Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LIANA T. RIBEIRO MANUAL DE ESPERMOGRAMA EM ANIMAIS Manual referente ao espermograma em animais apresentado ao Curso de Medicina Veterinária, Área das Ciências Agrárias, da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, como requisito parcial para aprovação na componente curricular Fisiopatologia da Reprodução II. Professor: Fabio José Gomes Campos Novos – SC 2021 Introdução 3 Exame andrológico 4 Espermograma 4 Resfriamento e envasamento de sêmen 11 1. Introdução A morfologia espermática está diretamente relacionada ao sucesso da interação espermatozóide-ovócito e do desenvolvimento embrionário inicial, sendo necessário que os gametas sejam morfologicamente normais. Em critérios práticos, a avaliação individualizada do animal é uma das formas mais comuns de definir quando o macho está apto à reprodução. Para isto, desenvolveu-se uma série de padrões seminais que podem estar correlacionados com a fertilidade ou infertilidade dos animais. Nesta análise são considerados diversos aspectos, entre eles podemos citar os macroscópicos, como: cor, odor, volume e aspecto; microscópicos, como: turbilhonamento, concentração espermática, motilidade, morfologia, vigor e aglutinação espermática. A identificação de anormalidades na morfologia refletem a funcionalidade do espermatozóide e consequente seleção do reprodutor. 2. Exame andrológico A análise dos espermatozoides inicia com exame físico geral e específico do animal com a coleta de dados referente a idade, raça, doenças prévias, palpação de aprumos, análise de comportamento, se há ou não presença de ferimentos, avaliação de boca e dentição e escore corporal. O objetivo nessa etapa é descartar qualquer anormalidade a fim de evitar consequências indesejáveis e eliminar reprodutores inaptos. O exame específico é realizado diretamente na bolsa escrotal com a palpação e inspeção testicular, plexo pampiniforme, escroto, epidídimo, prepúcio, pênis e se há ou não presença de hérnias. Nessa etapa, verifica-se dimensões, simetria, consistência e a mobilidade de cada órgão, sendo que qualquer alteração observada deverá ser anotada. Na avaliação dos testículos, é importante que ambos estejam dentro da bolsa escrotal, além disso, avalia-se tamanho, consistência, aderências, sensibilidade e temperatura, sendo esta muito importante na maturação dos espermatozóides, visto que uma temperatura maior que a normal inviabiliza a qualidade espermática. A palpação do plexo pampiniforme visa buscar presença de estruturas anormais, como nódulos (geralmente se formam por problemas de irrigação, consequentemente diminui o controle de temperatura) ou presença de hérnias, sendo que qualquer alteração deve ser anotada. O escroto deve ser avaliado a fim de descartar qualquer lesão de pele, presença de sensibilidade, aumento de temperatura, aderências e em relação ao perímetro, sendo que o tamanho varia de acordo com a raça e espécie (região mais larga possui maior produção espermática e maior precocidade). O epidídimo deve estar aderido aos testículos, sendo que qualquer alteração ou sensibilidade representa falha na maturação dos espermatozóides, e o exame é o mesmo feito nos testículos. Para avaliação do pênis e prepúcio, é observado se há exposição correta do pênis, coloração da mucosa, aumento de volume, temperatura, presença de abcessos e secreções anormais. Os animais que não possuírem alterações e anormalidades durante o exame físico geral e específico estão aptos para a realização de coleta do sêmen. Para a coleta, é feita a limpeza do prepúcio com gaze e solução fisiológica a fim de minimizar qualquer sujeira existente que possa prejudicar a avaliação seminal. A coleta é feita com o uso do eletroejaculador (a longo prazo pode causar lesão) ou vagina artificial. O eletroejaculador é inserido na região do reto e iniciado os estímulos elétricos que variam de 1 a 3. Após o primeiro estímulo, é feita uma pausa de 20 a 30 segundos e posteriormente inicia novamente o estímulo de forma mais intensa, sempre fazendo pausas entre um e outro até o animal ejacular. 3. Espermograma Após a coleta, o tubo contendo o ejaculado deve ser encaminhado imediatamente ao laboratório e armazenado a 37 graus. Dentro do próprio tubo de coleta é feita a avaliação macroscópica do volume, cor, odor e aspecto. O volume é relativo e depende do método da coleta. O aspecto, odor e cor se referem a presença de sangue, urina, pus ou qualquer outra alteração visual que possa indicar alterações no ejaculado. Após a análise macroscópica, segue-se para a avaliação microscópica iniciando pelo turbilhonamento (somente em ruminantes). Para isso, é colocado uma gota de sêmen puro sobre uma lâmina pré-aquecida a 37 graus e observado no microscópio na objetiva de 10 ou 40 vezes a presença de ondas espermáticas. A escala de avaliação varia de zero (ausência de movimento) a cinco (presença de movimentação), entretanto, o turbilhonamento acentuado pode ser afetado pelo método de coleta, tempo da coleta até a análise e temperatura. A escala da avaliação de motilidade e vigor também variam de 0 a 5, porém, para fazer a análise é necessário fazer uma solução de 2,9g de citrato de potássio diluído em 1 litro de água destilada. Após isso, com o uso da pipeta, utiliza-se em ovinos 1 microlitro de sêmen para 10 microlitros da solução, e com o uso de lâminula observa-se no microscópio com objetiva de 10 ou 40 vezes a motilidade, referente a movimentação dos espermatozoides (o ideal é todos no mesmo sentido até o oócito), e o vigor, referente a força e a qualidade do movimento. Posteriormente a isso, faz-se a análise da concentração do espermatozóide, para avaliar o número de espermatozoides por unidade de ejaculado. É utilizado solução formol salina, composta de 96 mL de solução usada para avaliar motilidade e vigor com 4 mL de formol. Em sêmen fresco, utiliza-se 1 microlitro de sêmen para 200 microlitros de solução formol salina, e para sêmen congelado, utiliza-se 1 microlitro de sêmen fresco para 20 microlitros de solução formol salina. Após isso, coloca-se uma lamínula sobre uma câmera de neubauer com 10 microlitros da amostra e aguarda 5 minutos para que os espermatozoides decantem. Após esse tempo, visualiza-se a câmera de neubauer no microscópio na objetiva de 10 ou 20 vezes e conta-se 5 quadrados em diagonal nos dois compartimentos, direito e esquerdo, e então, soma-se o resultado de ambos os lados e divide por 2 para encontrar a média, sendo que a diferença entre os dois compartimentos não poderá passar de 10%. Posteriormente, utiliza-se a fórmula de concentração para o resultado final (concentração = média x diluição utilizada x altura da câmara de neubauer x 5 (número de quadrados contados) x 1000) e multiplica-se pelo valor em mL do ejaculado total, para encontrar o número de espermatozoides naquele ejaculado, como mostra o exemplo na imagem 1. Imagem 1. exemplo utilizando a fórmula da concentração, onde: Média = 210 Diluição utilizada no dia de aula prática = 100 Número de quadrados contados = 5 Altura da câmera de neubauer = 10 Volume do ejaculado = 0,8 mL Para análise morfológica dos espermatozóides, deve-se levar em consideração a morfologia normal do espermatozóide (imagem 2). Utiliza-se 100 microlitros de solução formol salina para 1 microlitro de ejaculado. A diluição é colocada sobre a lâmina e realizado o esfregaço e coloração com panótico rápido. É observado no microscópio na objetiva de 100 vezes com o uso de óleo de imersão. É contado 200 espermatozoides em campos aleatórios e feito a média de espermatozoides defeituosos. Os defeitos dos espermatozoides são divididos em defeitos maiores e menores. Alguns dos defeitos observados em aula prática estão listados na tabela 1 e ilustrados nas imagens 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Outros métodos utilizados em aula prática para avaliar morfologia foi a coloração de rosa bengala, eosina e nigrosina. Para a coloração de rosa bengala, foram utilizados 5 microlitros de sêmen e 5 microlitros de rosa bengala e colocados sobre uma lâminae observado na objetiva de 100 vezes com óleo de imersão. Na coloração com eosina e nigrosina, foi utilizado 20 microlitros de sêmen para 20 microlitros de eosina e nigrosina em uma lâmina, seguida de esfregaço, secagem e visualização, onde somente os espermatozóides com coloração esbranquiçada foram ser considerados vivos. Tabela 1. Principais defeitos espermáticos observados em aula prática. Defeitos observados Provável causa Knobbed sperm Estresse térmico ou má formação no acrossoma Cabeça piriforme Genética ou estresse térmico Cabeça estreita Genética ou estresse térmico Cabeça isolada Estresse térmico Cabeça microcefálica Estresse térmico Gota citoplasmática proximal Desenvolvimento incompleto Estreito na base Genética ou estresse térmico Cauda fortemente enrolada ou dobrada Estresse térmico Imagem 2. morfologia espermática normal. Imagem 3. knobbed sperm. Imagem 4. cabeça piriforme. Imagem 5. cabeça isolada. Imagem 6. cabeça microcefálica. Imagem 7. gota citoplasmática proximal. Imagem 8. estreito na base. Imagem 9. cauda fortemente enrolada. 4. Resfriamento e envasamento de sêmen Para o resfriamento do sêmen, foi feita uma solução básica de diluição, também chamada de extensor. A composição e valores utilizados estão descritos na tabela 2. Tabela 2. composição da solução para o resfriamento do sêmen. Composição Quantidade (g) Frutose 2,024 Ácido cítrico 1,488 Triz 3,605 Água deionizada 90 mL Gema de ovo 10 mL Primeiro, pesou-se cada um dos componentes colocando-os em um becker, após isso, misturou-se 90 mL de água deionizada, 10 mL de gema e o sêmen do animal (a quantidade utilizada depende da espécie), levando para a refrigeração de 5 a 10 graus. Próximo ao envasamento (a fresco) deve ser colocado o restante dos diluentes e por último o glicerol (em caso de congelamento) e a penicilina, mas em aula prática foi utilizado 3 mL de gentamicina. Após esse processo, foi utilizado em aula prática uma caixa de isopor com bandejas de gelo e a solução preparada com o objetivo de manter a mesma temperatura da refrigeração. No mesmo instante, foi feito o envase das pipetas com o fechamento das mesmas. Posteriormente a isso, as pipetas preparadas foram mergulhadas em nitrogênio líquido durante 20 minutos com o objetivo de atingir 196 graus negativos. Após esse tempo, as pipetas foram retiradas e armazenadas em um botijão de nitrogênio.
Compartilhar