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MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO 28 de julho de 2018 Criação: Camila Stephan Marques da Silva Normalização: Celma Rivanda Machado de Araújo Introdução à biofortificação Módulo II – Afinal, o que é biofortificação? 1 In tr o d u çã o à b io fo rt if ic a çã o | 2 8 d e ju lh o d e 2 0 18 Introdução à biofortificação Módulo II – Afinal, o que é biofortificação? Neste módulo, você será capaz de entender a técnica de biofortificação e como esta pode contribuir para combater a fome oculta. Bons estudos! 1. INTRODUÇÃO Conforme aprendemos no módulo anterior, a fortificação e a suplementação de alimentos são duas técnicas utilizadas para prevenção ou correção das deficiências de micronutrientes. Entretanto, na busca de uma opção que alcance as populações mais necessitadas, surge a técnica de biofortificação. Segundo Nutti (2010), os produtos agrícolas biofortificados constituem uma alternativa para complementar as intervenções em andamento, proporcionando uma maneira sustentável e de baixo custo para alcançar as populações carentes. Os estudos sobre biofortificação de alimentos tiveram início nos Estados Unidos no início dos anos 1990, quando Howarth Bouis1, economista do Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI), fez a seguinte pergunta a si mesmo: e se as plantas pudessem fazer parte desse trabalho, de combate à fome oculta, por nós? Essa pergunta (talvez oriunda do ócio criativo) deu origem à biofortificação de alimentos e, uma década depois, ao HarvestPlus, um programa internacional responsável por promover e coordenar as ações de biofortificação de alimentos no mundo. A biofortificação de alimentos consiste no aumento do conteúdo de micronutrientes das cultivares básicas produzidas no campo, podendo ser feito por meio de três maneiras diferentes: melhoramento convencional de plantas, transgenia e/ou fortificação agronômica. No melhoramento convencional, plantas da mesma espécie são selecionadas no campo e aquelas com maiores teores de nutrientes desejados e melhores características agronômicas seguem para serem cruzadas e reavaliadas. Assim, após vários cruzamentos e testes, são obtidas variedades com maiores teores de ferro, zinco ou pró-vitamina A. Já a transgenia é uma técnica de introdução de uma ou mais sequências de genes de outra espécie no genoma 1 Howarth Bouis, fundador e diretor do programa HarvestPlus, foi vencedor do Prêmio Mundial da Alimentação em 2016, por seu trabalho pioneiro no combate à fome oculta por meio da biofortificação. In tr o d u çã o à b io fo rt if ic a çã o | 2 8 d e ju lh o d e 2 0 18 2 da planta utilizando a tecnologia de DNA recombinante. Quanto à fortificação agronômica, esta visa ao enriquecimento dos alimentos com nutrientes minerais, como o ferro, o zinco, o selênio e o iodo. Umas das principais práticas da biofortificação agronômica é o uso de fertilizantes, modificando-se apenas o manejo da cultura, em especial a adubação. Embora técnicas de engenharia genética (transgenia) possam produzir culturas biofortificadas com potencial nutricional, há evidências de que o uso do melhoramento convencional é o meio mais rápido para obter colheitas mais nutritivas nas mãos de agricultores e consumidores, já que não se enfrenta os mesmos obstáculos regulatórios e é amplamente aceito (BOUIS, SALTZMAN, 2017). Assim, os trabalhos de biofortificação de alimentos realizados no âmbito do programa HarvestPlus são dedicados em sua maioria ao melhoramento convencional (sem ações transgênicas). Na publicação de Nestel et al. (2006) pode-se constatar que o direcionamento para o melhoramento convencional foi feito em resposta às normas políticas e regulatórias contrárias ao uso de técnicas transgênicas. Este foi um fator determinante para que 85% dos recursos do HarvestPlus fossem dedicados ao melhoramento convencional. Nestel et al. (2006) apresentam em seu estudo as seguintes vantagens da estratégia de biofortificação: 1) Ela potencializa, em micronutrientes, a ingestão dos alimentos básicos que são consumidos diariamente por todos os membros da família. Como os alimentos básicos predominam na dieta dos mais pobres, essa estratégia visa implicitamente as famílias de baixa renda. 2) Os custos da pesquisa para o desenvolvimento das sementes são provavelmente os únicos componentes de maior custo da biofortificação e são incorridos somente inicialmente. Uma vez as variedades biofortificadas desenvolvidas, os custos recorrentes são baixos e o germoplasma2 pode ser compartilhado internacionalmente. Esse aspecto multiplicador do melhoramento de plantas ao longo do tempo e da distância faz com que seja rentável. 3) O sistema de cultivo biofortificado, uma vez desenvolvido e implementado, é altamente sustentável. Isso ocorre porque variedades melhoradas nutricionalmente 2 Germoplasma é uma amostra de material genético com capacidade de manter as características de uma espécie mesmo com o passar do tempo. São exemplos os polens, as sementes e as células. 3 In tr o d u çã o à b io fo rt if ic a çã o | 2 8 d e ju lh o d e 2 0 18 continuarão a ser cultivadas e consumidas ano após ano, mesmo que a atenção do governo e o financiamento internacional para questões de aumento de micronutrientes para a alimentação desapareçam. No entanto, deve-se ter em mente que a qualidade da semente é um fator preponderante. Suas características diferenciadas podem ser perdidas durante o processo de propagação do cultivo. É importante que essa propagação de material seja por meio de obtenção de sementes e mudas certificadas periodicamente. Isso porque é importante que sejam asseguradas as suas qualidades genéticas e fitossanitárias. 4) A biofortificação fornece um meio viável de alcançar as populações subnutridas em áreas rurais relativamente remotas. 5) A biofortificação pode ser benéfica para o ser humano de outra forma além do beneficiamento do sistema nutricional, que é a de atuar aumentando a resistência das sementes às doenças e a outros estresses ambientais, devido ao seu maior conteúdo de minerais. Quer saber mais? Desde meados dos anos 2000, o programa de biofortificação de alimentos no Brasil é conduzido pela Rede BioFORT, o qual é coordenado pela Embrapa sob a liderança da pesquisadora Marília Regini Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Desde o seu início, a Rede BioFORT optou por trabalhar com o melhoramento convencional das culturas. Segundo Nutti (2011), o Brasil é o único país que conduz trabalhos simultâneos de melhoramento com oito culturas básicas: arroz, feijão, feijão-caupi e trigo, com maiores teores de ferro e zinco; e mandioca, milho, abóbora e batata-doce, com maiores teores de vitamina A. Esse aspecto faz com que a pesquisa e o desenvolvimento de alimentos biofortificados no Brasil apresente um aspecto inédito que o diferencia dos demais países. A Rede BioFORT congrega mais de 150 pesquisadores espalhados em 14 Estados brasileiros, procurando priorizar seu trabalho em regiões com os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Sua interação é feita com universidades, centros de pesquisa nacionais e internacionais, associações de produtores, governo, prefeituras e organizações In tr o d u çã o à b io fo rt if ic a çã o | 2 8 d e ju lh o d e 2 0 18 4 não-governamentais, além de projetos financiados pela Embrapa, CNPq e diversas fundações estaduais de suporte à pesquisa. A rede tem apoio do programa HarvestPlus, uma aliança de instituições de pesquisa que atuam na América Latina, África e Ásia com recursos financeiros da Fundação Bill e Melinda Gates, Banco Mundial e agênciasinternacionais de desenvolvimento. Falaremos mais sobre a história da Rede BioFORT e como a mesma funciona no módulo 4. Para saber mais sobre a biofortificação no Brasil, leia este texto escrito pela pesquisadora Marília Nutti para o Seminário Formação de Multiplicadores no ano de 2010. Referências BOUIS, H. E.; SALTZMAN, A. Improving nutrition through biofortification: A review of evidence from HarvestPlus, 2003 through 2016. Global Food Security, v. 12, p. 49-58. Mar. 2017. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211912417300068>. Acesso em: 23 maio 2018. NESTEL, P.; BOUIS, H. E; MEENAKSHI, J. V.; PEIFFER, W. Biofortification of Staple Food Crops. The Journal of Nutrition, v. 136, n. 4, p. 1064–1067, Apr. 2006. Disponível em: <https://academic.oup.com/jn/article/136/4/1064/4664193>. Acesso em: 23 maio 2018. NUTTI, M. R. A história dos Projetos HarvestPlus, AgroSalud e BioFORT no Brasil. In: REUNIÃO DE BIOFORTIFICAÇÃO NO BRASIL, 4., 2011, Teresina. Palestras e resumos... Rio de Janeiro: Embrapa Agroindústria de Alimentos; Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2011. 1 CD- ROM. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/54482/1/2011-133.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. NUTTI, M. R. Biofortificação no Brasil. In: SEMINÁRIO FORMAÇÃO DE MULTIPLICADORES, 2010, Rio de Janeiro. Biociências como uma ferramenta para a humanidade. Rio de Janeiro: Associação Nacional de Biossegurança, 2010. 1 CD-ROM. https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/28301/1/2010-281.pdf https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211912417300068#! https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211912417300068#! https://www.sciencedirect.com/science/journal/22119124 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211912417300068 https://academic.oup.com/jn/article/136/4/1064/4664193 https://www.bdpa.cnptia.embrapa.br/consulta/busca?b=ad&biblioteca=vazio&busca=autoria:%22NUTTI,%20M.%20R.%22 http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/54482/1/2011-133.pdf https://www.bdpa.cnptia.embrapa.br/consulta/busca?b=ad&biblioteca=vazio&busca=autoria:%22NUTTI,%20M.%20R.%22
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