12 Com a formação do tubo neural, os miótomos indivi- dualizam-se e suas células se alongam, dando origem aos mioblastos (Figura 1.2). Mioblasto é o termo designado às células miogênicas por apresentarem bem definidas sua morfologia. Nesse es- tado, as células apresentam capacidade de se tornarem terminalmente diferenciadas em resposta à privação de fatores de crescimento. O termo miossatélite ou célula-satélite, é frequentemen- te usado quando se descreve o mioblasto em estado quiescente que reside entre a lâmina basal e o sarcolema. A partir desse nível de desenvolvimento, pode-se observar a expressão gênica de pelo menos um dos quatro fatores de crescimento miogênico (Myo D, miogenina, myf-5 e mrf-4). O termo miócito é empregado para designar células terminalmente diferenciadas. No entanto, nesse estágio, as células musculares ainda são “mononucleadas”. Outra característica desse estágio de desenvolvimento é a “imu- nopositividade” observada em uma série de proteínas, co- mo, por exemplo, a miosina de cadeia pesada. No estágio maturacional seguinte, a célula se torna multinucleada (Fi- gura 1.3). Nessa etapa de desenvolvimento, a célula recebe a designação de miotubo. No miotubo maduro, é possível observar a presença de lâmina basal e estrias transversais em suas miofibrilas. Para caracterizar o estágio terminal de desenvolvimento celular, emprega-se a expressão fibra muscular. 13 TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES As respostas motoras variam consideravelmente de acordo com as solicitações que a vida nos impõe. Por vezes, precisa- mos alternar esforços moderados e duradouros com solicita- ções vigorosas que, geralmente, têm sua duração compro- metida pela fadiga. Comportamentos tão diferentes se justi- ficam pela existência de diferentes tipos de fibras muscula- res. " FIGURA 1.1 (A) Corte transversal de um embrião de 4 semanas. (B) Corte frontal mostrando a condensação das células do esclerótomo. PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA 3 As fibras musculares se diferem, em especial, pela cor e pela velocidade de contração. Fibras brancas são as de con- tração rápida, com metabolismo energético predominante- mente glicolítico (tipo IIb). Fibras vermelhas podem também apresentar velocidade de contração rápida, com metabolis- mo energético misto entre oxidativo e glicolítico (tipo IIa), ou velocidade de contração lenta, com metabolismo ener- gético predominantemente oxidativo (tipo I). A cor vermelha se deve à presença de uma proteína responsável pelo con- finamento do O 2 no interior da célula, a mioglobina, além das enzimas que participam do metabolismo oxidativo. 14 A velocidade de contração muscular se deve à atividade da enzima miosina ATPase. 15 Histoquimicamente, é possível identificar os três tipos. A miosina ATPase reage com as soluções em diferentes valores de pH, o que possibilita a distinção dos tipos de fibras musculares (Figura 1.4). # FIGURA 1.2 Embrião com cerca de 41 dias mostrando os miótomos. # FIGURA 1.3 Construção do miotubo e a relação fun- cional dos fatores de crescimento miogênico (MRFs): myo D e myf-5 determinam a linhagem miogênica; miogenina e myf-4: diferenciação e manutenção do estado diferen- ciado de acordo com sua expressão. CAPÍTULO 1 ! PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO4 Hoje, já se sabe que o número de isoformas dessa enzi- ma não se resume a três, e sim sete subtipos (I, Ic, IIc, IIac, IIa, IIab, IIb). Contudo, observam-se com maior frequência os subtipos I, IIc, IIa e IIb. 16 As fibras musculares possuem alta capacidade de adap- tação a solicitações mecânicas como o exercício. Mesmo não sendo possível notar qualquer alteração morfofuncional pelo método histoquímico, a eletroforese em gel possibilita constatar as alterações na expressão gênicadas proteínas miofibrilares a partir de apenas duas semanas de treinamen- to com pesos, especificamente na expressão das isoformas da miosina de cadeia pesada (MHC) 17 (Figura 1.5). MACRO, MICRO E ULTRAESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO O músculo esquelético apresenta macroscopicamente for- mas que variam de acordo com a função (Figura 1.6). O ser humano possui cerca de 640 músculos, e o nome dado à musculatura varia de acordo com alguns critérios, como a forma (trapézio), o número de cabeças (bíceps), a função (abdutor longo do polegar), a localização (tibial anterior) ou a união de dois ou mais desses critérios (pronador qua- drado) (Figura 1.6). O músculo esquelético é constituído por um arranjo ordenado de camadas de tecido conjuntivo e células con- tráteis, que se inserem, pelas extremidades, aos ossos, para dar movimento ao esqueleto. Contornando o ventre muscu- lar, uma camada mais externa de tecido conjuntivo chamada de epimísio envolve um conjunto de fascículos (Figura 1.7). Os fascículos, por sua vez, reúnem em seu interior um agregado de células musculares graças à presença de outra camada de tecido conjuntivo chamada de perimísio (Figura " FIGURA 1.4 Lâmina em que foi utilizada a técnica histo- química ATPase pH 4,65. " FIGURA 1.5 Lâminas histológicas. (A) Imuno-histoquímica de músculo de rato – fibras escuras apresentam imunopo- sitividade para miosina de cadeia pesada lenta. (B) Imuno- fluorescência de músculo de rato – fibras fluorescentes apre- sentam imunopositividade para miosina de cadeia pesada (MHC). A B 1.8). As células musculares normalmente chamadas de fi- bras musculares são envolvidas individualmente por uma camada de tecido conjuntivo, o endomísio (Figura 1.9). A união dessas camadas de tecidos conjuntivos ocorre nas extremidades dos músculos, dando origem aos tendões, que se fixam aos ossos pelo periósteo. Fibras de colágeno tipo I permeiam o osso cortical e providenciam uma inserção muito forte do tendão (fibras de Sharpey) (Figura 1.10). A fibra muscular é a célula que constitui o músculo. Possui formato cilíndrico alongado, além de ser multinuclea- da. Seus núcleos estão dispostos na periferia da fibra madu- ra. O que limita sua área é a presença de uma fina membra- na (sarcolema) que agrega todas as estruturas citoplasmá- ticas (sarcoplasma). Outra membrana recobre o sarcolema, chamada de lâmina basal. As células-satélites, responsáveis pela regeneração das fibras musculares, habitam os espaços entre a lâmina basal e o sarcolema quando se encontram em estado quiescente. PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA 5 # FIGURA 1.7 Corte transversal de um músculo. A seta aponta a sua cobertura externa – o epimísio. # FIGURA 1.8 Corte transversal de um músculo em que está salientado um fascículo muscular com a sua cober- tura – o perimísio. " FIGURA 1.6 As diferentes formas anatômicas do músculo esquelético. CAPÍTULO 1 ! PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO6 A fibra muscular possui em seu interior alongadas estru- turas proteicas chamadas de miofibrilas. Esses agregados proteicos medem cerca de 1 a 2 µm de espessura. Cada fibra muscular pode conter desde centenas até milhares de miofibrilas. As miofibrilas são formadas pela deposição ordenada de miofilamentos de proteínas. As mais abundan- tes são: miosina (cerca de 1.500 filamentos por miofibrila) e actina (cerca de 3.000 filamentos por miofibrila), além de outras como tropomiosina e troponina. Em cortes longitudinais, é possível observar a presença de estrias, características das miofibrilas. Essas estrias se devem à forma como estão dispostos os miofilamentos de actina, e miosina. Possíveis de serem observadas em micros- cópio de luz já no pequeno aumento, as estrias são forma- das a partir de faixas claras e escuras. A faixa clara, caracteri- zada pela presença dos filamentos de actina é a faixa I, e a faixa escura, onde estão depositados os filamentos de mio- sina, é a faixa A. Quando a luz polarizada passa através da faixa I (Isotrópica), desloca-se com a mesma velocidade em todas as direções. Por ser muito mais densa, o mesmo não ocorre quando a luz polarizada passa através da faixa A (anisotrópica) (Figura 1.11). A sobreposição dos miofilamentos proteicos dará ori- gem a blocos estruturais chamados de sarcômeros, que se repetem ao longo das miofibrilas, unidades funcionais res- " FIGURA 1.9 Fascículo muscular cortado transversalvente em que está salientada uma fibra muscular, composta de uma célula muscular com núcleos excêntricos e envolvida pelo endomísio. Observa-se a situação relativa do perimísio envolvendo o fascículo e do endomísio envolvendo a fibra muscular. # FIGURA 1.10 Desenho es- quemático de um músculo em que estão salientados os tendões inseridos nos ossos. PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA 7 ponsáveis pelo ciclo alongamento-encurtamento da fibra muscular (Figura 1.12). O sarcômero é a unidade funcional da fibra muscular. Compreende o intervalo entre duas linhas Z, agrega em seu interior o conjunto de miofilamentos que interagem entre si para produzir a contração muscular. O diâmetro das fibras musculares pode variar entre 10 e 100 micra (µm), de acordo com o músculo examinado. Essas variações podem existir ainda dentro de um mesmo músculo. Durante o crescimento, é possível observar um aumento gradual no diâmetro das fibras musculares. No entanto, estímulos produzidos por solicitações musculares intensas (como exercícios resistidos) podem produzir au- mentos ainda maiores do diâmetro das fibras musculares. Tal fenômeno é denominado hipertrofia. A hipertrofia é definida como o aumento no tamanho da célula, em decor- rência do aumento no volume e/ou no número dos consti- tuintes intracelulares. A relação entre o comprimento da fibra muscular e o comprimento do músculo também apresenta grande va- riabilidade. Essa condição deve-se ao fato de que as fibras musculares apresentam sua disposição de acordo com a forma (ângulo de penação) do músculo (Figura 1.6). Nenhu- ma fibra muscular percorre todo o comprimento do múscu- lo. As fibras musculares apresentam um comprimento médio de 68 mm, podendo atingir 111 mm. UNIDADE MOTORA A unidade motora (UM) é formada a partir de ramos termi- nais axonais oriundos de motoneurônios. Esses ramos termi- nais formam botões que se ligam intimamente com as fibras musculares, estabelecendo a comunicação entre o sistema nervoso e o músculo. A UM pode ser definida como o motoneurônio e as fibras musculares por ele inervadas. Pode variar quanto ao número de fibras por neurônio, de acordo com a função desempenhada. Por exemplo, a musculatura extrínseca do olho apresenta UMs com 2 a 4 fibras musculares, enquanto o músculo quadríceps possui UMs com até 400 fibras mus- culares. A junção neuromuscular é comumente chamada de pla- ca motora e é o ponto de conexão entre o neurônio e a fibra muscular. O botão terminal aloja em seu interior uma grande quantidade de vesículas sinápticas contendo o neu- rotransmissor acetilcolina (Ach). " FIGURA 1.11 Imagem de microscopia óptica de músculo esquelético em corte longitudinal. Aumento de 125 ×. # FIGURA 1.12 Imagem de microscopia eletrô- nica do sarcômero. Aumento de 30.000 ×, com diagrama ilustrando as estruturas. CAPÍTULO 1 ! PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO8 MECANISMOS DE EXCITAÇÃO, ACOPLAMENTO E CONTRAÇÃO Com a chegada do estímulo pelo axônio terminal, canais de Ca ++ presentes nessas terminações se abrem, permitindo o influxo do Ca ++ para o interior do botão. Isso provoca a precipitação e a ruptura das vesículas sinápticas, liberando o neurotransmissor acetilcolina (Ach) na fenda sináptica. Nesse local, o Ach se liga ao seu receptor, provocando a abertura de canais iônicos e o influxo de sódio (Na + ), des- polarizando a membrana da fibra muscular. Tal fenômeno é denominado excitação. O estímulo se propaga por toda a membrana, descendo então por túbulos presentes transversalmenteao longo da fibra muscular. Esses túbulos “T” conduzem o potencial de ação para o interior das células, onde se encontram dispos- tas paralelamente as cisternas terminais do retículo sarco- plasmático. O retículo sarcoplasmático armazena em seu interior grande quantidade de íons Ca ++ , que são prontamente liberados pelos canais de rianodina mediante a despolari- zação. A liberação ocorre quando o estímulo que desce pelo túbulo T atinge o sensor de voltagem di-hidropiridina. Este, por sua vez, deforma e libera a passagem do Ca ++ pelos canais de rianodina (Figura 1.13). Uma vez liberado, o Ca ++ se ligará à subunidade “C” da proteína troponina. Esta, por sua vez, sofre uma mudan- ça conformacional tracionando o filamento de tropomio- sina, o que expõe o sítio de ligação no filamento de actina. Nesse momento, uma molécula de ATP é hidrolisada na cabeça de miosina, reação esta catalisada pela enzima miosina ATPase. A energia liberada durante o processo pos- sibilita a ligação da cabeça de miosina no sítio de ligação do filamento de actina, o que recebe o nome de acopla- mento. Por fim, ocorre o deslizamento dos miofilamentos de actina sobre os de miosina, completando o ciclo. A esta fase dá-se o nome de contração. O relaxamento ocorre mediante a ligação e a hidrólise de outra molécula de ATP na cabeça de miosina, permitindo, assim, o retorno dos miofilamentos ao estado de repouso à medida que os íons Ca ++ são recaptados para o interior do retículo sarcoplas- mático por meio da bomba de Ca ++ ATP dependente. PROPRIOCEPÇÃO: FUSOS MUSCULARES Os fusos musculares monitoram o comprimento do múscu- lo, fornecendo informação sensorial acerca das variações mecânicas (estiramento) sofridas pelas fibras musculares. Por meio de uma resposta reflexa, desencadeiam uma contra- ção muscular mais vigorosa, reduzindo, assim, a distensão. O fuso muscular é revestido por uma bainha de tecido conjuntivo. Basicamente, o fuso é constituído por dois tipos especializados de fibras musculares, denominadas fibras intrafusais. A fibra nuclear do tipo “bolsa” apresenta um volume maior, por concentrar numerosos núcleos em sua porção central. A fibra nuclear em “cadeia” apresenta um volume menor, devido à disposição dos núcleos ao longo do seu comprimento (Figura 1.14). " FIGURA 1.13 Desenho que representa o potencial de repouso no lado esquerdo, em que o sensor de voltagem di-hidropi- ridina mantém fechado o canal de rianodina, impedindo a saída do Ca ++ do retículo sarcoplasmático. No lado direito, está representado o potencial de ação em que a despolarização da membrana atinge o sensor de voltagem di-hidropiridina, que sofre uma mudança conformacional, permitindo a abertura do canal de rianodina e a saída do Ca ++ do retículo sarcoplas- mático. PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA 9 " FIGURA 1.14 Diagrama dos proprioceptores musculares. α: motoneurônio alfa inerva fibras musculares extrafusais; γ: motoneurônio gama inerva fibras musculares intrafusais; Ia: nervo anuloespiralado envia ao SNC as alterações no comprimento do músculo; Ib: inerva os órgãos tendinosos de Golgi e informa o SNC de alterações na tensão sofrida pelo músculo. Propriocepção: órgãos tendinosos de Golgi Os órgãos tendinosos de Golgi (OTGs) monitoram a tensão gerada pela contração muscular. Estão localizados nas extre- midades das fibras musculares, mais precisamente na jun- ção miotendínea. Basicamente, cada OTG pode se conectar com até 25 fibras musculares. Quando estimulados por um aumento excessivo na tensão, enviam seus sinais para o sistema nervoso central (SNC), produzindo uma resposta inibitória sobre os músculos com os quais se relacionam. Esse mecanismo protetor evita possíveis danos produzidos por sobrecargas musculares. 18 DOENÇAS NEUROMUSCULARES As doenças neuromusculares representam um grande gru- po de afecções que comprometem o bom funcionamento da unidade motora, ou seja, o corpo celular do neurônio motor inferior, o seu prolongamento axonal, a junção neu- romuscular (placa motora) ou o músculo esquelético. 19 A melhor forma de classificação e diagnóstico das doenças neuromusculares consiste em seguir a rota anatômica do neurônio motor inferior, o que permite a identificação das principais doenças em cada sítio topográfico primário, etapa primordial para a adequada intervenção terapêutica. O diag- nóstico depende do histórico detalhado do comprometi- mento neurológico, de dados familiares e epidemiológicos, além de adequado exame físico. Quando ocorre o comprometimento do corpo celular do neurônio motor inferior, observa-se atrofia, atonia, arre- flexia, fraqueza e fasciculação. Já se o comprometimento for da fibra nervosa, observam-se alterações da motricidade e da sensibilidade, com redução dos reflexos e com compro- metimento autonômico. O acometimento da junção neuromuscular apresenta- -se com fadiga e flutuação da fraqueza, geralmente com piora ao longo do dia. As doenças musculares manifestam- -se na maioria das vezes com fraqueza muscular de predomí- nio proximal e alteração no padrão da marcha, o que costu- ma resultar em quedas e dificuldade para levantar (levantar miopático). Os exames mais adequados para o diagnóstico etioló- gico e topográfico são a dosagem sérica da enzima creatino- quinase (CK), o eletroneuromiograma (ENMG), a biópsia muscular com o estudo histoquímico e a biópsia de nervo, este último procedimento reservado a situações especiais para a confirmação do diagnóstico. As doenças musculares podem ser classificadas dentre cinco grupos: distrofias, síndromes miotônicas, miopatias CAPÍTULO 1 ! PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO10 congênitas, miopatias metabólicas e miopatias hereditárias (Figura 1.15). Neuropatia motora Atrofia muscular espinal (AME) é um distúrbio autonômico recessivo que afeta os neurônios motores. Ela é causada por mutações no gene da sobrevivência do neurônio motor (SMN1). A AME pode ser classificada em quatro tipos, de acordo com a idade e o grau de manifestação clínica: • Tipo I (Werdnig Hoffman): aguda desde o nascimen- to, é doença grave, com óbito antes do primeiro ano de idade; • Tipo II (intermediária): manifesta-se antes dos 18 meses, e a marcha é impossibilitada; • Tipo III (Kugelberg Welander): manifesta-se após os 18 meses, e a marcha existe, ainda que com difi- culdade; • Tipo IV: quadro mais brando, manifesta-se na ida- de adulta. Os diferentes tipos estão relacionados com o grau de comprometimento do gene SMN1 e da expressão do gene SMN2. Quanto maior o número de cópias do gene SMN2, melhor é o prognóstico. A poliomielite é uma doença infecciosa causada pelo vírus da pólio, felizmente erradicada na América desde 1994, caracterizada por atrofia e fraqueza muscular e assi- metria. A síndrome pós-poliomielite é um dos efeitos tardios da poliomielite. Trata-se de um transtorno neurológico ca- racterizado por nova fraqueza muscular e/ou fadiga muscu- lar anormal em indivíduos que tiveram poliomielite aguda muitos anos antes. Em geral, manifesta-se entre a terceira e a quarta décadas de vida. A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença de- generativa do sistema nervoso central, progressiva e fatal. Caracteriza-se por perda dos neurônios motores. " FIGURA 1.15 Fluxograma das miopatias. PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA 11 Neuropatia As doenças dos nervos periféricos estão relacionadas com o comprometimento dos seus constituintes. Podem ser clas- sificadas em neuropatias axonais ou desmielinizantes. Mononeuropatia caracteriza o comprometimento de um único nervo. Mononeuropatia múltipla indica o com- prometimento de vários nervos, em tempos diferentes, sob forma assimétrica. Polineuropatia indica comprometimento de vários nervos de forma assimétrica. As causas das neuropatias são várias: hereditária, meta- bólica, tóxica, medicamentosa, compressiva, inflamatória ou infecciosa. Neuropatia hereditária sensitivo motora (Charcot-Marie--Tooth, CMT) é a forma mais comum de neuropatia here- ditária, afetando 1 em 2.500 indivíduos, tendo sido identifi- cados mais de 40 genes envolvidos. A heterogeneidade genética extensa explica a grande variedade fenotípica. Os tipos mais comuns são CMT14 (duplicação do gene PMP22), CMT1x, CMT1b e CMT24. O quadro clínico clássico é representado por tetraparesia distal e atrofia muscular, pés cavos e hálux em martelo. Neuropatia hereditária sensível à pressão (HNPP, do in- glês hereditary neuropathy with lability to pressure palsies) é de herança autossômica dominante (HAD) relacionada com a deleção de 1,5 mb no gene PMP22, é caracterizada por neuropatia relacionada à compressão de nervos peri- féricos. Síndrome de Guillain-Barré é uma polirradiculoneuro- patia imunomediada de instalação aguda, clinicamente ca- racterizada por infecção das vias aéreas ou diarreia prece- dendo em dias um quadro de tetraparesia flácida e arrefle- xia, de caráter ascendente. O exame do líquido cerebrospinal demonstra aumento de proteínas e o exame eletroneuro- miográfico revela alterações na condução elétrica, demons- trando comprometimento desmielinizante. A doença é mo- nofásica, com recuperação progressiva em semanas. Polirradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória crônica (PIDIC) é uma neuropatia imunomediada. Manifes- ta-se com comprometimento motor e sensitivo, simétrico, cujo tratamento está relacionado com o uso de corticoide, imunossupressores, plasmaférese e imunoglobulina huma- na endovenosa. Doença da junção neuromuscular Miastenia grave imune adquirida é uma doença imunome- diada, com comprometimento dos receptores pós-sinápti- cos de acetilcolina. Seu quadro clínico é caracterizado por envolvimento ocular (ptose palpebral e diplopia) e bulbar (disfagia e disfonia), bem como fadigabilidade e flutuações nos sinais e sintomas. Distrofias As distrofias musculares são de natureza genética, com he- rança bem definida, de caráter evolutivo e incurável. O acon- selhamento genético é primordial para a prevenção do sur- gimento de novos casos em uma mesma família. As distrofias musculares de Duchenne (DMD) e Becker (DMB) são as formas mais frequentes, ocorrendo um caso em cada 3.500 meninos nascidos vivos. Dois terços dos filhos afeta- dos são de mães portadoras do gene que leva a manifesta- ção da doença. A herança genética é de caráter recessivo ligado ao cromossomo X (Xp21), sendo que seu produto gênico – a proteína distrofina – é ausente na DMD e abaixo do padrão de normalidade na DMB. Alterações no padrão da marcha (marcha anserina), aumento da lordose lombar e inclinação da pelve são obser- vados. A fraqueza muscular de predomínio proximal mais evidente, a princípio, na cintura pélvica provoca o apareci- mento do sinal de Gowers, em que, para levantar-se, a criança parece galgar a si mesma na tentativa de compensar a fraqueza dos músculos extensores das coxas (Figura 1.16). Uma característica marcante é a pseudo-hipertrofia das panturilhas e dos deltoides. Tal característica se deve à gra- dual substituição do tecido muscular por tecido conjuntivo gorduroso, decorrente da deterioração em larga escala das fibras musculares. A distrofia de cintura-membros (DCM) recebeu essa denominação originalmente para incluir pacientes com fra- queza muscular das cinturas com envolvimento predomi- nantemente da musculatura proximal dos membros. Mais recentemente, tem-se verificado que tal condição representa diferentes afecções com herança autossômica e variados loci gênicos. As formas como se manifestam podem variar desde o surgimento precoce com rápida evolução até o surgimento tardio acompanhado de evolução lenta. A CK está sempre elevada e a biópsia muscular revela o padrão de distrofia com variação do calibre das fibras musculares. A presença de fibras hipertróficas com segmentação em seu interior é frequente. Com técnicas de biologia molecular já é possível identificar os diferentes tipos de DCM relaciona- dos com as proteínas associadas a distrofia e com as sarco- glicanas. A distrofia face-escapuloumeral (DFEU), de herança autossômica dominante, é caracterizada pelo comprometi- mento dos músculos da face, da cintura escapular e do bíceps braquial. Apresenta-se como doença rara com inci- dência estimada em 0,4/100.000. Na forma clássica, inicia com fraqueza na face e na cintura escapular, apresentando maior comprometimento nos músculos periescapulares e bíceps braquial. Por conta do comprometimento periescapular, observa-se a escápula alada bilateral. Os casos com comprometimento mais grave CAPÍTULO 1 ! PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO12 dessa musculatura podem ser tratados com artrodese cirúr- gica escapulotorácica. A fraqueza dos músculos da face inicia-se de forma insidiosa, havendo dificuldade para suc- ção ou assobio. A distrofia muscular oculofaríngea apresenta como prin- cipal característica a oftalmoplergia externa crônica progres- siva associada a disfonia e disfagia. De natureza autossô- mica dominante, tem seu início a partir da quinta década de vida. Apresenta um quadro de ptose palpebral bilateral associado a um comprometimento da musculatura inervada pelo nervo trigêmeo e pelos pares bulbares. A distrofia muscular congênita (DMC) é caracterizada por hipotonia neonatal e atraso no desenvolvimento motor, associado a contraturas articulares progressivas. Em geral, o quadro clínico se estabiliza. Porém, alguns pacientes apre- sentam piora progressiva. O maior comprometimento está associado às contraturas. Miotonias As miotonias são caracterizadas pela dificuldade em produ- zir o relaxamento após um estado de contração muscular, sendo acentuada especialmente nos dias mais frios. A mio- tonia congênita apresenta duas formas de herança, autos- sômica recessiva (HAR) e autossômica dominante (HAD, doença de Thomsen). Pode-se observar a presença de mio- tonia nas mãos. A forma mais comum é de HAD (doença de Thomsen), causada no cromossomo 7, região 7q35, caracterizada clinicamente por miotonia, presente, em geral, desde o nascimento, manifestando-se por demora em relaxar a musculatura da face e abertura dos olhos após o choro, além de hipertrofia muscular. A distrofia miotônica representa um distúrbio caracte- rizado por herança autossômica dominante, manifestando- -se com fraqueza muscular, miotonia (dificuldade de relaxa- mento muscular) e comprometimento multissistêmico (ca- tarata, calvície, bloqueio de condução cardíaca, hipogona- dismo e déficit cognitivo). Distrofia miotônica tipo 1 (DM-1), conhecida também como distrofia miotônica de Steinert, é a forma mais co- mum de distrofia muscular do adulto. É o resultado da expansão de nucleotídeo repetitivo (ctg) no gene DMPK (cromossomo 19q13.3). A distrofia miotônica tipo 2 (DM-2) é causada por expan- são do (cctg) do íntron 1 do gene ZNF9. A avaliação clínica sequencial e o exame de imagem mostram que o masseter e os músculos proximais e distais dos membros são significantemente afetados e há piora no decorrer da idade, o que demonstra curso progressivo da enfermidade. Na DM-2, há mais comprometimento pro- ximal quando comparada à DM-1. O comprometimento clínico está intimamente relaciona- do com o número de repetições dos nucleotídeos. Quanto maior a expansão, mais exuberante é o quadro clínico. Deve- -se chamar a atenção para bloqueio cardíaco e episódios de morte súbita. Miopatias congênitas As miopatias congênitas formam um grupo de doenças caracterizadas por apresentarem em comum hipotonia neo- natal, atraso no desenvolvimento motor, ainda que não progressivo, demonstrando, inclusive, melhora com o passar do tempo. Entre elas, ganha destaque a miopatia central core, por estar associada a hipertermia maligna. A hipertermia maligna é uma síndrome de origem fármaco-genética que classicamente se manifesta quando seu portador é submetido a potentes anestésicos inalatórios alogenados (halotano, isoflurano, etc.)e/ou bloqueadores neuromusculares despolarizantes (succinilcolina). 21,22 A alte- ração observada é uma descontrolada liberação de Ca 2+ " FIGURA 1.16 Representação do sinal de Gowers, extraído da publicação de William Richards Gowers, em 1886, de- monstrando como um paciente com distrofia muscular le- vanta-se, parecendo galgar a si mesmo na tentativa de com- pensar a fraqueza dos músculos extensores das coxas. Fonte: Gowers e Taylor. 20 PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA 13 do retículo sarcoplasmático para o interior do músculo esquelético, provocando um estado de hipermetabolismo. Esse fenômeno gera um consumo de grande quantidade de energia, com rápida e intensa elevação da temperatura. A rigidez muscular associada à falência dos estoques de ATP e a lesão mitocondrial pelo tamponamento do Ca 2+ levam a um dano estrutural da membrana da fibra muscular, provocando liberação de constituintes intracelulares (rab- domiólise), acidose e evolução rápida, muitas vezes para óbito. 23 As anormalidades celulares mais frequentes estão nos receptores de rianodina, que são canais de liberação de Ca 2+ presentes na membrana do retículo sarcoplasmá- tico. 23 Miopatias metabólicas São alterações do mecanismo de produção de energia das células em decorrência de defeitos enzimáticos. As glico- genoses são assim denominadas por apresentarem altera- ções do metabolismo da glicose com subsequente acúmulo de glicogênio no interior da fibra muscular. As lipidoses apresentam acúmulo de triglicérides no interior das fibras musculares. A mitocondriopatia é característica de uma grande varie- dade de síndromes clínicas que apresentam comprometi- mento da musculatura esquelética e do cérebro. Sua mani- festação clínica se dá pela evidência de contraturas muscula- res, intolerância ao exercício, cãibras, paresia da musculatu- ra proximal, paralisia progressiva da musculatura ocular ex- tríseca, entre outras. Miopatias adquiridas As miopatias inflamatórias compõem um subgrupo das miopatias adquiridas, tendo como quadro comum um pro- cesso inflamatório do músculo esquelético. De modo geral, a causa é conhecida (bactéria, fungo, protozoário, vírus). Nas miopatias inflamatórias autoimunes, incluem-se a po- limiosite (PM), que apresenta comprometimento da muscu- latura esquelética, a dermatomiosite, com comprometimen- to de pele e músculo esquelético, a miosite autoimune ne- crotizante e a miosite por corpo de inclusão. Pacientes com polimiosite ou dermatomiosite respondem com esteroides e vários medicamentos imunossupressores ou imunomo- duladores, como imunoglobulina humana endovenosa. DOENÇAS NEUROMUSCULARES E EXERCÍCIO As doenças neuromusculares (DNMs) não são frequentes, havendo uma maior prevalência na população idosa. A maioria delas é incurável, e os medicamentos prescritos são úteis para o alívio de certos sintomas associados. A orientação de reabilitação está presente em praticamente todas as consultas médicas. Entretanto, muitas dúvidas ain- da permanecem. A prática de exercícios físicos como coadjuvante no tra- tamento de doenças tem sido defendida pelos resultados positivos encontrados por pesquisas com as diversas popu- lações (p. ex. cardiopatas, diabéticos, osteopênicos, porta- dores de algum tipo de câncer, HIV, entre outros). 24-27 Não podemos esquecer que, nesses casos, o músculo esquelé- tico não é o principal tecido afetado pelo quadro. Diferentemente do que se observa em outras popula- ções, não há ainda estudos conclusivos acerca dos benefí- cios da prática de exercícios físicos em portadores de doen- ças neuromusculares. A forma heterogênea como cada doença neuromuscular se manifesta (diferentes níveis de comprometimento e gravidade do quadro), o número insu- ficiente de indivíduos por grupo e a impossibilidade do uso de grupo-controle com o mesmo tipo de doença são limitações metodológicas frequentemente encontradas nesses estudos. O que se observa é que, de modo geral, há uma resposta favorável à inclusão de algum tipo de exercício associado ao tratamento dessas doenças. O que ainda não se sabe é a “dose” certa. A inclusão de exercício físico no tratamento de doenças como DMD e ELA, que apresentam rápida evolução, deve ser analisado com cautela, uma vez que pode agravar o quadro. Verificou-se o efeito do exercício de endurance sobre parâmetros cardiorrespiratórios de pacientes com deficiên- cia da enzima miofosforilase (doença de McArdle). O exer- cício de endurance (3 a 5 vezes por semana, 60 a 70% do VO 2 máximo durante 30 a 40 minutos) aumentou o VO 2 máximo em 14%, a capacidade de trabalho em 36% e o débito cardíaco em 15%. Foram investigados efeitos do treinamento de força em pacientes com DMCM (diabetic cardiomyopathy) e DMB. Foram empregadas cargas entre 70 e 95% de uma repetição máxima (1 RM) durante um período de 12 semanas (3 ses- sões/semana). Os exercícios executados foram: extensões de joelho, flexões de cotovelo, dorsiflexões plantares e fle- xões/extensões de punho. Foi observada melhora significati- va da força nos flexores e nos extensores de punho e da resistência nos flexores do cotovelo. Os exercícios resistidos (treinamento de força) parecem ser mais indicados, uma vez que a maioria das doenças neuromusculares cursa com maior comprometimento das fibras do tipo II. No entanto, a intensidade moderada propi- ciada pelos exercícios de endurance parece oferecer menor risco de lesão. A eletroestimulação aplicada a pacientes com doenças neuromusculares tem sido objeto de estudo nos últimos anos. Os resultados são animadores. Em pacientes com CAPÍTULO 1 ! PROPEDÊUTICA DO MÚSCULO14 distrofia muscular de cintura-membros, a eletroestimulação ou estimulação galvânica pulsátil de alta voltagem (EGPAV) promoveu aumento de força superior ao aumento de força produzido pelo exercício resistido progressivo. Em portadores de distrofia face-escapuloumeral, foi ob- servado melhora significativa na força muscular, sem altera- ções significativas nos valores de creatinoquinase plasmá- tica. EXAME CLÍNICO Ao se descrever uma doença neuromuscular, o sinal mais evidente é a fraqueza muscular que ocorre de forma variada, podendo manifestar-se em todos os períodos de desenvolvi- mento do indivíduo. Hipotonia neonatal, atraso no desen- volvimento motor, alterações no padrão da marcha (marcha anserina), queixa de quedas, dificuldade de deglutir (disfa- gia) e/ou falar (disartria) e comprometimentos na visão (di- plopia) são diferentes formas de manifestação da fraqueza muscular. Cãibras e contraturas musculares são queixas co- muns. Já fasciculações estão relacionadas a doenças do neurônio motor. EXAME FÍSICO Inicia-se o exame físico pela inspeção dinâmica, observando o paciente sentado, em pé e deitado. Na inspeção estática, verifica-se o trofismo muscular. A observação de variações no padrão de normalidade, como redução do tamanho (atrofia) ou aumento do tamanho (hipertrofia), são caracte- rísticas que necessitam de um detalhamento descritivo quan- to a localização, extensão, intensidade e distribuição. Para determinar a consistência da musculatura ou a exis- tência de dor, a conduta mais adequada é a palpação. A dor está presente nas miopatias inflamatórias, enquanto a flacidez é indicativa de hipotonia. As contraturas manifes- tam-se com mais frequência nas miopatias metabólicas, como as glicogenoses, enquanto o aspecto de “borracha” é típico das distrofias musculares de DMD e DMB. A movimentação passiva auxilia na detecção de altera- ções do tônus muscular. Nesse procedimento, o avaliador realiza movimentos sucessivos em velocidade de alguns segmentos corporais do paciente. A amplitude de movi- mento é maior e a resistência produzida pelo reflexo do estiramento é menor no músculo hipotônico. Outro exame fundamental a ser realizado é a percus- são muscular. Para tanto, aplica-se um golpe seco e de intensidade moderada com um martelo dereflexos sobre o músculo examinado. Nos casos de miotonia, esse procedi- mento provoca uma depressão dos tecidos por vários se- gundos, devido a uma irritabilidade mecânica acima do normal decorrente de uma incapacidade de relaxamento muscular após uma contração. A força muscular deve ser avaliada em todos os segmen- tos corporais. O observador deverá aplicar uma resistência contra o segmento avaliado e comparar os resultados de ambos os lados. A avaliação da força muscular deve tomar por base a escala em graus (0-5) proposta pelo Medical Research Council of Great Britain (MRC) e divulgada por Kendall (Quadro 1.1). 28 QUADRO 1.1 ! AVALIAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR PROPOSTA POR KENDALL Grau Características % de força em relação ao normal 0 Não existe contração muscular (sem movimento) 0 1 Existe contração muscular perceptível, sem haver movimento 0-10 2 O músculo é capaz de movimentar-se quando a gravidade é eliminada 11-25 3 O músculo é capaz de movimentar-se contra a gravidade, porém não contra a resistência 26-50 4 O músculo é capaz de movimentar-se contra algum grau de resistência 51-75 5 Força muscular normal 76-100 PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA 15 ! REFERÊNCIAS 1. Meyer C, Dostou J, Welle S, Gerich J. Role of human liver, kidney, and skeletal muscle in postprandial glucose homeostasis. Am J Physiol Endocrinol Metab. 2002;282(2):E419-27. 2. Meyer C, Saar P, Soydan N, Eckhard M, Bretzel R, Gerich J, et al. A potential important role of skeletal muscle in human counterregulation of hypoglycemia. J Clin Endocrinol Metab. 2005;90(11):6244-50. 3. Tschakovsky M, Sheriff D. 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Marcelo R. de Abreu O tecido cartilagíneo é formado a partir de células mesen- quimais indiferenciadas multipotentes, do mesmo modo que as células que originam o tecido fibroso, o tecido ósseo, o tecido adiposo, o tecido muscular, as células endoteliais e as células mesoteliais. 1 Portanto, a especialidade médica orto- pedia e traumatologia atende principalmente lesões e pato- logias dos tecidos provenientes do mesênquima. 2 O mesên- quima se origina, em especial, do folheto embrionário inter- mediário, o mesoderma. 1-9 O tecido cartilagíneo é uma forma especializada de tecido conjuntivo de consistência rígida. 3 Outra forma de perceber esse encadeamento entre as diversas células e os seus tecidos é considerar que as células mesenquimais formam o fibroblasto, que é a célula proge- nitora, e este então vem a se diferenciar em colagenoblasto, condroblasto ou osteoblasto. 2 Essa maneira peculiar de de- nominar as células leva em consideração que todas estas três têm em comum a capacidade de produzir fibras. Ao haver a diferenciação, o colagenoblasto produz tecido fibro- so, o osteoblasto produz tecido osteoide e o condroblasto, tecido condroide. 2 Todas as três formas “blásticas” podem, em circunstâncias especiais, se transformar em quaisquer uma das outras duas. 2 Há discussões entre histologistas e histopatologistas sobre a possibilidade de haver transforma- ção de células em fases blásticas até mesmo em outros tipos de tecidos de origem mesenquimal, como gordura e músculo. 2 Em culturas de condrócitos submetidas a tensões, foi observada a desdiferenciação de condrócitos: ou seja, eles se tornaram células similares a fibroblastos e começaram a sintetizar colágeno do tipo I, em vez de colágeno tipo II, como era esperado da célulaoriginal, que era um condró- cito. 3 Os condrócitos se adaptam aos estímulos mecânicos alterando a matriz extracelular. 3 Observa-se no pericôndrio que as células são semelhantes aos fibroblastos; mesmo em sua parte mais profunda, quando já estão perto da car- tilagem, multiplicam-se por mitoses e formam condrócitos. 4 Neste capítulo, abordaremos aspectos gerais sobre a cartilagem, focando sua importância na formação do esqueleto, no crescimento e na capacidade de reparação. Também discorreremos sobre doenças que a alteram direta- mente (condromalacia da patela) ou indiretamente, com envolvimento do osso subcondral (osteonecroses, osteo- condrite dissecante). Manteremos a visão puramente pro- pedêutica: abordaremos conhecimentos de ciências básicas correlacionados à clínica e ao diagnóstico. ! TIPOS DE CARTILAGEM Conforme as necessidades funcionais do organismo, as car- tilagens se diferenciam em três tipos: hialina, elástica e fibro- sa. A cartilagem hialina é a mais comum, e sua matriz possui delicadas fibrilas, constituídas principalmente de colágeno tipo II. 1-7 A cartilagem elástica tem poucas fibrilas de colá- geno tipo II e é abundante em fibras elásticas. A cartilagem fibrosa apresenta preponderância de fibras de colágeno tipo II. 4 A cartilagem hialina é o tipo encontrado com mais fre- quência no corpo humano; ela tem a cor branco-azulada e translúcida quando vista em indivíduos jovens e gradativa- mente muda a cor para um tom amarelado. 4 Encontramos a cartilagem hialina na parede das fossas nasais, nos brôn- quios, na traqueia, na ponta ventral das costelas e na liga- ção delas com o esterno. Também está presente na super- fície das articulações com grande movimento, como, por exemplo, nas articulações de ossos longos. 2 PROPEDÊUTICA ORTOPÉDICA E TRAUMATOLÓGICA 17 A cartilagem fibrosa, ou fibrocartilagem, é encontrada na sínfise púbica, nos discos intervertebrais e em algumas inserções de tendões e ligamentos. Trata-se de um tecido que é a mistura de cartilagem com tecido fibroso. Ela tem textura densa entre a cartilagem hialina e o tecido fibroso. A cartilagem elástica é encontrada no pavilhão auditivo, na epiglote e na laringe. É parecida com a cartilagem hialina, mas tem como características físicas o fato de ser mais ma- leável e mais amarelada. Essa cor é consequência da maior quantidade de elastina. O pericôndrio é uma camada fibrosa, rica em colágeno tipo I, que recobre todas as cartilagens hialinas, exceto a cartilagem articular. Ele é a fonte de novos condrócitos e local onde penetram os vasos para nutrição e saem veias e linfáticos levando os refugos do metabolismo. Na camada superficial, é composto de um colágeno espesso (tipo I) e à medida que aprofundamos a visão, gradativamente, ele vai ficando mais rico de células similares a fibroblastos, as quais, ao se aproximarem da cartilagem hialina, proliferam formando condrócitos. 4 Seriam então estas células mais profundas do pericôndrio os condroblastos; e as mais su- perficiais, os fibroblastos. Se pensarmos que os processos funcionais dos tecidos e das próprias células são dinâmicos, podemos concluir que as observações histológicas de teci- dos fixados em uma lâmina somente nos darão uma ideia da distribuição celular e do provável comportamento delas nas diversas camadas naquele momento. Portanto, há mui- tos dados que demonstram a capacidade de transformação das células conforme a necessidade e que a origem vem de uma única célula. Assim, ela seria mais bem denominada fibroblasto, a mãe das células produtoras de fibras. 1 Todas as cartilagens são fundamentais. Contudo, para o estudo em ortopedia e traumatologia, a cartilagem hialina é a mais importante por sua localização nas articulações. Acresce-se a isso o fato de que o desenvolvimento ósseo é promovido pela ossificação endocondral ainda intraútero, e o crescimento longitudinal de ossos do esqueleto axial é feito por meio das cartilagens de crescimento, que também são cartilagens hialinas. Veremos adiante os detalhes de cartilagens intraútero que servem de molde para os futuros ossos, cartilagens de crescimento ou placas fisárias e carti- lagens das epífises. ! HISTOLOGIA AS CÉLULAS E A MATRIZ EXTRACELULAR Em uma visão genérica dos tecidos conjuntivos, observamos que a estrutura de todos eles é composta por células que produzem os componentes da matriz extracelular e com- põem uma rede de colágeno e de proteoaminoglicanos. 1 Essa estrutura é como uma rede tridimensional ou uma esponja com um gel entre as suas traves e muita água, onde as células ficam suspensas e contidas. A qualidade e a quantidade desses componentes variam conforme a região do corpo. O colágeno do tipo I é o mais abundante entre todos. Ele compõe a estrutura básica de ossos, tendões, meniscos, discos intervertebrais e ligamentos. O colágeno tipo I é en- contrado na cartilagem, na fase intraútero, e é removido gradativamente com o crescimento até a sexta semana após o nascimento. 5 O colágeno do tipo I da fase fetal é trocado por colágenos tipos II, VI, IX e XI. Na cartilagem, após a sexta semana de vida, há a predominância do colágeno tipo II (90%) (Tabela 2.1). 5 Nas culturas de condrócitos, quando ocorre desdiferenciação para fibroblastos, há a ten- dência de ocorrer a formação de colágeno tipo I, e a sua presença serve de controle de qualidade, como uma produ- ção indesejável para estudos de bioengenharia de cartila- gem. 5 A composição da matriz extracelular irá variar de tecido para tecido. Nos ossos, será formado tecido osteoide que permitirá a deposição de sais de cálcio e a organização em torno de vasos conforme as solicitações mecânicas; nos tendões, haverá a formação de fibras de colágeno tipo I em grande quantidade, que serão orientadas no sentido das forças musculares. O mesmo fenômeno ocorre com as cápsulas articulares e os ligamentos. Na cartilagem, encontramos: o colágeno tipo II, que formará a estrutura principal; o colágeno tipo VI, que é encontrado na matriz pericelular; o colágeno IX, que forma ligações covalentes com fibras de colágeno do tipo II, bem como as fibras de colágeno tipo XI, que formam as ligações cruzadas (crosslinks) e servem para reforçar mecanicamente a estrutura montada com os outros dois tipos de fibras (Figura 2.1). 3,5 A matriz extracelular da cartilagem é um gel espesso composto de água, colágeno na forma de fibras, além de fibrilas de colágeno em sua forma hidrossolúvel, ácido hia- lurônico, glicoproteínas e proteoaminoglicanos muito hi- dratados. A cartilagem tem seu peso seco composto de 40% de colágeno tipo II. 4 Há a matriz pericelular, que se encontra em torno dos condrócitos, e a matriz entre as fibras de colágeno, a cha- mada matriz interfibrilar. 6 Nas preparações histológicas, ob- serva-se a presença de lacunas em torno dos condrócitos, mas estas não passam de artefatos de técnica. Na verdade, não existem espaços livres – a membrana celular dos con- drócitos é contígua à matriz. Essa matriz pericelular, ou territorial, é rica em substância fundamental, enquanto, na matriz geral ou interterritorial, as fibrilas de colágeno são proeminentes. 6 Estudos com técnicas histoquímicas su- gerem que condroitina sulfato está presente em toda a matriz extracelular, mas é mais concentrada na matriz pe- CAPÍTULO 2 ! PROPEDÊUTICA DA CARTILAGEM18 TABELA 2.1 ! TIPOS DE COLÁGENO Tipo Microscopia de luz Tamanho da molécula Tecidos representativos Principal função Colágenos que formam fibrilas I Espesso, altamente 300 nm Pele, tendão, osso, dentina Resistência à tensão birrefringente Periodicidade de 67 nm II Agregado frouxo de 300 nm Cartilagem, corpo vítreo Resistência à pressão fibrilas, birrefringente Periodicidade de 67 nm III Fino, fracamente Periodicidade de 67 nm Pele, músculos, vasos, Manutenção da birrefringente frequentemente associado estrutura de órgãos ao tipo I expansíveis V Frequentemente
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