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infanticidio - medicina legal

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO
ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS DO INFANTICÍDIO
São Paulo
2021
1. INTRODUÇÃO
Pelo art. 123 do Código Penal de 1940, o infanticídio é “matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”, sujeito a pena de 2 a 6 anos, sendo que “durante o parto” é considerado o período que vai desde a ruptura de membranas ate ocorrer a expulsão do feto e placenta (fases de expulsão e dequitação); esse crime antigamente já foi punido como homicídio agravado sujeito à pena de morte através de execuções graves. As legislações começaram a abrandar essa pena, devido novas ideias que colocavam esse crime como um “homicídio privilegiado”. 
Em 1830, o Código Criminal deixou esse delito com uma indulgencia da pena branda, 1 a 3 anos de reclusão, sendo mais caracterizado como um delito excepcional, justificado pela honoris causa (ocultar desonra própria); já em 1890, o infanticídio foi colocado como figura delituosa própria, no entanto sem dar a configuração “por defesa da honra”.
O Código Penal de 1940 traz o infanticídio como delictum exceptum, quando a parturiente está sob influência do puerpério, no entanto, isso não significa que o puerpério sempre leve à uma perturbação psíquica e sim que devemos analisar se o crime foi advindo em consequência ao puerpério. 
O infanticídio durante o parto é mais raro, no entanto existem casos de mães que cometeram o crime por perfuração da fontanela, decapitação e contusão craniana. 
No anteprojeto ao novo Código Penal está em discussão implantarem uma nova definição ao termo infanticídio, que seria: “matar o próprio filho durante ou logo após o parto, sob a influência perturbadora deste”, assim eliminando a existência do “estado puerperal” e afastando o crime do conceito da honoris causa que agia antes como atenuante penal desse crime. O uso desse conceito no infanticídio é justificado com a afirmação de que ter esse filho seria uma desonra, e que ela cometeu esse crime em uma tentativa de salvar sua dignidade, sua reputação, no entanto fazer o uso da honoris causa como justificativa atenuante do infanticídio nos mostra um retrocesso, uma prova de que a sociedade não evoluiu nem se redimiu pelos seus preconceitos, já que uma gravidez, independentemente de sua origem, nunca deveria ser considerada imoral ou algo que levasse a desonra de uma mulher.
Nesse crime o sujeito ativo seria a mãe da criança, sendo assim a criança, nascente ou neonata, o sujeito passivo. Também temos a hipótese do infanticídio putativo, que é quando a mãe acha que está cometendo o crime com seu filho, quando na verdade é uma outra criança. 
Caso o crime tenha acontecido fora das hipóteses do art.123, ou seja, fora do “estado puerperal” é considerado um crime de homicídio. O abandono do RN com a finalidade de ocultar a desonra própria, sem a influência puerperal e sem limite temporal, é caracterizado o crime de exposição ou abandono de recém-nascido, art. 134, no entanto, se esse abandono for sob influência do estado puerperal, o abandono é considerado um meio para a prática do infanticídio. 
2. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
O infanticídio é classificado como: crime próprio, ou seja, exige qualidade especial do sujeito ativo ser a mãe da vitima; material, a ação resulta na morte do ofendido; instantâneo, ocorre em um momento especifico; unissubjetivo, praticado por um único agente; comissivo ou omissivo; de dano, envolve lesão efetiva; de forma livre, ou seja, não é feito de uma forma especifica; não transeunte, com vestígios; plurissubsistente, em regra, a conduta envolve a prática de mais de um ato. 
3. TRANSTORNOS EMOCIONAIS 
O infanticídio está muito relacionado à gravidez ilegítima, mantida reservadamente, a fim de manter uma dignidade para a família e sociedade. São geralmente mulheres sem antecedentes psicóticos, mas decidem cometer esse crime com o intuito de se livrar de seus problemas, de suas consequências após relações clandestinas.
No puerpério existem algumas patologias de caráter psíquico, como a psicose puerperal, o blues puerperal e a depressão puerperal; em 1990 Kaplan e Sadok fizeram uma pesquisa que mostrou que de 20 a 40% das mulheres, após o nascimento do recém-nascido (RN) experienciou algum distúrbio emocional.
	O blues puerperal é uma consequência fisiológica do parto, geralmente ocorre no 3º ou 4º dia de puerpério, é autolimitado, desaparece em aproximadamente 2 semanas, sem deixar sequelas e sua sintomatologia envolve mudança de humor, tristeza, choro desmotivado, indiferença afetiva ao bebê, entre outros. 	
	Na depressão pós-parto a mulher fica sem condições de exercer suas atividades habituais, pois durante a gravidez ela fica sob a influência de vários hormônios, como o estrógeno e progesterona, que atuam sobre o sistema nervoso central, após o parto esses hormônios tem uma queda brusca, podendo isso ser um dos fatores desencadeantes; também foi comprovado que um parceiro que não de muito suporte pode ser um fator de risco para desenvolver a depressão. 
4. ESTADO PUERPERAL
Todas as mulheres, após a gestação, passam pelo puerpério, que não deve ser confundido com o estado puerperal. O puerpério é o período no qual o corpo da mulher retornará para o seu estado pré gravídico, durando em média 60 dias, já o estado puerperal é o estado transitório de durante o parto ou logo após, de acordo com o art.123, nele ocorrem alterações físicas e psíquicas, que podem levar a puérpera cometer ações furiosas e criminosas. 
A existência desse termo, de certa forma tem sido questionada, sendo até considerado como uma forma de justificar uma benignidade de tratamento penal. Não há elementos psicofísicos capazes de fornecer à pericia provas confiáveis de que a parturiente assassinou seu filho devido a uma alteração, pois essa patologia, o estado puerperal caracterizado como patologia, não está nos tratados médicos como patologia própria, além disso o termo não tem uma duração definida, dizem “logo após o parto”, mas não caracterizam o quanto após o parto.
5. PERÍCIA MEDICA 
	O infanticídio, a sua caracterização, é um dos grandes desafios da pratica médico-legal, por ser muito complexo e existir inúmeras dificuldades de tipificar o crime, devido a isso essa pericia é denominada de crucis peritorum (a cruz dos peritos)
	Na perícia devemos buscar elementos do delito com o objetivo de caracterizar: o diagnóstico de tempo de vida, ou seja, os estados de natimorto, de feto nascente, de infante nascido ou o de recém-nascido; o diagnóstico do nascimento com vida, que é a vida extrauterina; o diagnóstico do mecanismo de morte, ou seja, a causa jurídica de morte do infante; o diagnóstico do “estado puerperal”, ou seja, o estado psíquico da mulher e por fim a comprovação do parto pregresso, que é o diagnóstico do puerpério ou do parto recente ou antigo da autora
5.1. Natimorto
Um natimorto seria o feto que morreu durante o período perinatal que começa a partir da 22ª semana de gestação e o peso fetal é de 500 gramas. Pode ser de causa natural ou violenta; de causas naturais estão presentes as anomalias congênitas e doença hemolítica congênita. 
 
5.2. Feto Nascente
Como já foi citado, no infanticídio também contamos o período “durante o parto”, portanto devemos incluir o estado de feto nascente. Nesse estado o feto apresenta todas as características do infante nascido, mas não respira/não chegou a respirar.
No infanticídio praticado no feto nascente, as lesões estão nas regiões onde o feto começa a se expor e tem as características de feridas produzidas in vitam.
5.3. Infante Nascido
O infante nascido é o que acabou de nascer, chegou a respirar, no entanto não recebeu nenhum cuidado especial. Suas partes, peso e estatura são proporcionais, há desenvolvimento dos órgãos genitais, núcleos de ossificação fêmur-epifisária e outras características como: 
5.3.1. Estado Sanguinolento
O corpo do infante nascido, caso não receba cuidado de limpeza, fica coberto de sangue fetal ou materno (podeficar parcialmente coberto ou totalmente). Esse estado é o de maior significado no diagnóstico de infante nascido, por ser configurado o elemento “logo após o parto”. 
5.3.2. Induto Sebáceo 
É também conhecido como vernix caseosum, possui tonalidade branco-amarelada e grande parte do corpo do infante é recoberto por ele, as áreas do pescoço, axilas e pregas inguinais e poplíteas são as que mais ficam recobertas pelo induto sebáceo. Sua função é proteger a epiderme do feto na vida intrauterina. 
5.3.3. Tumor do Parto 
É uma saliência com coloração violácea no couro cabeludo do recém-nascido, pode estar ou não presente. Ele é formado no trabalho de parto e some depois de 24-36h após o nascimento. Também é chamado de caput succedaneum.
5.3.4. Cordão Umbilical 
Assim como o estado sanguinolento, é de grande importância no diagnóstico de infante nascido. Mede cerca de 50 cm e liga o feto à placenta. É úmido, brilhante de tonalidade branco-azulada, conforme os dias vão passando ele vai secando e perdendo o brilho até ficar uma fita cinza e no 7º dia mais ou menos ele cai. O corte do cordão e seu tratamento habitual podem descaracterizar o infanticídio, pois mostram a lucidez da mãe. 
5.3.5. Presença de Mecônio 
O mecônio é a primeira evacuação do feto, tem consistência pegajosa e tonalidade verde-escura. Caso ocorra sofrimento fetal essa substância pode estar presente durante o parto ou na cavidade uterina. 
5.3.6. Respiração Autônoma 
Só podemos considerar um infante nascido se ele respirar, caso a respiração não tenha ocorrido, ou seja, morreu durante o parto ou teve morte intrauterina é feto nascente ou natimorto. 
5.4. Recém-Nascido 
Esse estado é caracterizado pelos vestígios comprobatórios da vida intrauterina. É um conceito exclusivamente médico-legal, com a finalidade de atender à exigência pericial no tocante à permanência de elementos de prova do estado de recém-nascido, sendo considerado um recém-nascido desde os primeiros cuidados após o parto ate o 7º dia. 
O recém-nascido pode ter características presentes no infante nascido, mas não terá o estado sanguinolento e nem o não tratamento do cordão umbilical. Ao fim do primeiro dia o RN apresenta uma involução do tumor de parto, a presença de induto sebáceo, coto do cordão umbilical achatado e começo da formação da orla de eliminação, expulsão do mecônio e começo da mielinização do nervo óptico.
Já no segundo dia há um tumor do parto menor, a epiderme do tórax e do abdome começam a descamar, há presença de mecônio e dissecação do coto do cordão umbilical mais acentuada. 
No terceiro dia a descamação epidérmica fica mais acentuada, o coto do cordão umbilical fica totalmente dissecado com aspecto coreáceo, fino e mumificado, tumor do parto um pouco acentuado e eliminação do mecônio. 
No quarto e quinto dias há a descamação epidérmica, queda do coto do cordão umbilical, desaparecimento do tumor do parto e nervo óptico inteiramente mielinizado. 
No sexto e sétimo dias há a recenticidade da cicatriz umbilical, descamação epidérmica e inicio da obliteração dos vasos umbilicais.
Por fim, do oitavo dia em diante há a obliteração dos vasos umbilicais e descamação da epiderme ate o 10º dia. 
5.5. Provas de Vida Extrauterinas
A vida extrauterina é representada principalmente pela respiração autônoma do recém-nascido e do infante nascido, modificações capazes de oferecer ao perito condições de um diagnóstico de vida independente. 
O diagnóstico desse item pode ser feito pela comprovação de respiração pelas docimásias e pelas provas ocasionais
5.5.1. Docimásias 
São provas baseadas na possível respiração ou nos efeitos dela, podendo ser pulmonares ou extrapulmonares. 
5.5.2. Docimásias Pulmonares 
5.5.2.1. Docimásia hidrostática pulmonar de Galeno 
Prática mais simples, segura e mais usada na perícia médico-legal ultimamente, além de ser a mais antiga. É fundamentada na densidade do pulmão que respirou e na do que não respirou. 
O pulmão fetal é compacto e por isso é bem denso, assim sua densidade varia entre 1,040 e 1,092; com a respiração ocorre a expansão alveolar, seu peso permanece o mesmo, no entanto seu volume aumenta bastante, assim sua densidade fica entre 0,70 a 0,80. Considerando que a densidade da água é 1,0, o pulmão que não respirou não flutuará, mas caso o pulmão flutue indica que o feto chegou a respirar. 
Nessa prova um bloco constituído de todo o sistema respiratório junto da língua, timo e coração é colocado em um reservatório cilíndrico, largo, profundo, preenchido por água em temperatura ambiente ate 2/3 de sua capacidade.
Essa prova é constituída de 4 fases:
1ª fase: O bloco constituído de todo o sistema respiratório, ou seja, pulmão, traqueia e laringe, junto com língua, timo e coração é colocado no cilindro preenchido por água. Caso os órgãos flutuem por inteiro ou à meia-água essa fase é positiva, assim dispensando as demais; caso o bloco fique no fundo essa fase é negativa. 
2ª fase: com o bloco no fundo do vaso, os pulmões são separados das demais vísceras pelo hilo. Caso as vísceras permaneçam no fundo e os pulmões flutuarem a segunda fase é positiva, mas caso os pulmões não flutuem a fase é considerada negativa. 
3ª fase: o pulmão, que continua no fundo do cilindro, é cortado em vários fragmentos e seus comportamentos. Essa fase é considerada positiva caso alguns fragmentos flutuem.
4ª fase: alguns fragmentos são pegos e comprimidos entre os dedos, caso ocorra o desprendimento de finas bolhas gasosas misturadas com sangue a fase é considerada positiva.
Após a prova ser feita pode-se concluir, caso ocorra flutuação na 1ª fase, o infante respirou bastante; na 2ª e 3ª fase, ocorreu uma respiração precária; agora se a 4ª fase é positiva é uma prova duvidosa, ocorreram raras incursões respiratórias. Caso as quatro fases sejam negativas, é um forte sinal indicativo de que não ocorreu respiração. No entanto essa prova só tem valor até 24h após a morte do infante, pois os gases oriundos da putrefação começam a surgir, podendo levar a um falso-positivo. 
5.5.2.2. Docimásia diafragmática de Ploquet
O diafragma é observado após a cavidade toracoabdominal ser aberta, caso o examinado tenha respirado há uma horizontalidade diafragmática, caso a respiração não tenha ocorrido há uma convexidade exagerada das hemicupulas do diafragma. 
5.5.2.3. Docimásia óptica de Bouchut 
É a inspeção do pulmão do infante, caso ele tenha respirado há um desenho de mosaico alveolar, caso não tenha ocorrido a respiração, há um aspecto liso, uniforme e compacto. 
5.5.2.4. Docimásia tátil de Nerio Rojas 
Caso o pulmão tenha respirado é possível sentir na palpação um crepitar característico e uma sensação esponjosa, diferente do pulmão que não respirou e possui uma consistência mais carnosa. 
5.5.2.5. Docimásia óptica de Icard 
Pequenos cortes de fragmento de pulmão são feitos, possuem dimensão reduzida e são esmagados entre duas lâminas de modo que eles virem um esfregaço. Se houve respiração, no esfregaço há inúmeras bolhas de ar. 
5.5.2.6. Docimásia radiológica de Bordas 
Os pulmões que não respiram possuem uma maior opacidade ao Raio X, há uma forma de punho, similar ao da atelectasia pulmonar, não são vistos nem o diafragma nem a silhueta cardioaórtica. Já o pulmão que respirou há uma transparência alveolar. 
5.5.2.7. Docimásias hidrostáticas de Icard 
São realizadas como um complemento da docimásia hidrostática de Galeno quando há duvidas ou quando apenas a 4ª fase é positiva. Icard preconizou duas provas, a por aspiração e a por imersão em água quente.
Por aspiração: alguns fragmentos de pulmão são colocados em um frasco com água fria até o gargalo, esse frasco é fechado com uma rolha de borracha que tem um orifício central, onde se adapta a cânula de uma seringa de metal. O êmbolo da seringa é puxado a fim de diminuir a pressão interna do frasco, até obtermos um equilíbrio com o ar existente nos alvéolos dos fragmentos do pulmão no fundo do liquido; assim o pulmão aumenta de volume, resultando em uma menor densidade e flutua; se ele flutuaré um resultado positivo afirmando que houve respiração. 
Por imersão em água quente: possui a mesma finalidade da por aspiração, ou seja, dilatar o ar que está nos alvéolos. Um fragmento do pulmão é colocado em um reservatório de água quente, caso tenha ar dentro dele, o ar dilatará pelo calor e assim o fragmento flutuará. 
5.5.2.8. Docimásia histológica de Balthazard 
É considerada como uma das melhores provas, pois funciona até em pulmões putrefeitos. É o estudo microscópico do tecido pulmonar pela técnica da histologia comum. O pulmão de um infante que respirou é estruturalmente igual ao pulmão de um adulto, dilatação uniforme dos alvéolos, achatamento das células epiteliais, desdobramento das ramificações brônquicas e aumento do volume dos capilares pelo afluxo sanguíneo; já o pulmão que não respirou possui cavidades alveolares colabadas; por fim, o putrefeito possui tecido pulmonar com bolhas irregulares no tecido intersticial e cavidades alveolares fechadas. 
Caso o tecido alveolar não seja mais visível devido à putrefação, as fibras elásticas são examinadas pelo método de Weigert, a sua disposição citoaquitetônica nos falará se houve ou não entrada de ar. Se essas fibras também estiverem inutilizadas podemos impregnar o reticulo fibrilar pelo método de Levi-Bilschowsky com a mesma finalidade. 
5.5.2.9. Docimásia epimicroscópica pneumoarquitetônica de Hilário Veiga de Carvalho 
Nela estuda-se a superfície externa do pulmão por meio do ultraopak. O pulmão é lacado em formalina e em seguida é levado a uma placa de Petri, então é cortado em fragmentos que são examinados através da pleura ou da superfície de corte do parênquima. Depois é colocado no material uma gota de glicerina e ele é observado com uma objetica de imersão. 
Se tiver ocorrido respiração as cavidades cheias de ar vão estar arredondadas contrastada em fundo negro; um pulmão que não respirou vai ter um fundo negro, uniforme e sem imagens; no putrefeito as imagens das bolhas são grandes, disformes com distribuição irregular.
5.5.2.10. Docimásia química de Icard 
Ela consiste em colocar um fragmento de pulmão da parte central de um lobo, lavado em álcool puro em uma solução alcoólica de potassa cáustica a 30%. Se houve respiração o parênquima é destruído pelo liquido, consequentemente bolhas de ar se desprendem e sobem para a superfície. Caso esteja putrefeito, a dissolução será rápida e as bolhas grandes. 
5.5.3. Docimásias Extrapulmonares
5.5.3.1. Docimásia gastrintestinal de Breslau 
Com as primeiras incursões respiratórias o ar penetra no tubo digestivo. Nessa prova o aparelho gastrintestinal é retirado, desde o esôfago até o reto, então as vísceras são colocadas em um recipiente com água, caso flutuem a prova é positiva. 
5.5.3.2. Docimásia auricular de Vreden, Wendt e Gelé
O ar penetra na cavidade timpânica com a respiração e as primeiras deglutições, através da tuba auditiva. O pavilhão auricular é seccionado em sua linha de implantação; a cabeça do infante então é colocada dentro da água e o tímpano puncionado, é positiva quando uma bolha de ar se rompe na superfície do liquido. Essa prova só é recomendada quando chega apenas a cabeça fetal para a perícia. 
5.5.3.3. Docimásia hematopneumo-hepática de Severi
Nela procura-se determinar as taxas de oxi-hemoglobina do sangue do pulmão e do fígado. Caso sejam iguais não ocorreu respiração. Caso a taxa seja maior no sangue do pulmão, ocorreu respiração. 
5.5.3.4. Docimásia siálica de Souza-Dinitz
É a procura de saliva no estômago atraces de reações de sulfocianetos, caso haja saliva, fala a favor da respiração. 	
	
5.5.3.5. Docimásia pneumo-hepática de Puccinotti
Conforme a quantidade sanguínea do fígado e do pulmão é possível avaliar se houve respiração. Um pulmão mais leve que o fígado é o pulmão que respirou.
5.5.3.6. Docimásia plêurica de Placzek
É baseada no fato de que quando há respiração há uma cavidade pleural, caso não respirem, não é encontrada essa pressão negativa. 
5.5.3.7. Docimásia traqueal de Martin 
Um manômetro é colocado na traqueia superior, faz-se uma pressão nos pulmões; se tiver ar em seu interior o liquido do manômetro oscila amplamente.
5.5.3.8. Docimásia hematopulmonar de Zalesk 
Avalia o conteúdo hemático dos pulmões a fim de confirmar se houve respiração. 
5.5.3.9. Docimásia ponderal de Pulcquet
É baseado na diferença do peso relativo dos pulmões para o corpo do infante que respirou ou não. 
5.5.3.10. Docimásia do volume d’água deslocado de Bernt 
Os pulmões e coração são colocados em um vaso com água. O grau de deslocamento do liquido é então avaliado e diz se houve respiração. 
5.5.3.11. Docimásia alimentar de Beoth
Identifica microscopicamente os restos alimentares no estômago do RN, falando a favor de uma vida extrauterina. 
5.5.3.12. Docimásia bacteriana de Malvoz 
Investiga no sistema gastrintestinal a presença de bactérias, como a E. coli, sendo evidencia de que houve a respiração. 
5.5.3.13. Docimásia úrica de Budin-Ziegler
Se houver uratos nos condutos renais essa prova é positiva, ou seja, houve respiração. 
5.5.3.14. Docimásia do nervo óptico de Mirto
A mielinização do nervo óptico se inicia logo após o nascimento e se completa em torno do 4º dia, esse teste se baseia nela. É feito micro ou macroscopicamente na bainha mielínica. Muito utilizado em casos de espostejamento. 
5.5.3.15. Docimásia hematoarteriovenosa
Em casos de espostejamento, caso reste um membro podemos avaliar se o infante respirou ou não. O membro é dissecado e colhem sangue de suas artérias e veias; esses sangues são analisados, avaliando sua oxi-hemoglobina, caso o da artéria possua taxa de oxi-Hb mais alta, houve respiração. 
5.5.4. Provas Ocasionais 
Podem ser de grande valia em determinadas circunstâncias para a confirmação da existência de vida extrauterina. As mais comuns estão a seguir: 
5.5.4.1. Presença de corpos estranhos nas vias respiratórias 
Em casos de sufocação ou soterramento podemos encontrar nas vias respiratórias indícios de inspiração, como lama, substancias fecaloides, areia, entre outros. 
5.5.4.2. Presença de substâncias alimentares no tubo digestivo 
Se tiver substancias alimentares no tubo digestivo é sinal de que ocorreu uma alimentação e consequentemente que teve uma vida extrauterina. 
5.5.4.3. Lesões
Outros importantes sinais de vida extrauterina são as reações vitais encontradas em lesões do cadáver, caso estejam associadas às provas que comprovem respiração. 
5.5.4.4. Indícios de recém-nascimento 
Os sinais característicos de RN ou de infante nascido, já citados anteriormente, provam uma vida extrauterina. 
5.6. Causa Jurídica da Morte 
Causas naturais afastam o infanticídio. Deve-se então estabelecer se a causa mortis foi acidental ou criminosa. 
5.6.1. Causas acidentais 
Podem ocorrer antes, durante e após o parto. 
Antes do parto: pode ser devido a um traumatismo direto sobre a parede abdominal
Durante: pode ocorrer asfixia por descolamento prematuro de placenta, enrolamento do cordão no pescoço, compressão da cabeça em pelves maternas mais estreitas.
Após: hemorragia do cordão, traumatismos nos partos de surpresa, quedas. 
5.6.2. Causas criminosas
Podem ser feitas por energia mecânica, como a contusão, compressão, objetos perfurantes; por energia física como combustão e queimaduras; por energia físico-químicas como afogamento e soterramento; até mesmo por envenenamento e por eletroplessão. Não podemos esquecer do abandono do RN em locais inóspitos, inanição, ação do frio e do calor e por fim dos animais de rapina. 
5.6.3. Infanticídio seguido de carbonização do cadáver 
Os casos de recém-nascidos carbonizados após o infanticídio não são raros, são a tentativa de desaparecer com as provas do crime. 
Existem três situações distintas: 
1. Os casos que existem apenas as cinzas, neles devemos avaliar se há possibilidade de afirmar que são cinzas humanas ou se há como definirmos que se trata de um feto. 
2. Casos de semicarbonizados, com partes moles e elementos ósseos, devemos analisar se tem como estabelecer uma causamortis e uma identidade.
3. Casos de carbonização pouco acentuada, devemos ver se a perícia pode afirmar se as lesões foram produzidas em vida ou post mortem, se nasceu com vida e qual o mecanismo da morte do RN.
Para o estudo dos casos temos alguns passos: 
5.6.3.1. Análise química das cinzas
As cinzas de fetos são de reação ácida e contêm alta quantidade de cianureto de ferro, ácido sulfídrico e fosfato de cálcio, quando comparadas, as cinzas de madeira são de qualidade inferior às cinzas fetais; os ossos humanos também possuem muito mais fósforo; os ossos possuem uma relação cálcio/fósforo aproximada de 2 e uma proporção de fosfato de cálcio equivalente a 76/93 por cento do total das cinzas; um feto a termo de 3.500 gramas corresponde a 129 gramas de fosfato, podendo variar conforme sua idade uterina. 
5.6.3.2. Peças ósseas entre as cinzas 
É possível identificar nas cinzas fragmentos ósseos ou ossos inteiros, sempre; podem também ser encontrados arcadas orbitarias do frontal, ossinhos do ouvido, rochedo, zigomático, clavícula, entre outros. 
Para diferenciar o osso humano do animal podemos estudar o mascroscópico, o RN não apresenta nenhuma epífise soldada à diáfise, também devemos ver o ângulo entre o canal facial e o meato acústico interno do temporal, no ser humano é de 100 graus; além disso fazemos o estudo histológico, no ser humano temos numericamente mais canais de Havers do que os animais, no homem esses canais possuem diâmetro superior a 25 micra, temos 10 canais por campo nos humanos, já nos animais são 40 canais por campo, além disso nos seres humanos os canais sempre tem direção paralela ao eixo da diáfise; e por fim vemos as reações biológicas, usando provas de anafilaxia, fixação do complemento e soroprecipitação. 
5.6.3.3. Idade fetal 
Quando o corpo é parcialmente carbonizado a idade fetal pode ser calculada pela estatura do cadáver, pelos núcleos de ossificação, pelo comprimento e pela relação dos ossos do crânio com a mandíbula. 
Com a estatura fetal nós devemos dividir o resultado por cinco e assim determinar sua idade aproximada. 
5.6.3.4. Estatura fetal 
Temos as fórmulas de Balthazard e Dervieux, que calcula a estatura através das diáfises femorais, umerais e tibiais e também a fórmula de Sydney Smith. 
5.6.3.5. Sexo fetal 
Caso a genitália externa não tenha sido carbonizada essa questão não importa tanto, mas caso ela tenha sido carbonizada, fragmentos cutâneos permanecem, o diagnóstico é feito pela cromatina sexual de Barr, no sexo masculino os corpúsculos são ausentes, já no feminino eles são presentes. 
Caso apenas as partes ósseas restem, o diagnóstico é feito com as características vistas nos côndilos occipitais, ossos da pelve, e no ângulo sacrolombar. 
 
5.6.3.6. Características raciais do feto 
Este diagnóstico é feito através da investigação da melanina da pele. 
5.6.3.7. Respiração autônoma 
Em casos de carbonização as docimásias não são de grande ajuda. 
5.7. Estado Psíquico da Parturiente 
Para o crime ser considerado infanticídio é necessário a mulher ter uma grave perturbação psicológica, motivada pelo estado puerperal e assim sendo capaz de ser levada ao gesto extremo. 
O parto em si não leva a mulher a transtornos psíquicos graves, mas sim a leves alterações emocionais. Se faz necessário que a perícia avalie muito bem o estado psíquico da infanticida, pois é de grande valor legislativo o estado psicológico da mulher durante o crime. 
Devemos avaliar: se o parto ocorreu de forma angustiante ou dolorosa; se a mulher após o crime tentou esconder o cadáver do filho; se ela lembra do ocorrido; se há um histórico de psicopatias; se há vestígios de outras preocupações mentais que agravadas pelo parto pode ter levado-a cometer o crime.
5.8. Exame de Parto Pregresso 
Esse diagnóstico é feito por provas de parto pregresso recente. São levados em conta: estado geral, os órgãos genitais externos, corrimento genital, toque vaginal, involução uterina, aspecto das mamas, presença de colostro ou leite, exames laboratoriais, loquios, entre outros aspectos. 
A perícia deve ser feita mesmo quando ocorre a morte materna. 
6. CONCLUSÃO
Podemos então concluir que a perícia médico-legal é essencial na investigação do infanticídio. Sem sua contribuição não seria possível a Justiça firmar uma sentença, por faltarem provas consistentes e convincentes a despeito das características do crime. 
REFERÊNCIAS 
1. FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 11. Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2017 1 recurso online ISBN 9788527732284.
2. COUTINHO, Maria da Penha de Lima; SARAIVA, Evelyn Rúbia de Albuquerque. Depressão pós-parto: considerações teóricas. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 1-2, dez. 2008.
3. ALVES, Jamil Chaim. Infanticídio. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito Penal. Christiano Jorge Santos (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/426/edicao-1/infanticidio
4. MOREIRA, Ana Flávia Gonçalves; RIBEIRO, Marcus Vinícius Paixão. A (IN) EXISTÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL DE ACORDO COM A MEDICINA FORENSE. Boletim Informativo Criminológico, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 109-119, 2017.

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