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Teoria Geral do Processo – Aula 8 AULA 9: NORMAS FUNDAMENTAIS E PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO; CONTRADITÓRIO, COOPERAÇÃO/COLABORAÇÃO E BOA-FÉ PROCESSUAL Ideia-chave: Processo é procedimento contraditório. O contraditório efetivo exige a isonomia entre juiz e partes na fase de formação das convicções que levaram à decisão judicial. O processo é um ambiente de debate regado por normas de comportamento objetivo cuja quebra pode ser sancionada independentemente de dolo ou culpa; as partes e o juiz cooperam com o processo para a tutela dos direitos, adequada, tempestiva e efetiva. ELEMENTOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL Bloco de Constitucionalidade: é um bloco normativo constitucional processual. A partir da constituição, como o processo é considerado um direito fundamental, o processo é um direito fundamental constitucional aplicado (Carlos Alberto Alvaro de Oliveira). O bloco de constitucionalidade consiste no conjunto de normas que funcionam como parâmetro para a realização do controle de constitucionalidade, isto é, que servem para o confronto de aferição de constitucionalidade das demais normas que integram o Ordenamento Jurídico. Compõe os elementos do devido processo legal: ❖ Duração razoável do processo; ❖ Tutela adequada e efetiva; ❖ Igualdade e paridade de armas; ❖ Juiz e promotor naturais; ❖ Contraditório; ❖ Ampla defesa; ❖ Prova; ❖ Publicidade; ❖ Fundamentação; ❖ Segurança Jurídica. O PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO Segundo Elio Fazzalari, o processo é o procedimento estruturado em contraditório. Ele busca essa ideia no direito fundamental de ser ouvido e de Teoria Geral do Processo – Aula 8 influenciar o órgão que toma essa decisão. Após isso, Antonio Passo Cabral nomeia isso como dever de debate e direito de influência, rretirado do processo administrativo alemão, após a Segunda Guerra Mundial. É imprescindível que as partes destinatárias dos atos jurídicos participem da formação das decisões que os atingem. Em uma democracia, o direito à participação não se reduz ao espaço de fala, mas inclui o poder dos destinatários dos atos de decisões em influenciar quem decide e o dever de quem decide debater com quem será submetido à decisão. Faz- se mister, então, verificar que o processo democrático deve ser aplicado mediante os ditames do modelo constitucional de processo, conjunto de princípios e regras constitucionais que garantem a legitimidade e a eficiência da aplicação da tutela. É justamente no contraditório que se apoia a noção de processo democrático, que tem como matriz substancial a “máxima da cooperação”. Trata-se de “extrair do próprio direito fundamental de participação a base constitucional para o princípio da colaboração” (Alvaro de Oliveira). Enquanto os fins do direito incluem dar a cada um o que é seu, os meios do direito, surgindo o conflito e a necessidade de decisão, exigem o diálogo, que é o fundamento do contraditório. Esse princípio vale tanto para o autor e réu, assim como para o juiz e também os demais sujeitos processuais que de qualquer forma participem do processo. VEDAÇÃO ÀS DECISÕES SURPRESA A dimensão substancial do contraditório, do poder de influência, impede a prolação de decisão surpresa. Isso porque o Estado democrático não se compraz com a ideia de atos repentinos, inesperados, de qualquer dos seus órgãos (Leonardo Carneiro Cunha). Trata-se de uma concepção do contraditório proveniente de uma tradição jurídica pós-guerra, presente na grande maioria dos novos códigos e reformas processuais nos ordenamentos jurídicos pelo mundo. Representa a ideia de que o juiz também é destinatário do contraditório, isto é, direito Teoria Geral do Processo – Aula 8 de influência e dever de debates (Antônio Passo Cabral). Se não houver uma norma de direito que autorize, o juiz não pode afetar o princípio do dispositivo. O juiz não é ativo para resolver os problemas do processo. O juiz não pode alterar a causa de pedir, mas o STF já decidiu sobre a possibilidade de a causa de pedir ser aberta em caso de saúde, meio ambiente, ADI. Não pode o órgão jurisdicional decidir com base em um argumento, uma questão jurídica ou uma questão de fato não posto pelas partes. TIPOS DE CONTRADITÓRIO A regra é que o contraditório seja sempre prévio, pois representa a ideia de ouvir a outra parte (audiatur er altera pars). O contraditório poderá ser diferido. Nestas hipóteses, há necessidade de inversão do ônus do tempo no processo. É o caso das tutelas provisórias, de urgência e evidência, e da ação minoritária. O contraditório poderá ser também eventual, ocasião ligada aos casos de corte na cognição, seja ele de caráter parcial ou sumário. Assim, a escolha do procedimento é justificada também pelo direito material, pois há um corte na cognição de modo que outro processo seja disposto para eventual discussão sobre o direito material, isto é, o contraditório pode ocorrer ou não. É o caso de desapropriação em que a indenização é discutida em um processo próprio e posterior à desapropriação, com o exercício eventual Código de Processo Civil Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Art. 489. § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; Teoria Geral do Processo – Aula 8 do contraditório para discutir a indenização devida. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO As partes e o juiz cooperam para que o processo possa garantir de forma justa a tutela das pessoas e dos direitos, adequada, tempestiva e efetiva. Esse princípio é um dos principais do CPC/2015, pois é o princípio estruturante das relações e da dinâmica entre os sujeitos processuais. Parcela da doutrina irá dizer que a cooperação é característica do processo isonômico, pois traduz a ideia de diálogo (Hermes Zaneti Jr. e Dierle Nunes). Isso não quer dizer que a relação entre as partes é de natureza idílica ou que as partes devem ser amigas entre si. O direito não regula comportamentos estáticos, mas comportamentos dinâmicos que se traduzem em poderes, deveres, ônus e faculdades durante todo o arco processual. Não só a relação jurídica bullowiana, mas todas as demais relações jurídicas, nelas incluídos os auxiliares do juiz, amicus curiae, MP, Defensoria, advogado, etc. A cooperação, como princípio, é objetiva e justifica a sanção de litigiosa de má-fé e o comportamento não-cooperativo pode gerar a responsabilidade civil, administrativa ou criminal, necessitando aferir a ocorrência de dolo ou culpa e o regime jurídico de responsabilização da parte que o descumpriu. A principal mudança é a adoção de um caráter objetivo, mas o caráter subjetivo persiste. O importante é notar a mudança de paradigma, porque a grande mudança do CPC é tornar regra o caráter objetivo da cooperação e da boa-fé, assim como a insanabilidade dos vícios processuais, agora, é regra e não mais exceção.
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