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08/04/2017 1 PSICOFARMACOLOGIA AVANÇADA Módulo II – Fisiologia e Farmacologia da Serotonina P R O F . D R . T E N G C H E I T U N G C O O R D E N A D O R D O S E R V I Ç O D E I N T E R C O N S U L T A S E P R O N T O S O C O R R O – I P Q – H C – F M U S P P R O F . C O L A B . D P T O . P S I Q U I A T R I A D A F M U S P M É D I C O S U P E R V I S O R – H C – F M U S P M E M B R O D A A B R A T A – A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E F A M I L I A R E S , A M I G O S E P O R T A D O R E S D E T R A N S T O R N O S A F E T I V O S C O O R D E N A D O R D A C O M I S S Ã O D E E M E R G Ê N C I A P S I Q U I Á T R I C A D A A B P D O U T O R A D O - F M U S P PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Conflitos de Interesse Honorário de Palestrante Apoio à Pesquisa Apoio para Congressos e Cursos Advisory Board e Consultorias Participação Acionária Aché Abbott Torrent Libbs Supera Pfizer Fleury Eurofarma Astrazeneca EMS PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 08/04/2017 2 Nestler, Hyman e cols 2015PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Modulo II - Serotonina Triptofano, Ác Kirunenico/ quinolínico (TRYCATs), inflamação e depressão 08/04/2017 3 Núcleos da Rafe e projeções dos neurônios de 5HT no SNC PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Núcleos da Rafe e projeções dos neurônios de 5HT no SNC PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Cortex cerebral, estriado, núcleos dopaminergicos Hipocampo, septo, sistema limbico 08/04/2017 4 Complexidade do sistema serotoninérgico Sistema filogeneticamente mais antigo O mais extensamente conectado no SNC (quase todos os neurônios podem receber conexões serotoninérgicas) Alguns receptores de 5HT podem induzir respostas fisiológicas opostas 5HT modula: ◦ Sono ◦ Apetite ◦ ativação/excitação ◦ Atenção ◦ Processos de informações sensoriais ◦ Emoções (incluindo agressividade) ◦ Humor 7 famílias, 14 receptores, 13 são metabotrópicos, 1 ionotrópico (5HT3) PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Nestler e cols., 2015 Morissette e Stahl, 2014 Complexidade do Sistema serotoninérgico Poucos neurônios (250.000 em 1011 do cérebro) Grande arborização (>106 terminais nervosos/mm3) Controle de aferentes ascendentes (tronco, medula) e descentes (encéfalo) Disparos lentos e regulares (neurônios marca-passos) – homeostase Atividade neuronal dependente de ciclo vigília sono (Bloq por REM) Muito sensível a auto-inibição por auto-receptores 5HT1a PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Artigas 2013 08/04/2017 5 5HT1a Pré-frontal – controla Glutamato Septo – controla Acetilcolina Area Tegmental Ventral – controla Dopamina (podendo melhorar sintomas extrapiramidais) Núcleos da Rafe – auto-receptores de corpo celular – inibe neurônios serotoninérgicos Alvo de todos os antidepressivos – promove resposta antidepressiva e ansiolítica Agonistas: vilazodona, vortioxetina, aripiprazol, lurasidona, buspirona, cariprazina e brexpiprazol PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG ↑glutamato ↑dopamina Sept ↑Ach Pytliak e cols., 2011 Morrisette e Stahl, 2014 5HT1a e Fisiopatologia do Medo PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG amigdala CCA COF SCP LC NPB CCA- cortex cingulado ant. COF – corte orbitofrontal HY – Hipotalamo Resp neuroendócrina do medo e.g. cortisol SCP-subst cinzenta periaquedutal LC – Locus ceruleus NPB-núcleo parabraquial H - Hipocampo Afeto do medo Resp. comportamental (luta/fuga) Resp. cardiovascular do medo Resp. respiratória do medo Memória/reexperiência do medo 5HT1a Outros Neurotransmissores - GABA - Glutamato - CRF - NA - Canais voltagem - Depend. 08/04/2017 6 5HT1a e Preocupações/obsessões PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG DLPFC DLPFC – cortex pré-frontal dorsolateral S- striatum T - talamo Outros Neurotransmissores - GABA - Glutamato - NA - DA - Canais voltagem Depend. 5HT1b 5HT1b pré-sinpatico: inibe liberação de 5HT (inibitório = 5HT1a) Prosencéfalo basal – controla Acetilcolina Nucleos túbero-mamilar – controla histamina Area Tegmental Ventral – controla Dopamina Locus Ceruleus – controla Noradrenalina Bloqueio – Aumenta Glu, DA, Ach, NE, HA no cortex Núcleos da Rafe – auto-receptores de corpo celular – inibe neurônios inibidores serotoninérgicos Bloq 5HT1b/d: aripiprazol, asenapina, clozapina, iloperidona, quetiapina, ziprasidona, vortioxetina PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG ↑glutamato ↑dopamina Sept ↑Ach ↑NE Bloqueio de 5HT1b/d 08/04/2017 7 5HT1d e 5HT1e e 5HT2b 5HT1d ◦ Ação e distribuição parecido com 5HT1b ◦ Muito expressado em globo pálido em pacientes suicidas ◦ Menor sensibilidade em pacientes deprimidos 5HT1e ◦ Muito expressado em córtex pre-frontal e hipocampo – cognição? 5HT2b ◦ Agonismo em núcleo dorsal da rafe – aumenta atividade 5HT ◦ Muito expressado perifericamente – efeitos colaterais cardiológicos/pulmonares PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Artigas, 2013 5HT2A Presente em quase todo o córtex – em neurônios GABA e Glu Proeminente – bulbo olfatório e córtex olfativo, claustrum (perto da ínsula e núcleos lentiformes), núcleos do tronco cerebral e límbicos. Receptores aumentados na depressão Bloqueio está associado a melhora da depressão, de sintomas psicóticos e de efeitos extrapiramidais (por down-regulation). ◦ Ação atribuída à liberação de neurônios DA e consequente aumento de neurotransmissão de DA no córtex Bloqueio: todos os antipsicóticos atípicos, trazodona Agonismo: efeitos alucinógenos (e.g. LSD, psilocibina, MDMA, ayuhasca, etc), talvez efeitos antidepressivos (??)(Mahapatra e Gupta, 2017) PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 08/04/2017 8 5HT2c Presente em: hipocampo, amigdala, núcleo anterior olfatório e endopiriforme, córtex cíngulo e piriforme, núcleo talâmico, substância negra e vias mesolimbicas Ação tônica = bloqueio de DA e NA Bloqueio = liberação de DA e NA = efeito antidepressivo Agonismo ◦ diminuição aguda do apetite ◦ bloqueio de DA e NA, aumento de DA e NA no longo prazo (por down- regulation) = efeito antidepressivo Asenapina, clozapina, olanzapina, quetiapina Agomelatina, fluoxetina, mirtazapina, trazodona, lorcaserina PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG http://www.cellbiol.net/ste/alpobesity4.php Vetter e cols., 2010. Nature Reviews Endocrinology 6, 578-588 (October 2010) AgRP= agouti-related peptide POMC=pro-opiomelanocortina MC4R=receptor melanocortina4 CART= cocaine-amphetamine regulated transcript Fisiologia Central da Regulação da Alimentação Sistema Melanocorticotrófico 08/04/2017 9 Serotonina e o Sistema Melanocorticotrófico Xu e cols., 2011 5HT3 Encontrado: medula espinhal, tronco cerebral, hipocampo, amigdala, córtex entorhinal, frontal e cingulado Regula DA, NE, 5HT, Ach, GABa, HA Regula células piramidais do córtex diminuindo transmissão Glu Bloqueio: ◦ melhora cognição ◦ Reduz ansiedade ◦ Reduz sintomas extrapiramidais ◦ Reduz náusea/vômitos e motilidade intestinal – protege para efeitos colaterais de medicamentos e antidepressivos Clozapina, fluoxetina, mirtazapina, vortioxetina PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 08/04/2017 10 BLOQ 5HT3 – ação em GABA, NE e Ach pro-cognitivos PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT NE GLUT GABA Recept 5HT3 Antag 5HT3 ↑NE ↑GLU (pré-frontal) inibição GABA inibição Ach ↑AchGABA inibição 5HT4 Encontrado: putamen, núcleo caudado, hipocampo, núcleo accumbens, globo pálido, substância nigra, neocortex, núcleos da rafe e pontinos, tálamo Ação antidepressiva(estudos pré-clínicos) + rápido que ISRS Ação estimada envolvendo plasticidade neuronal ◦ Agonistas 5HT4 melhoram cognição, diminuem proteína beta-amiloide ◦ Antagonistas pioram cognição Agonistas: cisaprida, metoclopramida, mosaprida, prucaliprida, renzaprida, zacoprida PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 08/04/2017 11 5HT5a Ação desconhecida Talvez ação em locomoção, alimentação, ansiedade e depressão, aprendizado e consolidação de memória, comportamento adaptativo e desenvolvimento cerebral Relevante para mediação da ação de astrócitos – modulação de gliose (Talvez importante para D. Alzheimer, Síndr. Down) PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT6 440 aa - 2 variantes: completa (sistema límbico e zonas extrapiramidais) e deletada (caudado e substância negra) estriado, nucleo accumbens, tubérculos olfatórios, cortex, hipocampo, amigdala, hipotalamo, talamo, cerebelo Ação em Ach, NA, DA, GABA Parece estar alterado em diversas doenças psiquiátricas, como esquizofrenia, transtornos alimentares, déficits cognitivos e depressão ◦ Modulação colinérgica? Bloqueio de 5HT6 parece melhorar cognição ◦ Bloqueio de 5HT6 melhora da cognição espacial em animais ◦ Antagonismo e agonismo tem efeito pro-cognitivo Asenapina, Clozapina, Olanzapina, Quetiapina, Clomipramina, Amitriptilina, Mianserina PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 08/04/2017 12 5HT7 Encontrado no tálamo, hipotálamo, hipocampo, cortex Implicado na termorregulação, ritmos circadianos, sono, transt. Humor, cognição e memória (no hipocampo) Bloqueio 5HT7 em interneurônios GABA e neurônios piramidais glutamatérgicos – aumentam liberação de 5HT e GLU Bloqueio 5HT7 – reverte ações cognitivas do PCP (psicóticas) Presente em vasos (vasodilatador) e músculo liso Todos os antipsicóticos + Amisulprida (exceto olanzapina), Desipramina, Imipramina, Mianserina, Fluoxetina, Vortioxetina PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT 5HT GLUT GABA Recept 5HT7 Antag 5HT7 ↑5HT ↑GLU (pré-frontal) inibição GABA inibição EFEITO EM RECEPTORES 5HT PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG ANTIPSICÓTICOS NOVAS DROGAS Morissette e Stahl, 2014 08/04/2017 13 Serotonina e o eixo Cérebro-Intestino Metabolismo do Tryptofano/Kinurenina, inflamação e o eixo cérebro/intestino 08/04/2017 14 Proteina transportadora de 5HT (SERT) ou bomba de recaptura de 5HT Principal alvo dos antidepressivos atuais que agem em serotonina Aumentam rapidamente a concentração de serotonina – resposta antidepressiva é lenta Efeito volume: estimulação de receptores inibitórios pré-sinápticos 5HT1a, 5HT1b/d – diminuem disparos neuronais Após 2 -8 semanas, ocorre down-regulation dos receptores 5HT1a e 5HT1b/d, e aumentam os disparos neuronais – aumenta atividade 5HT PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT Neuronioefetor 5HT1a 5HT1b/d SERT 08/04/2017 15 Proteina transportadora de 5HT (SERT) ou bomba de recaptura de 5HT Principal alvo dos antidepressivos atuais que agem em serotonina Aumentam rapidamente a concentração de serotonina – resposta antidepressiva é lenta Efeito volume: estimulação de receptores inibitórios pré-sinápticos 5HT1a, 5HT1b/d – diminuem disparos neuronais Após 2 -8 semanas, ocorre down-regulation dos receptores 5HT1a e 5HT1b/d, e aumentam os disparos neuronais – aumenta atividade 5HT PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT Neuronioefetor 5HT1a 5HT1b/d SERT Proteina transportadora de 5HT (SERT) ou bomba de recaptura de 5HT Principal alvo dos antidepressivos atuais que agem em serotonina Aumentam rapidamente a concentração de serotonina – resposta antidepressiva é lenta Efeito volume: estimulação de receptores inibitórios pré-sinápticos 5HT1a, 5HT1b/d – diminuem disparos neuronais Após 2 -8 semanas, ocorre down-regulation dos receptores 5HT1a e 5HT1b/d, e aumentam os disparos neuronais – aumenta atividade 5HT PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT Neuronioefetor ↓ disparos 5HT1a 5HT1b/d 08/04/2017 16 Mecanismos para aumentar ação 5HT1a (antidepressivo/ansioso) Bloqueio de SERT (bloq recaptura 5HT) – aumenta 5HT fenda sinaptica – efeito principal da maioria dos AD atuais Aumentar produção 5HT (por ingestão de Triptofano ou 5HTTP) – pouca eficácia Bloqueio de inibição por Bloq auto-receptor 5HT1a (pindolol – acelerador de efeito antidepressivo por ser bloq 5HT1a em corpo celular) – não melhora resistência a tratamento Bloq de inibição por Bloq receptor inib 5HT1b – medicamentos em pesquisa Bloqueio de inibição por Bloq receptores heterólogos alfa2 pré-sináptico (mirtazapina, mianserina) – efeito ? Agonistas diretos de receptor 5HT1a – buspirona e gepirona – não são antidepressivos ◦ São preferencialmente agonistas de auto-receptores 5HT1a ◦ Têm atividade intrínseca menor que a própria 5HT PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Artigas, 2013 Outros mecanismos antidepressivos por receptores 5HT 5HT2a ◦ EFEITO ANTIDEPRESSIVO/ANTIPSICÓTICO = ANTAGONISMO ◦ Bloq aumenta eficácia de ISRS ◦ Diminui efeitos colaterais e sintomas depressivos (insônia, ansiedade) ◦ Bloq aumenta disponibilidade de 5HT para receptor pós-sináptico 5HT1a 5HT2c ◦ ANTAGONISMO– aumenta DA e NA 5HT3 ◦ ANTAGONISMO– melhora cognição 5HT4 ◦ Agonismo – melhora cognição 5HT6 ◦ ANTAGONISMO ou agonismo – melhora cognição/depressão 5HT7 ◦ ANTAGONISMO– melhora cognição/depressão PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 08/04/2017 17 Fluoxetina Fluoxetina Meia vida muito longa ◦ Fluoxetina se mantêm no corpo por até um mês após suspensão ◦ Meia vida da norfluoxetina >100hs – em idosas mulheres ainda mais Muitas interações medicamentosas – bloq 2D6 ◦ Introdução de FLUOX em polimedicados – risco de aumento dos níveis séricos de outras medicações ◦ Retirada da FLUOX em polimedicados: risco de diminuição dos níveis séricos 08/04/2017 18 Bloqueio 5HT2c: aumenta DA e NA córtex pré- frontal; deveria estimular apetite pela não ativação de neurônios Pro -opiomelanocortina (POMC) no núcleo arqueado Doses: 40 mg a 80mg + Aumenta/acelera recuperação motora após infarto cerebral (Chollet e cols., 2011) Possível efeito antiviral para alguns enterovirus (Tyler, 2015) Fluoxetina Caso Elena Elena, 31 anos, casada, dentista Depressão: há 3 meses com angústia, lentificação, desânimo moderado (sensação de falta de energia) grande ansiedade, com sintomas de pânico flutuantes no decorrer do dia, perda discreta do desejo sexual, concentração prejudicada, peso estável apesar de ter discreto descontrole para carbohidratos, sono interrompido de má qualidade. Pensamentos auto-depreciativos, sem ideação suicida. Sem sintomas obsessivos, auto-referentes, hipomaníacos na vida Escolha terapêutica: ? 08/04/2017 19 Caso Elena Elena, 31 anos, casada, dentista Depressão: há 3 meses com angústia, lentificação, desânimo moderado (sensação de falta de energia) grande ansiedade, com sintomas de pânico flutuantes no decorrer do dia, perda discreta do desejo sexual, concentração prejudicada, peso estável apesar de ter discreto descontrole para carbohidratos, sono interrompido de má qualidade. Pensamentos auto-depreciativos, sem ideação suicida. Sem sintomas obsessivos, auto-referentes, hipomaníacos na vida Escolha terapêutica: FLUOXETINA 20mg + bromazepam 3mg Evolução: Melhora da energia poucos dias após início; com aumento de apetite, ganho de peso de 5 kg em 1 mês. Melhora parcial da ansiedade e da angústia. Melhora do desejo sexual. Sem sintomas hipomaníacos. Caso Debora M 23 anos, solteira, aeromoça. Tristeza intensa há dois meses, após termino de relacionamento de 4 anos. Relata choro frequente, angústia, perda de peso de 4 kg (está com 46 kg, tem 1,59 e se acha magra, feia, doente), cansaço excessivo, sono o dia inteiro (só quer ficar na cama), momentos de falta de ar, incapacidadede se concentrar em leitura ou TV. Muitos pensamentos catastróficos, acha que nunca vai achar outro namorado, não via futuro ou esperança, negava ideação suicida mas queria sumir. Ia trabalhar mas muitas vezes trocava suas viagens com suas colegas para evitar o trabalho. Tratamento: Fluoxetina 20 mg até 40mg 08/04/2017 20 Caso Debora M Evolução: muita náusea no começo, porém progressivamente com menos tristeza, emagreceu mais 2 kg, só voltando a recuperar o peso (50 kg) após 4 meses de tratamento. Surgiu certa insônia inicial, que melhorou com zolpidem. Recuperou-se do cansaço e desânimo depois de 3 meses de tratamento. Manteve-se sem apetite durante todo o tratamento (avaliação de 2 anos). Melhora de todos os aspectos cognitivos. Sentia-se apática, não conseguia sentir muita alegria ou tristeza Caso MBT 53 anos, sexo masc., casado, analista de sistemas Iniciou crises de pânico, com predomínio de náuseas, há 30 anos. Utilizou fluoxetina até 80 mg como primeiro tratamento, com piora inicial controlada com diazepam, e se manteve sem ataques de pânico por 10 anos. Teve perda de peso nos primeiros meses, aumento de peso discreto (até 7 kg) por 1 ano, estabilizou depois com aumento de 5 kg em relação ao peso basal. Sexualidade diminuida. Sonolência diurna frequente. 08/04/2017 21 Caso MBT Há 20 anos, após estresse com esposa (ameaça de separação), piorou sintomas depressivos (desânimo ppalmente pela manhã, preocupação constante, tensão, problemas de concentração e memória, sono ruim, pensamentos pessimistas, cinzas). Durante 10 anos foram tentados: paroxetina, sertralina, venlafaxina, mirtazapina (melhorou sono, ganhou 20 kg) escitalopram, fluvoxamina, desvenlafaxina, duloxetina, lamotrigina, aripiprazol, sempre com resposta parcial e insatisfatória, ele sempre acabava voltando para fluoxetina 60mg/dia. Caso MBT Ficou estávelmente distimico até hoje, com melhora de alguns sintomas ansiosos com a associação com pregabalina. Sexualmente um pouco diminuido, apetite estável, desânimo crônico leve, falta de prazer na vida, memória ruim, concentração dificil. Apatia moderada. 08/04/2017 22 Paroxetina Meia-vida=21hs porém síndr. Retirada é intensa Ação noradrenérgica proeminente Efeitos sedativos e ansiolíticos proeminentes Efeitos anticolinérgicos e aumento de peso no curto prazo Paroxetina Alta potência serotoninérgica – eficácia diferencial para TOC / Pânico / Fobia Social Muitas interações medicamentosas – CYP 2D6 Dose plena: 40 mg Dose máxima: 80 mg + 08/04/2017 23 Caso NCS Masc., 45 anos, casado, gerente admnistrativo Há 6 meses crises de mal estar e dor precordial, com muita depressão e ansiedade, desânimo, pesadelos recorrentes (sonhava sempre sobre uma reunião em que foi destratado pelo chefe diante da equipe), crises de taquicardia e mal estar que o levavam para o PS, ficava internado na UTI cardiológica, e tinha alta sem nada. Aumento de peso (10 kg), perda do desejo sexual, sem esperança, com ideação suicida, sem nenhuma capacidade de concentração, só ficava assistindo TV sem se importar com o programa. Já tinha feito uso de escitalopram (não melhorou nada, só deu mais apatia), sertralina (piorou os ataques de pânico), abusava de clonazepam (8mg/dia, sem efeito). Usava enalapril, atorvastatina, fenofibrato. Caso NCS Tratamento: Lítio até 600mg/dia Pregabalina até 600mg/dia Paroxetina até 60mg/dia Minipress 1mg/dia (para pesadelos) 08/04/2017 24 Caso MFR 55 anos, fem, solteira, médica Depressão desde 35 anos, muita angústia, pensamentos obsessivos graves, de matar pessoas, e sensação de exalar cheiros, que a fazia evitar contato social, ou ter o contato com muito sofrimento. Pensamentos antecipatórios catastróficos para atividades habituais (ir para reuniões, apresentar casos em seminários). Sono aumentado, ganho de peso progressivo. Aceleração do pensamento, por vezes não conseguia acompanhar o seu pensamento, uma condição angustiante para ela. Fases de agitação psicomotora moderada, inquietação subjetiva desagradável, improdutiva. Nos primeiros anos, teve boa resposta com paroxetina, tomando por 15 anos, depois perdeu efeito, e começou a trocar de antidepressivos (sertralina, fluoxetina, venlafaxina, desvenlafaxina, duloxetina, mirtazapina, mianserina, tianeptina, bupropiona, clomipramina, maprotilina, lamotrigina, litio, quetiapina). Casos MFR Teve resposta adequada com fluvoxamina 250mg + aripiprazol 3,75mg, apesar de sentir os pensamentos controlados, tinha muito cansaço e sono durante o dia, e sono atribulado à noite. Pregabalina causou aumento da sexualidade, melhora por poucos dias, e piora grave de crises de pânico e desespero. Evoluiu com melhora com o retorno da paroxetina até 50mg/dia + aripiprazol 3,75mg, com melhora nítida o animo e disposição, sem aumento específico do apetite, apesar de não conseguir perder peso. 08/04/2017 25 Sertralina Efeito dopaminérgico leve (em doses altas) = mais ativação, energia Alta afinidade receptor sigma-1 – provavelmente antagonista Efeito anticolinérgico mínimo Até 100 mg, baixo risco de interações medicamentosas (em 2D6) – aumenta um pouco tricíclicos Sertralina Alta potência e boa tolerabilidade Meia vida=26hs Mais estudos em pacientes cardiopatas – sem eficácia comprovada Mais usada em gestação – segurança cada vez mais bem estabelecida na gestação e lactação Dose plena: 100 mg; Dose máxima: 300 mg + Efeito anti-fúngico – como potencializador para tratamento de criptococose (Rhein e cols., 2016) 08/04/2017 26 Caso PPC 30 anos, sexo fem, separada, aux administrativa Há 2 anos, mais desanimada, após processo de separação, tem dificuldade para trabalhar, ficou desempregada e não tinha disposição para procurar emprego, ficava na cama de dia, sono desregulado à noite, tristeza intensa, sem ideação de morte. Alguma dificuldade de concentração, não era uma grande queixa. Sem vontade de atividades de lazer. Tinha momentos de irritação intensas, sem aceleração do pensamento ou outros sintomas hipomaníacos. Alguns momentos em que se sentia perseguida, mas eram leves. Sem sintomas obsessivos ou de pânico. Fez uso de citalopram, sem efeito. Fez uso de amitriptilina, com aumento de peso, sonolência excessiva Caso PPC Introduzido Sertralina até 100mg, com melhora do ânimo e disposição parcial, certa apatia para atividades de lazer, boa concentração, leve agitação psicomotora sem impulsividade. Conseguiu emprego, evoluiu com piora da ansiedade, excesso de preocupações, tensão e irritabilidade. Dias que queria fazer muitas coisas ao mesmo tempo, conseguia terminar diversas atividades, mas se desgastava muito, pelo cansaço e pela tensão de estar fazendo muitas coisas. Bem falante, mais impulsiva para gastos nestes dias. Engordou muito (5 kg) Foi introduzido oxcarbazepina até 600mg, ficou mais calma, mas ainda ansiosa e um pouco mais desanimada. Com aumento da sertralina para 150mg/dia, ficou mais animada e menos ansiosa. 08/04/2017 27 Caso JDP 63 anos, viuvo, masc., aposentado, torneiro mecânico Depressão depois que se aposentou há 3 anos. Desânimo forte, alguma tristeza, sem perspectivas de futuro, com idéias de suicídio, já tinha tentado uma vez há 2 anos, logo no começo do quadro, com medicamento, não deu certo, mas ainda pensava. Não sentia prazer em nada, não queria procurar os amigos, só queria ficar em casa. Sono de má qualidade, dificuldade para pegar no sono. Comia sem problemas, comer era “rotina”. Não tinha pensamentos negativos ou preocupações, só não via sentido em nada. Já tinha começado com fluoxetina até 60 mg/dia e citalopram 40mg/dia (medicamento atual), com resposta muito insatisfatória. Caso JDP Tinha hipertesão arterial, usava hidroclorotiazida 50mg, controlada. Foi iniciada sertralina até 100mg. Após 6 semanas, paciente relatou que não houve mudanças, talvez tenha ficado um pouco mais calmo. Foi aumentada a dose gradualmente até 300mg em 4 semanas. O paciente foi gradualmente relatando melhoras na energia, no interesse nas atividades, mas só se percebeu realmente melhorado após 3 mesescom 300mg de sertralina por dia. Sentiu um pouco de cefaléia, não houve alteração cardiovascular. 08/04/2017 28 Citalopram Menor risco de interação medicamentosa de todos os ISRS Maior seletividade para serotonina (pouca ação em outros sistemas de neurotransmissão) Boa tolerabilidade e alta segurança na associação medicamentosa Dose plena: 40 mg Dose máxima: 60 mg + (proibido nos EUA – toxicidade cardíaca em pacientes sensíveis) Escitalopram Levógiro do citalopram Mais potente (eficácia antidepressiva) que citalopram Mesmas características farmacocinéticas do citalopram Talvez menos efeitos adversos Dose plena: 20 mg Dose máxima: 40 mg + 08/04/2017 29 PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Sanchez, 2006 Caso MPT 40 anos, fem., separada, 2 filhos, despachante. Paciente teve episódio depressivo há 10 anos, com boa resposta inicial com citalopram 20mg/dia. Quadro depressivo era caracterizado por ansiedade proeminente, irritabilidade, perda do interesse em lazer, tristeza moderada episódica, desânimo importante. Com o citalopram, ficou mais calma, até um pouco apática, mas conseguiu enfrentar o trabalho estressante sem problemas, mais calma, com menos irritação. Ficou bem por até há 3 meses, quando trocou de psiquiatra, que avaliou queixas de forma mais ampla e questionou sua aparente apatia afetiva e falta de desejo sexual. Ele sugeriu trocar por escitalopram, e explicou que a medicação era a mesma molécula, mas purificada e mais potente. 08/04/2017 30 Caso MPT A paciente utilizou o escitalopram até 15mg, e desistiu da medicação, por tê-la deixado mais agitada, inquieta e até irritada, com mais insônia e ansiosa. Começou a se irritar com os clientes, brigas com seus filhos, não se suportava. Ela preferiu voltar para o citalopram, que a deixava mais calma, e voltou a se sentir “funcional”. Caso HI 85 anos, masc., casado, 3 filhos, aposentado. Paciente sempre foi muito positivo, animado, “uma fortaleza”, segundo a família. Há 5 meses, começou a ficar mais amuado, quieto, ia para o trabalho mas ficava parado, só fazendo o básico. Não evitava ninguém, gostava quando os filhos e netos o visitavam, mas começou a ficar mais preocupado, com medo de coisas que não se preocupava, com assalto, problemas de saúde. Ficou mais apático, às vezes falava que não era mais o mesmo, que a sua hora estava chegando. 08/04/2017 31 Caso HI Foi introduzido sertralina 25mg, o paciente no dia seguinte ficou mais confuso, desorientado, com retenção urinária, ansioso e inquieto, não conseguiu dormir direito, chegou a não reconhecer direito onde estava. Este quadro permaneceu mais 5 dias, quando foi suspenso por orientação médica. O quadro de confusão mental remitiu em 1 semana. Foi introduzido em sequência o escitalopram 5mg, que não causou confusão mental, e com 2 semanas o paciente começou a sentir melhora na atividade mental e física, saindo parcialmente da apatia. Ligação dos Antidepressivos a SERT/DAT/NET PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 08/04/2017 32 Ligação de alguns antidepressivos a outros receptores Fluvoxamina Uso em Depressão maior, transtorno obsessivo compulsivo, T. Pânico, Fobia social Muita interações medicamentosas Efeito sigma1- neuroprotetor, pro-cognitivo Dose plena: 100 mg Dose máxima: 300 mg + 08/04/2017 33 HGM Westenberg, et al. Int J Clin Pract. 2006 April;60(4):482-491. Hayashi T J Pharmacol Sci. 2015 Jan;127(1):2-5. Antg Ago Ago Ago Ago Antg = Antagonismo ou Bloqueio Ago = Agonismo ou Estimulação Fluvoxamina: ISRS com agonismo sigma-1 Sigma-1 Chaperones moleculares (ou proteínas de estresse): estabilizam e corrigem a formação (espacial) de proteínas Sigma-1 Proteína com 223 aminoácidos; Localizado no retículo endoplasmático (RE); Pode se deslocar para a membrana celular; Estabiliza receptor IP3(inositol tri-fosfato) do canal de cálcio do RE; Ação preferencial próximo às mitocôndrias. Hayashi 2015 Alta expressão em hipocampo, amigdala, locus coeruleus, cortex frontal, bulbo olfatório, septum, cerebelo e substância negra Diminui o estresse sobre o retículo endoplasmático Aumento das taxas oxidativas intracelulares aumentam o estresse sobre o retículo endoplasmático. Controla erros de produção proteica 08/04/2017 34 Receptor Sigma-1 223 aminoacidos Membrana Celular Sigma-1 = Proteína: Chaperone e Receptor Hayashi , 2015 Duncan & Wang, Exp Eye Res 2005 Figura 4 - funções moleculares do receptor sigma1. O receptor sigma-1 fica acoplado às membranas do retículo endoplasmático (RE) associados às mitocôndrias, realizando atividade chaperone estabilizando proteínas do RE; regulando o influxo de cálcio intra-mitocôndria após produção de ATP; estabilizando o estresse do RE e estimulando a sinalização para sobrevivência celular; suprime a formação de espécimes oxigênio-reativas (ROS) e ativação de NFκB, diminuindo a sinalização para inflamação local e sistêmica; regula o processamento e transporte do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). Receptores Sigma-1 nas Doenças NeuroPsiquiátricas Sigma-1 está diminuído em Doença de Alzheime (Stahl, 2008)r; Sigma1 desliga a ativação de micróglia em situações neurodegenerativas (Moritz e cols., 2015) Sem diferenças de eficácia com risperidona e yokukansan para tratamento de pacientes com Alzheimer; risperidona pior tolerado (Teranishi e cols., 2013) Sigma-1 está diminuído em Doença de Parkinson (Stahl, 2008); Fluvoxamina normaliza atividade inflamatória neuronal (por citocinas) em modelos animais de Parkinson com depressão (Dallé e cols., 2017) Esclerose múltipla Diminui o processo inflamatório associado à demielinização em modelo experimental de esclerose múltipla (Oxombre ecols., 2015) AVC Fluvoxamina diminui volume de infarto cerebral e melhora disfunção sensoriomotor em modelos de AVC (Sato e cols., 2014) Sigma-1 está diminuído em Esquizofrenia (Stahl, 2008). Potencialização de antipsicóticos pela fluvoxamina pode melhorar sintomas cognitivos em esquizofrênicos (Stahl, 2008) Metanalise de ensaios randomizados controlados com potencialização do tratamento da esquizofrenia pela fluvoxamina (Kishi e cols., 2013) 6 estudos Melhora dos sintomas gerais e sintomas negativos; sem melhora de sintomas depressivos ou positivos 08/04/2017 35 Estudos pré-clínicos avaliando potencial cardioprotetor do receptor sigma-1 Sigma-1 e fluvoxamina – outros potenciais terapêuticos Efeitos anti-anedônicos (relacionado ao sinergismo serotonina-sigma1) (Hasebe e cols., 2016) Fluvoxamina aumenta efeito dopaminérgico pre-frontal pelo sinergismo 5HT1a-sigma1 em condições de baixos níveis de neuroesteróides (e inibição GABA) (Ago e cols., 2016) Protege contra lesões associadas a reperfusão renal após isquemia renal (Hosszu e cols., 2017) 08/04/2017 36 Caso SMS (longo) Identificação ◦ SMS, 55 anos, divorciada, católica não praticante, professora Ensino Médio aposentada QUEIXA E DURAÇÃO: ◦ Depressão e aumento de peso há 25 anos HISTÓRIA DAS MOLESTIA ATUAL Há 25 anos, um dia após um assalto, apresentou um ataque de pânico, que evoluiu com uma depressão importante (perda de peso, insônia inicial e terminal, ficava na cama o dia inteiro, muita angústia, medo de catástrofes, preocupação excessiva com a saúde dos pais, irritabilidade, problemas para se concentrar a ponto de não conseguir dar aulas). Tratou na época com fluoxetina 60mg/dia, com melhora lenta, levando seis meses para atingir remissão. Ficou se tratando por mais um ano, suspendeu o medicamento por conta própria, e passou bem, sem queixas, por 10 anos. Caso SMS Há 15 anos, após separação do primeiro casamento, recaiu em um outro quadro depressivo, desta vez com idéias de ruina, desesperança, achava que não conseguiria viver sozinha e cuidar da sua filha, sem idéias de morte ou suicídio. Novamente, apresentou sintomas melancólicos (insônia e inapetência), e ficou lentificada e sem concentração, precisando se afastar do trabalho. Nãoteve ataques de pânico, mas tinha medo de sair de casa, como se algo catastrófico pudesse acontecer. 08/04/2017 37 Caso SMS Iniciou o tratamento da depressão com escitalopram até 20 mg/dia, com melhora parcial, já não estava angustiada, mas ficava desanimada para atividades que dessem prazer, sem muito desejo sexual, sem muita atitude diante de problemas em geral, esperava que os outros resolvessem problemas por ela (burocracia, imposto de renda, e outros). Conseguia trabalhar, mantinha uma vida social normal, porém evitava ir viajar, e muitas vezes ficava em casa mesmo com convites de amigos ou familiares para sair. Caso SMS Com o decorrer dos anos, ela ganhou 35 kg, chegando a 95 kg, com grande preferência por doces e carbohidratos. Tentou alguns psiquiatras diferentes, tentou trocar de medicamentos, como paroxetina, sertralina, citalopram, clomipramina, venlafaxina, duloxetina, em geral com evolução pior e/ou apresentava mais efeitos adversos, como tremores, enjôo excessivo, cefaleia, irritação, ou piora da insônia. Sempre acabava voltando para o escitalopram, que a tirava do “fundo do poço”, mas a deixava “meia boca”. 08/04/2017 38 Caso SMS Tem casa na praia, mas não tinha vontade de ir. Era comum ter sono inadequado, acordava sempre cansada. Muito ansiosa sempre, fumava demais, 2 maços por dia. Tinha muitos pensamentos preocupantes, com tudo à sua volta, sentia que não suportaria a pressão dos pensamentos, sentia-se frágil e incapaz, qualquer compromisso era excessivamente desgastante. Sentia-se apática, não conseguia reagir a nada, sentia tristeza e não conseguia chorar. Sempre quis controlar a vida de todos, da sua mãe, da irmã, da filha, do namorado, quando este viajava, ficava desesperada, querendo saber se ele tinha chegado bem. Caso SMS Sempre foi muito supersticiosa, se uma pasta caia virada com a capa para baixo, algo horrível poderia acontecer, mas não pensava muito nisso, não perdia tempo, o desconforto passava rápido. Negou sintomas hipomaníacos, outros sintomas obsessivos, sintomas auto-referentes ou alucinatórios. Negou impulsividade. 08/04/2017 39 Caso SMS Nos últimos meses, piorou a angústia e o desânimo, mesmo com escitalopram 20mg/dia, ficava aflita com qualquer notícia ruim que ouvia na TV ou rádio, ficou cada vez mais reclusa em casa, evitando amigos, sem lazer nenhum. Concentração muito ruim, não conseguia ler livros, que adorava. Estava recentemente muito pessimista, achando que a aposentadoria dela recente não seria suficiente para a sua vida, que poderia perder a sua casa. Já não comia muito, estava sem apetite, mas não emagrecia. A apatia a torturava. Dormia bem. Caso SMS Interrogatório sobre os diversos aparelhos ◦ - Hernia de disco lombar, só usava emplastros para tratar. ◦ - Dor no corpo todo, intenso e constante. ◦ - menopausa: usava reposição hormonal ◦ - hipercolesterolemia: usando atorvastatina ◦ - Hipertensão arterial sistêmica: usando atenolol. ◦ - hipotireoidismo: usando levotiroxina sódica. ◦ - mal estar gástrico: usava óleo de linhaça 1 cps por dia, com controle aceitável ◦ - diabetes mellitus: leve, às vezes o clinico pedia para tomar metformina, estava usando atualmente. 08/04/2017 40 Caso SMS Antecedentes pessoais ◦ Teve câncer de colo de útero há 5 anos, fez cirurgia curativa (histerectomia). Antecedentes familiares ◦ Não conheceu o pai (pai abandonou quando ela nasceu), sem informações da família do mesmo. ◦ Mãe tem depressão e transtorno do pânico ◦ Uma irmã mais velha (57 anos), muito ansiosa, e gostava de um vinho (hábito muito firme, sem prejuízos). Hábitos: ◦ Fumava 2 maços de cigarros por dia há 30 anos ◦ Nega uso de álcool (não gosta), de outras drogas ilícitas. Sempre consegue comprar clonazepam 2mg, com ou sem receita, usava uma a três vezes por semana. Caso SMS Com fluvoxamina até 100mg, e suspensão do escitalopram, apresentou melhora importante da disposição e da apatia. Teve alguns ataques de pânico noturnos leves, controlados facilmente com clonazepam, não a preocuparam, depois não vieram mais. Relatou que conseguia chorar quando se emocionava, já não lembrava o que era isso. Mais corajosa, queria ir para praia. Dormindo melhor. Em 6 meses, perdeu 10 kg. Melhoraram a disposição e a sexualidade. Sentiu-se mais emotiva, ficou feliz por conseguir chorar em situações normais, como filmes tristes, o que sempre foi sua característica. Os pensamentos catastróficos ainda continuavam vindo com frequência, porém não a abalavam tanto, e levou alguns meses para desaparecerem. Conseguiu se desprender mais da mãe e da filha, conseguia pensar mais na sua própria vida. Não tinha percebido alteração no desejo sexual, uma vez que tinha conseguido se separar do namorado, e não estava preocupada com sexualidade. Melhor concentração, conseguia ler livros com muito prazer. 08/04/2017 41 Caso AMC Identificação ◦ AMC, 78 anos, viuva, católica não praticante, auxiliar administrativo, aposentada QUEIXA E DURAÇÃO: ◦ Depressão há 40 anos HISTÓRIA DAS MOLESTIA ATUAL Após a morte do marido precocemente, há 40 anos, iniciou quadro de insônia inicial, intermediária e terminal, perda total da capacidade de sentir prazer, ansiedade extrema, cansaço, sensação de culpa, e inapetência com perda de peso importante (8 kg). Foi tratada inicialmente com imipramina até 350mg/dia, com boa resposta. Sempre manteve medicamentos, com raros episódios de suspensão (foram três em toda a vida, sempre com recaída em poucas semanas). Caso AMC Nos episódios de recaída, o quadro depressivo era sempre o mesmo, porém o tratamento anterior não conseguia recuperar o quadro, sendo necessário trocar o esquema terapêutico (clomipramina, venlafaxina, venlafaxina e carbonato de litio). Nestes episódios, foram tentados alguns antidepressivos sem sucesso, como fluoxetina, amitripitilina, amineptina e sertralina. Entre os episódios, conseguiu manter uma vida ativa e normal. Tinha muitos efeitos adversos, como boca seca e intestino preso, inclusive com venlafaxina. Ela se manteve estável sem recaídas com venlafaxina 225mg/dia + carbonato de litio 600mg/dia por 10 anos. 08/04/2017 42 Caso AMC Há 8 meses, teve dois episódios de síncopes em um espaço de tempo de duas semanas, com queda da própria altura, possivelmente com perda do nível de consciência súbita e breve. Uma semana após, a paciente apresentou quadro confusional agudo, em que se viu no meio da rua, subitamente desorientada, sem saber o próprio nome, e onde se encontrava, e precisou da ajuda de vizinhos para conseguir voltar para a casa. Foi levada para o pronto socorro, onde foram feitos exames de tomografia computadorizada de crânio, raio X de pulmão, ultrassonografia abdominal, sem alterações, recuperando-se plenamente após algumas horas. Ressonancia nuclear magnética de crânio foi realizada em regime ambulatorial, apresentando leucodistrofias esparsas por todo o encéfalo, com predomínio em substância branca. Caso AMC Após estes episódios de síncopes e confusão mental, a paciente apresentou piora importante do quadro depressivo, apresentando novamente um quadro melancólico, com inapetência e insônia, culpa excessiva, medo contínuo, com necessidade de ter alguém sempre junto com ela, e muita lentificação psicomotora. Não conseguia tomar banho sozinha, precisava de ajuda para se alimentar, com muito esforço por parte das acompanhantes, pois ela recusava alimentação. A memória continuava adequada, apesar de quase não falar, pois ela prestava muita atenção no que os familiares falavam, e criticava quando algo estava sendo feito sem a sua anuência, principalmente para problemas familiares que envolviam dinheiro. Tinha muita dificuldade para achar palavras. 08/04/2017 43 Caso AMC Apresentava descoordenação motora inespecífica, às vezes tinha dificuldade de vestir roupas ou se despir no banheiro, às vezes conseguia. Apresentava-se trêmula a maior parte do tempo. Começou a ter perdas urinárias durante o dia. Às vezes se desorientava dentro da própria casa, não sabendo qual era a direção correta dobanheiro. Apresentava apatia extrema. Ficava onde deixavam-na, no sofá, na cama. Perguntava a mesma coisa várias vezes. Foi avaliada pelo neurologista, que não observou perda da capacidade de memória recente, ou distúrbios neurológicos especificados. Foi tentada associação com mirtazapina 30mg, com melhora parcial do sono apenas, e de amissulprida 50mg, com piora do quadro depressivo. Interrogatório sobre os diversos aparelhos ◦ - Hipertensão arterial sistêmica: usando captopril ◦ - hipotireoidismo: usando levotiroxina sódica. Antecedentes pessoais ◦ Teve tuberculose pulmonar aos 25 anos, tratada com sucesso na época. Antecedentes familiares ◦ Pai era severo, tinha bronquite asmática, não teve depressão. ◦ Mãe faleceu em parto de seu irmão mais novo, aos 30 anos de idade ◦ quatro irmãos, todos falecidos, três com história de depressão, ela era a caçula. ◦ Três filhos, os dois mais velhos (homem de 55 e mulher de 50 anos) tratando de depressão. Hábitos: ◦ - fumou um maço de cigarro por 40 anos. Parou há 10 anos. ◦ - nega uso de álcool 08/04/2017 44 Caso AMC Com fluvoxamina até 150mg, e diminuição da dose de venlafaxina para 75mg e mirtazapina para 15mg, mantendo o litio em 600mg/dia, a paciente apresentou melhora lenta porém consistente dos sintomas depressivos, até atingir a remissão da depressão em 4 meses. A paciente voltou a querer pegar ônibus sozinha, não queria mais acompanhante, queria cuidar da sua vida domestica e financeira, mantendo a capacidade cognitiva plena. Trazodona Inibidor fraco de recaptura de serotonina (ação plena em 150-300mg) Bloqueador receptor 5HT2A e 2C Não tem efeitos anticolinérgicos relevantes meia vida 6 hs (lib. prolong=12hs) Não altera peso e sexualidade Priapismos (raro) e hipotensão postural – bloq alfa1 Aumento QTc e torsade de pointes em superdosagens/pacientes sensíveis Uso como indutor de sono; como antidoto para efeitos adversos serotoninérgicos Fagiolini e cols., 2012 08/04/2017 45 TRAZODONA Stahl, 2013 Neurofisiologia da sexualidade e 5HT PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 08/04/2017 46 PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT2A ↓ Neurofisiologia da sexualidade e 5HT PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT2A ↓ Bloq 5HT2C↑ Via DA Neurofisiologia da sexualidade e 5HT 08/04/2017 47 PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG 5HT2A ↓ Bloq 5HT2C↑ Via DA Neurofisiologia da sexualidade e 5HT 5HT1A ↑ Efeitos na sexualidade das drogas serotoninérgicas: pioras e melhoras PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG H. Graf et al. / Pharmacology, Biochemistry and Behavior 121 (2014) 138–145 08/04/2017 48 EFEITOS ADVERSOS Disfunção Sexual METANÁLISE: DISFUNÇÕES SEXUAIS INDUZIDAS POR ANTIDEPRESSIVOS COMPARADOS A PLACEBO Serretti A, Chiesa A. J Clin Psychopharmacol. 2009;29:259-61 Pa cie nte s c om di sfu nç ão se xu al (% ) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0,22 0,25 0,46 0,75 2,32 3,27 3,44 4,36 6,43 7,24 15,59 16,86 20,27 24,82 27,43 0,46 Moc Ago Ami Bup Mir Fluv Esc Dul Fen Imi Flu Par Cit Ven SerNef Pla Moclobemida (n=26) Agomelatina (n=228) Amineptina (n=29) Nefazodona (n=50) Bupropiona (n=645) Placebo (n=605) Fluoxetina (n=1718) Paroxetina (n=1261) Citalopram (n=654) Venlafaxina (n=610) Sertralina (n=970) IC 95%; Razão de chance (OR) comparada ao placebo, acima de cada símbolo Mirtazapina (n=49) Fluvoxamina (n=244) Escitalopram (n=305) Duloxetina (n=274) Fenelzina (n=24) Imipramina (n=54) 08/04/2017 49 Caso JB 65 anos, masc., separado (namorando), aposentado, corretor de imóveis. Paciente já tinha tido 2 episódios de depressão com muita ansiedade, desânimo moderado, insônia inicial, pouca tristeza, tensão e preocupação gerando angústia, dor de cabeça, problemas de concentração, perda da libido, e pensamentos catastróficos, além de baixa auto-estima e tendência ao isolamento social. Tratou no passado com fluoxetina na primeira vez e sertralina na segunda vez, parou depois de menos de um ano de uso, pois não suportava os efeitos sexuais, chegava a ter impotência, viagra ajudava pouco. Procurou ajuda psiquiátrica por recaída depressiva, quadro similiar, talvez com mais apatia e indisposição física (cansaço). Atribuia boa parte do mal estar e cansaço às noites mal-dormidas. A ansiedade estava alta, mas não era a maior preocupação. Ele estava com uma namorada nova, e não queria “perder o bonde”. Caso JB Conduta: introduzido trazodona até 100mg/dia. Ele evoluiu com melhora do sono, e relatou ter ereções espontâneas dolorosas (levemente). Quando orientado para suspender a trazodona, ele se recusou, pois achou o medicamento “muito bom”, e falou que conseguiria aguentar. Com o passar das semanas, a dor desapareceu, e o paciente cficou estável com trazodona 100mg/dia. 08/04/2017 50 Caso RGS 31 anos, masc, namorando, musico, 3 grau incompleto Paciente com episódios depressivos com grande agitação psicomotora, agressividade, impulsividade, abuso de álcool, angústia e comportamento suicida, desde os 22 anos, com perídos de eutimia e hipomania (energia aumentada, falante, sexualmente mais ativo, queria fazer muitas coisas e não conseguia terminar nada). Muitos sintomas obsessivos de limpeza e checagem. Ficou equilibrado com quetiapina400mg e lítio 600mg, melhorava da ansiedade e depressão com clomipramina 150mg/dia, porém abandonava o antidepressivo devido ao forte efeito sexual (anorgasmia e diminuição da libido). Foi tentado escitalopram, fluoxetina e sertralina, sempre com a mesma queixa. Foi optado por trazodona, que no início deu muito sono, porém para tentar ter algum efeito anti-obsessivo, foi aumentado para 300mg/dia. O paciente relatou diminuição da sonolência, melhora da questão sexual (não ficou normal, mas era bem melhor), um pouco de sintomas obsessivos, e bem estar no geral. Queixou-se de perda do olfato. Ele abandonou o tratamento após 6 meses, por falta de dinheiro. Vilazodona: mecanismo de ação no neurônio serotoninérgico Pierz, Thase 2014 08/04/2017 51 Vilazodona: aspectos clinicos 1Hellerstein e Flaxer, 2015; 2Mathew e cols., 2015; 3Thase e cols., 2014 4Gommol e cols, 2015 Indicações/ef. adversos evidências Eficácia TDM vs placebo É eficaz para resposta (50% de melhora) e remissão (sintomas depressivos mínimos/ausentes) em relação a placebo1 Depressão com ansiedade Pode ser mais eficaz para depressão com ansiedade proeminente3 TAG (T. Ansiedade Generalizada) Eficaz para Transtorno de Ansiedade Generalizada (1 estudo controlado com placebo)4 Efeitos sexuais Pode ser um dos antidepressivos com poucos efeitos sexuais; 1 estudo comparando com citalopram não observou diferença2 Aumento de peso Não há relatos de alteração de peso com vilazodona (estudo mais longo: 10 semanas)1 Vortioxetina: ação farmacodinâmica Inibe recaptura de serotonina = ↑ serotonina agonista 5HT1a; Agonista parcial 5HT1b; antagonista de receptores 5HT3, 5HT7 e 5HT1d ◦ Maior liberação de serotonina que outros ISRS (5HT3/1b/1d/7) ◦ Tempo de diminuição dos disparos dos neurônios serotoninérgicos menor do que fluoxetina (5HT3/1a/?) ◦ ↑ Noradrenalina córtex pré-frontal medial (5HT1a/3) ◦ ↑ Dopamina córtex pré-frontal medial (5HT1a/?) ◦ -frontal medial (5HT1a/1b/3) ◦ ↑ Histamina córtex pré-frontal medial (5HT4?indireto) ◦ Vortioxetina reverte toxicidade do PCP (fenilciclidina) ◦ Diversas outras evidências de melhora de várias funções cognitivas em ratos para vortioxetina Sanchez e cols., 2015 08/04/2017 52 Vortioxetina É metabolizado por CYP2D6, CYP3A4/5, CYP2C9, CYP2C19, CYP2A6, CYP2C8, CYP2B6 Não interage com nenhum CYP450 – não aumenta nenhum medicamento Bupropiona aumenta vortioxetina Distúrbios cognitivos associados a transtornos mentais 08/04/2017 53 Importância dos sintomas cognitivos na depressão Sint. Cognitivos são comuns ◦ Entre 60-90% das depressões apresentam sint. cognitivos Sint. Cognitivos podem permanecer após remissão da depressão◦ Até 50% dos pacientes apresentam queixas cognitivas após remissão Sint. Cognitivos estão fortemente associados com prejuízos na funcionalidade mesmo após remissão ◦ Problemas no trabalho, no ambiente doméstico e no social McIntyre e cols., 2013 08/04/2017 54 Qual é o impacto dos antidepressivos na cognição de pacientes depressivos? Veloc. Process. Função execut. atenção Aprendizagem, memória 08/04/2017 55 Vortioxetina e TAG Um estudo duplo cego controlado com placebo, não diferenciou de placebo (Mahableshwarkar e cols., 2014) Vortioxetina, sexualidade e aumento de peso Aumento de peso mínimo no curto e longo prazo (52 semanas) (Alam e cols., 2014) Vortioxetina vs escitalopram ◦ Vortioxetina com significativa melhora de sexualidade em comparação com escitalopram (Jacobsen e cols., 2015) 08/04/2017 56 Tratamento da Depressão – princípios básicos Caso Patricia Patrícia, 34 anos, 2 filhos, 2 grau completo, aux. administrativo “Dr(a)., estou muito cansada, não durmo bem, tenho dores pelo corpo, e meu marido reclama que eu não compareço à noite” Tristeza regular, todos os dias Pouco prazer, no máximo novela / sem desejo sexual Muito desânio, nem para diversão Ruim, esquece palavras, o que ia fazer Difícil pegar no sono, acorda cansada Aumentado apetite Às vezes agitada, mais vezes lenta Estou feia, velha, ninguém olha para mim Gosto de viver, mas agora quero fugir 08/04/2017 57 PATRÍCIA, 34 ANOS, 2 FILHOS, 2 GRAU COMPLETO, AUX. ADMINISTRATIVO CENÁRIO: CONSULTA DE CONVÊNIO, 10 MINUTOS “DR(A) . , ESTOU MUITO CANSADA, NÃO DURMO BEM, TENHO DORES PELO CORPO, E MEU MARIDO RECLAMA QUE EU NÃO COMPAREÇO À NOITE” ISDA: queixa-se de sintomas pré-menstruais (mal estar, inchaço, maior irritabilidade, mais choro); dores pelo corpo frequentes há 3 anos, uso irregular de anti-inflamatórios não hormonais; DIU para contracepção Antecedentes pessoais: 2 partos cesáreas, sem intercorrências Antecedentes familiares: mãe ansiosa e com insônia, usa cronicamente BZD. Pai bravo, nunca se tratou. Uma irmã mais nova, ativa e trabalhadeira, equilibrada. Filhas de 5 e 3 anos, sadias. Exame físico: n.d.n HD: Transtorno Depressivo episódio único leve-moderado Avaliação clinica: domínios? Indicação terapêutica? PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Caso Patricia 08/04/2017 58 EVIDÊNCIA CIENTÍFICA PLoS Med. 2008 Feb;5(2):e45. 08/04/2017 59 EVOLUÇÃO da Patrícia Prescrito Remotiv 250mg 3 vezes ao dia A) Quanto tempo esperar para avaliar efeito? EVOLUÇÃO da Patrícia Prescrito Remotiv 250mg 3 vezes ao dia A) Quanto tempo esperar para avaliar efeito? Se ausência de resposta em 2 semanas – 90% de não resposta em 6 semanas Se resposta ≥ 20% em 2 semanas – 40% de resposta em 6 semanas 08/04/2017 60 Remissão – o objetivo final do tratamento da Depressão Em estudos clínicos, apenas 25-35% dos pacientes atingem remissão1 Esperar apenas resposta ao tratamento pode trazer conseqüências prejudiciais, tais como: ◦ Aumentar o risco de recaída2 ◦ Aumentar comorbidades psiquiátricas e clínicas3 ◦ Aumentar o ônus funcional3 ◦ Aumentar o custos sociais e econômicos3 1. Nierenberg AA, et al. J Clin Psychiatry. 1999;60(22):7-11. 2. Paykel ES, et al. Psychol Med. 1995;25:1171-1180. 3. McIntyre RS, et al. Can J Psychiatry. 2004:49(1):10-16. DEPRESSÃO: FASES DO TRATAMENTO Adaptado de: Kupfer DJ. J Clin Psychiatry. 1991;52(suppl 5):28-34. Clinical Practice Guideline No. 5: Depression in Primary Care, 2: Treatment of Major Depression. 1993. AHCPR publication 93-0551. Eutimia Sintomas Síndrome Fases do tratamento Aguda (6 a 12 sem.) Continuação (4 a 9 meses) Manutenção (1 ano) Au m en to d a gr av id ad e Recaída Remissão RecorrênciaRecaída Resposta Tempo Mínimo Recomendado de Tratamento Recuperação META Risco de retorno dos sintomas depressivos se houver a suspensão do tratamento 90-100% 60-80% <20% 08/04/2017 61 EVOLUÇÃO da Patrícia Prescrito Remotiv 250mg 3 vezes ao dia A) DESFECHO B: resposta leve em 2 semanas, remissão em 6 semanas (PROBABILIDADE?) B) DESFECHO R: ausência de resposta em 2 semanas, dose dobrada, ausência de resposta em 4 semanas (PROBABILIDADE?) EVOLUÇÃO da Patrícia Prescrito Remotiv 250mg 3 vezes ao dia A) DESFECHO B: resposta leve em 2 semanas, remissão em 6 semanas (PROBABILIDADE?)=25-30% B) DESFECHO R: ausência de resposta em 2 semanas, dose dobrada, ausência de resposta em 4 semanas (PROBABILIDADE?)=70-75% Obs.: resultado semelhante com qualquer antidepressivo 08/04/2017 62 EVOLUÇÃO da Patrícia Prescrito Remotiv 250mg 3 vezes ao dia A) DESFECHO B: resposta leve em 2 semanas, remissão em 6 semanas (PROBABILIDADE?)=25-30% B) DESFECHO R: ausência de resposta em 2 semanas, dose dobrada, ausência de resposta em 4 semanas (PROBABILIDADE?)=70-75% O QUE FAZER? Para atingir a REMISSÃO com Antidepressivos (AD) 1- Otimizar doses ◦ Doses plenas (dose mínima eficaz) ◦ Doses máximas toleradas 2- tempo correto de tratamento ◦ Ao menos 8 semanas de doses plenas ◦ Ao menos 4 semanas de doses máximas toleradas Potencialização, Associação, Troca por antidepressivo de classe diferente... 08/04/2017 63 Fase 1 CITALOPRAM 30% REMISSÃO (15% nas primeiras 6 semanas) Fase 2 Fase 3 Fase 4 sertralina (27%) bupropiona (26%) venlafaxina (25%) +bupropiona (39%)* melhor tolerabilidade +buspirona (33%) mirtazapina (8%) nortriptilina (12%) +litio (13%)** maior taxa de descontinuação +T3 (25%) tranilcipromina (14%) Venlafaxina+mirtazapina (16%)*** Melhor tolerabilidade Não remissão Não remissão Não remissão Rush e cols., 2009 STAR-D (n=4041) REMISSÃO APÓS 4 FASES: 67% Fatores de resistência ao tratamento antidepressivo Má-aderência Uso por tempo e/ou dose inadequados Falhas diagnósticas (em 50% dos epis. depressivos: depressão bipolar) Co-morbidades médicas (doenças ou medicamentos) e psiquiátricas Efeitos adversos intoleráveis 08/04/2017 64 Caso - Antônio Antônio, 62 anos, 2 filhos, superior completo, empresário CENÁRIO: Consulta particular, 40 minutos “Dr(a)., estou muito cansado, não durmo bem, tenho dores pelo corpo, e estou impotente” HMA Infarto Miocárdio em 2010 – ICC leve + HAS Fibrilação atrial – quinidina, wafarina Depressão pós-infarto – sertralina 150mg Outros sintomas: tontura, descoordenação motora leve, tendência para quedas, constipação intestinalCheck list sintomas Sint. Desde a introdução da fluoxetina Humor Tristeza leve Anedonia Sem prazer em nada Cansaço/desânimo Cansaço total, muito acima do explicável pelo ICC Concentração/memória Muito ruins, não consegue guardar o que lê Sono Insônia inicial e final Apetite Sem alteração Psicomotricidade lentificado Pens. Negat. = culpa,menos valia pessimismo Pens. Morte/suicídio A vida não vale a pena, morrer seria bom 08/04/2017 65 Diagnóstico Prejuízo: Não consigo fazer nada, melhor seria morrer, nada me anima. Diagn. Exclusão: sem drogas ilíticas, abuso de álcool moderado DIAGNÓSTICO: Episódio depressivo grave Obs.: Recorrente? (já teve fase parecida antes? Quantas?) CONDUTA: ISRS? TRICÍCLICO? Tratamento da depressão pós-IAM e eventos cardiovasculares MIND-IT De Jonge et al., Am J Psychiatry, 2007 08/04/2017 66 Interações medicamentosas: inibição das enzimas do sistema citocromo P450 ANTIDEPRESSIVOS Inibição do Citocromo P-450 2D6 1A2 3A4 2C9 2C19 Amitriptilina + ++ 0 + +++ Clomipramina + ++ 0 + +++ Imipramina + ++ + + +++ Nortriptilina + 0 0 0 + Fluoxetina +++ 0 + ++ +++ Paroxetina +++ + + + + Fluvoxamina + +++ ++ +++ +++ Sertralina ++ (>100mg) + + + + Citalopram + 0 0 0 0 Escitalopram + 0 0 0 0 Venlafaxina +/++ 0 0 0 0 Duloxetina ++ 0 0 0 0 Mirtazapina 0 0 0 0 0 Bupropiona ++ 0 0 0 0 Reboxetina ++ 0 0 0 0 Trazodona 0 0 0 0 0 Lancet. 2009 Feb 28;373(9665):746-58. 08/04/2017 67 Eficácia vs. aceitabilidade Eficácia Probababilidade Cumulativa (%) Aceitabilidade Probababilidade Cumulativa (%) Mirtazapina 24,4 Escitalopram 27,6 Escitalopram 23,7 Sertralina 21,3 Venlafaxina 22,3 Bupropiona19,3 Sertralina 20,3 Citalopram 18,7 Citalopram 3,4 Milnaciprano 7,1 Milnaciprano 2,7 Mirtazapina 4,4 Bupropiona 2,0 Fluoxetina 3,4 Duloxetina 0,9 Venlafaxina 0,9 Fluvoxamina 0,7 Duloxetina 0,7 Paroxetina 0,1 Fluvoxamina 0,4 Fluoxetina 0,0 Paroxetina 0,2 Reboxetina 0,0 Reboxetina 0,1 Probabilidade do AD estar entre os 4 primeiros em eficácia ou aceitabilidade Adapt. Cipriani e cols., Lancet 2009 Caso Antônio Conduta? 08/04/2017 68 Outras drogas serotoninérgicas em psiquiatria Buspirona Melhor que placebo para o tratamento de TAG (Bohm e cols., 1990; Delle Chiaie e cols, 1995) Melhor que placebo para diminuir irritabilidade em autistas (usando risperidona) (N=40; Ghanizadeh e Ayoobzadehshirazi, 2015) Melhor que placebo para controlar migânea (N=74; Lee e cols., 2005) Efeito agonista pós e Pré sináptico – efeito inibidor pré-sinaptico pode retardar ação serotoninérgica – pode ser interessante quando se quer “modular” a ativação serotoninérgica mantendo um tônus discreto em serotonina. 08/04/2017 69 Tratamento da Ansiedade Generalizada: efeito de tamanho Medicamentos/classes Tamanho de efeito Pregabalina 0,5 Hdroxizina 0,45 IRSN 0,42 ISRS 0,38 buspirona 0,17 fitoterápicos -0,31 Hidalgo e cols., 2007 Outros efeitos adversos com Serotoninérgicos 08/04/2017 70 Sindrome Serotoninérgica Quadro pode ser precipitado por: ◦ Superdosagem de substância serotoninérgica (e.g. ISRS) ◦ Interação entre duas ou mais drogas que aumentem a atividade serotoninérgica Demetrio e cols., 2012 Mais em membros inferiores 08/04/2017 71 Sindrome Serotoninérgica: diagnóstico diferencial Volpi-Abadie J, Kaye AM, Kaye AD. Ochsner J. 2013 Winter;13(4):533-40. Sindrome serotoninérgica: manejo Volpi-Abadie J, Kaye AM, Kaye AD. Ochsner J. 2013 Winter;13(4):533-40. 08/04/2017 72 Próximo Tópico: Dopamina PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG
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