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Formação da Língua Portuguesa - Conteúdo Online

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FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA 
AULA 1 – AS LÍNGUAS ROMÂNICAS 
Segundo consta, os primeiros a chegar à Península Ibérica, região hoje ocupada por Portugal 
e Espanha, foram os chamados celtas e iberos, que logo se fundiram e formaram os 
celtiberos. Mais tarde, fenícios, gregos e cartagineses se misturaram aos primeiros e, em 
diversas tribos, povoaram toda a Ibéria. 
No século III a. C., os romanos invadem a península para desbancar o governo de Aníbal, 
general cartaginês, séria ameaça ao poder romano. Essa conquista romana se estende em 
longos 200 anos, aproximadamente. Até que entre 26 e 18 a.C. toda a península estava em 
poder dos romanos. 
Os romanos foram habilíssimos colonizadores, conforme se verá na próxima aula, instituindo 
processos de presença lingüística, cultural e política. 
Em termos lingüísticos, instituíram o latim como língua oficial aos povos conquistados 
(situação de substrato) e misturou os escravos em hordas de soldados treinados em latim, e 
sempre sem nenhum outro conterrâneo com quem pudesse manter contato em sua língua 
mãe. 
É claro que o latim falado pelo povo era o da modalidade vulgar, pois o clássico ou literário 
ficava somente para os homens letrados da época. 
Devido a seu poder, o Império Romano acabou sobrecarregado. Além disso, algumas 
desavenças internas levaram à divisão desse Estado em Império Romano do Oriente e Império 
Romano do Ocidente. 
Outros fatos mais específicos causaram o enfraquecimento político e cultural dos romanos. Os 
mais importantes são a invasão dos bárbaros e o domínio árabe. A invasão os bárbaros, no 
século V, foi o principal fator da quebra das relações entre Roma e suas províncias, 
descentralizando, portanto, o poder. 
Dentre suas ações, destacam-se a quebra da unidade lingüística, o desaparecimento de 
escolas, a extinção da organização comercial. Por outro lado, e principalmente depois do 
Cristianismo, abraçaram a cultura dos conquistados, deixando assim a LÍNGUA sobreviver e 
trazendo somente pequenas contribuições de sua própria cultura (situação de superestrato). 
Quanto aos árabes, é possível afirmar que chegaram à Península Ibérica no século VIII, 
ocupando quase toda a sua extensão. Eles se mantiveram na península por mais tempo (sete 
séculos), porém sua influência foi bem menos do que a dos bárbaros, tornando-se BILÍNGUES 
e, desta forma, guardaram a fala românica (situação de adstrato). 
Depois de tantos ataques e invasões, depois de tanta presença estrangeira, depois do 
enfraquecimento político e econômico, a uniformidade lingüística se quebra, demo que se vê o 
latim vulgar passar por profundas transformações em cada região. Essas antigas províncias 
romanas também passam por profundas transformações políticas. 
Com isso, essas regiões vão cada vez mais se diferenciando, fazendo surgir os diversos 
ROMANCES ou ROMANÇOS (romanice, que quer dizer ―romanicamente‖ e, por extensão, ―falar 
romanicamente‖), identificados como uma língua intermediária entre o latim vulgar e as 
línguas neolatinas. 
Os romances ou romanços continuam em plena evolução, até que, de tão diferenciados, se 
instituem como línguas diferentes. Dessa forma, na região da Lusitânia, surge o galego-
português, identificado também como português arcaico. Inicialmente falado, sem registro 
escrito, estima-se que tenha se estabelecido no século IX. 
Na escrita, ainda o latim é a língua obrigatória. 
Somente no início do século XII, com a publicação do testamento de D. Afonso II, em galego-
português, inicia-se sua fase escrita e a confirmação de algumas tendências lingüísticas já 
identificadas anteriormente. 
Com a separação do galego (marcada pela independência de Portugal e pela anexação do 
território Galego ao reino de Castela), com a publicação de Os Lusíadas (século XVI) e com a 
publicação das duas primeiras gramáticas da língua portuguesa, inicia-se uma nova fase da 
língua, identificada como português moderno. 
Com as grandes descobertas operadas por Portugal, a língua portuguesa é levada a várias 
regiões (Madeira e Açores, Brasil, Damião, Diu, Goa, Ceilão, Macau, Java, Malaca, Cingapura, 
Timor, Cabo-Verde, Guiné, Angola, Moçambique Zanzibar, Mombaça e Melinde). 
Continuando sobre a História romana... 
No plano cultural, cita-se com lugar de destaque a influência grega na arquitetura, no direito, 
na religião e, sobretudo, na literatura. 
No plano socioeconômico, uma grande tensão se firmou. Ao mesmo tempo em que grandes 
riquezas foram adquiridas, alguns problemas surgiram: uma imensa população de escravos 
conquistados, de camponeses e de citadinos sem atividade econômica, bem como a 
inexistência de indústrias que causou muitos problemas. 
No plano político, as conquistas revelaram aos romanos diferentes tipos de governos, de 
monarquias a democracias, o que acarretou em um avanço no plano das idéias políticas. 
Depois de muitos governantes, reformas agrárias, mais algumas guerras, e triunviratos, um 
jovem chamado César chega ao poder, embora já estivesse no cenário político antes mesmo 
de ter feito parte do primeiro triunvirato, que como o próprio nome designa, envolve dois 
outros homens, Pompeu e Crasso. 
Um aspecto interessantíssimo é a educação ministrada em Roma. Conforme a estrutura 
familiar bastante severa, isto é, com papéis e funções sociais bem definidos, a educação era 
inicialmente dada em casa. Aos sete anos, o menino poderia freqüentar uma escola e seguia o 
pai para aprender seu trabalho. O pai, por sua vez, desempenhava essa tarefa com a maior 
seriedade, conforme atesta a frase do escritor Juvenal: ―Deve-se ao menino a maior 
reverência‖ (máxima debetur puero reverentia). A menina seguia em casa, aprendendo as 
tarefas domésticas. Assim, muitos escritores dedicaram obras como enciclopédias e capítulos à 
criação de seus meninos. 
É importante nesse comentário sobre a educação romana lembrar que o auge da cultura 
grega, conhecida como helenismo, exerceu fortíssima influência. Dos gregos é tomado todo o 
modelo de ensino e sua literatura tem lugar de destaque. Nem todos que tinham acesso às 
escolas seguiam para o nível intermediário e muito menos ainda para a escola superior, que 
curiosamente existia na antiga Roma. Dentre o grupo de mestres, o retor tinha mais 
sabedoria. As primeiras escolas de retórica começaram suas atividades no século I a. C. 
Quanto à vida cotidiana, é interessante citar que, ao nascer, a criança deveria ser levantada 
pelo pai em sinal de reconhecimento de sua paternidade, o que poderia não ocorrer e a pobre 
criança não ter direito aos recursos dos quais o pai dispusesse. Se fosse o caso, muitas vezes 
era abandonada à morte. 
Sendo reconhecida, ela ganharia prenome, nome, co-nome. Se fosse menina, ela guardaria 
apenas o nome de família, no feminino, conservado mesmo depois de casada. O traje 
masculino tradicional era a toga. Para as mulheres, o mais comum era a túnica, acompanhada 
de estola. Ambos utilizavam sandálias e botinas de couro. 
AULA 2 – A ROMÂNIA 
Quanto à expansão territorial, é importante lembrar que o estado romano dominou boa parte 
do mundo conhecido da época. 
Sua origem remonta a meados do século VII, com a fundação de Roma. Muitos foram os 
méritos dos romanos, que souberam muito habilmente fazer crescer suas fronteiras e sua 
cultura. 
Seus méritos mais apreciados costumam ser a disciplina – em todos os sentidos, o raciocínio 
lógico, a estratégia de guerra, o compromisso na difusão de seus princípios de vida, a 
organização do estado, incluindo, sobretudo a democratização progressiva do poder, 
estampada na participação paulatina dos plebeus. 
Com as conquistas, os romanos levavam aos vencidos sua forma de viver, que englobava o 
direito romano, a liberdade religiosa e a língua latina, embora, em muitas regiões, houvesse 
situação de adstrato e até de superestrato. 
Assim, ficou cada vez mais evidente o uso de uma modalidade popular e de uma erudita.Para a primeira, contribuíram os soldados, os comerciantes, alguns colonos, os povos 
conquistados, de maneira geral. Para a segunda, contribuíram os magistrados, os escritores e 
os homens alfabetizados. Assim se consolidavam as modalidades vulgar e literária da língua 
latina. 
É certo e sabido que todas as línguas estão em constante movimento, portanto não param no 
tempo, diversificando em diferentes escalas e ritmos. O latim, como não poderia deixar de ser, 
se comportou exatamente assim. Conforme a sociedade ia evoluindo, a língua também ia se 
diversificando. E essa comunidade lingüística passou por intensas transformações em todos os 
sentidos, pois foi uma época de grande efervescência política, econômica e cultural. 
Assim, tornando-se mais complexa a cada dia, a sociedade ia estampando todas essas 
conquistas em vários planos, incluindo-se aí o linguístico. 
Vários socioletos eram apresentados, variando em função de seus estratos sociais mais 
conhecidos ao longo da história (patrícios, plebeus e escravos), e também em função de sua 
localização geográfica, pois mesmo sendo o Lácio seu centro linguístico impulsionador, não se 
pode deixar de citar as diferentes regiões da Itália central que guardam, até hoje, substanciais 
diversidades. 
Quando mais complexa a organização social ia se tornando, mais diversificadas eram as 
situações sociais de uso lingüístico que implica diretamente o reconhecimento de tais 
variações. Assim, são famosos os exemplos dos discursos romanos, das cartas e dos textos 
literários. Nesse último caso, encontram-se numerosas fontes de estudo que revelam 
sobretudo o lado urbano, e portanto culto e próprio das classes mais altas, afastando-se 
sempre da educação precária e do uso arcaico, do provinciano e do rural. 
Dessa variedade urbana, das classes altas, conhecida com latim literário, muitas fontes de 
estudo existem e muitos foram os autores que se perpetuaram na história da humanidade, 
tendo atingido seu apogeu entre o final da República e o início do Império Romano. 
Entretanto, nesse mesmo período, a língua falada era outra, diversa dessa que conseguiu se 
inscrever fortemente na cultura ocidental de um modo geral. 
A partir das preciosas contribuições de Friedrich Diez, com seu método histórico-comparativo, 
fica comprovado que as línguas neolatinas derivam das variedades populares ou latim vulgar, 
e não do latim clássico ou literário. Consoante Ilari (2006), ―vulgar‖ admite três interpretações 
distintas e importantes. 
 ―VULGAR‖, como ―CORRIQUEIRO‖: é a língua do dia-a-dia, própria das camadas mais 
populares; 
Ilari (2006) comenta que essa primeira interpretação se mostra de forma equivocada, uma vez 
que toda a comunidade lingüística se valeu do latim vulgar, desde os aristocratas aos falantes 
das classes mais populares. 
 ―VULGAR‖, com sentido pejorativo de ―BAIXO‖, associado a ―VULGARIDADE‖: é a língua 
das comunidades menos favorecidas socioeconomicamente. 
Consequentemente, a segunda acepção é verdadeira no sentido de ser essa uma variedade 
lingüística eminentemente popular. 
 ―VULGAR‖, como termo técnico equivalente a ―VULGARISMO‖: expressões que os 
puristas julgam chulas, de baixo nível social. 
 Argumentos Históricos 
Para essa compreensão, há bons argumentos históricos (citados pó Ilari, 2006), como a 
alusão que os autores clássicos fizeram a tal modalidade. Alguns a fizeram com tamanho peso 
que impediram que a variedade popular tivesse acesso ao registro escrito da língua. No 
entanto, muitas características encontradas na variedade popular eram heranças arcaicas e 
generalistas. 
A história conta a mudança do nome de Clarudius para Clodio (forma popular), ao se 
candidatar a tribuno da plebe. 
O segundo argumento é que na latinização da românia, a língua levada foi a popular. 
Do ponto de vista mais tecnicamente lingüístico, observa-se que a estrutura do pronto-
romance é morfologicamente menos complexa que a do latim culto, e com preferência pelas 
formas analíticas na expressão sintática. Somam-se a esses dados a maior freqüência de 
nomes concretos e a pouca resistência a termos exóticos. 
Quanto à terceira interpretação, Ilari (2006) salienta que se trata da compreensão um tanto 
fechada de alguns estudiosos da língua, conhecidos como puristas, de algumas expressões, 
não chegando a constituir uma modalidade lingüística, encaradas como ―erros‖. 
Assim é importante e oportuno lembrar que o latim vulgar não nasceu da corrupção do latim 
literário, erro comumente encontrado em alguns ditos especialistas e defensores de plantão da 
gramática tradicional. 
É certo que o latim vulgar é muito antigo e não tardio, conforme a difusão dos fenômenos 
vulgares que toda a românia testemunha, ao registro escrito de formas vulgares no final da 
república romana, a presença das ocorrências populares em autores arcaicos como Plauto, a 
grande presença de arcaísmos na língua vulgar. 
Outro erro muito comum é entender o latim vulgar como a língua falada e o literário como a 
variedade escrita. Ambos foram falados e escritos, conforme as oportunidades e a preservação 
das fontes. Isso quer dizer que pouco restou do vulgar em fontes escritas e nada ficou do 
literário falado. 
Enfim, deve-se ter claramente que as duas variedades de latim são frutos de necessidades 
diferentes e conviveram lado a lado na sociedade romana. 
Assim, com o passar do tempo, o latim literário manteve-se muito estável, pois foi ficando 
cada vez mais confinado ao texto escrito com o fim do Império Romano. Paralelamente, o 
vulgar, por não ter muito acesso ao registro escrito, foi ganhando uma vida extremamente 
movimentada, fruto das transformações pelas quais todos aqueles grupos que antes 
compunham a sociedade romana, e que, uma vez seccionados em novos grupos com mais 
autonomia, imprimiram mais velocidade ainda às transformações em curso, até que se chegou 
aos romances. 
No período conhecido como renascença carolíngia, houve uma certa influência do vulgar sobre 
o culto, conforme se vê na quantidade de ocorrências vulgares no texto literário. Em 
contrapartida, o latim literário também deixou marcas no romance pelo esforço que se fez 
para retornar às fontes clássicas, movimento cultural próprio do renascimento. 
Um dos saldos mais importantes desse movimento foi a constatação de que o vulgar não 
depende nem deriva do literário. 
Além disso, o caminho ficou livre para que o romance ganhasse acesso à modalidade escrita. 
A igreja então, reconhecendo essa diferença, buscou uma aproximação entre o vulgar e o 
literário, ao promover a redação dos textos religiosos, sobretudo o novo testamento, em 
língua popular. Esse é o caso da versão da bíblia conhecida como ―vulgata‖. 
Mais tarde, pelo Concílio de Tours (813), os sermões passam a ser adaptados à língua então 
falada, o que dá mais espaço aos romances então já instituídos. 
Recomenda-se a observação do esquema apresentado em Ilari, 2006:64, reproduzido abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
O latim, ainda que bem diferenciado, impôs-se como língua de prestígio e compôs as relações 
comerciais e ainda promoveu, por esse prestígio, junto a outros fatores, ascensão política e 
social. Ilari (2006:50) salienta que ―para denominar essa unidade lingüística e cultural, 
emprega-se o termo România‖. 
Atualmente, esse termo se refere às áreas em que se falam línguas de origem latina. 
Assim, se compararmos o mapa do território romano com o mapa da România atual, ver-se-á 
que as fronteiras são diferentes. 
Tal fato se explica com os processos de colonização: em algumas regiões, como as de difícil 
acesso, os romanos não se esforçaram muito no processo de romanização, de modo que as 
línguas originais conseguiram se manter e depois suplantaram o latim, quando se libertaram 
do poder romano. Além disso, a colonização de áreas conquistadas na época das grandes 
navegações levou línguas românicas a regiões antes desconhecidaspelo mundo romano, 
como é o caso do português no Brasil. 
As línguas atualmente reconhecidas como neolatinas ou românicas, com status de língua 
oficial, são o português, o espanhol, o italiano e o francês. 
AULA 3 – O LATIM VULGAR E A EMERGÊNCIA DAS LÍNGUAS NEOLATINAS 
Já foram apresentadas algumas situações muito importantes de diferenciação entre latim 
literário e latim vulgar. Entretanto, é importante relembrar que o latim vulgar era 
eminentemente uma língua falada pelo povo (vulgus) não escolarizado, da qual poucas fontes 
chegaram até nós. Além disso, a literatura e os documentos até então produzidos se 
aproximavam em larga escala do latim literário das classes cultas. 
Os poucos documentos escritos em latim vulgar se perderam pela ação do tempo, como 
inscrições em muros e cemitérios; pela ação da Igreja Católica, que destruiu muitas fontes de 
pesquisa pela suposta natureza herege de seu conteúdo, como é o caso de alguns tratados de 
magia; ou simplesmente por não terem sido copiados. 
O fato é que uma língua que foi falada há tantos séculos atrás, sem a existência dos recursos 
tecnológicos de que dispomos hoje para registrar a voz humana em qualquer situação, não 
poderia mesmo contar com muitas fontes. Das que restaram, são as mais conhecidas: 
 O appendix probi: atribuído ao gramático latino Valério Probo (daí ―apêndice de 
probo‖), que elaborou uma lista de ―erros‖ e suas respectivas ―correções‖. 
 Peregrinatio ad loca sancta: relato de viagens da monja Etéria (Aetheria), e 
Mulomedicina chironis, um tratado de veterinária, são obras em que o latim vulgar 
aparece somente em determinadas situações. 
 Comédias: histórias em que são representadas pessoas do povo, como acontece na 
obra Satyricon, de Petrônio, na qual Trimalquião comete vários barbarismos ao lado de 
construções surpreendentemente cultas. 
 Doutores de igreja: alguns doutores da Igreja, como Santo Agostinho, incluíram em 
seus textos alguns vulgarismos para tornar suas mensagens acessíveis a pessoas sem 
a devida instrução. 
 Tábuas execratórias: (tabellae defixionum) são boas fontes de estudo do latim vulgar, 
já que os romanos, ao registrar por escrito suas pragas e maldições, o fizeram na 
língua vulgar. 
 Graffiti de Pompeia: Os poucos graffiti de Pompeia (inscrições encontradas nas paredes 
da cidade de Pompeia) que restaram, por serem eminentemente populares, em que 
aparece, entre outras ocorrências, ama em lugar de amat. 
 Epitáfios: Epitáfios em cemitérios também eventualmente apresentam alguns 
exemplos, como puellas ao invés de puellae. 
As alterações do latim vulgar para o Romance e deste para as línguas neolatinas não deixaram 
registro escrito. Mas as diferenças que aparecem no estabelecimento das línguas neolatinas 
permitem reconhecer certas regularidades em cada uma delas. 
Do latim imperial ou tardio, apontam-se como principais alterações em direção ao galego-
português: 
A redução das dez vogais clássicas para as sete que utilizamos hoje: 
I longo-----i 
I breve----e 
E longo---e 
E breve---ɛ 
A breve---a 
A longo---a 
O breve-- 
O longo—o 
U breve—o 
U longo--u 
A redução dos ditongos clássicos latinos para [ Ɛ ] e [e]: caecum > cego e foedum > feo; 
A palatalização das consoantes: 
civitatem, pronunciado como [ki], [kyi], [tʃ]> [tsi] (só no português moderno casos como 
esse perderão o elemento oclusivo, passando finalmente a [s], confundindo-se, na escrita, S e 
C). 
- regina, pronunciado [g], passa a um iode [y], desaparecendo mais adiante. 
- gente, pronunciado [g], em posição inicial recebe a palatalização para [d]. 
- [k], [g], [t], [d], seguidos de I ou E sofreram palatalização primeiramente através da 
inserção de um iode, depois pela inserção do elemento oclusivo: facio, spongia, pretium, 
hodie, etc> [kyi], [gyi], [tyi], [dye]> [tʃy] e [dȝy] 
Depois de –ss-, o iode resultado de um antigo hiato proporciona a pronúncia [ʃ], que passa a 
ser grafada x. 
- L e N seguidos de iode provocam a palatalização que resulta nas pronúncias [λ] e [л] para 
filio e sênior. 
- síncope de n antes de s em mensa > mesa. 
Na fonética: 
[kl] > [λ] e [dȝ], oculum > oclu > olho ou ojo (em castelhano), (Teyssier, 2006), conforme 
quadro abaixo: 
Latim clássico Latim vulgar Galeco-português Castelhano 
Oculum Oc’lu- Olho Ojo 
Auricula Orec’la Orelha Oreja 
Vetulum Vec’lu- Velho Viejo 
 
[kt] > [yt] e [tʃ], nocte > noyte> noite ou noche (em castelhano), conforme quadro abaixo 
(Teyssier, 2006) 
Galego-português Castelhano 
Nocte>*noyte noite Noche 
Lectu>*leyto leito Lecho 
Lacte>*layte leite Leche 
Factu>*fayto feite Hecho 
 
Em castelhano, vogais abertas ditongaram-se quando tônicas, diferentemente do galego-
português, que ignora essa ditongação: 
- Petra > piedra (castelhano) e pedra (galego-português) 
- Grupos iniciais pl-, fl- e cl- > ch [tʃ] e > [λ], em castelhano: plenu > ch~eo e lleno 
(castelhano) 
- Queda de –L- intervocálico: colore > color > coor, em galego-português (cor, 
posteriormente) 
- Queda do –n- intervocálico: luna> l~ua, em galego-português (lua, posteriormente). 
Convém mostrar no quadro comparativo (ILARI, 2006, p. 81) exemplos de palavras nas 
línguas românicas mais conhecidas (incluindo algumas não oficiais): 
Latim vulgar Sardo Romeno Italiano Francês Espanhol Português 
Vinu [v] Vinu [b] Vin [v] Vino [v] Vin [v] Vino [ß] Vinho [v] 
 
Na morfologia e na sintaxe: 
O sistema de flexão dos casos acaba por desaparecer e ficam apenas as duas formas de 
acusativo (singular e plural); 
As desinências dos antigos casos desaparecem e fixam-se a ordem dos elementos no discurso 
e o uso de preposições; 
O gênero neutro também desparece, ficam somente masculino e feminino; 
Quanto aos verbos, as formas sintéticas são frequentemente substituídas pelas perífrases. O 
futuro, antes feito com desinências próprias, como amabo, por exemplo, passa a amare 
habeo; 
Surgem artigos definidos lo, la, los, las a partir do demonstrativo ille; 
Na formação do vocabulário: 
A grande massa de palavras que compõem o vocabulário são herdadas diretamente do latim. 
As influências que resultaram em importantes contribuições são: 
- palavras de origem germânica, como guerra, ganso, estaca, etc; 
- palavras de origem árabe: arroz, azeite, alface, alfinete, almofada, açúcar, arrabalde, etc. 
Finalmente, diante de tantas evoluções de estágios diferentes e de línguas diferentes, é 
importante considerar a pertinência do tratamento de dois conceitos linguísticos, a saber: 
Pidgin: é uma língua de intercurso, que serve como língua de contato, como uma língua geral 
entre, pelo menos, dois grupos de falantes de línguas maternas diferentes. Em geral, conta 
com gramática rudimentar e vocabulário restrito. 
Os pidgins podem se tornar línguas crioulas ou não (neste caso, desaparecem), como 
aconteceu com a língua geral, instituída pelos portugueses com os indígenas brasileiros. 
Crioulo: quando o pidgin continua em uso e é apreendido pelas novas gerações como língua 
materna, estabilizando seu sistema lingüístico, essa língua passa a ser considerada crioula. 
Ainda existem crioulos portugueses em países como Cabo Verde e Guiné-Bissau, mas não no 
Brasil. 
AULA 4 – O SURGIMENTO DO GALEGO-PORTUGUÊS 
Conforme já foi apontado na exemplificação da aula 3, na região da lusitânia, ocorrem: 
-[kl] > [λ]: oculum > oclu > olho; 
-[kt] > [yt]: nocte > noyte > noite; 
-o galego-português que ignora a ditongação das vogais abertas 
operada pelo castelhano, como por exemplo petra > pedra (x pietra); 
-grupos iniciais pl-, fl- e cl- > ch [tʃ]: plenu>ch~eo (til em cima do ―e‖); 
-queda de –l- intervocálico: colore>color>coor em galego-português (>cor, posteriormente); 
-queda do –n- intervocálico: luna> l~ua, em galego-português (>lua, posteriormente)(til em 
cima do ―u‖). 
Além dessas ocorrências nos planos fonético e fonológico,observam-se também outras de 
natureza diversa. 
Quanto à morfologia e à sintaxe, as transformações do latim ao galego-português são muito 
semelhantes às que ocorrem com as outras línguas latinas. As modificações são fortíssimas e 
extremamente profundas, o que torna o assunto muito complexo para ser retomado em 
brevíssimas palavras, mas como principais pontos, indicam-se: 
 A declinação nominal simplifica-se e acaba por desaparecer, sobrevivendo apenas duas 
formas – o acusativo singular e o plural. 
 As relações sintáticas anteriormente expressas pelos casos passam a ser reconhecidas 
por uma ordem mais fixa na frase e pelo uso de preposições. 
 Os gêneros se reduzem a masculino e feminino, ocorrendo o desfazimento do neutro. 
 O sistema verbal sofre intensa reorganização e proliferam as formas perifrásticas: 
Exemplo: o futuro simples amabo é substituído pela forma perifrástica amare habeo, que 
origina a forma atual amarei. 
 Inexistente no latim clássico, surge o artigo definido, advindo do pronome 
demonstrativo latino ille no acusativo: Illum, illam, illos, illas originam lo, la, los, las e, 
mais tarde, o, a, os, as. 
Quanto ao vocabulário, ele se forma principalmente pelas palavras latinas herdadas 
diretamente na continuação histórica das alterações sócio-político-econômicas e linguísticas. 
A esse imenso repertório latino original, somam-se novas palavras, advindas por empréstimos 
às línguas dos povos que já estavam na Península Ibérica antes da chegada dos romanos, 
como barro, manteiga, veiga, sapo, esquerdo, etc. (cf. TEYSSIER, 2001). 
Dois grupos contribuíram sobremaneira com o vocabulário latino: os germânicos e os árabes. 
Consoante Teyssier (2001), os primeiros trouxeram itens lexicais ligados, sobretudo, aos 
campos semânticos da guerra (guerra, guardar, trégua, roubar, espiar, etc.), da indumentária 
(fato, ataviar) e do trabalho no campo (estaca, espeto, ganso, marta, brotar, etc.). 
Os segundos deixaram suas marcas nos campos semânticos da agricultura (arroz, azeite, 
azeitona, açucena, alface, javali, etc.) e das profissões (alcaide, almoxarife, alfândega, alferes, 
etc.). Nesta herança, é notável a sobrevivência da contribuição da preposição até, que vem de 
hatta, com o mesmo sentido com que a utilizamos. 
Curiosamente, quase todas as palavras do português que começam com al- são de origem 
árabe e sofreram lusitanização, ocorrendo a aglutinação de al-, artigo árabe, ao substantivo, 
como ocorre com algodão, por exemplo. 
Além do vocabulário latino popular (aquele grande conjunto latino herdado ao longo da 
história) e das palavras trazidas à língua por empréstimo, há também o vocabulário erudito, 
composto por palavras criadas, em todas as épocas, fundamentadas no conhecimento do 
latim e do grego, como automóvel, telefone, digitar, etc. e o ainda o semierudito, composto 
por palavras ―resgatadas‖ em um estágio anterior a certas alterações, como ocorre, por 
exemplo, com plano, que veio de planu-. Na evolução natural, transformou-se em chão, mas 
foi resgatada como plano, em época posterior. 
Assim, ficam como certas que essas modificações já preparam o terreno para a estrutura que 
será o galego-português consolidado, inaugurando-se nessa ocasião uma nova fase linguística. 
A despeito de várias propostas de classificação, a mais reconhecida é a que divide a história 
da língua em período arcaico, que vai até Camões, e moderno, que começa justamente com a 
publicação de ―Os Lusíadas‖. 
É certo que o período arcaico começou antes do séc. XIII, mas como não há registros que 
atestem e comprovem esse novo uso, opta-se pela manutenção da escritura do famoso 
testamento de D. Afonso II. 
Por outro lado, também já é possível reconhecer muitas inovações desde a publicação da obra 
de Camões para os dias atuais. 
No entanto, ainda não há marco proposto para a identidade de uma nova fase dessa história. 
Neste momento, faz-se necessário compreender e conhecer os processos fonético-fonológicos, 
também conhecidos como metaplasmos. 
Metaplasmo, como o nome já indica, significa transformação, constituindo, portanto, as 
mudanças fonético-fonológicas por quais passam várias palavras. 
Dessa forma, faz-se importante reconhecer que tais processos sempre estão presentes em 
qualquer língua e em qualquer tempo. 
Os quatro grandes grupos são alterações que se dão por aumento, supressão, transposição e 
transformação, a saber: por aumento, por supressão, por transposição e por transformação. 
Sejam analisados os seguintes casos: 
dolore>dolor>door>dor 
Apócope do e, seguida de síncope do l, e finalmente crase do o. 
veritate>veridade>verdade 
Sonorização de t para d, seguida da síncope do i. 
oculu>oculo>oclo>olho 
Harmonização vocálica do o ou metafonia ou assimilação vocálica, seguida de síncope do u e, 
finalmente, palatização. 
lupu>lupo>lopo>lobo 
Dissimilação da vogal u para o ou metafonia, seguida de harmonização vocálica de u para o 
ou metafonia ou assimilação vocálica, sonorização de p para b. 
voce>voze>voz 
Sonorização de [s] para [z] e apócope do e. 
acume>agume>gume 
Sonorização de [k] para [g] e aférese do a. 
ipse>epse>esse 
Harmonização vocálica ou assimilação de i para e e assimilação total regressiva de p para [s]. 
AULA 5 – O SURGIMENTO DO GALEGO-PORTUGUES: PARTE II 
Em 1200, Portugal já existia autonomamente, quando houve a separação dos reinos de Leão e 
de Castela, feita por D. Afonso II (também conhecido como Afonso Henriques), que mais 
tarde tornou-se rei. 
Nessa separação, Portugal e Galícia também se separaram e essa região ficou até anexada ao 
reino de Leão, atual Espanha. 
Apesar dessa perda, Portugal conseguiu estender-se ao sul e, com a retomada de Fato, 
atingiu os limites que tem hoje. Assim, o centro de importância política e cultural desloca-se 
do norte para o sul e cidades como Coimbra e Lisboa despontam no cenário português. 
Assim também aconteceu com o padrão linguístico de prestígio, que deslocou-se do norte 
para o sul, mais novo, mais cosmopolita e, consequentemente, mais inovador do que o norte 
que guardava as antigas tradições. 
As fontes de estudo são duas naturezas – as literárias e as não literárias, que apresentam 
basicamente documentos oficiais. 
Assim, o texto considerado o primeiro escrito em galego-português é o testamento de D. 
Afonso II, com data provável de 1214. 
Quanto à grafia, já aparecem: 
- ch para o som [tʃ]: Sancho, chus (diferente já de x, ligada ao som [ʃ]); 
- n palatal e l palatal ganham mais tarde a grafia nh e lh, respectivamente; 
- o til (~) é usado para indicar a nasalização das vogais, não raro também representada pelas 
letras m e n. 
Quanto à fonética e à fonologia 
As vogais em posição tônica já são as mesmas que utilizamos hoje. 
Em posição átona final, a situação é diferente. Além de /e/, /a/ e /o/, inicialmente aparecem 
também /i/, típico dos imperativos (vendi, parti) e das primeiras pessoas (pudi, cantasti). 
Mais adiante, em inícios do século XIV, essas formas já eram grafas com –e final (pude, 
cantaste, etc.). Assim também aparecem grafias de –u em lugar de –o nos textos mais 
antigos. A hipótese mais aceitável para essa ocorrência é a existência de um timbre bem 
fechado de [e] e de [o]. 
Em posição átona não final, timbres de [e] e de [o] deixam de apresentar as oposições e 
variam livremente. 
Dessa forma, o quadro de estrutura com as vogais /i/, /e/, /a/, /o/, /u/. 
Os ditongos apresentam sempre [e] e [o] fechados. Os ditongos encontrados são os dos casos 
de primeiro, mais, coita, fruito, partiu, vendeu, cautivo, cousa. 
As consoantes são em quase todo o quadro as que usamos hoje. 
As exceções são as constritivas dentais-alveolares e palatais, em que havia franca oposição 
fonológica. 
Assim, cen (/ts/) opunha-se a sem (/s/) e cozer (/dz/) opunha-se a coser (/z/). 
As vogais nasais assim se constituem por serem seguidas de uma consoante nasal (m ou n). 
A síncope,já iniciada no estágio anterior à consolidação do galego-português, citada na aula 
anterior, das consoantes –g-, -d-, -l- e –n- em posição intervocálica, desencadeia um grande 
número de encontros vocálicos com hiato, como se vê em maestre, seer, coor, teer, etc. 
Quanto à morfologia e à sintaxe 
O quadro dos demonstrativos era um pouco diferente do nosso atual, pois contava com a 
forma aqueste e aquel (e). 
O quadro dos advérbios de lugar apresentava as formas aqui, acá, acó, ali, alá e aló. 
As formas de estabelecer a anáfora mais comuns desse período são (h) i e ende-em. 
O tratamento se regulariza com o tu familiar e o vós cerimonioso. 
Quanto ao vocabulário: 
Empréstimos do francês e do provençal são muito constantes: dama, sage, Maison para o 
primeiro caso e assaz, freire, trobar, trobador etc., para o segundo. 
Palavras eruditas e semieruditas, da herança greco-latina, estão constantemente sendo 
aplicadas e reaplicadas. 
Entendendo bem as características agora já em fase de consolidação no galego-português, e 
antes de analisar os textos dessa fase, cabe compreender um pouco mais acerca da ortografia 
da nossa língua, um dos fatores de grande preocupação no mundo letrado e também um dos 
aspectos que apontam grande dificuldade para os alunos dos níveis fundamental e médio. 
Inicialmente é muito importante entender os três períodos distintos da história da ortografia e 
o que eles representam. 
Consoante Léllis (2001), do início do português arcaico até o século XVI, temos o conhecido 
Período Fonético. Essa fase assim se nomeia em razão da absoluta ausência de sistematização 
em torno do assunto, do escasso acesso ao texto escrito, da baixa quantidade de pessoas 
alfabetizadas, da imprensa rudimentar. Considerando-se esses fatos, temos de procurar 
entender como a situação de escrita se dava. 
Pense em um tipo de escrivão que procedia ao estabelecimento dos textos por escrito em 
situações legais ou o próprio rei ou sacerdote tendo que fazê-lo. Essa era sempre uma cena 
solitária, em que se produzia texto escrito sozinho e para que ele servisse tão somente como 
um documento que muitas vezes nunca era lido por ninguém ou unicamente pelo próprio 
autor. 
Em relação aos primeiros copistas, responsáveis pela reprodução dos textos, sobretudo os 
filosóficos e religiosos, o trabalho por eles desempenhado também era solitário. Desse modo, 
pelos aspectos já citados acima, dos quais ressalta-se a falta de sistematização, esses homens 
tinham a impressão de que ouviam de um tal jeito uma determinada palavra, e tinham a ideia 
de que ela se escrevia de um determinado modo e talvez ele próprio, no dia seguinte, tivesse 
uma ideia diferente. 
E essas ideias diferenciavam-se muito de um copista para outro, já que as decisões 
ortográficas eram baseadas em impressões, o que faz com que esse período também pudesse 
ser chamado de impressionista. Por essa base da qual eles partiam ao decidir a grafia das 
palavras é que esse período é chamado de período fonético. 
Nessa faixa de tempo, aparecem grafias como bem , ben , b; homem , omen , ome; h~uu, 
h~u ,~u (til deve ficar em cima do u), em que verifica o que foi dito acima: a não 
uniformização da escrita. Ao lado dessas ocorrências, aparecem também, curiosamente, 
formas como emssynava, contrayro, pãao, ffilho. 
A partir do século XVI, novos ventos começam a soprar e identifica-se então um novo período 
da história da ortografia. Os estudiosos começaram a se preocupar com a sistematização da 
grafia, ainda que hoje isso soe um pouco exagerado. Mas de fato foram escritos muitos 
compêndios tratando, até exclusivamente, desse assunto. É importante citar os trabalhos 
quinhentistas de Fernão de Oliveira, Duarte Nunes do Lião, J. Barros, Pero M. de Gândavo, 
dentre outros. 
Mas foi principalmente nos séculos XVI e XVII, sobretudo com o Renascimento, que os olhares 
se voltaram mais fortemente para os antigos textos e houve uma necessidade desse momento 
em se revestir de uma alta carga de erudição em todo o movimento cultural desse tempo. 
Assim é que, em uma busca descontrolada da parte dos intelectuais da época, surgiram as 
etimologias falsas ao lado das verdadeiras. 
Passada essa fase de altíssima valorização das culturas da Antiguidade, e com o grande 
impulso dos estudos científicos, como, por exemplo, a publicação da teoria da evolução das 
espécies de C. Darwin, no final do século XIX, os estudiosos da língua assumem o 
compromisso de tratar a língua de forma também científica. 
Nessa mesma época, como não poderia deixar de ser, a Filologia ganha novo fôlego em 
Portugal, graças ao empenho de Adolfo Coelho, Gonçalves Viana, Leite de Vasconcelos, J.J. 
Nunes, dentre outros, formalizado através de seus importantes trabalhos. 
Por meio desse impulso, os estudiosos então firmaram o compromisso de tratar 
cientificamente a língua e isso se fazia por meio de sua história, portanto todos acabavam 
avançando nos estudos filológicos. 
E, diferentemente do período anterior, para o avanço intelectual desse campo, os filólogos iam 
às fontes disponíveis e estruturavam o caminho das palavras ao longo da história, 
depreendiam suas leis e divulgavam somente aquilo que se poderia confirmar e mostravam as 
hipóteses prováveis de alguns fenômenos. 
Por esse contexto, esse período é conhecido como período histórico-científico. 
Assim, em Portugal, a simplificação ortográfica é estruturada pelos filólogos da época, o que 
quer dizer que foi feita respeitando a história das palavras e considerando o impacto de cada 
grafia. 
Essa simplificação teve como produto final o Acordo Ortográfico de 1931, entre a Academia 
Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa que, com pequenos ajustes, vigorou 
até 2009, quando um novo acordo foi estruturado entre todos os países lusófonos. 
Considerando-se esses períodos, é necessário repassar as principais alterações ocorridas ao 
longo dos tempos. 
Encerram-se aqui as principais evoluções, de acordo com Léllis (2001), que causam confusão 
na grafia do português atual. 
Entretanto, alguns resultados ortográficos causam certa intriga na mente dos falantes e, 
obviamente, de qualquer observador da nossa grafia. 
Estuda-se que algumas formas originais são capazes de produzir produtos absolutamente 
discrepantes, como é o caso de plaga do latim que resulta em chaga, praga, praia e plaga. 
No primeiro resultado (chaga), temos a evolução natural da palavra em que o grupo pl- sofre 
palatização, como se viu anteriormente, levando ao ch-. 
Na segunda transformação, vê-se uma alteração marginal e portanto menos frequente, em 
que o grupo pl- passa a pr-. 
O terceiro resultado é uma transformação do segundo em que atua a síncope do –g- 
intervocálico. 
Constata-se assim que uma única forma pode originar resultados diferentes. A esse fato se dá 
o nome de formas divergentes. Suas causas são várias. 
Em geral, trata-se de diferenças cronológicas, que têm como mola mestra a época da entrada 
da palavra na língua, portanto palavras retomadas na época do Renascimento apresentam 
também a sua forma erudita, ao lado da evolução natural da palavra em que atuaram as leis 
fonéticas de desgaste... 
...ou ainda de diferenças sociais, em que as formas terão maior ou menor prestígio em função 
do grupo social que as sanciona e, finalmente, de diferenças regionais, em que o contato com 
outros grupos de outras origens e a história da colonização farão as palavras atenderem a 
uma ou outra solicitação cultural (no Sul de Portugal, por exemplo, defensa passa a ser 
defesa, enquanto no Norte, passa a devesa). 
São exemplos de formas divergentes ocorrências como: 
 regula>regra, régua, relha; 
 plicare>chegar, pregar; 
 clavicula>chavelha, cravelha, clavícula; 
 masticare> mastigar, mascar; 
 planu> chão, plano, porão. 
Por outro lado, e não menos importante, assinalam-se palavras que têm origens 
absolutamente distintas eque, por sua evolução fonética, acabam apresentando as mesmas 
grafias em um determinado estágio da língua, mas ainda com significados diversos. 
A esse fato dá-se o nome de formas convergentes. 
São exemplos de formas convergentes: 
Donu> dõo> dõ>dom = virtude 
Domine> domyne> dom = senhor 
Sanu> são = sadio 
Sunt> são = verbo ser no plural (―eles são‖) 
Santo> san> são = santo 
AULA 6 – O TEXTO EM GALEGO-PORTUGUÊS 
O primeiro texto em prosa não literária, amplamente reconhecido pela comunidade 
acadêmica, é o testamento de D. Afonso II. 
1214 Junho 27 Testamento de D. Afonso II. 
Existem dois exemplares deste testamento, a cópia que foi enviada ao arcebispo de Braga e 
aquela que foi enviada ao arcebispo de Santiago. 
Linha 1: En’ o nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo 
sano e saluo, temëte o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier raina 
dona Orraca e de me(us) uassalos e de todo meu reino fiz mia mãda p(er) q(ue) de- 
Linha 2: pos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us) uassalos e todas 
aq(ue)lãs cousas q(ue) De(us) mi deu em poder sten em paz e em folgãncia. 
P(ri)meiram(en)te mãdo q(ue) meu filio infante don Sancho q(ue) ei da rainha dona Orraca 
agia meu reino entreg(ra)m(en)te e em paz. E ssi este for 
Linha 3: morto sen semmel, o maior filio q(ue) ouuer da raina dona Orraca agia o reino 
entegram(en)te e em paz. E ssi filio barõ nõ ouuermos, a maior filia q(eu) ouuuermos agia’o... 
Esse texto original (inteiro) se encontra no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal. 
Trata-se de um texto jurídico, portanto tem uma estrutura mais rígida, dentro dessa 
característica jurídica que também existe atualmente 
Encontramos alguns exemplos importantes, como: 
 Características da relação grafema/fonema; 
Exemplos: 
 gracia, folgãcia, em que a africada sibilante surda [ts] ainda era grafada ―ci‖; 
 molier, filios, em que a palatal [λ] era representada ainda por ―li‖; 
 agia, em que a africana palatal sonora ou já fricativa [d] era representada por ―gi‖; 
 mãda, folgãcia, barõ, nõ, em que o til marca a nasalidade das vogais; 
 saluo, ouuermos, uassalo, em que o ―u‖ (tradição latina) ainda registra a fricativa 
labiodental sonora [v]; 
 ausência do h em ouuermos; etc. 
 Características morfológicas e sintáticas; 
Exemplos: 
 ―aver‖ em estrutura de posse: ―filho que ei‖, ―agia meu reino‖, ―maior filho que ouver‖, 
―se filio Baron non ouuermos‖; 
 ―ser‖ com aspecto verbal de transitoriedade: ―seendo sano e saluo‖; 
 ―sten‖, subjuntivo na forma etimológica do verbo estar, com valor de ―sejam‖ (―aquelas 
cousas sten em paz e folgãcia‖). 
 Características lexicais; 
Exemplos: 
 ―a prol de‖ = em prol de; 
 ―manda‖ = mandado, testamento; 
 ―semmel‖ = por metonímia: descendência; 
 ―entegramente‖ = inteiramente; etc. 
Exemplos: 
Depois de ter visto o primeiro documento não literário escrito em galego-português, 
considerado o mais importante dessa fase porque a inaugura sob o aspecto da língua comum, 
não plástica, pode-se cotejá-lo com outros, tanto os literários quanto os não literários, dos 
anos subsequentes ao testamento de D. Afonso II até às vésperas da nova fase que se inicia 
com a publicação de Os Lusíadas. 
Comentários: 
 
 
 
 
 
 
 Fonético-fonológico: reconhece-se a síncope de –d- intervocálico, resultando no 
encontro vocálico em hiato em veer; a sonorização de –g- intervocálico em mig’á 
(mecu-> migo). 
 Morfológico: a forma antiga da preposição PARA que ocorre como PERA; a forma 
arcaica do advérbio que ocorre como Alá. 
 Sintático: a combinação talhou preito, que significa ―prometeu‖; mig’á, que significa 
―migo há‖, ou melhor, ―tem comigo‖. 
 Lexical: madre ocorre na forma erudita. 
Cantiga de amigo I 
Pera veer meu amigo, 
Que talhou preito comigo, 
Alá vou, madre; 
Pera veer meu amdo, 
Que miggg’á preito talhado, 
Alá vou, madre; 
Que talhou preito comigo... 
É por esto que vos digo: 
Alá vou , madre; 
Que mig’á preito talhado... 
É por esto que vos falo: 
Alá vou, madre. 
(De El-rei D. Dinis. Séc.XII, apud Dr. J. Leite de Vasconcelos. Textos Arcaicos) 
Cantiga de amigo I 
Fonético-fonológico 
Morfológico 
Sintático 
Lexical 
 
Como exemplos de textos em língua arcaica de natureza literária, apontam-se: 
Cantiga de amigo II 
O anel do meu amigo 
Perdi-o sso-lo verde pinho, 
E chor’eu, bela. 
O anel do meu amado 
Perdi-o sso-lo verde ramo, 
E chor’eu, bela. 
Perdi-o sso-lo verde pinho, 
Por en chor’eu, dona virgo, 
E chor’eu, bela. 
Perdi-o sso-lo verde ramo, 
Por en chor’eu, dona d’algo, 
E chor’eu, bela. 
(De Pero Gonçalves de portocarreyro. Séc. XII, apud J. Leite de Vasconcelos. Textos Arcaicos) 
 
Comentários: Cantiga de amigo II 
Fonético-fonológico: observa-se a pronúncia de per alternando-se com por; observa-se o 
desgaste fonético que leva ao apagamento da consoante final dentro do grupo (preposição + 
clítico) em sso-lo para referir-se a sob o; observam-se outras questões ainda que não serão 
apontadas por se tratar de texto literário, que tem, dentre outras coisas, obrigação com o 
padrão estético da época. 
Morfossintático: observa-se a ocorrência de preposição por ao lado do advérbio anafórico en 
(<inde), estrutura precursora da conjunção coordenativa adversativa porém. 
Lexical: observam-se as ocorrências de virgo para virgem e de dona d’algo para fidalga. 
A dona pee de cabra 
Dom Diego Lopes era muy boo monteyro e, estãdo huu dia em sa armada e atemdemdo 
quando verria o porco, ouuyo cantar muyta alta voz huua molher em çima de huua pena e el 
foy pera lá e vio-a seer muy fermosa e muy bem vistida e namorou-sse logo della muy 
fortemente e pregumtou-lhe qu~e era e ella lhe disse que era huua molher que mujto alto 
linhagem, e ell lhe disse que pois era molher de alto linhagem, que casaria com ella, se ella 
quisesse, ca ell era senhor daquella terra toda, e ella lhe disse que o faria, se lhe promtesse 
que numca se santificasse, e elle lho outorgou e e ella foi-sse logo com elle. E esta dona era 
muy fermosa e muy bem feita em todo seu corpo, saluando que auia huu pee forcado, como 
pee de cabra. 
E viuerom gram tempo e ouuerom dous filhos e huu ouue nome Enheguez Guerra e a outra 
foi molher e ouue nome dona [...] ] 
E, quando comiam de suu Dom Diego Lopez e sa molher, assentaua ell apar de ssy o filho e 
ella assentaua apar de ssy a filha, da outra parte. E huu dia foy elle a seu monte e matou huu 
porco muy gramde e trouxe-o pera sa casa e pose-o ante ssy hu sya comemdo com ssa 
molher e com seus filhos, e lamçarom huu osso da mesa e veerom a pellejar huu alãao e huua 
pondenga sobre’elle em tall maneyra que a pondenga travou ao alão em a gargãta e matou-o. 
E Dom Diego Lopez, quando esto vyo, teue-o por millagre e synou-sse e disse: 
-- Santa Maria, vall! Quem vio nunca tall cousa¿ (apud J.J.Nunes. Crestomatia Arcaica) 
 
Comentários: A dona pee de cabra 
 Cantiga de amigo I: observam-se sobremaneira as letras dobradas, típicas do período 
de fonético, conforme estudado na aula anterior, por sua falta de sistematicidade e, 
consequentemente, pela franca variação de um copista para outro no que tange aos 
princípios ortográficos (ssy, ell, daquella etc). Observa-se também o emprego do u 
consonantal advindo do latim, em lugar de v (como em ouueron, saluando, trauuou 
etc, a enorme variação da grafia das nasais (como em numca, quando, comemdo, 
gargãta, estãdo etc). 
 Fonéticos-fonológicos: observam-se: 
- pera ainda sem alteração para pela; 
- fermosa ainda sem a harmonização vocálica ou assimilação para formosa; 
- muyta, maneyra, em situação de ditongo, conforme atesta a grafia com y; 
- molher com harmonização vocálica, seguindo a evolução natural da palavra; 
- seer, veerom, pee, boo, alãao, huu que sofreram síncope da consoante intervocálica, mas 
ainda não operaram a crase; 
- pose-o emsua forma arcaica de pretérito perfeito; 
- vyo apresenta a grafia de o para representar uma pronúncia bastante alta e fechada da 
vogal, que mais tarde passou a u; 
- sobre’elle, que, pela forma como foi grafado, indica uma pronúncia em que a preposição se 
apoia no pronome pessoal, como um clítico. 
 Morfológicos: destacam-se: 
- uso do possessivo feminino átono, como em sa molher; 
- emprego dos clíticos sem grande preferência por uma única posição, em que vio-a, 
pregumtou-lhe, foi-sse, teue-o, dentre outros, aparecem ao lado de ella lhe disse, ell lhe disse, 
lhe prometesse, se santificasse, lho outorgou etc; 
- variação dos gêneros, como em alto linhagem; 
- gram e muy, em sua forma reduzida; 
- uso da conjunção antiga ca. 
 Sintáticos: alguns giros sintáticos merecem destaque, como abaixo se vê: 
―...ouuyo cantar muyta alta voz huua molher...‖: a circunstância expressa pelo adjunto 
adverbial não aparece aí introduzida pela preposição em; 
― ...e ouuerom dous filhos e huu ouue nome de...‖: verbo haver no sentido de ter; 
―E Dom Diego Lopez, quando esto vyo, teue-o por millagre e synou-sse e disse...‖: excesso de 
emprego de conjunção coordenativa aditiva; 
―...a podenga trauou ao alão em a gragãta e matou-o‖: ocorre o verbo travar seguido de 
preposição a, ocorre a ausência da contração de em + a, e ainda a ênclise, embora o verbo 
esteja precedido de conjunção. 
 Lexicais: alguns itens merecem atenção especial, como monteyro, para indicar aquele 
que monta, ou, em outras palavras, o cavaleiro; armada, no sentido de montaria; 
atemdendo, no sentido de esperar; forcado, metáfora para um ―defeito‖ anatômico; 
dona, que significa senhora; outorgou, no sentido de consentir, aprovar; alão, grande 
cão de fila; podenga, a cadela para a caça de coelhos. 
Trecho de “O rato da cidade e o da aldeia” 
(...) 
E o rrato da çidade veemdo-o, chamou-ho, que outra vez viesse a comer com elle, e nom 
ouvesse medo; e o outro rrato lhe respondeo: 
-- Amigo meo, ora fosse eu jajuum do comvite que me fezeste! A mym praz mais de comer 
triiguo, favas e hervamços em paz que galinhas e capões com temor e periiguo de morte. A 
paz, a quall ssempre tenho comiguo, me faz a mym os meus comeres sseerem delicados. E 
poren teus comeres guarda-os pera ty, ca eu me comtento do que hey. (apud Rodrigues Lapa. 
O livro de Esopo) 
 
Comentários: O rato da cidade e o da aldeia 
 Em termos ortográficos: observam-se: a grande quantidade de letras dobradas, 
sobretudo em contexto de início de vocábulo (rrato, sseerem, elle, quall), a oscilação 
da grafia do clítico (veemdo-o, chamou-ho), a grafia da nasal ainda não uniformizada 
(em comtento, a grafia varia no mesmo contexto fonético – ambas as consoantes 
ocorrem antes de [t] – e é usada pelo mesmo copista); 
 Em termos fonético-fonológicos: observam-se: a pronúncia [ts] para cidade, conforme 
atesta a grafia em cidade; a pronúncia bem fechada de [o] no ditongo respondeo e 
meo; o encontro vocálico que indica a síncope da consoante intervocálica ([n]) em 
jajuum (>jejunu), sem perda, entretanto, da nasalidade, e ainda a metafonia de [e] 
para [a]; 
 Em termos morfológicos: acrescentam-se o largo uso da conjunção coordenativa e, o 
emprego de PER em lugar de PARA, o uso da conjunção coordenativa ca e poren 
(variação de por en), o uso da forma fezeste para o pretérito perfeito; 
 Em termos sintáticos: observam-se o uso de haver por ter (... nom ouvesse medo...., 
...eu me comtento do que hey), e de ser por estar (... fosse eu jajuum...), as 
construções em : (1) (...) ora fosse eu jajuum do convite que me fezeste! em que 
jajuum (jejum) tem função adjetiva, significando sem comer; (2) A mym praz mais de 
comer triiguo (...), em que se emprega o verbo prazer (com sentido de agradar); (3) e, 
as palavras dictas, partirim-se, em que se observa o uso do particípio passado (dictas) 
com seu aspecto verbal de ação acabada, e não com função de adjetivo; 
 Em termos lexicais: observa-se em (...) os meus comeres sseerem delicados o uso da 
forma verbal como substantivo (comeres) e o uso do adjetivo delicado no sentido de 
agradável. 
AULA 7 – O MODERNO PORTUGUÊS EUROPEU (PARTE I) 
O Movimento Cultural da Escola Literária 
 Ano 1350: em primeiro lugar, deve-se considerar que assim que acaba o movimento 
cultural da escola literária que elevou o prestígio do galego-português, o galego 
começa a isolar-se do português (desde o século XIV, por volta de 1350). Conta-se 
com o testemunho de obras em prosa, como o exemplifica a Crônica Troiana. Portugal, 
a essa época, já obteve uma organização política que corresponde, quase 
perfeitamente, à extensão que possui hoje. E essa estabilidade de fronteira política 
também se verificou na fronteira linguística, pois o português, uma vez separado do 
galego, é adotado em todo o território, com números desprezíveis de outras 
comunidades linguísticas. 
 Século XVI: o centro cultural de Portugal oscila então entre Coimbra, Lisboa e Évora, 
inicialmente, pois que aí estão localizadas as Universidades e os Mosteiros (também 
responsáveis pela produção do saber, como é o caso dos de Alcobaça e de Santa 
Cruz). Em meados do século XVI, o eixo Lisboa-Coimbra passa a ser o centro cultural a 
partir de onde será emanada a norma linguística. Nessa época, Portugal vive uma fase 
de transformações muito intensas com os descobrimentos e a expansão ultramarina, 
que já conhecemos, principalmente por fazermos parte dessa história. Assim, 
culturalmente, a produção também aumenta e a figura mais emblemática não poderia 
deixar de ser nosso ilustre poeta Camões, e a obra, igualmente emblemática, não 
poderia deixar de ser, Os Lusíadas, cuja publicação marca o início do moderno 
português europeu. 
 Ano 1350 – 1450: entre 1350 e 1450, houve um segundo reflorescimento de obras 
líricas, mas sem participação portuguesa, o que também marca a separação do galego 
e do português. 
 Século XVII: assim, a partir do século XVII, o galego deixa de ser língua literária em 
Portugal, passa a ser usada apenas oralmente e recebe transformações fonéticas 
(algumas delas aparecem no capítulo III, da obra citada de Paul Teyssier). Aparecem 
ainda questões interessantes, como a ascensão do prestígio do espanhol, de forma que 
essa língua passou a ser, por um tempo, a segunda língua, que indicava prestígio, 
entre os portugueses cultos, fenômeno conhecido como ―castelhanização da corte‖ 
(TEYSSIER, 2001). A perda desse prestígio só acontece com a subida de D. João VI ao 
poder. 
 Século XVIII: a segunda influência bem marcada se deu mais tarde, a partir do século 
XVIII, com a ascensão da cultura francesa, verificada não só no conteúdo das obras, 
como também no vocabulário e na sintaxe portugueses. Nesse período, deve-se 
destacar ainda as obras especificamente dedicadas ao conhecimento da língua, 
considerados gramáticos, lexicógrafos e filólogos. 
Gramática da Língua Portuguesa 
A primeira gramática data de 1536, de autoria de Fernão de Oliveira. A ela seguem-se 
importantes publicações, como Grammatica da Lingua Portuguesa, de João de Barros, 
Orthographia, de Duarte Nunes do Lião, dentre outros. 
Assim sendo, passamos à observação das transformações fonéticas do português europeu do 
séc. XIV aos nossos dias. 
1. Eliminação dos encontros vocálicos em hiato, advindos da síncope das 
consoantes –d-, -l- e –n- intervocálicas. Para tanto, o sistema linguístico encontrou 
soluções: 
Desenvolvimento de uma consoante entre essas vogais: v~io> vinho (til em cima do i) 
Contração de duas vogais numa única: 
 Vogal nasal: se uma vogal é nasal, geralmente o resultado é vogal nasal: lãa> lã; 
paombo> pombo etc; 
 Contração de duas vogais orais: a contração de duas vogais orais sempre resulta em 
vogal oral e isso pode afetar o sistema, trazendo a ele novos fonemas: 
Em posição tônica o sistema já é o atual: vies > vis; leer>ler; pee>pé;coor>cor; nuu>nu.Gaanha>ganha, [a] aberto } a partir desses dados, opõem-se –ámos e –amos, 
Cama – a etimológico → [ä] fechado } perfeito e presente em português europeu. 
A contração de duas vogais orais sempre resulta em vogal oral e isso pode afetar o sistema, 
trazendo a ele novos fonemas: 
Em posição postônica, o sistema não se altera. –oo e –aa em fim de palavra contraem-se em 
–o e –a, respectivamente. Ex: diaboo> diabo, Brágaa> Braga. 
Confundem-se com –o e –a etimológicos, herdados das formas latinas, como amigo, amiga. 
a contração de duas vogais orais sempre resulta em vogal oral e isso pode afetar o sistema, 
trazendo a ele novos fonemas: 
Em posição pretônica1, as contrações dos hiatos produzirão três fonemas vocálicos novos, que 
sempre se distinguem das vogais simples na mesma posição ([ɛ], [a], [ɔ]), como em 
escaecer> esqueecer, esquècer; preegar> prègar; caaveira>càveira; coorar>corar etc. 
1 No séc. XV, quando as contrações dos hiatos se completaram, essas vogais deveriam ser 
longas e abertas, em oposição às pretônicas simples ([e], [a], [o]) breves e fechadas. 
Os três fonemas novos serão reforçados em palavras eruditas, que terão timbre aberto, como 
dir[ɛ]ctor, [a]cção, ad[ɔ]pção etc. 
Por volta de 1500, o sistema de vogais orais em posição pretônica está igual ao das tônicas: 
i u 
 e o 
 ɛ ɔ 
 ä 
 a 
 Contração de duas vogais: contração de duas vogais orais em um ditongo oral, que, 
em alguns casos, causará confusões, como é o caso de a-e> ae, confundido com ai; e 
a-o> ao, confundido com au. 
Algumas contrações darão origem a ditongos inteiramente novos, inexistentes na língua até 
então, como [ɔ]e> oe, hoje oi: so-es> soes> sóis; [ɛ]o> eo, hoje eu: ce-o> ceo> céu; [ɛ]e> 
ee>ei: crue-es> cruees> cruéis. 
Contração de duas vogais orais em um ditongo oral, que, em alguns casos, causará 
confusões, como é o caso de a-e> ae, confundido com ai; e a-o> ao, confundido com au. 
O quadro dos ditongos assim se estabelece: 
 ui iu 
ei oi eu ou 
 [ɛ]i [ɔ]i [ɛ]u 
ai au 
 Contração de uma vogal: contração de uma vogal nasal e uma vogal oral em ditongo 
nasal: 
Ã-o, ã-e, õ-e > ditongos: ão, ãe, ãe , como em mão, cães e leões. 
 Encontros vocálicos: encontros vocálicos provindos da síncope de –d- de desinências 
verbais (2ª pessoa do plural) são resolvidos de formas distintas: 
- As vogais são suprimidas por ações analógicas: seerei e teerei> serei e terei, com [e] 
pretônico ao invés do esperado [ɛ]; 
- As grafias não seguem as transformações, mantendo vogais duplas mesmo depois de já feita 
a contração; 
- Escrevem-se vogais duplas onde não existiam, para indicar sílaba tônica, como em estaa, 
antiigo etc; 
Encontros vocálicos provindos da síncope de –d- de desinências verbais (2ª pessoa do plural) 
são resolvidos de formas distintas: 
- Alguns hiatos são eliminados mais tarde, como ~u-a (til em cima do u)> uma; e-o> -eio,-
eia, com alargamento; 
- Alguns encontros vocálicos sobreviveram, como lua, boa etc; 
- Hiatos produzidos por quedas de consoantes desencadearam um processo de revisão que 
provocou o enriquecimento do sistema fonológico das vogais nos séculos XIV e XV: oito vogais 
em posição tônica e pretônica, e em posição final, apenas três (/E/, /A/, /O/), além de onze 
ditongos orais (ei, ei, ai, ói, oi, ui, iu, eu, éu, au, ou) e três nasais. 
2. Unificação dos substantivos singulares anteriormente em –ã-o, -an e –on: 
- Os antigos hiatos (mã-o, can e le-on) reduziram-se (> mão, can e leon) para então se 
unificarem em mão, cão e leão. Isso mostra que todas as palavras da língua que possuíam –
an (am) e –on (om) convergiram para –ão; 
- formas verbais tônicas: dan>dão. 
Átonas: cantáran: cantarão (hoje cantaram, mais que perfeito), que se diferenciava de 
―cantáron‖ (perfeito.) 
Advérbios: entón, non> então, não. 
Por volta de 1500, o estado da língua moderna já estava definido quanto a esse aspecto. E do 
centro-sul passam a emanar as leis. 
3. Permanência da distinção entre /b/ e /v/ no português comum: 
- /b/ e /v/ continuam sendo fonemas distintos. 
- o centro e o norte hoje, como em espanhol, têm um único fonema que é /b/ oclusivo bilabial 
ou /ƀ/ fricativo bilabial, dependendo do contexto fonético em que ocorra. 
- no séc. XVI, um testemunho explícito: Duarte Nunes do Lião, em sua Orthographia, 
menciona a confusão entre b e v. 
Explicações possíveis: 
- Toda a Península teria conhecido primeiro a distinção entre um /b/, que era uma oclusiva 
bilabial, e um /v/ que era uma fricativa labiodental; esse fenômeno atinge todas as regiões, 
menos o centro e o sul de Portugal; 
- Haveria uma oclusiva /b/ e outra fricativa /ƀ/. O traço de distinção desapareceria causando 
confusão, mas no centro e no sul a oposição permaneceria pela passagem do /b/ bilabial a /v/ 
labiodental; 
- Com isso, os falares do norte se afastaram mais dos do centro e do sul. 
4. Evolução do sistema das sibilantes: 
- Inicialmente, são quatro os fonemas: [ts],[s],[dz] e [z]. Por volta de 1500, [ts] e [dz] 
perdem o elemento oclusivo. O novo quadro assim se organiza: 
- Predorsodentais surda (/s/, escrita ç e c, como em ―paço‖) e sonora (/z/, escrita z, como em 
―coser‖); 
- Ápico-alveolares surda (/ś/, escrita s e SS, como em ―passo‖) e sonora (/z ́/, escrita s, como 
em ―coser‖); 
- Os textos aljamiados escritos em Marrocos mostram não haver confusão entre as séries, e a 
gramática de Fernão de Oliveira contém descrição precisa. 
- No fim do séc. XVI, o português reduziu o sistema das sibilantes a dois fonemas, em favor 
das predorsodentais, como o francês: surda /s/, de forma que ―paço‖ e ―passo‖ confundem-
se, e a sonora /z/, causando confusão entre ―coser‖ e ―cozer‖. 
- Esses fatos ocorreram com o português comum, a língua oficial e de prestígio do centro e do 
sul. No norte é diferente: do noroeste ao centro-leste, dois fonemas ([s ́] e [ź], também 
conhecidos como ―s beirão‖); no Minho, Trás-os –Montes e Beira alta, conservam-se os quatro 
fonemas. 
5. Monotongação de ou em [o]: 
- no norte, continua a existir ou; 
- algumas palavras variam de ou para oi (toiro, oiro, coisa); 
- esse ditongo oi evitou a monotongação, mas se confundiu com oi já existente na língua, 
herdado do latim, como ―noite, oito‖ etc); 
- essa variação não atingiu todas as palavras (como pouco, amou etc); 
- no séc. XVI, antes de generalizar-se o fenômeno na língua padrão, os judeus no teatro de Gil 
Vicente empregam sistematicamente oi por ou: coisa, poico etc. 
6. Passagem de [t ] a [ʃ]: 
 
 
 
 
 
 
7. Pronúncia chiante de s e z implosivos: 
- hoje, todo s e z implosivos (fim de sílaba) são chiantes [ʃ] ou [ȝ]. 
Explicação: 
 Enquanto as ápico-alveolares se transformavam em predorsodentais em início de 
sílaba, elas se teriam palatalizado em fim de sílaba como chiantes. 
 É pouco compreensível o fato de que, em Minas Gerais, s e z implosivos são chiantes 
puras. 
 S e z implosivos teriam sido inicialmente sibilantes; entre o séc. XVI e o primeiro 
testemunho, o chiamento teria se produzido. 
 Nos falares do norte, na zona intermediária do ―s beirão‖, os s e z implosivos são 
comumente percebidos como ápico-alveolares. 
 Na zona arcaica do nordeste, entre o antigo s, pronunciado como um [s ́] ápico-
alveolar, e o antigo z, pronunciado como [s] predorsodental, há diferença. 
8. “Redução” das vogais átonas [e] e [o]: 
 Átonas finais: por volta de 1800, E e O pretônicas e átonas finais serão reduzidas 
[e]> [ë]: m[ë]ter e p[ä]se; 
[o]> [u]: m[u]rar, pás[u]. 
 Grafia oficial: a grafia oficial continua a manter E e O. 
 Vogais com caminhos diferentes: mas essas vogais terão caminhos diferentes: 
Posição átona final: o sécula XVII tem testemunho dessa redução. Na primeira metade desse 
século, a regra é que o>u. Na segunda metade, e>i (hoje i> ë); 
Posição pretônica: no século XVI, apresentam-se oito fonemas (contando-se aí I e Ë). 
 Posição pretônica: em posição pretônica, há asseguintes intervenções: 
Dissimilação: -i-i> -e-i dizia> dezia 
 -u-u> -o-u futuro> foturo 
Dilação: -e-i> -i-i menino> minino 
 -o-u> -o-u fremosura> frumusura 
Hesitações morfológicas nos paradigmas verbais: fogir-fugir; dormirei-durmirei, em razão das 
alternâncias vocálicas regulares de fujo-foge e durmo-dorme. 
Palavras particulares: O e E pretônicos> u e i 
Essas variações vocálicas não caracterizam uma evolução do sistema e uma passagem de e>i, 
o>u. 
 Detalhes: detalhando um pouco mais, temos: 
[o]> [u], sendo que no século XVII temos [o], e mais ou menos em 1800 temos [u] 
[e] > [ë] 
 Século XX: 
 
 
 
 
 
9. Monotongação ou manutenção de ei: 
- a monotongação de ei>e não foi admitida na língua comum, por causa de Lisboa (se incluiu, 
quanto a esse fenômeno, no grupo conservador, com o norte). 
- na língua moderna, houve um fenômeno de diferenciação: ei> äy 
10. Inovações fonéticas do século XIX: 
As mais importantes são: 
ey>äy: diferenciação para acentuar oposição entre o elemento inicial e o elemento final do 
ditongo (admitido como normal na língua padrão); 
-[e] tônico > [ä] diante de palatal: venho [vänho], espelho [ispälhu], vejo [väȝu], fecho [fäʃu] 
etc 
- Pronúncia uvular do /r/ forte: /r/ brando (uma vibração) e /r/ (mais de uma vibração) > /r/ 
brando e /r/ forte uvular. 
AULA 8 – O MODERNO PORTUGUÊS EUROPEU (PARTE II) 
Partindo do que já foi iniciado na aula anterior, apresentam-se agora as principais alterações 
nos planos morfológico, sintático e lexical. 
Do século XVI em diante, pode-se dizer que a morfologia atingiu um nível de estabilidade que 
inspirará poucas alterações no português europeu. As evoluções fonéticas atingem 
obviamente o sistema morfológico. 
Um caso emblemático dessa situação é a formação dos plurais de nomes terminados em –ão, 
como ocorre com os exemplos mãos, cães e leões, assim como ocorre também com a fixação 
dos femininos de adjetivos em –ão, como o exemplo de sã. 
Outro caso produtivo na análise dos textos é o plural de nomes e de adjetivos terminados em 
–l: cruel/cruéis; sol/sóis, etc. 
É importante salientar que são eliminadas as formas de possessivos femininos átonos ma, ta e 
as. Já os anafóricos (h)i e em desaparecem como formas independentes. Pronomes e 
advérbios dêiticos organizam-se em um quadro que já é o atual: este, esse, aquele; aqui, aí, 
ali, cá e lá. 
Homem sendo empregado como a função de pronome indefinido, à semelhança do on 
francês, desaparece nesse período, bem como o uso do partitivo (como em ―Quero do pão‖). 
Além disso, as preposições per e por fundem-se em favor de por e pelo e polo, em favor de 
pelo. 
Quanto à morfologia do verbo, há uma simplificação de seu paradigma. 
As primeiras pessoas... 
Ainda no plano morfológico, aponta-se a questão do tratamento, que até aproximadamente 
1500 só contava com o tuteamento familiar e o voseamento cerimonioso. A partir de então 
surgem as formas ―vossa graça‖, ―vossa mercê‖, ―vossa excelência‖, ―senhor‖ e ―senhor 
doutor‖. 
Testemunhos do estágio... 
Ainda no plano morfológico, aponta-se a questão do tratamento, que até aproximadamente 
1500 só contava com o tuteamento familiar e o voseamento cerimonioso. A partir de então 
surgem as formas ―vossa graça‖, ―vossa mercê‖, ―vossa excelência‖, ―senhor‖ e ―senhor 
doutor‖. 
Plano morfológico... 
Ainda no plano morfológico, aponta-se a questão do tratamento, que até aproximadamente 
1500 só contava com o tuteamento familiar e o voseamento cerimonioso. A partir de então 
surgem as formas ―vossa graça‖, ―vossa mercê‖, ―vossa excelência‖, ―senhor‖ e ―senhor 
doutor‖. 
Segundo Teyssier (2001), já se verifica, a partir do século XIX, o desuso da 2ª pessoa do 
plural na língua falada. 
No português moderno, há dois casos em que o emprego do infinitivo flexionado é obrigatório, 
quais sejam, quando há um sujeito explícito e quando a clareza exige, para que se evite a 
ambiguidade, que se verifica respectivamente em: 
―... e feito o cômputo dos tempos, se achou serem passados trezentos anos‖ (BERNARDES. 
Sermões e práticas. Lisboa, 1733, II, p. 242) 
―Ó Netuno, lhe disse, não te espantes De Baco nos teus reinos receberes‖ (Os Lusíadas, VI, 
15) 
Também aparecem na própria obra Os lusíadas exemplos nos quais se esperaria a ocorrência 
de infinitivo flexionado, ao invés de não flexionado: 
―Não sofre muito a gente generosa 
Andar-lhe os cães os dentes amostrando‖ (Os Lusíadas, v. I, 87) 
Quando à sintaxe, pensando em termos de colocação, concordância e regência, 
observamos tudo quanto segue, abaixo: 
O início da era moderna salienta uma acentuada liberdade em termos de colocação das 
palavras na frase. Muitos desses casos é questão daquilo que se chama ―latinismo‖, isto é, 
uma retomada, dentro do possível, do estilo dos autores latinos. São casos desse tipo a 
transposição do verbo para o fim da frase nas subordinadas, o estilo de frases longas, e 
períodos carregados de subordinação, dentre outros. Observem-se: 
1. ―A Deus pedi que removesse os duros 
Casos que Adamastor contou futuros‖. (Camões) 
2. ―(...) quando alevantaram 
Um por seu capitão, que peregrino 
Fingiu na cerva espírito divino‖ (Lus. I, 26) 
Atualmente, é a ordem a preferência absoluta, principalmente em textos não literários. A 
ordem inversa se dá pela influência do latim literário, como já se disse anteriormente. Apesar 
disso, há alguns pequenos contextos sintáticos que acabem favorecendo a ocorrência da 
ordem indireta, como é o caso em orações com intransitivo, com voz passiva, com imperativos 
e optativos: ―morreu o general‖; ―foi dado o primeiro passo‖; ―faça-se ser ouvido!‖; ―chegaram 
as férias‖; ―começaram as aulas‖ etc. 
Quanto à concordância, pode-se dizer, consoante Chaves de Melo (1981) que ela é tão rica e 
variada quanto os escritores a apresentaram, segundo intensas variações semânticas em 
numerosas possibilidades estilísticas. 
Embora historicamente a língua arcaica estivesse mais próxima ao latim, a concordância se 
fazia de um modo mais livre. Atualmente, as regras se sistematizaram ao ponto de exercer 
estigmatização social no falante que delas se afasta. 
Os renascentistas obviamente se esforçaram para tornar a língua mais próxima ao latim, como 
se vê no exemplo abaixo, um caso de concordância do verbo com o aposto: 
―Vêde-los alemães, soberbo gado 
Que por tão largos campos se apascenta, 
Do sucessor de Pedro rebelado, 
Novo pastor e nova seita inventa‖ (Lus., VII, 4) 
 
Os autores reconhecem na aplicação da concordância uma questão de estilo que supera a 
questão de gramática, no que concerne à imensa variedade de usos constatados nos textos. 
Para tanto, recomenda-se a obra de Said Ali, intitulada Gramática Histórica, que nesse tema é 
uma das mais completas. 
A esse respeito confirmam os exemplos de concordância com a expressão ―um dos que‖. 
Inicialmente pensar-se-ia que só o plural importaria. No entanto é o singular que tem ganhado 
espaço, num esforço de realçar o elemento singular (―um‖). 
Observem-se os exemplos abaixo, dispostos em ordem cronológica, segundo a época em que 
viveram os autores: 
―Uma das cousas que me mais espantou desno tempo que comecei a revolver livros a 
demasiada negligência dos cronistas destes reinos‖. (Damião de Góis, D. Manuel, 577) 
―Ele foi ũa das primeiras terras de Espanha que recebeu a fé de Cristo‖ (Frei Luís de Sousa, 
História de S. Domingos, p. 2) 
―Ũa das cousas que agradou sempre a Deus em seus servos, foi a peregrinação‖ (Vieira, 
Sermões, VII, p. 568) 
Quanto à sintaxe de colocação, ressalta-se imediatamente a questão da colocação dos 
pronomes. 
Desde a língua arcaica, verificam-se diferentes tendências. 
Assim, muitas vezes aparecem ênclise com futuro do presente e com futuro do pretérito 
(antigo Condicional), como ―farei-te‖, ―buscaria-o‖, ―(...) ou vós me matade, ou eu matarei-
vos‖ (Ademanda do santo Graal, Ed., Magne, I, p. 88, apud Chaves de Melo,1981). 
Há também uma quantidade considerável de ocorrências em que outros elementos aparecem 
entre pronome e verbo, como se vê no Livro das Linhagens (séc. XII ou XIV): ―(...) perguntou 
(...) como poderia leixar aquel castelo a seusalvo, pois que lho el-rei non queria tomar‖. 
Em Gil Vicente também aparece: 
―Não tem mais de dous vinténs 
Que lhe hoje o cura emprestou!‖ (quem tem farelos? versos 219-220) 
Também em Camões: 
―Nomes com quem se o povo néscio engana‖ (Lus., IV, 96) 
E também na prova de Gabriel S. de Sousa (contemporâneo de Camões): 
―(...) porque o achou fortificado dos franceses na terra firme, onde tinham feito cercas mui 
grandes e fortes de madeira, com seus baluartes e artilharia, que lhes umas naus que ali 
foram carregar de pau deixaram, com muitas espingardas‖. (Tratado descritivo do Brasil em 
1587, 3 ed., Cia Ed. Nacional, 1938) 
Do séculos XVI ao XVIII, vão se fixando tendências que orientam esse uso até os dias atuais, 
ligadas a um processo fonético de atonização por que essas formas passaram, procurando, 
tais pronomes, um apoio fonético na emissão da sílaba tônica das palavras que os circundam 
na construção, conforme se encontra explicitamente dito em qualquer manual de língua 
portuguesa atual. 
A despeito das regras sistematizadamente expostas nos manuais, esses posições são muito 
mais tendências do que regras propriamente ditas. Ao lado que preconizam os manuais, há 
um número considerável de escritores portugueses que exemplificam usos divergentes. 
Com as grandes navegações, Portugal conquistou muitos outros territórios. Esses fatos 
também trouxeram interferências na deriva natural da língua portuguesa. Isso se verificou 
principalmente no plano lexical da estrutura linguística. 
Foram contribuições que vieram de diferentes continentes. Inicialmente, o português recebeu 
novos vocábulos da África, com novas palavras árabes; da Ásia, com o dravídico, o malaio e o 
chinês, e mais tarde, do Brasil. 
Bilinguismo Luso-Espanhol 
Outro fator que provocou algumas alterações no léxico português foram os dois séculos e 
meio de bilinguismo luso-espanhol, nos quais houve significativas trocas, embora o português 
tenha aceitado poucas contribuições do espanhol. 
Na virada do século XVIII para o XIX, verifica-se em curso um período de aceleração de 
algumas tendências anteriores que então se sedimentam e, portanto, identifica-se aí uma 
nova inspiração linguística cunhada por alguns, como o início do português contemporâneo. 
Para ilustrar as alterações promovidas nesse período, citam-se o emprego do artigo definido 
acompanhado de possessivo, a maior rigidez no emprego do pronome átono (que em Portugal 
tem a preferência inicialmente pela próclise e hoje pela ênclise), o emprego da mesóclise 
restringe-se ao registro escrito da língua, o emprego do futuro perde seu caráter mais 
temporal e adquire o traço mais modal, o pretérito mais- que-perfeito confina-se também ao 
registro escrito. 
Até 1907, a ortografia do Brasil e Portugal são oficialmente as mesmas, ano em que a 
Academia Brasileira de Letras tentou estabelecer um sistema ortográfico próprio, que foi visto 
e revisto pelos estudiosos interessados da época, o que culminou em uma grande revisão e 
voltou a envolver Portugal, na edição de 1931 da reforma ortográfica. 
Salienta-se, finalmente, uma vez que o tema aqui é o português europeu, que a imprensa 
portuguesa tem divulgado que o cidadão comum, não afeito aos princípios linguísticos, rejeita 
as alterações e reconhece o novo acordo como algo que não pertence à língua portuguesa, 
objeto da qual se consideram donos. Para eles, as alterações propostas lhes soam como 
―pretuguês‖ (matéria divulgada no site www.sapo.pt), neologismo que faz alusão às colônias 
povoadas por negros, de cunho pejorativo, por oposição ao bom português. 
AULA 9 – O PORTUGUÊS DO BRASIL 
É de conhecimento de todo brasileiro que tenha terminado o ensino fundamental os fatos 
históricos que são importantes para a compreensão do contexto em que se estrutura o 
português do Brasil. Mesmo assim, é importante relembrar os mais relevantes. 
É sabido que em 1500 Cabral aporta no Brasil e encontra nossos índios. Em 1532, começa 
efetivamente a colonização pelo litoral. Só mais adiante, começam, por São Paulo, as 
expedições interioranas. 
Mas em todo o processo inicial de colonização, não houve investimento cultural propriamente 
dito. Não havia universidade nem tipografia. As escolas alfabetizavam e ensinavam o 
português europeu, que é então de fato aprendido. Nas ruas, a conversação ordinária se dava 
em língua geral inicialmente. 
Os portugueses tentaram nos primeiros contatos impor o português como língua aos 
indígenas. Mas essa empreitada não logrou êxito diante dos indígenas brasileiros, de forma 
que os colonizadores tiveram de recuar e aprender um pouco das línguas indígenas de maior 
número de falantes para então depois promover algumas alterações, introduzindo palavras e 
estruturas portuguesas. 
E assim se forma a língua geral: um tupi modificado pelos jesuítas, embora as línguas 
indígenas continuavam a sobreviver. Só com a expulsão dos jesuítas é que a língua geral 
deixou de ser usada, pois Pombal a proibira. Coincidentemente, datam dessa época os 
primeiros testemunhos da fala dos brasileiros ricos, denominados mineiros. 
Somente em 1808, com a chegada da família real ao Rio de Janeiro, o Brasil ganha 
significativamente em termos culturais. 
Dentre as várias consequências dessa instalação, citam-se a criação da Biblioteca Nacional, a 
do Banco do Brasil, a do Jardim Botânico, a presença de 15000 portugueses da Corte na 
cidade, com seus hábitos linguísticos bem distintos das levas de portugueses que vieram 
habitar e explorar o interior do Brasil. 
Salienta-se, sobretudo, a elevação da colônia à categoria de reino. Todos esses fatos 
constituem o que se chama o fenômeno de relusitanização. 
Após a retirada de D. João VI, o Brasil consegue a independência, se influenciará fortemente 
pela cultura francesa e acolherá, ao longo dos anos, imigrantes europeus de nacionalidades 
diversas e, mais recentemente, também asiáticos. 
Com o fim do tráfico de escravos africanos e com a crescente miscigenação, a aculturação fica 
cada vez mais evidente, e isso marca a constituição da sociedade brasileira. 
Também no Brasil, a área do nordeste, impulsionadora inicial da economia, fica culturalmente 
encolhida e o centro de prestígio passa ao centro-sul. Os processos de urbanização e de 
industrialização mudam a caracterização eminentemente rural do país. 
Por conta dessa característica rural, portanto, com tendências fortemente conservadoras, ao 
lado de uma formação social, multicultural, o português no Brasil se mostra ora conservador 
(daquele status linguístico aqui implantado), ora inovador (pela força do multiculturalismo que 
compõe a sociedade brasileira). 
Quanto ao vocábulo, obviamente convergem três grandes origens: 
Em primeiro lugar, o velho fundo de palavras latinas eruditas e semieruditas. Ao lado dessa 
maioria, encontram-se contribuições indígenas, sobretudo de origem tupi, e as contribuições 
de origem africana, principalmente do ioruba do quimbundo. 
Depois do Romantismo, alguns brasileiros se puseram a pensar a realidade da língua 
portuguesa falada no Brasil e até a reivindicar a existência de uma língua propriamente 
brasileira, como aconteceu no Modernismo. 
De lá para cá, o assunto nunca mais deixou de estar em pauta, e os cientistas da língua, os 
linguistas, se dedicam ao seu estudo. 
As posições dos pesquisadores de uma geração anterior a essa em que nos encontramos eram 
as mais divergentes 
AULA 10 – O PORTUGUÊS NO MUNDO 
Como se sabe, a expansão ultramarina realizada por Portugal levou a língua portuguesa a 
lugares distantes e variados. 
O destino de cada língua também foi bastante diferenciado. Assim, algumas se fixaram, 
dominaram e outras se misturaram

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