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PSICOFARMACOLOGIA AVANÇADA Módulo III – Fisiologia e Farmacologia da Dopamina PROF. DR. TENG CHEI TUNG COORDENADOR DO SERVIÇO DE INTERCONSULTAS E PRONTO SOCORRO– IPQ – HC – FMUSP PROF. COLAB. DPTO. PSIQUIATRIA DA FMUSP MÉDICO SUPERVISOR – HC – FMUSP MEMBRO DA ABRATA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FAMILIARES, AMIGOS E PORTADORES DE TRANSTORNOS AFETIVOS COORDENADOR DA COMISSÃO DE EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA DA ABP DOUTORADO - FMUSP PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG Metabolismo da Dopamina Andreou e cols., 2014 Vias dopaminérgicas 5000.000 neurônios DA Sinapse Dopaminérgica Nestler e cols., 2015 Dopaminérgicos Inibidores de recaptura de dopamina ◦ Bupropiona ◦ Metilfenidato Agonistas de receptores de dopamina ◦ Pramipexol Inibidores da MAO-B ◦ Selegilina Aceleradores de degranulação (instabilizadores de vesículas) ◦ Lisdexamfetamina Bupropiona Noradrenérgico e dopaminérgico Também usado para diminuir fumo Mantêm o peso normal ou mais baixo Risco de tremores, enjôo, cefaleia, irritabilidade, tontura, taquicardias Maior risco de convulsão (acima de 450mg/dia ou interações de risco) Pequeno risco de enzimas hepáticas elevadas Interação com álcool – metabólitos da bupropiona potencializam álcool Metabolização – 2B6 (análogo a 2D6) Pode diminuir ciclosporina, digoxina Bupropiona Aumenta a conectividade funcional do Default Mode Network (Rzepa e cols, 2017) Metabólito Hidroxibupropiona parece ser central no efeito de cessação do fumo (via CYP2B6) Naltrexona 36mg+bupropiona 360mg para obesidade (Saunders e cols., 2016) Bupropiona pode piorar ou melhorar ataques de pânico em pacientes com Transtorno do Pânico (Simon e cols., 2013) RA fem 40 anos medica sem filhos Sempre muito ansiosa, teve ataques de pânico leves durante adolescência até 25 anos, equilibrava com clonazepam 1 a 3 gotas s/n Dormia demais, preocupação excessiva com peso e alimentação, sempre magra Sentia-se agitada, era mais rapida que as outras pessoas, raras vezes ficava empolgada. Sem problemas de atenção, concentração. Aos 28 anos, após separação marital, apresentou piora importante de sintomas depressivos, com maior tristeza, desânimo e fraqueza fisica intensos, desinteresse por tudo, sonolência excessiva diurna e noturna. A ansiedade e as preocupações aumentaram proporcionalmente com os prejuizos percebidos (dificuldade para chegar ao trabalho no horário), às vezes com sintomas fisicos de ansiedade, sem ataque de pânico. RA fem 40 anos médica sem filhos Recebeu fluoxetina 40mg, com melhora discreta da ansiedade e piora importante da apatia, mantendo sonolência excessiva. O quadro não se modificou com sertralina 150mg e escitalopram 15mg (não suportou apatia do escitalopram). Com venlafaxina, melhorou parcialmente da apatia, porém excesso de sono piorou. Foi prescrito bupropiona 150mg, com aumento para 300mg em 6 semanas, com melhora importante da disposição, da sonolência, com leve apatia, conseguia trabalhar e se relacionar com as pessoas sem dificuldades (não se isolava mais) porém sem desejo de aumentar a intimidade (não quis mais namorar). 2 meses depois, apresentou piora dos sintomas ansiosos, com maior preocupação com tudo, um pouco de falta de ar e taquicardia, necessitando usar clonazepam diariamente, com tendência a aumento da dose. Foi prescrito gabapentina até 600mg/dia, com melhora da ansiedade. Metilfenidato Bloqueia recaptura de NA e DA Pico plasmático 2 hs; meia vida de 3-4 hs Metabolizado por CYP2D6 (não está muito claro) Multiplas interações com diversas medicações (e.g.aumenta warfarina, cilcosporina, tricíclicos) (Nevels e cols., 2013). Maior risco de eventos cardiovasculares, agressividade, mania e psicose Específico para quadros atencionais (TDAH) Doses clinicas: 10-80mg/dia Nevels e cols., 2013 Metilfenidato: apresentações farmacêuticas e efeitos clinicos Liberação imediata: efeito dura cerca de 4 horas Versão LA (Ritalina LA®) dois picos de liberação, picos plasmáticos 2 hs e 5-6 hs, duração em torno de 8 horas ◦ Versões com 10mg, 20mg, 30mg, 40mg Versão OROS® (Concerta® – cápsula rígida, com um embolo hidrofílico de expansão controlada, liberação controlada, ação por cerca de 10hs ◦ Versões com 18mg, 36mg, 54 mg Reações são individuais – avaliar todas as interações e níveis de metabolização Iniciar com Metilfenidato Lib. Imediata para acertar a dose média provável, testar outras versões para se observar resultado clinico. Pramipexol Agonista de receptor preferencial D3 Indicação: Doença de Parkinson; Sindrome das pernas inquietas; como potencializador na depressão bipolar (off label) Doses: 0,5 a 4,5mg (até 4,5mg para parkinson, 0,75mg para pernas inquietas) Sem metabólitos conhecidos, 90% recuperado da urina sem alteração Inibe CYP450 2D6, 1A2, 2C19 Ef. Adversos: enjoo, insonia, sonhos anormais, tontura, cefaleia, sonolência, constipação Relatos de reações de hiperssexualidade Pramipexol na depressão Pramipexol como POTENCIALIZADOR na depressão bipolar: evidências consistentes (Dell’Osso e Ketter, 2013) ◦ Capacidade de modular comportamentos de recompensa/aversão (diminui ambos diante de estímulos como chocolate e morango mofado (McCabe e cols., 2013) ◦ Efeitos colaterais no longo prazo – alterações do movimento? Pramipexol como POTENCIALIZADOR na depressão unipolar: um estudo duplo cego, eficácia e tolerabilidade comprovados, tamanho de efeito pequeno (Cusin e cols., 2013) MAC 58 anos masc afrodesc. Aposentado por invalidez Paciente com diagnósticos de hipertensão arterial de dificil controle, hipercolesterolemia, diabetes mellitus de dificil controle, obesidade Grau I (em uso de 10 medicamentos para o controle destas patologias) Episódio depressivo grave por 2 anos, psicótico, melancólico, com grave apatia, lentificação psicomotora, chegava a não ter forças para comer, para tomar banho. Insônia grave, perda de apetite porém sem perda de peso. Ficava restrito ao sofá e à cama, 6 meses sem sair de casa exceto para consultas médicas. Evitação social ativa, saia da sala para não encontrar visitas. Concentração péssima, não conseguia entender o que se passava na TV, ou passar um recado de telefone. Alucinações auditivas de cunho depressivo, falando para ele se matar. Negava ideação suicida Fez uso de fluoxetina, sertralina, venlafaxina (teve picos hipertensivos em doses usuais), amitripitilina, mirtazapina 30mg (só melhorou o sono, discreta melhora da angústia; insônia com 45mg). Com olanzapina, piorou a diabetes, assim como quetiapina, risperidona e ziprasidona, sem melhora do quadro psicótico. Melhora do quadro psicótico e resposta parcial da depressão com clozapina até 75mg/dia, porém mantinha lentificação, desânimo e apatia intensa com clozapina 75mg e mirtazapina 30mg. MAC 58 anos masc afrodesc. Aposentado por invalidez Foi iniciado pramipexol 0,25mg meio comprimido de manhã. Aumentada a dose para 1 cp em uma semana, e aumento de 0,25mg a cada semana, até chegar a 1,5mg/dia. Teve nauseas suportáveis. Apresentou notável melhora do quadro de apatia e desânimo, ainda sentia cansaço excessivo, porém já ajudava a varrer a casa, lavar a louça, e participar das atividades da vida diária da casa. RC 52 anos casada, 2 filhos, bancária afastada Timida, reservada, sempre elétrica, muitas coisas ao mesmo tempo, não conseguia terminar Era gerente de banco – só chorava, sempre muito tensa, preocupada (nunca pânico ou TOC) Depressão bipolar em tratamento há 6 anos ◦ Desespero, isolamento, pensamentos de morte ◦ Insônia inicial e intermitente ◦ Esquecimentos, cansaço crônico, apatia, irritação, sexualidade zero enjôos frequentes (magreza excessiva), anemia (menstruação excessiva), HAS Na primeira consulta: LTG 50mg+LiCR 1350mg+clonazepam2mg ↑LTG para 200mg+ mirtazapina 30mg: muito deprimida, menos enjoada, descoordenada Susp LTG + Bupropiona 150mg + LiCR + Mirtazapina15mg: melhorou animo 85% (podia ser melhor), muita náusea e tremores, irritação, sem paciência, dando alfinetadas Introd. Aristab 1mg, ↓Bup 75mg: muita irritação ↑ Aristab até 15mg → leve acatisia ↓ Aristab 15mg/3 = estabilização com tremor Susp. Bupropiona introd. Pramipexol (Stabil) até 1,5mg: melhora da disposição 90%, da sexualidade RC 52 anos casada, 2 filhos, bancária afastada selegilina IMAO fração B (inibidor irreversível) ◦ Talvez neuroprotetor para celulas dopaminérgicas (algumas neurotoxinas precisam de MAO B para serem tóxicas) ◦ Talvez não cause reação pressórica idiossincrática (restrito a IMAO A?) ◦ Talvez dopaminérgicos por outros mecanismos desconhecidos (metabólito = anfetamina) ◦ Aprovado nos EUA – versão adesivo transdérmico ◦ Menores niveis de metabolização hepática ◦ Menore niveis de efeitos adversos ◦ Interações medicamentosas complexas ◦ Doses superiores a 10mg – risco de ter efeito IMAO irreversível/não seletivo ◦ Doses orais entre 30 e 60mg – efeito antidepressivo Finberg e Rabey 2016 Lisdexamfetamina Pro-droga ação prolongada de d-amfetamina (até 13 hs na criança e 14 hs no adulto) Metabolizado para D-amfetamina+lisina no eritrócito Efeito noradrenérgico e dopaminérgico Eficácia clinica com uso em jejum Insônia em até 20% Baixa tendência ao vicio Indicado no tratamento do deficit de atenção Eficácia inconclusiva como potencializador de depressão resistente Indicado para perda de peso NAT, 21 anos estudante Paciente iniciou quadro depressivo grave, sem antes nada sentir, com muito desânimo, tristeza, ideação suicida, insônia, inapetência, irritabilidade, e lentificação. Foi utilizado fluoxetina e escitalopram, sem resultado. Quando foi utilizado sertralina até 100mg, ela evoluiu com quadro maniforme psicótico (alucinatório e persecutório), que respondeu muito mal a olanzapina, divalproato, risperidona, haloperidol (muitos efeitos extrapiramidais para os dois últimos). Com o uso de aripiprazol 5mg, paciente estabilizou o quadro psicótico, e com o uso do litio, a paciente estabilizou o quadro maníaco, evoluindo para um quadro de desânimo e apatia extremos, hipersonia e ideação suicida importantes, e tendência a aumento de peso. Foram introduzidos bupropiona até 450mg/dia, com aumento de tremores, e metilfenidato, sem resposta adequada. Após introdução de Lisdexamfetamina até 70mg/dia, paciente retomou as atividades da vida diária, com leve sonolência diurna e leve desânimo, sem restrições para vida acadêmica e relacionamentos interpessoais. Próximo Tópico: Noradrenalina PSICOFARMACOLOGIA APLICADA 2017 DR TENG CHEI TUNG
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