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AD2 - TURISMO E SOCIEDADE

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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
AVALIAÇÃO A DISTÂNCIA – AD2
Período - 2019/2º
Disciplina: Turismo e Sociedade
Coordenadoras: Andreia Pereira de Macêdo e Celina Angélica Lisboa Valente Carlos
Tendo como referência o artigo intitulado “Turismo para quem? conflitos acerca da manipulação de fluxos e da produção dos espaços turísticos” (Anexo AD2), responda as questões a seguir articulando a reflexão realizada pelo autor do artigo com temas abordados nas aulas 12, 14 e 15, como práticas de lazer e lazer turístico e políticas públicas de lazer. 
Questão 1 (valor: 4,0 pontos): O artigo considera que os espaços turísticos são produzidos e organizados a partir de mecanismos de separação e diferenciação social que resultam na adoção de estratégias de controle dos fluxos e acessos aos espaços turísticos. Aponte as diferenças que caracterizam as formas de uso do espaço de praias de Cabo Frio/RJ como opção de lazer e turismo por parte de grupos/segmentos sociais distintos. Mínimo de 15 linhas. 
Questão 2 (valor: 6,0 pontos): Considerando as políticas adotadas pela administração do município de Cabo Frio/RJ para a mediação dos conflitos de interesses produzidos pela presença de visitantes pertencentes às camadas mais pobres (“excursionistas” considerados pejorativamente como “farofeiros”), notadamente na Praia do Forte, comente as intervenções que procuram legitimar a exclusão das camadas populares do cenário turístico local. Mínimo de 15 linhas.
· Renovação da paisagem da praia, por meio da instalação de barracas e quiosques ao longo do trecho utilizado pelos excursionistas, otimizando-se o ambiente como “fundo de consumo” e inibindo-se a “reprodução de práticas sociais não compatíveis com os objetivos traçados, impondo-se uma nova forma de sociabilidade e forjando-se um território de ‘ordem e tranqüilidade’”, onde o acesso se dá por meio da disponibilidade econômica, “sob a forma impositiva do consumo” (ALCANTARA, 2005, p. 55). 
· Adoção do sistema de estacionamento obrigatório dos ônibus de turismo, onde todos os ônibus que se dirigissem à cidade e não possuíssem garagem, nem vaga pré-determinada, eram encaminhados para uma área reservada pela prefeitura, junto à principal avenida de acesso à cidade. Isso possibilitou um controle do fluxo de turistas de excursões. 
· Implementação da cobrança de taxa em decorrência da prestação do serviço de estacionamento, e que variava de acordo com o propósito da viagem e “conduta consumptiva da excursão”, isto é, as taxas maiores eram para aqueles que 5 não ficariam mais de um dia na cidade, as intermediárias para aqueles turistas que fossem alugar uma casa ou se hospedar em casa de parentes, e as menores taxas para aqueles que consumiriam na cidade, hospedando-se em hotéis ou pousadas. Ou seja, a maior taxação ocorria exatamente para os excursionistas. Com a justificativa de melhorias no ordenamento urbano, a qual partia da afirmação de que os ônibus de excursões causavam desordem no principal ponto turístico da praia do forte, estas medidas acabaram por redirecionar os ônibus de excursões para áreas periféricas e distantes da praia, desarticulando a prática turística destes segmentos mais populares.
1)
No entanto, estas medidas acabaram por desconsiderar que a praia é de domínio público, infringindo no direito de ir e vir de um grupo social específico e resultando na privatização do espaço público. Ao invés desta privatização ter ocorrido via cercamento, com muros, a mesma se deu de maneira mais sutil, por meio de barreiras simbólicas, além das medidas econômicas mais diretas, consubstanciadas na cobrança de taxas para circulação de ônibus de turismo. Segundo Alcântara, a presença destes grupos sociais não podia ser tolerada pelos demais grupos, uma vez que estes não compartilham dos mesmos códigos sociais dos demais, causando a impressão de desordem justamente no local onde os grupos mais privilegiados se deslocavam à procura de tranquilidade e calma.
Conforme abordado por Harvey (1996), as medidas e intervenções da administração municipal em Cabo Frio, no sentido de se atrair fluxos de capital e de consumidores para a cidade por meio da criação de um ambiente melhor e mais atraente para estes fluxos estão de acordo com a nova dinâmica de empresariamento urbano. As transformações no regime de acumulação de capital a nível global puderam ser sentidas no município de maneira mais direta na mudança de diretrizes e objetivos traçados pelo poder público municipal, que passaram a procurar inserir Cabo Frio no âmbito de disputas inter-lugares característica do sistema de acumulação flexível. Como demonstrado, as intervenções urbanas procuraram reproduzir o cenário idealizado pelos turistas de classe média de praia paradisíaca e tranquila, onde a presença de outros grupos sociais, essencialmente das classes populares, não era contemplada. É a partir deste ponto que a crítica de Massey(1993) a Harvey(1993), isto é, de que a compressão espaço-tempo não poderia ser explicada simplesmente pela afirmação do aumento da velocidade e quantidade de fluxos e da mobilidade, mas adicionalmente pelas diferentes mobilidades dos diferentes grupos sociais ganha relevância no caso explicitado. Isso porque as classes populares, ao se organizarem em excursões na tentativa de viabilizar práticas de lazer que, de acordo com os padrões segregacionais impostos, deveriam ser realizadas dentro de um espaço simbolicamente circunscrito de sua existência, no caso, as áreas periféricas da região metropolitana do Rio de janeiro e
Na verdade, todo território sempre se configura pela combinação destas duas formas, pois o domínio é exercido sobre o espaço tanto para realizar funções quanto para produzir significados. Portanto, pode-se sintetizar a concepção de território como o resultado de uma “relação desigual de forças, envolvendo o domínio ou controle político-econômico do espaço e sua apropriação simbólica, ora conjugados e mutuamente reforçados, ora desconectados e contraditoriamente articulados” (HAESBERT, 2006, pg.121). Podem existir muitas variações nesta relação que ocorrem de acordo com as classes e grupos sociais que estiverem sendo analisados. Em Cabo Frio, algumas destas territorializações de grupos sociais podem ser identificadas na morfologia espacial. Como um dos exemplos mais emblemáticos, pode-se citar a existência de condomínios construídos para as classes médias-altas, na forma de enclaves fortificados, situados nas margens do canal do Itajurú, que liga a lagoa de Araruama ao oceano. Estes condomínios procuram não só resguardar seus freqüentadores do contato com outros grupos sociais como também privatizar o acesso a uma das paisagens mais valorizadas na região. As figuras abaixo ilustram estas territorializações das classes mais abastadas no contexto da apropriação do espaço turístico de Cabo Frio.
As áreas destacadas nas fotografias correspondem a alguns dos vários enclaves que se consolidaram ao longo das últimas décadas no local, configurando um processo de privatização de áreas anteriormente públicas para o usufruto de alguns atores sociais. Cabe aqui um breve retrospecto de como este fenômeno tomou forma. Anteriormente à adoção do turismo como principal fonte de recursos financeiros de Cabo Frio, as atividades ligadas à extração e beneficiamento do sal e à pesca foram as responsáveis pelo desenvolvimento, ainda que lento, da cidade. A criação de infra-estrutura na região na primeira metade do século XX, como a construção da ferrovia Niterói-Cabo Frio em 1936; a construção da rodovia Amaral Peixoto na década de 40; a implantação da Cia. Nacional de Álcalis em 1943 e da Refinaria Nacional de Sal em 1949; e a construção da ponte Feliciano Sodré, que ligava a porção da restinga ao continente, foi demandada por estas atividades econômicas, especialmente pela salineira. Grande parte desta infraestrutura seria, após a década de 50, o que possibilitaria o inícioda atividade turística na cidade, alterando o ritmo e maneira de expansão urbana.
os os casos demonstram apropriações e funcionalizações de frações do espaço turístico por parte de diferentes grupos sociais, dentre vários outros existentes no município, como a construção de um resort da rede Club Méd na praia do Peró. No primeiro exemplo citado, o caráter funcional do território está mais presente, marcado pela dominação e utilização de seu valor de troca, enquanto no segundo é a apropriação simbólica que se torna mais nítida, com a consideração mais acentuada de seu valor de uso. De acordo com Lefèbvre (1994), apropriação e dominação deveriam estar simultaneamente presentes, mas a história da acumulação capitalista caminhou para a separação de ambas e para um embate onde a segunda leva grande vantagem sobre a primeira. Isso gera um fortalecimento das tendências segregacionais presentes na relação interclasses. Conforme o turismo foi se desenvolvendo em Cabo Frio e a exploração capitalista deste fenômeno foi se aprimorando, estas tendências foram cada vez mais intensificadas, como pôde ser verificado na construção e comercialização dos condomínios às margens do canal do Itajurú e nas intervenções urbanas que buscaram excluir os “farofeiros” de áreas de consumo turístico. Portanto, percebe-se a influência do direcionamento de políticas públicas e intervenções engendradas pelo Estado, fortemente marcadas por características do empresariamento urbano, na intensificação da restrição de alguns grupos a determinados territórios e na consequente fragmentação do espaço.

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