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Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Malária Introdução É uma doença parasitária, febril e aguda, com elevada prevalência e morbidade, causada por 4 espécies de plasmódio: Plasmodium falciparum, P. vivax, P. malarie e P. ovale, transmitida por mosquitos do gênero Anopheles. Tipicamente, o doente apresenta acessos febris com intervalos de 24, 48 ou 76 horas a depender do parasito, acompanhada de cefaléia, calafrio, tremor, rubor e sudorese intensa. Formas leves e assintomáticas podem acontecer. Recaídas e cronicidade podem acontecer, principalmente em relação ao P. vivax e P. ovale, quando não se esgotam as formas tissulares, pela falta de tratamento erradicante ou por resistência às drogas como no caso do P. falciparum. Essa doença é conhecida desde a mais remota antiguidade - mais de 5000 anos, surgiu provavelmente na África e disseminou-se para áreas tropicais e subtropicais de todo o mundo. Na história são muitos os relatos de acessos febris característicos, associado a esplenomegalia, tendência a epidemia e relação com pântanos. A doença foi introduzida no Caribe e nas Américas Central e do Sul, no final do século XV, com a chegada dos europeus, acarretando em muitas mortes. No Brasil, ela foi interiorizando-se até atingir a Amazônia, onde persiste como endemia predominante, causando de 500 a 600 mil óbitos anuais. As descrições das espécies dos parasitos, vetores e ciclo de vida e transmissão vieram a partir do ano de 1880. No Brasil, no final do século XIX, a malária estava presente em todas as regiões do país, exceto em algumas áreas do Sul. O planalto central e a Amazônia viviam imersos na malária e muitas epidemias ocorreram em virtude da interação do homem com esses ambientes durante os anos. Uma grande epidemia ocorreu no final da década de 1930, início de 1940, quando o mosquito Anopheles gambiae invadiu o nordeste. Um forte esquema de controle foi montado em toda a região e o vetor foi erradicado, exemplo único no mundo. Essa experiência despertou o interesse para o controle da malária no Brasil, sobretudo após a Segunda Guerra, com o aparecimento do DDT e da cloroquina. O controle começou de forma sistemática na década de 1970, reduzindo o número de casos enormemente. Contudo, com o incentivo à colonização da Amazônia e invasão do território, a malária voltou a dominar a região. 1 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI O Gênero Plasmodium O gênero Plasmodium inclui mais de 125 espécies que infectam répteis, pássaros e mamíferos. É o único gênero da família Plasmodidae da subordem Haemosporina. Todas as espécies dessa subordem são parasitas intracelulares obrigatórios por toda a vida e têm dois hospedeiros: (1) um vertebrado, intermediário, onde a reprodução é assexuada e (2) um invertebrado (dípteros sugadores de sangue), definitivo, onde a reprodução é sexuada por fertilização. O gênero Plasmodium é subdividido em 10 subgêneros. Todos os parasitos da malária humana e de outros primatas são incluídos no subgênero P. (Plasmodium) e P. (Laverania). As 4 espécies que infectam humanos, normalmente, são: ★ P. (Leverania) falciparum ★ P. (Plasmodium) malariae ★ P. (Plasmodium) vivax ★ P. (Plasmodium) ovale Ciclo Evolutivo do Parasito Ciclo no Homem Após a picada do mosquito, esporozoítas são inoculados na corrente sanguínea e atingem os hepatócitos em cerca de 30 minutos. Moléculas de adesão da proteína circunsporozoíta (CSP) aderem às moléculas sulfatadas da membrana dos hepatócitos, penetram na célula e desenvolvem a primeira esquizogonia, originando esquizontes textrinos que evoluem para estágios invasivos chamados merozoítas. Essa fase é chamada exoeritrocítica, após 8 a 15 dias, dependendo da espécie e estado imunológico do hospedeiro, o hepatócito se rompe liberando milhares de merozoítas que vão invadir as hemácias. Com o P. vivax e P. ovale uma parte mantém-se no hepatócito sob forma de hipnozoítas, permitindo recaídas tardias. Nas hemácias - fase eritrocítica, os merozoítas penetram e desenvolvem a esquizogonia sanguínea, primeiro como trofozoítas, evoluindo para esquizontes, que rompem as células liberando merozoítas que continuam o ciclo. Geralmente nessa fase ocorrem os acessos febris, provavelmente por liberação de pirógenos endógenos. Alguns parasitos evoluem para gametócitos - macrogametócito, fêmea e microgametócito, macho - que serão ingeridos pelo mosquito, iniciando o ciclo sexuado. 2 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Ciclo no Mosquito Ingerem os gametas junto das hemácias durante a alimentação. Por conta dos movimentos de contração e expansão eles rompem a parede das hemácias e ficam livres no estômago do mosquito. Durante esse processo, o núcleo do microgametócitos divide-se em diversas partículas de cromatina, em forma de flagelo - 4 a 12 - que se aderem à superfície do citoplasma agitando-se continuamente. Assim, desprendem-se do corpo residual - "exflagelação" - e se movimentam ativamente no estômago do mosquito procurando os macrogametócitos. Quando o encontram penetram no vértice de uma pequena elevação do citoplasma e quando do encontro dos núcleos dá-se a fertilização, formando o zigoto. O zigoto movimenta-se e sob a forma de oocineto penetra no epitélio do estômago do mosquito. Transforma-se em oocisto e aumenta rapidamente, quando a temperatura é favorável - 50 a 60 μm de diâmetro. Quando estão maduros, rompem-se liberando os esporozoítas que atingem as glândulas salivares do mosquito e praticamente todo seu corpo. Em ótimas condições de temperatura, o oocisto atinge a maturidade em 4 a 15 dias. 3 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Epidemiologia É considerada como a mais importante endemia parasitária no mundo. Em 2010, existiam 109 países com transmissão de malária, sendo 3,3 bilhões de pessoas expostas ao risco de infecção. Neste mesmo ano, houveram 863000 óbitos por malária no mundo, sendo 91% na África e 85% em crianças com menos de 5 anos. Segundo a Organização Panamericana de Saúde, cerca de 36% da população no continente americano vive em zonas com risco de transmissão da doença. São 21 países com uma estimativa de 364 milhões de pessoas que podem ser expostas. Na história do Brasil, a malária tem destaque participando de grandes momentos de construção do país e pode servir de ponto de referência e forte indicador das desigualdades sociais. No período colonial era relacionada com o processo produtivo, com prevalência no meio rural e relacionada com a economia cafeeira. 4 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI A partir do século XX, a doença marcou história com a implantação de eixos ferroviários, destacando-se a ocorrência entre trabalhadores e populações da área de influência das estradas de ferro. Em 1940, 1/7 da população do país apresentava malária - 6 milhões de casos. No fim da década de 1940 com o DDT e a cloroquina, associados às reformulações do programa de combate, houve um declínio acentuado da doença. Nesse século, a malária vem se estabilizando. No entanto, em 2005 houve mais de 600000 casos notificados no país e em alguns municípios adquiriu características epidêmicas. A partir de 2006 os número de casos começaram a diminuir. Em 2019 o Brasil notificou 157454 casos, uma redução de 19,1% em relação a 2018. Um fato importante nos últimos anos é a queda continuada do percentual de casos de P. falciparum, devido à implantação no Brasil, no final de 2006, das combinações terapêuticas com derivados da artemisinina. No Brasil, cerca de 99% da transmissão da malária concentra-se na região da Amazônia Legal, nos estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Os outros 1% de casos ocorrem geralmente em áreas de Mata Atlântica e possuem maior letalidade devido, principalmente, ao retardo no diagnóstico e tratamento. A maioria dos casos extra-amazônicossão importados de outros estados endêmicos ou outros países, tanto das Américas quanto da África e Ásia. A malária é a causa mais comum de morte evitável entre as doenças infecciosas em viajantes, e também a causa mais comum de febre pós-viagem. 5 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI O objetivo é a interrupção da transmissão da malária. Com ampliação rápida e esforços sustentáveis, a eliminação da doença é possível em todos os cenários de transmissão. Modo de transmissão Para que a doença aconteça em humanos é necessários vários fatores: (1) o agente etiológico, (2) o homem como reservatório e hospedeiro, (3) o vetor mosquito e (4) os fatores ambientais moduladores da reprodução dos parasitos em regiões geográficas específicas. A transmissão natural é feita quando a fêmea do mosquito pica o ser humano e inocula os esporozoítas; a transmissão induzida por transfusão de sangue infectado, uso compartilhado de agulhas e/ou seringas contaminadas pode acontecer. A transmissão congênita é pouco frequente. Em relação ao vetor, apesar do grande número de espécies do gênero Anopheles, somente um pequeno número tem importância na malária humana, com presença e domínio em determinadas áreas geográficas. Na maior parte do continente sul-americano predomina o An. darlingi. 6 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI No Brasil, o gênero é conhecido como mosquito prego, sovela ou carapanã da malária. Cinco espécies são consideradas as principais vetores: ★ An. darlingi ★ - ampla distribuição, principalmente no interior, e dominante na região amazônica ★ An. albitarsis ★ An. aquasalis - predomina na região litoral, em água salobra ★ An. kerteszia cruzi - responsáveis pela transmissão no Sul e Sudeste; reproduzem-se em água acumulada em bromélias ★ An. kerteszia bellator O criadouro apresenta baixo teor de material orgânico, geralmente não procriando em águas poluídas. Na fase alada, alguns penetram nas habitações, já outros, preferem o ambiente extradomiciliar. A atividade de picar é geralmente crepuscular ou noturna. E, sua capacidade de se deslocar é variável, havendo registros de até 7 km. A princípio a suscetibilidade é universal, com algumas exceções particulares: portadores de anemia falciforme dificultam o parasitismo pelo P. falciparum, ausência de receptores hemáticos específicos para invasão - fator Duffy - para o P. vivax e a glicoforina A (sialoglicoproteína da membrana da hemácia) relacionada com o P. falciparum. A imunidade adquirida é parcial e temporária. O meio ambiente é o elemento modulador da ocorrência e magnitude da doença em determinada área, quer seja pelas condições naturais, como temperatura, umidade relativa e precipitação volumétrica, quer seja pela interferência do homem a qual propicia condições ideais para a procriação de vetores. O An. darlingi, tem como criadouros naturais as grandes coleções hídricas como rios, lagos e igarapés. Para a reprodução do parasito, o contato entre o vetor e o hospedeiro é facilitado pelas condições socioeconômicas e culturais da população. 7 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI É determinante as condições habitacionais, ausência de saneamento básico, condições de trabalho, e dificuldade de acesso aos serviços de saúde e precariedade das ações de controle. A intensa migração da população funciona como fonte alimentadora da população suscetível à malária em áreas de transmissão, como também elemento disseminador de cepas, ou gerando novos focos de malária. Classificação Epidemiológica da Malária Intensidade da Transmissão É definida com base na esplenomegalia segundo o percentual de baços palpáveis em crianças de 2 a 9 anos. ★ Malária holoendêmica: Quando o baço é palpável em mais de 75% das crianças entre 2 e 9 anos e o índice nos adultos é baixo. ★ Malária hiperendêmica: Entre 50% e 75% das crianças apresentam baço aumentado e o índice nos adultos é elevado. ★ Malária mesoendêmica: Quando entre 11 e 50% das crianças entre 2 e 9 anos tem esplenomegalia. ★ Malária hipoendêmica: Quando menos de 10% das crianças têm esplenomegalia. Estabilidade da Transmissão O elemento estabilizador mais importante em uma população é o desenvolvimento de imunidade. As definições não incluem a intensidade na transmissão. Malária estável Áreas com intensa transmissão do parasito e a pessoas constantemente expostas, assegurando imunidade contra a malária, exceto em crianças de baixa idade. Geralmente os adultos são assintomáticos ou oligossintomáticos e com baixa parasitemia. As crianças menores de 2 anos têm grande risco de morrer, embora tenham anticorpos maternos passivos até os 6 meses. Necessita da presença de um anofelino que pique com frequência, apresenta boa longevidade, e que atue em um meio com temperatura favorável à evolução dos parasitos. Pode haver interrupção na transmissão se as temperaturas chegarem a -15 graus Celsius, voltando a aumentar quando a temperatura se eleva. É difícil combater a malária nestas áreas com as estratégias atuais de controle. 8 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Malária instável A transmissão não é tão alta e a incidência varia de mês para mês e de ano para ano. A espécie vetora pica o homem infrequentemente; para que exista transmissão é preciso uma alta densidade do vetor. Apresentam-se surtos epidêmicos sazonais, podendo ser grandes, se as condições ambientais forem favoráveis. Têm se registrado ciclos com períodos de 5 a 8 anos. O grau de imunidade da população é bastante variável. Apesar da possibilidade, nas epidemias, de muitas pessoas serem contaminadas, a imunidade pode ser muito baixa. As crianças frequentemente escapam da infecção. Quando o parasito é o P. falciparum as epidemias podem ser altamente letais. Estratificação epidemiológica de risco da malária A OMS classifica as áreas dependendo do índice parasitário anual (IPA), uma medida malariométrica construída usando como numerador o número de casos de malária em 1 ano determinado e em um local específico e como denominador a população de risco desse lugar por cada 1000 pessoas. No Brasil as áreas são divididas em: ● Alto risco: IPA > ou = 50 ● Médio risco: IPA > ou = 10 e < 50 ● Baixo risco: IPA > 0,1 e < 10 ● Sem risco: IPA = 0 Patogenia A malária é o resultado da interação entre o parasito e o hospedeiro. Os mais vulneráveis são os indivíduos sem imunidade como crianças ou os não expostos e os pacientes que perderam a imunidade prévia como gestantes, idosos, imunossuprimidos ou pessoas que passam longos períodos fora da área endêmica. Em contraponto, existem particularidades genéticas que conferem resistência natural à infecção. Infecção Parasitária Os esporozoítas atingem o fígado, em vigorosa mobilidade conferida pela proteína circunsporozoíta (CSP). São inoculados de 8 a 15 - até 100, infectando, em média, um hepatócito cada, iniciando o ciclo pré-eritrocítico, geralmente assintomático, mas que pode cursar com dores vagas e náuseas. 9 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Essa fase tem duração de 10 a 15 dias para o P. vivax e de 5,5 a 10 dias para o P. falciparum, formando em cada hepatócito até 10 mil novos merozoítas no primeiro caso e até 30 mil no segundo. No caso de P. vivax e P. ovale, algumas formas podem persistir no fígado - hipnozoítas, e são responsáveis pelas recaídas em média de 3 a 6 meses após a infecção primária. Isso não ocorre com o P. falciparum e o P. malariae; nessas espécies a persistência de formas sanguíneas pode levar a cronicidade com vários anos ou décadas de duração. Com a ruptura do esquizonte, cada merozoíta infecta uma hemácia, dando início a um ciclo que se repete a cada 48 horas no caso do P. vivax e P. falciparum ou a cada 72 horas no caso do P. malariae. Para entrarem na célula forma-se um vacúolo parasitóforo a partir da membrana da hemácia, iniciando a invaginaçãodo merozoíta até este estar no interior da mesma, se isolando do citoplasma pela membrana vacuolar. Dentro da hemácia eles se multiplicam por mitose se diferenciando em trofozoíta jovem - forma em anel -> trofozoíta madur -> esquizonte, cuja ruptura - esquizogonia eritrócitos - coloca em circulação 8 a 18 merozoítas para o P. vivax e até 32 para o P. falciparum. Os gametas surgem no sangue periférico do hospedeiro de 7 a 10 dias do início da infecção no caso do P. vivax e de 10 a 20 no caso do P. falciparum. Se a fêmea do mosquito se alimentar do sangue do hospedeiro, ficará infectada com gametócitos que iniciarão o ciclo sexuado no mosquito, completando o ciclo. Imunidade Interação dos plasmódios com o sistema imune Para controle da infecção aguda são importantes mecanismos não específicos de defesa e o desenvolvimento de outros humorais e mediados por células. A ativação de células fagocíticas libera óxido nítrico e espécies reativas de oxigênio tóxicos ao parasito, o que aumenta a depuração esplênica das hemácias infectadas pela filtração e pela fagocitose facilitada pela opsonização. Anticorpos protetores inibem a expansão do parasito ao ativar receptores para monócitos e macrófagos na superfície das hemácias infectadas; contudo, as proteínas parasitárias expostas sofrem variação antigênica. Em áreas de grande exposição, anticorpos antiesporozoítos são produzidos gradualmente até atingir um nível estável ao redor de 20 a 30 anos. A imunidade desenvolvida contra formas assexuadas é específica da cepa infectante e se dá lentamente depois de inúmeras infecções não tratadas. 10 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Toda a fisiopatologia da malária envolve a destruição do eritrócito, quando os componentes do parasito e da própria hemácia entram em contato com a circulação. Dentro da hemácia o parasito consome e degrada suas proteínas, como a hemoglobina que em seu processo de metabolização ocorre liberação do heme que se transforma em hemozoína - pigmento malárico - e induz a lise da hemácia. Esse processo modifica as propriedades da membrana da hemácia, tornando-a mais esférica, rígida e com menor capacidade de deformação. A destruição do eritrócito libera glicolipídios similares às endotoxinas bacterianas. a âncora glicosil fosfato de inositol (GPI) é um proteína de membrana que induz à ativação de uma cascata de citocinas liberadas por macrófagos, principalmente TNF e a IL-1, dando início aos episódios mais intensos de calafrio, seguido de febre elevada. O TNF estimula a produção de outras citocinas pró-inflamatórias. Essa sequência se repete a cada 48 horas, em média, por ocasião da esquizogonia eritrocitária. Nas respostas agudas existe uma pobre resposta antígeno-específica, o que contribui para o lento desenvolvimento da resposta imune adquirida. Durante essa fase há ativação policlonal de células B e redução das células T circulantes. Em indivíduos não imunes, a resposta à infecção estimula a produção de IgG e IgM, pouco efetivas para o controle da infecção. As formas complicadas da doença cursam com supressão imune, comprometendo a quimiotaxia de monócitos e neutrófilos, reduz a fagocitose e estimula a superinfecção bacteriana (?). Efeito fisiológico da virulência do P. falciparum O P. falciparum tem a capacidade de produzir hiperparasitemias, pois tem um ciclo tecidual de menor duração, produz muitos esporozoítas durante as esquizogonias tecidual e eritrocitária e podem invadir hemácias de qualquer idade. O P. vivax só consegue invadir hemácias jovens - correspondem a 0,8 a 1,5% do total circulante. A progênie e um único esporozoíta de P. falciparum pode invadir todas as hemácias do indivíduo em 14 dias; porém antes que isso ocorra, a expansão termina abruptamente ao atingir parasitemia de 10^4 a 10^5/dL por mecanismos parasitários e do hospedeiro. A febre é um mecanismo deformador das formas parasitárias. A capacidade de suportar elevadas temperaturas aparece no hospedeira quando este desenvolve uma imunidade antitóxica, reduzindo a produção de citocinas para o mesmo nível dos parasitos até eventualmente atingir o estado de infecção sem sintomas, denominado premunição. 11 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Obstrução vascular Outra forma de virulência do P. falciparum é o sequestro caracterizado pelo “desaparecimento” das formas maduras do sangue periférico por ocasião da aderência, causada pelo desenvolvimento de protuberâncias ou knobs na superfície da hemácia infectada (HI) que participa na adesão destas células à células endoteliais dos vasos pós-capilares - citoaderência a hemácias não infectadas (HNI) formando rosetas ou outras HI na autoaglutinação. Esse evento não acontece uniformemente em todo o corpo, mas é intenso no cérebro e relevante no coração, fígado, rins, intestino e tecido adiposo. ➔ Citoaderência Os knobs são formados na superfície das HI por proteínas parasitárias que interagem com proteínas da célula hospedeira e são os pontos de contato com o endotélio vascular e o sinciciotrofoblasto placentário. A citoaderência é modulada pelo baço e os parasitos que não produzem knobs não têm, a princípio, capacidade de citoaderência. As proteínas parasitárias precisam de receptores nos tecidos dos órgão acometidos: ★ endotélio: CD36★, VCAM e ELAM ★ endotélio cerebral: ICAM-1 - modulada pelo TNF ★ sinciciotrofoblasto placentário: CSA 12 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI ➔ Roseamento A aderência entre HI-HNI é 5 vezes maior que a citoaderência e causa maior obstrução microvascular, tem tendência de iniciar em vênulas e é importante na patologia da malária cerebral, lentificando o fluxo, incrementando a citoaderência e a glicólise anaeróbica, reduzindo o pH. A infecção altera as hemácias, tornando-as esféricas e maiores. O sequestro causado por esses cenários citados diminui a perfusão tecidual, aumenta o metabolismo anaeróbico promovendo acidose láctica e disfunção multiorgânica. Com o tempo, o alto nível de citocinas leva a um processo inflamatório acentuado responsável por acometer diversos sistemas orgânicos, pela disfunção placentária, pela supressão da eritropoese, pela inibição da gliconeogênese e pelo incremento na citoaderência. Alteração na permeabilidade vascular Nas formas complicadas de malária é detectada um aumento generalizado da permeabilidade vascular sistêmica, mas a associação deste evento com a malária cerebral não é esclarecida. (caso do problema) 13 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Patogenia das formas complicadas de malária Malária Cerebral A causa do coma não é clara. O que é evidente é a lentificação do fluxo sanguíneo como consequência da glicólise anaeróbica que diminui o aporte de oxigênio e eleva a concentração de lactato no líquor. As citocinas aumentam a produção de de ON, potente inibidor da neurotransmissão por meio da produção de ON-sintetase (ONs), enquanto toxinas parasitárias (GPI) induziram a um quadro de malária grave ao produzir um inibidor de ONs (IONs). Embora relacionar os níveis de citocinas e ON com a patogenia da malária seja complicado, considera-se que o ON induza a malária cerebral, mas tenha efeito protetor contra outras formas de malária complicada. O coma não é associado ao aumento da pressão intracraniana. Anemia A anemia é resultado da destruição de hemácias e a diminuição da sua produção. Além da hemólise de HI, há hemólise de HNI e disfunção da medula óssea com diseritropoese, que perdura por algumas semanas após a infecção aguda, cursando com baixa quantidade de reticulócitos. A vida média das hemácias é menor na malária. Em pacientes mais graves, a hiperparasitemia pode causar uma queda no hematócrito de 8 a 10% a cada 48 horas. Disfunção Renal Achado clínicos sugerem que a necrose tubular aguda (NTA) é a causa da insuficiência renal aguda (IRA), é consequência da hipoperfusão que provoca vasoconstriçãono córtex renal e da obstrução vascular produzida pelo sequestro das HI. Síndrome da Insuficiência Respiratória A patogenia é incerta. Estão envolvidos o sequestro vascular, a hipóxia, o metabolismo anaeróbico e a acidose láctica. O edema pulmonar é resultado do aumento da permeabilidade dos capilares. 14 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Hipoglicemia Resulta do esgotamento rápido do glicogênio hepático dado à hipóxia, ao aumento da demanda periférica de glicose e a falha na gliconeogênese e glicogenólise hepática. Cursa com a hiperlactatemia que pode ser agravada pelo uso do quinino - que estimula a secreção de insulina; isso contribui para as disfunções no quadro de malária cerebral. A toxina GPI exerce ação similar à insulina nos adipócitos - glicose para triglicerídeos. Alterações hidroeletrolíticas Após hidratação, o volume plasmático está elevado, mas o volume corporal e o extracelular estão normais. A atividade do eixo renina-angiotensina-aldosterona e a concentração do hormônio antidiurético estão elevadas, mantendo o volume circulante constante por conta da vasodilatação e baixo hematócrito. Coagulopatia e trombocitopenia A cascata de coagulação está acelerada e o paciente pode ter sangramento espontâneo significativo. A trombocitopenia - produção insuficiente de plaquetas - é resultado da depuração esplênica. HI podem ativar a cascata de coagulação diretamente e induzir à produção de citocinas pró-coagulantes. Disfunção Hepática A icterícia é comum em adultos com malária complicada e apresenta três componentes: hemólise, colestase - diminuição ou interrupção do fluxo biliar - e destruição dos hepatócitos. Outras manifestações são a redução dos fatores de coagulação, a lentidão no metabolismo de alguns fármacos e a falha na gliconeogênese. O fluxo hepático está lento e o sequestro também acontece na sua microvasculatura. Disfunção Esplênica A esplenomegalia é sempre presente pelo papel na depuração das HI, por 2 mecanismos: imune, mediado por receptores Fc e um mecânico, reconhecimento da perda da deformabilidade da hemácia. O baço é associado a citoaderência. 15 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Disfunção Metabólica As formas assexuadas só conseguem metabolizar a glicose pela via anaeróbica que produz como metabólito o ácido láctico. Esse processo é acentuado pela obstrução microvascular e se agrava com a falha depuração renal e hepática. Uma célula infectada consome 70% a mais de glicose e a maior parte é convertida em ácido láctico porque o parasito não contém complexo enzimático necessário ao ciclo do ácido cítrico. Mesmo assim, a maior parte do ácido láctico é produzida pelo hospedeiro. Manifestações Clínicas da Malária A forma clínica mais característica da malária aguda é o paroxismo - inicia-se com mal-estar, calafrios abruptos e febre subindo de 39 para 41° C, pulso rápido e filiforme, poliúria, cefaleia, mialgia e náuseas - que aparece com a lise das HI no final de cada ciclo eritrocitário. A quantidade de parasitos necessária ao aparecimento dos sintomas é menor do que a parasitemia que permite o diagnóstico microscópico. A periodicidade do quadro está ligado a curva febril, produzindo febre terçã, de 48 em 48 horas - P. vivax e P. falciparum - e a quartã, de 72 e 72 horas - P. malariae. Porém, nem sempre existe esse sincronismo; primeiro que leva alguns ciclos para alcançar a sincronia, e segundo, a sincronia se perde quando se dá o sequestro eritrocitário. O paciente pode ser inoculado em dias sucessivos e os parasitos estarem em etapas evolutivas diferentes, interferindo na periodicidade dos episódios febris. Diagnóstico com base em sintomas Em áreas pouco endêmicas ou de malária estável, os sintomas são sensíveis para sugerir diagnóstico e pouco para confirmá-lo, contraindicado tratamentos presuntivos. A tríade clássica - febre, calafrios e cefaléia - confunde-se com os apresentados em outras doenças infecciosas. Em áreas de alta endemicidade ou de elevada transmissão, além dos sintomas, é necessário um limiar na parasitemia periférica para o diagnóstico e descartar outras hipóteses. 16 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Malária Complicada São fatores de risco: ★ espécie infectante ★ densidade parasitária ★ estado imunológico A OMS define como -> presença de prostração, alteração no estado de consciência, dificuldade respiratória (por acidose), convulsões repetidas, colapso circulatório, edema pulmonar, sangramento anormal, icterícia, hemoglobinúria (hemoglobina na urina) ou anemia grave, em pacientes com formas assexuadas de P. falciparum e sem nenhuma outra causa etiológica. A hipertermia (TC > 41 graus Celsius) está vinculada com anemia grave, hipoglicemia, malária cerebral e pode preceder crise convulsiva ou desencadear trabalho de parto. laboratorialmente pode-se encontrar elevação da proteína C reativa, procalcitonina, hipoalbuminemia, hematúria e hiponatremia (diminuição de Na plasmático). No LCR há baixa celularidade. Estudos de imagem demonstram edema cerebral ou isquemia. Malária por P. vivax O paroxismo é curto, dura menos de 8 horas e recorre em intervalos de 48 horas. Os primeiros ciclos eritrocitários podem acontecer de forma assintomática ou os sintomas podem aparecer com baixa parasitemia. O primeiro sintoma é o calafrio (1 hora ou mais), seguido de tremores e ranger de dentes (1 hora ou mais); após febre que sobe rapidamente (até 41 graus Celsius por 1 ou 2 horas), seguindo com declínio da temperatura com sudorese intensa (até 7 horas). Após o paroxismo o paciente apresenta astenia que frequentemente leva a sonolência. Outros sintomas comuns: cefaléia, náuseas, vômito, mialgia e artralgia. A infecção por essa espécie é quase desprovida de riscos e complicações. Malária por P. vivax complicada É frequente afetar o pulmão e a presença de tosse. As causas da insuficiência respiratória em adultos é a injúria pulmonar aguda, enquanto em crianças relaciona-se com anemia, acidoses e infecções. Os casos complicados geralmente estão associados à primoinfecção. É comum: anemia, hemorragia (trombocitopenia em até ⅔ dos pacientes), ruptura esplênica (resultado mecânico), malária cerebral, edema pulmonar e recaída. 17 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Malária por P. falciparum O período pré-patente é curto (até 5 dias) e o período de incubação varia de 9 a 14 dias (7 em média). Podem ser maiores ou menores dependendo de fatores ambientais e do hospedeiro. O primeiro sinal é cefaléia, acompanhada de dor lombar, mialgia, anorexia, dor abdominal mal localizada, náuseas, vômito e diarréia. O paroxismo cursa com febre alta que pode ser acompanhada de frio, torpor, sudorese e cefaléia. Outros achados comuns: astenia, mialgia, vômito e palidez. O paroxismo é menos delimitado e pode estender-se por mais de 24 horas. Os sintomas podem ser acompanhados de hepatoesplenomegalia, anemia, e icterícia, anorexia e hipodinamia. Complicações graves e frequentemente fatais podem aparecer de 3 a 7 dias após o início da febre. Malária por P. falciparum complicada O quadro fica caracterizado na presença de uma ou mais manifestações descritas na tabela abaixo: ● Malária cerebral: presença de coma ou convulsões. ● Anemia ● Disfunção renal ● Edema pulmonar ● Hipoglicemia ● Distúrbios hidroeletrolíticos ● Anormalidades cardiovasculares, choque e malária álgida ● Coagulopatia e trombocitopenia ● Disfunção hepática: hepatomegalia frequente e icterícia moderada. ● Disfunção metabólica: mais frequentes são acidose láctica e hipoglicemia. ● Hiperparasitemia Malária por P. malariae 18 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI O paroxismo se repete a cada 72 horas e a apresentação clínica é tipicamente moderada e curta com baixa parasitemia. A complicação mais frequente é a glomerulonefrite por depósito decomplexos imunes. A recrudescência é acentuada, sendo a forma de infecção mais persistente. Diagnóstico Laboratorial Em pessoas procedentes de área de transmissão de malária, deve ser pensado nas seguintes situações: ➔ Presença de febre de qualquer intensidade, duração e frequência ➔ Mal-estar, mialgia, artralgia, fadiga, anorexia ➔ Síndrome febril hemorrágica ➔ Síndrome febril ictérica ➔ Síndrome febril neurológica ➔ Síndrome febril respiratória ➔ Síndrome febril com forte dor abdominal, que pode ser ruptura do baço ➔ Indivíduos assintomáticos que residam na mesma localidade de pacientes com diagnóstico de malária ➔ Gestante, ainda que assintomáticas, durante as consultas pré-natal ➔ Doadores de sangue Diagnóstico Microscópico O diagnóstico confirmatório baseia-se no encontro de parasitos no sangue. O método mais utilizado é a microscopia de gota espessa de sangue, colhida por punção digital e corada pelo método de Walker. O exame cuidadoso é considerado padrão-ouro para detecção e identificação dos parasitos, que, quando feito por profissional experiente, permite detectar densidades baixas - de 5-10 parasitos/µL de sangue. Contudo, nas condições de campo, a capacidade de detecção é de 100 parasitos/µL de sangue. Com experiência, o exame da gota espessa permite diferenciação das espécies de Plasmodium e do estágio de evolução do parasito circulante. No entanto, um esfregaço pode ser feito em caso de dúvida ou inexperiência, porque permite melhor visualização das formas. Sua eficácia diagnóstica depende da qualidade dos reagentes, de pessoal bem treinado e experiente na leitura das lâminas e de permanente supervisão, conforme controle de qualidade do diagnóstico de malária recomendado no Brasil. 19 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI A densidade parasitária tem maior utilidade nas infecções por P. falciparum, já que alta parasitemia pode significar maior risco de desenvolvimento de formas graves da doença, situação em que o tratamento com drogas injetáveis deve ser considerado. Testes Diagnósticos Rápidos - TDR Baseiam-se na detecção de antígenos dos parasitos por anticorpos mono e policlonais, que são revelados por método imunocromatográfico. Comercialmente estão disponíveis em kits que permitem diagnósticos rápidos, entre 15 e 20 minutos. A sensibilidade para P. falciparum é maior que 90% quando comparado à gota espessa, para densidades maiores que 100 parasitos/µL de sangue. São de fácil execução e interpretação de resultados, dispensam o uso de microscópio e de treinamento prolongado de pessoal. Entre suas desvantagens estão: não medir o nível de parasitemia e a possível perda de qualidade quando armazenado por muitos meses em condições de campo. Os testes rápidos apresentam como resultado P. falciparum, P. vivax e malária mista, devendo ser administrado o tratamento imediato conforme resultado apresentado no teste. Apesar de menos sensíveis para P. vivax, os testes rápidos aplicam-se ao diagnóstico dessa espécie na ausência de microscopia ou profissional capacitado no local. Não se deve utilizar os testes rápidos para o seguimento clínico do paciente, porque podem ainda ser positivos, mesmo na ausência de parasitos viáveis. Isso pode, portanto, gerar o falso diagnóstico de resistência parasitária. Deve-se ter cautela com o uso de TDR até um mês após diagnóstico prévio confirmado. No Brasil, conforme recomendações do PNCM, deve-se priorizar o uso dos TDRs em localidades onde o acesso ao diagnóstico microscópico é dificultado por 20 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI distância geográfica ou incapacidade local do serviço de saúde (região extra-amazônica), bem como com intuito de ampliar a capacidade de diagnóstico, como nos casos de utilização nos finais de semana e após o horário de expediente. Diagnóstico por Técnicas Moleculares O uso de técnicas de biologia molecular tem sido frequente em unidades de referência de diagnóstico ou como forma de se fazer o controle de qualidade do exame microscópico.7 Contudo, em função do custo e demora para emissão do resultado, não é método diagnóstico rotineiro. Entretanto, quando realizada e apresentar resultado positivo, confirmam o diagnóstico de malária e, portanto, devem gerar notificação e tratamento apropriados. Tratamento O tratamento visa atingir o parasito em pontos-chaves de seu ciclo evolutivo: ➔ interrupção da esquizogonia sanguínea, responsável pela patogenia e manifestações clínicas da infecção; ➔ destruição de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozoítos) das espécies P. vivax e P. ovale, evitando assim as recaídas ➔ interrupção da transmissão do parasito, pelo uso de drogas que impedem o desenvolvimento de formas sexuadas dos parasitos (gametócitos) 21 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Todos os medicamentos específicos para o tratamento de malária não são disponibilizados comercialmente em farmácias privadas. A prescrição e a dispensação dos antimaláricos no Brasil deve ser feita apenas com resultado laboratorial confirmatório. Persistindo os sintomas, com exame negativo para malária, o exame poderá ser repetido a cada 24 horas, até que um diagnóstico seja definido. Não é privativo do médico o manejo de malária e, portanto, pode ser realizado por profissionais de outras áreas da Saúde. Isso viabiliza a manutenção de ações preconizadas em rotinas, protocolos e diretrizes clínicas estabelecidas no SUS, incluindo estabelecimentos de saúde privados. É recomendável que as doses sejam fundamentalmente ajustadas ao peso do paciente sempre que possível, visando garantir a boa eficácia e a baixa toxicidade no tratamento da malária. Todavia, quando uma balança para verificação do peso não estiver disponível, recomenda-se utilizar a dosagem de prescrição conforme a faixa etária indicada nas tabelas. Tratamento para malária por P. vivax ou P. ovale Apenas o P. vivax e o P. ovale têm hipnozoítos, a forma do parasito que se mantém dormente no fígado, e é responsável pelas recaídas. Dessa maneira, uma única picada de mosquito infectado pode causar vários episódios de malária subsequentes. Mesmo em pessoas que usaram a primaquina de forma correta, cerca de 30% ainda podem recair, o que está possivelmente ligado à predisposição genética do indivíduo, que não metaboliza a droga para a sua forma ativa, ou resistência do parasito, o que ainda não está bem descrito na literatura. Nesses casos, uma solução para se evitar as frequentes recaídas é o aumento da dose de primaquina. O tratamento é realizado com cloroquina por três dias (10 mg/kg no dia 1 e 7,5 mg/kg nos dias 2 e 3) e, para o tratamento radical, utiliza-se também primaquina, na dose de 0,5 mg/kg/dia, por sete dias. Não se usa primaquina em gestantes e crianças menores de 6 meses. Crianças de até 6 meses devem ser tratadas com Artemisinin-Combined Therapy (ACT). Além disso, as gestantes devem usar o tratamento com cloroquina por três dias e cloroquina profilática (5 mg/kg/dose, até o máximo de dois comprimidos) semanalmente até um mês de aleitamento, para prevenção de recaídas. Tratamento para malária por P. malariae Apenas cloroquina por 3 dias, sem necessidade de primaquina. 22 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Tratamento para malária por P. falciparum e infecções mistas É recomendação da OMS o tratamento de P. falciparum com uma terapia combinada com algum derivado de artemisinina (ACT). Recomenda-se o uso de artemeter/lumefantrina ou artesunato/mefloquina para o tratamento de P. falciparum, conforme a disponibilidade local. A primaquina deve ser administrada em dose única no primeiro dia do tratamento, na dose de 0,5 mg/kg, independentemente da atividade da enzima G6PD, por se tratar de baixa dose. Medidas de profilaxia e controle São situações de risco: ➔ Viajar para locais endêmicos e com níveis elevados de transmissão ➔ Realizar atividades ao pôrdo sol ao anoitecer ➔ Dormir ao ar livre, em acampamentos, barcos ou habitações precárias sem proteção contra mosquitos ➔ Período de viagem maior que o período de incubação da doença (7 dias) ➔ Viajar ao início ou término da estação chuvosa ➔ Altitude do destino de até 1000 metros ➔ Acesso ao serviço de saúde que leve mais de 24 horas Apresentam risco elevado para doenças graves: ➔ Pessoas de áreas não endêmicas ➔ Menores de 5 anos ➔ Gestante ➔ Idosos ➔ Esplenectomizados ➔ Imunodeficientes ➔ Neoplasias em tratamento ➔ Transplantados São medidas de profilaxia e controle: ➔ Eliminar vetores e criadores ➔ Uso de inseticidas intradomiciliar ➔ Uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas ➔ Cuidado com horários de maior atividade do mosquito ➔ Uso de roupas claras e com manga longa ➔ Uso de telas nas portas e janela e ar-condicionado ➔ Uso de repelentes à base de DEET (N N-dietilmetatoluamida) 23 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Referências Bibliográficas COURA, J.R. Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 2 v.\ Ministério da Saúde. Guia de tratamento da malária no Brasil. 2 ed. Brasília, 2020. Ministério da Saúde. Epidemiologia Report – Malária 2020. Brasília, 2020. 24
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