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Justiça no Brasil da Velha República aos governos militares
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de Castelo Branco. O regime prosseguiu a partir de então, e seus governos variavam da linha dura aos mais moderados. Essa alta patente de oficiais acreditava que toda movimentação identificada com o comunismo (ou assim entendida) deveria ser eliminada. Somente assim o país seria elevado a seu máximo. Nesse contexto, conforma-se ... [...] O EMBATE QUE CONTRAPORIA A LINHA DURA AOS MODERADOS (OU CASTELISTA). [...] DE FATO, FOI AINDA NO GOVERNO DE CASTELO BRANCO QUE SURGIU A “FORÇA AUTÔNOMA”, UM GRUPO DE OFICIAIS SUPERIORES QUE SUPUNHAM SER POSSÍVEL LEVAR O PAÍS AO SEU DESTINO DE GRANDEZA, DESDE QUE FOSSEM ELIMINADOS TODOS OS “ÓBICES” QUE, NAQUELA FASE DA GUERRA FRIA, ERAM IDENTIFICADOS COM O COMUNISMO OU COM O QUE FOSSE ENTENDIDO COMO TAL. FICO et al., 2004. p. 72. Os primeiros anos do regime também foram caracterizados pela edificação de seu aparato jurídico, o que daria aos governos militares autoridade para reprimir a sociedade civil e perseguir adversários políticos. Listaremos alguns desses atos jurídicos: ATO INSTITUCIONAL N° 1 (9 DE ABRIL DE 1964) Delineou os fundamentos da LSN, que seria publicada em março de 1967, e permitiu ao governo cassar direitos políticos por um prazo de dez anos, além de suspender a Constituição por seis meses. ATO INSTITUCIONAL N° 2 (27 DE OUTUBRO DE 1965) Foi formulado como uma resposta ao resultado das eleições realizadas no início de outubro de 1965, nas quais a oposição ao regime conseguiu importantes vitórias. As principais determinações do AI-2 foram o aumento do poder do chefe do Executivo, a extinção do pluripartidarismo e a regulamentação das eleições indiretas para o cargo de presidente e vice- presidente da República. ATO INSTITUCIONAL N° 3 (5 DE FEVEREIRO DE 1966) Seu principal objetivo era regular as eleições e o funcionamento da política formal. O AI-3 estabeleceu o bipartidarismo, segundo o qual seriam reconhecidos dois partidos políticos oficiais: a Arena, o partido do governo, e o MDB, que seria a oposição institucional. O AI-3 ainda determinou que as escolhas dos governadores dos estados e dos prefeitos das capitais se dariam por indicação. Os governadores seriam indicados pelo presidente da República; os prefeitos das capitais, pelos governadores. ATO INSTITUCIONAL N° 4 (7 DE DEZEMBRO DE 1966) Suspendeu definitivamente a Constituição e convocou uma Assembleia Nacional Constituinte originária para a elaboração de uma nova. Todos esses atos institucionais prepararam o caminho para a promulgação de uma nova Constituição, o que aconteceu em 1967. A nova Carta suspendeu o texto constitucional vigente à época, que, como sabemos, datava de 1946 e estava fundada nos valores da democracia liberal. Eis algumas das principais características da Constituição de 1967: Concentra no Poder Executivo na maior parte do poder de decisão; Confere somente ao Executivo o poder de legislar em matéria de segurança e orçamento; Estabelece eleições indiretas para presidente com mandato de cinco anos; Apresenta tendência à centralização, embora pregue o federalismo; Estabelece a pena de morte para crimes de segurança nacional; Restringe ao trabalhador o direito de greve; Amplia a justiça militar; Abre espaço para a decretação posterior de leis de censura e banimento. Uma vez passado esse primeiro momento, o regime, já tendo o perfil institucional e jurídico edificado, passava a cumprir outra etapa. Teve início, desse modo, o segundo momento da história da ditadura, que se arrastaria até 1974. Alguns autores o chamam de “terrorismo de Estado” e anticomunismo. Foram anos marcados por muita violência. A ditadura reprimiu ainda mais a oposição, especialmente os grupos que se organizavam na luta armada. As necessidades de violência institucional eram tão grandes que o regime implementou, em 1968, outro Ato Institucional. Tratava-se do AI-5, o mais temido deles. Autor: Junius. Fonte: Wikimedia Commons / Licença (CC BY 3.0...) Imagem do Quartel do 1º BPE, sede do DOI-CODI Rio de Janeiro. Na prática, o AI-5 foi uma nova Constituição devido à sua amplitude, fortalecendo mais o poder repressor do Estado do que havia feito a Carta de 1967. O AI-5 conferiu poderes extraordinários ao presidente da República, cassou o privilégio de foro, suspendeu o direito de votar e ser votado nas eleições sindicais, proibiu atividades ou manifestação sobre assuntos de natureza política e suspendeu o direito ao habeas corpus . A obra do AI-5 foi completada pela Emenda Constitucional de 1969. O grupo que chegou ao poder em 1967, sob a liderança de Alberto Costa e Silva, estava convencido de que a Constituição de 1967 ainda era muito branda e inadequada para o combate às oposições ao regime. Como podemos perceber, a justiça foi um campo de exercício do autoritarismo da ditadura. A justiça militar, que teve suas competências alargadas, foi especialmente estratégica para os objetivos da ditadura. É contraditório que houvesse, no grupo que exercia o poder, uma perspectiva predominante a combinar a consciência de que uma “contrarrevolução” contra um inimigo de classe era necessária à noção segundo a qual certas reformas precisavam ser empreendidas para que a sociedade brasileira se ajustasse à “modernidade” capitalista, ou seja, aos parâmetros políticos do capitalismo internacional. Essa contradição, frisa Lemos (2004, p. 284-285), permeou todos os elementos da sociedade brasileira e resultou em um papel tríplice imputado à Justiça Militar. Órgão central do aparato de coerção jurídica, ela teve um papel estratégico como instrumento auxiliar no esforço de legitimação do regime e, por fim, constituiu uma arena de confronto entre correntes militares que disputavam a primazia do regime. Fonte: Shutterstock.com Em 1974, teve início o governo de Ernesto Geisel (1907-1996), que colocou, pela primeira vez, o tema da distensão do regime em pauta. As novas lideranças acreditavam que era necessário começar a organizar e controlar a transição, devolvendo progressivamente o poder aos civis. Era a transição “lenta, gradual e legal” da qual falava Geisel. Nesse período de desmonte da ditadura, que se arrastou por longos 11 anos em um processo não linear, descontínuo e cheio de idas e vindas, foram formuladas diversas leis que reverteram a legislação autoritária que vinha sendo instituída desde o AI-1, de abril de 1964. O processo de desmonte do aparelho militar pode ser examinado a partir de diferentes perspectivas: a interna, em relação às Forças Armadas; e a externa, na qual se tornam importantes as relações com as lideranças políticas civis. Dentro das Forças Armadas, as lideranças mais próximas a Geisel tiveram de enfrentar a resistência dos militares reunidos no grupo que, já na época, era chamado de “linha dura”. Ele era comandado principalmente por Silvio Frota (1910-1996), então ministro da Guerra. Em virtude dessas disputas internas, o processo de abertura, portanto, foi descontínuo, sendo marcado por idas e vindas e atravessado por crises políticas. DESTACAREMOS ALGUNS ATOS JURÍDICOS QUE MARCARAM O PROCESSO DE ABERTURA DO REGIME: Em 1979, foi decretada a Lei Federal n° 6.767. Ela extinguiu o bipartidarismo e instituiu o pluripartidarismo. Foi a partir disso que surgiram partidos, como o PFL, o PMDB e o PT, que seriam protagonistas na cena política da nova ordem democrática inaugurada pela Constituição de 1988. Também foi promulgada em 1979 a Lei nº 6.683. Essa lei decretou a “anistia ampla, geral e irrestrita”, prevendo a imputabilidade dos crimes cometidos durante a ditadura tanto pela oposição como pelos agentes do Estado. Tratava-se de um pacto já visando à nova ordem política que começava a ser desenhada. Em 1982, foram restauradas as eleições diretas para o cargo de governador de Estado. Em 1983, foi decretada a Emenda Constitucional n° 5. De autoria do deputado Dante de Oliveira, ela propunha o restabelecimento das eleições presidenciais. A tramitação da “Emenda Dante de Oliveira” no Congresso