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Noções de Direito Constitucional

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Noções de Direito Constitucional: 
 
 
 
 
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO 
A experiência histórica do século XX confirmou o estado como institui-
ção predominante nas sociedades humanas. Seu principal instrumento, a 
constituição, é a fonte por excelência da teoria jurídica. 
Lei máxima, que encerra as normas superiores da ordenação jurídica 
de uma nação, a constituição define desde a forma do estado e do governo 
até o complexo normativo e costumeiro referente ao poder político organi-
zado e aos direitos dos cidadãos. Todos os estados, seja qual for sua forma 
de governo, desde que ajam de acordo com certas normas fundamentais e 
possuam ordenamento jurídico, têm constituição. As constituições podem 
ser escritas, como a brasileira, expressa num documento único e definido, 
ou consuetudinárias, como a do Reino Unido, que se baseia num conjunto 
de documentos, estatutos e práticas tradicionais aceitas pela sociedade. 
Teorias tradicionais. Desde a Grécia clássica, desenvolveu-se no Oci-
dente europeu a convicção de que a comunidade política deve ser gover-
nada por lei embasada no direito natural. Foi Aristóteles, a partir do estudo 
e classificação das diferentes formas de governo, quem desenvolveu o 
conceito de constituição. Para ele havia três formas legítimas de organiza-
ção política: monarquia, ou governo de um só homem; aristocracia, ou 
governo dos melhores; e democracia, governo de todos os cidadãos. As 
formas ilegítimas que correspondem a cada uma das formas legítimas 
seriam, respectivamente, tirania, oligarquia e demagogia. O melhor sistema 
de governo seria o que combinasse elementos das três formas legítimas, 
de modo que todos assegurassem seus direitos e aceitassem seus deve-
res, em nome do bem comum. Outro princípio aristotélico afirma que os 
governantes são obrigados a prestar contas aos governados e que todos os 
homens são iguais perante a lei. Esse princípio se aplicava, na antiga 
Grécia, apenas aos homens livres e não aos escravos. 
O aprimoramento da lei foi a maior contribuição de Roma à civilização 
ocidental. Para os dirigentes romanos, a organização do estado correspon-
dia a uma lei racional, que refletia a organização do mundo. 
A partir do momento em que se transformou na religião predominante 
do Ocidente, o cristianismo defendeu uma concepção monárquica de 
governo. Nos últimos anos do Império Romano, santo Agostinho postulava 
que as constituições terrenas deviam, na medida do possível, corresponder 
ao modelo da "cidade de Deus" e concentrar o poder num único soberano. 
Segundo essa tese, que se firmou durante a Idade Média e deu sustenta-
ção ao absolutismo monárquico, o monarca recebia o mandato de Deus. 
Os fundamentos teóricos do constitucionalismo moderno nasceram das 
teorias sobre o contrato social, defendidas no século XVII por Thomas 
Hobbes e John Locke, e no século seguinte por Jean-Jacques Rousseau. 
De acordo com essas teorias, os indivíduos cediam, mediante um contrato 
social, parte da liberdade absoluta que caracteriza o "estado de natureza" 
pré-social, em troca da segurança proporcionada por um governo aceito por 
todos. 
Fundamentos constitucionais 
Princípios básicos. Para cumprir suas funções, a constituição deve 
harmonizar o princípio da estabilidade, na forma e no procedimento, com o 
da flexibilidade, para adaptar-se às mudanças sociais, econômicas e tecno-
lógicas inevitáveis na vida de uma nação. Também deve prever alguma 
forma de controle e prestação de contas do governo perante outros órgãos 
do estado e determinar claramente as áreas de competência dos poderes 
legislativo, executivo e judiciário. 
Os princípios constitucionais podem agrupar-se, como é o caso da 
constituição brasileira, em duas categorias: estrutural e funcional. Os pri-
meiros, como os que definem a federação e a república, são juridicamente 
inalteráveis e não podem ser abolidos por emenda constitucional; os princí-
pios que se enquadram na categoria funcional, como os que dizem respeito 
ao regime (no caso brasileiro, democracia representativa) e ao sistema de 
governo (bicameralismo, presidencialismo e controle judicial) podem ser 
modificados por reforma da constituição. A inobservância de qualquer 
desses princípios, ou de outros deles decorrentes, está expressamente 
referida na constituição brasileira como motivo de intervenção federal nos 
estados. 
As constituições podem ser flexíveis ou rígidas, conforme a maior ou 
menor facilidade com que podem ser modificadas. As constituições flexí-
veis, como a britânica, são modificadas por meio de procedimentos legisla-
tivos normais; as constituições rígidas modificam-se mediante procedimen-
tos complexos, nos quais geralmente se exige maioria parlamentar qualifi-
cada. 
Federação. A organização federal é o primeiro princípio fundamental 
abordado pela constituição brasileira. Pressupõe a união indissolúvel de 
estados autônomos e a existência de municípios também autônomos, 
peculiaridade que distingue a federação brasileira da americana, por exem-
plo, na qual a questão da autonomia municipal é deixada à livre regulação 
dos estados federados. Verifica-se assim que no Brasil a federação se 
exprime juridicamente pelo desdobramento da personalidade estatal nacio-
nal na tríplice ordem de pessoas jurídicas de direito público constitucional: 
União, estados e municípios. O Distrito Federal, sede do governo da União, 
tem caráter especial. 
A autonomia dos estados se expressa: (1) pelos princípios decorrentes 
do governo próprio e da administração própria, com desdobramentos, nos 
respectivos âmbitos regionais, dos poderes executivo, legislativo e judiciá-
rio; (2) pelo princípio dos poderes reservados, por força do qual todos os 
poderes não conferidos expressa ou necessariamente à União ou aos 
municípios competem ao estado federado. 
O princípio da autonomia municipal, cujo desrespeito acarreta a inter-
venção federal, é mais restrito que o da autonomia estadual e exprime-se: 
(1) pela eleição direta do prefeito, vice-prefeito e vereadores; e (2) pela 
existência de administração própria, autônoma, no que concerne ao inte-
resse peculiar do município. 
República. O princípio da forma republicana, cujo desrespeito também 
motiva intervenção, desdobra-se, no sistema brasileiro, em três proposi-
ções: (1) temporariedade das funções eletivas, cuja duração, nos estados e 
municípios, é limitada à das funções correspondentes no plano federal; (2) 
inelegibilidade dos ocupantes de cargos do poder executivo para o período 
imediato; e (3) responsabilidade pela administração, com obrigatória pres-
tação de contas. 
Democracia representativa. Pela definição constitucional, democracia é 
o regime em que todo poder emana do povo e em seu nome é exercido. O 
princípio fundamental da representação está assegurado pela adoção de: 
(1) sufrágio universal e direto; (2) votação secreta e (3) representação 
proporcional dos partidos. 
Sistema bicameral. O princípio do bicameralismo, ou sistema bicame-
ral, diz respeito à estruturação do poder legislativo em dois órgãos diferen-
tes. Por exemplo, a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes, no Reino 
Unido; o Bundestag (câmara baixa) e o Bundesrat (câmara alta), na Alema-
nha; o Senado e a Câmara dos Representantes, nos Estados Unidos; e o 
Senado Federal e a Câmara dos Deputados, no Brasil. A composição das 
duas câmaras é sempre diferente em relação ao número de membros que 
as integram, à extensão de seus poderes e, em alguns casos, no sistema 
de recrutamento, como na Câmara dos Lordes, em que muitas cadeiras são 
hereditárias. 
Sistema presidencial. O presidencialismo é o sistema de governo repu-
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Noções de Direito Constitucional
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blicano que se assenta na rigorosa separação de poderes e atribui ao 
presidente da república grande parte da função governamental e a plenitu-
de do poder executivo. Nesse sistema, o presidente coopera na legislação, 
orienta a política interna e internacional, assumea gestão superior das 
finanças do estado, exerce o comando supremo das forças armadas e 
escolhe livremente os ministros e assessores, que o auxiliam no desempe-
nho das respectivas funções, dentro dos programas, diretrizes e ordens 
presidenciais. O sistema presidencialista vigente em muitos países baseia-
se em linhas gerais no padrão dos Estados Unidos, com variantes que não 
alteram as características que o definem. 
Sistema de controle judicial. Devido à organização federal e conse-
quente supremacia da constituição da república sobre as dos estados, bem 
como à prevalência das normas constitucionais sobre a legislação ordinária, 
atribui-se ao poder judiciário, concomitantemente com a função de julgar, a 
de controlar a constitucionalidade das leis. Além disso, como as constitui-
ções geralmente asseguram que a lei não pode deixar de apreciar nenhu-
ma lesão do direito individual, compete também ao judiciário o controle 
contencioso dos atos das autoridades. 
Uma lei comum pode entrar em choque com algum artigo da constitui-
ção. Por isso, é necessário que exista um órgão de controle da constitucio-
nalidade das leis, que entra em ação antes de sua promulgação, como na 
França, ou depois, como no Brasil, onde o Supremo Tribunal Federal pode 
pronunciar-se por iniciativa própria ou quando solicitado. 
Liberdades públicas. Conjunto de direitos inalienáveis do cidadão, in-
dependentes do arbítrio das autoridades, as liberdades públicas são garan-
tidas pelas constituições modernas, principalmente as seguintes: liberdade 
religiosa; liberdade de imprensa e de manifestação do pensamento; liber-
dade de associação, política ou não, e de reunir-se em praça pública, sem 
armas; inviolabilidade de domicílio e de correspondência; garantia contra 
prisão arbitrária, confisco e expropriação; liberdade de locomover-se dentro 
do território nacional e liberdade de sair do país. Todas essas prerrogativas 
do cidadão são chamadas direitos individuais. Seu conjunto constitui a 
liberdade (no singular), característica do estado de direito, oposto ao estado 
policial e autoritário. As liberdades (no plural) são prerrogativas não da 
pessoa, mas de grupos, classes e entidades. 
Matérias regulamentadas. No que tange a sua formulação escrita, as 
constituições do século XIX tendiam a ser breves e conter apenas as nor-
mas fundamentais. A partir da primeira guerra mundial, o texto constitucio-
nal passou a incluir princípios referentes a temas sociais, econômicos e 
políticos, antes regulados por leis ordinárias. 
Nas constituições modernas, geralmente as matérias regulamentadas 
são: (1) soberania nacional, língua, bandeira e forças armadas; (2) direitos, 
deveres e liberdades dos cidadãos; (3) princípios reguladores da política 
social e da economia; (4) relações internacionais; (5) composição e estatuto 
do governo e suas relações com as câmaras legislativas; (6) poder judiciá-
rio; (7) organização territorial do estado; (8) tribunal constitucional ou órgão 
similar; e (9) procedimento para a reforma constitucional. 
A constituição é geralmente elaborada por uma Assembleia constituinte 
e por ela decretada e promulgada. Quando entra em vigor por decisão do 
governante, diz-se que é outorgada; é o caso das constituições brasileiras 
de 1824, outorgada por D. Pedro I; de 1937, que instituiu o Estado Novo; e 
de 1967, imposta pelo governo militar. Historicamente, as constituições 
outorgadas pelo monarca absoluto no exercício do poder, mesmo com 
aprovação da representação popular, denominam-se cartas. 
Classificação Das Constituições 
 
1) Quanto ao conteúdo: 
a) Constituição formal: regras formalmente constitucionais, é o texto vo-
tado pela Assembleia Constituinte, são todas as regras formalmente consti-
tucionais = estão inseridas no texto constitucional. 
 
b) Constituição material: regras materialmente constitucionais, é o con-
junto de regras de matéria de natureza constitucional, isto é, as relaciona-
das ao poder, quer esteja no texto constitucional ou fora dele. O conceito 
de Constituição material transcende o conceito de Constituição formal, ela 
é ao mesmo tempo, menor que a formal e mais que esta = nem todas as 
normas do texto são constituição material e há normas fora do texto que 
são materialmente constitucionais. 
 
Regras de matéria constitucional são as regras que dizem respeito ao 
poder, portanto, são as que cuidam da organização do Estado e dos pode-
res constituídos, modo de aquisição e exercício do poder, as garantias e 
direitos fundamentais, elementos sócio-ideológicos, etc. 
 
Nem todas as regras que estão na Constituição são regras material-
mente constitucionais. Pelo simples fato de estarem na Constituição elas 
são formalmente constitucional. As regras formalmente constitucionais são 
chamadas por alguns autores de lei constitucional, é como se fosse uma lei 
na constituição. 
 
2) Quanto à forma: 
a) Escrita: pode ser: sintética (Constituição dos Estados Unidos) e 
analítica (expansiva, a Constituição do Brasil). A ciência política reco-
menda que as constituições sejam sintéticas e não expansivas como é a 
brasileira. 
 
b) Não escrita: é a constituição cuja as normas não constam de um 
documento único e solene, mas se baseie principalmente nos costumes, na 
jurisprudência e em convenções e em textos constitucionais esparsos. 
 
3) Quanto ao modo de elaboração: 
a) Dogmática: é Constituição sistematizada em um texto único, elabo-
rado reflexivamente por um órgão constituinte = é escrita. É a que consa-
gra certos dogmas da ciência política e do Direito dominantes no momento. 
É um texto único, consolidado. Esta consolidação pode ser elaborada por 
uma pessoa (será outorgada, ex. na monarquia) ou por uma Assembleia 
Constituinte (será promulgada, ex. nos sistemas representativos, Presiden-
cialismo e Parlamentarismo). As constituições dogmáticas podem ser: 
ortodoxa (quando segue uma só linha de raciocínio, tem um único pensa-
mento) e eclética (não há um fio condutor, temos dispositivos completa-
mente antagônicos em razão da divergência que existiam entre os parla-
mentares, já que cada um visava os seus próprios interesses. - é uma 
dogmática que mistura tudo). 
 
b) Histórica: é sempre não escrita e resultante de lenta forma-
ção histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-
políticos, que se cristalizam como normas fundamentais da organi-
zação de determinado Estado. Como exemplo de Constituição não 
escrita e histórica temos a Constituição do Estado chamado Reino 
Unido da Grã Bretanha e da Irlanda do Norte, sendo que a Grã 
Bretanha é formada pela Inglaterra, Irlanda e Escócia. A Inglaterra 
tem uma constituição não escrita, apesar de ter normas material-
mente constitucionais que são escritas. Portanto, a Constituição não 
escrita é, em parte escrita, tendo como característica diferenciadora 
que os seus textos escritos não estão reunidos, não é codificado, 
são textos esparsos e se eternizam no tempo, denominados Atos do 
Parlamento (ex. Magna Carta - datada de 1215) 
 
A escrita é sempre dogmática. 
A não escrita é sempre histórica. 
 
4) Quanto a sua origem ou processo de positivação: 
a) Promulgada: aquela em que o processo de positivação decorre de 
convenção, são votadas, originam de um órgão constituinte composto de 
representantes do povo, eleitos para o fim de elaborá-las. Ex.: Constituição 
de 1891, 1934, 1946, 1988.Também chamada de populares, “democráti-
cas”.A expressão democrática não deve ser utilizada como sinônimo de 
Constituição promulgada, não é denominação correta. O simples fato de 
ser promulgada não significa que seja democrática. (Democracia = vonta-
de da maioria, consenso). A constituição outorgada também pode ser 
democrática, se a maioria concordar com ela. 
 
b) Outorgada: aquela em que o processo de positivação decorre de ato 
de força, são impostas, decorrem do sistema autoritário. São as elabora-
das sem a participação do povo. Ex.:Constituição de 1824, 1937, 1967, 
1969. 
 
Próxima a esta modalidade de constituição encontramos também uma 
referência histórica, a chamada Constituição Cesarista ou mistificada = não 
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é propriamente outorgada, mas tampouco promulgada, ainda que criada 
com a participação popular. Formada por plebiscito popular sobre um 
projeto elaborado por um Imperador, ex. plebiscitos napoleônicos ou por 
um ditador, ex. plebiscito de Pinochet, no Chile. A participação popular, 
nesses casos, não é democrática, pois visa somente ratificar a vontade do 
detentor do poder, sendo assim pode ser considerado um tipo de outorga 
(são impostas e ratificada pelo povo por meio de plebiscito para dar apa-
rência de legítima). 
 
c) Pactuadas: são aquelas em que os poderosos pactuavam um texto 
constitucional, o que aconteceu com a Magna Carta de 1215. 
 
OBS: A expressão Carta Constitucional é usada hoje pelo STF pa-
ra caracterizar as constituições outorgadas. Portanto, não é mais sinônimo 
de constituição. 
 
5) Quanto à estabilidade ou mutabilidade: 
 
a) Imutável: constituições onde se veda qualquer alteração, constituin-
do-se relíquias históricas – imutabilidade absoluta. 
 
b) Rígida: permite que a constituição seja mudada mas, depende de 
um procedimento solene que é o de Emenda Constitucional que exige 3/5 
dos membros do Congresso Nacional para que seja aprovada. A rigidez é 
caracterizada por um processo de aprovação mais formal e solene do que o 
processo de aprovação de lei ordinária, que exige a maioria simples. 
 
c) Flexível: o procedimento de modificação não tem qualquer diferença 
do procedimento comum de lei ordinária Alguns autores a denominam de 
Constituição Plástica, o que é arriscado porque pode ter diversos significa-
dos. Ex.: as constituições não escritas, na sua parte escrita elas são 
flexíveis 
 
d) Semi-rígida: aquela em que o processo de modificação só é rígido 
na parte materialmente constitucional e flexível na parte formalmente cons-
titucional. 
 
A estabilidade das constituições não deve ser absoluta, não pode signi-
ficar imutabilidade. Deve-se assegurar certa estabilidade constitucional, 
certa permanência e durabilidade das instituições, mas sem prejuízo da 
constante, tanto quanto possível, perfeita adaptação das constituições às 
exigências do progresso, da evolução e do bem-estar social. 
 
6) Quanto à sua função (função que a Constituição desenvolve no 
Estado): 
 
As três categorias não são excludentes, uma Constituição pode ser en-
quadrada em mais de uma delas, salvo a balanço e a dirigente que se 
excluem. 
 
a) Garantia: tem a concepção clássica de Constituição, reestrutura o 
Estado e estabelece as garantias dos indivíduos, isto é, estabelece limita-
ções ao poder 
 
 b) Balanço: foi bem definida por F. Lassale na antiga URSS. A 
constituição é um reflexo da realidade, devendo representar o “Balan-
ço” da evolução do Estado, o reflexo das forças sociais que estrutu-
ram o Poder (é o chamado conceito sociológico dado por Lassale). 
“CF DO SER”. Seu conteúdo se contrapõe à dirigente. Nesta base foi 
criada a constituição soviética o que se projetou para os Estados que 
seguiam a sua concepção. Para eles a constituição tinha que mostrar 
a realidade social, como se fosse uma fotografia = mostrar como é, 
portanto, a constituição do SER. 
 
EX.: A UNRSS teve três constituições, descrevendo três fases diferen-
tes do Estado. A primeira em 1924 que a constituição do proletariado, a 
segunda em 1936 chamada dos operários e a última em 1971 que foi a 
constituição do povo. A cada constituição era feito um novo balanço da 
evolução do Estado = tirada uma nova fotografia da situação atual. Estas 
considerações têm somente efeito histórico, porque a própria URSS não 
existe mais. 
 
c) Dirigente: A constituição não apenas organiza o poder como também 
preordena a atuação governamental por meio de programas vinculantes. 
“CF DO DEVER SER” Esta constituição diz como deve ser as coisas e não 
como realmente é. Numa constituição dirigente há duas diretrizes políticas 
para que seja possível organizar o Estado e preordenar a atuação gover-
namental, que são: permanente (são as que constam da própria constitui-
ção) e contingente (são os Estatutos partidários). 
 
Nos Estados desenvolvidos segue-se o Estatuto partidário como regras 
de atuação do poder, sempre obedecendo as normas da constituição que 
diretrizes permanentes. Os estatutos de qualquer dos partidos, cada um a 
seu modo devem obedecer sempre a constituição. Nos países em que 
temos dois grandes partidos a escolha das metas de governo é feita pelo 
eleitorado e efetivamente tem grande importância, já que os partidos tem 
planos de governo preestabelecidos - eles tem um estatuto partidário a ser 
seguido. Para nós os partidos não passam de legendas, os nossos estatu-
tos não são aplicados não tendo a sua real importância - aqui é uma 
bagunça só, cada um faz o que quer. 
 
7) Quanto à relação entre as normas constitucionais e a realidade 
política (positividade – real aplicação ): 
 
a) normativa: a dinâmica do poder se submete efetivamente à regula-
mentação normativa. Nesta modalidade a constituição é obedecida na 
íntegra, como ocorre com a constituição americana; 
 
b) nominalista: esta modalidade fica entre a constituição normativa que 
é seguida na íntegra e a semântica que não passa de mero disfarce de um 
estado autoritário.Esta constituição aparece quando um Estado passa de 
um Estado autoritário para um Estado de direito, é o caso da nossa consti-
tuição de 1988. A Constituição de 1988 nasceu normativa, havia uma 
expectativa de que passássemos da constituição nominalista para uma 
constituição normativa. Na realidade isto não está ocorrendo, pelo contrá-
rio, a classe política, em especial, vem descumprindo absurdamente a 
constituição. 
 
c) semântica: mero disfarce de um Estado autoritário. Eduardo Silva 
Alves. 
Poder Constituinte 
Conceito 
Poder constituinte é a manifestação soberana da suprema vontade po-
lítica de um povo, social e juridicamente organizado. 
A doutrina aponta a contemporaneidade da ideia de Poder Constituinte 
com a do surgimento de Constituições escritas, visando á limitação do 
poder estatal e a preservação dos direitos garantias individuais. 
O poder constituinte, com esteio na melhor doutrina, é conceituado 
como poder de produção das normas constitucionais, por meio do 
processo de elaboração e/ou reforma da Constituição, com o fim de 
atribuir legitimidade ao ordenamento jurídico do Estado. (Guilherme 
Pena de Moraes). 
Titularidade do Poder Constituinte 
O titular do Poder Constituinte, segundo o abade Emnmanuel Sieyès, 
um dos precursores dessa doutrina, é a nação, pois a titularidade do Poder 
liga-se à ideia de soberania do Estado, uma vez que mediante o exercício 
do poder constituinte originário se estabelecerá sua organização fundamen-
tal pela Constituição, que é sempre superior aos poderes constituídos, de 
maneira que toda manifestação dos poderes constituídos somente alcança 
plena validade se sujeitar à Carta Magna. 
Modernamente, é predominante que a titularidade do poder constituinte 
pertence ao povo, pois o Estado decorre da soberania popular, cujo concei-
to é mais abrangente do que o de nação. Assim, a vontade constituinte é a 
vontade do povo, expressa por meio de sus representantes. Celso de 
Mello, corroborando essa perspectiva, ensina que as Assembleias Constitu-
intes "não titularizam o poder constituinte. São apenas órgãos aos quais se 
atribui, por delegação popular, o exercício dessa magna prerrogativa" 
Necessário transcrevermos a observação de Manoel Gonçalves Fer-
reira filho, de que "o povo pode ser reconhecido como o titular do 
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Noções de Direito Constitucional
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Poder Constituinte masnão é jamais quem o exerce. é ele um titular 
passivo, ao qual se imputa uma vontade constituinte sempre manifes-
tada por uma elite". 
Assim, distingue-se a titularidade e o exercício do Poder Constituinte, 
sendo o titular e o exercente aquele que, em nome do povo, cria o Estado, 
editando a nova Constituição. 
Espécies de Poder Constituinte 
O Poder Constituinte classifica-se em Poder Constituinte originário ou 
de 1º grau e Poder Constituinte derivado, constituído ou de 2º grau. 
Poder Constituinte Originário 
Conceito 
O Poder Constituinte originário estabelece a Constituição de um novo 
Estado, organizando-o e criando os poderes destinados a reger os interes-
ses de uma comunidade. Tanto haverá Poder Constituinte no surgimento 
de uma primeira Constituição, quanto na elaboração de qualquer Constitui-
ção posterior. 
A ideia da existência de um Poder Constituinte é o suporte lógico de 
uma Constituição superior ao restante do ordenamento jurídico e que, em 
regra, não poderá ser modificada pelos poderes constituídos. É, pois, esse 
Poder Constituinte, distinto, anterior e fonte da autoridade dos poderes 
constituídos, com eles não se confundindo. 
Formas de expressão do poder constituinte originário 
Inexiste forma prefixada pela qual se manifesta o poder constituinte o-
riginário, uma vez que apresenta as características de incondicionado e 
ilimitado. Pela análise histórica da constituição dos diversos países, porém, 
há possibilidade de apontar duas básicas formas de expressão do poder 
constituinte originário: Assembleia Nacional Constituinte e Movimento 
Revolucionário (outorga). 
Tradicionalmente, a primeira Constituição de um novo país, que con-
quiste em sua liberdade política, será fruto da primeira forma de expressão: 
o movimento revolucionário. Entretanto, as demais constituições desse 
mesmo país adotarão a segunda hipótese, ou seja, as assembleias nacio-
nais constituintes. 
Assim, duas são as formas básicas de expressão do Poder constituin-
te: outorga e assembleia nacional constituinte/convenção. 
A outorga é o estabelecimento da Constituição por declaração unilate-
ral do agente revolucionário, que autolimita seu poder (Exemplo: Constitui-
ções de 1824, 1937 e Ato Institucional nº 01, de 9-4-64. 
Características do poder constituinte originário 
O Poder Constituinte caracteriza-se por ser inicial, ilimitado, autônomo 
e incondicionado. 
O Poder Constituinte é inicial, pois sua obra - a Constituição - é a base 
da ordem jurídica. 
O Poder Constituinte é ilimitado e autônomo, pois não está de modo 
algum limitado pelo direito anterior, não tendo que respeitar os limites 
postos pelo direito positivo antecessor. 
O Poder Constituinte também é incondicionado, pois não está sujeito a 
qualquer forma prefixada para manifestar sua vontade; não tem ela que 
seguir qualquer procedimento determinado para realizar sua obra de consti-
tucionalização. 
Poder Constituinte Derivado 
Conceito e características 
O Poder Constituinte derivado está inserido na própria Constituição, 
pois decorre de uma regra jurídica de autenticidade constitucional, portanto, 
conhece limitações constitucionais expressas e implícitas e é passível de 
contole de constitucionalidade. 
Apresenta as características de derivado, subordinado e condicionado. 
É derivado porque retira sua força do Poder Constituinte originário; subordi-
nado porque se encontra limitado pelas normas expressas e implícitas no 
texto constitucional, às quais não poderá contrariar, sob pena de inconstitu-
cionalidade; e, por fim, condicionado porque seu exercício deve seguir as 
regras previamente estabelecidas no texto da Constituição Federal. 
Espécies de poder constituinte derivado 
O Poder Constituinte derivado subdivide-se em poder constituinte re-
formador e decorrente. 
O Poder Constituinte derivado reformador, denominado por parte da 
doutrina de competência reformadora, consiste na possibilidade de alterar-
se o texto constitucional, respeitando-se a regulamentação especial previs-
ta na própria Constituição Federal e será exercitado por determinados 
órgãos com caráter representativo. No Brasil, pelo Congresso Nacional. 
Logicamente, só estará presente nas Constituições rígidas e será estudado 
mais adiante no capítulo sobre emendas constitucionais. 
O Poder Constituinte derivado decorrente, por sua vez, consiste na 
possibilidade que os Estados-membros têm, em virtude de sua autonomia 
político-administrativa, de se auto-organizarem por meio de suas respecti-
vas constituições estaduais, sempre respeitando as regras limitativas 
estabelecidas pela Constituição Federal. Alexandre de Moraes 
Princípios Constitucionais 
São o alicerce para qualquer indivíduo. É indispensável tomar nota dos 
assuntos que rodeiam os seus direitos e deveres. A Constituição Federal 
de 1988 é o livro que está hierarquicamente acima de todos os outros, em 
nível de legislação no Brasil. A Constituição é a lei fundamental e suprema 
do Brasil. E os princípios constitucionais são o que protegem os atributos 
fundamentais da ordem jurídica. 
Primeiramente, é necessário entender o conceito de princípio. Segun-
do o dicionário, princípio é: origem, opinião, aquilo que regula o comporta-
mento ou ação de alguém; preceito moral. Logo em seguida, vem o concei-
to de princípios, que quer dizer: regras ou conhecimentos fundamentais ou 
gerais. Resumindo, o significado bem genericamente, partindo dos concei-
tos, dos princípios constitucionais são: normas fundamentais de conduta 
de um indivíduo mediante às leis já impostas. 
Os Princípios Constitucionais são divididos em diversas partes e con-
cepções de cada autor que escreve sobre esse assunto. Abordaremos os 
que são de suma importância: o princípio constitucional Político e o Jurídi-
co. O Político, segundo os livros de direito, a saber, Canotilho, traz o se-
guinte conceito: são os princípios que estabelecem a forma, estrutura e de 
governo do Estado, etc. É constituído pelas decisões políticas alicerçadas 
em normas do sistema constitucional. 
Os Princípios Jurídico-Constitucionais, segundo José Afonso da Silva, 
são os princípios constitucionais gerais informadores da ordem jurídica 
nacional. Emanam de normas constitucionais, o que gera alguns desdo-
bramentos como: o princípio da supremacia da Constituição Federal, o 
princípio da legalidade, o princípio da isonomia, entre outros. Observe 
alguns dos princípios constitucionais abaixo. 
Princípio da Supremacia 
Nesse princípio, nenhum ato jurídico pode permanecer valendo em a-
ção contrária à Constituição Federal. As normas que outrora se chocam 
com a lei suprema são revogadas. No entanto, as regras posteriores que 
vierem a ser implementadas, passarão por um controle de constitucionali-
dade. Caso estejam indo de encontro às normas-chave, serão tidas como 
nulas. Para o legislador ordinário, é proibido burlar a lei, acrescentar, 
deturpar ou mudar algo que a prejudique. O juiz, como intérprete da lei, 
deve aplicar os princípios da constituição através de uma hermenêutica 
construtiva. 
Princípio da Máxima Efetividade ou Efetividade Constitucional 
Por esse princípio, à uma norma constitucional deve ser atribuída um 
sentido, que lhe permita maior eficácia, permitindo duas formas de interpre-
tação, deixando, dessa forma, deixando ao intérprete da lei, escolher a que 
seja mais eficiente para o comando constitucional. Isso quando se tratar de 
direito ou garantia fundamental. O Intérprete deve favorecer o elemento 
teleológico que, de acordo com o dicionário, essa palavra significa: teoria 
que estuda os seres pelo fim que aparentemente serão destinados. 
Princípio da Unidade da Constituição 
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Noções de Direito Constitucional
5
No princípio da Unidade da Constituição, a lei é tratada de forma sis-
temática e não-isolada. A Constituição é quem faz a ligação e dá a permis-
são da sistemicidade do ordenamento jurídico, servindo de parâmetro paraqualquer processo interpretativo. 
O Princípio da Proporcionalidade 
A proporcionalidade carrega consigo a adequação, exigibilidade e pro-
porcionalidade. A proporcionalidade serve como parâmetro de controle da 
constitucionalidade das regras restritivas de direitos fundamentais. Também 
atua na solução dos conflitos entre os princípios da constituição. A adequa-
ção exige medidas interventivas. O meio escolhido se presta para alcançar 
o fim estabelecido, assim, mostrando-se adequado. O sub-princípio da 
exigibilidade propõe que o meio indicado seja exigível, não tendo outro com 
eficiência equiparada. E que seja menos danoso a direitos fundamentais. 
http://principios-constitucionais.info/ 
Dos princípios fundamentais. 
 
1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
 
Os princípios constitucionais são aqueles que guardam os valores fun-
damentais da ordem jurídica. Isto só é possível na medida em que estes 
não objetivam regular situações específicas, mas sim desejam lançar a sua 
força sobre todo o mundo jurídico. Alcançam os princípios esta meta à 
proporção que perdem o seu caráter de precisão de conteúdo, isto é, 
conforme vão perdendo densidade semântica, eles ascendem a uma posi-
ção que lhes permite sobressair, pairando sobre uma área muito mais 
ampla do que uma norma estabelecedora de preceitos. Portanto, o que o 
princípio perde em carga normativa ganha como força valorativa a espraiar-
se por cima de um sem-número de outras normas. 
 
O reflexo mais imediato disto é o caráter de sistema que os princípios 
impõem à Constituição. Sem eles a Constituição se pareceria mais com um 
aglomerado de normas que só teriam em comum o fato de estarem juntas 
no mesmo diploma jurídico, do que com um todo sistemático e congruente. 
Desta forma, por mais que certas normas constitucionais demonstrem estar 
em contradição, esta aparente contradição deve ser minimizada pela força 
catalisadora dos princípios. 
 
Outra função muito importante dos princípios é servir como critério de 
interpretação das normas constitucionais, seja ao legislador ordinário, no 
momento de criação das normas infraconstitucionais, seja aos juízes, no 
momento de aplicação do direito, seja aos próprios cidadãos, no momento 
da realização de seus direitos. 
 
Em resumo, são os princípios constitucionais aqueles valores alberga-
dos pelo Texto Maior a fim de dar sistematização ao documento constitu-
cional, de servir como critério de interpretação e finalmente, o que é mais 
importante, espraiar os seus valores, pulverizá-los sobre todo o mundo 
jurídico. 
 
1.1. República 
 
A república no início teve um sentido bastante preciso; tratava-se de 
um regime que se opunha à monarquia. Nesta, tudo pertencia ao rei, que 
governava de maneira absoluta e irresponsável. Além disto, é característica 
das monarquias a vitaliciedade do governante e, via de regra, a transferên-
cia do poder por força de laços hereditários. A república surgiu, portanto, 
em oposição ao regime monárquico, uma vez que retirava o poder das 
mãos do rei passando-o à nação. Não há que se pensar, no entanto, que o 
povo passou, efetiva e diretamente, a governar, muito embora esta seja a 
primeira ideia de república, ou seja, a “coisa do povo”. 
 
Hoje, no entanto, o conceito de república perdeu muito de seu conteú-
do. Isto se deu na medida em que as monarquias foram cedendo parcelas 
de seus poderes até — contemporaneamente — encontrarem-se quase 
que totalmente destituídas de qualquer prerrogativa de mando efetivo. As 
monarquias da Europa ocidental em nada diferenciam-se de suas vizinhas 
Repúblicas, à exceção da figura decorativa do monarca que nominalmente 
exerce as funções de chefe de Estado. Assim, em termos de regimes 
políticos, os conceitos de monarquia e república estão bastante esvaziados. 
Talvez por esta razão a nova Constituição reforce o seu significado falando 
de Estado Democrático de Direito e ainda enumerando alguns fundamentos 
de nossa República. Resumindo, ao termos que interpretar o princípio 
republicano, devemos ter em mente, fundamentalmente, a necessidade da 
alternância no poder, por certo sua característica mais acentuada. 
 
1.2. Federação 
 
Ao lado do termo “República”, inserto no art. 1.0 da Constituição de 
1988, encontra-se a palavra “Federativa”, ou seja, o Brasil adere à forma 
Federativa de Estado. 
 
1.2.1. Histórico 
 
A ideia moderna de Federação surge em 1787, na Convenção de Phi-
ladelphia, onde as treze ex-colônias inglesas resolveram dispor de parcela 
de suas soberanias, tornando-se autônomas, e constituir um novo Estado, 
este sim soberano. Assim, a Constituição de 1787, que deu surgimento aos 
Estados Unidos da América, criou também uma nova forma de Estado, o 
federativo. 
 
No Brasil, embora as coisas tenham ocorrido um pouco às avessas, a 
forma federativa surgiu em 15 de novembro de 1889, junto com a Repúbli-
ca, por força do Decreto n. 1. Dizemos por que às avessas: na experiência 
norte-americana, tínhamos treze países independentes, que, através de um 
acordo, cederam parcela de seu poder ao novo ente que surgiu, resguar-
dando assim muito do que antes era seu. No caso brasileiro, ao invés de 
diversos Estados, tínhamos um só; o Brasil todo respondia ao domínio do 
imperador. Depois de proclamada a República e a Federação é que se viu 
a necessidade de criarem-se os Estados-Membros, aos quais delegaram-se 
algumas competências. Esta talvez seja uma das razões pelas quais o 
Brasil nunca chegou a ter uma verdadeira Federação, onde os Estados 
alcançam autonomia real. 
 
Outro dado para o qual se deve alertar no novo Texto é o fato de ele ter 
incluído o município como componente da Federação. Como sabemos o 
município é uma realidade em nossa história. Mesmo antes de existir o país 
Brasil já tínhamos municípios, os quais eram importantes locus de poder. 
Inclusive tendo a Constituição do Império que passar pelo crivo das Câma-
ras municipais para que chegasse a ser aprovada. Portanto, corrige o 
constituinte, ao incluir o município como componente da Federação brasilei-
ra, o erro das Constituições anteriores. 
 
1.2.2. Princípio Federativo 
 
A federação é a forma de Estado pela qual se objetiva distribuir o po-
der, preservando a autonomia dos entes políticos que a compõem. No 
entanto, nem sempre alcança-se uma racional distribuição do poder; nestes 
casos dá-se ou um engrandecimento da União ou um excesso de poder 
regionalmente concentrado, o que pode ser prejudicial se este poder estiver 
nas mãos das oligarquias locais. O acerto da Constituição, quando dispõe 
sobre a Federação, estará diretamente vinculado a uma racional divisão de 
competência entre, no caso brasileiro, União, Estados e Municípios; tal 
divisão para alcançar logro poderia ter como regra principal a seguinte: 
nada será exercido por um poder mais amplo quando puder ser exercido 
pelo poder local, afinal os cidadãos moram nos Municípios e não na União. 
 
Portanto deve o princípio federativo informar o legislador infraconstitu-
cional que está obrigado a acatar tal princípio na elaboração das leis ordi-
nárias, bem como os intérpretes da Constituição, a começar pelos membros 
do Poder Judiciário. 
 
1.2.3. Características da Federação 
 
Poderíamos, aqui, elencar inúmeras características da Federação; a-
bordaremos, entretanto, apenas aquelas que se nos demonstram mais 
importantes: 
 
1.ª) uma descentralização político-administrativa constitucionalmente 
prevista; 
 
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Noções de Direito Constitucional
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2.ª) uma Constituição rígida que não permita a alteração da repartição 
de competências por intermédio de legislação ordinária. Se assim fosse 
possível, estaríamos num Estado unitário, politicamente descentralizado; 
 
3.ª) existência de um órgão que dite a vontade dos membros da Fede-
ração; no caso brasileiro temos o Senado, no qual reúnem-se os represen-
tantes dos Estados-Membros; 
 
4.ª) autonomia financeira, constitucionalmente prevista, para que osen-
tes federados não fiquem na dependência do Poder Central; 
 
5.ª) a existência de um órgão constitucional encarregado do controle da 
constitucionalidade das leis, para que não haja invasão de competências. 
 
Quanto à divisão de competências, que talvez seja o tema mais rele-
vante no tratamento da Federação, será abordada oportunamente quando 
tratarmos da Federação brasileira. 
 
1.3. Estado Democrático de Direito 
 
É em boa hora que a Constituição acolhe estes dois princípios: o De-
mocrático e o do Estado de Direito. Pois, como visto, o princípio republica-
no, por si só, não se tem demonstrado capaz de resguardar a soberania 
popular, a submissão do administrador à vontade da lei, em resumo, não 
tem conseguido preservar o princípio democrático nem o do Estado de 
Direito. 
 
Antes, porém, de analisarmos estes preceitos, uma questão nos salta 
aos olhos: estabeleceu a Constituição dois princípios ou na realidade o 
Estado Democrático e o Estado de Direito significam a mesma coisa? 
Daremos esta resposta através das seguintes palavras de Canotilho e Vital 
Moreira: “Este conceito é bastante complexo, e as suas duas componentes 
— ou seja, a componente do Estado de direito e do Estado democrático — 
não podem ser separadas uma da outra. O Estado de direito é democrático 
e só sendo-o é que é de direito; o Estado democrático é Estado de direito e 
só sendo-o é que é Estado de direito” (Constituição da República Portugue-
sa anotada, 2. ed., Coimbra Ed., 1984, v. 1, p. 73). Esta íntima ligação 
poderia fazer-nos crer que se trata da mesma coisa, no entanto, os autores 
complementam o pensamento da seguinte maneira: 
 
“Esta ligação material das duas componentes não impede a considera-
ção específica de cada uma delas, mas o sentido de uma não pode ficar 
condicionado e ser qualificado em função do sentido da outra” (Constitui-
ção, cit., p. 73). Concluímos, então, tratar-se de um conceito híbrido, e para 
que possamos melhor compreendê-lo, necessitamos percorrer, preliminar-
mente, cada um deles. 
 
O Estado de Direito, mais do que um conceito jurídico, é um conceito 
político que vem à tona no final do século XVIII, início do século XIX. Ele é 
fruto dos movimentos burgueses revolucionários, que àquele momento se 
opunham ao absolutismo, ao Estado de Polícia. Surge como ideia força de 
um movimento que tinha por objetivo subjugar os governantes à vontade 
legal, porém, não de qualquer lei. Como sabemos, os movimentos burgue-
ses romperam com a estrutura feudal que dominava o continente europeu; 
assim os novos governos deveriam submeter-se também a novas leis, 
originadas de um processo novo onde a vontade da classe emergente 
estivesse consignada. Mas o fato de o Estado passar a se submeter à lei 
não era suficiente. Era necessário dar-lhe outra dimensão, outro aspecto. 
Assim, passa o Estado a ter suas tarefas limitadas basicamente à manu-
tenção da ordem, à proteção da liberdade e da propriedade individual. E a 
ideia de um Estado mínimo que de forma alguma interviesse na vida dos 
indivíduos, a não ser para o cumprimento de suas funções básicas; fora 
isso deveriam viger as regras do mercado, assim como a livre contratação. 
 
Como não poderia deixar de ser, este Estado formalista recebeu inú-
meras críticas na medida em que permitiu quase que um absolutismo do 
contrato, da propriedade privada, da livre empresa. Era necessário redina-
mizar este Estado, lançar-lhe outros fins; não que se desconsiderassem 
aqueles alcançados, afinal eles significaram o fim do arbítrio, mas cumprir 
outras tarefas, principalmente sociais, era imprescindível. 
 
Desencadeia-se, então, um processo de democratização do Estado; os 
movimentos políticos do final do século XIX, início do XX, transformam o 
velho e formal Estado de Direito num Estado Democrático, onde além da 
mera submissão à lei deveria haver a submissão à vontade popular e aos 
fins propostos pelos cidadãos. Assim, o conceito de Estado Democrático 
não é um conceito formal, técnico, onde se dispõe um conjunto de regras 
relativas à escolha dos dirigentes políticos. A democracia, pelo contrário, é 
algo dinâmico, em constante aperfeiçoamento, sendo válido dizer que 
nunca foi plenamente alcançada. Diferentemente do Estado de Direito — 
que, no dizer de Otto Mayer, é o direito administrativo bem ordenado — no 
Estado Democrático importa saber a que normas o Estado e o próprio 
cidadão estão submetidos. Portanto, no entendimento de Estado Democrá-
tico devem ser levados em conta o perseguir certos fins, guiando-se por 
certos valores, o que não ocorre de forma tão explícita no Estado de Direi-
to, que se resume em submeter-se às leis, sejam elas quais forem. 
 
2. FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 
 
A Constituição traz como fundamentos do Estado brasileiro a soberani-
a, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, a crença nos valores soci-
ais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Esses fundamen-
tos devem ser entendidos como o embasamento do Estado; seus valores 
primordiais, imediatos, que em momento algum podem ser colocados de 
lado. 
 
Soberania é a qualidade que cerca o poder do Estado. Entre os roma-
nos era denominada suprema potestas, imperium. Indica o poder de mando 
em última instância, numa sociedade política. O advento do Estado moder-
no coincide, precisamente, com o momento em que foi possível, num 
mesmo território, haver um único poder com autoridade originária. A sobe-
rania se constitui na supremacia do poder dentro da ordem interna e no fato 
de, perante a ordem externa, só encontrar Estados de igual poder. Esta 
situação é a consagração, na ordem interna, do princípio da subordinação, 
com o Estado no ápice da pirâmide, e, na ordem internacional, do princípio 
da coordenação. 
 
Ter, portanto, a soberania como fundamento do Estado brasileiro signi-
fica que dentro do nosso território não se admitirá força outra que não a dos 
poderes juridicamente constituídos, não podendo qualquer agente estranho 
à Nação intervir nos seus negócios. No entanto, o princípio da soberania é 
fortemente corroído pelo avanço da ordem jurídica internacional. A todo 
instante reproduzem-se tratados, conferências, convenções, que procuram 
traçar as diretrizes para uma convivência pacífica e para uma colaboração 
permanente entre os Estados. Os múltiplos problemas do mundo moderno, 
alimentação, energia, poluição, guerra nuclear, repressão ao crime organi-
zado, ultrapassam as barreiras do Estado, impondo-lhe. desde logo, uma 
interdependência de fato. 
 
À pergunta de que se o termo “soberania” ainda é útil para qualificar o 
poder ilimitado do Estado, deve ser dada uma resposta condicionada. 
Estará caduco o conceito se por ele entendermos uma quantidade certa de 
poder que não possa sofrer contraste ou restrição. Será termo atual se com 
ele estivermos significando uma qualidade ou atributo da ordem jurídica 
estatal. Neste sentido, ela — a ordem interna — ainda é soberana, porque, 
embora exercida com limitações, não foi igualada por nenhuma ordem de 
direito interna, nem superada por nenhuma outra externa. 
 
Portanto, se insistiu o constituinte no uso do termo “soberania”, deve-
mos ter em mente o seu conteúdo bastante diverso daquele empregado 
nos séculos XVIII e XIX. 
 
A cidadania, também fundamento de nosso Estado, é um conceito que 
deflui do próprio princípio do Estado Democrático de Direito, podendo-se, 
desta forma, dizer que o legislador constituinte foi pleonástico ao instituí-lo. 
No entanto, ressaltar a importância da cidadania nunca é demais, pois o 
exercício desta prerrogativa é fundamental. Sem ela, sem a participação 
política do indivíduo nos negócios do Estado e mesmo em outras áreas do 
interesse público, não há que se falar em democracia. 
 
Embora dignidade tenha um conteúdo moral, parece que a preocupa-
ção do legislador constituinte foi mais de ordem material, ou seja, a de 
proporcionar às pessoas condições para uma vida digna, principalmente no 
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Noções de Direito Constitucional
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que tange ao fator econômico. Por outro lado, o termo “dignidade da pes-
soa” visa a condenar práticas como a tortura, sob todas as suas modalida-
des, o racismo e outras humilhações tão comuns no dia-a-dia de nosso 
país. Este foi, sem dúvida, um acerto do constituinte, pois coloca a pessoa 
humana como fim último de nossa sociedade e não como simples meio 
para alcançar certos objetivos, como, por exemplo, o econômico. 
 
Quanto aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, destaca-se, 
em primeiro lugar, que o trabalho deve obrigatoriamente ter seu valor 
reconhecido; e de que forma? Através da justa remuneração e de condi-
ções razoáveis para seu desenvolvimento. Por outro lado, o livre empreen-
dedor, aquele que se arriscou lançando-se no duro jogo do mercado, tam-
bém tem que ter seu valor reconhecido, não podendo ser massacrado 
pelas mãos quase sempre pesadas do Estado. 
 
Por fim, é fundamento de nosso Estado o pluralismo político. A demo-
cracia impõe formas plurais de organização da sociedade, desde a multipli-
cidade de partidos até a variedade de igrejas, escolas, empresas, sindica-
tos, organizações culturais, enfim, de organizações e ideias que têm visão 
e interesses distintos daqueles adotados pelo Estado. Desta forma, o 
pluralismo é a possibilidade de oposição e controle do Estado. 
 
3. TRIPARTIÇÃO DOS PODERES 
 
Também arrola-se entre os princípios fundamentais a chamada triparti-
ção dos poderes, que poderia ter sido melhor chamada de tripartição de 
funções, uma vez que o poder ao povo pertence. O Legislativo, o Executivo 
e o Judiciário são meras funções desempenhadas pelo Estado, que exerce 
o poder em nome do povo. 
 
O traço importante da teoria elaborada por Montesquieu não foi o de 
identificar estas três funções, pois elas já haviam sido abordadas por Aristó-
teles, mas o de demonstrar que tal divisão possibilitaria um maior controle 
do poder que se encontra nas mãos do Estado. A ideia de um sistema de 
“freios e contrapesos”, onde cada órgão exerça as suas competências e 
também controle o outro, é que garantiu o sucesso da teoria de Montesqui-
eu. 
 
Hoje, no entanto, a divisão rígida destas funções já está superada, 
pois, no Estado contemporâneo, cada um destes órgãos é obrigado a 
realizar atividades que tipicamente não seriam suas. 
 
Ao contemplar tal princípio o constituinte teve por objetivo — tirante as 
funções atípicas previstas pela própria Constituição — não permitir que um 
dos “poderes” se arrogue o direito de interferir nas competências alheias, 
portanto não permitindo, por exemplo, que o executivo passe a legislar e 
também a julgar ou que o legislativo que tem por competência a produção 
normativa aplique a lei ao caso concreto. 
 
Além destes conceitos básicos, outros serão trazidos quando entrar-
mos no estudo da organização dos poderes propriamente ditos. 
 
4. OBJETIVOS FUNDAMENTAIS 
 
A ideia de objetivos não pode ser confundida com a de fundamentos, 
muito embora, algumas vezes, isto possa ocorrer. Os fundamentos são 
inerentes ao Estado, fazem parte de sua estrutura. Quanto aos objetivos, 
estes consistem em algo exterior que deve ser perseguido. Portanto, a 
República Federativa do Brasil tem por meta irrecusável construir uma 
sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; 
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais; promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, 
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 
5. O BRASIL NA ORDEM INTERNACIONAL 
 
Apesar da importância que têm alcançado as relações internacionais 
privadas, os Estados ainda são seus agentes mais importantes. O incre-
mento da comunidade internacional e a cada vez maior interdependência 
entre os Estados têm gerado, também, um incremento do sistema normati-
vo internacional. Talvez seja esta a razão pela qual o constituinte preocu-
pou-se em trazer os princípios fundamentais que regerão nossas relações 
internacionais, à Constituição. 
 
O primeiro destes princípios é o da independência nacional, que pode-
ria resumir-se no poder de autodeterminação do Estado brasileiro. E inte-
ressante notar que ao prever tal dispositivo o Brasil não o fez olhando 
apenas para si mesmo, uma vez que previu o princípio da não-intervenção, 
o que significa admitir a independência das outras nações. No que tange à 
autodeterminação dos povos, algumas vezes se faz confusão. Embora a 
ordem internacional reinante repouse sobre a noção de soberania do Esta-
do, o constituinte pretendeu indicar que nossa política internacional respeita 
também, ao lado da independência estatal, a autodeterminação dos povos 
específicos. Isto se dá pelo fato de que muitas vezes um povo não é inde-
pendente, mas se submete a imposições de outros povos. Era o caso das 
colônias. Porém, após a Segunda Guerra Mundial, o conceito perdeu 
bastante valor, uma vez que aquelas colônias tornaram-se independentes. 
No entanto, é importante notar que ainda hoje, na própria Europa, povos há 
que não conseguiram sua independência, caso do Povo Basco, que vive 
em constante conflito com o Estado espanhol. 
 
Além destes princípios que têm por objetivo o respeito à independência 
nacional e das outras nações e povos, o Brasil adere à luta pelos direitos 
humanos, luta esta multissecular. Assim fica obrigado a dar guarida, por 
exemplo, à Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela 
Assembleia Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948; e por consequên-
cia fica também obrigado a repudiar toda violação a estes direitos. No 
mesmo passo impõe-se o repúdio ao terrorismo e ao racismo. A concessão 
de asilo político também encontra-se arrolada no art. 4º. 
 
Numa terceira ordem de princípios temos a solução pacífica dos 
conflitos e a defesa da paz, do que resulta a exclusão da guerra, como 
medida razoável para a decisão de conflitos; porém, não faz o Texto 
qualquer menção a uma hierarquia na procura dos meios pacíficos que 
deverão ser trilhados na busca da paz. E é sabido que há uma variedade 
destes, a começar dos jurisdicionais, que compreendem o recurso à Corte 
Internacional de Justiça e à arbitragem, até os não-jurisdicionais, que 
implicam os bons ofícios, na conciliação e na mediação. 
 
Outro princípio proclamado pelo Texto diz respeito à cooperação entre 
os povos para o progresso da humanidade. Este dispositivo parece-nos 
estar predominantemente voltado ao intercâmbio de conhecimento científi-
co. 
 
Interpretação das Normas Constitucionais 
 
Preliminarmente gostaríamos de salientar que, por uma questão didáti-
ca, iniciaremos o estudo do tópico "Aplicabilidade e Interpretação das 
Normas Constitucionais" pelo subitem "Interpretação das Normas Consti-
tucionais". 
Não há dúvidas que a Constituição de um Estado deve ser interpreta-
da, função esta atribuída ao exegeta que buscará o real significado dos 
termos e normas constitucionais. 
A relevância de tal mister se revela, principalmente, pelo fato de as 
normas infraconstitucionais derivarem desta estrutura básica e cen-
tral que é a norma constitucional. Assim, a interpretação deverá levar em 
consideração todo o sistema e, em caso de eventual antinomia (contradi-
ção) de normas, buscar-se-á a conciliação do conflito valendo-se de uma 
interpretação sistemática orientada pelos princípios constitucionais. 
Fato é que o processo de interpretação das normas constitucionais é 
tarefa permanente, exercida precipuamente pelo STF (Supremo Tribunal 
Federal), que busca harmonizar os conceitos da realidade social, política, 
econômica e ideológica, com os fins efetivamente visados pelo legislador 
constituinte. Este processo de adequação da realidade histórica com a 
norma constitucional é que permite manter a contemporaneidade das Leis, 
principalmente a da Lei Maior, que é a nossa Constituição. 
Enfim, a "renovação de entendimento" promovida através daaplicação 
da Lei aos casos concretos, como por exemplo, a definição do alcance de 
competência da Justiça do Trabalho para julgar ações de indenização 
decorrentes de acidente de trabalho: instaurado o conflito de competência - 
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Noções de Direito Constitucional
8
definida esta por norma constitucional - coube ao STF definir o alcance da 
norma, através da percepção do real intento do legislador que promoveu 
alteração na Carta Magna através da competente Emenda Constitucional. 
Há diversos e distintos conceitos e nomenclaturas em relação à aplica-
bilidade das normas constitucionais. Vejamos os principais. 
Aplicabilidade das Normas Constitucionais segundo José 
Afonso da Silva 
As Normas Constitucionais, no tocante à sua aplicabilidade, poderão 
ser normas de eficácia plena, contida ou ilimitada. 
Normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta, 
imediata e integral: são aquelas que no momento de sua edição, ou seja, 
no momento que entram em vigor, estão aptas a produzir todos os efeitos 
jurídicos, não carecendo de nenhuma norma complementar que lhe dê 
contorno definitivo: é a norma em seu estado "acabado", pronta para alcan-
çar os fins visados pelo legislador constituinte. 
Segundo José Afonso da Silva, as normas constitucionais de eficá-
cia plena "são as que receberam do constituinte normatividade suficiente à 
sua eficiência imediata...". Exemplos são os artigos 2.º, 20 e 21, para 
mencionar apenas 3 exemplos, todos da Constituição Federal de 1988. 
Normas constitucionais de eficácia contida e aplicabilidade direta, i-
mediata, mas não integral: observe que há uma limitação na aplicação da 
norma, como bem revela, literalmente, o termo "eficácia contida". 
Também denominadas de normas constitucionais de eficácia redutível 
ou restringível. Regra geral, estas normas precisam de uma regulação 
infraconstitucional que lhe restringirá os limites, genericamente estabeleci-
dos pelo comando Constitucional. São identificados no texto constitucional 
pelas expressões "nos termos da lei", "na forma da lei", "a lei regulará", 
entre outras expressões similares. Vale destacar, entretanto, que há alguns 
casos em que tais expressões retratam norma de eficácia LIMITADA - 
ATENÇÃO. No mais das vezes, contudo, para que o dispositivo constitucio-
nal tenha eficácia plena e aplicabilidade integral, necessitará da chamada 
regulação infraconstitucional (normalmente, uma Lei Complementar). 
Há, também, no rol das normas de eficácia contida, aqueles que de-
pendem do acontecimento de pressupostos de fato: exemplo clássico é 
a"pena de morte" em caso de guerra declarada - estado de defesa e 
estado de sítio (nos termos do art. 84, IX, da CF/88). 
Normas constitucionais de eficá-
cia limitada e aplicabilidade mediata e reduzida (também chama-
da "diferida"): tais normas, a despeito de não produzirem os "efeitos-fim" 
vislumbrados pelo legislador constituinte, produzem efeitos jurídicos "refle-
xos", como, por exemplo, estabelecendo um dever para os legisladores 
ordinários, ou estabelecendo diretrizes e parâmetros vinculantes com a 
criação de situações jurídicas subjetivas de vantagem ou desvantagem. 
Outra situação, são as chamadas "normas programáticas": exemplo clássi-
co e inafastável é o do salário mínimo "...capaz de atender a suas necessi-
dades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educa-
ção, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com 
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo...". Evidente que 
trata-se de norma programática. 
Outro exemplo oportuno, diga-se de passagem, é o disposto no art. 7.º, 
XX, da CF/88: "proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante 
incentivos específicos, nos termos da lei;". O leitor atento formulará uma 
dúvida inafastável: "mas não seria este o caso de uma norma de eficá-
cia CONTIDA ?". A resposta é não ! Observe que sem a edição de norma 
infraconstitucional o intento do legislador, com inequívoco intuito de proce-
der a tutela de um bem jurídico em estado de hipossuficiência ou desigual-
dade de fato, com vistas à almejada igualdade maior preconizada no art. 
5.º, I, da CF/88, que ainda não se tornou realidade plena, redunda em 
profundo vazio. O dispositivo apenas cria uma obrigação ao legislador, que 
ao se omitir, torna inócuo o comando constitucional. Veja a diferença entre 
este dispositivo citado e o disposto no art. 5.º, XIII, da CF/88: "é livre o 
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualifica-
ções profissionais que a lei estabelecer;" . Enquanto não for criada uma lei 
específica, estabelecendo uma ou mais exigências especificas, para o 
exercício de determinado trabalho, ofício ou profissão, não haverá restri-
ção para o exercício respectivo. Este dispositivo, como fácil de perceber, 
não tem caráter programático, mas sim, estabelece a possibilidade de 
restrição e condicionamento de "trabalho, ofício ou profissão", às qualifica-
ções necessárias para o seu exercício (daí a nomenclatura sugerida por 
Michel Temer: norma de eficácia redutível ou restringível). 
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Eficácia e Vigência das Normas Constitucionais 
A eficácia de uma norma jurídica não se confunde com a sua vigência. 
Uma norma pode ser eficaz e estar em vigência, e pode também estar em 
vigência e não ser eficaz. 
Todas as normas constitucionais têm, ainda que seja mínima, certa efi-
cácia. Varia, porém, a forma de tal eficácia, distinguindo-se as normas 
constitucionais em normas de eficácia plena, eficácia contida e eficá-
cia limitada (divisão tricotômica). 
1. Norma Constitucional de Eficácia Plena 
É a norma constitucional de efeito imediato e ilimitado, independente-
mente de qualquer norma infraconstitucional regulamentadora posterior ou 
de qualquer outro ato do poder público. Trata-se de uma norma constitucio-
nal auto-aplicável. São exemplos o art. 1º e parágrafo único; art. 4º, incisos; 
art. 5º, inciso I. 
2. Norma Constitucional de Eficácia Contida, Restringível ou Re-
dutível 
É auto-aplicável imediata e diretamente da forma como está no texto 
constitucional, pois contém todos os elementos necessários a sua forma-
ção. Permite, entretanto, restrição por lei infraconstitucional, emenda consti-
tucional ou outro ato do poder público. É exemplo o art. 5º, incisos VIII, XI, 
XII, XIII, XIV, XVI, XXIV, LX, LXI, LXVII. 
3. Norma Constitucional de Eficácia Limitada 
É aquela não regulada de modo completo na Constituição, por isso de-
pende de norma regulamentadora elaborada pelo Poder Legislativo, Poder 
Executivo ou Poder Judiciário, ou de qualquer outro ato do poder público. 
Não é correto dizer que tais normas não têm eficácia, apenas a eficácia é 
mínima, já que seu alcance total depende de ato legislativo ou administrati-
vo posterior. São eficazes, pelo menos, em criar para o legislador o dever 
de legislar ou ao administrador o dever de agir. São exemplos os arts. 4º, 
parágrafo único; 7º, incisos IV e V. 
Cabe lembrar que deverá ser assegurado, desde logo, o mínimo exis-
tencial (o mínimo necessário para que se tenha uma vida digna). 
1. Teoria da Recepção 
Baseia-se no princípio da continuidade do direito. 
A Constituição é à base de validade jurídica das normas infraconstitu-
cionais. Com o advento de uma nova Constituição as normas infraconstitu-
cionais anteriores vigentes sob o império da antiga Constituição, se forem 
materialmente (o seu conteúdo) incompatíveis com esta nova Constituição, 
serão revogadas. Por outro lado, aquelas normas infraconstitucionais 
anteriores materialmente compatíveis com a nova Constituição irão aderir 
ao novo ordenamento jurídico (isto é, serão recepcionadas) como se novas 
fossem porque terão como base de validade a atual Constituição (trata-se 
de uma ficção jurídica). Essa teoria é tradicionalmente admitida no direito 
brasileiro, independentemente de qualquer determinação expressa. 
2. Teoria da RepristinaçãoConsiste em revigorar uma lei revogada, revogando a lei revogadora. 
Quanto à repristinação por superveniência de Constituição, não há direito 
anterior a ser restaurado, isto porque o direito constitucional brasileiro não 
admite repristinação que não seja expressamente permitida por lei constitu-
cional. 
Nada impede, entretanto, que uma lei infraconstitucional repristine uma 
outra lei infraconstitucional já revogada desde que o faça expressamente, 
conforme a Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), art. 2º, § 3º. 
3. Teoria da Desconstitucionalização 
Consiste em aproveitar como lei infraconstitucional preceitos da Consti-
tuição revogada não repetidos na Constituição superveniente, mas com ela 
materialmente compatíveis (compatibilidade do conteúdo da norma consti-
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Noções de Direito Constitucional
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tucional anterior com o conteúdo da Constituição superveniente). Porém, 
tradicionalmente no direito brasileiro, a superveniência da Constituição 
revoga imediatamente a anterior e as normas não contempladas na nova 
Constituição perdem sua força normativa, salvo na hipótese de a própria 
Constituição superveniente prever a desconstitucionalização expressamen-
te. http://www.okconcursos.com.br/ 
 
 Dos direitos e garantias fundamentais. 
 
A Constituição de 1988 ampliou consideravelmente o catálogo dos di-
reitos e garantias fundamentais, desdobrando-se o art. 5º em 77 incisos, 
quando, pela Emenda Constitucional n. 1, de 1969, a matéria era tratada 
em 36 parágrafos, que integravam o art. 153. A razão do aumento de 
disposições acerca do tema resulta, sobretudo, da constitucionalização de 
valores penais que se achavam previstos na legislação penal ou processual 
penal. 
 
Outro aspecto que deve ser salientado é o de que a declaração dos di-
reitos fundamentais foi deslocada para o início do texto constitucional 
(Título II), rompendo assim a Constituição vigente com a técnica das Cons-
tituições anteriores, que situava os direitos fundamentais na parte final da 
Constituição, sempre depois da organização do Estado. Essa colocação 
topográfica da declaração de direitos no início da Constituição, seguindo 
modelo das Constituições do Japão, México, Portugal, Espanha, dentre 
outras, tem especial significado, pois revela que todas as instituições esta-
tais estão condicionadas aos direitos fundamentais, que deverão observar. 
Assim, nada se pode fazer fora do quadro da declaração de direitos funda-
mentais: Legislativo, Executivo e Judiciário, orçamento, ordem econômica, 
além de outras instituições, são orientados e delimitados pelos direitos 
humanos. 
 
Esclareça-se, ainda, que a expressão “estrangeiros residentes no Pa-
ís”, constante do art. 50 da Constituição, “deve ser interpretada no sentido 
de que a Carta Federal só pode assegurar a validade e o gozo dos direitos 
fundamentais dentro do território brasileiro. 
 
Em consequência, mesmo o estrangeiro não residente no Brasil tem 
acesso às ações, inclusive mandado de segurança, e aos demais remédios 
judiciais”; é o que entende José Celso de Mello Filho. De fato, os direitos 
fundamentais têm, como vimos, caráter universal, e deles serão destinatá-
rios todos os que se encontrem sob a tutela da ordem jurídica brasileira, 
pouco importando se são nacionais ou estrangeiros. 
 
Abrangência 
O Título II da Constituição compreende cinco Capítulos. Neles são 
mencionados os direitos e deveres individuais e coletivos (Capítulo I), os 
direitos sociais (Capítulo II), a nacionalidade (Capítulo III), os direitos políti-
cos (Capítulo IV) e os partidos políticos (Capítulo V). Portanto, os direitos 
fundamentais, na Constituição de 1988, compreendem os direitos individu-
ais, os direitos coletivos, os direitos sociais e os direitos políticos. 
Os direitos individuais são aqueles que se caracterizam pela autonomia 
e oponibilidade ao Estado, tendo por base a liberdade - autonomia como 
atributo da pessoa, relativamente a suas faculdades pessoais e a seus 
bens. Impõem, como vimos acima, ao tratarmos da sua classificação, uma 
abstenção, por parte do Estado, de modo a não interferir na esfera própria 
dessas liberdades. 
 
O direitos políticos têm por base a liberdade-participação, traduzida na 
possibilidade atribuída ao cidadão de participar do processo político, votan-
do e sendo votado. 
 
Os direitos sociais referidos no art. 60 da Constituição (educação, saú-
de, trabalho, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e 
à infância, assistência aos desamparados) são direitos que visam a uma 
melhoria das condições de existência, mediante prestações positivas do 
Estado, que deverá assegurar a criação de serviços de educação, saúde, 
ensino, habitação e outros, para a sua realização. A maioria dos direitos 
sociais vem enunciada em normas programáticas que demandam interven-
ção legislativa para se tornarem operativas e aplicáveis, pelo que não 
podem os seus destinatários invocá-los ou exigi-los imediatamente. 
 
Há autores que reconhecem a existência, na Constituição, além dos di-
reitos sociais, de direitos econômicos, que, contidos em normas de conteú-
do econômico, visam proporcionar, através de uma política econômica, v.g., 
a que trata do planejamento de metas e de financiamento para a consecu-
ção do pleno emprego (direito econômico), a realização dos demais direitos 
humanos, no caso, o oferecimento do salário mínimo (direito social) e o 
suprimento das necessidades humanas, conferindo ao homem uma vida 
digna (direito individual). Os direitos econômicos envolvem, desse modo, 
normas protetoras de interesses individuais, coletivos e difusos. Nesse 
sentido, posiciona-se José Luiz Quadros de Magalhães, que classifica os 
direitos econômicos em: I — direito ao meio ambiente; II - direito do consu-
midor; III - função social da propriedade rural e urbana; IV - transporte 
(como meio de circulação de mercadorias); V - pleno emprego (direito ao 
trabalho); VI - outras normas concretizadoras de direitos sociais, individuais 
e políticos). 
 
Fala ainda a Constituição em direitos coletivos, entendendo-se como 
tais aqueles cujo exercício cabe a uma pluralidade de sujeitos, e não a 
cada indivíduo isoladamente. Entende José Carlos Vieira de Andrade que 
“o elemento coletivo integra o conteúdo do próprio direito - este só ganha 
sentido se for pensado em termos comunitários, pois estão em causa 
interesses partilhados por uma categoria ou um grupo de pessoas”. Esses 
direitos coletivos se apresentam às vezes como “direitos individuais de 
expressão coletiva”, em que o coletivo não é sujeito de direitos (direito de 
reunião e de associação), e outras vezes se confundem com os direitos das 
pessoas coletivas (direito de organização sindical). Como direitos funda-
mentais coletivos previstos no art. 50 são mencionados: o direito de reunião 
e de associação, o direito de entidades associativas representarem seus 
filiados, os direitos de recebimento de informações de interesse coletivo, 
dentre outros. 
 
Finalmente, relacionados com os direitos fundamentais, apresentam-se 
os deveres fundamentais, referidos no Capítulo I, do Título II, da Constitui-
ção, sob a rubrica de deveres individuais e coletivos. Por deveres, em 
sentido genérico, deve-se entender as situações jurídicas de necessidade 
ou de restrições de comportamentos impostas pela Constituição às pesso-
as. 
 
Vale lembrar, a propósito, que os direitos individuais foram revelados 
na História como aquisição de direitos diante do Poder e não como sujeição 
a deveres. 
 
Daí não existir, no Capítulo dos Direitos Fundamentais, nenhum precei-
to dedicado a um dever, de forma específica e exclusiva. Os deveres se 
acham sempre ligados ou conexos com os direitos fundamentais (dever de 
votar, relacionado com o direito de voto - art. 14, § 1º, I; dever de educar os 
filhos, relacionado com o direito à educação - art. 205; dever de defesa do 
meio ambiente, conjugado com o direito correspondente— art. 225, etc.). 
 
Direito à vida 
O primeiro direito do homem consiste no direito à vida, condicionador 
de todos os demais. Desde a concepção até a morte natural, o homem tem 
o direito à existência, não só biológica como também moral (a Constituição 
estabelece como um dos fundamentos do Estado a “dignidade da pessoa 
humana” - art. 1º, III). 
 
No sentido biológico, a vida consiste no conjunto de propriedades e 
qualidades graças às quais os seres organizados, ao contrário dos orga-
nismos mortos ou da matéria bruta, se mantêm em contínua atividade, 
manifestada em funções, tais como o metabolismo, o crescimento, a reação 
a estímulos, a adaptação ao meio, a reprodução e outras. 
 
A vida humana se distingue das demais, seja pela sua origem, vale di-
zer, pelo processo de sua reprodução a partir de outra vida, seja pela 
característica de sua constituição genética: 46 cromossomos para as célu-
las diploides (respectivamente, 23 para as células haploides ou gametas). 
 
Assim, o embrião é protegido, sendo ilícito o aborto, porque, enquanto 
dura o processo fisiológico do feto no útero, o homem tem direito à vida 
embrionária. O aborto é atualmente considerado ilícito pelo nosso Direito, 
salvo nos casos especiais previstos na legislação penal. Tem sido polêmi-
ca, contudo, a tipificação penal do aborto. 
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Noções de Direito Constitucional
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Há também controvérsia sobre a eutanásia ou homicídio piedoso, em 
que a morte é provocada para evitar o sofrimento decorrente de uma doen-
ça havida como incurável. A Constituição brasileira não acolheu a eutaná-
sia. De fato, não a recomendam o progresso da medicina e o fato de que a 
vida é um bem não só individual, mas também social, e o desinteresse por 
ela, pelo indivíduo, não há de excluí-la da proteção do Direito. 
 
A pena de morte foi proibida pela Constituição de 1988, salvo em caso 
de guerra declarada (art. 5º, XL VII, a). O Brasil é ainda parte na Conven-
ção Americana sobre Direitos Humanos (“Pacto de San José de Costa 
Rica”), de 1969, cujo art. 4º menciona o direito à vida como um direito 
fundamental e inderrogável. Por força também do art. 4º, 2 e 3, há proibição 
absoluta para estender, no futuro, a pena de morte para toda classe de 
delitos, bem como de seu restabelecimento nos Estados que a hajam 
abolido, como é o caso do Brasil, que aderiu a convenção em 25 de setem-
bro de 1992. 
 
O Brasil se obrigou, portanto, ao não-estabelecimento da pena de mor-
te no País. Na hipótese de violação dessa obrigação convencional, estaria 
configurada a responsabilidade internacional do Brasil. 
 
O debate sobre a licitude e a oportunidade da pena de morte remonta 
ao Iluminismo, no século XVIII, com Beccaria, que examinou a função 
intimidatória da pena, ao dizer que “a finalidade da pena não é senão 
impedir o réu de causar novos danos aos seus concidadãos e demover os 
demais a fazerem o mesmo”. 
 
Neste contexto é que trata da pena de morte com relação e outras pe-
nas. 
 
No parágrafo intitulado “Doçura das penas”, Beccaria sustenta que os 
maiores freios contra os delitos não é a crueldade das penas, mas a sua 
infalibilidade e, consequentemente, a vigilância dos magistrados e a severi-
dade de um juiz inexorável. 
 
Assim, “não é necessário que as penas sejam cruéis para serem dis-
suasórias. Basta que sejam certas. O que constitui uma razão (aliás, a 
razão principal) para não se cometer o delito não é tanto a severidade da 
pena quanto a certeza de que será de algum modo punido.” Portanto, 
conclui Beccaria, além da certeza da pena, há um segundo princípio: a 
intimidação que nasce não da intensidade da pena, mas de sua extensão, 
como, por exemplo a prisão perpétua. A pena de morte é muito intensa, 
enquanto a prisão perpétua é muito extensa. Então, a perda perpétua da 
própria liberdade tem mais força intimidatória do que a pena de morte. 
 
Este argumento de ordem utilitarista poderia, contudo, ser ultrapassado 
caso se demonstrasse que a pena de morte preveniria os chamados crimes 
de sangue, com mais eficácia do que as outras penas. 
 
Neste caso, ter-se-ia que recorrer à instância de ordem moral, a um 
princípio ético, derivado do imperativo moral “não matarás”, a ser acolhido 
como um princípio de valor absoluto. Mas como? 
 
Se o indivíduo tem o direito de matar em legítima defesa, por que a co-
letividade não o tem? 
 
Responde então Norberto Bobbio: 
“A coletividade não tem esse direito porque a legítima defesa nasce e 
se justifica somente como resposta imediata numa situação onde seja 
impossível agir de outro modo; a resposta da coletividade é mediatizada 
através de um processo, por vezes até mesmo longo, no qual se conflitam 
argumentos pró e contra. Em outras palavras, a condenação à morte de-
pois de um processo não é mais um homicídio em legítima defesa, mas um 
homicídio legal, legalizado, perpetrado a sangue frio, premeditado. O Esta-
do não pode colocar-se no mesmo plano do indivíduo singular. O indivíduo 
age por raiva, por paixão, por interesse, em defesa própria. O Estado 
responde de modo mediato, reflexivo, racional.” 
 
O saudoso Prof. Lydio Machado Bandeira de Mello, ao se insurgir con-
tra a pena de morte, o fez admiravelmente em página insuperável: 
 
“O Direito Penal é um direito essencialmente mutável e relativo. Logo, 
deve ficar fora de seu alcance a imposição de penas de caráter imutável e 
absoluto, de total irreversibilidade e irremediáveis quando se descobre que 
foram impostas pela perseguição, pelo capricho ou pelo erro. Deve ficar 
fora de seu alcance a pena que só um juiz onisciente, incorruptível, absolu-
tamente igual seria competente para aplicar: a pena cuja imposição só 
deveria estar na alçada do ser absoluto, se ele estatuísse ou impusesse 
penas: a pena absoluta, a pena de morte. Aos seres relativos e falíveis só 
compete aplicar penas relativas e modificáveis. E, ainda assim, enquanto 
não soubermos substituir as penas por medidas mais humanas e eficazes 
de defesa social”. 
 
Note-se, finalmente, que o direito à saúde é outra consequência do di-
reito à vida. 
 
Direito à privacidade 
A vida moderna, pela utilização de sofisticada tecnologia (teleobjetivas, 
aparelhos de escutas), tem acarretado enorme vulnerabilidade à privacida-
de das pessoas. Daí a Constituição declarar, no art. 50, X, que “são inviolá-
veis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegu-
rado o direito à indenização pelo dano moral decorrente de sua violação”. 
Portanto, o direito de estar só e o direito à própria imagem, às vezes tão 
impiedosamente exposta pelos meios de comunicação de massa, ganham 
eminência constitucional, protegendo-se o homem na sua intimidade e 
privacidade. O dano moral decorrente da violação desses direitos, além do 
dano material, será indenizado, encerrando assim a Constituição a polêmi-
ca até então existente no Direito brasileiro sobre a indenização do dano 
moral. 
 
O direito à honra alcança tanto o valor moral íntimo do homem como a 
estima dos outros, a consideração social, o bom nome, a boa fama, enfim, 
o sentimento ou a consciência da própria dignidade pessoal refletida na 
consideração dos outros e no sentimento da própria pessoa. Envolve, 
portanto, a honra subjetiva e a honra objetiva, a primeira tendo por núcleo o 
sentimento de auto-estima do indivíduo, o sentimento que possui acerca de 
si mesmo, e a honra objetiva significando o conceito social que o indivíduo 
possui. 
 
O direito à imagem envolve duas vertentes: a imagem-retrato e a ima-
gem-atributo. No primeiro sentido significa o direito relativo à reprodução 
gráfica (retrato, desenho, fotografia, filmagem, dentre outros) da figura 
humana, podendo envolver até mesmo partes do corpo da pessoa, como a 
voz, a boca, o nariz, as pernas, etc. No segundo sentido, é entendida como 
a imagem dentro de um determinado contexto, é dizer, o conjunto de atribu-
tos cultivados pelo indivíduo e reconhecidos

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