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53 1 Prof. Rodrigo Andrés de Souza Penaloza A Filosofia Maçônica: Valores, Virtudes e Verdades Aula 2 53 2 Conversa Inicial 53 3 1. Símbolo versus alegoria 2. Gênese do símbolo 3. Considerações finais 53 4 Tema 1 - Símbolo versus alegoria 53 5 Duas definições de Maçonaria no Ritual de Aprendiz: Caráter público: A Ordem Maçônica é uma associação de homens sábios e virtuosos que se consideram irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente unidos por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando-se uns aos outros na prática das virtudes. 53 6 Caráter privado: É um sistema de moral, velado por alegorias e símbolos. 53 7 Importância da simbologia: Jules Boucher diz que Henry Thiriet, lamentando a negligência de muitos Maçons com relação ao estudo do simbolismo, escreveu em 1860: 53 8 Não consigo entender, a não ser como uma enfermidade do espírito, que se possa negar seja o valor, seja a necessidade do simbolismo em nossa Ordem. Os que se obstinam nessa atitude não percebem que estão negando, ao mesmo tempo, o caráter filosófico da Maçonaria e que, desse modo, privam-na de sua virtude essencial (Boucher, 2006, p. 13). 53 9 Mackey, no capítulo X de The Symbolism of Freemasonry, diz- nos que a simbologia é o método de instrução mais antigo que existe Se a Maçonaria fosse apenas um conjunto articulado de símbolos com a intenção de transmitir ensinamentos morais, ela ficaria bem atrás das religiões e até mesmo de muitas convenções sociais não escritas 53 10 A transmissão de ensinamentos morais deve ser, então, um caso particular dos objetivos maiores da simbologia maçônica. Como diz Wilmshurst (The Meaning of Masonry, 1927): 53 11 “É absurdo pensar que uma vasta organização como a Maçonaria foi estabelecida meramente para ensinar a homens crescidos do mundo o significado simbólico de umas poucas ferramentas simples de construtor ou imprimir sobre nós virtudes elementares tais como temperança e justiça”. 53 12 Figueiredo (2006, verbete simbolismo): “O simbolismo maçônico pode ser dividido em duas categorias: emblemática e esquemática. A primeira transmite, por analogia, um sentido moral; a segunda comporta um significado mais intelectual, filosófico ou científico.” 53 13 Alegoria: É aquilo que representa uma coisa para dar a ideia de outra por meio de uma ilação moral Uma característica importante da alegoria é a sua quase-imediata compreensão 53 14 Símbolo: É multívoco, pode dizer muitas coisas, não é de imediata compreensão, é vago, polissêmico Pode, aparentemente, querer dizer uma coisa, mas, na verdade, o que quer dizer é outra 53 15 Cumpre ao contemplador do símbolo compreender, praticamente do nada, o que ele significa. Por isso, a compreensão do símbolo é um processo privado e é resultado de uma catarse psíquica 53 16 Analogia das camadas de cebola São os significados dessas camadas interiores transmitidos por símbolos e apenas por símbolos? Maçonaria, religiões e Escolas de Mistérios 53 17 Quidquid recipitur ad modum recipientis recipitur Hierarquia de símbolos Necessidade dos graus συμβολή 53 18 Tema 2 - Gênese do símbolo 53 19 A gênese do símbolo é explicada pelo esquema biológico da adaptação Adaptação = acomodação + assimilação 53 20 Assimilação: É o captar-se do ambiente o que é assimilável aos e pelos esquemas mentais É um movimento de fora para dentro Acomodação: Disposição dos esquemas mentais ao ambiente Um movimento de dentro para fora 53 21 Há duas variantes quanto ao grau de acomodação versus assimilação Acomodação > assimilação imitação Assimilação > acomodação símbolo 53 22 νοῦς (noûs) espírito, alma, razão, pensamento, mas num sentido universal distingue-se do pensamento discursivo (λόγος) 53 23 νόησις (nóesis) É o exercício do νοῦς, a atividade da apreensão intelectual e do pensamento É a intenção de tender-se para um objeto 53 24 νόημα (nóema) É o conteúdo dessa atividade, o sentido objetivo da intencionalidade noética (os aspectos objetivos da percepção) 53 25 Acomodação > assimilação imitação Os esquemas noéticos (esquemas do pensamento) tendem a ser como os esquemas noemáticos (dos aspectos objetivos da percepção do mundo externo) aos quais buscam adaptar-se. Temos, assim, a imitação. 53 26 Assimilação > acomodação símbolo Quando, quanto a um fato, a assimilação supera a acomodação, então o fato tem notas que, embora não se adequem totalmente a este ou àquele esquema noético, adequam-se, por assimilação, a outros esquemas noéticos. Temos, assim, o símbolo. 53 27 Quadrado maior = mente; cada célula é um esquema do pensamento (e.g., cadeira); triângulo = objeto assimilação ⇒ símbolo esquemas noéticos acomodação ⇒ imitação aspecto inconsciente 53 28 O triângulo representa um objeto qualquer, e.g., um símbolo maçônico, como o Sol, a Lua ou o Delta Luminoso Os três vértices envoltos em círculos representam as notas ou aspectos que descrevem esse objeto 53 29 Se o objeto considerado é a figura: Então suas notas ou aspectos podem, num primeiro momento, ser duas: “um círculo” com “um ponto central”. 53 30 Quando acomodamos perfeitamente esquemas noéticos de nossa mente às notas que compõem o objeto, identificamos o objeto com alguma imagem que já temos em nossa mente. esquemas noéticos acomodação ⇒ imitação 53 31 Se, quanto ao círculo com o ponto central, fizéssemos apenas uma acomodação de nossos esquemas noéticos ao esquema noemático dessa figura, então diríamos que se trata de “um círculo e seu ponto central”. A acomodação acarreta imitação. esquemas noéticos acomodação ⇒ imitação 53 32 Considere, mais uma vez, um objeto qualquer (círculo com ponto central), como o representado pelo quadrado pequeno à esquerda no diagrama: Os quatro vértices representam as notas ou aspectos do objeto. Nossa mente captou apenas dois deles. 53 33 Quando interpretamos esse objeto simbolicamente, buscamos em nossa mente esquemas noéticos que se assemelhem às notas captadas. No diagrama, isso é representado pela ligação de mais de um esquema noético ao objeto. 53 34 53 35 e.g., um esquema noético pode ser o conceito “círculo com um ponto central”, mas o segundo pode ser “o Sol como fonte emanadora de Luz” Esse segundo esquema ilustra bem a assimilação, a associação de uma semelhança O “círculo com o ponto central” é semelhante ao Sol, isto é, sugere uma semelhança conceptual com o Sol 53 36 Pelo seu contorno geométrico, pelo giro do compasso, o Sol é um disco no céu O ponto central sugere o ponto de apoio do compasso ao se traçar a circunferência 53 37 53 38 É desse ponto que emana a circunferência, que sugere a ideia de que o Princípio Criador emana sua Luz em todas as direções: o símbolo representa o Criador em seu aspecto de provedor da vida. 53 39 Já estamos saindo da pura imitação e caminhando em direção ao símbolo. 53 40 Note que há, também, uma ligação com um esquema que representa o aspecto inconsciente, que é um noético inconsciente. 53 41 A célula, aspecto inconsciente, denota a capacidade da alma (noûs > lógos) de atribuir um significado ao objeto por meio de uma intuição psíquica que não é explicada pela mente racional. 53 42 Finalizando 53 43 Quanto mais o maçom se exercita na interpretação dos símbolos, mais esquemas noéticos são desenvolvidos e maior se torna sua capacidade interpretativa A metáfora das camadas da cebola fica mais clara Considerações finais 53 44 Eis a razão pela qual é absolutamente necessário que o Maçom sededique a cada grau com toda a seriedade possível, de modo a exaurir, dentro de seus próprios limites, toda sua capacidade interpretativa, adquirindo, então, etapa por etapa, uma profundidade maior de conhecimento sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre a divindade. O ensinamento moral torna-se, assim, mero corolário. 53 45 Todos os graus possuem a mesma importância. Apenas os níveis interpretativos são diferentes Cada grau é uma camada da cebola Resumindo: O símbolo é tudo quanto está em lugar de outro, sem acomodação atual à presença desse outro. Com este aquele tem semelhança e é por meio daquele que queremos transmitir essa presença não atual 53 46 Recorde o adágio: quidquid recipĭtur ad modum recipiēntis recipĭtur. O símbolo indica, com sua formalidade, em estado limitado (pela limitação do recipiente), a referência a uma forma em estado superior Por isso, o símbolo é hierarquicamente inferior ao simbolizado Daí que pode haver uma hierarquia de símbolos, donde a necessidade dos graus 53 47 Pela ausência da prática interpretativa dos símbolos nos graus anteriores, o Maçom permanece limitado, como recipiente, e capta, assim, uma parte menor da imensa riqueza contida no símbolo É como se, por não haver trabalhado, tivesse menos riqueza para usufruir de todas as comodidades disponíveis 53 48 A deficiência de compreensão é compensada pela capacidade simbólica. Fora da via simbólica, o homem sente a angústia do vazio, pois a simbologia é parte inerente à natureza humana Jung dizia que o símbolo não é uma alegoria nem um sinal, mas a imagem de um conteúdo em sua maior parte transcendente à consciência 53 49 Não há composição entre símbolo e simbolizado, ou seja, o símbolo não tem, não possui, parte do simbolizado, ele apenas aponta notas do simbolizado sugeridas pelo esquema noemático (o que o símbolo aponta não é do seu ser, mas do seu ter) Se houvesse tal composição, haveria idolatria, ou seja, o símbolo tomaria o lugar do simbolizado 53 50 O termo alegoria vem de ἀλληγορία (alēgoría), que significa “descrição de uma coisa sob a imagem de outra” A proximidade da alegoria com o objeto simbolizado é muito maior A do símbolo com o simbolizado não é. συμβάλλω (symbálō) significa, literalmente, “lanço junto” (convergindo) 53 51 Jâmblico (De Mysterĭis Aegyptĭis, VII, 2[250]), assim alertou quanto à disposição mental para a interpretação dos símbolos: “Ouve, portanto, também, a interpretação intelectual dos símbolos, de acordo com o pensamento egípcio, bane a imagem das coisas simbólicas, que depende da imaginação e do ouvir dizer, e eleva-te em direção à verdade intelectual”. 53 52 Ἄκουε δὴ οὖν καὶ κατὰ τὸν τῶν Αἰγιπτίον νοῦν τὴν τῶν συμβόλων νοερὰν διερμήνευσιν, ἀϕεὶς μὴν τὸ ἀπὸ τῆς ϕαντασίας καὶ τῆς ἀκοῆς εἴδωλον αὐτῶν τῶν συμβολικῶν, ἐπὶ δὲ τὴν νοερὰν ἀλήθειαν ἑαυτὸν ἐπαναγαγών. 53 53
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