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Autoras: Profa. Solimar Garcia Profa. Heloísa Helena Ribeiro de Castro Colaboradoras: Profa. Daniela Menezes da Silva dos Santos Profa. Cláudia Palladino Especializações do Marketing Professoras conteudistas: Solimar Garcia / Heloísa Helena Ribeiro de Castro Profa. Dra. Solimar Garcia É doutora em Engenharia da Produção e mestre em Comunicação; tem MBA em Comunicação e Marketing pela ESPM e possui especializações em Educação, Ensino Superior e Educação a Distância. Jornalista e publicitária pela Fundação Cásper Líbero há mais de 20 anos, passou por diversos órgãos de imprensa, como o jornal O Estado de S. Paulo e a Agência Estado e revistas especializadas. Atuou em muitas empresas na área de comunicação e marketing. Atualmente é docente presencial e a distância na UNIP e na Fundação Getulio Vargas, nos cursos de graduação e pós- graduação. É autora de vários livros de comunicação e marketing, área na qual também é empreendedora, dedicando- se a atividades jornalísticas, publicações (informativos, jornais empresariais, revistas segmentadas etc.) e assessoria de imprensa, de marketing, projetos culturais e sociais. Subsidiada pela Capes, ficou um ano estudando em Valencia, na Espanha, para a conclusão de seu doutorado e na área acadêmica possui vasta produção em publicações nacionais e internacionais, além de capítulos de livros. Profa. Heloísa Helena Ribeiro de Castro Mestra em Comunicação pela Universidade Paulista (UNIP), é membro do grupo de pesquisa Mídia, Cultura e Política: Identidades, Representações e Configurações do Público e do Privado no Discurso Midiático. Pós-graduada em Comunicação Organizacional e Relações Públicas pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade São Paulo (ECA/ USP); graduou-se em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda pela ESPM; é também graduada em Marketing pela ESPM. Professora da Universidade Paulista desde 2008, ministra aulas para graduação, gestão e EaD de Planejamento Estratégico, Planejamento de Comunicação, Distribuição e Logística, Metodologia Científica, Marketing Social, Político, Cultural e Esportivo, Psicologia do Consumidor, Customer Relationship Management (CRM) – Gestão de Relacionamento com o Cliente, Unidades Estratégicas de Negócios (UEN), entre outras. Tem vasta experiência corporativa em empresas como e atua como consultora de marketing e comunicação corporativa em diversas organizações e instituições. Mantém um projeto de comércio justo e autossustentável que auxilia 69 artesãos em todo o país. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G216e Garcia, Solimar. Especializações do Marketing / Solimar Garcia, Heloísa Helena Ribeiro de Castro. - São Paulo: Editora Sol, 2020. 136 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Marketing político. 2. Marketing social. 3. Marketing esportivo. I. Castro, Heloísa Helena Ribeiro de. II. Título. CDU 658.8 U508.38– 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Marcilia Brito Fabrícia Carpinelli Sumário Especializações do Marketing APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE MARKETING E O MARKETING E SUAS ESPECIALIZAÇÕES ..................................................................................................................................................9 1.1 Especializações em marketing ........................................................................................................ 13 1.1.1 Marketing de luxo .................................................................................................................................. 14 1.1.2 Marketing ambiental ............................................................................................................................. 17 1.1.3 Marketing pessoal .................................................................................................................................. 24 2 MARKETING POLÍTICO ................................................................................................................................... 31 2.1 Surgimento do marketing político ................................................................................................ 33 2.2 Conceito de marketing político ...................................................................................................... 38 3 MARKETING POLÍTICO VERSUS MARKETING ELEITORAL ................................................................. 38 3.1 Instrumentos de pesquisa ................................................................................................................. 44 3.2 O marketing de relacionamento em marketing político ...................................................... 47 4 MARKETING SOCIAL ....................................................................................................................................... 55 4.1 Terceiro setor .......................................................................................................................................... 58 4.1.1 O terceiro setor em números ............................................................................................................. 60 4.2 Definições de marketing social ....................................................................................................... 62 4.3 Marketing social versus marketing para causas sociais ....................................................... 63 4.4 A captação de recursos ...................................................................................................................... 66 4.4.1 Os tipos de financiamento para o terceiro setor ....................................................................... 67 4.5 Estratégias do terceiro setor ............................................................................................................ 68 4.5.1 Gestão do terceiro setor....................................................................................................................... 69 4.6 Negócios sociais .................................................................................................................................... 69 Unidade II 5 MARKETING ESPORTIVO ............................................................................................................................... 77 5.1 A indústria do esporte ........................................................................................................................ 78 5.2 Razões para investir em marketing esportivo ..........................................................................81 5.3 Marketing esportivo no mundo e no Brasil ............................................................................... 82 5.4 Mix de marketing esportivo ............................................................................................................. 85 5.4.1 Características singulares dos esportes como produto ........................................................... 86 5.5 Preço em marketing esportivo ........................................................................................................ 88 5.5.1 Valor e preço ............................................................................................................................................. 88 5.6 Praça em marketing esportivo ........................................................................................................ 90 5.7 Instalações............................................................................................................................................... 91 5.8 Promoção em marketing esportivo .............................................................................................. 92 5.9 Principais meios de divulgação para o esporte ........................................................................ 93 5.9.1 Sinalizações ............................................................................................................................................... 93 5.9.2 Mídia impressa ......................................................................................................................................... 93 5.9.3 Mídia eletrônica ...................................................................................................................................... 94 5.9.4 Mídia espontânea ................................................................................................................................... 94 6 PATROCÍNIOS E MARKETING ESPORTIVO .............................................................................................. 95 6.1 Lei de incentivo fiscal para o patrocínio de esportes ............................................................ 95 6.2 Como as entidades esportivas beneficiam-se do marketing esportivo ......................... 96 6.3 Categorias de patrocínio ................................................................................................................... 98 7 MARKETING CULTURAL ..............................................................................................................................100 7.1 O que é marketing cultural? ..........................................................................................................100 7.2 A história do apoio à cultura .........................................................................................................101 7.3 Principais leis nacionais de incentivo à cultura .....................................................................106 7.3.1 Lei Rouanet .............................................................................................................................................106 7.3.2 Lei do Audiovisual..................................................................................................................................111 7.3.3 Lei do Vale-Cultura – Decreto n.º 8.084/2013 .......................................................................... 112 8 PATROCÍNIOS EM MARKETING CULTURAL ..........................................................................................113 8.1 Formas de patrocínio ........................................................................................................................115 8.2 O processo de marketing cultural ................................................................................................116 8.2.1 Composto de marketing cultural ................................................................................................... 117 8.2.2 O que faz exatamente o produtor cultural? .............................................................................. 118 8.3 Projetos de patrocínio em marketing cultural .......................................................................119 8.4 Economia criativa ...............................................................................................................................120 7 APRESENTAÇÃO O objetivo desta disciplina é analisar as principais ferramentas mercadológicas quando direcionadas para áreas específicas, como marketing social, político, esportivo e cultural. Vamos começar pela evolução natural do marketing, que de símbolo de consumo passou para uma abordagem mais humana e preocupada com o planeta de um modo geral, ao longo dos anos, até chegar à concepção Marketing 4.0. Inicialmente, estudaremos alguns tipos diversificados de marketing, como o curioso mercado para os produtos de luxo, que expõe nossas diferenças sociais e nos coloca como campeões na desigualdade social. Aqui no Brasil, a diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres é astronômica. E mesmo assim temos lugar para esse consumo luxuoso e diferenciado. Trataremos ainda do marketing pessoal e do marketing ambiental, abordando o marketing verde, a economia verde e a perfumaria de marketing, o greenwash. Vamos conhecer o mundo especial da política, como ela se instaurou desde a Grécia Antiga até os dias de hoje e o que a Revolução Francesa significou para o processo político. Verificaremos como funcionam as pesquisas e as diferenças entre marketing político e marketing eleitoral, comentando as novas estratégias políticas por meio das mídias sociais. Vamos ainda compreender a diferença entre filantropia e marketing social e suas estratégias. Os processos sociais e o terceiro setor e sua forma de atuação na vida cotidiana, gerando novos lucros, estruturação social e retorno para as organizações. Posteriormente, o marketing esportivo será tratado por seu processo histórico, suas definições, a indústria esportiva e as principais razões para se investir em nele. Veremos como funcionam as empresas que vivem do esporte e a maneira como o marketing esportivo se encontra atualmente no mundo e no Brasil. Discutiremos ainda o mix de marketing esportivo e suas principais estratégias, as abordagens de patrocínios em marketing esportivo e a lei de fomento do esporte, que permite às pessoas físicas e jurídicas renunciarem ao pagamento de imposto de renda para o investimento em atividades esportivas. Abordaremos os conhecimentos necessários e as especificidades da palavra cultura e do marketing cultural; o início de sua história com o mecenato e as leis de incentivo existentes no Brasil, que também permitem renúncia fiscal, de imposto de renda, em âmbito federal; de ICMS, em nível estadual; e de ISS, em nível municipal. Os processos do marketing cultural e do patrocínio também serão tratados, bem como serão apresentadas as ferramentas utilizadas para o desenvolvimento de um competente marketing cultural e quais são os benefícios sociais que dele podem advir. Os tipos de marketing, ou ferramentas de comunicação, precisam ser tratados de forma estratégica e por uma abordagem de projetos. Assim, falaremos sobre essa forma de trabalho para os patrocínios. Como você pôde perceber, temos muito trabalho pela frente, mas será um aprendizado especial e diferente, porque este material reúne áreas mercadológicas que abrem, a cada ano, mais possibilidades 8 de emprego, de novos conhecimentos, de diferentes formas de utilização das ferramentas que, no transcorrer do curso, você terá aprendido. Aproveite! INTRODUÇÃO Cada vez mais o mundo em que vivemos encontra-se interconectado e ligado por comunicações efetivas que transcendem o tempo e o espaço. Podemos falar com uma pessoa em Pequim e ao mesmo tempo com alguém que se encontra em Nova York e também com outra que esteja em uma cidade vizinha. Observe que os espaços parecem não existir; estamos nosrelacionando com três pessoas que se localizam em lugares distintos, distantes e próximos, dentro de um tempo que também parece ser único, embora os horários sejam diversos. Vamos supor que sejam 11 horas em Brasília e estamos falando com um sujeito em Pequim, que tem como horário local 22 horas; com outro de Nova York, que tem o relógio marcando 10 horas; e o da cidade vizinha, que tem o horário igual ao nosso. É a sociedade da informação e da globalização que possibilita um maior conhecimento dos mercados e um mundo de informações por meio da rede, proporcionando várias comparações e pesquisas, trazendo, cada vez mais, uma conscientização na hora de escolher produtos e serviços e de consumir. Mas como as empresas reagem a isso tudo? Os produtos estão se tornando padronizados e a concorrência deixou de ser local e passou a ser global. A qualidade já não é diferenciação; logo, as empresas necessitam de ferramentas que as tornem únicas na mente do cliente, que projetem seus produtos para um consumidor mais maduro, crítico, atento e preocupado com o que consome, que quer entender para que e por que vai adquirir determinado produto. É nesse mundo informatizado, globalizado e interconectado que as empresas precisam, cada vez mais, se diferenciar para atingir seus objetivos organizacionais. As organizações passam a ter um papel não só mercantilista, mas também social e cultural. Inseridas nesse contexto, precisam assumir posições que antes eram ocupadas pelo Estado; assim, é necessário que estejam aptas a participar efetivamente da vida de cada cidadão, que tenham uma postura ética e de respeito com cada pedacinho do planeta, bem como com todo o tipo de vida que aqui habita. Os tipos diferenciados de marketing, como ferramentas de comunicação, são diferentes mesmo? São necessárias outras ferramentas para sua gestão? Como é feito o planejamento estratégico de cada um? Como são direcionados? E a gestão desses projetos? O que é patrocínio e quais são os processos deflagrados por ele? Vamos aos desafios da disciplina Especializações do Marketing. 9 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING Unidade I 1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE MARKETING E O MARKETING E SUAS ESPECIALIZAÇÕES Na cabeça da maioria das pessoas, marketing se confunde com vendas ou com publicidade. Já se chegou a um consenso de que tanto vendas quanto publicidade e propaganda são ferramentas de comunicação que estão a serviço do marketing, que pensa um produto, uma ideia ou um serviço de um ponto de vista mais amplo e abrangente. Depois de passar por muitas revisões em seus conceitos ao longo dos anos, podemos afirmar que marketing é: [...] uma função organizacional que inclui atividades e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para clientes, parceiros e a sociedade em geral (AMA, 2013, tradução nossa). Para Kotler e Keller (2006, p. 4), o marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais, ou seja, “ele supre necessidades lucrativamente”. Sob essa concepção, podemos dizer que marketing é toda relação de troca que venha a satisfazer tanto as metas individuais quanto as organizacionais. As constantes e rápidas mudanças das últimas décadas trouxeram alterações também para o conceito de marketing, que agora atende às necessidades de um consumidor com acesso à informação e que, por isso, tornou-se mais consciente e com preocupações elevadas a respeito do meio ambiente, da sociedade em geral e das questões sociais. Kotler (2000), por exemplo, já falava em marketing societal, quando as empresas, chamadas pelas mudanças dos consumidores e pelo desenvolvimento tecnológico, já reviam seus valores, suas atitudes e condutas, não estando focadas apenas no mercado, no cliente e nas trocas imediatas, que são as vendas, mas na sociedade como um todo, passando a aplicar esforços de marketing em projetos que se voltavam para ideias diferenciadas. Nessa proposta, o objetivo do marketing societal é preocupar-se também com consequências de médio e longo prazo decorrentes das trocas feitas nos negócios, tanto para o cliente, quanto para a sociedade e o meio ambiente. O conceito de marketing societal refere-se à responsabilidade da organização perante a sociedade, incluindo considerações sociais e éticas em suas práticas de marketing, equilibrando objetivos frequentemente conflitantes como o lucro dos acionistas, a satisfação dos consumidores e o interesse público. Desta forma, pode-se dizer que o marketing societal é um marketing socialmente responsável (KOTLER, 2000, p. 19). 10 Unidade I Assim, o caminho natural foi atender o cliente como parte da sociedade, que pensa em qualidade de vida e na redução dos impactos gerados pela produção no meio ambiente. Essa ideia agrega ao conceito de marketing e ao planejamento estratégico da empresa a responsabilidade social, que por sua vez remete aos projetos futuros e duradouros tanto da empresa como da sociedade. Uma visão de longo alcance, que tira o foco empresarial apenas do lucro. Com essa alteração, temos que as empresas deveriam considerar as ações ligadas à responsabilidade social de forma mais perene, preocupadas em manter relacionamentos, não buscando apenas a satisfação imediata e o retorno financeiro, mas o consumo inteligente, conscientização ambiental e comprometimento social e duradouro. Dessa forma, podemos entender que não cabem aqui as empresas que aplicam o conceito de responsabilidade social apenas para mostrar suas ações sociais ou ambientais e comportamento socialmente responsável, visando a melhora da imagem junto à sociedade, e no final das contas não têm o objetivo de promover mudanças sociais. O conceito de responsabilidade social se firma no Brasil após 1999, quando foi fundado o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, uma ONG que visa ajudar as empresas a fazer sua gestão de forma socialmente responsável. Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade. Essa atitude visa preservar recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Por meio da responsabilidade social as empresas também foram chamadas a atuarem para reduzir o consumo de produtos naturais em seus processos, uma vez que, sendo eles recursos finitos, o uso sem controle pode comprometer a permanência do ser humano no planeta, conforme corrobora o conceito de desenvolvimento sustentável, como “aquele que atende às necessidades dos presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades” (NOSSO FUTURO COMUM, 1991). As preocupações sociais de longo prazo, aliadas às questões ambientais e à sustentabilidade, deram origem ao conceito que Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) chamou de Marketing 3.0. Baseado nos valores e na criação de valor para o cliente, o autor entende que o consumidor não está ansioso apenas em satisfazer as próprias necessidades, mas tem preocupação social e com o planeta. Dessa forma, as organizações passam a definir propósitos e valores para construir um mundo melhor com seus consumidores que também têm essa crença. Podemos entender que houve uma quebra de paradigma do marketing, que antes buscava a satisfação e retenção do cliente no Marketing 2.0; ou na oferta do melhor produto no Marketing 1.0. Todos os envolvidos com o produto: consumidores, fornecedores e colaboradores da empresa estão interconectados em uma rede para o bem comum, da sociedade como um todo, para desenvolver produtos e serviços inovadores e sensíveis aos valores e necessidades da sociedade em geral, de forma 11 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING criativa e colaborativa. Podemos dizer que essa criação em colaboração, a cocriação, passa a fazer parteda geração de valor nessa fase do Marketing 3.0. Quadro 1 – Diferenças do Marketing 1.0, 2.0, 3.0 e 4.0 Marketing 1.0 Centrado no produto Marketing 2.0 Voltado para o consumidor Marketing 3.0 Voltado para os valores Marketing 4.0 Voltado para o digital Objetivo Vender produtos Satisfazer e reter os consumidores Fazer do mundo um lugar melhor Transformação social e interação em redes Forças propulsoras Revolução industrial Tecnologia da informação Nova onda da tecnologia Internet e relacionamento Como as empresas veem o mercado Compradores de massa, com necessidades físicas Consumidor inteligente, dotado de coração e mente Ser humano pleno, com coração, mente e espírito Ser humano interligado, interconectado, com razão, mente, coração e consciência Conceito de marketing Desenvolvimento de produto Diferenciação Valores Relacionamento Diretrizes de marketing Especificação do produto Posicionamento do produto e da empresa Visão, missão e valores da empresa Mídias e redes sociais Proposição de valor Funcional Funcional e emocional Funcional, emocional e espiritual Funcional, emocional, espiritual e coletivo Interação com consumidores Transação do tipo um para um Relacionamento um para um Colaboração um para muitos Colaboração todos para todos Adaptado de: Kotler; Kartajaya; Setiawan (2010; 2017). O consumidor bem informado e bombardeado por comunicação de todos os meios e tipos de ferramentas, precisa ser atraído pelas mensagens que ele nem sabe que está procurando. Podemos observar que a evolução dos meios de comunicação, com a ascensão da internet e o barateamento desse serviço e dos computadores pessoais, modificou o comportamento do consumidor, que precisa ser acompanhado de perto, considerando-se as suas necessidades e os seus desejos em todas as ações da empresa, seja no mundo real ou virtual. Dificilmente se conseguirá um relacionamento com o cliente utilizando apenas uma das formas de fazer comunicação (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010). Segundo Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), o marketing tradicional, com as ferramentas de comunicação impressa e eletrônica, consegue tangibilizar melhor os valores e diferenciais da empresa, enquanto no marketing on-line a intangibilidade é latente. O que não se deve fazer é confundir o consumidor apresentando experiências distintas nos dois mundos, o físico e o virtual, em termos de preço, produto, praça e promoção. No caso das ações on-line, tangibilizar pode significar o que o cliente vê da empresa, o contato direto com o produto, uma boa entrega, um atendimento rápido e que solucione o problema, não 12 Unidade I necessariamente de maneira pessoal, fisicamente, mas por meio de um chat, e-mail, telefone e aplicativos, que também são formas de tangibilizar a experiência do cliente. A evolução do marketing acompanha a alteração da própria economia. Enquanto estávamos na era industrial, com produtos básicos e atendendo mercados de massa, a prática era o Marketing 1.0 – o maior número de produtos iguais para um público ávido por eles, quase não havia diferenciação. O Marketing 2.0 chegou com a era da informação e a segmentação de clientes, que passou a ser visto como o rei e como altamente influenciável pelas campanhas de marketing, que buscavam diferenciar os produtos. O Marketing 3.0, na era digital, trouxe o foco para o ser humano, e não mais apenas para o consumidor. As empresas deixaram à mostra os seus valores, preocupando-se com os sentimentos e com o ser humano de maneira integral, inserido em uma sociedade, que passa a ser foco de preocupação da empresa também. O Marketing 4.0 trouxe o foco, que já estava no ser humano, também para os grupos sociais, que influenciam e são influenciados pelos valores apresentados em redes sociais, nas quais todos podem comentar, reclamar e elogiar. A influência pode vir de todos os participantes dos grupos sociais, o que Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) chamam de f-factors: family, friends, fans and followers – em português, fator f: família, amigos, fãs e seguidores. Essas pessoas têm relevância na hora em que vamos decidir uma compra de produtos ou serviços, portanto, podemos dizer que a experiência dos outros com determinado produto ou empresa interfere na nossa decisão final, seja por ter visto um post no Facebook, no Instagram, em fóruns e blogues ou nos grupos de WhatsApp (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017). Esses grupos e redes sociais exercem grande influência de forma muito rápida na imagem da empresa, tanto para o bem, transmitindo uma imagem positiva, quanto para o mal, quando a percepção do cliente passa a ser negativa, como quando há experiências ruins relatadas em sites ou aplicativos. O TripAdvisor, por exemplo, especializado em informações para viajantes, alimenta-se quase que exclusivamente dessas opiniões, elogios, queixas e reclamações, numa verdadeira comunidade que se ajuda na busca das melhores opções em locais para hospedagem, diversão e entretenimento, preços, restaurantes e tudo o mais que envolva viagens. Os influenciadores ajudam na decisão e também são formadores de opinião. Nos sites em que os comentários são livres, as empresas precisam monitorá-los e resolver os problemas para que não reflitam uma imagem negativa para a marca. Além desses influenciadores das mídias sociais, os sites e os blogueiros, que têm milhares e até milhões de seguidores, detêm bastante poder para influenciar positiva ou negativamente uma marca. Essa transparência traz mais humanidade às marcas, que se apresentam com características humanas, com erros e acertos. A empresa, quando confrontada nas redes sociais, precisa tomar decisões rápidas, e a resposta ao cliente deve ser mais ligeira ainda, se redimindo e acertando a situação para evitar estragos maiores em sua imagem. Da mesma forma, fatos internos, como problemas que afetam funcionários e que são incoerentes com o que a companhia prega em sua visão, missão e seus valores, rapidamente são espalhados pela rede, mostrando a face negativa da organização ao consumidor final. 13 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING Se você fizer uma busca sobre a visão, a missão e os valores no site de várias empresas, é bem provável que descubra que a maior parte delas apresenta as palavras sustentabilidade, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável em destaque em suas políticas de administração. Se uma empresa tem esses conceitos como chave para seu modelo de negócios, ela precisa estar comprometida com eles; e se assim não for, podemos dizer que ela está sendo falsa em suas comunicações caso sejam encontradas provas do contrário. Esse foi o caso de algumas marcas famosas de roupas de grife, as quais foram flagradas envolvidas em trabalho escravo, há alguns anos, em diversos países da Ásia e também no Brasil. Essas pontuações na evolução da sociedade e do próprio conceito de marketing são importantes para compreendermos a necessidade de ferramentas diferenciadas para abordar o consumidor que, sobrecarregado de informações, entrou em uma fase na qual passa a ser pouco ou nada influenciado pelas ferramentas de comunicação. De qualquer forma, artes, esportes, ecologia e desenvolvimento social são temas presentes na mente dos consumidores, seja pela apresentação de reportagens na mídia em geral ou por assuntos discutidos em fóruns, seminários e congressos. Esses assuntos conseguem emocionar as pessoas, por isso são o foco de patrocínios empresariais. Associar a marca a produtos e eventos com esses apelos pode ser capaz de atingir e transformar os seus consumidores 1.1 Especializações em marketing Desde a criação do conceito de marketing, observamos que ele tem várias áreas específicas e que os autores estudados reconhecem essa diversidade na existência de vários tipos de marketing, com características específicas de aplicação, como é o caso do marketing de lugares, de turismo, de pessoas, de luxo, ambiental, esportivo,cultural, social, político e tantos outros. Nesse contexto, o marketing digital adquiriu muita importância nos últimos anos, com toda a comunicação voltada para as ações na internet. Neste livro-texto pretendemos esgotar o assunto, mas trataremos de alguns deles que são essenciais para as empresas na atualidade. Os consumidores são bombardeados por comunicações o tempo todo. Diferenciar-se nesse mundo de informações é uma questão de sobrevivência para as empresas. Dessa forma, a utilização de algumas ferramentas, como o marketing cultural, social e esportivo, contribuem na manutenção de uma boa imagem para a companhia. Para começar, vamos desfazer uma confusão quanto ao marketing institucional. Alguns autores tratam-no como o marketing que cuida da imagem da empresa; outros, como o marketing interno, voltado para os funcionários da companhia. O marketing institucional cuida da imagem da empresa, atuando, portanto, com a gestão da marca para criá-la ou torná-la positiva na mente do cliente. Para atingir esse objetivo, deve tratar com todos os tipos de público envolvidos e de interesse da empresa, inclusive com o público interno. O marketing institucional não será tratado como uma especialização neste livro-texto, pois o tema de gestão de marcas deve ser abordado em outra disciplina. 14 Unidade I 1.1.1 Marketing de luxo O que é luxo? O dicionário Aurélio mostra que se trata de um modo de vida caracterizado por grandes despesas supérfluas: “bem ou atividade que não é considerado necessário, mas gera conforto ou prazer” (LUXO, [s.d.]). Satisfazer as necessidades dos clientes é o objetivo do marketing, e o mercado de luxo tem necessidades muito específicas a serem atendidas, sendo voltado para a promoção de bens feitos de forma exclusiva para uma camada da população com status e dinheiro, num nível bem diferente de nossa sistematização de classes sociais, A, B, C, D e E. Para se ter uma ideia, a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) identifica a classe B com uma renda mensal aproximada de R$ 10.000,00 e a classe A, de R$ 20.000,00 (ABEP, 2016). Tabela 1 – Renda por classe socioeconômica Estrato socioeconômico Renda média domiciliar A 20.888 B1 9.254 B2 4.852 C1 2.705 C2 1.625 D-E 768 Fonte: Abep (2016, p. 3). Quando estamos falando em mercado de luxo, não estamos falando dessas classes A e B, mas de um público com renda muito mais alta do que isso, para os quais não existe problemas financeiros. Até 2010, o mercado de luxo movimentou US$ 210 bilhões no mundo, sendo o Brasil o responsável por 1% dessa fatia. É fato que São Paulo, por exemplo, abriga, pelo menos, três shoppings de alto luxo, e em pelo menos um deles não se pode entrar a pé, sendo obrigatória a chegada em automóvel, como no shopping JK Iguatemi, que possui lojas de marcas internacionais como Prada, Carolina Herrera, Calvin Klein, Dolce & Gabanna, Channel e Gucci. Veja o destaque da revista Exame: O JK Iguatemi nasceu com a proposta de atrair a atenção dos clientes em potencial de alto padrão, cada vez mais propensos a gastar. Para isso, o shopping foi construído com uma proposta diferente, com as lojas de padrão mais alto no térreo, com grifes nacionais como Amsterdan Sauer, H. Stern e Vivara. “É como se fosse uma pirâmide de Maslow invertida, onde os primeiros pisos são ocupados pelas marcas de alto luxo, que estão ingressando no Brasil de forma pesada. Isso mostra que o país é um foco em 15 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING potencial para essas companhias”, explica Paulo Al-Assal, Diretor-Geral da Voltage e especialista em tendências, em entrevista ao Mundo do Marketing (MUNIZ, 2012). Existem três quesitos para um produto ser considerado de luxo: conferir status social a quem compra, ser exclusivo e ser supérfluo. Entenda que não se trata apenas de o produto ser caro. Os outros dois itens também precisam estar presentes, como a exclusividade do produto, que não deve ser produzido em grande escala, quase sempre sendo personalizado e até customizado especialmente para o cliente. Nesse item, o mais importante é que o produto não seja feito em larga escala. E o terceiro item é que seja um produto ou serviço supérfluo, feito para satisfazer desejos e não necessidades. Os 4 Ps do marketing de luxo não são diferentes dos tradicionais: produto, preço, praça e promoção (comunicação). Nesse caso, deve-se ter um produto de qualidade a toda prova, com preço elevado, distribuído de forma limitada e exclusiva e uma comunicação muito bem direcionada ao público altamente segmentado e específico. Vamos conhecer o exemplo da caneta Montblanc. Desde 1924 essa marca fabrica canetas tinteiro reconhecidas como da mais alta qualidade. A empresa também fabrica produtos em outros sistemas de escrita, como o rollerball e a esferográfica, que têm preços mais acessíveis ao consumidor. Uma caneta da marca é vendida por um valor em torno de R$ 1.000,00 (valor mínimo) a R$ 10.000,00. A maioria delas saem de linha e tornam-se peças de colecionadores. Não se trata de um produto personalizado, ela é uma caneta fabricada em série, numerada, mas é um produto que confere status social para o dono. Se compararmos com caneta BIC, que custa entre R$ 0,70 e R$ 2,00, com certeza, podemos compreender o diferencial de um produto de luxo. Ao observar os classificados de uma revista especializada em náutica, podemos encontrar anúncios de lanchas usadas entre R$ 300 mil e R$ 1.500.000,00. As empresas que se dedicam a esse tipo de produto têm um mercado restrito, mas obtêm seus lucros no valor que o produto tem. A empresa não tem a intenção de passar a fabricar o produto de maneira seriada, não visa popularizá-lo. Para vender produtos para uma faixa maior da população, algumas empresas e suas marcas reconhecidas como de alto luxo fazem incursões por produtos mais baratos, visando atender outros públicos, como no caso citado da Montblanc, e também como fez a Armani, grife italiana exclusiva de alta costura que tem uma marca mais acessível e casual para um público disposto a pagar menos por suas peças, que é a Empório Armani, ainda assim dedicada a compradores com renda alta. No ramo automobilístico, marcas como Mercedes-Benz e BMW foram exclusivíssimas para as fatias mais abastadas do mundo por muito tempo, até que criaram produtos com preços mais acessíveis para atingir outras faixas de públicos, como o Classe C, da Mercedes, na faixa de R$ 100 mil. Continuam sendo marcas reconhecidas como de luxo? Sim, pois possuem seus produtos premium de alto preço, assim como são reconhecidas a Ferrari ou a Porsche. Essas duas últimas, nunca abriram exceções e não possuem nenhum produto um pouco mais barato para atender outro tipo de consumidor. Elas não querem ter essa estratégia. 16 Unidade I Os trabalhos que tratam sobre marketing de luxo são raros. Passarelli (2010) apresenta as características pelas quais um produto pode ser tratado como de luxo: beleza, qualidade, nobreza de materiais, detalhes, tradição, emoção, preço superior e escassez. O autor esclarece que a economia do luxo envolve alguns pequenos segmentos nos quais podem ser oferecidos produtos e serviços, como: moda e acessórios, joias, cosméticos e perfumaria, artes aplicadas e objetos decorativos (incluindo o mobiliário), mobilidade (motocicletas, automóveis, barcos, aviões e helicópteros), imobiliário, alimentos e bebidas, serviços pessoais, hospitalidade e estilo de vida Um exemplo que deixa bem claro o quanto de luxo e preço alto estamos falando, leia a nota da revista Veja, em 2016, que aponta: Considerado um ícone pelos mais refinados apreciadores de tintos, o Romanée-Conti perdeu o título de vinho mais caro do mundo. Foi desbancado por outro rótulo da região francesa da Borgonha, conhecido apenas por um seleto de grupo de fãs do luxo engarrafado. É o Henri Jayer Richebourg Grand Cru cotado a 52.000 reais (ou 15.195 dólares) a garrafa de 750 mililitros, segundo levantamento do site especializado Wine-Searchere publicações como o diário parisiense Le Monde. Numa conta rápida, cada gota de apenas 1 mililitro atinge 70 reais (GARRAFA..., 2016). Ao comentar sobre o marketing de luxo, Passarelli (2010, p. 29) esclarece que as necessidades são para satisfazer a manutenção da vida, e os desejos existem para diferenciar a vida em sociedade, com produtos que detêm alto grau de imaterialidade, ou seja, um “conjunto de valores intangíveis agregados ao produto”. Podemos dizer, então, que os produtos de luxo se baseiam muito mais no valor dos aspectos intangíveis do que no valor de produção do produto em si. A oferta de produtos de luxo de marcas internacionais, importados da Europa e dos Estados Unidos, é significativa. Allérès (2006) classifica os produtos de luxo em três categorias: luxo inacessível, luxo intermediário e luxo acessível. Essa identificação vai depender da concepção, composição e das técnicas de fabricação utilizadas para a elaboração do produto. Esse posicionamento também vai determinar a posição hierárquica em seu universo de luxo de referência. Para Allérès (2006, p. 180), o luxo inacessível inclui produtos perfeitos e objetos únicos (no mínimo, extremamente limitados), seja uma criação única, com desenho ou cor diferente. Na categoria de luxo intermediário, admite-se um pouco menos de criatividade, com materiais limitados, linhas mais sóbrias e menos cores diferenciadas. No caso dos produtos de luxo da categoria acessível, eles são fabricados em série e são acessíveis ao público em geral, com maior limitação de cores e diferenciais. Vejamos o exemplo dos produtos ligados à tecnologia, que aparecem a preços altíssimos e inacessíveis para a maioria das pessoas. Ao ter seu custo de pesquisa e desenvolvimento diluído, seus preços são reduzidos e tornam-se acessíveis para as pessoas que não têm uma renda tão alta. Por exemplo, as primeiras televisões de LED, imensas, com um preço inacessível para as pessoas em geral, que ficavam expostas para que as pessoas conhecessem o produto e a tecnologia. Naquele momento, 17 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING era um produto de luxo. Depois, com o barateamento da tecnologia e com a produção disseminada, tornou-se acessível para a maioria das pessoas. Claro que esse produto não entra na categoria de luxo inacessível e intermediário. Saiba mais ALLÉRÈS, D. Luxo...: estratégias – marketing. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. PASSARELLI, S. O universo do luxo: marketing e estratégia para o mercado de bens e serviços de luxo. Barueri: Manole, 2010. Você já ouviu falar em trufas brancas e negras? Trata-se de uma iguaria da culinária, uma espécie de cogumelo branco ou preto, que nasce nas profundidades da terra, muitas vezes, grudadas nas raízes de árvores. É um produto dificílimo de ser extraído e de crescer novamente na natureza após ser retirado; por essa razão, é vendido quase a preço de ouro. Esse produto não tem as três características específicas dos produtos de luxo, mas será que precisamos nos alimentar desse exótico produto todos os dias? Quem consegue experimentá-lo? A trufa é medida em gramas, e a média de consumo é de dois gramas por prato. Ou seja, quem quiser consumi-la vai pagar bem caro por cada grama. Claro que este exemplo foi apenas para refletirmos sobre a necessidade de produtos de luxo para atender desejos diferenciados das pessoas que os consomem, e sobre o contrassenso que eles representam em países como o nosso, com tantos problemas, como a pobreza e a diferença de renda gritantes. Apesar das diferenças, sempre há mercado para todo tipo de produto e esse é um bom campo de trabalho. 1.1.2 Marketing ambiental O marketing ambiental, ou marketing verde, possui ainda outros nomes, como marketing sustentável, marketing ecológico e eco-marketing, trata-se da utilização das estratégias de marketing para produtos e serviços que tenham foco nos benefícios ao meio ambiente, aliando a marca a uma imagem ecologicamente consciente e indicando que a empresa adota um comportamento sustentável. Como vimos, cidadãos mais informados e conscientes exigem essa postura das empresas e supõe-se que há um grande apelo dos produtos sustentáveis para tocar as pessoas preocupadas com as questões ambientais. O marketing ambiental apresenta-se como uma mudança na forma como as empresas fazem seus negócios, pois trata da responsabilidade e do compromisso com o meio ambiente, e não apenas de ações como plantar árvores para compensar o CO2 emitido na produção de seus produtos. O objetivo é satisfazer a necessidade do consumidor com o mínimo de impacto ambiental. Os produtos verdes são 18 Unidade I os que consideram as questões ambientais em sua produção, consumo e descarte, utilizando matérias- primas renováveis, que são decompostas mais rapidamente no meio ambiente, reduzindo os danos ambientais durante a produção, gerando menos resíduos e reaproveitando ao máximo os materiais (ALVES; JACOVINE; NARDELLI, 2011). Para atingir esse objetivo, as mais simples ações do sistema produtivo deverão fazer parte dessa busca desde a compra das matérias-primas e dos insumos até a forma como as pessoas exercem seus trabalhos; a maneira pela qual o produto é entregue e chega até o consumidor; como, depois de utilizado, o produto é reutilizado, reparado, reciclado ou descartado da forma mais eficiente. Todas essas preocupações é que geram um produto sustentável ou verde. Vamos exemplificar com um produto que a maioria das pessoas gosta muito e que é o sonho de consumo de muita gente: o automóvel. Para ser fabricado, se considerarmos toda a sua cadeia produtiva, vamos ver que uma infinidade de produtos e também de recursos naturais são utilizados: aço, água, vidro, plástico, borracha, cobre, couro e tantos outros. Sua fabricação também utiliza produtos químicos, como a tinta, que leva a maioria dos componentes, produtos específicos para o radiador, para a bateria e outros. Para utilizar o veículo é preciso ainda mais alguns produtos que são extraídos da natureza, como a gasolina e o álcool, o óleo para vários componentes, como freios, motor e direção. Quando um carro é vendido para o consumidor, quanto tempo ele vai passar com ele? Um ano, cinco anos? E depois? Vai ser revendido para outro consumidor que aceita pagar menos por um carro já usado. E depois? Em algum momento esse automóvel, que já foi novinho em folha um dia, se torna uma “lata velha” que não pode circular mais nas ruas. E o que a empresa fabricante faz com ele? Aqui no Brasil, absolutamente nada, pois não existe uma política para a reciclagem de automóveis (RECICLAGEM..., 2014). Desde os anos 1990, os modelos já incorporaram, em toda a cadeia produtiva, materiais e processos de menor impacto ambiental. Os Estados Unidos, a Europa e o Japão já detêm processos para reciclar automóveis. Esperamos que chegue logo o dia em que teremos carros verdes, com uma produção planejada e que considere o impacto ambiental em todo o ciclo (RECICLAGEM..., 2014). E como são os produtos sustentáveis? Entendemos que deve haver uma preocupação com os componentes de sua produção, com a forma como é embalado, transportado e vendido. Se, por um lado, a empresa deve ter uma genuína preocupação com a sustentabilidade, por outro, algumas têm se utilizado desse expediente apenas como uma propaganda enganosa, não fazendo o que realmente diz fazer, como ações de sustentabilidade, o que faz aumentar a desconfiança quanto a essas propostas teoricamente verdes. Usar esse tipo de expediente é mais danoso à marca do que não ter apelo nenhum em sustentabilidade. Uma empresa que adota o marketing verde não está preocupada apenas em produzir um produto menos nocivo ao meio ambiente, mas com questões que vão além disso, como encontrar novas tecnologias para produção menos poluente, ou que diminua a emissão de gás carbônico, ou reduza o uso de água na produção. Essas são atitudes positivas e que serão bem mais favoráveis para a imagem da empresa do que apenas plantarárvores, por exemplo. 19 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING Esses elementos já nos dão a ideia de que o marketing ambiental está intimamente ligado ao marketing social, que se preocupa com o ser humano e com o planeta de forma mais ampla. Exemplo de aplicação Pense no caso de uma empresa que recicle material plástico para a indústria de tecidos. Uma ideia bacana e verde. Afinal, serão produzidos tecidos sustentáveis, por meio de materiais descartados que serão tirados da natureza para serem reutilizados. Mas e se essa empresa recicla os materiais explorando crianças para comprar esses produtos resgatados no lixo, ou na rua? Reflita se essa empresa é ou não sustentável, se está ou não praticando o marketing ambiental. Que ações ela poderia fazer para evitar essa atitude? Pesquise na internet empresas que têm projetos nesse sentido. Entenda que o marketing ambiental é uma atitude estratégica da empresa e não basta que adote alguns itens para tornar o seu produto mais verde. Para começar, deverá analisar toda a sua cadeia de negócio para pensá-la com o olhar da sustentabilidade e as normas de controle de qualidade, além de pensar como a ISO 9000 ou a 14.001 de gestão ambiental e de sustentabilidade poderiam ajudar a estruturar novas formas de produção. Caso contrário, poderá ser percebida apenas como uma companhia oportunista que busca se sair bem nas campanhas de comunicação para aumentar seus lucros. Se uma empresa utiliza recursos da natureza na elaboração de seus produtos, é ideal que ela possa repor esses materiais por meio de ações que incluam as comunidades de onde eles são retirados, situações muito comuns no Norte do Brasil, por exemplo, com a rica diversidade da Amazônia. Exemplo de aplicação Você já ouviu falar sobre as normas ISO 9.000 e 14.001? Já atuou em empresas que possuam essas certificações? Busque na internet as informações a respeito delas. Elas foram criadas por um instituto inglês e vêm sendo aperfeiçoadas para atender às necessidades empresariais. O Instituto Ethos, no Brasil, também têm programas para auxiliar as empresas com essas questões. Economia verde e maquiagem de marketing O termo desenvolvimento sustentável foi estabelecido em 1992, com a realização da Rio-92, no Rio de Janeiro, que foi a primeira grande reunião de cúpula, com 155 países, para discutir a necessidade de utilizar os recursos naturais de forma que eles possam se restabelecer e não faltar para as gerações futuras. Essa preocupação tem norteado as discussões sobre meio ambiente e os países trabalham para reduzir impactos, como a emissão de carbono, o consumo de água nos processos produtivos, a pobreza, que são questões intimamente ligadas ao uso indevido de recursos naturais, entre tantas outras ações. 20 Unidade I Dessa forma, a economia verde foi definida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente como “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz, significativamente, riscos ambientais e escassez ecológica” (MORAES, [s.d.]). Supõe-se que a economia verde estará mais perto de ser uma realidade quando se reduzir os níveis de pobreza e elevar-se o nível de educação das populações mundiais, tornando a sociedade mais consciente para a redução do uso de produtos naturais. Assim, o pensamento corrente é que uma nova forma de economia mundial será necessária, e essa definição deve passar pelo conceito de economia verde, com produtos que considerem as seguintes preocupações (MORAES, [s.d.]): • Melhoria dos processos produtivos. • Aumento da eficiência com diminuição no uso dos recursos naturais. • Diminuição das emissões de gases do efeito estufa. • Transformação de resíduos de um processo em insumos de outros. • Proteção dos mananciais, uso responsável da água, universalização do saneamento básico. • Ampliação de fontes de energia limpas e renováveis. • Recuperação e preservação dos ecossistemas. • Atenuação dos efeitos da mudança do clima. O uso intenso de estratégias voltadas para incluir temas como sustentabilidade e preocupação ambiental à produção de bens e serviços trouxe um lado menos ético às conversas sobre marketing: o greenwashing ou a maquiagem verde (em português), que traz em seu bojo a ideia de banalizar o desenvolvimento sustentável por meio de práticas não tão sustentáveis assim, mas refletidas e bem construídas campanhas de comunicação, com o objetivo de melhorar a imagem empresarial. A prática se tornou muito comum com a disseminação do desenvolvimento sustentável, mas já tem a reprovação do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que condena essa atitude das empresas. Esse órgão atua para conter campanhas enganosas ou que firam qualquer tipo de pessoa ou instituição. Nesses casos, o Conar busca conter as campanhas que apresentam os atributos verdes em seus produtos e serviços, mas que não refletem essa política na prática da empresa. Essas campanhas são uma espécie de propaganda enganosa, por isso o Conar quer evitar que os consumidores sejam ludibriados por empresas que apenas se dizem sustentáveis, mas que não têm práticas reais comprovando essa atitude. Em 2011, o Conar recebeu um parágrafo e um anexo em seu artigo 36, anexo U, definindo o que é “publicidade da responsabilidade socioambiental e da sustentabilidade”, detalhando o que deve ser considerado e respeitado quando se tratar de conceitos verdes na comunicação (CONAR, 2017): 21 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING • Veracidade: apenas a verdade e o que for possível de ser comprovado. • Exatidão: informações mais exatas e precisas, sem generalidades. • Pertinência: o que for divulgado deve ter relação com a produção e venda dos produtos e serviços anunciados. • Relevância: o benefício ambiental deve ser significativo quanto ao impacto ambiental total do produto em seu ciclo de vida (durante a produção, o uso e o descarte). Será que as empresas cumprem isso? Não dá para saber se o fazem de verdade, mas a internet facilitou esse patrulhamento do consumidor quanto às questões ambientais e às mentiras empresariais. Você já deve ter visto em suas redes sociais consumidores e entidades denunciando práticas indevidas de grandes empresas. Goerg et al. (2014), em Greenwashing no Brasil: um Estudo sobre os Apelos Ambientais nos Rótulos dos Produtos, repetiu, em 2014, uma pesquisa realizada em 2010 e encontrou 1.058 produtos e 1.801 apelos ambientais para as categorias de cosméticos, higiene pessoal e produtos de limpeza disponíveis nos pontos de venda estudados. Dessa forma, já dá para termos uma ideia de como as empresas utilizam o apelo da sustentabilidade em suas campanhas de comunicação. Entre 2010 e 2014, período que separa os estudos, esses números representam um aumento de 343% na quantidade de produtos e de 327% no número de apelos em relação à pesquisa realizada em 2010. O corredor de higiene e cosméticos foi o que mais teve crescimento na quantidade de produtos verdes, com um aumento de 463%. Já no setor de limpeza, encontram-se três vezes mais produtos com apelos ambientais (208% de aumento). Não sem razão, o maior apelo se encontra nas categorias de higiene e de limpeza, já que se tratam de produtos químicos e poluentes por natureza. As empresas se esforçam em adotar as atitudes esperadas para o controle dos efeitos dos produtos químicos utilizados e para amenizar os danos ao meio ambiente. Mas será que é possível uma indústria química ser sustentável? Ela pode reduzir ao mínimo a destruição e fazer muitas ações para desviar o olhar da população, mas, em última instância, tratam-se de produtos químicos. Se por um lado a pobreza e a pouca educação são um problema para colocar em prática as políticas de desenvolvimento sustentável nos países pobres, os países desenvolvidos, por sua vez, mercantilizam o meio ambiente. Poluídos para sempre e sem condições de cumprir acordos realizados em tratados internacionais, os países mais ricos compramdos países pobres o direito de emissão de carbono e pode- se dizer que eles pagam para não se adequar aos padrões exigidos mundialmente, nem reduzir seus consumos. Na prática, poluem os ambientes naturais pagando por eles aos países pobres (GARCIA, 2014). China e EUA são os países que mais poluem o meio ambiente no mundo. China é um país em desenvolvimento e sempre pleiteia exigências diferenciadas para suas reduções de emissões de carbono, enquanto os EUA recusam-se a assinar tratados internacionais para as reduções. 22 Unidade I Figura 1 – Preservar o planeta tem sido a preocupação de empresas, governos e cidadãos Esse assunto é bem complexo e envolve muitas variáveis, pois não se trata apenas de criar um produto verde e sustentável, mas de a empresa adotar posturas diferenciadas quando o assunto é o meio ambiente. Vamos conhecer alguns exemplos de como se pode mudar essa: • Verificar os fornecedores: você já ouviu falar que as grandes marcas utilizam trabalho escravo? Pode ser que diretamente nenhuma delas faça isso, mas contratam fornecedores que o fazem, sem controlar a cadeia como um todo, logo, sua informação sobre cuidados sociais e ambientais passam a ser uma mentira. • Colocar a sustentabilidade como ponto estratégico para a tomada de decisão na empresa. • Entregar o produto sem poluir: o produto pode ser entregue sem poluir o meio ambiente, o que pode ser feito com bicicletas ou a pé. • Neutralizar a emissão de CO2 por meio do plantio de árvores: essa é uma ação oferecida por algumas organizações não governamentais. • Apoiar ações de sustentabilidade local. • Divulgar informações em sites e e-mails para a não impressão de documentos: como faz a companhia aérea TAM, que trocou o bilhete de viagem impresso pelo bilhete eletrônico, que pode ser apresentado como uma imagem com tecnologia QR Code no celular do passageiro. 23 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING • Adequar a produção e a entrega de serviços às normas ISO 14.000, relacionada ao meio ambiente. • Manter no quadro de fornecedores apenas empresas que tenham esse mesmo compromisso de preservação do meio ambiente. • Criar certificações de fornecedor sustentável, distribuidor verde entre outros. • Dar preferência a empresas da comunidade, para contribuir com o desenvolvimento da região. Uma entrega limpa pode ser feita com bicicletas, ou andando a pé, e já existem empresas especializadas para oferecer esse serviço, como a: <ecobikecourier.com.br/>. Também há sites que têm vários projetos ambientais para pessoas físicas ou empresas, como: <www.iniciativaverde.org.br/>. <www.plantearvore.com.br>. Conheça o caso da Ecodrive Rent a Car, empresa localizada em Foz do Iguaçu, que desde 2010 começou a colocar na Política de Locações a importância de negócios com desenvolvimento sustentável e respeito ao meio ambiente. Parceria entre Ecodrive e Instituto Brasileiro de Florestas Ao atrelar as suas ações ao desenvolvimento sustentável e respeito ao meio ambiente, a Ecodrive, em parceria com o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF), neutraliza as emissões de gases do efeito estufa (GEE) de sua frota de veículos por meio do plantio de árvores nativas de forma voluntária. Neste contexto, todo gás nocivo emitido ao meio ambiente é compensado por este processo de restauração florestal. Para tanto, foi realizado o inventário de emissões no que diz respeito a sua frota de veículos utilizando-se da metodologia GHG Protocol. Serão plantadas 336 mudas nativas pelo Programa Plante Árvore para a neutralização de cerca de 56 toneladas de GEE. Sendo assim, o IBF concede à Ecodrive o Selo Plante Árvore – CO2 Neutro, certificando, dessa forma, a postura de responsabilidade ambiental. Fonte: IBF ([s.d.]). No marketing ambiental, a estratégia deve focar-se nos 4 Ps: preço, praça, produto e promoção, para promover produtos que apresentam a preocupação ambiental, não se utilizando do expediente da maquiagem verde no produto. Enganar o consumidor não pode mais fazer parte do repertório das 24 Unidade I empresas, como fez a Volkswagen, que por anos disse aos compradores de seus veículos que eles estavam utilizando equipamentos para reduzir a poluição ambiental, mas os aparelhos eram fraudados antes de serem instalados. Saiba mais Conheça maior o caso de poluição ambiental e ética empresarial da Volkswagen: PESQUISADORES independentes descobriram fraude da Volkswagen. Exame, São Paulo, set. 2015. Disponível em: <http://exame.abril.com. br/tecnologia/pesquisadores-independentes-descobriram-fraude-da- volkswagen/>. Acesso em: 26 set. 2017. BEDENDO, M. A Volkswagen merece o seu perdão? Exame, São Paulo, fev. 2017. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/blog/branding-consumo- negocios/a-volkswagen-merece-o-seu-perdao/>. Acesso em: 26 set. 2017. Sobre o processo de reciclagem de automóveis na Alemanha visite: RECICLAGEM de automóveis. Portal Resíduos Sólidos, fev. 2014. Disponível em: <http://www.portalresiduossolidos.com/reciclagem-de- automoveis/>. Acesso em: 25 set. 2017. 1.1.3 Marketing pessoal A palavra marketing é, muitas vezes, utilizada como sinônimo de publicidade e também de propaganda enganosa, em sentido pejorativo, por exemplo, quando alguém comenta a atuação de políticos e o desempenho de produtos que “só fazem marketing”. Essa conotação negativa da palavra e seu mau uso atribuiu a ela outros sentidos, como é o caso do marketing pessoal. Culturalmente e por muito tempo, marketing pessoal era um assunto do qual não se falava, pois poderia passar a imagem de arrogância e exibicionismo. Nossa formação tende a rejeitar quem valoriza as próprias competências, os chamados convencidos e exibicionistas. O tempo deixou essa impressão para trás e, em meados dos anos 1980, uma edição da revista Exame já trazia uma capa com a manchete com algo parecido com “Como Administrar a Empresa Chamada Você S/A”. A essência da matéria dizia que devemos cuidar da nossa vida e da nossa reputação, ou seja, da nossa imagem, como se fosse uma marca. A repercussão foi tanta que, possivelmente, essa capa deu origem a outra revista com o mesmo nome da matéria: Você S/A. Cuidar da carreira, da formação e da divulgação de tudo isso se tornou fundamental e, depois disso, o tema marketing pessoal entrou em voga. 25 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING Contrariamente, o professor Carlos Eduardo Machado Munhoz fez uma pesquisa interessante para buscar o significado do termo marketing pessoal. Segundo ele, as pessoas referem-se a marketing pessoal como um caminho para encontrar um bom emprego e também como divulgação pessoal, o que não abarca o conceito de marketing. De toda forma, é algo que as pessoas têm buscado e comentado, e será tratado neste livro-texto como ideias para a divulgação pessoal (MUNHOZ, 2008). Mas afinal, o que vem a ser marketing pessoal? Você já ouviu falar sobre a diferença de qualidade entre os ovos da galinha e da pata? O ovo da pata é muito maior e mais nutritivo do que o da galinha, mas o mais consumido é o da galinha. Por que será? Diz a lenda que é por causa do marketing. A pata bota o ovo e fica em silêncio, já a galinha, acredito que todo mundo já ouviu falar o quanto ela cacareja, e o barulho que faz para mostrar a todos quando acaba de botar um ovo. No marketing pessoal é mais ou menos a mesma coisa. Não basta ser um bom profissional: as pessoas da empresa e de fora dela precisam saber e reconhecer isso. Na visão de Oliveira Neto (1999), marketing pessoal pode ser descrito como o processo utilizado por um indivíduo ou uma organização, envolvendo a concepção, planejamento e execução de ações que contribuirão para: • A formação profissional e pessoal de alguém. • A atribuição de um valor que não necessita ser exclusivamente monetário, justo e compatível com o posicionamento de mercado que se queira adquirir. • A execução de ações promocionais de valorização pessoal que o coloquem no lugar certo, na hora certa, de tal maneira que as organizações ou pessoas paraquem trabalhem ou sobre as quais exerçam influência, além dele próprio, sintam-se satisfeitas. As pesquisas dizem que a divulgação se tornou quase mais importante para a contratação de uma pessoa do que ter cursado uma boa faculdade, ser um bom profissional e apresentar capacidade intelectual. Claro que ainda são analisados, com muito cuidado, os currículos e as habilidades profissionais específicas para cada cargo a ser preenchido, porém nenhuma das características anteriores terá sentido se não houver uma história profissional marcada pelo dinamismo e pela ética, é bom frisar, pontos que podem ser comprovados com uma boa dose de marketing pessoal. Por meio de nossas afinidades e preferências, vamos nos aproximar mais de algumas pessoas do que de outras, e assim vamos construindo relações, que podem ser eleitas de acordo com nossas percepções, ou apenas pela simples conveniência. Assim, aproximar-se de pessoas é algo bastante natural no mundo do trabalho e nas relações pessoais. Algumas relações, no entanto, podem ser estabelecidas pensando nos benefícios que elas podem nos trazer, afinal, quem nunca pensou: “vou mandar um e-mail para fulano, que trabalhou comigo na empresa tal, para manter a amizade…”, mas o que está implícito nessa atitude é que se eu precisar de um apoio para uma nova colocação, ele se lembrará de mim. 26 Unidade I No mercado de trabalho, essa é uma prática bastante utilizada, principalmente em relação às indicações profissionais. Já foi considerada como prática pouco ética, mas os últimos tempos assistiram à ascensão das indicações profissionais e muitas pessoas devem suas carreiras profissionais a essas indicações. Diferentemente do âmbito da política, em que os apadrinhamentos têm conotação pejorativa – quando um político eleito, em troca de apoio aos governos, coloca pessoas de sua confiança em cargos importantes da administração pública; no ambiente empresarial, a atitude de um funcionário indicar um amigo ou familiar para um cargo é vista de forma positiva pelas empresas, que geralmente acatam essas indicações. Claro que existem os apadrinhamentos negativos, como em casos que as pessoas são indicadas apenas por serem amigas do dono de uma empresa, ou do filho do dono, e sem nenhuma formação ou experiência assumem cargos importantes e bem remunerados, mas essas ocorrências não são a maioria no mundo empresarial. De qualquer forma, deve-se ter cuidado ao aproximar-se de pessoas, pois isso também pode se tornar um problema. Algumas delas, apesar de grande poder de influência, como alguns políticos, podem não estar tão bem na opinião pública. Nesse caso, vincular sua imagem à de pessoas desse tipo pode ser bastante perigoso. Se você associa sua imagem com a de alguém cujo respaldo na opinião pública é incontestável, você certamente será muito bem conceituado e conseguirá vincular a imagem de um formador de opinião, considerado socialmente responsável à sua própria imagem. Numa analogia com o conceito de marketing para produtos, podemos dizer que marketing pessoal é um conjunto de estratégias para que a imagem do profissional (pessoa, que seria o produto) chegue de forma positiva até o consumidor final (o cliente), representado, nesse caso, pela empresa e pelo chefe, pelos amigos, colegas de trabalho, ou por pessoas próximas, como o marido, a esposa e os familiares (SANTOS, 2002). Para Scott-Job (1994), a pessoa, o profissional, é o P de produto; o salário é o P de preço; o ponto de venda é a área de atuação, ou seja, o P de distribuição; e a divulgação e a comunicação formam o P da promoção. Pensar em si próprio como um produto exige conhecimento das características pessoais para ser capaz de apontar os diferenciais que podem ser oferecidos à empresa, conhecer bem o mercado, o ambiente em que está inserido para buscar oportunidades e reduzir ameaças (DAVIDSON, 1999). O profissional só sabe o que tem a oferecer quando ele se conhece muito bem. Veja que encontrando seus pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades e as ameaças, estará fazendo uma análise Swot de você mesmo, e essa é uma aplicação do marketing. Afinal, um bom planejamento precisa dessa análise para encontrar os pontos de melhoria sempre que necessário e para oferecer o melhor produto possível. 27 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING O que é análise Swot? A análise Swot é a sigla em inglês para forças (strengths), fraquezas (weakness), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats). Ela tem outros nomes, incluindo mais ou menos campos de análises. No Brasil, também pode ser encontrada como análise de Fofa, pontos fortes e fracos e oportunidades e ameaças. Essa análise foi desenvolvida nos anos 1960 e tem sido utilizada como importante instrumento de análise empresarial na criação do planejamento estratégico. Por meio dessa análise, realiza-se um diagnóstico do negócio e do ambiente interno e externo, em todas as variáveis possíveis que os cercam, buscando encontrar os pontos fortes e os pontos fracos, que vêm do ambiente interno, e as oportunidades e ameaças, que vêm do ambiente externo. Fa to re s e xt er no s Fatores positivos Fa to re s i nt er no s Fatores negativos S - Strenghts F - Força W - Weaknesses F - Fraquezas O - Oportunities O - Oportunidades T - Threats A - Ameaças Figura 2 – Matriz de análise Swot Estamos falando, portanto, de projetar uma imagem pessoal positiva, que seja capaz de impressionar. Se para uma empresa é preciso investimento contínuo em ferramentas de comunicação, a fim de sensibilizar todos os tipos de públicos envolvidos, sejam os funcionários e acionistas, os clientes e os prospects, os fornecedores e os distribuidores, em se tratando de pessoas, é preciso buscar influenciar por meio de um comportamento adequado ao que se pretende. O que isso quer dizer? Se você quer ser reconhecido como um profissional que conhece muito bem a área e o assunto de que trata, é preciso mostrar isso às pessoas. De nada adianta termos vários pontos positivos em nosso favor se não conseguimos expressá-los para quem nos interessa. Observação Usar as redes sociais para aumentar a rede de contatos, networking, é um comportamento esperado atualmente, uma vez que os futuros empregadores consultam esses locais para as contratações. 28 Unidade I A seguir são apresentadas técnicas a serem utilizadas na construção de uma imagem positiva, adaptadas de Mccaffrey (1983): 1. Convívio social fora do ambiente de trabalho: a imagem pessoal, à semelhança da imagem empresarial, envolve tudo o que a pessoa faz, mesmo o que faz fora do trabalho. Atitudes como fazer trabalhos voluntários depõem a favor e mostram engajamento com causas nobres. Fora do ambiente empresarial também se constrói networking (rede contatos profissionais), construindo relacionamento com pessoas da área e de interesse. 2. Aparência dos pertences pessoais: apresentar um currículo e cartão de visitas bem feitos causa uma boa impressão, pois demonstra zelo e organização. 3. Aproveitamento do primeiro contato: deve-se aproveitar o primeiro contato para trocar cartões de visita. Quando alguém dá um cartão de visitas significa que está abrindo uma possibilidade para fazer contatos futuros, contribuindo na ampliação do networking. 4. Habilidade em lidar com outras pessoas: ter empatia e lidar bem com pessoas é uma estratégia de marketing pessoal, pois culmina no bom relacionamento. 5. Aparência física e postura: a boa aparência acompanhada do vestir-se com elegância e postura correta colaboram para o estabelecimento de confiança e respeito, além de alinhar o profissional com o local em que está, causando uma boa primeira impressão. Outros fatores de atenção são a dicção, o tom de voz e a maneira como se fala. 6. Comportamento: diz respeito à maneira como a pessoa se comporta. Por exemplo, se ela busca olhar nos olhos, se tem o aperto de mão firme, de qual forma ela se senta, tudo isso, apresenta um conjunto de informações que mostramo seu perfil, o qual deve combinar com o perfil da empresa. 7. Conduta ética: agir com ética é um ato esperado das pessoas em geral. Quando estamos falando em ambiente profissional, esse comportamento é exigido, e se o profissional não estiver de acordo, certamente não está adequado para o trabalho na empresa. A atuação em desacordo com esse pressuposto serve para qualquer local, e não só no ambiente profissional. A atitude ética deve se estender para além da empresa, estar enraizada no comportamento pessoal e em todas as ações da pessoa. São exemplos de posturas antiéticas falar mal de outras pessoas e dar opiniões sem ser chamado a isso. 8. Projeção do próprio valor financeiro: valorizar o próprio trabalho e características pessoais exige que se saiba quanto vale o seu trabalho, à semelhança dos produtos e serviços. Quando a imagem pessoal transmite essa informação adequadamente, é possível que as empresas fiquem dispostas a pagar o preço pela qualidade oferecida. 9. Autopromoção: a responsabilidade pelo próprio desenvolvimento pessoal é da pessoa e a busca por realização profissional também. A autopromoção deve ser dosada para não interferir nas decisões de quem decide uma promoção, por exemplo. Rever comportamentos e atitudes faz parte do processo 29 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING de autodesenvolvimento. Demonstrar confiança e apresentar informações verdadeiras é uma forma de autopromoção, que deve ser feita sempre que possível e cabível no ambiente em que se está inserido. Deve-se aprender a ‘vender o próprio peixe’. 10. Aprimoramento educacional: a participação em cursos e a formação constante deve ser uma preocupação, mas não se trata apenas de educação formal aqui, mas de melhoria nos conhecimentos específicos da área, que podem ser obtidos por meio de relacionamento com outros profissionais do segmento e a troca de experiências sobre os temas de interesse, seja por meio de congressos, palestras e cursos. 11. Planejamento de carreira: é fundamental planejar a carreira, pois saber aonde se quer chegar é importante. O resultado significa o sucesso e o alcance de metas traçadas para a jornada profissional. Resumindo, o marketing pessoal é um conjunto de ações que devem ser adotadas para que o profissional esteja sempre em contato com pessoas e saiba a melhor forma de se comportar para ser visto como um bom profissional em sua área. Segundo Lanzarin e Rosa (2013), o sucesso na utilização do marketing pessoal está diretamente ligado a uma boa comunicação, pois a fluidez e a naturalidade com que nos expressamos é condição fundamental para demonstrar nosso potencial e nossas competências. Livrar-se da timidez, saber ouvir, usar a voz e o corpo, ter uma boa expressão corporal, boa postura e ter controle emocional ajudam na façanha de se comunicar melhor. A maior parte de nossos comportamentos corporais levam informações importantes aos nossos interlocutores. Dominar as técnicas de comunicação verbal e não verbal faz parte dos atributos para ter uma boa comunicação e causar boa impressão, o que ajuda na formação de uma imagem positiva. O profissional deve planejar como divulgar as próprias competências, e a melhor forma de fazer isso é mostrando seus resultados, colocando-se a serviço de outras pessoas e resolvendo problemas. Mais do que mostrar e divulgar, é preciso evidenciar que realmente é capaz de fazer alguma coisa sobre o assunto. Apresentar textos, escrever em blogues, realizar vídeos e fazer comentários sobre os temas de domínio podem ser boas formas de influenciar, informar e esclarecer pessoas da área e mostrar que realmente entende do tema (GASPARINI, 2015). A linha entre a dose certa e o exagero que demonstra arrogância é muito tênue e fácil de ultrapassar, por isso, deve-se ter cuidado. Uma atitude importante é avaliar a própria presença nas redes sociais. Um Facebook cheio de opiniões polêmicas e fotos ousadas pode não ser um bom cartão de visitas para alguém que está buscando uma colocação profissional. Por isso, deve-se também manter as configurações de segurança e de quem pode ver as publicações adequadas. Uma rede social focada em mercado de trabalho, na qual empresas de todas as áreas buscam profissionais para os mais variados cargos é o LinkedIn. O objetivo é manter relacionamentos profissionais e contatos de trabalho. A rede possui 400 milhões de usuários ativos no mundo. 30 Unidade I As redes sociais têm dado uma grande ajuda na divulgação pessoal. O uso delas, no entanto, precisa estar atrelado aos objetivos que se têm. Quando se trata de divulgação para fins profissionais, o LinkedIn tem sido a principal rede social, por isso deve-se ter cuidado para não misturar as informações profissionais com as pessoais. A reputação on-line também é acompanhada pelas empresas. Conheça as dicas de Fernanda Brunsizian, gerente de comunicação da LinkedIn, para manter um perfil adequado na rede e que chame a atenção dos recrutadores, em matéria publicada na revista Exame. 13 dicas para melhorar seu perfil no LinkedIn 1. Perfis com foto são 14 vezes mais vistos. O retrato não precisa ser necessariamente formal: leve em conta seu meio de trabalho (é formal ou informal, por exemplo?) e, principalmente, sua identidade. 2. Defina bem sua profissão para facilitar buscas. Se for estudante, a dica é colocar estudante mesmo, visto que é a palavra que recrutadores buscam quando procuram alguém nessa etapa da vida. Também é possível colocar um slogan que defina sua personalidade, como “apaixonado por startups”. 3. Tenha perfis em mais de um idioma. O LinkedIn oferece a possibilidade de abrigar perfis em línguas diferentes dentro da mesma URL. Basta clicar na seta ao lado do botão “Ver perfil como” e selecionar a opção “Criar perfil em outro idioma”. O site espelha as informações atuais e você só precisa traduzi-las. 4. Personalize sua URL e apareça antes no Google. Ao customizar o link com seu nome profissional, você ganha uma assinatura mais concisa e sobe nas pesquisas. Para editar, selecione o ícone de ajuste ao lado da URL que o LinkedIn disponibiliza, logo abaixo da foto. Se seu nome for muito comum e você não se incomodar, opte pelo mais exótico para se destacar entre os homônimos. 5. Fotos de fundo devem ser profissionais. Evite colocar fotos de viagem ou imagens muito pessoais. Prefira ambientes neutros e escritórios. 6. Altere entre visualizações públicas e anônimas. No LinkedIn, é possível optar por olhar perfis sem que se saiba que foi você. A dica é usar esta função quando o tráfego de visitas de volta não for proveitoso, como em pesquisas pessoais ou de trabalho. Caso esteja se preparando para uma entrevista de emprego ou um projeto, use visualização pública para estudar os perfis dos envolvidos – isso mostra proatividade. 7. Invista em um bom resumo. Para criá-lo, imagine que um recrutador pediu o seguinte: conte-me quem é você. Simples assim. 8. Use os recursos audiovisuais para se diferenciar. A ferramenta é especialmente boa para profissões visuais, como arquitetura ou design. Também é bom atualizar os arquivos de vez em quando, para o perfil não parecer parado. 31 ESPECIALIZAÇÕES DO MARKETING 9. Não se esqueça de preencher campos outros, como causas, organizações filantrópicas e projetos de voluntariado. As empresas também observam esta parte. 10. Quer conhecer alguém ou alguma empresa e tem uma conexão em comum? Peça para essa pessoa fazer a introdução. 11. Teste seus talentos de publicação. O Brasil foi o segundo mercado a receber a ferramenta de postagens do LinkedIn, em abril de 2015, e já se tornou líder mundial de uso. A ideia é transformar seu perfil em um blog. Se bem feitos, seus escritos podem se tornar conhecidos entre suas conexões, as conexões delas e assim por diante, transformando-o em um Influencer. Lembre-se de ter bom senso: esta continua sendo uma rede profissional. 12. Interaja com suas conexões. Mandar parabéns por um novo emprego, por exemplo, faz parte da
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