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AULA 1 GRUPOS DE INTERESSE, DE PRESSÃO E LOBBYING Prof. Fernando Eduardo Kerschbaumer 2 TEMA 1 – RETOMANDO OS CONCEITOS DE ORGANIZAÇÕES Para darmos início ao tema desta aula, é importante relembrar alguns conceitos básicos que devem considerados para que assim possamos refletir sobre a importância do conteúdo que vamos abordar, que nos remete aos grupos de interesse, aos grupos de pressão e ao lobbying ou lobismo. Inicialmente, vamos retomar um pouco dos conceitos de organização, lembrando sobre o que elas representam, quais as principais características e como são organizadas. Organizações são grupos sociais, ou seja, são compostas por pessoas, que se unem para combinar esforços individuais, e com isso atingir resultados coletivos, que seriam inatingíveis para uma pessoa sozinha (Maximiano, 2000). As organizações, dessa forma, estão por toda a parte, sendo que cada uma tem um objetivo estabelecido de forma específica, e nelas são desenvolvidos os processos administrativos para conduzir suas atividades de modo a atingir os propósitos para os quais ela foi estabelecida. Maximiano (2000) mostra que todas as organizações são sistemas e, dessa forma, devem possuir como elementos principais os recursos (humanos, materiais, financeiros e informação), passando pelo processo de organização (processos de transformação, divisão do trabalho e coordenação), direcionado aos objetivos (produtos ou serviços). É importante considerar esses dois elementos dos objetivos, uma vez que produtos e serviços diferem quanto à tangibilidade, mas geralmente serviços estão também diretamente associados aos produtos, pois uma grande demanda de situações como treinamentos, assistência técnica, entre outros, acaba surgindo como decorrência dos produtos das organizações. Embora sejam condições analisadas de modo diferente, há muita similaridade na interpretação de ambos, e estas devem ser consideradas na gestão. Os recursos nas organizações possibilitam realizar as atividades para orientar os objetivos. Os principais recursos organizacionais certamente são os recursos humanos, pois deles advêm o conhecimento e as habilidades para a atuação com os demais componentes da organização, o que possibilitará o direcionamento esperado. Ainda, essa importância dos recursos humanos fica ainda mais clara quando lembramos que as organizações são grupos sociais. 3 1.1 Divisão do trabalho e processos Como estamos organizando pessoas para o direcionamento aos objetivos, sempre vamos considerar que há uma demanda por conhecimentos e habilidades específicas, que virão dos diferentes indivíduos que compõem a organização, sendo cada um deles importante para a realização do todo. Por terem diferentes habilidades, cada indivíduo ou grupo dentro das organizações, deverá realizar atribuições específicas, ampliando o seu potencial de resultados (Chiavenato, 2004). Assim, surge a lógica da divisão do trabalho, em que as áreas de conhecimento são separadas, e as atividades passam a ser compreendidas de uma maneira isolada, para que assim possam ser desenvolvidas com o menor esforço, e também minimizando erros. A departamentalização dentro das empresas é uma das formas que podemos utilizar para compreender a divisão do trabalho, pois cada setor terá suas atividades específicas a serem desenvolvidas, e os indivíduos que nela trabalham passam a especializar-se para esse desenvolvimento. Mesmo dentro dos departamentos (grupos), ainda há uma série de divisões de trabalho, proporcionando ainda mais impulso de especialização, para que, em conjunto, os objetivos sejam atingidos mais rapidamente e de maneira eficiente. Com base na lógica de divisão do trabalho, surge também como uma demanda gerencial ou administrativa a necessidade de estabelecer e padronizar processos (Maximiano, 2000). Isso possibilita aumentar o potencial de resultados, uma vez que a repetibilidade das ações facilitará o controle sobre o desempenho em cada uma das execuções. Também o estabelecimento de processos permite que se realizem planos ou planejamentos de ações que darão previsibilidade para os resultados. Ora, objetivos e metas, se não possuem um plano de ação para que sejam atingidos, não trarão resultados satisfatórios para a organização. Podemos assim compreender que o que difere objetivos de sonhos é justamente a organização que se faz sobre os objetivos, projetando meios claros de como realizar as ações para que eles possam ser atingidos. Assim, as organizações devem buscar apropriar-se de capacidade gerencial para que possa conduzir todas as suas atividades de modo controlado, garantindo sucesso na obtenção de seus propósitos. 4 1.2 Organizações formais e informais Há duas categorias em que podemos identificar as organizações, sendo elas formais e informais. Elas diferem basicamente por sua forma de origem e pela burocracia nelas envolvidas ou não. No entanto, ambas, para serem consideradas organizações, terão a mesma condição no que se refere a serem grupos sociais (compostas por pessoas): possuir objetivos claramente estabelecidos, além de demanda por planejamento e gestão de suas atividades. 1.2.1 Organizações informais As organizações informais são muito comuns desde sempre. Elas são consideradas grupos sociais primários, possuem pouca ou nenhuma burocracia, e seus indivíduos entram e saem delas de modo voluntário (Maximiano, 2000). Para melhor compreender essas organizações informais, considere que elas se referem a famílias, grupos de amigos, vizinhos, grupos de estudos, grupos de interesse social, grupos de interesse profissional, voluntários ou outros tantos que possuam essas similaridades. Observe que muitos desses grupos surgem e desaparecem naturalmente, podem ser duradouros ou não, mas, mesmo tendo informalidade, eles possuem uma clareza em relação aos objetivos para os quais foram criados. Para elucidar as características das organizações informais, vamos exemplificar com um grupo de estudos. Um aluno estudando sozinho pode ter algumas limitações de absorção do conteúdo, uma vez que está restrito às suas próprias percepções e também pode facilmente se distrair com fatores externos ao estudo. Ao perceber essa limitação, em conversa com mais colegas, identificaram o mesmo problema e resolvem se reunir para estudar juntos para uma prova que ocorrerá na próxima semana. Marcam dois dias, em determinado local, para que, durante o período estabelecido, possam fazer as revisões do conteúdo proposto pela disciplina, com o objetivo de melhorar seus desempenhos na prova. As características de organização estão presentes no exemplo proposto, pois nele está sendo constituído um grupo de pessoas para um objetivo comum (melhorar o desempenho na prova). No entanto, esse grupo é informal, pois sua constituição ocorreu de forma voluntária, e seu envolvimento não demanda qualquer burocracia para que ocorra. Ainda, outra característica importante dessa 5 informalidade é a ausência de qualquer responsabilidade sobre os resultados do grupo, embora pelo comprometimento dos indivíduos com a ação, eles devam respeitar aquilo que se propuseram a realizar. 1.2.2 Organizações formais Como a própria denominação sugere, neste modelo estamos considerando os grupos sociais secundários, que estão envolvidos a características de formalização. Nesse caso, são estabelecidas regras e regulamentos que devem ser cumpridos por aqueles que fazem parte do grupo (Chiavenato, 2004). As regras e regulamentos presentes nas organizações formais devem ser de conhecimento de seus membros, portanto são explícitas e criam dessa forma os direitos e obrigações para aqueles que compõem esse grupo (Maximiano, 2000). Muito relevante para a nossa compreensão é considerar que todas as empresas, o Estado e diversas outras organizações que têm comocaracterísticas a burocracia caracterizam-se como organizações formais, uma vez que a burocracia em si exige que os regulamentos sejam estabelecidos. Vamos observar como exemplo a lógica do Estado para compreender por que se refere a uma organização formal. O Estado é a representação de um grupo social (do qual fazemos parte), que possui objetivos (produção, economia, crescimento, distribuição de renda, qualidade de vida, e uma série de outros) que são comuns a seus integrantes. Mas nele há toda uma demanda burocrática por formalizar o que é realizado. A Constituição e as leis são o ponto de partida da formalização do Estado, e, com base nelas, vai surgindo uma série de outros envolvimentos burocráticos que alinham os indivíduos do grupo para que as condições propostas possam ser cumpridas de modo coletivo, respeitando os interesses comuns. As regras para cada atividade, o compartilhamento das responsabilidades (por exemplo, o pagamento de impostos que se refere a cada um arcar com parte dos custos para a manutenção do governo e das atividades que dele esperamos) e uma série de outros itens podem ser considerados para evidenciar ainda mais essa formalização. Note que não estamos considerando as falhas (intencionais ou não) presentes, pois falhas ocorrem também nos demais tipos de organização. A burocracia pode prever, inclusive, formas de responsabilidade (obrigações) para 6 aquilo que for realizado sem probidade, ou seja, em desacordo com os regulamentos e com os objetivos estabelecidos. Essa mesma obrigação não está presente nas organizações informais. TEMA 2 – INTERESSES INDIVIDUAIS Uma separação deve ser feita em relação aos interesses individuais e interesses coletivos: quando falamos em interesses individuais, estamos falando dos interesses de um indivíduo ou pessoa, não podendo considerar os objetivos organizacionais nessa categoria, já que as organizações são compostas por um grupo de pessoas. Embora o ser humano se organize facilmente em grupos, seu comportamento é bastante complexo, sendo considerado biopsicossocial, e entender seu comportamento exige muita interpretação sobre seu contexto físico, psicológico e social nos grupos em que se relaciona (Limongi-França, 2004). Ao longo de sua vida, o ser humano passa por diversas fases que modificam seu comportamento, uma vez que ele altera seu convívio social em situações como escola, trabalho e uma série de outras mudanças, que alteram os costumes desse indivíduo. Essa convivência social, conforme vai sendo alterada, permite agregar novas formas de pensar, de agir e de comunicar, influenciando nos seus objetivos futuros e no modo como irá conduzir seus interesses. Mas também o indivíduo é submetido a uma série de condições que delimitam suas ações, como regras, leis, padrões, normas etc., que tanto podem fazer com que ele limite suas ações, como pode gerar conflitos internos quando ele questiona ou não aceita essas imposições. O comportamento humano não é, portanto, totalmente padronizado, mesmo que em determinados momentos pareça ser, já que, analisando a uma certa distância, encontramos os padrões comportamentais em grupos de indivíduos. Entender o comportamento humano e suas particularidades é, por isso, há muito tempo, objeto de interesse nos campos de gestão para procurar impulsionar os resultados do coletivo por meio das forças individuais presentes em cada grupo e que proporcionam os resultados coletivos diferentes quando comparados a diversos grupos (por exemplo, duas empresas do mesmo ramo atingem resultados diferentes por conta dessas características). 7 2.1 A pirâmide de Maslow explicando o comportamento Para melhor ilustrar o que estamos relacionando como diferentes comportamentos individuais, vamos relembrar o que foi apresentado por Maslow como os aspectos que motivam os indivíduos. O contexto que ele descreve mostra que cada indivíduo terá interesses diferentes de acordo com o nível de atendimento de suas necessidades, formando assim um modelo de pirâmide, apresentando, da base para o topo, que as necessidades, conforme forem sendo atendidas, passam a gerar novas expectativas ou motivações. Figura 1 – Pirâmide das necessidades - Maslow Fonte: Andreasi, 2011. As condições fisiológicas e de segurança são chamadas de necessidades básicas (ou, como o psicólogo Frederick Herzberg denomina, fatores higiênicos) (Chiavenato, 2004) e devem ser atendidas corretamente para obter o grau mínimo de resultados esperados em uma organização. Já as condições sociais e de estima são chamadas de necessidades psicológicas, e a realização pessoal ou autorrealização é considerada um fator ainda superior aos quesitos psicológicos, 8 e esses três níveis superiores caracterizam o que Herzberg chama de fatores motivacionais (Chiavenato, 2004). Esses diferentes fatores é que nos permitem entender que o desenvolvimento de atividades e o estabelecimento de objetivos individuais são bastante relativos, justamente por considerar o ambiente e as condições aos quais esse indivíduo está sendo submetido. No entanto, essa explicação também nos proporciona a visão de que se possibilitarmos um bom desenvolvimento dos indivíduos, também poderemos ter uma ampliação de sua motivação, e isso pode proporcionar melhores resultados nos grupos. 2.2 Misturando interesses individuais com interesses de grupos Não conseguimos encontrar facilmente formas em que os fatores individuais realmente sejam plenos, e isso é muito fácil de ser explicado em decorrência de toda as atividades social às quais os indivíduos estão sendo submetidos. Embora muitas situações sejam demandas individuais, o que percebemos é que elas acabam sendo fruto de influências do contexto dos grupos e que, por mais que algumas características sejam distintas, ainda imperam certas tendências geradas pelo movimento coletivo. Compreender essas influências e a mistura dos interesses individuais com os interesses de grupos vai nos permitir mais à frente explicar como os grupos de interesse, os de pressão e as atividade de lobbying conseguem modificar resultados por meio de suas movimentações no ambiente. TEMA 3 – INTERESSES COLETIVOS A lógica que temos sobre interesses individuais é questionada de muitas maneiras quando são abordadas as questões de direito, que consideram condições transindividuais ou metaindividuais quando os interesses individuais são homogêneos, ou seja, quando diversos indivíduos compartilham de um mesmo interesse, sobretudo sobre a requisição de alguma condição de direito. Para ilustrar, podemos considerar o disposto no art. 81, inciso III da Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), que agrupa em categorias os indivíduos que possuem o mesmo interesse quando têm uma origem comum, 9 citando, por exemplo, um grupo de indivíduos que adquiriu um produto fabricado em série e que apresenta o mesmo defeito (Brasil, 1990). Nesse caso, perceba que o interesse comum sobrepõe uma ideia de indivíduo, o que dificulta sobremaneira a nossa forma de interpretação para a individualidade dos interesses. Mas aqui cabe uma ressalva bastante grande: se consideramos um ambiente com diversas organizações com finalidades diferentes, e uma dessas organizações resolve se prevalecer de seus próprios interesses em detrimento dos demais grupos presentes, vamos considerar isso um interesse próprio daquela organização. A organização, por sua própria definição já impõe uma condição de interesse coletivo, uma vez que é composta por um grupo de indivíduos com objetivo comum, mas, ao analisar-se a composição desses interesses comuns, quando estamos abordando justamente a lógica de que os indivíduos são diferentes, percebe-se que estão compondo um grupo que deve ser ter interesses homogêneos, cujas particularidades individuais terão de sersobrepostas. São muitos os desafios aos gestores das organizações para conduzir as atividades de modo satisfatório nesse contexto, já que frequentemente algumas ações podem ocorrer de modo espontâneo, decorrentes justamente dessas condições individuais. A lógica da burocracia nas organizações formais propõe justamente que medidas sejam tomadas para inibir a ação dessas individualidades, mantendo a coesão para os propósitos coletivos. Isso faz com que os procedimentos sejam estabelecidos, bem como as regras, normas e demais condições que irão proporcionar medidas para a análise de desempenho, sendo essa uma ferramenta fundamental para continuar a condução das atividades. Mesmo para atingir com sucesso interesses individuais, é necessário o estabelecimento de objetivos, o planejamento e o controle sobre as ações. O que difere é que, no caso dos interesses coletivos, estabelecer claramente e declaradamente esses objetivos demanda, em muitos casos, a participação de todos os envolvidos, gerando alguns conflitos decorrentes de sua individualidade. Uma consideração importante é que os interesses coletivos passam a ter muito mais força que os interesses individuais, fazendo com que as relações de poder, que se fazem bastante presentes no ambiente de atuação das organizações, acabam conduzindo muitos dos resultados atingidos. 10 3.1 O ser humano e a vida em grupo A psicologia explica muito sobre as questões comportamentais dos seres humanos em grupos, e os princípios de gestão adotam, desde a metade do século XX, muitos desses conceitos para a composição tanto da abordagem humanística quanto da abordagem comportamental da administração. Ao analisarmos a pirâmide de Maslow, que foi apresentada em nosso tema anterior, percebemos o quanto as questões sociais são importantes para os seres humanos, e mais ainda: que elas também dão o suporte para os outros dois níveis superiores da pirâmide, pois estima que a autorrealização só pode ocorrer num ambiente de convívio social. Desde os primórdios, o ser humano (e diversos outros animais e seres vivos) se prevalecem dos grupos para unir esforços e obter algum tipo de vantagem com isso, pois as atividades em grupo reduzem fragilidades individuais e aumentam o potencial de defesa e ação. Compreendemos, com isso, que, embora os interesses coletivos possam em alguns momentos suprimir interesses individuais, eles também fortalecem aquilo que os indivíduos podem ter como resultados. O cuidado demandado é apenas de que o indivíduo possa estar em um grupo que seja de acordo com os seus interesses, proporcionando com isso o acesso aos itens superiores apresentados na pirâmide de Maslow. TEMA 4 – PLANEJAMENTO, OBJETIVOS E METAS Planejar é um processo extremamente importante para a obtenção de resultados. O conceito de planejamento está diretamente ligado ao estabelecimento de objetivos claros e realizáveis, para os quais vamos elencar os meios que serão utilizados para atingi-los. Dessa forma, o que podemos compreender é que o planejamento é o meio que nos levará de uma condição atual para uma condição futura desejada. Você certamente já viu pessoas atingindo sucesso sem um bom planejamento, mas essa é uma condição bastante rara. Na maioria dos casos, a ausência de planejamento faz com que as pessoas ou organizações fracassem ou atinjam somente parte do sucesso que poderiam obter. Para melhor compreender esse processo, o quadro abaixo apresenta quatro definições que Maximiano (2000) utiliza para planejamento: 11 Quadro 1 – Definições de planejamento Planejar é definir objetivos ou resultados a serem alcançados. É definir meios para possibilitar a realização de resultados. É interferir na realidade, para passar de uma situação conhecida a outra desejada, dentro de um intervalo definido de tempo. É tomar no presente decisões que afetem o futuro, para reduzir sua incerteza. Fonte: Maximiano, 2000. Portanto, para o planejamento estar de acordo com as possibilidades do ambiente em que está inserido, este deve ser cuidadosamente investigado, para que seja possível identificar as tendências futuras e compreender as incertezas e os riscos presentes, criando um plano de ações que será executado ao longo do tempo, deslocando adequadamente os resultados para os objetivos. A proatividade precisa estar presente nesse contexto de planejamento para permitir considerar que o ambiente é dinâmico, e por isso está em constante modificação, e as ações nele realizadas devem ser adaptadas de acordo com esses movimentos, adequando o andamento das atividades para continuar seguindo na direção desejada. Maximiano (2000) considera ainda três necessidades das organizações que culminam no planejamento: “necessidade ou vontade de interferir no curso dos acontecimentos e criar o futuro, necessidade de enfrentar eventos futuros conhecidos e previsíveis e necessidade de coordenar eventos e recursos entre si”. No Quadro 2, vemos a descrição desse autor para cada um dos três itens: 12 Quadro 2 – Descrição das necessidades das organizações Predeterminação de eventos • Interferência no curso dos eventos; • Insatisfação com a situação presente; • Decisões que constroem o futuro. Eventos futuros conhecidos • Decisões passadas projetam-se nos eventos do futuro; • Situação presente evolui de forma previsível; • Regularidade ou sazonalidade conduzem a fatos previsíveis. Coordenação • Encadeamento de meios e fins; • Lógica entre eventos interdependentes. Fonte: Maximiano, 2000. Mas tão importante quanto planejar corretamente é manter o controle das atividades para que elas possam atingir o que é esperado. Portanto, ao longo da execução, devem ser tomadas medidas de acompanhamento para analisar o realizado X planejado, e assim proceder qualquer correção que seja necessária, tanto modificando o planejamento quanto executando-o novamente, de acordo com cada demanda. O planejamento requer alto grau de informação, demandando dos gestores um cuidado bastante grande em relação ao levantamento de dados, tanto de ambiente interno quanto de ambiente externo, possibilitando com isso que as informações obtidas sejam imparciais, ou seja, completas. Quanto mais informações o gestor tiver na composição dos cenários de atuação, maior será o grau de confiabilidade sobre as tendências projetadas, reduzindo com isso a incerteza e permitindo desviar-se mais facilmente dos riscos envolvidos com a execução futura. Porém algo a ser considerado é que não é possível eliminar os riscos ou as incertezas. O que está ao alcance dos gestores é a redução das incertezas e o entendimento sobre os riscos, o que irá permitir modificar os planos de ação de modo mais seguro. 13 4.1 Objetivos O Dicionário Houaiss (Houaiss, 2001) apresenta o termo objetivo como “aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação”, ou seja, um fim que se quer atingir. Portanto, o objetivo é o ponto de partida para o planejamento, que deve ser cuidadosamente estabelecido para que oriente a ação humana de modo eficaz. Nas organizações, os objetivos são interpretados como as finalidades e valores fundamentais, correspondendo à expressão de expectativas ou interesses futuros. Os propósitos organizacionais (missão, visão e valores) são exemplos de como se estabelece essa relação (Chiavenato, 2004). A formalização e a declaração dos objetivos fazem com que todos os indivíduos envolvidos absorvam essas intenções e possam direcionar esforços para que eles sejam atingidos. Os objetivos determinam a ação, o tipo de estratégia e a estrutura que a organização deve adotar para a realização de suas atividades, dando sentido à sua direção. Em vez de a organização ser empurrada pelo ambiente em que está inserida, ela passa, com o estabelecimento de objetivos, a conduzir osresultados a uma condição desejada. O quadro abaixo apresenta alguns dos elementos que Peter Drucker (2007) considera que os objetivos devem atender: Quadro 3 – Elementos presentes nos objetivos de uma organização Ser focalizado em um resultado a atingir e não um uma atividade. Ser consistente, ou seja, precisa estar ligado coerentemente a outros objetivos e demais metas da organização. Ser específico, isto é, circunscrito e bem definido. Ser mensurável, ou seja, quantitativo e objetivo. Ser relacionado com um determinado período de tempo, como dia, semana, mês e número de anos. Ser alcançável, isto é, os objetivos devem ser perfeitamente possíveis. Fonte: Drucker, 2007. Os objetivos devem ainda ser pautados nos fins a serem atingidos, e não nos meios para a sua realização. Eles devem também estar interligados, gerando a lógica de entendimento dos objetivos maiores para os quais estão conduzindo. 14 4.2 Metas Embora os dois termos se confundam na aplicação, há sim uma diferença entre os conceitos de objetivos e metas. Enquanto o objetivo é aquilo que se pretende atingir, as metas correspondem à definição em termos quantitativos e com prazo determinado para que as etapas sejam cumpridas. Portanto, as metas estarão ligadas aos questionamentos: “quanto?” e “até quando?”. É importante a diferenciação conceitual desses dois itens, pois com isso vamos compreender a importância que as metas têm no contexto de atingirmos os objetivos propostos. TEMA 5 – MOTIVAÇÃO E LIDERANÇA Como já abordamos a pirâmide de Maslow e discutimos bastante sobre os diferentes comportamentos das pessoas, ficará muito mais fácil a nossa contextualização sobre a importância de todo o conteúdo desta aula para a motivação e a liderança. Além disso, pensar nas coisas que nos motivam nos permite refletir sobre os nossos objetivos, pois estamos falando em condições que interferem nos resultados das organizações ou do ambiente organizacional por meio de influências que se fazem presentes no contexto social. Se não fosse todo esse condicionamento do comportamento humano, com suas particularidades, não seria relevante falar de grupos de interesse, grupos de pressão e lobbying, pois o propósito desses grupos é justamente influenciar pessoas e o andamento dos resultados. É por isso que precisamos relembrar os conceitos de motivação e liderança para perceber que muitos meios são utilizados no dia a dia para movimentar os resultados nos meios organizacionais (seja nas organizações formais ou nas informais). Complementando o que já discutimos sobre os fatores motivacionais, com a apresentação da Pirâmide de Maslow, é importante lembrar que o desempenho das atividades está diretamente ligado a uma ordem de satisfação das necessidades, ou seja, é necessário atender nível a nível cada uma das condições expostas por Maslow, para que se possa obter o melhor nível de desempenho dentro do contexto organizacional. 15 Mas não é apenas atendendo esses itens que o desempenho estará garantido. O ser humano nem sempre consegue perceber todas as condições que está recebendo como retorno, e por isso o papel dos gestores (sobretudo o papel dos líderes) se apresenta como relevante para conduzir as pessoas na realização das atividades. Uma das principais definições para liderança é a de que um líder deve conduzir as ações ou influenciar o comportamento das pessoas (Maximiano, 2000). O mesmo autor considera ainda que, em alguns casos, essa liderança é feita por alguns grupos em relação a outros. A natureza de líderes e seguidores é estudada, portanto, para possibilitar compreender e direcionar os resultados nas organizações, fazendo com que os seguidores sejam alinhados corretamente aos objetivos propostos, aceitando e realizando as atividades como desejado. Maximiano (2000) apresenta três elementos representativos da liderança, conforme a Figura 2: Figura 2 – Elementos da liderança (1) Fonte: Maximiano, 2000. Esses elementos nos demonstram que, para que ocorra a liderança, deve existir uma boa inter-relação entre o líder, seus seguidores e a missão que será desenvolvida, e a motivação e a legitimidade deverão prevalecer para o desenvolvimento correto da liderança. Ainda, os seguidores podem ser fiéis (por caráter moral) ou mercenários (por interesse), conforme a Figura 3, apresentada por Maximiano (2000): 16 Figura 3 – Elementos da liderança (2) Fonte: Maximiano, 2000. Os focos principais da atuação do líder compreendem a sua personalidade, as motivações e habilidades, que são próprias do indivíduo que exerce liderança, e as bases da autoridade compreendem a tradição (costumes), o carisma, a burocracia, as relações pessoais e a competência técnica. Enfim, trabalhamos com esses itens justamente porque eles farão sentido para que possamos compreender os movimentos que se fazem presentes sobre a influência entre organizações, compondo o objeto de nosso estudo, que são os grupos de interesse, os grupos de pressão e o lobbying. 17 REFERÊNCIAS ANDREASI, D. Consumismo x Pirâmide de Maslow – Uma outra visão da teoria. Jovem Administrador, 6 abr. 2011. Disponível em: <https://jovemadministrador.com.br/consumismo-x-piramide-de-maslow-uma- outra-visao-da-teoria/>. Acesso em: 9 set. 2019. BRASIL. Lei n. 8.078/90, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 set. 1990. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. São Paulo: Elsevier, 2004. DRUCKER, P. The practice of management. New York: Harper, 1954; London: Heinemann 1955; revised edition, Butterworth-Heinemann, 2007 HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LIMONGI-FRANÇA, A. C. Qualidade de vida no trabalho – QVT: conceitos e práticas nas empresas da sociedade pós-industrial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. AULA 2 GRUPOS DE INTERESSE, DE PRESSÃO E LOBBYING Prof. Fernando Eduardo Kerschbaumer 2 CONVERSA INICIAL Organizações e suas Finalidades Para iniciar nossa aula, vamos refletir um pouco sobre as finalidades das organizações, para que possamos discutir um pouco sobre como diferentes grupos podem possuir interesses tão distintos, e, ainda, como até mesmo para situações ilícitas ou imorais o conceito de organização continua presente. Como vimos em nossa aula anterior, as organizações são grupos sociais com objetivos comuns, que vão aplicar esforços para atingir estes objetivos. Elas podem ser formais ou informais, o que varia de acordo com sua finalidade e com o nível de burocracia nelas presentes. TEMA 1 – OS TRÊS SETORES Uma primeira condição a compreender é a divisão da sociedade em três setores. As organizações, sobretudo as formais, são identificadas de acordo com a sua composição social e com a aplicação de suas atividades. Surgem dessa forma, o primeiro setor, formado pelo governo, o segundo setor que é formado pelas empresas privadas, e o terceiro setor, com as associações sem fins lucrativos. Vamos explorar um pouco cada um desses setores. 1.1 O primeiro setor – governo Este setor é responsável pelos serviços que são comuns à sociedade. É composto pelo governo e todas as entidades governamentais, com o objetivo de prestar os serviços essenciais à população. Sua fonte principal de arrecadação ou faturamento são os impostos e taxas, sendo que há uma série de regras para a aplicação dos recursos, a exigência de licitações e pregões eletrônicos para compras ou contratações, bem como os concursos públicos para a contratação de mão de obra. Há muita responsabilidade em jogo nesse setor, pois deve-se prestar contas sobre os recursos e sua aplicação, e os resultados da boa utilização garantem a toda sociedade maiorqualidade. Embora saibamos que nem sempre há transparência e bom uso dos recursos disponíveis ao primeiro setor, há uma série de leis e exigências para o seu funcionamento. Essas leis em alguns momentos até deixam algumas 3 respostas lentas demais, o que gera algumas das grandes reclamações que a sociedade tem contra os órgãos e empresas desse setor. 1.2 O segundo setor – empresas privadas O segundo setor compreende as empresas privadas. Organizações constituídas de capital privado, e que têm por objetivo maior o lucro, para remunerar tanto o risco sobre o capital, como a deliberação por não tirar proveito imediato desses recursos. Basicamente, o que temos no conceito de investimentos é que quem poupa dinheiro está abrindo mão de ter uma satisfação imediata com o uso dos recursos, e para se motivar, possui interesse em obter remuneração (juros) sobre tal capital durante o período em que o está disponibilizando. Além disso, como o ambiente (mercado) é dinâmico, há também a presença de risco, pois os resultados podem não ocorrer de acordo com o que se previu com a análise de tendências. Os juros ou o retorno sobre o investimento compõem, portanto, a remuneração sobre o capital investido. Ao mesmo tempo, esta operação de investimento também fomenta as atividades das empresas, proporcionando ganho de escala produtiva, e proporcionando melhores resultados frente à competitividade do mercado. Há três setores na economia, sendo o setor primário composto pelo desenvolvimento da agropecuária e do extrativismo mineral. Este setor é extremamente importante, pois é ele que fornece matérias primas para as indústrias no setor secundário. No setor secundário estão as indústrias, produzindo máquinas, equipamentos, bens de consumo, construção civil e geração de energia. Este setor simultaneamente utiliza os recursos fornecidos pelo setor primário e abastece o setor terciário. O setor terciário está ligado ao comércio em geral e as diversas formas de prestação de serviços. Este setor cresceu consideravelmente, principalmente com a redução da densidade populacional no campo e com a automação da indústria, além do aumento de prestações de serviços baseados em tecnologias emergentes. É importante notar que todas as atividades realizadas nas organizações do segundo setor têm o intuito de obter lucro ou remuneração sobre os capitais 4 investidos e sobre o trabalho empregado, caracterizando as fontes de recursos para o primeiro e para o terceiro setores. 1.3 O terceiro setor – associações sem fins lucrativos No terceiro setor estão situadas diversas formas de organizações que cumprem um papel fundamental para a sociedade. Estas organizações atuam a favor da sociedade e do bem comum, cobrindo algumas deficiências que o Estado tem para realizar determinados serviços. As instituições presentes no terceiro setor podem ser fundações, organizações não governamentais, entidades filantrópicas, associações comunitárias e outras que não possuem fins lucrativos. Como fonte de renda, elas podem: receber verbas liberadas por programas do Governo; ser financiadas por empresas privadas; ou receber doações da população ou outras organizações. Essas organizações, por não terem fins lucrativos e por seu cunho de desenvolvimento de atividades para a sociedade, devem prestar contas do uso adequado de seus recursos, cumprindo legislação específica. 1.4 Diversidade de interesses organizacionais Como vimos ao longo de nossas conversas, há uma diversidade bastante grande envolvendo o interesse das organizações. Enquanto algumas delas são voltadas a particularidades de pequenos grupos, outras procuram atender interesses de grandes grupos, sejam interesses econômicos, ou mesmo interesses sociais, como o caso das organizações governamentais. Vamos exemplificar mais um pouco alguns desses interesses, para que possamos compreender, inclusive, que há organizações que são voltadas a interesses escusos, ou seja, que demonstram alguma forma de atuação suspeita. Se um grupo de amigos se reúne para organizar uma festa de confraternização, mesmo sendo um evento único, este é um modelo de organização informal com objetivos específicos, cujos interesses atendem somente ao próprio grupo. Quando o governo inaugura uma escola, estamos tratando de uma organização formal do primeiro setor, cujos objetivos não estão ligados a lucro, mas sim a atender uma demanda de uma parcela da população. Note que o mesmo governo pode ter outra organização formal como uma secretaria de 5 Estado, que também não tem finalidade de lucro, mas atende a uma parcela muito maior da população. No segundo setor, podemos exemplificar com empresas privadas com fins lucrativos, tanto do setor primário (uma fazenda agrícola, por exemplo), como do setor secundário (uma indústria de alimentos, por exemplo), ou ainda do terciário (como um mercado). Todas elas são organizações formais, cada uma com seus objetivos, podendo atender a uma parcela maior ou menor da população. No terceiro setor, que envolve organizações formais sem fins lucrativos, podemos exemplificar com uma ONG (organização não governamental), ou com uma entidade religiosa (igreja), ou ainda clubes, fundações ou outras entidades que deverão obrigatoriamente reverter sua renda em ações sociais, não realizando distribuição de lucros. Um problema que permeia as organizações, e que se tornou bastante comum no terceiro setor, é a realização de crimes como práticas de enriquecimento ilícito e corrupção, incluindo lavagem de dinheiro. Nesses casos, os envolvidos se valem de brechas nos processos para a criação de empresas de fachada e outras formas de fraude. TEMA 2 – CRIME ORGANIZADO Este tema foi aberto propositalmente para ampliar a gravidade do termo crime organizado. Muito se tem discutido sobre o assunto, pois a palavra “organizado” tem a mesma função das organizações que estamos discutindo. No entanto, neste caso o objetivo destas organizações vai contra os princípios éticos e morais da sociedade em que atuam. As atividades ilícitas que esses grupos realizam geralmente objetivam lucro para tais organizações, mas podem também ser motivadas por fatores políticos ou religiosos, como em casos de organizações terroristas. Vale ressaltar que o termo crime organizado, quando utilizado da maneira correta, está se referindo a algo maior e mais forte, como exemplo de organizações que podem ser locais, nacionais, internacionais ou transnacionais, que podem inclusive ultrapassar fronteiras para praticar suas atividades. Para nós, o que interessa na compreensão sobre o crime organizado é que ele possui características de organização, com objetivos e estruturação (planejamento) para atingi-los. Essas organizações costumam dominar a 6 inteligência sobre o ambiente em que atuam e criam estratégias para avançar com seus negócios. Além disso, é frequente que haja uma rede de organizações envolvidas, com ramificações em outras organizações que não fazem parte diretamente de seus atos, mas que são envolvidas por alguns membros atuantes, tirando proveito de situações e estruturas, desviando a atenção de investigações. Há diversos exemplos de organizações criminosas que são famosas pelo tamanho de sua atividade. Podemos citar os cartéis colombianos envolvidos com o narcotráfico, o PCC (Primeiro Comando da Capital), que atua principalmente no Estado de São Paulo, mas é considerada a maior organização criminosa brasileira e a Máfia Italiana. Vamos ao longo de nossas conversas compreender que a tecnologia e a organização das sociedades também permitem que diversas situações sejam desencadeadas como crimes, e que podem ter consequências devastadoras, mesmo quando não envolvem o uso direto de força, ou seja, armas e violência física. Então, a possibilidade de crimes é bastante grande,sendo que com o avanço das comunicações e de tecnologias ampliou-se ainda mais o potencial surgimento de ações ilícitas e de atividades que realizadas em detrimento das condições éticas e morais estabelecidas no contexto de determinados países ou grupos sociais. É também bastante complicado, em alguns casos, definir essas condições como crimes, principalmente quando elas só são contrárias às práticas atuais, mas podem gerar novas perspectivas para a sociedade, e mesmo assim são criminalizadas. O que temos, portanto, é que o conceito de crime também deve variar de acordo com as práticas aceitáveis em cada país ou região. Algumas práticas podem ser aceitas em determinados locais, mas são totalmente proibidas em outros. Isso deve ser levado em consideração também quando falamos em práticas de influência e de utilização privilegiada de informações, que é o contexto de nosso tema da disciplina, e que será discutido em nossas próximas aulas. Costa (2017) apresenta algumas características mapeadas por Abadinsky e Albanese, que explicam melhor o crime organizado, veja no quadro a seguir: 7 Quadro 1 – O crime organizado Abadinsky Albanese - Não tem objetivos políticos; - Possui hierarquia; - Sua associação é limitada ou exclusiva; - Constitui uma subcultura única; - Se perpetua (mantém ao longo do tempo); - Demonstra usar ilegalmente de violência; - Age com monopólio; - Tem regras e regulamentos explícitos. - Possui hierarquia organizada; - Seu lucro é racionalizado por meio do crime; - Usa força ou ameaças; - É envolto com corrupção para manter sua imunidade; - Tem demanda pública por seus serviços; - Monopólio de mercado em particular; - A associação é restrita; - Ausência de ideologia; - Especialização; - Possui algum código secreto. Fonte: Costa, 2007. Essas características ampliam a visão sobre a atuação mais avançada do crime organizado. É interessante perceber a diferença com os casos isolados que as mesmas ações podem ocorrer, pois nesses casos a força e o impacto de suas atividades são muito menores do que no contexto organizado. Da mesma forma que há uma grande diferença na ação criminosa entre o crime organizado e os crimes realizados por indivíduos ou grupos menores, também há uma tendência de que o combate possa ocorrer de maneira diferente, principalmente pelas influências e pelo envolvimento de corrupção que pode ocorrer nos casos de atividades maiores. Resumindo, a própria caracterização de crime é bastante subjetiva pelo contexto da sociedade, então essa é uma discussão recorrente, que precisará ser renovada a cada modificação de contexto social, ou seja, de acordo com a evolução cultural dos indivíduos que dela participam. TEMA 3 – TIPOS DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS Como abordamos anteriormente, as características do crime organizado serão interpretadas de forma subjetiva, de acordo com as questões morais e éticas que envolvem uma sociedade e seus aspectos sociais, econômicos, políticos, entre outros. Devido a condições históricas, o que para alguns é considerado crime, para outros é um processo tradicional que precisa compreendido e aceito de forma regular. Isso às vezes é bastante contraditório para alguns indivíduos, mas explica muito sobre as relações em sociedade. 8 Os conceitos de direito também são limitados quanto a essas definições de organizações criminosas, mas algumas características se fazem comuns, como as que já abordamos em nosso tópico anterior. Quando falamos em estrutura hierárquica no crime organizado, da mesma forma que nas organizações burocráticas, vemos a presença de uma ordem de subordinação nas organizações criminosas, e tal hierarquia geralmente é cumprida de forma rígida, com ordens vindo do topo até as pessoas que atuam nas demandas operacionais dessas organizações. Claramente, o lucro e o poder são os fatores que motivam as organizações criminosas, pois indiferentemente de seu campo de atuação, os atos ilícitos não teriam razão de ser se não fossem por esses dois objetivos. O maior problema desses itens como motivadores, é que eles acabam promovendo uma demanda sempre crescente, ou seja, um ciclo vicioso de poder e lucratividade. Como o lucro e poder envolvem essas organizações, a intimidação aos participantes e oponentes, utilizando ameaças e violência, acabam estando facilmente presentes para preservar os interesses. Da mesma forma, a corrupção acaba fazendo parte dessas organizações, seja internamente (é possível que inúmeros participantes sejam corruptos entre si, pela própria índole), ou ainda externamente, pois agentes do poder público, ou mesmo de outras organizações acabam se corrompendo e colaborando com as atividades ilícitas, motivados por ganhos financeiros, ou mesmo por ameaças. Uma condição ainda mais forte para a legitimação de determinadas atividades do crime organizado é quando o governo deixa brechas de atendimento a demandas sociais, e essas organizações acabam por “substituir” o Estado, aproximando-se e sendo legitimadas por uma parcela da população. Mendroni (2014) elenca quatro modelos básicos de organizações criminosas, que apresentamos no quadro abaixo: Quadro 2 – Modelos de organizações criminosas Tradicional (ou Clássicas) Das quais o exemplo mais clássico são as Organizações de tipo mafioso, as Máfias. Rede Cuja principal característica é a globalização, formando-se através de um grupo de experts sem base, vínculos ou ritos; que agem por pequeno período. Empresarial Formado no âmbito de Empresas lícitas (licitamente constituídas). Praticam crimes de Cartéis, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal etc. 9 Endógena Espécie de organização criminosa que age dentro do próprio Estado, em todos as suas esferas – Federal, Estaduais e Municipais. Seus agentes são funcionários públicos que exercem parcela de poder do Estado, especialmente políticos. Favoritismo e clientelismo são características evidentes. É forma de organização criminosa denominada, de “Criminalidade dos Poderosos”. Fonte: Mendroni, 2014. A apropriação tecnológica que abordamos em nosso tópico anterior também facilita o crescimento das atividades do crime organizado, com a vantagem que essas organizações muitas vezes possuem acesso financeiro às tecnologias, já que têm ganhos financeiros sem os custos regulares de organizações que operam de forma lícita. Nem todo o volume financeiro que gira em torno das organizações criminosas precisa ser lavado. O dinheiro que circula entre participantes e outros elementos dessas organizações não aparece nos meios econômicos legais, portanto, apenas as quantias utilizadas em mercados formais é que precisam passar por algum tipo de autenticação ou lavagem. Todos esses elementos descritos nos possibilitam compreender ainda melhor a razão do crime organizado ser tão danoso à sociedade, tanto pelas questões de ameaças e violência, como pelas questões de desviarem as condições legais, o que dificulta e encarece a realização das atividades por empresas que agem legalmente. Mendroni (2014) apresenta algumas considerações que nos permitem refletir mais sobre as influências dessas organizações criminosas: Da atuação com característica permanente destas organizações criminosas, as Endógenas, decorre o ciclo “criminal-legal”, com a subdivisão do dinheiro, produto dos crimes retirados, em maior porcentual, do próprio Estado: Dinheiro criminoso acaba sendo aplicado tanto para incrementar as atividades ilícitas, como também em negócios já considerados “lícitos”, assim entendidas aquelas Empresas legalmente constituídas, muitas, porém, com o dinheiro sujo. Depois, com a criação e/ou incremento de empresas, através do poder advindo da formação de elevado capital, das facilidades que dele decorrem, e do exercício do poder, passa-se ao âmbito da atuação de “pressão política”, muitas vezes a partir dadisseminação de falsas ideologias, através das quais os grupos ou organizações criminosas se infiltram e se mantém no sistema político do País, conseguindo (re)eleger seus representantes para cargos dos Poderes Executivo e Legislativo; corrompendo, ameaçando e extorquindo outros políticos. Finalmente, para degradação da sociedade, estes políticos, para se favorecerem, aprovam leis que amenizam, de qualquer forma, as atividades criminosas contra o Estado e também as primárias, seja permitindo-as, descriminalizando-a ou 10 atenuando-as. Criam leis sem, ou com pouca punição, portanto ineficazes, e os criminosos não as respeitam. Por fim, consideramos que por agirem com sua própria vontade, e por ignorar leis e regulamentos, essas organizações tendem a crescer e se multiplicar de maneira muito rápida, o que pode dificultar ainda mais o combate a tais práticas. TEMA 4 – COMBATE AO CRIME ORGANIZADO Sem dúvidas, este é um tema bastante polêmico, uma vez que a própria caracterização de crime organizado já é um desafio. Combater estes crimes, demanda inicialmente a legitimidade dos órgãos envolvidos e separação de interesses de indivíduos ou grupos específicos. Quando falamos em legitimidade, estamos nos referindo justamente aos propósitos daqueles que estão combatendo algo, e das características que estão atreladas a tais atos. Note como cada vez mais estamos tendo dualidades na interpretação de uma série de situações que envolvem crimes, sobretudo àqueles ligados a movimentos políticos, já que percebemos que não há total imparcialidade por parte dos envolvidos em combater e julgar tais crimes. Não é só no meio político que isso acontece. Como mencionamos, o crime organizado frequentemente acaba desenvolvendo atividades sociais em substituição ao governo, e isso legitima, perante a parcela atendida da sociedade, as organizações que estão a frente desses cuidados. Sendo assim, quando tenta-se combater as atividades destas organizações, é bastante comum que a própria sociedade se manifeste contra, buscando meios para rebater e desarticular os movimentos, e isso gera divisões de pensamentos que tornam obscuro o que realmente deve ser combatido ou não. Uma situação bastante comum sobre o combate a diversos modos de crime organizado, acaba sendo a realização de combate entre grupos com diferentes interesses. Ou seja, às vezes são outras organizações criminosas que estão combatendo seus concorrentes. Nesse sentido, é relevante notar que a própria criação de leis pode ser um processo com intenções de determinados grupos, e que isso dificulta a ação de combate a situações desfavoráveis, uma vez que os envolvidos tornam lícitos os atos que deveriam ser considerados crimes. 11 No entanto, o combate deve ocorrer, e em muitos casos ocorre de maneira legítima e íntegra. No entanto, isso é extremamente complexo, uma vez que se precisa de inteligência e precaução para que o levantamento de informações ocorra sem a interferência negativa por parte dos investigados, ou que outros grupos interessados não ajam em detrimento das investigações. Há muito tempo se fala em combate ao crime organizado, e muito já foi feito em relação a isso. Atualmente circulam projetos de lei para fechar ainda mais o cerco sobre essas ações. Novamente entramos na discussão sobre os interesses, já que quem legisla também está suscetível a ser corrompido pelas tentações financeiras e de poder proporcionadas pelas atividades das organizações criminosas. Ao mesmo tempo que as tecnologias, sobretudo aquelas ligadas a comunicações e geração de informações, favorecem a realização de alguns crimes, elas também permitem rastrear e investigar muitas atividades ilícitas. Portanto, é importante apropriar-se de tais tecnologias para que elas possam contribuir de forma positiva no combate aos crimes. Diversas soluções tecnológicas podem e serão utilizadas em breve para reduzir as chances de corromper e adulterar informações geradas pelas organizações. Isso facilita a gestão de negócios e garante àqueles que trabalham de forma lícita que seus resultados não serão alvo de crimes vindos de indivíduos que agem de dentro ou de fora de suas organizações. Um exemplo dessas tecnologias é a blockchain (cadeia de blocos), que utiliza a tecnologia P2P (peer to peer) para criptografar dados entre origem e destino e gravar cada nova informação sem apagar os registros anteriores. Esse é o conceito de blocos, que não permite adulterar os registros e garante a integridade das informações. Ao contrário do que alguns acreditam, tecnologias como a blockchain (que dá suporte para as criptomoedas e o desenvolvimento de outras ferramentas) não são meios para ocultar informações, pois podem ser rastreadas, apesar de gerarem também segurança nas transações para as quais elas dão suporte, em razão da criptografia. Há diversas frentes que procuram combater o crime organizado, e é por isso que todos os meios possíveis serão considerados para que de alguma forma resultados efetivos possam ser alcançados. Tanto organizações que agem de forma lícita, quanto as que agem de forma ilícita, procuram desarticular as ações 12 daqueles que de alguma forma estão gerando prejuízos ou desgaste às estruturas de outrem. De fato, o poder público é que deve agir para desarticular tais meios ilícitos, envolvendo diversas frentes, desde os três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), como também os diversos órgãos que podem de alguma forma contribuir com tais ações, como o Ministério Público, a Polícia Federal, a Receita Federal, a Receita Estadual, as polícias estaduais e diversos outros, de acordo com o tipo de crime. TEMA 5 – REFLEXÕES SOBRE O CRIME ORGANIZADO Diversas são as reflexões que podemos fazer sobre os temas abordados ao longo desta aula, mas acima de tudo, é necessário fazer a ligação com o objeto de nossa disciplina, que aborda sobre os grupos de interesse, grupos de pressão e lobbying. Propositalmente, anteriormente refletimos sobre organizações, e agora falaremos de crime organizado, para despertar um pouco mais os questionamentos que farão sobre os três elementos que serão ampliados nas aulas seguintes. Será que os três serão sempre considerados ilícitos? E quando não forem considerados ilícitos, estarão sendo prejudiciais a terceiros? As provocações que fizemos, principalmente nesta aula, vão nos permitir analisar melhor cada item, pois em resumo, tudo é um jogo de interesses e depende da legitimação que se dá ou não para cada ação. Se as próprias discussões políticas que estamos tendo em nosso país, e tantas outras que ocorrem em outros países, não são conclusivas, talvez nem sempre as respostas nos surjam de maneira objetiva. A presença da subjetividade nos demandará compreender o contexto de ação de modo mais aprofundado, para só então chegar a conclusões mais aproximadas. Muitos dos assuntos que estamos abordando nesta disciplina terão sim a possibilidade de interpretações diferentes quando aplicados a diferentes indivíduos, em razão dos diferentes modos de pensar decorrentes do contexto em que estão inseridos. As discussões culturais, sem dúvida, são objeto de um cuidado bastante grande, uma vez que as influências levaram a compor as condições morais e a 13 violação de condições morais é que obriga o estabelecimento de leis para que sejam garantidos os direitos aos demais cidadãos. Mas temos como exemplo, no próprio Brasil, uma diversidade de opiniões sobre este mesmo assunto, pois como as leis visam padronizar o comportamento em uma sociedade, e as leis são criadas e impostas pelos representantes da sociedade, mas que foram eleitos por apenas uma parcela destes, acabamos encontrando muitos questionamentos sobre sua legitimidade. Em decorrência desses questionamentos, há diversas pressões contrárias ao cumprimentode algumas das leis, e até mesmo em alguns momentos, movimentos para que as leis sejam modificadas. É necessário compreender nesse ponto que realmente há divisões de pensamentos, o que torna extremamente difícil, e em alguns momentos até impossível, julgar qual a melhor condição. Vamos imaginar um exemplo, para que possamos compreender como esse movimento das leis é mais complexo do que parece: no Brasil, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) vem sendo alterado, desde 2008, passando por 2012 e ainda mais severamente em 2016, no que diz respeito à chamada Lei Seca, que proíbe a condução de veículo após a ingestão de bebidas alcoólicas. Considere um indivíduo que é capaz de beber um a dois copos de cerveja e ainda manter seus reflexos de forma plena, sem qualquer prejuízo de suas condições para conduzir um veículo. Esse motorista é “prejudicado” pela lei, uma vez que mesmo estando em condições, se dirigir e for pego em uma fiscalização ou se envolver em um acidente, será punido nas formas da lei. Agora considere outro indivíduo, que por alguma questão fisiológica, ao ingerir pequenas quantidades de álcool já perde por completo os seus reflexos. Ele apresenta risco a terceiros que estejam nas proximidades por onde passar. Com este exemplo, podemos ver nem sempre a lei parece totalmente justa para todos, mas ela pode sim ter a sua razão de ser. Muitos vão afirmar, com razão, que mesmo o primeiro cidadão não vendo desta forma, a lei está também protegendo a ele e a sua família de outros motoristas que pudessem estar embriagados. Algumas leis realmente podem não estar protegendo adequadamente a sociedade, mas sim resguardando apenas os interesses de alguns pequenos grupos sociais. E isso inflamará as nossas interpretações sobre os temas das aulas seguintes. 14 Uma ressalva bastante importante neste ponto da leitura se faz necessária para a correta interpretação de nossas aulas seguintes: os conceitos de grupos de interesse, grupos de pressão e lobbying não estão diretamente ligados à ilicitude, nem são obrigatoriamente crimes. No entanto, a linha que separa algumas atividades de crimes é bastante tênue e depende muito do contexto em que são aplicadas, e da interpretação da sociedade envolvida. Dessa forma, na continuidade de nossas aulas, fique bastante atento para compreender os conceitos apresentados, para que assim possa interpretar corretamente cada uma de suas aplicações. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. CTB – Código de Trânsito Brasileiro. Diário Oficial da União, 24 set. 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm>. Acesso em: 12 set. 2019. COSTA, L. P. G. Cooperação entre estado-nação e crime organizado: uma geopolítica obscura. 158F. Tese (Doutorado em Geografia) – USP, São Paulo, 2017. MENDRONI, M. B. As organizações criminosas dos “poderosos” e o ciclo criminal- legal. Estadão, 6 set. 2014. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/asorganizacoescriminosas- dos-poderosos-e-o-ciclo-criminal-legal/>. Acesso em: 12 set. 2019. AULA 3 GRUPOS DE INTERESSE, DE PRESSÃO E LOBBYING Prof. Fernando Eduardo Kerschbaumer 2 TEMA 1 – O QUE SÃO INTERESSES? Nesta aula, vamos começar a separar interesse, pressão e lobbying para poder compreender cada um deles. Pretendemos não puramente diferenciá-los, mas apresentar ao máximo suas características presentes. Você poderá notar uma grande semelhança e dependência entre os três, e principalmente uma associação que permitirá compreender porque estamos tratando dos três itens em uma condição única da disciplina. 1.1 Conceito de interesse Vamos inicialmente apresentar o conceito de interesse, de acordo com o site significados.com.br Saiba mais Interesse é algo que traz vantagem, que se pode considerar útil ou relevante. Quando se fala em priorizar os interesses é porque deve-se colocar em primeiro lugar aquilo que mais interessa e seja mais vantajoso, dependendo da perspectiva escolhida. Os interesses pessoais, por exemplo, são aquelas coisas que atingem diretamente a pessoa em questão. Por isso muito se fala que, na política, os interesses pessoais não podem prevalecer aos interesses da população. Isto quer dizer que as coisas que são vantajosas e úteis para as pessoas envolvidas naquele projeto político não podem ser mais importantes que aquilo que seja relevante para o povo brasileiro, e nem entrar em conflito com estes. A palavra interesse também é relativa àquilo que se destaca. Algo que chama atenção, que é relevante, é algo de grande interesse. Interesse também pode significar dedicação, como o interesse demonstrado pelo médico em relação ao paciente. Entre os sinônimos para interesse estão as palavras vantagem, benefício, proveito, ganho, conveniência, relevância, utilidade e importância. Quando falamos no interesse como forma de despertar a atenção, também há os termos sinônimos curiosidade, vontade, disposição e entusiasmo. Em inglês, interesse é interest. Uma pessoa interesseira é aquela que só se relaciona ou age para obter benefícios. O interesseiro vê em cada amigo ou contato uma vantagem a ser obtida, sem altruísmo. 3 Agora que temos algumas definições sobre a palavra interesse, podemos fazer algumas reflexões sobre como ele está presente no contexto social, e como diferentes ações estarão relacionadas a interesses específicos. Os interesses podem estar ligados a situações individuais, mas é bastante comum que eles estejam ligados a grupos, até pela condição social do ser humano, que discutimos anteriormente. É importante compreender que o fato de os interesses estarem atrelados a uma lógica de trazer vantagens, eles não geram obrigatoriamente prejuízos a outras partes envolvidas no contexto, ou seja, não é porque eles trazem vantagens a um que vão ser desvantajosos a outrem. 1.2 Interesses comuns ou coletivos Os interesses podem ser comuns ou coletivos. Por exemplo, o indivíduo pode ter diversos interesses, como fazer uma graduação, conquistar um determinado emprego, empreender, casar, ter filhos, ou qualquer outra condição que para ele possa ser considerado útil ou relevante. Observe que, mesmo nesse caso de interesses que parecem ser particulares ou individuais, há a presença (e até mesmo a pressão) de condições sociais que motivam o interesse. É muito comum que os interesses descritos anteriormente se tornem dos indivíduos em função do meio em que eles vivem, da mesma forma que o próprio meio pode influenciar o desinteresse de alguns indivíduos por esses mesmos interesses. Como um exemplo de interesse coletivo, podemos citar um grupo de moradores de um determinado bairro ou região que têm interesse na construção de uma ponte que encurte o caminho a ser percorrido em seus deslocamentos. O que modifica a ideia de interesse individual influenciado por grupos para os interesses classificados como coletivos é que os coletivos compreendem situações que, ao serem realizadas, vão beneficiar a todo o grupo em questão, ao passo que os individuais serão atendidos um a um. Há diversas outras formas de serem abordados os interesses, e é fato que muitas vezes vamos esbarrar no problema de que o interesse de um pode de alguma forma gerar prejuízos a outro. Por isso é que voltam os conceitos de moral, ética e direito, para de alguma forma tentar reduzir os impactos dos descompassos que são tão comuns na sociedade. 4 1.3 Consequências de interesse Aqui cabe voltarmos um pouco a alguns dos sinônimos que foram apresentados para interesse (vantagem, benefício, proveito, ganho, conveniência, relevância, utilidade e importância), que nos permitem refletir que, dependendo da ênfase a que se dá a essa forma de interesse, estaremos mais facilmente caindo em uma condição que possa ser desfavorávela terceiros. Então, o que estamos vendo é uma linha bastante tênue entre o que podemos tratar como interesse de uma forma positiva, trazendo benefícios e motivando aqueles que estão envolvidos, e de uma forma negativa, trazendo prejuízos e outros danos a outras partes interessadas. O passo que precisamos entender corretamente, ao longo de nossos estudos, é justamente como compreender esses interesses para saber como aproveitar as melhores condições, e sair de situações que possam comprometer nossos resultados, pois, em alguns momentos, interesses podem prejudicar por completo alguns negócios ou áreas. TEMA 2 – O QUE SÃO GRUPOS DE INTERESSE Agora que temos uma boa definição sobre interesse, vamos procurar compreender um pouco o comportamento dos grupos de interesse, e como eles estão presentes no contexto das organizações. 2.1 Stakeholders Vamos relembrar um conceito importante no contexto organizacional, stakeholders, de acordo com o site significados.com.br. Saiba mais Stakeholder significa público estratégico e descreve uma pessoa ou grupo que tem interesse em uma empresa, negócio ou indústria, podendo ou não ter feito um investimento neles. Em inglês stake significa interesse, participação, risco. Holder significa aquele que possui. Assim, stakeholder também significa parte interessada ou interveniente. É uma palavra em inglês muito utilizada nas áreas de comunicação, administração e tecnologia da informação cujo objetivo é designar as pessoas e 5 grupos mais importantes para um planejamento estratégico ou plano de negócios, ou seja, as partes interessadas. O stakeholder é uma pessoa ou um grupo, que legitima as ações de uma organização e que tem um papel direto ou indireto na gestão e resultados dessa mesma organização. Desta forma, um stakeholder pode ser afetado positivamente ou negativamente, dependendo das suas políticas e forma de atuação. Alguns exemplos de stakeholder de uma empresa podem ser os seus funcionários, gestores, gerentes, proprietários, fornecedores, concorrentes, ONGs, clientes, o Estado, credores, sindicatos e diversas outras pessoas ou empresas que estejam relacionadas com uma determinada ação ou projeto. Ao entender a importância dos stakeholders, o responsável pelo planejamento ou plano consegue ter uma visão mais ampla de todos envolvidos em um processo ou projeto e saber de que maneira eles podem contribuir para a otimização deste. Os stakeholders são elementos fulcrais em termos de planejamento estratégico de uma empresa ou organização. O termo stakeholder foi criado por um filósofo chamado Robert Edward Freeman e tem se tornado cada vez mais comum, uma vez que é uma peça muito importante para contribuir no desempenho de uma organização e influenciar as atitudes e ações do stakeholder dentro da empresa. Na área de tecnologia da informação, o stakeholder também exerce importante papel, pois para a arquitetura de software é importante ter o conhecimento das partes interessadas. Trouxemos essa definição para relembrar alguns elementos importantes sobre o interesse, pois como podemos extrair do texto anterior, na maioria dos casos esse interesse será algo positivo tanto no contexto do indivíduo como do coletivo, trazendo resultados diferentes a cada parte, mas sem a intenção de prejudicar os demais de alguma forma. Tanto é que o termo stakeholder é utilizado nas mais diversas aplicações no meio organizacional, tanto em situações mais operacionais como nos conceitos da gestão de projetos, já que sempre, para cada atividade de uma organização, teremos diversos elementos envolvidos, cada qual com sua parcela de contribuição e de interesse. Vamos pegar como exemplo um projeto de uma empresa (plano de negócio) em que temos a figura dos acionistas (investidores), do banco (financiador), dos fornecedores, dos clientes, dos empregados (trabalhadores), 6 dos sindicatos, das agências reguladoras, do município (governo), e uma série de outros atores. Note que, no caso anterior, cada uma das partes interessadas possui um interesse totalmente distinto no projeto, no entanto, os interesses se cruzam em um projeto comum, desde que este esteja corretamente organizado para tal. O problema que pode ocorrer é quando uma das partes interessadas se utiliza de poder para influenciar os resultados do projeto a seu favor, e isso de alguma maneira acabe por afetar de modo negativo os resultados esperados pelos demais participantes. Por isso, sempre será necessário compreender corretamente cada um desses grupos de interesse, para que se possa gerenciar corretamente as atividades do projeto, garantindo uma satisfação equilibrada, e assim podendo potencializar os resultados. 2.2 Grupos de interesse Os grupos de interesse têm a mesma conotação do que estamos falando até agora. Correspondem a grupos de pessoas que vão atuar em direção a um objetivo, compartilhando de um interesse em comum. Uma característica importante dos grupos de interesse é que eles não dependem (pelo menos não é o seu enfoque principal) de alguma entidade pública para desenvolver suas atividades. Dadas as características de que os grupos de interesse não possuem vínculos políticos e buscam algo de interesse comum para a sociedade, acabam por ser considerados importantes para uma democracia pluralista, já que seus resultados costumam atender a condições que não seriam possíveis por meio da individualidade, dependendo da força do coletivo. Para Pasquino (2010, p. 115), há seis recursos que interferem nas probabilidades de sucesso de uma organização de interesse: número de participantes ou membros inscritos; recursos financeiros disponíveis; representatividade; qualidade e amplitude dos conhecimentos utilizáveis; colocação estratégica no processo produtivo e nas atividades sociais essenciais ao funcionamento do sistema político; 7 facilidade de intervenção. Para o mesmo autor, os dois primeiros itens são considerados ainda os mais importantes, uma vez que o número de participantes ou membros inscritos permitem uma maior representatividade em termos decisórios e por interferência, e no caso dos recursos financeiros disponíveis, há um aumento do potencial de ação, e acima de tudo, de alcance (em termos de mídia) sobre os interesses que estão sendo pleiteados. Os grupos de interesse ainda podem ser informais, mas geralmente quando são de uma amplitude maior, serão formais ou estarão amparados por organizações formais, como o governo ou outras empresas e entidades. A formação dos grupos de interesse ocorrerá para as mais diversas situações, portanto, sua composição e formalização sempre dependerá dos propósitos e do contexto em que se está inserido. É bastante comum, inclusive, que os grupos nasçam informalmente, e conforme vão crescendo, acabem por se estruturar e formalizar. TEMA 3 – ATUAÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS GRUPOS DE INTERESSE Diversas são as possibilidades de atuação dos grupos de interesse, ou, como podemos caracterizar, os interesses podem ter uma infinidade de distinções. Por isso, vamos encontrar uma atuação bastante variada de diferentes grupos, sendo alguns deles para fins locais ou específicos, e outros para fins maiores, que podem englobar inclusive a atuação em diversos países ou regiões. Como já abordamos no tema anterior, a democracia depende muito da atuação dos grupos de interesse, em que a sociedade se organiza para acompanhar e fiscalizar as decisões governamentais ou outras situações de interesse, contribuindo com elas e legitimando as atuações dos grupos. Nos conceitos apresentados por Farhat (2007), grupo de interesse é todo grupo de pessoas físicas e/ou jurídicas, formal ou informalmente ligadas por determinados propósitos, interesses, aspirações ou direitos, divisíveis de outros membros ou segmentos de sua união. É partindo dessesconceitos que vamos buscar compreender um pouco a atuação e a importância que esses grupos apresentam no meio social. 8 3.1 Atuação dos grupos de interesse Os grupos de interesse podem surgir e atuar em diversas áreas, podendo ser organizados formal ou informalmente. As organizações não governamentais (ONGs) ou Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) constituem exemplos bastante comuns de grupos de interesses, que estão presentes em nosso contexto atual de sociedade. Uma característica interessante que diferencia os grupos de interesse dos grupos de pressão é a ação. Os grupos de interesse estão focados no desenvolvimento e na articulação dos interesses, ao passo que os grupos de pressão passarão para a fase de busca de influência para que esses interesses sejam atendidos. Tanto os grupos de interesse como os grupos de pressão possuem legitimidade de sua atuação associada aos conceitos de democracia. É importante considerar que não existiria democracia sem que houvesse a atuação de grupos organizados da sociedade, estabelecidos com o objetivo de acompanhar e fiscalizar as decisões governamentais e parlamentares/legislativas, contribuindo com elas. Essa consideração deve levar em conta que a relação do governo envolve o poder dado aos governantes pelos governados. Em caráter legal, a atuação de tais grupos é assegurada na Constituição Federal, descrita no art. 5.º, em que, dentro do Estado Democrático de Direito, o pluralismo político, a liberdade de expressão e o direito de petição são princípios que dão base legal e legitimam a interlocução entre a sociedade e o governo. Exercer de forma legítima e legal as atividades dos grupos de interesse é também assegurado e amparado conforme os seguintes direitos. 1. Liberdade de manifestação. 2. Liberdade de expressão e de comunicação. 3. Liberdade de reunião. 4. Liberdade de associação para fins lícitos. 5. Acesso à informação pública de interesse particular, coletivo ou geral. 6. Petição aos poderes públicos em defesa de interesses e direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder, inclusive como substituto processual, no caso de entidades sindicais. 9 Uma característica relevante é que esses interesses podem surgir de diversos meios, como do próprio governo, de empresas, de trabalhadores, de profissionais liberais, de feministas, de ambientalistas, de religiosos, de caráter cívico, caráter recreativo, ou outros. A classificação dos interesses pode ser entendida como: 1. por origem, público ou estatal, como os assessores parlamentares ou os departamentos de comunicação social dos órgãos da Administração Pública; 2. por representação institucional, como executivos de relações governamentais, responsáveis pelos departamentos corporativos ou institucionais das empresas; 3. por organização classista, entidades de classe como sindicatos, associações profissionais ou econômicas, como DIAP e CNI; e 4. por origem dos recursos utilizados, privado, como escritórios de lobby e consultorias. É necessário destacar que deve ocorrer uma distinção muito grande sobre os grupos de interesse e outras entidades que temos em nosso contexto social. Por exemplo, os grupos de interesse devem contribuir com a política e com determinados aspectos que envolvem os partidos políticos, no entanto, não devem ser misturados com o próprio partido em si. Cada um desses elementos deve cumprir adequadamente seus papéis, mas sem invadir o espaço que cabe ao outro. Como já falamos, os grupos de interesse correspondem a “grupo de indivíduos ligados por laços particulares de preocupações ou de vantagens e que têm certa consciência desses laços” (Almond; Powell Jr.,1972). Ainda, temos a definição de que esses grupos de interesse representam “um ator particular, diferente de um partido político, que tenta influenciar um alvo público para atingir algum objetivo” (Wootton, 1972). Considerando isso, podemos compreender melhor a razão por não se misturar com outros objetivos, como o dos partidos políticos. A definição apresentada anteriormente engloba também todos os tipos de grupos de interesse, indiferentemente se são formais ou informais, como estão organizados, as atividades a que estão destinados, ou o foco de seus propósitos. 10 3.2 Importância dos grupos de interesse Vale ressaltar a importância dos grupos de interesse, com base no que foi exposto no tema anterior, pois como esses grupos possuem finalidades específicas e distintas de outros grupos formalmente constituídos, deverão cumprir seu papel de modo adequado, resguardando seus objetivos. Para compreender esse contexto, vamos exemplificar por meio de partidos políticos e sua atuação, para distinguir dos grupos de interesse. Observe em nosso cenário político a presença formal dos cargos instituídos no governo, por exemplo, em um município, a Câmara de Vereadores. Agora, considere que essa Câmara é constituída por um número de 21 (vinte e um) representantes eleitos (lembre-se de que esse número varia de acordo com o tamanho da população de cada município). Dentre esses 21 representantes, uma enorme forma de composições de partidos pode estar presente, uma vez que, em agosto de 2019, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresenta uma relação de 33 partidos devidamente cadastrados no Tribunal. Os partidos, embora tenham seus propósitos ideológicos estabelecidos, precisam atender às demandas da sociedade, e o problema é que, em meio a todo esse emaranhado de partidos e ideologias, as propostas acabam misturando ideais e precisam ter coerência com aquilo que a sociedade realmente demanda. É nesse ponto que vamos perceber muito claramente a influência dos grupos de interesse, pois eles fazem manifestações e publicações dos interesses de modo a mobilizar os representantes para que suas ações atinjam o que está sendo pleiteado. Portanto, o que podemos concluir sobre a importância dos grupos de interesse é que está diretamente ligada a procurar meios para articular os interesses, de modo que eles possam ser compreendidos pelo meio em que estão presentes, para que, assim, ações possam ser tomadas sobre eles. 3.3 Alguns exemplos de grupos de interesse No nosso tópico anterior já começamos a exemplificar sobre os grupos de interesse, quando abordamos sua influência potencial em questões do meio político. No entanto, é preciso compreender sobre quais influências podemos estar tratando, além de outras possibilidades decorrentes desses grupos. 11 Alguns interesses podem ser bastante abrangentes, como aqueles voltados a condições de etnias, regiões, classes, profissionais, etc., outros podem não ser tão abrangentes, mas sua importância pode ser bastante grande, dentro dos grupos em questão. Há três denominações para os tipos de grupos de interesse, a saber: grupos específicos, grupos promocionais, e grupos brigada de incêndio. Como exemplos de cada um desses tipos de grupos de interesse, podemos citar: Grupos específicos – Estes têm por finalidade atender a interesses específicos dos membros do grupo. Neste caso, vamos ter entidades como o CRM (Conselho Regional de Medicina), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), sindicatos, e outros que se assemelham em objetivos. Grupos promocionais – Sua finalidade é promover informações ou causas, influenciando pessoas ou até mesmo governos. A grande maioria associado a questões ambientais, como o Greenpeace, ou sociais, como entidades que promovem informação sobre o câncer ou outras situações. Grupos brigada de incêndio – O nome deste tipo de grupos é justamente pela sua característica de atender a uma situação específica. Portanto, eles surgem, se mobilizam para a situação, e depois se encerram. É muito comum a ação deste tipo de grupo, e em alguns momentos eles podem ocorrer para condições maiores, como combater
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