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FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO RENATA BURCH BRESSANE A (IN) SEGURANÇA JURÍDICA NA ANÁLISE DO CASO CONCRETO REFERENTE À FLEXIBILIZAÇÃO DO REQUISITO BAIXA RENDA NO BENEFICIO DE AUXÍLIO-RECLUSÃO Porto Alegre 2018 RENATA BURCH BRESSANE A (IN) SEGURANÇA JURÍDICA NA ANÁLISE DO CASO CONCRETO REFERENTE À FLEXIBILIZAÇÃO DO REQUISITO BAIXA RENDA NO BENEFICIO DE AUXÍLIO-RECLUSÃO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Direito, na Faculdade de Direito da Fundação Escola Superior do Ministério Público. Orientadora: Profa. Dra. Fabrícia Dreyer. Porto Alegre 2018 FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO DIRETORIA Fábio Roque Sbardellotto – Diretor da Faculdade Luiz Augusto Luz – Coordenador do Curso Faculdade de Direito da Fundação Escola Superior do Ministério Público Inscrição Estadual: Isento Rua Cel. Genuíno, 421 - 6º, 7º, 8º e 12º andares Porto Alegre - RS- CEP 90010-350 Fone/Fax (51) 3027-6565 e-mail:fmp@fmp.com.br home-page:www.fmp.edu.br mailto:fmp@fmp.com.br RENATA BURCH BRESSANE A (IN) SEGURANÇA JURÍDICA NA ANÁLISE DO CASO CONCRETO REFERENTE À FLEXIBILIZAÇÃO DO REQUISITO BAIXA RENDA NO BENEFICIO DE AUXÍLIO-RECLUSÃO Trabalho de conclusão de curso de Direito apresentado à Faculdade de Direito da Fundação Escola Superior do Ministério Público, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. O trabalho foi ________________________________ pelos membros da banca examinadora, obtendo nota ____________. Examinado em 13 de julho de 2018. BANCA EXAMINADORA: _______________________________________ Professora Doutora Fabrícia Dreyer Fundação Escola Superior do Ministério Público Orientadora _______________________________________ Professor Doutor José Antônio Reich Fundação Escola Superior do Ministério Público _______________________________________ Professora Doutora Roberta Ludwig Ribeiro Fundação Escola Superior do Ministério Público RESUMO O presente Trabalho de Conclusão abordará o benefício do auxílio-reclusão e suas peculiaridades. Inicia-se observando acerca de sua origem, a evolução histórica, sua conceituação e logo após os requisitos necessários para sua concessão. Em seguida, põe-se em tela os princípios constitucionais relacionados à matéria previdenciária. E por fim, aprofunda-se a discussão em virtude da inconstitucionalidade do requisito de baixa-renda para concessão do benefício de auxílio-reclusão, previsto pela Emenda Constitucional nº 20 de 1988. Verificou-se, através de análise da ADIN 1232-1 DF entendimento que proporciona a discricionariedade do magistrado ao julgar, podendo afastar ou não o requisito de baixa renda na concessão do benefício em questão. Explora-se outras jurisprudências, fazendo uma comparação entre elas, e assim, investigar no que diz respeito da segurança jurídica da matéria. O presente estudo tem como objetivo aprofundar o conhecimento em razão do referido benefício previdenciário, motivo pelo qual se faz necessário uma busca criteriosa em sua história, seus princípios constitucionais e especificidades. Palavras-chave: auxílio-reclusão; benefício; baixa-renda; inconstitucionalidade. ABSTRACT The present Conclusion Paper will address the benefit of confinement-assistance and its peculiarities. It begins by observing its origin, the historical evolution, its conceptualization and soon after the necessary requirements for its concession. Next, the constitutional principles related to social security matters are put on the table. Finally, the discussion is deepened because of the unconstitutionality of the low-income requirement to grant the benefit of confinement, provided for by Constitutional Amendment No. 20 of 1988. It was verified, through analysis of ADIN 1232-1 DF an understanding that provides the discretion of the magistrate when judging, and may or may not depart from the low income requirement in granting the benefit in question. It explores other jurisprudence, making a comparison between them, and thus, investigate with regard to the legal certainty of the matter. The purpose of this study is to deepen knowledge about this social security benefit, which is why a careful search of its history, constitutional principles and specificities is necessary. Key-words: confinement-assistance; benefit; low income; unconstitutionality. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Ação Direta de Inconstitucionalidade ................................................................... ADIN Artigo ...................................................................................................................... Art Constituição Federal de 1988.............................................................................. CF/88 Emenda Constitucional ............................................................................................ EC Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários ............................................. IAPB Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos ............................................ IAPM Instituto Nacional do Seguro Social .......................................................................INSS Lei Orgânica da Assistência Social ..................................................................... LOAS Lei Orgânica da Previdência Social ..................................................................... LOPS Número ..................................................................................................................... Nº Recurso Extraordinário ........................................................................................ REXT Regime Geral da Previdência Social ................................................................... RGPS Supremo Tribunal Federal ...................................................................................... STF Superior Tribunal de Justiça ................................................................................... STJ Turma Nacional de Uniformização ........................................................................ TNU SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 DO AUXÍLIO-RECLUSÃO ..................................................................................... 10 2.1 HISTÓRICO ........................................................................................................ 13 2.2 CONCEITO ......................................................................................................... 16 2.3 REQUISITOS PARA CONCESSÃO .................................................................... 18 2.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ...................................................................... 22 2.4.1 Princípio da Solidariedade ............................................................................ 23 2.4.2 Princípio da Universalidade .......................................................................... 23 2.4.3 Princípio da Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e Rurais ................................................................................ 26 2.4.4 Princípio da Seletividade e da Distributividade ........................................... 27 2.4.5 Princípio dos Cálculos dos Benefícios considerando os Salários-de- Contribuição corrigidos monetariamente .............................................................28 2.4.6 Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Benefícios ................................ 29 2.4.7 Princípio do Valor da Renda Mensal dos Benefícios de Caráter substitutivo não inferior ao do Salário-Mínimo .................................................... 30 2.4.8 Princípio da Previdência Complementar Facultativa .................................. 30 2.4.9 Princípio do Caráter Democrático ................................................................ 31 3. DA LIMITAÇÃO IMPOSTA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20/98AO AUXÍLIO-RECLUSÃO .............................................................................................. 33 3.1 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20/98 .............................................................. 34 3.2 A INCONSTITUCIONALIDADE DO REQUISITO BAIXA RENDA ....................... 36 3.3 O POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL ..................................................... 38 3.4 A (IN)SEGURANÇA JURÍDICA NA ANÁLISE DO CASO CONCRETO .............. 40 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 51 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 54 8 1 INTRODUÇÃO O presente estudo tem por objetivo abordar o tema auxílio-reclusão, que constitui benefício previdenciário com previsão no art. 201, IV da Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei de Benefícios da Previdência Social – Art. 80 da Lei nº 8.213/91. Trata-se de um tema polêmico, pois a maioria dos membros da sociedade vê esse benefício como uma assistência do governo, gerando uma certa revolta, revolta essa desfundamentada, na medida em que as pessoas desconhecem a fonte de custeio de tal benefício e o fato de que a prestação em questão é concedida para um segurado – de baixa renda – do Regime Geral de Previdência Social. Tal prestação previdenciária vem insculpida na Constituição Federal de 1988, que garante como direito fundamental que todo e qualquer cidadão tenha uma vida digna. Para uma melhor compreensão do tema, a presente pesquisa se dividiu em dois grandes capítulos. No primeiro, será abordada uma evolução histórica do benefício chamado auxílio-reclusão, seu conceito, requisitos e princípios constitucionais atinentes à previdência social. Passando para o segundo capítulo, será explorado acerca da Emenda Constitucional nº 20/98, o que essa alteração provocou no benefício em tela. Ao entrar na esfera da referida emenda, será abordado o entendimento consolidado sobre o requisito de baixa renda inserido pela emenda, se ele é constitucional ou não, buscando amparo em decisões dos Tribunais Superiores. Por fim, será analisado acerca da problemática da insegurança jurídica que o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1232-1/DF promoveu. Nesse momento também será realizada uma pesquisa na jurisprudência de nossos tribunais, onde proporcionará uma comparação entre as decisões. Com amparo na decisão proferida nos autos da ADIN mencionada, analisaremos a discricionariedade que esta proporciona ao permitir que o juízo de origem decida, na análise do caso concreto, em relação ao requisito baixa renda, se afasta ou não tal requisito. Com isso, será investigado a respeito da segurança jurídica dos direitos previstos no texto normativo, se, com o julgamento da referida ação, não gerou uma necessidade de edição de uma nova lei. 9 O presente trabalho visa responder a seguinte pergunta: ao permitir que o magistrado afaste o requisito de baixa renda há como afirmar acerca da existência da segurança jurídica na análise do caso concreto ao deixar a jurisprudência em aberto sobre a flexibilização de tal requisito? A partir dessa questão que a metodologia de pesquisa utilizada foi escolhida, adotando método de procedimento de pesquisa bibliográfica, documental e estudo de caso, examinando a legislação, a bibliografia e jurisprudência pertinentes. 10 2 DO AUXÍLIO-RECLUSÃO A Constituição Federal de 1988, devido a necessidade de o Estado intervir para atender deficiências da sociedade, determina o sistema de Seguridade Social no Brasil como sendo o complexo de proteção social, deixando ser um sistema de proteção para somente aqueles trabalhadores contribuintes e passando a ser um sistema de proteção a todo e qualquer indivíduo da sociedade1. Esse sistema tem como objetivo garantir que o cidadão se sinta seguro e protegido, proporcionando- lhe assistência e recursos necessários. A lei de custeio da seguridade social, Lei nº 8.212 de 24 de julho de 1991, expõe o propósito desse sistema de proteção no caput de seu artigo primeiro, afirmando que é destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência social2. Igualmente, a CF/88 também dispõe acerca dessas três técnicas protetivas em seu artigo 194, tratando-as como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade3. Isto é, esse complexo é uma fonte de segurança para aqueles que precisam de amparo devido a alguma circunstância que passam ou estão passando no momento. Nesse sentido, a seguridade social pode ser conceituada como uma rede protetiva composta por ações do Estado junto a particulares, com o propósito de prover sustento às pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes, e também para aqueles indivíduos que dela necessitarem, proporcionando um padrão mínimo de vida digna4. Ou também como o conjunto de princípios, regras e instituições que estabelecem um sistema de proteção social aos indivíduos que estejam passando por contingências que os prejudicam para prover as suas 1 SANTANA, Lucimara Diniz Teles; SERRANO, Ana Luiza Marques; PEREIRA, Normelia Santos. SEGURIDADE SOCIAL PÓS CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988: Avanços e desafios para implementação da política. VI Jornada Internacional de Políticas Públicas, 2013. Disponível em: <http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2013/JornadaEixo2013/anais-eixo16- impassesedesafiosdaspoliticasdaseguridadesocial/pdf/seguridadesocialposconstituicaofederal1988av ancosedesafiosparaimplementacaodapolitica.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2018. 2 Art. 1º A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência social. 3 Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. 4 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 22. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016, p. 5. 11 necessidades pessoais básicas, bem como, a de suas famílias5. Portanto, mesmo sendo conceitos de dois autores diferentes, as duas opiniões versam no caminho de reconhecer que a seguridade é um meio de garantir aos indivíduos a obtenção de sua subsistência, buscando igualdade social para todos. Os direitos e obrigações que dizem respeito à Seguridade Social são estabelecidos pela lei, o que faz ser considerada sua natureza jurídica como ex lege, como publicista, ou seja, origina-se em função da lei, contemplando o contribuinte, o beneficiário e também o Estado na relação desse sistema6. À vista disso, constata- se uma natureza pública, pois trata-se de uma imposição legal envolvendo a sociedade e o Estado. Conforme refere o caput do artigo 2º da Lei da Seguridade Social, a Saúde é um subsistema que é de direito a todos e um dever do Estado7. É dessa mesma forma que a autora Marisa Ferreira dos Santos conceitua a Saúde, sendo um "direito oponível ao Estado, que deve socorrer todos os que se encontrem em situação de ameaça de dano ou de dano consumado à sua saúde"8. Indopor um mesmo caminho, a Carta Magna9 dispõe que, em um plano jurídico subjetivo, a Saúde é um direito social, sendo de natureza humana e fundamental10. Portanto, a Saúde é um direito fundamental, tendo previsão legal, logo, é obrigação do Estado assegurá-la. Outra técnica protetiva é a Assistência Social, que como a Saúde, é um direito social de natureza humana e fundamental, segundo o que determina o artigo 6º da CF/88. Podemos conceitua-la na qualidade de política social que realiza o atendimento das necessidades básicas em razão da família, da maternidade, infância, adolescência, velhice e portadores de deficiências, independente de contribuição ao sistema11. Assim, a Assistência Social é um programa destinado a 5 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 35. ed. - São Paulo : Atlas, 2015. p. 21. 6 Ibidem. p. 29. 7 Art. 2º A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 8 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário. 6. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 57. 9 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 10 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito da seguridade social. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 217. 11 Ibidem. p. 259. 12 amparar os indivíduos que estiverem em estado de vulnerabilidade através de ações que possam garantir o mínimo de dignidade existencial à essas pessoas. Já o terceiro e último subsistema da Seguridade Social, diferente da Saúde e da Assistência Social não é destinado a todos os integrantes da sociedade. Disposto no artigo 3º da Lei da Seguridade12, a Previdência Social não ampara a totalidade da população, só contempla aqueles que, por meio de taxas previdenciárias, contribuem para o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, e necessitarem de ajuda para prover prestações ao trabalhador e também para sua família quando o segurado perder a capacidade de trabalhar momentaneamente ou permanente13. Isto é, a concessão de benefícios quando o segurado não conseguir trabalhar por um certo tempo em razão de doença, acidente e maternidade, ou por não poder mais exercer atividade laborativa em função de morte, velhice e invalidez. Essa técnica protetiva está organizada sob forma de regime geral, sendo de caráter contributivo e filiação obrigatória14, exceto quando for segurado facultativo15. A contribuição feita pelos trabalhadores e empregadores à Previdência Social é um dos pilares da estruturação desse subsistema, pois é necessário que haja previsão de fundo de custeio para que se possa saldar os gastos resultantes da concessão e manutenção de benefícios previdenciários. Antes de conceder qualquer benefício, o INSS precisa analisar o caso concreto juntamente das normas que imperam sobre determinado benefício, assim, para a concessão de algumas prestações, é requisitado que tenham um número mínimo de contribuições devidamente pagas, conforme o que dispõe o artigo 24 da Lei do Plano de Previdência Social16, nº 8.213/91, que configura o requisito de carência para algumas prestações. Já para o benefício que está em tela no presente trabalho, tal 12 Art. 3º A Previdência Social tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. 13 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário. 5. ed. - São Paulo : LTr, 2013. p. 285. 14 SANTORO, José Jayme de Souza; SANTORO, Maria de Fátima Gomes. Manual de direito previdenciário. 4. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015. p. 31. 15 Segurado facultativo é o maior de dezesseis anos de idade que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, desde que não esteja exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório. 16 BRASIL. Lei N.º 8.213, de 24 de Julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Providência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 09 jun. 2018. 13 requisito não se faz necessário, como podemos ver no inciso I do artigo 26 da mesma lei citada: "Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações: I - pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente". Os benefícios garantidos pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS apresentam atributos peculiares e regras próprias de concessão, devendo ser observadas detalhadamente. Como norma infraconstitucional, o RGPS tem a enumeração das contingências que terão cobertura17 amparadas pela Lei da Seguridade Social, Lei nº 8.212/91, e Lei do Plano de Benefícios da Previdência Social, Lei de nº 8.213/91. Dentre os benefícios previstos nas leis citadas garantidos pelo RGPS, temos o auxílio-reclusão, que devido a importância de sua existência, a sua função social e a ausência de informação acerca da prestação, merece um estudo aprofundado. 2.1 Histórico A primeira norma na legislação brasileira referente ao benefício de auxílio- reclusão foi o Decreto-Lei nº 22.872, de 29 de junho de 1933, já revogada, que regulamentava o Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos - IAPM18. No referido Decreto, pode-se observar a presença da normatização do benefício, conforme texto transcrito: Art. 63. O associado que, não tendo família, houver sido demitido do serviço da empresa, por falta grave, ou condenado por sentença definitiva, de que resulte perda do emprego, e preencher todas as condições exigidas neste decreto para aposentadoria, poderá requerê-la, mas esta sô lhe será concedida com metade das vantagens pecuniárias a que teria direito si não houvesse incorrido em penalidade. Parágrafo único. Caso e associado esteja cumprindo pena de prisão e tiver família sob sua exclusiva dependência econômica, a importância da aposentadoria a que se refere este artigo será paga ao representante legal da sua família, enquanto perdurar a situação de encarcerado. 19 17 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário. 6. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 75. 18 QUINTO, Eliana Monteiro Staub. Auxílio-reclusão: a inconstitucionalidade do critério de baixa renda, 2015. Disponível em: <http://www.dpu.def.br/images/esdpu/jornaldpu/edicao_4/Artigo_3_- _Aux%C3%ADlio- reclus%C3%A3o_a_inconstitucionalidade_do_crit%C3%A9rio_de_baixa_renda.pdf>. Acesso em: 01 jan. 2018. 19 BRASIL. Câmara dos Deputados. Decreto nº. 22.872, de 29 de junho de 1933. Crêa o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, regula o seu funcionamento e dá outras providências. 14 No ano seguinte, em 1934, ocorreu a constituição do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários - IAPB com o Decreto-Lei nº 24.61520. Porém, foi com o Decreto-Lei nº 54 do mesmo ano que tratou acerca da questão do benefício, que realizou a organização desse Instituto e também regulamentou o auxílio-reclusão com esta redação: Art. 67. Caso o associado esteja preso, por motivo de processo ou em cumprimento de pena, e tenha beneficiários sob sua exclusiva dependência econômica, achando-se seus vencimentos suspensos, será concedida aos seus beneficiários, enquanto perdurar essa situação, pensão correspondente à metadeda aposentadoria por invalidez a que teria direito, na ocasião da prisão. 21 Em 1960 foi promulgada a Lei nº 3.087, a Lei Orgânica da Previdência Social, trazendo inovações quanto ao benefício, bem como a ampliação da relação de dependentes e a implantação da carência de doze contribuições para concessão do mesmo22. É importante pontuar que, com a edição da citada Lei Orgânica, pela primeira vez a expressão "auxílio-reclusão" foi empregada no texto legislativo: Art. 43. Aos beneficiários dos segurados, detento ou recluso, que não perceba qualquer espécie de remuneração da empresa, e que houver realizado no mínimo 12 (doze) contribuições mensais, a previdência social prestará auxílio-reclusão na forma dos arts. 38, 39 e 40 desta lei. § 1º O processo de auxílio-reclusão será mantido com certidão do despacho da prisão preventiva ou sentença condenatória. § 2º O pagamento da pensão será mantido enquanto durar reclusão ou detenção do segurado o que será comprovado por meio de atestados trimestrais firmados por autoridade competente. 23 Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-22872-29-junho-1933- 503513-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 04 jan. 2018. 20 JOSÉ, Patrícia das Graças. A interpretação Social do Benefício de Auxílio Reclusão, 2009. Disponível em: <http://qualidade.ieprev.com.br/conteudo/id/13504/t/a-interpretacao-social-do- beneficio-de-auxilio-reclusao>. Acesso em: 04 jan. 2018. 21 BRASIL. Câmara dos Deputados. Decreto nº. 54, de 12 de setembro de 1934. Aprova o regulamento do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-54-12-setembro-1934-498226- publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 04 jan. 2018. 22 JOSÉ, Patrícia das Graças. A interpretação Social do Benefício de Auxílio Reclusão, 2009. Ibidem. 23 BRASIL. Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960. Dispõe sobre a Lei Orgânica da Previdência Social. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/1950-1969/L3807compilada.htm>. Acesso em: 15 jan. 2018. http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/1950-1969/L3807compilada.htm 15 Posteriormente, a CF de 1988 fixou um grande progresso no instituto do benefício auxílio-reclusão, pois passou a ser garantido constitucionalmente em seu artigo 201, inciso I. Entretanto, em 1998, o referido artigo foi alterado devido a Emenda Constitucional nº 20, passando a ter a seguinte redação final: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei a: [...] IV- salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda. 24 O requisito baixa renda foi criado pela Emenda Constitucional, anteriormente citada, em seu artigo 13, contudo, a lei não disciplinou valor atualizado para a pertinente condição. Desta forma, hoje é classificado como segurado de baixa renda aquele cujo salário de contribuição é igual ou inferior a R$ 1.319,18 (um mil trezentos e dezenove reais e dezoito centavos), conforme Portaria Interministerial MPS/MF nº 15, de 16/01/2018, tendo uma atualização dos valores anualmente por publicação de nova portaria25. Após a constitucionalização do benefício, no ano de 1991, por meio da Lei nº 8.213, a Lei dos Benefícios, o auxílio-reclusão teve seu capítulo próprio. Com a referida lei, o benefício teve disposição infraconstitucional, onde pontua sobre sua organização, concessão e demais aspectos, segundo o que aduz o artigo 80 e seu parágrafo único: Art. 80. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço. Parágrafo único. O requerimento do auxílio-reclusão deverá ser instruído com certidão do efetivo recolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a 24 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.Planalto, Brasília, DF, 05 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 jan. 2018. 25 ______. Portaria Interministerial nº. 15, de 16 de janeiro de 2018. Dispõe sobre o reajuste dos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e dos demais valores constantes do Regulamento da Previdência Social - RPS. Disponível em: <http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=90718#187268 3>. Acesso em: 15 jan. 2018. 16 manutenção do benefício, a apresentação de declaração de permanência na condição de presidiário. 26 As legislações publicadas em seguida foram o Decreto-Lei nº 3.048 no ano de 1999, que trouxe novas regras para a concessão do auxílio-reclusão, a Lei n° 10.666 no ano de 2003, que ocasionou novas mudanças, bem como, novas normas quanto ao custeio, de acordo com seu artigo 2º, §2º27. Assim, a legislação que se faz mais recente é a Lei nº 13.183/2015, marcada por ter realizado alterações legislativas, no que tange a concessão do benefício pensão por morte, pois este reflete no auxílio reclusão, devido ao fato de serem concedidos nas mesmas condições. 2.2 Conceito O auxílio-reclusão é um benefício devido apenas aos dependentes do segurado que for recolhido à prisão, ao longo do tempo em que estiver preso sob pena de regime fechado ou semi-aberto. Nesse sentido, Ibrahim28 conceitua o benefício como destinado exclusivamente aos dependentes do segurado preso, da mesma forma que a pensão por morte. Esse benefício tem previsão constitucional, amparado pelo artigo 201, IV, da Carta Magna, e redação infraconstitucional, disposta no artigo 80 da Lei nº 8.213/91, citado no subtítulo anterior. Ambos os textos normativos tratam das peculiaridades da prestação, abordando seus requisitos, a determinação do caráter contributivo, como pode-se observar no artigo transcrito abaixo: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei a: 26 BRASIL. Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 15 jan. 2018. 27 Art. 2 o O exercício de atividade remunerada do segurado recluso em cumprimento de pena em regime fechado ou semi-aberto que contribuir na condição de contribuinte individual ou facultativo não acarreta a perda do direito ao recebimento do auxílio-reclusão para seus dependentes. § 2 o Em caso de morte do segurado recluso que contribuir na forma do § 1 o , o valor da pensão por morte devida a seus dependentes será obtido mediante a realização de cálculo, com base nos novos tempo de contribuição e salários-de-contribuição correspondentes, neles incluídas as contribuições recolhidas enquanto recluso, facultada a opção pelo valor do auxílio-reclusão. 28 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 22. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016, p. 683. 17 IV- salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda. 29 O Mestre e Doutor Hélio Gustavo Alves, após analisar conceituações de outros autores, bemcomo, Hermes A. Alencar, Ionas D. Gonçalves e Marina V. Duarte, conceituou auxílio-reclusão sendo "um benefício de prestação continuada, devido aos dependentes do segurado preso, que não continue recebendo renda, devido o seu cárcere, tendo os mesmos critérios da pensão por morte"30. Seguindo por esse mesmo viés, o autor Garcia conclui que esse é um benefício devido, nas mesmas condições que a pensão por morte, portanto direcionada aos dependentes do segurado recolhido a prisão que não estiver recebendo remuneração e nem auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço31. Desse modo, podemos concluir que pelo entendimento da maioria dos doutrinários, o benefício em questão trata-se de um apoio financeiro da Previdência Social para aqueles dependentes do segurado que estiver recluso, sendo devido de forma similar a pensão por morte. Em razão de possuir os mesmos critérios da pensão por morte, o benefício auxílio-reclusão tem como propósito amparar os familiares do segurado que teve sua liberdade restrita, incapacitando essa pessoa de prover a subsistência de seus familiares. Ou seja, os dois benefícios, tanto auxílio-reclusão, quanto pensão por morte, tem como objetivo auxiliar os familiares dos segurados em razão da assistência e proteção que o sistema da seguridade social se propõe a garantir. Seguindo por essa perspectiva, se faz importante observar que essa questão de prover assistência e recursos necessários não é somente um objetivo do sistema da seguridade social, mas sim uma obrigação e dever da previdência, haja vista que o segurado contribuiu com o INSS, ele pagou as contribuições previdenciárias para obter seus benefícios. Dessa mesma forma, se posicionam Castro e Lazzari quando dizem que: 29 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.Planalto, Brasília, DF, 05 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 abril. 2018. 30 ALVES, Hélio Gustavo. Auxílio-reclusão: direitos dos presos e de seus familiares. 2. ed. São Paulo : LTr, 2014. p. 45-46. 31 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito da seguridade social. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 470. 18 Sendo a Previdência um sistema que garante não só ao segurado, mas também a sua família, a subsistência em caso de eventos que não permitam a manutenção por conta própria, é justo que, da mesma forma que ocorre com a pensão por falecimento, os dependentes tenham direito ao custeio de sua sobrevivência pelo sistema de seguro social, diante do ideal de solidariedade. 32 O Direito Previdenciário foi construído para ter um caráter contributivo e de filiação obrigatória pois buscava alcançar em seus objetivos a proteção de seus segurados e dependentes, visando, assim, uma sociedade justa e solidária. Portanto, o benefício designado auxílio-reclusão é considerado como um instrumento que proporciona à família do segurado preso um amparo econômico. Acompanhando este mesmo viés, o autor Vianna33 entende que a prisão do segurado se trata de um risco social, visto que a partir deste fato que será gerada a necessidade de auxílio a família que se encontrará desprotegida. É com esta necessidade social que a prestação previdenciária terá a obrigação de promover a cobertura, suprindo a falta de condições de subsistência da família em razão da reclusão do segurado. Para que seja proporcionada essa cobertura do sistema da Previdência Social, é preciso que algumas condições sejam analisadas e que essas façam com que o segurado tenha direito ao gozo do auxílio-reclusão. Assim, no próximo subtítulo será tratado acerca dos requisitos para a concessão do referido benefício previdenciário. 2.3 REQUISITOS PARA A CONCESSÃO Os dependentes do segurado preso poderão usufruir do direito ao benefício contanto que comprovem alguns requisitos previstos por lei. Citado no primeiro subtítulo, o artigo 80 da Lei nº 8.213/91 elenca os pressupostos para a concessão do benefício de auxílio-reclusão. Ao analisar o referido artigo, podemos encontrar a previsão de quatro requisitos, sendo: 1º) o recolhimento do segurado a prisão; 2º) o não recebimento de remuneração da empresa ou de benefício previdenciário; 3º) a qualidade de 32 CASTRO, Carlos Alberto Pereira, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 19ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2016, p. 839. 33 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 555. 19 dependente do segurado; e 4º) a prova de que o presidiário era, ao tempo de sua prisão, segurado do INSS. Porém, além desses pressupostos previstos no artigo 80 da Lei nº 8.213/91, a EC nº 20 de 1998, ao alterar o art. 201, inciso IV, da Carta Magna, acrescentou o quinto requisito para a concessão ao benefício, limitando a prestação aos dependentes do segurado que se enquadrarem como de baixa renda. O primeiro e principal requisito conferido para ocorrer a concessão do benefício auxílio-reclusão é a restrição à liberdade do segurado imposta pelo Estado. Segundo Raupp, o seu entendimento é de que "o requisito básico para o recebimento do auxílio-reclusão é o recolhimento do segurado ao cárcere, pressupondo que se encontra impedido de prover o sustento de seus dependentes, já que o seu é suportado pelo Estado"34. O auxílio-reclusão pretende amparar os dependentes do segurado, no que tange a questão financeira, em razão do afastamento deste de seu trabalho, não importando qual seja a causa do recolhimento à prisão, sendo por aplicação de sanção penal ou prisão provisória. Na sequência, o segundo pressuposto imposto para obtenção do benefício se dará perante a análise do acúmulo de benefícios, ou seja, caso se o segurado tiver a possibilidade de manter seus dependentes em razão de receber remuneração alheia ou estiver usufruindo de um outro benefício. Seguindo por essa direção, Balera e Mussi35 afirmam que, para receber o auxílio-reclusão, o recluso não pode perceber remuneração de empresa, estar em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou então, abono de permanência em serviço. Portanto, entende-se que o referido benefício não permite ser acumulado com os benefícios de auxílio-doença, aposentadoria de qualquer espécie, abono de permanência em serviço, porém será oportunizado a escolha para o recebimento do benefício que lhe for mais proveitoso. Passando para o terceiro requisito, estudamos a condição de dependente do segurado, pois, como já fora afirmado antes, o auxílio-reclusão não é devido ao preso, mas somente aos seus dependentes, sendo estes divididos hierarquicamente em classes, de acordo com uma ordem de preferência. O artigo 16 da Lei nº 34 RAUPP, Daniel. AUXÍLIO-RECLUSÃO: inconstitucionalidade do requisito baixa-renda. Revista CEJ, jul./set. 2009. p. 65. 35 BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito previdenciário. 11. ed. São Paulo: Método, 2015. p. 260. 20 8.213/9136 prevê a ordem de preferência na condição de dependentes, estando na primeira classe o cônjuge, a companheira, o companheiro e filhos menores de vinte e um anos ou maiores de vinte e um anos, desde que inválido; na segunda classe contemplam os pais; e na terceira classe estão os irmãos menores de vinte e um anos ou maiores de vinte e um anos e inválido. Ocorre que, a primeira classe de dependência é presumida, não se faz necessária comprovação, entretanto, a segunda e terceira classe devem comprovar a sua dependência. Importante frisar que a existência de dependentes de qualquer classe exclui o direito ao da classe seguinte, reconhecendo, ainda assim, a concorrência pelo benefícioentre os dependentes da mesma classe, devendo o valor do benefício ser dividido em partes iguais. O quarto e último requisito previsto no artigo 80 da Lei nº 8.213/91, refere-se à condição de qualidade de segurado e essa começa a existir a contar do momento da filiação e inscrição na previdência social. Para que o cidadão tenha direito ao benefício, é preciso que este, na data da prisão, tenha a qualidade de segurado e que seu último salário-de-contribuição37 tenha sido igual ou inferior ao valor descrito na Portaria Ministerial nº 15 de 2018, ou seja, no montante de R$ 1.319,18 (um mil trezentos e dezenove reais e dezoito centavos)38. Observa-se também que o condenado não precisa necessariamente estar pagando a previdência social visto que a qualidade de segurado se mantém, como regra, até doze meses após findar o benefício ou o pagamento das contribuições mensais, conforme o que afirma o artigo 15, inciso II, da Lei nº 8.213/91 que disciplina in verbis: Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições: 36 Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; 37 Salário-de-contribuição é a base de cálculo da contribuição dos segurados e é também a base de cálculo da contribuição do empregador doméstico. 38 SANTORO, José Jayme de Souza; SANTORO, Maria de Fátima Gomes. Manual de direito previdenciário. 4. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015. p. 63. 21 II - até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração. 39 O artigo 80 da Lei nº 8.213/91 aborda quatro requisitos para a concessão do auxílio-reclusão, contudo, a Emenda Constitucional nº 20 de 1998 alterou a redação do artigo 201, inciso IV da CF/88, acrescentando o quinto pressuposto para este rol, assim, passou a exigir que o segurado seja considerado de baixa renda, não sendo necessária a carência de contribuições, tal como é solicitado no benefício de pensão por morte. É considerado de baixa renda o segurado com renda igual ou inferior ao valor atualizado por Portaria Ministerial nº 15 de 16 de janeiro de 201840, atualmente se encontrando no montante de R$ 1.319,18 (um mil trezentos e dezenove reais e dezoito centavos). Essa questão já faz parte da conceituação deste benefício, pois muitos autores determinam o auxílio-reclusão apontando prontamente a condição de baixa renda para sua concessão. Isto posto, pode-se observar autores como Kertzman, que conceitua o auxílio-reclusão como "devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão"41. Entende-se assim, que esse requisito para a concessão do benefício já faz parte de seu conceito tomando a forma de uma característica. Tratamos aqui de uma matéria muito complexa e questionável, pois este pressuposto determina que somente será concedido o benefício para os dependentes do segurado preso que for considerado de baixa renda, assim, reduzindo a concessão e excluindo segurados com renda maior que a estipulada pela Portaria Ministerial nº 15 de 201842. O propósito central da prestação é substituir os meios de subsistência que o segurado preso proporcionava a sua família, pois esta encontra-se desamparada visto que perdeu o rendimento 39 BRASIL. Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 15 jan. 2018. 40 GOVERNO FEDERAL. Portaria Interministerial nº. 15, de 16 de janeiro de 2018. Dispõe sobre o reajuste dos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e dos demais valores constantes do Regulamento da Previdência Social - RPS. Disponível em: <http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=90718#187268 3>. Acesso em: 15 jan. 2018. 41 KERTZMAN, Ivan. Curso Prático de Direito Previdenciário. 6.ed. Salvador: JusPODIVM, 2009, p. 414. 42 ALVES, Hélio Gustavo. Auxílio-reclusão: direitos dos presos e de seus familiares. 2. ed. São Paulo : LTr, 2014. p. 99. 22 financeiro que lhe era passado pelo indivíduo que foi recolhido a prisão, mas indo de encontro a esse objetivo, a EC nº 20/98 visa restringir a concessão do mesmo, devendo selecionar para quem será cedida a prestação, levando-se em conta os mais necessitados. Entretanto, por ser um benefício estipulado por texto constitucional, o auxílio- reclusão deveria ser garantido a todos os segurados, uma vez que esses contribuem com a Previdência Social. Desta forma, faz com que a constitucionalidade da referida emenda seja questionada ao negar um direito que, em tese, deveria ser igual a todos, sem distinção, nem mesmo por distinção de renda. Todavia, essa é uma matéria com entendimento já decidido pelo Supremo Tribunal Federal que será explorado no próximo capítulo, mas antes disso, é preciso levar em consideração o estudo dos princípios constitucionais e previdenciários em virtude de eles formarem a base do direito, bem como, a do direito previdenciário. 2.4 PRINCÍPIOS PREVIDENCIÁRIOS Os princípios constitucionais compõem os fundamentos do nosso sistema jurisdicional, sendo a base do direito, orientando e adequando a compreensão de todas as normas jurídicas. Caracterizada como essencial, a interpretação das normas acompanhada dos princípios constitucionais se faz imprescindível, uma vez que, será dessa forma a identificação de uma norma inconstitucional. A definição de princípios jurídicos e sua distinção em razão às regras, segundo a teoria de Robert Alexy, citada por Daniel Machado da Rocha43, afirma que por tratar de categorias jurídicas linguisticamente formuladas, estas dependem do critério em função da qual a distinção é estabelecida. Logo, conclui-se, através dessa teoria, que os princípios são normas que ordenam que algo seja cumprido do modo mais prudente, porém, não será tomado como uma imposição definitiva, necessitando considerar e estudar todas as possibilidades fáticas e jurídicas. O Direito Previdenciário é uma esfera autônoma do Direito, em função disso dispõe de princípios próprios, característicos e específicos para a interpretação e 43 ROCHA, Daniel Machado da. O direito fundamental à previdência social: na perspectiva dos princípios constitucionais diretivos do sistema previdenciário brasileiro. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2004. p. 124-125. 23 aplicação de sua matéria. Segundo Rocha e Baltazar44, os princípios que regem a previdência são inspirados nos princípios da seguridade social, entretanto, é preciso entender que estes princípios tem interpretações diferentes em razão de um ser de caráter contributivo e outro subsistema não. Em sua redação, a Lei nº 8.213/91, Lei de Planos dos Benefícios da Previdência Social – PBPS, determina os princípios que contemplam a Previdência Social, competindo a estes a orientação da referida matéria. Os princípios constitucionais previdenciários estão dispostos no artigo 2º da PBPS, conforme pode-se observar abaixo: Art. 2º A Previdência Social rege-se pelos seguintes princípios e objetivos:I - universalidade de participação nos planos previdenciários; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios; IV - cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição corrigidos monetariamente; V - irredutibilidade do valor dos benefícios de forma a preservar-lhes o poder aquisitivo; VI - valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário-de- contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado não inferior ao do salário mínimo; VII - previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional; VIII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação do governo e da comunidade, em especial de trabalhadores em atividade, empregadores e aposentados. Parágrafo único. A participação referida no inciso VIII deste artigo será efetivada a nível federal, estadual e municipal. 45 Portanto, é necessário que os princípios sejam atendidos, caso isso não ocorra, esse fato será determinado como violação de direito garantido, haja vista que todo o sistema jurídico será afetado. Desta forma, observa-se a importância e o máximo grau de hierarquia que os princípios constitucionais possuem diante de qualquer norma e sua interpretação. 2.4.1 Princípio da Solidariedade 44 ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da previdência social: Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. 14. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 7. 45 BRASIL. Lei N.º 8.213, de 24 de Julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Providência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 01 mai. 2018. 24 Embora não previsto no artigo 2º da PBPS, o Direito Previdenciário tem como pilar fundamental a solidariedade entre os cidadãos da sociedade, visando possibilitar melhor convívio para essas pessoas. Em razão disso, a Previdência Social busca proteger e amparar todos os integrantes da sociedade para evitar riscos sociais, através do princípio da solidariedade. O princípio da solidariedade no sistema da previdência se materializa a partir da premissa de que todos aqueles contribuintes e o Estado vão colaborar na obtenção de recursos, para que esta sociedade permita a destinação de determinados valores necessários para a sobrevivência destes indivíduos46. Assim, por mais que não tenha previsão expressa acerca da atuação do princípio da solidariedade na previdência social, a CF/88 dispõe sobre este princípio em seu artigo 3º, inciso I, onde diz que os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil são construir uma sociedade livre, justa e solidária. Observa-se que o texto constitucional afirma que ao trabalhar com o princípio da solidariedade estará tratando de um princípio fundamental, e por conta disso, os indivíduos de uma sociedade têm deveres em razão dessa comunidade, fazendo-se uma relação não só de garantias e proteções, mas de obrigações para conseguir manter um equilíbrio. Para Castro e Lazzari47 "somente a partir da ação coletiva de repartir os frutos do trabalho, com a cotização de cada um em prol do todo, é possível a subsistência de um sistema previdenciário". Isto é, as pessoas pertencentes a uma sociedade precisam se unir, pensar no coletivo, para ter a proteção de todos os seus membros, caso contrário, não haverá segurança, pois, o fundo financeiro não seria estabelecido em razão do curto tempo. É nesse sentido que Ibrahim48 pontua que este princípio é o de maior importância, pois revela o sentido da Previdência Social, no que diz respeito à proteção coletiva, já que as pequenas contribuições individuais geram recursos 46 ROCHA, Daniel Machado da. O direito fundamental à previdência social: na perspectiva dos princípios constitucionais diretivos do sistema previdenciário brasileiro. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2004, p. 137. 47 CASTRO, Carlos Alberto Pereira, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 19ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2016, p. 88. 48 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 22. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016, p. 64. 25 suficientes para a criação de um manto protetor para todos, o que viabiliza a concessão das prestações previdenciárias. O Regime Geral da Previdência Social impõe aos seus segurados a obrigação de contribuir para o fundo financeiro devido a cotização individual ser imprescindível para que seja feita a manutenção da rede protetiva. Portanto, a solidariedade visa oferecer proteção a todos os membros da sociedade, de modo que os mesmos dividam a responsabilidade com o Estado. Desse modo, oportunizando à proteção de pessoas naqueles momentos de necessidade, onde não têm capacidade para conseguir prover sua subsistência. 2.4.2 Princípio da Universalidade A universalidade da previdência social está prevista no artigo 2º da Lei PBPS, onde consta que um dos objetivos da organização deste subsistema é a universalidade de participação nos planos previdenciários, reconhecendo as necessidades sociais existentes e as atendendo. Diferente de como é interpretada no sistema da seguridade social, aqui a universalidade não é proporcionada para todos os indivíduos da sociedade, mas sim para todos aqueles que forem contribuintes. Direcionando-se no mesmo sentido, Castro e Lazzari49 apontam a universalidade como sendo a realização de ações, prestações e serviços da seguridade social para aqueles que delas precisarem, bem como nos termos da previdência social, obedecendo o princípio contributivo. Ou seja, no que concerne o plano previdenciário, ao ser estabelecido a filiação compulsória e automática do trabalhador a um regime de previdência social, a ausência da contribuição não identifica falta de filiação, pois esta ocorre em razão do exercício de atividade remunerada. Dito isso, afirma-se que a universalidade da cobertura e do atendimento, no que se refere à previdência social, opera de forma mitigada, devido a existência do 49 CASTRO, Carlos Alberto Pereira, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 19ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2016, p. 91. 26 caráter contributivo50. Isto é, ocorre a determinação da obrigatoriedade da contribuição econômica do segurado para que ele possa ter direito aos benefícios e prestações do regime previdenciário Ao tratarmos da universalidade de benefícios e serviços da previdência social, não há a obrigatoriedade de concessão de um direito igual para todos os trabalhadores, pois ao passo que todos contribuem com o que podem financeiramente, nesta mesma forma serão fornecidas as prestações51. Por isso, não podemos dizer que um direito igual será concedido nas mesmas condições para todos os trabalhadores, levando em consideração que estes não contribuem da mesma forma e nem nos mesmos valores. 2.4.3 Princípio da Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e Rurais A Seguridade Social tem suas prestações classificadas em benefícios e serviços. Os benefícios consistem em prestações pecuniárias e os serviços são obrigações de fazer no setor do sistema de segurança, postos à disposição das pessoas, bem como, o serviço social, a habilitação e a reabilitação. Anteriormente, a previdência tinha um tratamento diferenciado no que diz respeito aos trabalhadores rurais e os urbanos, eles não tinham os mesmos benefícios garantidos. A Lei Orgânica da Previdência Social nº 3.807/60, em seu artigo 3º, inciso II, excluía os trabalhadores ruraisda proteção previdenciária afirmando que os trabalhadores rurais assim entendidos, os que cultivam terra e os empregados domésticos52. Foi a partir da CF de 1988 que buscou-se terminar com essa discriminação de tratamento em razão de alcançar a igualdade para a concessão de benefícios e serviços desses trabalhadores. Ainda que muito precária, a zona rural carece de tratamento igualitário, mesmo se as contribuições não alcançarem um nível 50 ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da previdência social: Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. 14. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 9. 51 Idem. 52 BRASIL. Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960. Dispõe sobre a Lei Orgânica da Previdência Social. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3807.htm>. Acesso em: 30 set. 2017. 27 adequado, pois aqui aplica-se o princípio da solidariedade, onde o trabalhador urbano ajuda no custeamento dos benefícios do trabalhador rural. Outro preceito aplicável aqui é o princípio geral da isonomia, o qual determina que é suscetível uma parcela de diferenciação entre os segurados. Isto é, a equivalência estabelece que o valor das prestações previdenciárias deve ser proporcionalmente igual, sendo os mesmos benefícios, mas como valor da renda mensal é equivalente, ele não será igual em razão das formas diferenciadas que os trabalhadores urbanos e rurais têm para arrecadar o custeio da seguridade53. Portanto, as prestações da previdência social precisam ser iguais tanto para os trabalhadores rurais quanto os urbanos, os dois devem receber benefícios e serviços equivalentes. Ocorre que haverá situações em que o custeio e os benefícios serão distintos para os povos urbanos e rurais, as condições exigidas para que isso seja permitido é que sejam justificáveis, razoáveis e que não tenha nenhum privilégio para ambas as partes54. 2.4.4 Princípio da Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios e Serviços O princípio da seletividade, diferente daquele voltado à seguridade social que é direcionado para o legislador, para que ele defina os requisitos e as eventualidades para a concessão ou não de um benefício, este é direcionado para a própria previdência priorizar as situações de necessidade social que considere de maior importância, mais grave. Então, por se tratar de matéria previdenciária, a CF possui um rol de contingências selecionadas e cobertas, onde o INSS vai decidir o grau de necessidade para então fazer a concessão da prestação. Seguindo essa lógica, Wagner Balera, citado por Ibrahim55, afirma que a seletividade atua na delimitação do rol das prestações, definindo os benefícios e serviços mantidos pela seguridade social, à medida que a distributividade direciona a atuação do sistema protetivo em razão das necessidades das pessoas. Ocorre 53 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário. 6. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 17. 54 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 22. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016, p. 67. 55 Ibidem. p. 67. 28 que a lei dispõe acerca dos serviços e benefícios previdenciários e sobre suas condições para a concessão, determinando as pessoas que devem receber o benefício. No que se refere a seletividade, a autora Ionas56 observa que a CF seleciona as contingências cobertas, dispondo em seu artigo 201, onde trata de um rol mínimo, podendo ser ampliado pelo legislador infraconstitucional, uma vez que este observe a existência de prévia fonte de custeio. Assim, é com esse rol que se constata a escolha dos benefícios e serviços, a delimitação de quais prestações serão concedidas. A questão da distributividade é voltada para um viés de justiça social para reduzir as desigualdades, tendo de distribuir as prestações para os que mais necessitam de amparo e proteção57. Há uma relação entre a escolha de quem receberá os benefícios e serviços selecionados pelo legislador para serem protegidos pela seguridade social, ou seja, o objetivo é que as pessoas mais necessitadas recebam melhores prestações, reduzindo as desigualdades sociais e regionais. Pode-se observar como exemplo da seletividade a concessão de alguns benefícios para somente uma parte dos segurados, tal qual o salário-família que é conferido àquelas famílias de baixa renda, e também se verifica a distributividade na pretensão das prestações em otimizar a distribuição dessa renda no país, beneficiando primeiro as pessoas e regiões mais carentes58. Desta forma, a atuação desse princípio busca ajudar e amparar aquelas pessoas que estejam em uma situação mais carente e de vulnerabilidade. 2.4.5 Princípio dos Cálculos dos Benefícios considerando os Salários-de- Contribuição corrigidos monetariamente Com previsão expressa no § 3º do artigo 201 da CF/88, o princípio dos cálculos dos benefícios versa sobre a necessidade da atualização do valor dos 56 GONÇALVES, Ionas Deda. Direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 17. 57 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário. 6. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 18. 58 ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da previdência social: Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. 14. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 13. 29 salários-de-contribuição. Caso não haja a correção dos salários-de-contribuição, isso implicará na severa redução no valor do benefício, visto que integram a base de cálculo deste, ainda mais considerando-se o fator previdenciário59. O princípio em questão, ao buscar pela constante atualização dos salários, visa permanecer atendendo a função social do benefício, ou seja, ajudar na subsistência do segurado que está em uma circunstância de momentânea ou permanente vulnerabilidade. A partir do momento que não há a correção monetária desses salários, ocorrerá a desvalorização do valor do benefício, pois a inflação comprometerá o objetivo da prestação em si, não proporcionando o amparo que lhe foi proposto. 2.4.6 Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Benefícios Ao ser concedido um benefício, este precisa compreender os mínimos gastos necessários de acordo com os valores levantados durante o período de contribuição do segurado. A partir do momento que a prestação é concedida, não será possível a redução do valor nominal do benefício, pretendendo manter o poder real de compra. O princípio da irredutibilidade atua como um mecanismo essencial para propiciar o efetivo funcionamento do sistema previdenciário, impondo a revisão periódica do valor dos benefícios pela aplicação de reajustes60. Foi em razão desse princípio e do contexto histórico, em razão de ser uma época de altos índices de inflação, que o constituinte de 1988 editou o artigo 201 da CF/88, que assegurou com seu § 4º o reajuste periódico dos benefícios, para, então, preservar o valor real das prestações. Tratando-se de benefícios previdenciários, há uma nítida busca pela preservação do valor real destes benefícios, pois há critérios definidos por lei, almejando que o valor das prestações não seja desvalorizado61. Assim, há a incessante busca pela correção monetária dos benefícios para que não ocorra uma perda do valor das prestações previdenciárias. 59 VIANA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 422 60 ROCHA, Daniel Machado da. O direito fundamental à previdência social: na perspectiva dos princípios constitucionais diretivos do sistema previdenciário brasileiro.Porto Alegre: Livraria do advogado, 2004, p. 166. 61 GONÇALVES, Ionas Deda. Direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 17. 30 2.4.7 Princípio do Valor da Renda Mensal dos Benefícios de Caráter substitutivo não inferior ao do Salário-Mínimo Alguns benefícios previdenciários visam a substituir a remuneração do segurado que foi perdida mediante a ocorrência de uma contingência, onde lhe impossibilitou de realizar atividade laboraria, carecendo de auxílio. Para esses casos onde o benefício será substitutivo ao salário-de-contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado, os valores das prestações previdenciários não podem ser inferiores a um salário-mínimo62. Porém, se caso o benefício concedido não for prestado em caráter substitutivo, não o princípio em tela não terá incidência. Ou seja, com disposição no § 2º do artigo 201 da CF/8863, é imposto que para aquelas prestações que forem substitutivas ao salário, deverá ter um valor mínimo razoável para que possa atender as necessidades de subsistência do segurado, assim, cumprindo com o a razão social do benefício. 2.4.8 Princípio da Previdência Complementar Facultativa Assim como há o regime público universal e obrigatório de previdência, também há a possibilidade da existência de regimes de previdência complementar, de caráter facultativo já que se trata de uma contribuição adicional ao regime geral. Todavia, mesmo sendo de natureza facultativa, há a imposição de limites tanto referentes ao teto salarial quanto a outras questões previstas nas Leis Complementares nº 108/01 e nº 109/01, assim, modulando suas linhas básicas de estrutura64. 62 VIANA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 423. 63 Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: § 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. 64 ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da previdência social: Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. 14. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 15. 31 A previdência social complementar foi feita para suprir necessidades básicas, suplementar o valor de benefício previdenciário que possa receber e também para sacar os valores depositados dependendo dos termos do contrato. Ou seja, esse sistema tem uma função social diferente do regime de previdência geral, aqui não busca a igualdade e a garantia da subsistência com dignidade, mas sim uma complementação do padrão de vida financeiro. 2.4.9 Princípio do Caráter Democrático A redação constitucional diz em seu art. 1º que o Brasil é um Estado Democrático de Direito, e foi nesse sentido que o legislador constituinte se preocupou em envolver todos os interessados na proteção da seguridade social para participar de sua gestão. Acompanhando o que versa o artigo 1º da CF/88, o parágrafo único, inciso VII do artigo 194, prevê que a gestão da seguridade será quadripartite, de caráter democrático e descentralizada, determinando a participação dos trabalhadores, os empregadores, os aposentados e do Poder Público65, visando, assim, uma gestão realizada mediante discussão com a sociedade. Logo, ao tratarmos da previdência social, suas direções e matérias serão definidas pelo Poder Executivo, onde serão submetidas a análise do Conselho Nacional66. Entretanto, não há como negar a existência e o avanço da gestão quadripartite com a participação dos trabalhadores, empregadores, aposentados e Poder Público para a descentralização administrativa dessa esfera. Em razão dessa discussão acerca da gestão da seguridade, foram criados órgãos colegiados de deliberação, bem como o Conselho Nacional de Previdência Social - CNPS, onde se discute a gestão da previdência social; o Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, que aborda o tema da política e ações sobre esta área; e o Conselho Nacional de Saúde - CNS, onde se discute política de saúde67. Em todos estes conselhos têm integrantes dos quatro campos representando os trabalhadores, empregadores, aposentados e do Governo, portanto, a composição 65 AMADO, Frederico. Direito previdenciário. 5. ed. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 33. 66 ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da previdência social: Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. 14. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 17. 67 CASTRO, Carlos Alberto Pereira, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 19ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2016, p. 93. 32 destes conselhos é paritária a fim de que seus interesses profissionais e previdenciários sejam discutidos de forma igualitária. A concessão do auxílio-reclusão requer uma rigorosa verificação em respeito da vida do segurado e de seus dependentes, visando a comprovação dos pressupostos já explicitados neste capítulo, para isso se faz importante a exposição acerca do conceito do benefício, sua natureza jurídica, a evolução histórica, bem como os princípios constitucionais relacionados. No próximo capítulo será feito um estudo sobre o requisito imposto pela Emenda Constitucional n.º 20, se sua aplicação faz com que o benefício não atinja sua finalidade, se princípios relacionados a prestação não seriam violados, e as consequências acarretadas para o plano jurisprudencial. 33 3 DA LIMITAÇÃO IMPOSTA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20/98 AO AUXÍLIO-RECLUSÃO O auxílio-reclusão, anteriormente estudado, trata-se de um benefício previdenciário destinado aos dependentes do segurado preso, sendo devido somente a eles e mais ninguém, caso o segurado não tenha dependentes, essa prestação não terá necessidade de existir. Um assunto também tratado no capítulo anterior foi acerca dos vários requisitos para a concessão deste benefício, dando ênfase a um deles, o pressuposto do segurado ser considerado de baixa renda. Essa condição disposta na lei foi feita em decorrência da Emenda Constitucional nº 20 de 1988, onde altera o texto constitucional, direcionando a concessão da prestação auxílio-reclusão somente para os dependentes daqueles segurados que possuírem baixa renda. Isto é, a alteração da redação constitucional foi instituída com o propósito de reduzir a concessão do benefício e excluir segurados, assim, deixando dependentes desamparados e fugindo da função social pretendido da prestação. A regulamentação do requisito ficou sendo responsabilidade do artigo 13 da emenda citada, onde esse determina acerca de quais segurados são considerados de baixa renda. Isto posto, podemos ver o artigo abaixo transcrito: Art. 13 - Até que a lei discipline o acesso ao salário-família e auxílio- reclusão para os servidores, segurados e seus dependentes, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), que, até a publicação da lei, serão corrigidos pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social. 68 Nesse artigo atenta-se para a expressa previsão sobre o pressuposto em questão, indicando que a renda do segurado preso deve ser utilizada como parâmetro para ser concedido o auxílio-reclusão. Foi com a criação desse dispositivo que fez com que os segurados que tenham renda brutal mensal superior 68 BRASIL. Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de1998. Modifica o sistema de previdência social, estabelece normas de transição e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc20.htm>. Acesso em: 30 abr. 2018. 34 ao limite estabelecido não gerem o direito ao benefício de auxílio-reclusão aos seus dependentes. Deste modo, se faz necessário estudar e analisar essa Emenda Constitucional, visto que ela provoca modificações significativas no processo do benefício em questão, bem como também, explorar o posicionamento dos tribunais perante a matéria e o que isso acarreta, o que esse entendimento produz. Atesta-se para a importância da análise dessa EC, conforme será feita no próximo subtítulo. 3.1 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20/98 A Emenda Constitucional nº 20/98 datada de 15 de dezembro de 1998 tem por objetivo a modificação do sistema de previdência social, estabelecendo normas de transição, entre outras providências. Entre tantas outras normas instituídas pela EC, tivemos a estipulação do requisito de baixa renda para a concessão do benefício de auxílio-reclusão. Antes da EC, a redação constitucional não restringia o recebimento do benefício, era disponível a todo segurado que fosse preso69. Foi com o artigo 13 da EC nº 20/98 que alterou a Carta Magna70, limitando a concessão do auxílio-reclusão somente aos dependentes dos segurados de baixa renda, como se pode ver no artigo abaixo transcrito: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; 71 69 ALVES, Hélio Gustavo. Auxílio-reclusão: direitos dos presos e de seus familiares. 2. ed. São Paulo : LTr, 2014. p. 98. 70 Art. 13 - Até que a lei discipline o acesso ao salário-família e auxílio-reclusão para os servidores, segurados e seus dependentes, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), que, até a publicação da lei, serão corrigidos pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social. 71 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.Planalto, Brasília, DF, 05 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 30 abr. 2018. 35 A autora Ionas72, bem como outros doutrinadores73, introduz ao conceito do segurado, classificando este como de baixa renda, não podendo ter renda mensal superior ao que é disposto pela Portarias Interministeriais do Ministério da Previdência e do Ministérios da Fazenda, devido a publicação da EC nº 20/98. Assim, disciplinando seu entendimento indo ao encontro da alteração feita pelo artigo 13 da referida emenda. As consequências da EC mostram que sua constituição não foi realizada visando uma melhora no regime da previdência, mas sim por puro interesse econômico e financeiro. Em vista disso, Castro e Lazzari74 se posicionam, afirmando que a discussão da matéria emendada não foi realizada sob os pontos de vista jurídico e social, mas sim pelo prisma econômico, atuarial e dos resultados financeiros desejados com a aprovação do texto. Com a reforma da letra constitucional pela EC, os dependentes do indivíduo segurado que tiver renda excedente ao estipulado como baixa renda no momento da prisão, não terão mais direito ao benefício do auxílio-reclusão, desta forma, fugindo de seu objetivo principal de prover amparo a família do recluso. É analisando essa situação que Rocha e Baltazar75 criticam a alteração da CF/88, pois faz com que o benefício não cumpra com sua finalidade de amparar a família do segurado num momento de contingência social. Outro autor que diverge acerca da alteração da Carta Magna é Ibrahim76 ao considerar como inconstitucional, gerando uma "diferenciação desprovida de qualquer razoabilidade". Isto é, os dependentes poderão passar por uma situação economicamente difícil sem o rendimento do segurado, independentemente se este for de baixa renda ou não, pois ficarão privados de uma das fontes de subsistência, senão a única. Contudo, mesmo com o posicionamento de diversos autores acerca da inconstitucionalidade da emenda, a jurisprudência já tem entendimento consolidado 72 GONÇALVES, Ionas Deda. Direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 184. 73 Carlos Alberti Pereira de Castro e João Batista Lazzari, Fábio Zambitte Ibrahim, Hélio Gustavo Alves. 74 CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 19ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2016. p. 49. 75 ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da previdência social: Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. 14. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 489. 76 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 22. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016, p. 684. 36 em relação a constitucionalidade do requisito. Esta questão será analisada nos subtítulos seguintes. 3.2 A INCONSTITUCIONALIDADE DO REQUISITO BAIXA RENDA O requisito baixa renda teve sua origem na publicação da Emenda Constitucional nº 20/98, anteriormente estudada, ao alterar o artigo 201, IV da CF/88, estabelecendo mais um pressuposto para a concessão do auxílio reclusão. Ou seja, com a concepção da referida premissa, podemos observar a exclusão e discriminação dos segurados, fazendo o benefício divergir de seu objetivo central. A norma desvia de seu propósito ao deixar desamparados esses dependentes, haja vista que a finalidade do auxílio-reclusão é suprir, substituir os rendimentos do segurado recluso para a sua família. Ocorre que pode ser tanto uma família necessitada quanto de remuneração vultuosa, a ausência do segurado presume que poderá deixar os dependentes em situação de necessidade77. O valor a ser considerado como de baixa renda não foi definido por previsão legal, então, utiliza-se o valor determinado por Portaria Interministerial atualizada anualmente78. Com essa lacuna, o parâmetro de averiguação será o último salário- de-contribuição a ser conferido para a concessão do benefício79, assim, caso o último rendimento tenha valor aumentado devido a recebimento de 13º salário ou outro valor, caso passe do valor de baixa renda, não será concedido o benefício. Ao analisar na esfera constitucional da matéria, pode-se observar que esse pressuposto viola os princípios constitucionais, levando em conta o fato de excluir dependentes de segurado com renda superior ao valor determinado da proteção social garantida pelo benefício, negando a estes a subsistência para uma vida digna, sendo este um direito fundamental, conforme o que dispõe o artigo 1º, III, da Constituição Federal80, portanto, violando atingido o mínimo das necessidades 77 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 22. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016, p. 684. 78 CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 19ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2016. p. 840. 79 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Op. cit., p. 683. 80 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; 37 básicas existenciais, inclusive a econômica para viver81 . Tal exclusão fere também o princípio
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