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Maressa Duarte A Doença Renal Crônica (DRC) é definida pela lesão do parênquima renal (com função renal normal) e/ou pela diminuição funcional renal presentes por um período igual ou superior a 3 meses. É caracterizada por albuminúria ≥ 30 mg/dia e/ou perda da função renal com taxa de filtração glomerular < 60 ml/min/1,73m2; por um período maior que 3 meses. Fatores de Risco - DM do tipo 1 ou 2 - HAS - Idosos - IMC > 30 kg/m2 - Histórico de doença do aparelho circulatório (DAC, AVC, IC e doença vascular periférica) - Histórico de DRC na família - Tabagismo - Etnia negra - Uso de nefrotóxicos Os indivíduos com DRC que possuem pior prognóstico para perda de função renal ao longo da evolução clínica são: - Com níveis pressóricos mal controlados - Com níveis glicêmicos mal controlados - Com níveis de colesterol mal controlados - Estágios da DRC - Presença de albuminúria intensa - Tabagistas Filtração Fisiológica Ritmo de filtração Glomerular (RFG): é estimado através da dosagem de creatinina sérica. É usado na avaliação da função renal em indivíduos saudáveis e doentes. Muitos indivíduos com DRC podem manter níveis normais de creatinina sérica, mesmo com função renal reduzida. Cistatina C: consiste em um marcador indireto de filtração glomerular. É uma superfamília de proteínas, consistindo principalmente em inibidores de proetases cisteínicas. Como não sofre variações por causas extra renais, também pode ser utilizada como marcador de ritmo de filtração glomerular. Equação de CKD-EPI: serve para estimativa da TFG. Etiologia As principais etiologias são: - Nefroesclerose hipertensiva - Glmoerulopatia diabética - Glomerulopatia primária - Rins policísticos - Outras nefropatias císticas e tubulointersticiais Nefropatia Diabética A DM tem como alvo os glomérulos e assim estabelece ou uma lesão glomerular ou uma lesão tubulointesticial e vascular. (Já dito no resumo de diabetes). Nefropatia Hipertensiva Ocorre em hipertensos de longa data que cursam com arterioloesclerose hialina nas arteríolas aferentes renais (nefloesclerose hipertensiva). O primeiro sinal de comprometimento renal nesse caso é a microalbuminúria. Pode ainda se cursar com nefroesclerose hipertensiva maligna que ocorre principalmente em negros e decorre de uma hipertensão acelerada mailigna nas arteríolas renais, que sofrem um processo de arterioesclerose hiperplásica e necrose fibrinoide arteriolar. Pode haver hematúria. Fisiopatologia As duas principais causas de DRC são a HAS e a DM, por isso será abordado o estabelecimento da doença em ambos os casos. IRA: insuficiência renal aguda consiste em um dano renal < 3 meses de evolução, de caráter rápido, desenvolvendo- se em horas ou dias. É reversível. É identificada pela elevação da ureia e creatinina (azotemia) com ou sem sintomas. ICR: a insuficiência renal crônica refere-se ao processo de redução irreversível, significativa e contínua da quantidade de néfrons, correspondendo aos estágios 3 a 5 da DRC. O padrão-ouro para diferenciação de ambas as IR, é a USG renal, em que um rim pequeno (< 8 cm) denota uma IRC, e um rim normal ou aumentado denota uma IRA. As glomerulopatias primárias são: - Doença de lesões mínimas - Glomerulosclerose segmentar e focal - Glomerulonefrite proliferativa mesangial (com depósitos de IgA [Doença de Berger]; e com depósitos de IgM) - Glomerulonefrite membranosa - Glomerulonefrite membranoproliferativa - Glomerulonefrite crescêntica - Glomerulonefrite fibrilar - Glomerulonefrite imunotactóide - Glomerulopatia do colágeno III Maressa Duarte À medida que a perda de néfrons progride, os néfrons remanescentes tentam excretar o material em excesso, além de sua carga básica, causando uma hiperfiltração adaptativa. Por isso que em pacientes com doença renal leve pode haver creatinemia normal, sem hipervolemia ou alterações eletrolíticas. Contudo, essa HA acaba induzindo lesão glomerular pelo processo de glomeruloesclerose segmentar focal, ou seja, essa hiperfiltração causa lesão da parede glomerular, causando uma proteinúria. Essa condição evolui para glomeruloesclerose global difusa que é caracterizada por fibrose e atrofia de todo o néfron. Assim, mesmo que a doença de base seja controlada ou abolida, a injúria renal estabelecida persiste, e assim, a própria DRC causa autoperpetuação. Estágios O estadiamento da DRC segundo o sistema da KDIGO permite estratificar o paciente quanto ao risco de complicações da DRC e identificar a gravidade da doença. Estágio 1 – normal Estágio 2 – diminuição leve Estágio 3A – diminuição leve a moderada Estágio 3B – diminuição moderada a grave Estágio 4 – diminuição grave Estágio 5 – falência renal Os estágios 1 e 2 não estão associados à sintomas clássicos de redução da TFG. O paciente pode ter sintomas causados pela doença renal de base, como o edema na síndrome nefrótica ou sinais de hipertensão secundária. Os estágios 3 e 4 apresenta-se com sinais e sintomas de quase todos os sistemas, tendo: anemia e fadiga associada; perda de apetite com desnutrição progressiva; anormalidades do cálcio, fosforo e hormônios que regulam os minerais; e anormalidades da hemostasia do sódio, do potássio, da água e do equilíbrio ácido-base. Quando a doença renal avança para o estágio 5, considera-se uma DRC terminal e caracteriza-se pelo acúmulo de toxinas que provocam a síndrome urêmica. Além dessa da TFG, valoriza-se também a albuminúria com a seguinte classificação: A1 – < 30 mg/dia (normal) A2 – 30-300 mg/dia (aumento moderado) A3 – > 300 mg/dia (aumento grave) Assim, pode se classificar o paciente de acordo com a sua condição laboratorial da seguinte forma: G1A2, G3Aa1 (DRC leve a moderada) e outros. Quando o paciente se encontra em diálise, acrescenta a letra D. Síndrome Urêmica A síndrome urêmica consiste em um conjunto de sinais e sintomas que aparece na insuficiência renal grave, quando a filtração glomerular está < 30 ml/min, ocorrendo no estágio 5. É uma condição decorrente da disfunção renal grave que leva ao acúmulo de substância tóxicas endógenas, como ureia, compostos guanidinicos (creatinina), compostos aromáticos, aminas alifáticas e poliaminas. A ureia apresenta efeito tóxico em altas concentrações (> 380 mg/dl), desenvolvendo toxicidade gastrointestinal e hematológica. Clínica e Complicações A doença renal crônica cursa com algumas manifestações decorrentes das complicações oriundas da disfunção renal. Essas complicações são ainda mais expressas quando a doença se encontra em uremia, causando manifestações evidentes. Distúrbio Hidroeletrolítico Na IRC, à medida que a filtração glomerular se reduz, aumenta- se a fração excretória para manter a excreção renal total. Esse mecanismo de adaptação consegue se manter enquanto a TFG estiver > 20 ml/min. Assim, o paciente com síndrome urêmica possui retenção de sódio, potássio, água, fosfato e magnésio. Quando a TFG < 20 ml/min, a regulação hidroeletrolítica é afetada, e pouco sódio é excretado, promovendo uma retenção de Na+, e consequentemente um estado hipervolêmico. Essa hipervolemia estimula a liberação do hormônio peptídeo atrial natriurético que suprime o SRAA, promovendo aumento da fração excretória de sódio. Esse estado hipervolemico, predispõe o aparecimento de HAS e edema generalizado. O edema renal é caracterizado por se apresentar nos MMII, bolsa escrotal na face e periorbital. Contudo, qualquer aumento na ingestão de sódio provocará uma maior retenção volêmica, até que seja atingido um novo equilíbrio. Caso esse equilíbrio não seja alcançado, o paciente pode evoluir para edema agudo de pulmão. Azotemia: é causada quando os produtos provenientes da degradação proteica deixam de ser filtrados pelos rins.Isso aumenta o fluxo de produtos nitrogenados no sangue (ureia e creatinina). Maressa Duarte BALANÇO DO POTÁSSIO Há retenção de potássio em casos de TFG < 5-10 ml/min e assim, quanto mais oligúrio for o paciente, maior é a retenção de K+. Acidose Metabólica É comum em DRC avançada e ocorre quando a filtração encontra-se < 20 ml/min. Com essa TFG a produção renal de amônia começa a cair, e assim, a eliminação urinária de H+ torna-se prejudicada, promovendo uma Acidose metabólica hiperclorêmica (ânion gap normal). Normalmente o bicarbonato fica com valores entre 12-18 mEq/L e o pH em torno de 7,35 caso não haja compensação respiratória. Distúrbios do cálcio e fósforo Ocorre principalmente pela elevação do paratormônio (PTH), que estimula a reabsorção óssea. A produção de PTH depende de 3 fatores: calcitriol, níveis séricos de fosfato e de cálcio ionizado. Na síndrome urêmica há uma filtração < 40 ml/min, causando retenção de fosfato, que age inibindo a produção de calcictriol. Com concetrações baixas de calcitriol, há o aumento da produção de PTH. Assim, o PTH contribui para diversas complicações, dentre elas, para a Osteodistrofia renal, em virtude de uma alteração da matriz óssea e sua da sua dismineralização, predispondo à dor óssea, fraturas patológicas e deformidade esquelética. Existem 2 tipos de OR: osteopatia de alto metabolismo (alto turn over), decorrente do aumento de PTH; e a osteopatia de baixo metabolismo (baixo turn over). OSTEOPATIA DE ALTO TURN OVER É chamada de osteíte fibrosa cística e ocorre pelo hiperparatireoidismo que estimula a reabsorção óssea, ativando a neoformação óssea. Esses novos ossos possuem uma arquitetura com fibras colágenas mineralizadas desorganizadas, formando um osso trançado ou entrelaçado, sendo propenso a fraturas e deformidades. Também pode ocorrer a fibrose parcial da medula óssea. Em estágios avançados pode haver a formação de cistos ósseos, algumas vezes com elementos hemorrágicos, adquirindo uma coloração marrom, dando origem aos tumores marrons. Clínica: dor óssea principalmente lombar, podendo ser no quadril, joelhos e membros inferiores; fraturas patológicas; deformidades ósseas. Laboratorial: hiperfosfatemia, PTH muito elevado, fosfatase alcalina sérica elevada. Achados radiológicos: depósitos teciduais e vasculares de cálcio; reabsorção subperiosteal das falanges da mão; crânio em sal e pimenta; coluna em camisa; e tumor marrom. OSTEOPATIA DE BAIXO TURN OVER Pode ser representado tanto pela doença óssea adinâmica como pela osteomalácia. 1. Doença Adinâmica: caracterizada por um baixo metabolismo ósseo, com perda da densidade do osso. Ocorre pelo estado inflamatório crônico associado à DRC ou pela supressão excessiva da síntese de PTH. 2. Osteomalácia: osteopatia que se apresenta histologicamente pelo aumento do volume de osteoide. O diagnóstico é confirmado com biópsia. Pode ser causada pela deficiência de calcitriol e pela acidose metabólica crônica. Doenças Cardiovasculares HAS Está presente em praticamente 90% dos pacientes com DRC, principalmente naqueles com filtração glomerular < 10 ml/min. DOENÇA VASCULAR ISQUÊMICA Ocorre em pacientes com DRC pelos seguintes fatores de risco: HAS, hipervolemia, dislipidemia, hiperatividade simpática; além de, anemia, hiperfosfatemia, hiperparatireoidismo e inflamação generalizada. O estado inflamatório (elevação de citocinas e de PCR) acelera a doença vascular obstrutiva. Além disso, há redução do fluxo sanguíneo coronariano, quantidades pequenas de NO e elevação de troponina cardíaca. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA É resultando da isquemia miocárdica, da hipertrofia ventricular esquerda e da miocardiopatia avançada, além da retenção de sódio, hipervolemia e outros. Apresenta com disfunção ventricular sistólica. Apresenta sintomas clássicos como: dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, hepatomegalia congestiva, ascite, edema em MMII e outros. PERICARDIOPATIA Pode desenvolver pericardite urêmica associada à uremia elevada, podendo estar acompanhada de derrame pericárdico. É caracterizada por: dor torácica do tipo pleurítica; anormalidades eletrocardiográficas com depressão do intervalo RP e elevação do segmento ST; atrito pericárdico e outros. Anemia É uma das primeiras manifestações da síndrome urêmica bastante presente em DRC de estágio 3 e 4. Em geral, manifesta- se quando a taxa de filtração glomerular (TFG) encontra-se < 70 mL/min/1,73m2 em homens e < 50 ml/min/1,73m2 em mulheres A causa primária é a produção insuficiente de eritropoetina pelos rins afetados, além de deficiência de ferro, inflamação aguda ou crônica (aumenta a demanda de ferro), hiperparatireoidismo com fibrose de medula óssea, e outros. Os pacientes diabéticos constituem um grupo de risco, visto que desenvolvem anemia mais grave. Laboratorial: É uma anemia normocítica e normocrômica. Ferritina < 100 ng/ml e saturação de transferrina < 20%. Clínica: astenia, indisposição física e mental, depressão, déficit cognitivo, insônia, cefaleia, redução do libido, anorexia e tendencia a sangramento. Maressa Duarte Hemostasia Anormal A uremia cursa com tendencia ao sangramento por anormalidade da hemostasia primária, isso porque a uremia inibe as funções plaquetárias e inibe o fator de Von Willebrand. Assim, o paciente apresenta prolongamento do tempo de sangramento, atividade reduzida do fator 3 plaquetário, tendencia aumentada de sangramentos e equimoses, menorragia e outros. Manifestações Neurológicas ENCEFALOPATIA URÊMICA Há o comprometimento do estado mental e declínio cognitivo pela filtração glomerular < 10 ml/min, causando acúmulo de toxinas nitrogenadas dialisáveis. Além disso, o excesso de PTH atua no SNC levando à entrada de cálcio nos neurônios, contribuindo para os sintomas. Na encefalopatia urêmica aguda o paciente pode apresentar desorientação, letargia, confusão mental, surto psicótico, dellirium, disartria, mioclonia e outros. Na encefalopatia urêmica crônica o paciente apresenta disfunção cognitiva progressiva, dificuldade de concentração, alteração do comportamento ou da personalidade e outros. NEUROPATIA PERIFÉRICA Torna-se clinicamente detectável a partir do estágio 4. Inicialmente os nervos sensoriais são mais acometidos que os motores. Começa com parestesia nos pés do tipo agulhada, com piora noturna. Pode haver hiporreflexia de Aquileu, perda da força distal e atrofia muscular, além de dificuldade de marcha. A síndrome das pernas inquietas caracteriza-se por sensações mal definidas de desconforto ocasional incapacitante nas pernas e nos pés, aliviado com movimento frequente. SÍNDROME DE DISAUTONOMIA Causa descontrole da PA e da FC, causando taquicardia de repouso e hipotensão postural. A perda da influência vagal pode predispor a arritmias malignas e à morte súbita. Além disso pode haver: anidrose, impotência e distúrbios gastrointestinais. Anormalidades Gastrointestinais A uremia afeta de forma exacerbada o TGI. O sintoma mais precoce é a anorexia, seguindo de náuseas, plenitude abdominal e vômitos. Isso ocorre porque a SU provoca uma gastrite urêmica e uma gastroparesia urêmica. Pode haver ainda uma disgeusia que consiste na percepção de gosto amargo na boca, em virtude da transformação da ureia em amônia, por bactérias presentes na saliva, provocando o hálito urêmico (odor de urina no ar exalado). Há ainda o comprometimento da mucosa intestinal que pode causar uma diarreia urêmica, bem como ao íleo urêmico que consiste em um quadro de distensão abdominal e cólicas, sendo causados por uma inflamação da mucosa, com redução no tamanho das vilosidades. Hemorragias digestivas tanto alta quanto baixa, pode ocorrer. Há ainda a suscetibilidade à constipação. A desnutrição proteicocalórica secundária à baixa ingestão de proteínas e calorias é com um na DRC avançada (estágio 3) e geralmenteindica a necessidade de iniciar a terapia renal substitutiva. Distúrbios Endócrino-Metabólico A uremia altera o metabolismo dos carboidratos, provocando: intolerância à glicose e pseudodiabetes urêmico. Contudo, geralmente a glicose de jejum se encontra normal ou ligeiramente elevada e a intolerância não requer tratamento. Como a filtração renal se encontra prejudicada, há retenção de insulina na circulação, com isso, pacientes diabéticos com SU e em uso de insulina, devem sofrer alteração de dosagem. Na mulher, os níveis de estrogênio são baixos e pode causar anormalidades menstruais e incapacidade de levar as gestações ao termo (TFG < 40 ml/min provoca aborto espontâneo). No homem, há baixas concentrações de testosterona, o que pode causar disfunção sexual e oligospermia. Anormalidades Dermatológicas É comum: prurido, que pode melhorar com diálise ou piorar com acúmulo de cálcio na derme e epiderme; hiperpigmentação, que reflete a deposição de metabólicos pigmentados (urocromos) e a redução da vitamina A cutânea; xerose urêmica (pele seca); dermatopatia fibrosante nefrogênica, que consiste no endurecimento subcutâneo progressivo principalmente nos braços e pernas. Além disso os cabelos tornam-se quebradiços, secos e podem perder a coloração. Manifestações Musculares e Articulares O paciente com SU pode apresentar fraqueza muscular ligada à Osteodistrofia renal, sendo chamada de miopatia urêmica, causada principalmente pela deficiência de calcitriol. O quadro de fraqueza da musculatura proximal (cintura e escápula), manifesta-se principalmente com dificuldade em levantar da cadeira, subir escada e outros. Pode haver ainda o acometimento articular com monoatrite, oligoartrite e tenossinovite. Dislipidemia Em 80% dos pacientes com SU, encontramos hipertrigliceridemia isolada, podendo encontrar também queda de HDL, mas com LDL e colesterol normal. Isso ocorre pela inibição das enzimas envolvidas no metabolismo lipídico, pela uremia. Distúrbio Imunológico A uremia provoca um estado de imunodeficiência moderada em virtude de deprimir a função de neutrófilos, linfócitos B e monócitos, predispondo o paciente a infecção fúngicas e bacterianas, principalmente por serem pacientes submetidos a procedimentos invasivos. Diagnóstico Avaliação Inicial Os sinais e sintomas são sutis no início, até que se estabeleça a IRC. A história clínica que sugerem DRC são: HAS, diabetes, anormalidades do EAS e distúrbios gestacionais (pré-eclampsia ou abortamento precoce). Maressa Duarte Deve-se questionar sobre: - Apetite e emagrecimento - Náuseas e vômitos - Edema - Soluços - Edema periférico e cãibras musculares - Prurido - Pernas inquietas Colher informações sobre: história sobre os fármacos utilizados; história familiar EXAME FÍSICO - Verificar a PA - Procurar lesões dos órgãos-alvo secundários à HAS - Fundoscopia - Exame do precórdio - Exame neurológico do MMII Investigação Laboratorial A eletroforese das proteínas séricas e urinárias deve ser realizada em paciente com mais de 35 anos e DRC inexplicável, principalmente se houver anemia associada. Em pacientes com glomerulonefrite, as doenças autoimunes e as etiologias infecciosas devem ser investigadas. Encontra-se: - Albuminúria > 30mg/24h (EAS) - Anormalidades do sedimento urinário - Distúrbios eletrolíticos e outros - TFG reduzida < 60ml/min/1,73m2 A TFG é calculada pela Equação de Cockcroft-Gault: Depuração de creatinina (mL/min)= 140 - idade (em anos) x peso (quilogramas) / 72 x Crs (x 0,85 se mulher). Deve-se medir as concentrações séricas de cálcio, do fosforo, da vitamina D e do PTH, além da hemoglobina e níveis de ferro, B12 e folato. Diagnóstico de Anemia: hemoglobina < 13 g/dl em homens < 65 anos; e < 12 g/dL em mulheres e homens > 65 anos. Como a anemia é normocítica, o VCM encontra-se entre 80 a 96; e normocrômica a CHCM encontra-se entre 32 e 36 g/dl. Há ainda saturação de transferrina < 20%. Exames de Imagem A avaliação da imagem deve ser feita para indivíduos com história de DRC familiar, infecção urinária de repetição e doenças urológicas. O exame de imagem preferido é a ultrassonografia dos rins e vias urinárias. A USG dos rins determina o tamanho dos rins e a progressão da DRC. Na DRC encontra-se reduzido, com exceção da DRC associada à nefropatia diabética. O diagnóstico da doença renovascular pode ser estabelecido por ecodoppler e TC ou RM. Biópsia renal É uma abordagem escolhida em pacientes com suspeita de processo concomitante ou superposto em atividade, como nefrite intersticial ou nos casos de perda acelerada na TFG. Progressão da DRC Em uma DRC em progressão encontra-se uma TFG mais baixa (> 25% de diferença da dosagem anterior) e albuminúria mais elevada. Para essa avalição, deve-se realizar avaliações periódicas, dependendo da história clínica do paciente. Pode-se analisar ainda a creatinina, avaliando-se as taxas absolutas e relativa Em pacientes com glomerulonefrites ou com níveis aumentados de albuminúria, as avaliações devem ser realizadas a cada 1-3 meses. Tratamento Estágio 1 e 2 Acompanhamento: nas UBS para controle e tratamento dos fatores de risco modificáveis como HAS, DM, dislipidemia, obesidade, DCV, tabagismo e estilo de vida. Exames: deve-se avaliar anualmente a TFG e o EAS. Estilo de vida: reduzir a ingestão de sódio para 2g por dia, ou seja, 5g de NaCl; e abandonar o tabagismo. - Realiza-se a atualização do calendário vacinal. É importante a vacinação para hepatite B, pois esse paciente corre o risco de precisar de transfusões sanguíneas (FR para contaminação de hepatite B). Se faz também a vacinação para pneumococo 13 e 23. - Caminhada de 30 minutos 5x por semana para manter IMC < 25 kg/m2. - Importante evitar dieta hipoproteica. Controle da PA: manter a PA < 140x90 mmHg em pacientes não diabéticos e < 130x80 em pacientes diabéticos. Usa-se IECA ou BRA. Controle da DM: em pacientes diabéticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. Estágio 3A Acompanhamento: em UBS para tratamento de FR modificáveis. Exames: dosagem de potássio, fósforo e PTH anualmente. - Avaliação da TFG, do EAD e RAC também anualmente. - Em caso de relação albuminúria e creatinina (RAC) > 30mg/g, essa avaliação deve ser semestralmente. - Realizar sorologia para Hepatite B no início do tratamento. Estilo de vida: reduzir a ingestão de sódio (< 2g/dia). - Abandono do tabagismo. - Correção de dose de medicações de acordo com a TFG. - Realiza-se a atualização do calendário vacinal. - Correção da dose de medicações como antibióticos e antivirais de acordo com a TFG. Atividade Física: caminhada por 30 min 5x por semana Maressa Duarte Controle da PA: manter a PA < 140x90 mmHg em pacientes não diabéticos e < 130x80 em pacientes diabéticos. Controle da DM: em pacientes diabéticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. Estágio 3B Acompanhamento: em UBS para controle dos FR. Exames: avaliação da TFG, EAS, RAC e dosagem de K, semestralmente. - Dosagem de cálcio, fósforo, PTH e proteínas totais e frações, anualmente. - Em caso de diagnóstico de anemia, deve realizar dosagem de hematócrito e hemoglobina, ferritina e índice de saturação de transferrina. Estilo de vida: reduzir a ingestão de sódio (< 2g/dia). - Correção de dose de medicações de acordo com a TFG. - Realiza-se a atualização do calendário vacinal. - Caminhada por 30 min 5x por semana - Abandono do tabagismo - Correção da dose de medicações como antibióticos e antivirais de acordo com a TFG. Controle da PA: manter a PA < 140x90 mmHg em pacientes não diabéticos e < 130x80 em pacientes diabéticos. Controle da DM: em pacientes diabéticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. Estágio 4 Acompanhamento: por uma equipe multiprofissional composta por médico nefrologista, enfermeiro,nutricionista, psicólogo, assistente social, nas unidades de atenção especializadas em doença renal crônica, mantendo vínculo com as Unidades Básicas de Saúde (UBS). A avaliação nefrológica deverá ser realizada trimestralmente, ou de acordo com indicação clínica. Exames: dosagem de creatinina, úreia, cálcio, fósforo, hematócrito e hemoglobina, ferritina e índice de saturação de transferrina trimestralmente. - Dosagem de PTH, fosfatase alcalina, gasometria venosa ou reserva alcalina, Proteínas totais e frações e RAC semestralmente. - Anti-HBS anualmente. TRS: esclarecer sobre os TRS, e caso opte por hemodiálise encaminhar para avaliação criteriosa pelo nefrologista. Nesse estágio já pode se realizar a fístula arterio-venosa. Estilo de vida: reduzir a ingestão de sódio (< 2g/dia). - Correção de dose de medicações de acordo com a TFG. - Realiza-se a atualização do calendário vacinal. - Caminhada por 30 min 5x por semana. - Abandono do tabagismo - Correção da dose de medicações como antibióticos e antivirais de acordo com a TFG - Redução da ingestão de proteínas para 0,8 g/Kg/dia em adultos, devendo-se evitar ingestão maior do que 1,3g/kg/dia Controle da PA: manter a PA < 140x90 mmHg em pacientes não diabéticos e < 130x80 em pacientes diabéticos. A partir desse estágio não se pode mais usar IECA ou BRA. Controle da DM: em pacientes diabéticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. Controle da Acidose: reposição oral de bicarbonato em pacientes com AM com bicarbonato < 22 mEq/L na gasometria venosa. Estágio 5ND /não-dialítico/ Acompanhamento: realizado por equipe multiprofissional vinculada a UBS. Exames: dosagem mensal de creatinina, ureia, cálcio, fósforo, hematócrito e hemoglobina, potássio. - Dosagem trimestral de Proteínas totais e frações, ferritina, índice de saturação de transferrina (IST), fosfatase alcalina, PTH e gasometria venosa ou reserva alcalina. - Dosagem semestral de vitamina D. - Sorologia anual (anti-Hbs, anti-Hcv, HBsAg, HIV) Estilo de vida: reduzir a ingestão de sódio (< 2g/dia). - Correção de dose de medicações de acordo com a TFG. - Abandono do tabagismo - Redução da ingestão de proteínas para 0,8 g/Kg/dia - Realiza-se a atualização do calendário vacinal. Atividade Física: caminhada por 30 min 5x por semana Controle da PA: manter a PA < 140x90 mmHg em pacientes não diabéticos e < 130x80 em pacientes diabéticos. Controle da DM: em pacientes diabéticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. Controle da Acidose: reposição oral de bicarbonato em pacientes com AM com bicarbonato < 22 mEq/L na gasometria venosa. Estágio 5D /em diálise/ Indicada em pacientes com TFG < 10 mL/min/1,73m2, ou < 15 mL/min/1,73m2 em pacientes com menos de 18 anos ou diabéticos. Acompanhamento: realizado por equipe multiprofissional vinculada a UBS. Exames em caso de hemodiálise: dosagem mensal de hematócrito, hemoglobina, ureia pré e pós a sessão de hemodiálise, sódio, potássio, cálcio, fósforo, transaminase glutâmica pirúvica (TGP), glicemia para pacientes diabéticos e creatinina durante o primeiro ano. - Dosagem trimestral de hemograma completo, índice de saturação de transferrina, dosagem de ferritina, fosfatase alcalina, PTH, Proteínas totais e frações e hemoglobina glicosilada para diabéticos. - Dosagem semestral de Vitamina D e AntiHBs - Dosagem anual de Colesterol total e frações, triglicérides, alumínio sérico, glicemia, TSH, T4, dosagem de anticorpos para HIV, Rx de tórax em PA e perfil, ultrassonografia renal e de vias urinárias, eletrocardiograma. Maressa Duarte Exames em caso de diálise peritoneal: - Dosagem mensal de hematócrito, hemoglobina, sódio, potássio, cálcio, fósforo, creatinina e glicemia para pacientes diabéticos - Dosagem trimestral de hemograma completo, índice de saturação de transferrina, dosagem de ferritina, fosfatase alcalina, PTH, glicemia, Proteínas totais e frações e hemoglobina glicosilada para diabéticos. - Dosagem semestral de Vitamina D, Colesterol total e frações, triglicérides. Realizar o KT/V semanal de uréia, através da dosagem da uréia sérica e no líquido de diálise peritoneal. Para pacientes que apresentam função renal residual, realizar depuração de creatinina, através da coleta de urina de 24 horas e depuração de uréia, através de coleta de urina de 24 horas. - Dosagem anual de alumínio sérico, TSH, T4, Rx de tórax em PA e perfil, ultrassonografia renal e de vias urinárias, eletrocardiograma. Estilo de vida: reduzir a ingestão de sódio (< 2g/dia). - Correção de dose de medicações de acordo com a TFG. - Abandono do tabagismo - Adequação da ingesta de proteínas - Realiza-se a atualização do calendário vacinal. Atividade Física: caminhada por 30 min 5x por semana Controle da PA: manter a PA < 140x90 mmHg em pacientes não diabéticos e < 130x80 em pacientes diabéticos. Controle da DM: em pacientes diabéticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. Controle da Acidose: reposição oral de bicarbonato em pacientes com AM com bicarbonato < 22 mEq/L na gasometria venosa. Tratamento Associados Anemia SUPLEMENTAÇÃO DE FERRO Os pacientes que necessitam de suplementação de ferro são: - Pacientes com DRC estágio 1 e 2, para manter os níveis de ferritina. - Pacientes com DRC estágios 3,4 e 5 ND, para manter ferritina sérica > 100 ng/ml. - Pacientes com DRC estágio 5 dialítico, para manter ferritina sérica > 200 ng/ml Se interrompe a administração de ferro quando a ferritina sérica se encontrar > 500 ng/ml e a saturação de transferrina > 30%. O objetivo da reposição de ferro é protelar o início de Agentes Estimuladores da Eritropoiese (AEE) nos pacientes que ainda não estão em uso, ou de reduzir a dose de AEE em pacientes em uso de AEE. Além disso, caso o paciente esteja em uso de AEE e possui baixo estoque de ferro, a terapia não será eficaz. A administração de ferro intravenoso é realizada em pacientes com ferritina < 100 em DRC não dialítica e em diálise peritoneal e < 200 em hemodiálise. Faz 1g de ferro, distribuída em 5 a 10 infusões, durante sessões consecutivas de hemodiálise. Em pacientes em tratamento conservador ou em diálise peritoneal, a reposição poderá ser feita em intervalos semanais, quinzenais ou mensais na dose de 100 a 200 mg/aplicação, de acordo com as facilidades local. Essa administração intravenosa pode ser realizada também em pacientes com deficiência funcional de ferro. Pode-se realizar a suplementação de vitamina B12 e ácido fólico. TERAPIA COM AEE Deve ser realizada com cautela, sendo que a PA, o acesso vascular e a adequação da diálise devem ser avaliados, em pacientes em uso de AEE. Quando terminar: quando a Hb for > 13g/dl. Caso de baixa resposta: quando a resposta for inadequada, pode aumentar a dose do AEE em 50% para manter a Hb. Se mesmo assim, não surgir resposta, suspende. Resposta inadequada: quando não ocorre o aumento da concentração de Hb pelo menos 1g/dl após o 1º mês. No Brasil, o AEE disponível é a eritropoetina recombinante humana administrada por via subcutânea (1 a 3x por semana) ou intravenosa (2 a 3x por semana). Iniciar com dose 20-50 UI/Kg/dose. Caso no 1º mês a Hb aumente 2g/dl, deve reduzir a dose em 25 a 50%. Osteodistrofia Trata-se o hiperparatireoidismo secundário a partir da redução dos níveis séricos de folato e no aumento do calcitriol. Para a redução de folato, realiza uma restrição dietética com restrição proteica. Se mesmo assim persistir, usa-se quelantes orais de fosfato (carbonato de cálcio 0,5-1 g VO às refeições). Se persistir refratário, realiza a reposição de calcitriol. Em casos de dor óssea intratável, fraturas recorrentes, prurido intratável, calcifilaxia e outros, está indicada a paratireoidectomia. A doença óssea adinâmica não possui tratamento específico e não responde à diálise. Deve-se manter o PTH entre 150-300 pg/dl. DislipidemiaTrata-se quando houver a confirmação laboratorial. Nos estágios 1 a 4, trata-se com estatina em doses baixas e aumentando progressivamente. Em caso de hipertrigliceridemia pode-se usar fibratos. Diabetes Em pacientes com DM2 e DRC estágios 1 e 2 pode ser usado a metformina contanto que a FG esteja estável nos últimos 3 meses, interrompendo em caso de piora súbita da função renal. Em caso de contra-indicação de metformina, troca por outro hipoglicemiante (sulfonulureias e insulina). Hipertensão Em pacientes com DRC e HAS, utiliza-se IECA ou BRA para controle da PA. Esses fármacos reduzem a hiperfiltração dos néfrons remanescentes, reduzem a proteinúria e retardam a progressão da nefropatia. Contudo, só podem ser utilizados até o estágio 3. Caso apresente perda de 30% da TFG com esses medicamentos, deve haver a suspensão dos mesmos, independente do estágio.
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