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Comunicação 24 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Bahia Agríc., v.7, n.3, nov. 2006 *D.Sc. Prof. do CFT/UFP; e-mail: mbmedeir@yahoo.com.br **Eng. Agrônomo – PRONERA/INCRA; e-mail: sertaojuliano@yahoo.com.br Marcos Barros de Medeiros* Juliano da Silva Lopes** A s modificações genéticas pelasquais as plantas cultivadas eos animais passaram, permiti- ram adaptações em diferentes ambien- tes. Embora os avanços científicos e tec- nológicos tenham permitido enormes progressos, o desenvolvimento da ativi- dade agrícola, pela própria natureza, perturba de alguma forma o meio am- biente em relação à sua situação natu- ral. São exemplos, os problemas graves de deterioração dos solos, e a grande multiplicação de “pragas e doenças” agrícolas. Surgem nos diversos setores sociais discussões em torno da “agricultura sus- tentável”. Nesta, o conceito de sustenta- bilidade não pode ter o aspecto estático, comumente implícito no tempo, pelos quais os sistemas agrícolas são consi- derados sustentáveis quando a produ- ção é pensada como fator isolado. Um conceito dinâmico é mais apropriado e atende a evolução e ao desenvolvi- mento da sociedade. Muitas práticas agrícolas podem ter sido denominadas sustentáveis no passado, ou mesmo no presente, segundo as condições socioe- conômicas, edafoclimáticas e demais características locais. Num conceito dinâmico, a sustentabilidade deve levar em conta as mudanças temporais nas necessidades humanas, especialmente relacionadas a uma população crescen- te, bem como uma adequada percep- ção da relação ambiental com a agricul- tura, salienta Paterniani (2001). Surge então a necessidade de pro- mover estilos alternativos de agricultura ou a implementação de técnicas dentro dos sistemas já existentes, no sentido de garantir a viabilidade agrícola sob seus diversos aspectos. Frente a essa problemática, apresentam-se neste trabalho, algumas considerações sobre o uso de biofertilizantes líquidos na agri- cultura, que vem mostrando bons resul- tados em algumas formulações já testa- das e que podem ser aplicadas de forma alternativa na proteção de plantas. Essa estratégia é indicada principalmente para as pequenas propriedades, onde os recursos financeiros e tecnológicos são escassos, aproveitando-se subpro- dutos da agropecuária que muitas vezes são descartados. O que são biofertilizantes líquidos Os biofertilizantes possuem com- postos bioativos, resultantes da biodi- gestão de compostos orgânicos de ori- gem animal e vegetal. Em seu conteúdo são encontradas células vivas ou laten- tes de microrganismos de metabolismo aeróbico, anaeróbico e fermentação (bactérias, leveduras, algas e fungos fila- mentosos) e também metabólitos e que- latos organominerais em solutos aquo- so. Segundo Santos e Akiba (1996), os metabólitos são compostos de proteí- nas, enzimas, antibióticos, vitaminas, toxinas, fenóis, ésteres e ácidos, in- clusive de ação fito-hormonal produ- zidos e liberados pelos microrganismos. Biofertilizantes líquidos e sustentabilidade agrícola Resultados com uso de biofertilizantes Os efeitos do biofertilizante no controle de pragas e doenças de plantas têm sido bem evidenciados. Efeitos fungistático, bacteriostático e repelente sobre insetos já foram constatados. Santos e Sampaio (1993) verificaram uma propriedade coloidal do biofertilizante que provoca a ade- rência do inseto sobre a superfície do tecido vegetal. Os autores destaca- ram também o efeito repelente e de- terrente de alimentação contra pul- gões e mosca-das-frutas. Medeiros et al. (2000b) verificaram que o bio- fertilizante a base de conteúdo de rúmen bovino e composto orgânico Microgeo reduziram a fecundidade, período de oviposição e longevidade de fêmeas do ácaro-da-leprose dos citros, Brevipalpus phoenicis, quando pulverizado em diferentes concen- trações. O estudo comprovou que o biofertilizante agiu por contato direto e residual e também funcionou de forma sistêmica na planta. Esses mes- mos autores comprovaram que este biofertilizante agiu sinergicamente com Bacillus thuringiensis e o fungo B. bassiana, reduzindo a viabilidade dos ovos e sobrevivência de larvas do bicho-furão-dos-citros (Ecdytolopha aurantiana). 25 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Comunicação Bahia Agríc., v.7, n.3, nov. 2006 Processos envolvidos na produção de biofertilizantes Não existe uma fórmula padrão para a produção de biofertilizantes. Re- ceitas variadas vêm sendo testadas, uti- lizando-se componentes minerais para o enriquecimento do meio de cultivo. O processo de fermentação é com- plexo e os microrganismos existentes passam quatro fases distintas de cresci- mento celular: latência, crescimento exponencial, fase estacionária e morte celular. Cada microrganismo partici- pante degrada alimento para outro, numa relação de interdependência mútua e harmônica e, assim, o processo de fer- mentação acaba sendo contínuo, desde que seja alimentado com meio nutriti- vo, o que fundamentou o processo de compostagem líquida descrito abaixo por D´Andréa e Medeiros (2002). Compostagem líquida contínua (CLC) Dimensionamento da produção: tanques podem ser utilizados para volumes de até 1.000 l, caixas de fibro- cimento ou plásticas. Para volumes maiores constrói-se diretamente no solo, “piscinas” com as dimensões do volume pretendido, e com a profun- didade máxima de 1 m, as quais são revestidas com lona plástica. A loca- lização do tanque deve ser em área en- solarada, mantendo-o descoberto. Para o dimensionamento do volume do tanque, deverá ser considerado um consumo diário máximo de 10% de biofertilizante, da sua capacidade. CLC com usos de esterco e com- posto orgânico enriquecido: adiciona-se no tanque o esterco fresco de gado (inoculante), um composto orgânico enriquecido com minerais (Ex.: Microgeo) e água (não clorada). No caso do Microgeo, o preparo é feito nas seguintes proporções: 1,0 kg do composto/4,0 l de esterco/20,0 l de água (completando o volume). Agitar duas vezes ao dia manualmente com um “rodo”, que também permitirá determinar a espes- sura da camada orgânica (biomassa) depositada no fundo do tanque, com o objetivo de quantificar a reposição do esterco de gado no processo CLC. Iniciar o uso do biofertilizante com aproximadamente 15 dias após a mistura inicial dos insumos. Na manutenção da CLC, devem-se contabilizar diariamente os volumes de biofertilizante consumidos, repondo os insumos no tanque nas seguintes proporções: a) reposição do composto orgâ- nico - para cada 30,0 a 40,0 l de biofertilizante usado, repor 1,0 kg do composto/inoculante. O intervalo de reposição poderá ser semanal até mensal. b) reposição do esterco de gado - adicionar um volume de esterco de ga- do (fresco) suficiente para manter a mesma proporção biomassa/água do início do processo, sempre quando se verificar com ajuda do “rodo” a dimi- nuição da camada orgânica no fundo do tanque. c) reposição da água - em função do volume de biofertilizante consu- mido, da evaporação e das chuvas. O volume de água adicionado deverá ser o suficiente para a manutenção do nível do tanque. Manter descobertos os tanques maiores de 1.000 l, retirando para uso posterioro volume do biofer- tilizante que eventualmente poderá transbordar, armazenando-o em tambores (MICROBIOL, 2001). Recomendações de uso Segundo Pinheiro e Barreto (1996), devido aos elevados efeitos hormonais e altos teores das substâncias sinteti- zadas, o uso de biofertilizantes em pul- verizações foliares normalmente são feitos com diluições em água entre 0,1 e 5%. Concentrações maiores, entre 20 e 50%, foram utilizadas por Santos e Akiba (1996), com o biofertilizante “Vairo”. Porém, em concentrações muito elevadas, o biofertilizante pode causar estresse fisiológico na planta retardando seu crescimento, floração ou frutificação. Isso se deve provavel- mente ao desvio metabólico para produção de substâncias de defesa. Para hortaliças, recomendam-se pul- verizações semanais, utilizando entre 0,1 e 3% de concentração do biofer- tilizante. Em fruteiras, pulverizações entre 1 e 5% do biofertilizante com Microgeo produziram resultados significativos na sanidade da cultura. Este biofertilizante também vem sendo empregado sobre o solo em concen- trações de até 20%. Este, quando aplicado sobre o mato roçado, como “input” microbiano é capaz de aumentar a compostagem laminar (D´ANDRÉA; MEDEIROS, 2002). As aplicações de biofertilizantes deverão ser realizadas durante as fases de crescimento e/ou produção, evitan- do-as no florescimento. Deve-se dar preferência pelos dias de chuva ou irrigação e os horários vespertino ou noturno, evitando-se os períodos secos e horas mais quentes do dia. Altas concentrações do biofertilizante po- dem provocar na planta, demanda de água muito maior para o seu equilíbrio. Mesmo assim, pulverizações com o biofertilizante, na diluição de 1%, nos períodos secos são possíveis. Apesar de estarem sob os efeitos do estresse hídrico, as plantas estarão recebendo energia entrópica (não utilizável pelos insetos) e outros fatores de proteção. As figuras 1,2,3 e 4 ilustram todo o processo. Considerações finais Dentro desse contexto, foram co- locadas aqui, questões que envolvem principalmente a busca pela auto- suficiência na propriedade, principal- mente nas pequenas, visto que os re- cursos financeiros e a adoção de tecno- logias mais modernas são limitados. Outro aspecto importante, é que a A ação antibiótica e indução de resistência sistêmica da planta são provavelmente os principais meca- nismos de ação do biofertilizante sobre a praga (D´ANDRÉA; MEDEIROS, 2002). Os fenômenos podem estar diretamente associados à complexa e pouco conhecida composição química e biológica dos biofertilizantes. Um composto coloidal, de consistência mucilaginosa (goma) e de composi- ção ainda não conhecida, foi observa- do por Medeiros (2000b), causando a imobilização e morte do ácaro B. phoenicis sobre a folha devido à obstrução de seu sistema digestivo. Comunicação 26 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Bahia Agríc., v.7, n.3, nov. 2006 análise das vantagens e desvantagens não é feita considerando-se apenas um produto ou atividade isolados, mas sim o sistema como todo. Nesse enfoque, um problema qualquer não pode ser visto e atacado de forma isolada, e sim, entendido em sua re- lação com as demais condições do agroecossistema. A preocupação em se gerar alter- nativas ao problema dos rejeitos líquidos e sólidos na agricultura, transformá-los em insumos de baixo custo e capazes de serem aplicados na atividade produtiva primária, representa um grande avanço na preservação do meio ambiente. Contudo, serão necessários investi- mentos em pesquisa e desenvol- vimento, para que se produzam metodologias de elevado alcance para o agricultor, e grandes esforços no sentido de se consolidar o em- prego desses processos bioquímicos como forma de se promover a sus- tentabilidade dos ambientes agrícolas. REFERÊNCIAS D´ANDREA, P. A.; MEDEIROS, M. B. Biofertilizantes biodinâmicos na nutrição e proteção de hortaliças. In: CONGRES- SO BRASILEIRO DE AGRICULTURA OR- GÂNICA, NATURAL, ECOLÓGICA E BIO- DINÂMICA, 1, 2002, Piracicaba. Anais... Piracicaba: Agroecológica, 2002. MEDEIROS, M. B. et al. Effect of liquid biofertilizer on the oviposition of Brevipalpus phoencis. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM OF UNDERGRADUATE RESEARCH, 9., 2000, São Paulo. Anais... São Paulo. 2000b. MEDEIROS, M. B.; WANDERLEY, P. A.; WANDERLEY, M. J. A. Biofertilizantes líquidos. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, v.31, p.38-44, jul./dez. 2003. MICROBIOL IND. COM. Biofertilizante microgeo: processo cíclico de proteção vegetal. Limeira, 2001. (Folder Informativo). PATERNIANI, E. Agricultura sustentável nos trópicos. Seropédica: Embrapa Agrobio- logia, 2001. 21p. (Documentos, 140). PINHEIRO, S.; BARRETO, S. B. Agricultura sustentável, trofobiose e biofertizantes. Porto Alegre: Junquira Candiru. 1996. 276p. Tradução de DINCHEV, D. Agroquímica. Ciudade de La Havana, Cuba: Ed. Revolucionaria, 1996. 295p. SANTOS, A. C.; AKIBA, F. Biofertilizantes líquidos: uso correto na agricultura alternativa. Seropédica: Imprensa Universitária/UFRRJ. 1996. 35p. SANTOS, A. C.; SAMPAIO, H. N. Efeito do biofertilizante líquido obtido da fermentação anaeróbica do esterco bovino, no controle de insetos prejudiciais à lavoura citros. In: SEMINÁRIO BIENAL DE PESQUISA, 6., 1993, Rio de Janeiro. Resumos. Seropédica: UFRRJ, 1993. Figura 1 - reposição com água nos tanques de biofertilizante Figura 2 - tanques de biofertilzante/abas- tecimento Figura 4 - pulverização com biofertilizante Figura 3 - resultado da aplicação de biofertilizante F ot os : M ar co s B ar ro s e P au lo D ´A nd ré a F ot os : M ar co s B ar ro s e P au lo D ´A nd ré a F ot os : M ar co s B ar ro s e P au lo D ´A nd ré a F ot o: M ar co s B ar ro s e P au lo D ´A nd ré a
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