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BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE • A maioria dos arbovírus, causadores das arboviroses (doenças virais transmitidas na natureza por meio de artrópodes hematófagos) pertencem à família Flaviviridae, gênero Flavivírus, do latim Flavos, que significa amarelo o Flavi faz alusão ao 1° vírus que foi identificado dentro do grupo, que é o vírus da febre amarela • Podem ser transmitidos por mosquitos e carrapatos • Existem mais de 70 espécies de Flavivírus, muitas das quais causadoras de doenças humanas as quais podem manifestar-se de forma distinta, desde quadros febris agudos com artralgias, cefaleia e mialgias, além de formas mais graves como febre hemorrágica, hepatite, encefalite e meningoencefalites o Produzem o maior número de infecções e doenças humanas, principalmente por conta da gravidade dessas doenças (arboviroses) • No Brasil, foram descritas 12 espécies de Flavivírus, que podem ser filogeneticamente agrupados em 3 ramos principais: o Febre amarela o Vírus da dengue, com sub-ramos para os tipos I, II e IV o Vírus da Encefalite Japonesa; não ocorre no país, juntamente com os vírus brasileiros da encefalite de Saint Louis, Cacipacoré, Iguape, Rócio, Ilhéus e Bussuquara ▪ São transmitidos por mosquitos Culex¸ os quais são zoonóticos de aves e, quando infectam o homem, podem causar encefalite • Apresentam formato esférico, capsídeo proteico icosaedro, com aproximadamente 45nm – 50nm de diâmetro, são envelopados e com projeções na superfície (espículas) o Os flavivírus adquirem o seu envelope ao brotar para o interior do reticulo endoplasmático • O genoma é constituído por RNA de fita simples de polaridade positiva (ssRNA+), linear, não segmentado, contendo no terminal 5’ 7 metilguanosina (cap), no entanto, o terminal 3’ não é poliadenilado, o que distingue a família Flaviviridae dentre os vírus RNA de polaridade positiva o Polaridade positiva é definida como um RNA com a mesma sequencia de bases do RNAm; exemplo: se a sequencia do RNAm é A-C-U-G, o RNA com polaridade positiva é A-C-U-G (com polaridade negativa seria U- G-A-C) o Cada terminal apresenta regiões NTR, sendo que a parte proximal 3NTR’ é considerada heterogênea entre os vários Flavivírus o O genoma inclui 10 genes que codificam 3 proteínas estruturais (proteínas do core-C, da membrana-M e a glicoproteína de superfície-E) à esquerda da ORF (aminoterminal), e 7 proteínas não estruturais (NS1, ns2a, ns2b, ns3, ns4a, ns4b e ns5) à direita da ORF (carboxiterminal), das quais a NS5 apresenta sequências nucleotídicas mais conservadas entre as espécies do gênero ▪ O genoma codifica uma poliproteína precursora, formada pela tradução do genoma de RNA completo, clivada durante e após a tradução por proteases virais e celulares no citoplasma para formar as proteínas virais funcionais estruturais e não estruturais o Envolve brotamento através da membrana do retículo endoplasmático e do aparelho de Golgi da célula hospedeira – a proliferação de membranas intracelulares é uma característica das células infectadas por flavivírus ▪ A proteína G do envelope viral é capaz de adsorver (se aderir) a múltiplos receptores de diferentes tipos celulares em diferentes hospedeiros • Todos os flavivírus são relacionados antigenicamente; devido aos determinantes antigênicos comuns, os vírus exibem reações cruzadas em técnicas de imunodiagnóstico çã BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE i. O mosquito infectado pelo vírus se alimenta durante o dia passando o vírus através da saliva ao picar ii. O vírus infecta os linfócitos e o tecido linfático iii. O vírus irá se replicar nos tecidos próximos ao local de inoculação ou próximo ao linfonodo iv. O vírus é liberado a partir destes tecidos e espalha-se pelo sangue e infecta os glóbulos brancos v. O vírus será liberado pelos g. brancos para c corrente sanguínea, caracterizando o quadro de viremia vi. Outros mosquitos se infectam enquanto picam uma pessoa infectada, ingerindo o vírus com o sangue (o vírus está se multiplicando no trato digestivo do mosquito) vii. O vírus replica-se no intestino do artrópode e dissemina-se para outros órgãos, incluindo as glândulas salivares viii. O vírus passa para as glândulas salivares, replica-se e será liberado da próxima vez que o inseto se alimentar. ix. A vítima, então desenvolve febre enquanto o sistema imune destrói as células infectadas ▪ Apenas as fêmeas da espécie atuam como vetor para os vírus, pois somente elas necessitam de uma alimentação de sangue para a maturação dos seus ovos (sua prole) 1. O vírus entra no organismo do hospedeiro 2. Ocorre a ligação da proteína E aos receptores de superfície celular, e então a partícula viral é internalizada em um compartimento endossomal 3. Ocorre a fusão das membranas endossomal e viral, possibilitando a penetração do nucleocapsídeo no citoplasma da célula hospedeira e o desnudamento do genoma viral 4. O RNA viral exerce papel de RNAm, sendo traduzido em proteínas virais, produzindo uma longa poliproteína que é clicada em 3 proteínas estruturais e 7 não estruturais 5. Após a tradução, começa a replicação do RNA viral de polaridade positiva, que envolve a síntese de fita de RNA negativa intermediaria, a qual serve de molda para a síntese de novas fitas de RNA genômico de polaridade positiva 6. O genoma viral é envolto por proteínas virais para compor a partícula viral o O envelope viral amadurece no complexo de Golgi e é liberado da célula hospedeira por exocitose • O vírus da dengue foi descoberto em 1907, por Asburn e Craig • É uma doença de regiões tropicais e subtropicais; febril, aguda, de etiologia viral, transmitida pela picada de insetos (vetores), sendo a mais importante arbovirose (doenças transmitidas por artrópodes) que afeta o ser humano e um grande problema de saúde pública no mundo o É endêmica em 101 países o É uma doença de notificação compulsória e todos os casos suspeitos e/ou confirmados, devem ser notificados à vigilância epidemiológica BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE ▪ É importante estabelecer os sorotipos circulantes nas diferentes regiões, para com isso estabelecer os riscos de agravos relacionados à dengue o Estima-se que 50mi de casos, em pelo menos 100 países, ocorram anualmente, 500 mil são hospitalizados e 25 mil morrem por ano o Os padrões variáveis da doença provavelmente estão relacionados com o crescimento da população urbana, a superpopulação e a ineficiência nos esforços de controle do mosquito ▪ O comportamento epidemiológico depende da presença e da quantidade de inseto vetor, susceptibilidade da população aos sorotipos do vírus circulante, quantidade de qualidade de criadouros peri e intradomiciliares do mosquito, clima favorável e proliferação do artrópode, capacidade de ação efetiva das autoridades sanitárias do local e grau de conhecimento da população na destruição de possíveis focos do inseto • A sua infecção pode ser assintomática (identificada através da viragem sorológica especifica) ou sintomática; pode se apresentar na forma branda, denominada dengue clássica (DC), que se manifesta como um período prodrômico (similar à gripe), ou na forma grave, conhecida como febre hemorrágica do dengue (FDH) o A maioria dos pacientes se recupera após a evolução clínica, leve e autolimitada ▪ Pequena parte progride para doença grave o Recentemente, após a OMS ter alterado o sistema de classificação, os pacientes que se recuperam sem incidentes graves são classificados como acometidos pela dengue; caso o paciente manifeste um sangramento severo e comprometimento de órgãos, o caso é classificado como dengue severa ▪ A mudança foi proposta com base num grande n° de pacientes que não eram hospitalizados por não apresentarem sinaisde hemorragia, mas que vinham a falecer mais tarde em razão da falência de órgãos Sintomas Oligossintomático Evolução efêmera com síndrome febril inespecífica, síndrome exantemática ou misto de ambas Dengue clássica (ou Febre do dengue) Febre alta, dor de cabeça, dor nos ossos, músculos e nas articulações, principalmente dor retrorbital (atrás dos olhos), manchas avermelhadas na pele, apatia, cansaço, perda do paladar e apetite, exantema (geralmente acomete o tronco e membros inferiores); mais raramente náuseas e vômitos Linfonodos aumentados, erupção maculopapular e leucopenia são comuns Após uma semana os sintomas regridem, mas a fraqueza continua; raramente é fatal Dengue hemorrágica (ou Febre hemorrágica do dengue) – Dengue grave Dores abdominais, sangramento pelo nariz, boca e gengiva, dificuldade respiratória, perda da consciência, confusão mental, sonolência, pulso rápido e fraco, pele pálida, fria e úmida, manchas avermelhadas na pele, fezes sanguinolentas A pressão sanguínea de um paciente com dengue pode cair drasticamente durante fase hemorrágica, e uma pequena % desses casos são fatais, pois pode se desenvolver em choque (reversível se o tratamento for iniciado rapidamente) e hemorragia (ocorre quando o vírus está se replicando nos linfócitos circulante), principalmente gastrintestinal e na pele A síndrome do choque hemorrágico, que ocorre em indivíduos, geralmente em crianças com anticorpos heterólogos preexistentes não neutralizantes (que promovem a infecção de maiores números de células mononucleares dos linfonodos locais) devido a uma infecção previa com o vírus de sorotipo diferente, é devida à produção de grandes quantidades de anticorpos de reação cruzada no momento da segunda infecção de dengue A patogênese ocorre da seguinte forma: i. O paciente se recupera da dengue clássica, causada por um dos quatro sorotipos do vírus da dengue, e produz anticorpos contra aquele sorotipo ii. O paciente é infectado por outro sorotipo do vírus, ocorrendo uma resposta anamnéstica heterotípica (pecado imunológico - produção muito rápida de BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE um nível bastante elevado de anticorpos do tipo IgG, os quais possuem grande afinidade pelos seus antígenos) e grandes quantidades de anticorpos de reação cruzada contra o primeiro sorotipo são produzidas iii. Podem ocorrer duas situações: a. Imunocomplexos compostos por vírus e anticorpos são formados, ativam o complemento, causando aumento da permeabilidade vascular com fuga do plasma para os espaços intersticiais (pode acarretar em coagulação intravascular) e trombocitopenia (redução da produção de células sanguíneas) b. Anticorpos intensificam a entrada do vírus em monócitos e macrófagos (opsonização), com consequente liberação de grandes quantidades de citocinas vasoativas Ambos os cenários resultam em choque e hemorragia Geralmente o choque é hipovolêmico por quantidade insuficiente de volume sanguíneo e, por isso, o hematócrito é importante – quando alto, quer dizer que o paciente pode evoluir para choque hipovolêmico Sinais de alarme na dengue Dor abdominal intensa e continua, vômitos persistentes, evidencia de derrame cavitário (pleural, pericárdico), hipotensão postural e/ou lipotimia, hepatomegalia dolorosa, sangramento da mucosa, letargia e/ou irritabilidade, hemoconcentração (Ht > 10%), acúmulo de liquido levando a ascite, diminuição da perfusão tecidual Mecanismo fisiopatológico dos sintomas Febre, adinamia e prostração Relaciona-se à presença, em níveis elevados, de citocinas séricas (TNF, IL- 6 e IFN) Mialgia Relaciona-se à multiplicação viral no próprio tecido muscular, inclusive o oculomotor, produzindo cefaleia/dor retrorbitária Fenômenos hemorrágicos – manifestam-se sob forme de epistaxe, gengivorragia, petéquias e hematúria A resposta imune envolve leucócitos, citocinas e imunocomplexos, causando aumento da permeabilidade por má função vascular plaquetária, resultando na queda da pressão arterial e manifestações hemorrágicas, associadas à trombocitopenia e disfunção plaquetária Desidratação Ocorre devido ao extravasamento vascular de líquidos, secundário ao aumento da permeabilidade vascular em decorrência do processo inflamatório Petéquias O processo inflamatório causa lesão endotelial resultando em fragilidade capilar, aumentando a ocorrência de petéquias Exantema Relaciona-se a liberação de histamina pelos basófilos, estimulada pela IL-8 o O vírus da dengue ainda pode provocar artrite viral (imunocomplexo), uma vez que os vírus não infectam a articulação, mas desenvolvem imunocomplexos com anticorpos virais que são depositados nas articulações e induzem uma resposta anti- inflamatória ▪ As características clinicas da artrite viral consistem em artralgia (dor nas articulações, mas sem inflamação visível) ou artrite franca, em que a inflamação é aparente; as pequenas articulações das mãos são afetadas com mais frequência, no entanto, as grandes articulações também podem estar envolvidas ▪ A maioria dos casos é de curta duração e resolve-se espontaneamente, no entanto, pode-se desenvolver um quadro de artrite crônica • Apresenta 4 sorotipos diferentes: o DENV1 e 2 – 5 genótipos ▪ O tipo 1 foi identificado em 1977, isolado no Hemisfério Ocidental, e o tipo 2 esteve presente durante anos nas Américas o DENV 3 – 4 genótipos ▪ Identificado em 1994 no Hemisférico Ocidental o DENV 4 – 2 genótipos ▪ Identificado em 1981 no Hemisférico Ocidental o Os sorotipos 1 e 4 são os mais leves, já os 2 e 3 são os mais graves ▪ Há variações genéticas dentro dos sorotipos e algumas variantes são mais virulentas, ou seja, tem BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE maior potencial epidêmico, ainda que todos os sorotipos possam causar doença grave ▪ São distinguidos por ensaios moleculares e testes de neutralização o A imunidade é do tipo soro específica – um individuo infectado com o sorotipo 1 (DENV-1) irá desenvolver anticorpos neutralizantes e protetores apenas para o sorotipo 1, estando susceptível aos outros sorotipos virais ▪ A infecção confere proteção duradoura contra o sorotipo causador da doença, mas a proteção cruzada contra outros sorotipos é de curta duração ▪ Um indivíduo exposto a um sorotipo do vírus da dengue, quando exposto a outro sorotipo diferente, possui maior risco de evoluir para a forma grave da doença (febre hemorrágica) • Os vetores são representados pelo Aedes aegypti (Américas) e Aedes albopictus (Ásia e Pacifico) o São mosquitos diurnos, domésticos, que se reproduzem em recipientes naturais e/ou artificiais contendo água limpa ou suja, e possuem capacidade adaptativa, além dos ovos serem resistentes à dessecação o A vida útil do mosquito transmissor é de 45 dias, podendo vir a contaminar até 300 pessoas çã ó • A infecção causada pelo vírus é iniciada pela picada do mosquito transmissor do vírus na pele, onde o vírus interage com as células dendríticas resistentes (macrófagos e monócitos), que se ligam à glicoproteína do envelope dos 4 sorotipos do vírus, levando à liberação de vírions intracelulares; a migração das células dendríticas para os linfonodos permite a apresentação dos vírus à célula T. i. Período extrínseco (7 – 14 dias) de incubação: o vírus está se multiplicando dentro do mosquito e se dissemina para outros órgãos, incluindo as glândulas salivares; a saliva do vetor deve conter quantidade suficiente de vírus para transmitir uma dose infectante o Apenas as fêmeas da espécie atuam como vetor do vírus, pois só elas necessitam da alimentação de sangue (hematofagia), a fim de produzir a progênie ▪ Os ovos são muito resistentes à dessecação, podendo permanecer por maisde um ano e serem transportados a grandes distâncias em ambientes secos; após contato com a água os ovos podem eclodir ▪ Transmissão transovoriana: as fêmeas gravidas infectadas com o vírus podem contaminar os próprios ovos ii. Período intrínseco de incubação: o vírus está sendo transmitido do mosquito ao homem – período de incubação da dengue no corpo do homem é de 7 dias após o contato (picada do mosquito infectante) o Os seres humanos, por apresentar um alto nível de viremia (vírus presente na corrente sanguínea do hospedeiro), atuam como reservatório do vírus iii. Febre alta (39°C) entre o 4° e o 10° dia após a infecção – entre o 3° e o 4° dia de febre começa a produção de anticorpos iv. Depois do 5° dia de febre (tempo aproximado de duração), os antígenos virais já tem a sua concentração reduzida na corrente sanguínea a ponto de não poderem ser identificados no PCR, sendo realizado o teste sorológico (ELISA) para identificar os anticorpos contra os antígenos virais o O RT-PCR deve ser feito no início da febre (fase aguda – 1 ao 6° dia [pico da carga viral]), pois o pico de antígenos virais ocorre nos primeiros dias de febre o Entre o 6° e o 7° dia de febre os testes podem dar negativo, tanto o PCR quanto o sorológico; nesse período (fase crítica) o pico de produção de antígenos virais já está baixo, inviabilizando sua detecção, ao mesmo tempo que ainda não foram produzidos anticorpos o suficiente para serem detectados no ELISA • Acredita-se que existam 2 formas de resposta imune à dengue: 1. Previne a infecção e propicia a recuperação nas infecções – envolve resposta humoral (lise e neutralização viral). A primo-infecção por dengue estimula a produção de IgM, detectáveis a partir do 4° após inicio dos sintomas, atingindo níveis elevados por volta do 7° - 8° dia. As IgG são observadas em níveis baixos a partir do 4° dia após o inicio dos sintomas, elevando-se gradualmente atingindo valores maiores em semanas. Indivíduos que já tiveram contato prévio com outros sorotipos do vírus podem alterar o perfil da resposta imune, passando a ser infecção secundária BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE 2. Relaciona- se à imunopatologia da dengue hemorrágica. Pode ser observada em indivíduos acima de 1 ano de idade com infecção secundária por dengue e crianças menores de um ano, com infecção primaria, filhos de mães possuidoras de anticorpos para dengue. Acredita-se que indivíduos com dengue hemorrágica possuam populações de macrófagos maciçamente infectadas e produzam viremias elevadas ó a. Inoculação de uma linhagem celular do mosquito com o soro do paciente acoplado a ensaios de ácidos nucleicos para identificação do vírus isolado (pesquisa) b. RT-PCR (reação em cadeia de polimerase utilizando a transcriptase reversa) na fase aguda (1° – 6° dia); técnica utilizada para amplificar o RNA viral extraído das amostras biológicas e conversão para DNAc (DNA complementar a fita de RNA) para posterior amplificação c. IgM-anti DENV/IgM envelope/membrana (E/M) para a proteína viral (6° - 60° dias após os sintomas) d. IgG-anti DENV (15° dia após sintoma) e. Pesquisa do antígeno NS1 (proteína do vírus da dengue produzida em grande quantidade, geralmente durante o 1° ao 7° dia após os sintomas) – alta sensibilidade, mas não consegue diferenciar entre os 4 tipos de sorotipos f. Teste de inibição da hemoaglutinação o Os anticorpos neutralizantes e inibidores da hemoaglutinação surgem em uma semana após o início da febre da dengue ▪ A análise pareada de soro da fase aguda e da convalescença para mostrar uma elevação significativa nos títulos de anticorpos é a evidencia mais confiável de uma infecção ativa de dengue o Alterações laboratoriais ▪ Hematócrito (% que as hemácias ocupam o sangue) elevado: ocorre devido a complicações em que o plasma pode vazar de dentro do sistema circulatório, formando edema devido aumento da permeabilidade e da pressão hidrostática, deixando o sangue com maior concentração de hemácias ▪ Leucopenia ▪ Plaquetopenia ▪ Hipoalbuminemia (reflete o extravasamento plasmático) o Prova do laço – não faz diagnóstico, mas é um teste complementar essencial; análise de petéquias no antebraço (a prova será positiva se houver 20 ou mais petéquias em adultos e 10 ou mais em crianças) • Consiste principalmente no alívio dos sintomas, particularmente a desidratação pela perda de sangue e outros fluídos; reposição hidroeletrolítica (oral ou venosa) + medida da pressão arterial + controle da hidratação + medicamentos antitérmicos o É proibido o uso de salicilatos, como o ácido acetilsalicílico e dipirona em casos suspeito, nem medicamentos à base de diclofenaco sódico ou cetoprofeno; nesses casos usa-se paracetamol o A maioria dos indivíduos infectados se recupera sem cuidados médicos em uma semana, sem sintomas adicionais, provavelmente devido a uma resposta imune o vírus da dengue • Não há terapia antiviral ou vacina contra dengue totalmente disponíveis • A febre hemorrágica pode ser tratada por terapia de reposição de líquidos o A taxa de fatalidade para febre hemorrágica da dengue pode alcançar 15%, mas pode ser reduzida a menos de 1% com o tratamento correto çã • Controle da proliferação dos vetores (insetos transmissores que são os veículos dentro da cadeia de transmissão viral) – Aedes aegypti o Não deixar água parada o Não deixar tanques descobertos ▪ O mosquito acasala-se em climas tropicais ou subtropicais em recipientes de água ou em plantas próximos às habitações humanas o Implementar saneamento básico o Coleta regular do lixo o Uso de repelentes: ▪ Larvicidas p/ Aedes aegypti (todos inócuos para os humanos e aprovados pela OMS): ▪ Temephos a 1% (Abate, Larvin, Larvel, outros) BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE ▪ Bacillus turighiensis israelensis (BTI) inseticida biológico para uso de maneira rotativa com o Temephos ▪ Metoprene (análogo de hormônio juvenil dos mosquitos) – atua nas formas imaturas impedindo seu desenvolvimento o Roupas apropriadas ao adentrar os matos • Uso da vacina o A vacina contra a dengue (vacina com vírus quimérica) é relativamente nova no Brasil, protegendo contra os sorotipos circulantes do vírus da dengue, sendo disponível em clinicas particulares – o preço varia entre R$220 e R$350 ▪ Dengvaxia (vacina da Sanofi-Pasteur): liberada pela Anvisa em 2016; de acordo com a Anvisa, a eficácia da vacina na população acima de nove anos é de aproximadamente 65% contra os quatro sorotipos de vírus da dengue. Além disso, o medicamento reduz os casos graves da doença em 90% e os índices de internação em 80%. É uma vacina tetravalente com vírus vivo atenuado, que deve ser tomada em 3 doses a cada 6 meses. ▪ Indicada de 9 a 45 anos; contraindicada em grávidas, fenilcetonúricos e imunodeprimidos í • O vírus Zika é um flavivírus que normalmente causa infecções brandas em seres humanos, caracterizados pelo surgimento de febre súbita, cefaleia, artralgia, mialgia, erupções, dor atrás dos olhos, vermelhidão ocular (difere da conjuntivite que não tem dor, inflamação e inchaço palpebral) e exantema maculopapular, com raso acometimento das articulações; menos frequentemente provoca edema, odinofagia, tosse seca e alterações gastrointestinais, principalmente vômitos o Esses sintomas perduram por 4 – 8 dias e desaparecem sem deixar sequelas ▪ 1:4 pessoas que adquirem o vírus Zika apresentam sintomas ▪ Geralmente não exigem hospitalização, e os casos fatais são raros o No Brasil, os primeiros casos ocorreram em São Paulo e Bahia e, posteriormente, em outros estados; a principal hipótese é que o vírus tenha entrado com turistas na copa de 2014, onde foi detectado o genótipo asiático Sintomas Febre Pode estarpresente; baixa Artralgia Pode estar presente; dores leves Rash cutâneo (manchas vermelhas na pele) Quase sempre presente; se manifesta nas primeiras 24h Prurido Pode estar presente; de leve a intensa Vermelhidão nos olhos Pode estar presente Complicações Microencefalia Até final de 2016 (SE 52) foram 2.366 confirmados, 49 prováveis e 5.269 descartados. Em 2017 foram 246 casos confirmados e 936 casos em avaliação Síndrome de Guillain- Barré N° de casos coincide com o aumento da infecção; a taxa normal é de 0,5 a 4 casos por 100.000. Más formações não microencefálicas Surdez unilateral, danos na retina, cistos cerebrais ou inflamação em artérias cerebrais; pode ocorrer em qualquer etapa da gravidez Síndrome da Zika congênita 1° trimestre: 30% de chance de ocorrer; ausência de resposta imune fetal: morte/sequelas 2°/3° trimestre: x% de chance; alguma resposta imune fetal: sequelas na 1° infância A alteração neurológica vai variar de acordo com o mês de gestação, podendo ser branda ou severa Aborto espontâneo/natimortos, baixo peso, hepatoesplenomegalia, meningoencefalite, trombocitopenia, surdez, danos oftálmicos (catarata, cegueira, retinopatias), danos neurológicos (retardo mental, calcificações cerebrais, microcefalia), retardo no desenvolvimento, malformações articulares, anencefalia, hidrocefalia BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE Outras complicações Doenças oculares, má- formação de membros e articulações (artrogripose), hidrocefalia, hidropisia fetal, crescimento fetal, problemas neurocognitivos tardios • É um vírus envelopado, icosaedro, possui um genoma de RNA de fita simples, linear, não segmentado e de polaridade positiva o Possui somente um sorotipo e são conhecidos dois genótipos, o asiático e o africano • Tropismo – capacidade e especificidade do vírus de invadir tipos celulares específicos o Citotrofoblasto o Macrófagos da placenta possibilitando o acesso do vírus aos vasos sanguíneos do feto • São capazes de se replicar tanto no hospedeiro vertebrado como no vetor hematófago • O vetor é constituído por várias espécies de mosquitos Aedes (o Aedes aegypti e o Aedes albopictus) são os mais preocupantes, mas no Brasil só existe o A.aegypti o As transfusões de sangue também representam outro meio de transmissão, podendo causar viremia, além da transmissão vertical (mãe e filho via placenta) o Há hipóteses em que o vírus também é transmissível através da urina, lágrimas e saliva, além do contato sexual (hematoespermia – presença de sangue contendo o vírus no sêmen/esperma ejaculado) • Em 2015, numerosos casos de microcefalia em crianças recém-nascidas no Brasil, especificamente no Rio Grande do Sul e na Bahia, têm sido atribuídos à infecção da gestante, principalmente no 1° trimestre de gestação o Recém-nascidos do sexo feminino c/ microcefalia apresentarão perímetro cefálico (PC) < ou = à 31,5cm; nascidos do sexo masculino apresentarão PC < ou = à 31,9cm o A microcefalia ocorre quando o vírus atravessa a placenta e infecta o feto de uma mãe infectada, causando dano encefálico e tamanho da cabeça menor do que o normal; as complicações consistem em distorção facial, deficiência mental, nanismo, hipersensibilidade, crises convulsivas e podem acarretar em óbito ▪ O vírus pode ser detectado no líquido amniótico o Em janeiro de 2016, o Ministério da Saúde do Brasil notificou 3.174 recém-nascidos com microcefalia ▪ Embora dados epidemiológicos relacionem a infecção pelo vírus Zika ao desenvolvimento da microcefalia, ainda não há, até o momento, comprovação causal cientifica desta relação • Além da microcefalia, também pode ocorrer a síndrome de Guillain- Barré, um distúrbio autoimune no qual o sistema imunológico passa a atacar a bainha de mielina (estrutura que recobre e protege nervos periféricos), em que ocorre enfraquecimento e paralisia ascendente (manifesta-se primeiro nas pernas, podendo irradiar-se para o tronco, braços, pescoço e face), permanente ou temporária, de um ou mais membros; constitui uma das causas mais comuns de paralisia o O principal risco é quando ocorre o acometimento de músculos respiratórios e/ou cardíacos, podendo levar à óbito o Pacientes com SGB infectados pelo vírus Zika demonstram taxas de recuperação mais rápida do que os que não foram infectados Diferenças entre as manifestações clínicas na Dengue e na Zika Manifestação clínica Dengue Zika Intensidade da febre ++ +/ausente Exantema + ++++ Mialgia ++ + Artralgia +/- + Dor retrorbital +++ ++ Conjuntivite -/+ +++ Sangramentos ++ - Choque -/+ - Leucopenia/Plaquetopenia +++ - ê • O vírus da Zika é neurotrópico, tendo como alvo células neurais progenitoras, bem como células neuronais em diferentes estados de maturidade, mas em menor grau i. Replicação nas células dendríticas e citoplasma dos fibroblastos e queratinócitos da epiderme e derme ii. Dispersão para os linfonodos e a corrente sanguínea iii. O vírus tem tropismo pelo SNC BRENDA RODRIGUES MICROBIOLOGIA 3° SEMESTRE iv. Infecção congênita pelo vírus – especialmente no 1° de gestação pode resultar em alterações cerebrais graves no recém-nascido, dentre as quais se destaca a microcefalia v. A infecção pelo Zika prejudica a interação entre os neurônios e as células da glia, considerada essencial para o desenvolvimento do córtex cerebral o A presença de anticorpos contra outros flavivírus pode aumentar a infecção causada pelo Zika, resultando numa infecção mais intensa (pecado imunológico) ó • O diagnóstico é feito através de exames laboratoriais, PCR (viremia – 3 a 5 dias após início dos sintomas; virúria – carga viral alta e de longa duração, aproximadamente 10 – 20 dias), isolamento viral em cultura de células (urina até o 14° dia, sangue até o 7° dia), sorologia IgM (até o 14° dia), ELISA (reação cruzada c/ outros flavivírus, como o da dengue) • O tratamento consiste habitualmente em acetaminofeno (paracetamol) e dipirona para o controle da febre e manejo da dor o Não se recomenda o uso de ácido acetilsalicílico (AAS) e outros anti-inflamatórios, em função do risco aumentado de complicações hemorrágicas descritas nas infecções por outros flavivírus ▪ No caso de gestantes deve-se ter um cuidado especial devido à relação do vírus da Zika com a microcefalia o Não há vacina disponível para o Zika vírus • A melhor forma de prevenção é a eliminação do mosquito que atua como vetor
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