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0 FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA Especialização em Saúde Pública Alexsandra Gomes de Andrade O SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBULATORIAIS COMO INSTRUMENTO PARA A REGIONALIZAÇÃO EM SAÚDE RECIFE 2011 1 Alexsandra Gomes de Andrade O SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBULATORIAIS COMO INSTRUMENTO PARA A REGIONALIZAÇÃO EM SAÚDE Orientador: Luiz Claudio Souza de Oliveira RECIFE 2011 Monografia de conclusão da Especialização em Saúde Pública, apresentada ao Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Saúde Pública. 2 Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães A553s Andrade, Alexsandra Gomes. O sistema de informações ambulatoriais como instrumento para a regionalização em saúde / Alexsandra Gomes de Andrade. — Recife: A. G. Andrade, 2011. 49 p.: il. Monografia (Especialização em Saúde Pública) – Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz. Orientador: Luiz Cláudio Souza de Oliveira. 1. Sistemas de informação em saúde. 2. Serviços de saúde. 3. Administração de serviços de saúde. I. Oliveira, Luiz Cláudio de. II. Título. CDU 614 3 Alexsandra Gomes de Andrade O SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBULATORIAIS COMO INSTRUMENTO PARA A REGIONALIZAÇÃO EM SAÚDE Aprovado em: 29/04/2011 BANCA EXAMINADORA ________________________________ Ms. Luiz Claudio Souza de Oliveira Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco _________________________________ Prof º. Ms. Domício Aurélio de Sá Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães- FIOCRUZ Monografia de conclusão da Especialização em Saúde Pública, apresentada ao Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Saúde Pública. 4 ANDRADE, Alexsandra Gomes. O Sistema de Informações Ambulatoriais como instrumento para a regionalização em saúde. 2011. Monografia (Especialização em Saúde Pública) – Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz. Recife, 2011. RESUMO A regionalização objetiva garantir o direito à saúde, reduzindo as desigualdades sociais e territoriais de acesso aos serviços de saúde por meio da identificação das Regiões de Saúde. Para isso, é necessária a utilização dos dados disponíveis nos Sistemas de Informação. Este estudo teve como objetivo descrever as contribuições do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS) para o processo de regionalização em Pernambuco no ano de 2009, por meio de um estudo descritivo de corte transversal. Os dados mostraram uma concentração da oferta de serviços na Microrregião Recife, ocasionando uma forte polarização dos fluxos para a capital, além da existência de demandas interestaduais e elevado número de deslocamentos dos residentes de algumas microrregiões, que evidenciaram a necessidade de reestruturação e planejamento da rede de atenção à saúde interestadual e nas Macrorregiões de Caruaru e Petrolina. A ausência de regras explícitas quanto aos atributos dos procedimentos e ao preenchimento dos instrumentos que alimentam o sistema, associada ao baixo registro das variáveis relacionadas ao usuário, comprometeram a descrição do perfil das demandas ambulatoriais. As mudanças ocorridas no SIA/SUS ampliaram o seu potencial de subsídio para o processo de planejamento e conformação de redes regionalizadas, principalmente no que diz respeito à regulação dos fluxos assistenciais, mas não foi suficiente para promover sua utilização pelos gestores. Dessa forma, faz-se necessária a exploração rotineira dos seus bancos de dados, a fim de identificar quais suas limitações e corrigi-las, juntamente com o desenvolvimento de métodos adequados de apropriação dos dados, baseados nas peculiaridades do sistema, para que contribua efetivamente para a regionalização em saúde. Palavras-chave: Sistemas de informação em saúde, Serviços de saúde, Administração de serviços em saúde, Regionalização. 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Regionalização da saúde em Pernambuco, segundo PDR 2006...............24 Figura 2 - Proporção dos registros ambulatoriais segundo sexo. PE, 2009..............31 Figura 3 - Proporção dos registros ambulatoriais segundo faixa etária. PE, 2009....31 Figura 4 - Proporção dos registros ambulatoriais segundo a variável Raça/Cor. PE, 2009............................................................................................................................32 Figura 5 - Proporção dos registros ambulatoriais (Apac), segundo capítulo do CID10. PE, 2009.....................................................................................................................33 Figura 6 - Fluxo dos procedimentos principais de média complexidade. PE, 2009...35 Figura 7 - Fluxo dos procedimentos secundários de média complexidade. PE, 2009............................................................................................................................36 6 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Resumo da distribuição de municípios e módulos por microrregião........23 Quadro 2 - Definição/ categorização das variáveis de estudo...................................25 Quadro 3 - Procedimentos registrados por nível de agregação da tabela unificada e segundo instrumento de registro................................................................................30 Quadro 4 - Fluxo ambulatorial – procedimentos “Não se aplica”. PE, 2009..............34 Quadro 5 - Fluxo ambulatorial de média complexidade. PE, 2009............................35 Quadro 6 - Fluxo ambulatorial da alta complexidade. PE, 2009................................37 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 12 3 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 13 3.1 Regionalização em Saúde ................................................................................ 13 3.1.1 A construção de redes de atenção regionalizadas no SUS.............................. 15 3.2 O Sistema de Informações Ambulatoriais - SIA/SUS ..................................... 17 4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 22 4.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 22 4.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 22 5 MATERIAL E MÉTODO ......................................................................................... 23 5.1 Área de estudo .................................................................................................. 23 5.2 Tipo de estudo ................................................................................................... 24 5.3 Universo de estudo ........................................................................................... 25 5.4 Definição das variáveis de estudo ................................................................... 25 5.5 Fonte dos dados ................................................................................................26 5.6 Análise dos dados ............................................................................................. 26 5.7 Aspectos éticos ................................................................................................. 26 6 RESULTADOS ....................................................................................................... 27 7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 38 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 43 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44 8 1 INTRODUÇÃO A regionalização é uma diretriz constitucional do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem por objetivo orientar a descentralização dos serviços de saúde e a pactuação entre gestores de forma a garantir a universalidade, integralidade e equidade (BRASIL, 1988, 2006a). É um processo dinâmico que não pode ser visto separadamente da territorialidade, devendo representar acordos políticos embasados em informações coerentes com a realidade (VIANA et al., 2010). A descentralização alcançou significativos avanços na década de 90 principalmente após a edição das Normas Operacionais Básicas (SOUZA, 2001). Segundo Lucchese (1996), o processo desencadeado, assumiu um caráter municipalista que provocou conformação de sistemas municipais atomizados, fragmentados, aprofundando as desigualdades na oferta e acesso aos serviços de saúde. Nesse contexto, a Norma Operacional de Assistência (NOAS SUS 01/02) trouxe para discussão a necessidade de estratégias que assegurassem a organização de redes regionalizadas, hierarquizadas e resolutivas, retomando a regionalização dos serviços e estabelecendo diretrizes operacionais que impulsionassem o processo no Brasil (SOUZA, 2001). No entanto, para Guimarães (2005), a NOAS restringiu a regionalização à divisão espacial subordinada aos limites jurídicos- administrativos “ibegeanos” dos estados e municípios. O conceito de divisão regional proposta não conseguiu ser a expressão da pactuação e solidariedade entre gestores, baseada na diversidade de situações, arranjos, e alternativas construídos pela sociedade para fortalecer a gestão do SUS. Semelhante às normas operacionais anteriores, permaneceu com o foco na gestão da oferta, quando vincula habilitação dos municípios a existência física de equipamentos de saúde, orientando a demanda em função da oferta disponível e não vice- versa, o que não necessariamente coincide com as necessidades da população (MENDES, 2004). Com a publicação do Pacto pela Saúde (2006), a regionalização assume caráter mais abrangente, para além da assistência, expressa o compromisso e cooperação entre os gestores com base nos princípios constitucionais e ênfase nas 9 necessidades de saúde. Novas diretrizes são preconizadas, baseadas no fortalecimento da pactuação política, dos instrumentos de planejamento e redefinição das regiões de saúde (VIANA et al., 2010). A regionalização é uma delimitação do território usado (VIANA et al., 2008), e este por sua vez, é o cenário estabelecido por atores sociais no desenrolar de um processo em que os problemas de saúde se confrontam com os serviços prestados. Assim, o território representa um perfil demográfico, epidemiológico, administrativo, tecnológico, político e social em permanente construção e a sua apropriação requer informações sobre estes aspectos (UNGLERT, 1999). Segundo Arantes et al. (1981) e Oliveira et al. (2004), o conhecimento dos fluxos assistenciais, ou seja, o padrão natural de deslocamento das pessoas em busca de atendimento, é importante para a definição das regiões de saúde e organização da rede hierarquizada dos serviços, a partir da identificação de pólos de atração assistencial e estrangulamentos na distribuição dos serviços. Lapa et al.(2006), considera que os padrões de utilização dos serviços de saúde ainda são expressão da demanda espontânea, embora já possam refletir os efeitos da municipalização enquanto tentativa de organizar essa demanda, em consonância com necessidade da população. O conhecimento desses padrões torna-se essencial para processo de alocação e geração de recursos na perspectiva de alcançar economias de escalas, sistemas eficientes e equânimes (ROESE; GERHARDT, 2008; SAWYER et al., 2002). No Brasil, os diversos estados se encontram em momentos diferentes no processo de regionalização, onde ainda persistem modelos de baixa descentralização e são poucos os municípios que efetivamente avançaram na articulação e organização de redes regionalizadas (SOUZA, 2001). Beltrammi (2008) identifica que um dos entraves para o avanço da regionalização no país é a falta de refinamento dos pactos regionais, que carecem de diagnóstico da rede de saúde, que conheça seu potencial, saturação, ociosidade e demanda. Essas informações são necessárias para a realização de Programações Pactuadas e Integradas (PPI) da assistência que reflitam a realidade da rede de serviços, evitando-se baixa eficiência e eficácia. A programação deve procurar integrar as várias áreas de atenção à saúde, em coerência com o processo global de planejamento, considerando as definições anteriores expressas nos planos de saúde e as possibilidades 10 técnicas dos diversos estados e municípios. Essa integração deve se dar no que diz respeito à análise da situação de saúde e estimativa de necessidades da população e definição das prioridades da política de saúde em cada esfera, como orientadores dos diversos eixos programáticos (BRASIL, 2006b. p.8). Para a análise de situações de saúde, os Sistemas de Informação em Saúde são ferramentas importantes (MEDEIROS et al., 2005). Nas últimas décadas, com o processo de descentralização e crescente responsabilização dos municípios, têm ampliado a necessidade dos gestores em utilizar os Sistemas de Informação como ferramenta no planejamento e tomada de decisões (BITTENCOURT et al., 2006). Entretanto, tem sido escasso o aproveitamento das informações existentes para processos de tomada de decisão e gestão (BRANCO, 2001). Segundo Branco (1998), essa subutilização dos dados pelos gestores é reportada a sua baixa qualidade. No entanto, só haverá ganho na qualidade dos dados se eles forem efetivamente utilizados, analisados e difundidos, para que os problemas sejam identificados e corrigidos (CARVALHO, 1997). O Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS), é um exemplo dessa subutilização. O Sistema representa um banco de dados com cerca de 80% de todos os atendimentos cobrados e pagos que ocorrem no SUS (BRASIL, 2003), de muitas variáveis a serem exploradas, que é apenas utilizado para controle e pagamento de produção (CARVALHO, 1997). Apesar das alterações promovidas pelo Ministério da Saúde nos sistemas de informações assistenciais demonstrando uma política de qualificação das informações, não foram suficientes para promover a utilização do SIA/SUS para outros fins (CARVALHO, 1997; MELIONE, 2002). Diferentemente do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) que, entre os Sistemas de Informações em Saúde disponíveis, é o mais utilizado nos diversos níveis de gestão (BITTENCOURT, 2006). Embora ainda exista uma significativa proporção de procedimentos ambulatoriais sem informações individualizadas, o SIA/SUS já permite identificar os fluxos de demanda para os procedimentos de alta complexidade e alguns procedimentos de média complexidade. Muitas variáveis podem ser exploradas, e a extração de outros tipos de informações é possível por meio de adaptações na exploração dos dados (CARVALHO, 1997). Além disso, diante do contexto da regionalização, onde preconiza-se a organização do sistema de saúde em uma redehorizontal integrada a partir da 11 atenção básica, priorizando as ações de caráter preventivo em nível ambulatorial, e a racionalização de custos, o conhecimento da assistência hospitalar é insuficiente, sendo necessária a obtenção de informações sobre as ações básicas de saúde (SÁ, 2002). Alguns autores já propõem a utilização do SIA/SUS na análise da descentralização de serviços, na caracterização da rede em sua disponibilidade de recursos humanos e tecnológicos, no controle e avaliação de políticas específicas (BARROS; CHAVES, 2003; MEDEIROS et al., 2005; SÁ, 2001, 2002; SCATENA; TANAKA, 2001; VOLPATO; SCATENA, 2006). Conforme Branco (2001), somente a partir do conhecimento do acervo de dados disponíveis, da compreensão de como se originam e podem ser manipulados, é que os gestores podem entender quanto o desperdício das informações sobre a realidade, limitam suas ações de planejamento e tomada de ações. Nesse sentido, a utilização dos dados sobre a assistência ambulatorial, disponíveis no SIA/SUS, pode contribuir para o processo de regionalização da atenção à saúde. 12 2 JUSTIFICATIVA Considerando que a regionalização é uma estratégia de descentralização capaz de promover a universalidade e integralidade no SUS, e que o conhecimento dos padrões de utilização dos serviços de saúde pela população é necessário para a conformação de um sistema eficiente e equânime, esse estudo poderá contribuir: a) Com melhoria das informações ambulatoriais devido à utilização destas no processo de planejamento da atenção à saúde em todas as esferas de governo; b) Na construção de redes de serviços regionais que possibilitem atenção integral a saúde da população; c) Com o conhecimento mais preciso do acesso da população aos serviços de saúde subsidiando a gestão do SUS e o controle social. 13 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Regionalização em Saúde A Regionalização em saúde é um esquema de implantação racional dos recursos de saúde, organizados segundo uma disposição hierárquica e geográfica, na qual é possível uma máxima atenção nos centros primários enquanto os demais serviços vão sendo apropriadamente utilizados de acordo com as necessidades da população (NOVAES; MIR, 1990 apud ARTMANN; RIVERA 2003). A Constituição de 1998 traz a regionalização como diretriz organizativa do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 1988). Reforçada na Lei Orgânica de Saúde, a regionalização é adotada como estratégia orientadora do processo de descentralização dos serviços de saúde para os municípios (BRASIL, 1990). Durante os anos 90, várias portarias e normas vieram nortear o processo de descentralização e organização do SUS. A Norma Operacional Básica (NOB) de 1991 manteve a gestão centralizada e colocava os municípios na condição de gerentes, ou seja, como prestadores de serviços, responsáveis apenas pela administração das unidades de saúde em seu território. Com a NOB 93, iniciou-se o processo de municipalização e habilitação dos municípios em níveis de gestão denominada: incipiente, parcial e semiplena. Nesse momento, os municípios passaram à condição de gestores do sistema de saúde municipal, responsáveis, por comandar o sistema de saúde, alimentar seus banco de dados e exercer funções de coordenação, planejamento e implantação de políticas (BRASIL, 2006c). Com a NOB 96 os municípios passaram a ter duas formas de gestão: Plena da Atenção Básica e Plena do Sistema Municipal. O impacto dessa norma para o SUS foi significativo à medida promoveu a reorganização do modelo de atenção, a partir da criação de incentivos para ampliação da cobertura do Programa Saúde da Família e aprimorou o planejamento definindo a elaboração da Programação Pactuada e Integrada (BRASIL, 2006b). Em 2001, a Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS/SUS 01/02) desencadeou nos estados o processo de elaboração e institucionalização dos Planos Diretores de Regionalização (PDR), instrumentos de ordenamento do processo de regionalização da assistência, onde deve está o desenho da rede 14 regionalizada e fluxos de referência e contra - referências municipais, na perspectiva de garantir o acesso aos cidadãos o mais próximo de sua residência; e o Plano Diretor de Investimentos (PDI), para identificar prioridades e estratégias de investimentos a fim de equalizar a oferta de serviços na rede assistencial (BRASIL, 2001; CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2003). Atualmente, a portaria nº 4279 de 30/12/2010 considera a atualização do Plano Diretor de Regionalização e Investimentos (PDRI) como uma estratégia e diretriz para implementação das Redes de Atenção a Saúde (RAS). Essa atualização deve incorporar a ampliação do acesso, integralidade e equidade de organização da estrutura de atenção à saúde (BRASIL, 2010a). A Noas propôs uma forma de regionalização organizando os municípios em Módulos Assistenciais e Microrregiões/Regiões de saúde, cada qual ofertando um conjunto mínimo de serviços com determinado nível de complexidade, de maneira a facilitar o acesso da população à rede de serviços (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2003). No Pacto pela Saúde 2006, a regionalização é o eixo estruturante de uma de suas três dimensões – o Pacto de Gestão do SUS – devendo, portanto, orientar o processo de identificação e construção de Regiões de Saúde e potencializar os processos de planejamento, negociação e pactuação entre os gestores (BRASIL, 2006d). Com a premissa de aprofundar a descentralização, diminuindo competências concorrentes e fortalecer a gestão, o Pacto pela Saúde consolida novas diretrizes e redefine instrumentos de planejamento para a regionalização: o Plano Diretor de Regionalização, o Plano Diretor de Investimentos, a Programação Pactuada e Integrada e a criação dos Colegiados de Gestão Regional (CGR) (BRASIL, 2006a). A PPI, prevista desde a Noas, é um processo que tem como objetivo organizar a rede de serviços, dando transparência aos fluxos estabelecidos pelos usuários e definir, a partir de critérios e parâmetros pactuados, os limites financeiros destinados à assistência da população própria e das referências recebidas de outros municípios, devendo ser coerente com o PDR, garantindo o acesso da população aos serviços de saúde (BRASIL, 2006b). Os CGR constituem espaços permanentes de pactuação e co-gestão composto por todos os gestores municipais que integram a região de saúde. Esses 15 colegiados permitem a identificação de problemas e definição de prioridades e soluções para a organização da rede assistencial (BRASIL, 2006a). As regiões de saúde são recortes territoriais inseridos em um espaço geográfico contínuo, identificadas pelos gestores a partir de identidades culturais econômicas e sociais. Elas devem propiciar resolutividade àquele território na atenção básica e parte da média complexidade. Os arranjos territoriais que agregam mais de uma Região de Saúde configuram as Macrorregiões de Saúde e suas relações podem ser intra-municipais, intra-estaduais, inter-estaduais e fronteiriças, de forma a garantir a atenção na alta complexidade e parte da média (BRASIL, 2006a). Dessa forma, a identificação das regiões de saúde depende do conhecimento dos desenhos regionais que respeitem as identidades culturais, econômicas e sociais, assim como de redes estabelecidas nas áreas de comunicação, infra- estrutura, transportes e saúde (BRASIL, 2006d). 3.1.1 A construção de redes de atenção regionalizadas no SUS Uma rede de atenção à saúde constitui-se de um conjunto de unidades, de diferentes funções e perfis de atendimento, que operam de forma ordenada e articulada no território, de modo a atender às necessidades de saúde de uma população (KUSCHNIR et al., 2009). Os distintos pontos de atenção à saúde constituem os nós da rede e o seu centro de comunicaçãointegrador está na atenção básica (MENDES, 2002). É necessário a cooperação entre gestores para que haja uma definição clara das ações e serviços que a rede de atenção à saúde naquele território ofertará a população adscrita. Consequentemente a organização da rede de atenção a saúde exige a definição da região de saúde (BRASIL, 2010a). A construção de uma rede regionalizada baseia-se na constatação de que os problemas de saúde não se distribuem uniformemente na população, no espaço e no tempo, envolvem tecnologias de diferentes complexidades e custos (KUSCHNIR et al., 2009). 16 Assim, os serviços de saúde estruturam-se em pontos de atenção à saúde, composta por equipamentos que devem ser distribuídos espacialmente de forma ótima, pautados nos fundamentos da economia de escala, qualidade, suficiência e acesso (BRASIL, 2010a). Os serviços para os quais há recursos suficientes e a distância interfere o acesso, devem ser ofertados de forma dispersa. Já os serviços que se beneficiam da economia de escala e escopo, cujos recursos são escassos e a distância tem pouco impacto no acesso, devem ser concentrados (MENDES, 2007). Ocorre economia de escala quando os custos a médio e a longo prazo diminuem com o aumento do volume e concentração de serviços. Quando uma mesma unidade se beneficia da produção vários tipos de serviços, é chamado de economia de escopo (FERGUNSON; SHELDON; POSNETT, 1997 apud MENDES, 2007). Essa lógica de concentração e dispersão dos serviços, determina a categorização em níveis de atenção no processo de territorialização. Portanto deve haver uma correspondência entre o território sanitário e o leque de serviços disponíveis, sendo que em todos os territórios deve ser ofertada a atenção primária, e a atenção especializada concentrada em territórios meso e macrorregional (MENDES, 2007). Deve ser ressaltado que, o desenho de uma rede única não dá conta de todos os problemas de saúde, sendo fundamental a determinação de redes temáticas que ordenem previamente os fluxos das pessoas em todos os pontos de atenção da rede, desde a atenção primária à terciária, denominadas de linhas guias (MENDES, 2007). Desta forma, a construção de redes de saúde baseia-se na distribuição geográfica (regionalização) das unidades, por níveis de atenção (hierarquização), integradas e organizadas horizontalmente, orientadas por protocolos clínicos e linhas de cuidado, mantendo demanda adequada e otimização de recursos, beneficiando-se da economia de escala e escopo (KUSCHNIR et al., 2009). Outras variáveis também devem ser consideradas na organização das redes regionalizadas em saúde entre eles: área total; localização dos serviços, distâncias geográficas a serem percorridas pelos usuários; características viárias que repercutem nas condições de acesso às unidades de saúde; tamanho, perfil demográfico e epidemiológico; infra-estrutura de bens e serviços existentes; fluxos 17 assistenciais e relações de dependência e complementaridade entre os lugares (KUSCHNIR et al., 2009). Entende-se por fluxos assistenciais os caminhos percorridos pela população para garantir seu acesso a determinada ação terapêutica (ROESE; GERHARDT, 2008). O acesso, em termos gerais, refere-se à possibilidade de utilizar os serviços de saúde. Por sua vez, a utilização de serviços, é compreendida pela conjugação das necessidades de saúde da população, características demográfica, geográficas, sócio - econômicas, culturais e da organização e oferta dos serviços (TRAVASSOS; MARTINS, 2004). Todos esses aspectos mencionados são desafios que se colocam para o planejamento e programação da regionalização e que exigem a utilização de informações e conhecimentos específicos dos gestores (KUSCHNIR et al., 2009). 3.2 O Sistema de Informações Ambulatoriais - SIA/SUS O Sistema de Informações Ambulatoriais foi Implantado em 1991 com o objetivo de substituir as chamadas GAPS- Guias de autorização de pagamento, instrumentos de ordenação de pagamento do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social - o INAMPS. O sistema tomou como base o Sicaps (Sistema de informações e controle ambulatorial da Previdência Social), concebido exclusivamente para o pagamento de serviços e controle dos gastos da Previdência Social (CARVALHO, 1997). Frente à necessidade de dispor de um sistema de informação de atendimentos ambulatoriais, padronizado em nível nacional, que possibilitasse a geração de informações e facilitasse o processo de planejamento, controle e avaliação, os dados do SIA/SUS passaram a ser enviados pelos municípios em gestão plena e estados em meio magnético para o Datasus, cabendo a esse realizar a validação dos dados e sua disseminação para todo território nacional, pela internet ou CD-ROM, à partir 1994 (BRASIL, 2008; CARVALHO, 1997). O sistema é alimentado através do preenchimento de cinco documentos ou aplicativos: a Ficha de Cadastro Ambulatorial (FCA), documento de cadastro e caracterização das unidades de saúde que foi substituída pelo Sistema Nacional de 18 Cadastro de Estabelecimentos de Saúde (CNES); a Ficha de Programação Físico – Orçamentária (FPO), que informa a quantidade de procedimentos e valor máximo a ser executado por cada unidade de serviço; o Boletim de Produção Ambulatorial (BPA), formulários que se destina ao registro dos procedimentos realizados pelos estabelecimentos de saúde; a Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade/Custo (Apac) documento responsável pelo registro de procedimentos especializados e de alta complexidade que necessitam de autorização e o Boletim de Diferença de Pagamento (BDP) que registra o débito a ser descontado ou o crédito a ser realizado em conta em razão de diferenças verificadas (BRASIL, 2008). A partir do elenco de variáveis registradas, o sistema é utilizado como instrumento para repasses do nível federal, permite o gerenciamento da capacidade instalada, o controle orçamentário e cálculo da produção (FERREIRA, 2001). Assim como os demais sistemas de informações o SIA/SUS apresenta vantagens e desvantagens. Carvalho (1997) aponta como as principais vantagens do sistema a rapidez e agilidade na disponibilização dos dados, e a possibilidade de analisar o perfil da oferta dos serviços ambulatoriais de um determinado grupo populacional-geográfico, através de indicadores de cobertura e concentração de serviços. Entre as desvantagens apontadas pela autora, estão as possíveis distorções decorrentes da busca por procedimentos que remunerem melhor e a ausência de registro individual do paciente, impedindo a realização de estudos de procedência e a visualização dos fluxos de demanda, bem como características da clientela. Porém, é ressaltado que a ausência do registro individual do paciente não prejudica a programação para procedimentos cuja demanda é essencialmente local (CARVALHO, 1997) No entanto, desde sua implantação o Sistema vem sofrendo alterações que contribuíram para a sua melhoria e confiabilidade, entre elas, a introdução do sistema Apac em 1996, a evolução das tabelas de procedimentos, e a implantação de sistemas auxiliares e programas como o VERSIA, aplicativo responsável por fazer críticas dos dados, evitando fraudes e erros (SÁ, 2002). O Sistema de Autorização de Procedimentos Ambulatoriais de Alta Complexidade/Custo, conhecido como Apac, integra o SIA/SUS, sendo de caráter relevante para operacionalização dos procedimentos ambulatoriais que necessitam de autorização. Além de ser um sistema de autorização de procedimentos é um 19 instrumento de registro individualizado dos atendimentos/ procedimentos de alta complexidade/custo e de alguns procedimentos de média complexidade que são considerados estratégicos pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008). Os procedimentos estratégicos são aqueles para os quais o Ministérioda Saúde tem políticas de indução para ampliação da oferta de serviços, tais como transplantes – incluindo os medicamentos –, cirurgias eletivas, prevenção do câncer do colo de útero, entre outros, bem como os procedimentos que não apresentam série histórica definida para dimensionar o seu impacto financeiro nos Estados e municípios (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2003); sendo portanto, necessário que traga informações sobre a identificação do paciente, sexo, idade, raça/cor, local de residência e diagnóstico (BRASIL, 2008). A tabela de procedimentos ambulatoriais passou por várias mudanças, sendo que a última, após revisões e estudos realizados pelo Ministério da Saúde no período de 2003 a 2007, mudou totalmente sua estrutura e seus procedimentos foram unificados em uma única tabela, denominada Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPM) do SUS. Dessa forma a partir de 2008, o SIA e o SIH passam a utilizar uma única tabela de procedimentos do SUS (BRASIL, 2010b). A nova tabela está estruturada em quatro níveis de agregação. O primeiro nível denominado de Grupo, no qual os procedimentos estão agregados em 08 áreas de acordo com a finalidade ações: 01-Ações de promoção e prevenção em Saúde, 02-Procedimentos com Finalidade Diagnóstica, 03-Procedimentos clínicos, 04-Procedimentos Cirúrgicos, 05-Transplantes de órgãos, tecidos e células, 06- Medicamentos, 07- Órteses, Próteses e Materiais Especiais e 08-Ações Complementares da atenção à saúde. O Subgrupo é o segundo nível, cujos procedimentos são agregados por tipo de área de atuação e o terceiro nível é a Forma de Organização, que agrega os procedimentos por critérios diversos como área anatômica, especialidade, sistemas do corpo humano (BRASIL, 2007a). O Procedimento é o menor nível de agregação. Este apresenta um código de identificação com 10 dígitos e atributos específicos. Os atributos constantes na tabela de procedimentos são características relacionadas à própria natureza do procedimento, ao seu financiamento, à infra-estrutura do estabelecimento executante e ao usuário, os quais são necessários para a operacionalização dos sistemas de informações (BRASIL, 2007a). 20 A implantação da tabela unificada também trouxe várias alterações para o SIA/SUS e seus aplicativos. O BPA passa a ser constituído por duas formas de entrada de dados, o BPA consolidado (BPA-C) com informações agregadas, e o BPA individualizado (BPA-I) com informações individualizadas, ou seja, com identificação do usuário, bem como sua procedência, idade, sexo e CID. Os procedimentos que devem ser registrados em BPA-I estão descritos na Portaria SAS nº 709 de 2007 e recentemente, mais procedimentos foram acrescidos nesta lista, conforme publicação da portaria SAS nº 380 em agosto de 2010 (BRASIL, 2007b, 2007c, 2010c). A sigla Apac passa a ser denominada de Autorização de Procedimentos Ambulatoriais, e somente serão registrados e incluídos neste tipo de instrumento, os procedimentos de atenção especializada, com tratamento contínuo, que tenham associação de procedimentos principal e secundários definidos na tabela e que necessitam da autorização do gestor. O Procedimento Principal é o instrumento que permite o registro de procedimento que precisa de autorização e gera uma numeração Apac. O Procedimento Secundário não gera uma Apac, porém seu registro só pode ser efetuado junto ao procedimento principal compatível (BRASIL, 2007c, 2010b). Atualmente vários sistemas e aplicativos estão envolvidos na captação e processamento da produção ambulatorial, classificados esquematicamente como: sistema de processamento, sistemas bases, aplicativos de captação da produção e aplicativos intermediários. O SIA/SUS é o sistema de processamento, alimentado pelos aplicativos de captação da produção ambulatorial BPA e Apac, que necessita dos sistemas bases: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), que contêm a relação de todos os estabelecimentos e profissionais de saúde, e o Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos do SUS (Sigtap), sistema que gerencia a tabela de procedimentos, com todos os seus atributos e regras que regem a captação (BRASIL, 2010b). Os aplicativos intermediários são: A Ficha de Programação Orçamentária Magnética (FPO-MAG), que possibilita ao gestor registrar a programação física orçamentária de cada estabelecimento que será utilizada para validação e consistência da produção importada do BPA e Apac; O aplicativo DE-PARA, que efetua a comunicação do CNES com o SIA; o programa VERSIA, que gera a remessa da produção aprovada para o Datasus; o BDSIA, o qual importa as 21 atualizações mensais do Sigtap e o TRANSMISSOR que permite o envio dos arquivos de bancos de dados para alimentar o Banco de Dados Nacional (BRASIL, 2010b). Levando em consideração que essas mudanças ocorridas no SIA/SUS ampliaram seu subsídio para atividades de planejamento, programação e regulação; principalmente a implantação de registros individualizados dos procedimentos que permitem identificar os fluxos de demanda e o perfil dos usuários, o presente estudo pretende descrever como o SIA/SUS pode contribuir para o processo de regionalização, destacando suas limitações e potencialidades para tal finalidade. 22 4 OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Descrever as contribuições do SIA/SUS para o processo de regionalização no estado de Pernambuco, no ano de 2009. 4.2 Objetivos Específicos a) Descrever a produção ambulatorial registrada no BPA e Apac segundo as variáveis: nível de complexidade, instrumento de registro, sexo, idade, raça/cor, CID principal e local de residência; b) Descrever o fluxo ambulatorial segundo nível de complexidade do procedimento e microrregiões de Pernambuco no ano de 2009; c) Identificar as limitações e potencialidades do SIA/SUS como instrumento no processo de regionalização. 23 5 MATERIAL E MÉTODO 5.1 Área de estudo O Estado de Pernambuco que é composto por 184 municípios e o distrito de Fernando de Noronha. Segundo o Plano Diretor de Regionalização (PDR) elaborado em 2002 e revisado em 2006, os municípios do estado estão agregados em três Macrorregiões, 11 Regiões/Microrregiões e 56 Módulos Assistenciais (PERNAMBUCO, 2006). Dentro da Macrorregião de Recife estão as microrregiões de Recife, Limoeiro e Palmares. Na Macrorregião de Caruaru estão as microrregiões de Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Afogados da Ingazeira e Serra Talhada. A Macrorregião de Petrolina, por sua vez, é formada pelas microrregiões de Petrolina, Salgueiro e Ouricuri (PERNAMBUCO, 2006). Constituídas por um conjunto de módulos assistenciais, ou seja, municípios com perfil assistencial de atenção básica e parte da média complexidade, as Microrregiões de saúde em Pernambuco apresentam a seguinte distribuição: Microrregiões Número de Municípios Número de Módulos Recife 21 11 Limoeiro 30 06 Palmares 19 03 Caruaru 33 11 Garanhuns 22 10 Arcoverde 13 03 Afogados da Ingazeira 12 03 Serra Talhada 10 02 Petrolina 07 03 Salgueiro 08 01 Ouricuri 10 03 Quadro 1: Resumo da distribuição de municípios e módulos por microrregião. Fonte: Pernambuco (2006). 24 I II III IV V VI XI X VII VIII IX Recife Palmares LimoeiroCaruaru GaranhunsArcoverde Afogados da IngazeiraSerra Talhada Petrolina Ouricuri Salgueiro Fernando de Noronha Macrorregiões: Recife Caruaru Petrolina Figura 1: Regionalização da saúde em Pernambuco, segundo PDR 2006. Fonte:SIA/SUS/Tabwin. 5.2 Tipo de estudo Foi realizado um estudo observacional, descritivo, do tipo corte transversal. Nos estudos epidemiológicos observacionais, o posicionamento do investigador é passivo, com o mínimode interferência no objeto investigado (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2003). Na sua abordagem descritiva “estuda a distribuição das freqüências das doenças e dos agravos da saúde coletiva em funções de variáveis ligadas ao tempo, ao espaço [...] e às pessoas, possibilitando o detalhamento do perfil epidemiológico [...]”.O corte transversal designa o caráter instantâneo de um estudo na produção de dados que se realiza em um único momento no tempo, possibilitando observar fator e efeito simultaneamente (ROUQUAYROL; BARRETO, 2003). 25 5.3 Universo de estudo A população de estudo foi de 120.158.189 procedimentos ambulatoriais aprovados e produzidos no estado de Pernambuco que processados no ano de 2009. 5.4 Definição das variáveis de estudo Variáveis Definição/Categorização Local de residência Unidade federativa e/ou município e microrregião de residência do paciente atendido no estado de PE Instrumentos de coleta Formulários de registro da produção ambulatorial que alimentam SIA/SUS, denominados de: Boletins de Produção Ambulatorial (BPA) e Autorização de Procedimentos Ambulatoriais (Apac) com suas duas formas de entradas respectivamente: BPA Consolidado - instrumento que permite o registro do procedimento de forma agregada, e que dispensa o processo de autorização; BPA-I individualizado - que permite o registro do procedimento de forma individual, com identificação do usuário, CID, procedência; Apac Principal - instrumento que permite o registro de procedimentos que precisam de autorização e gera uma numeração APAC; Apac Secundário - Não precisa de autorização, mas seu registro na Apac depende de um procedimento principal compatível. Procedimentos executados Total de procedimentos ambulatoriais realizados que foram aprovados pelas críticas do sistema de informação Sexo É o sexo do paciente para o qual é possível para a realização do procedimento: Feminino ou Masculino. Idade É a idade do paciente em anos para que o mesmo seja submetido ao procedimento, sendo idade mínima de 00 meses e a máxima de 110 anos. Raça/cor Raça/cor do paciente submetido ao procedimento. Classificada em: Branca,Preta, Parda, Amarela, Indígena e Sem informação. CID - principal Código da Classificação Estatística Internacional de Doenças correspondente a doença ou lesão que motivou o atendimento ambulatorial. Complexidade do procedimento Atributo do procedimento que relaciona o grau de infra-estrutura, especialização, elaboração ou sofisticação que envolve a realização do mesmo. Categorias: Atenção básica, Média complexidade, alta complexidade e não se aplica. Microrregiões Base territorial de planejamento da atenção à saúde definidas no Plano Diretor de Regionalização do estado de Pernambuco de 2006 (PERNAMBUCO, 2006) Quadro 2: Definição/ categorização das variáveis de estudo. 26 5.5 Fonte dos dados Foram utilizados os dados ambulatoriais de utilidade pública registrados no SIA/SUS em 2009 e disponibilizados pelo Datasus no sítio: <http://www.datasus.gov.br>. 5.6 Análise dos dados O banco de dados (PAPE09mm.dbc) foi explorado por meio do programa Tab para Windows (Tabwin) versão 3.6 e planilhas eletrônicas. Por se tratar do universo da produção ambulatorial a análise dos valores foi realizada por meio da comparação direta, utilizando-se freqüências absolutas e relativas, apresentadas em tabelas, gráficos e mapas. Inicialmente foi investigada a relação instrumento de registro e procedimentos. Em seguida a análise das variáveis relacionadas ao usuário e por último a descrição do fluxo ambulatorial. 5.7 Aspectos éticos O estudo foi realizado dentro dos padrões éticos. Os dados secundários utilizados são de caráter público e estão disponíveis na Internet pelo sítio http://www.datasus.gov.br, e não permitem a identificação dos indivíduos. 27 6 RESULTADOS No ano de 2009 foram aprovados 120.158.189 procedimentos ambulatoriais em Pernambuco, cuja distribuição segundo atributo de complexidade e instrumento de registro é descrita na Tabela 1(p.28). Na distribuição da produção ambulatorial segundo níveis de complexidade, observa-se que a maior parte dos procedimentos executados foram de atenção básica (53,97%), seguido da média complexidade (32,93%) e alta complexidade (11,67%). Os 1,43% restantes se referem a procedimentos que não apresentam atributo de complexidade, sendo categorizados como “Não se Aplica”. Verificou-se que 87,65% (105.322.426) da produção ambulatorial foi registrada em BPA, dos quais 2,55% (3.068.246) apresentam informações individualizadas, e outros 12,35% da produção foi coletada em Apac. Isso significa que somente 14,9% do banco de dados possibilitam a identificação do perfil dos usuários atendidos a nível ambulatorial, bem como os fluxos assistenciais. A discriminação dos tipos de procedimentos coletados em cada instrumento de registro (Ilustração 4), mostra que 63,42% dos registros BPA-C foram de procedimentos de atenção básica, sendo que para este nível de complexidade, somente os procedimentos de atenção domiciliar executados pelo Psicólogo clínico (30) e pelo Assistente social (22), nos municípios de Bezerros (46) e Bodocó (6), foram registrados na versão individualizada (BPA-I). Dos procedimentos de média complexidade registrados no Boletim Consolidado, 63,43% (23.185.674) pertencem ao grupo de procedimentos com finalidade diagnóstica e 35,36% (12.925.599) ao grupo de procedimentos clínicos. Destes procedimentos clínicos, 94,86% (12.261.214) foram de consultas e 5,14% (664.385) correspondem, de maneira geral, os tratamentos/terapias. Os procedimentos de alta complexidade registrados em BPA-C (0,01%), refere-se a procedimentos de Hemoterapia (1399), Diagnóstico em Vigilância Ambiental-Epidemiológica (242) e Endoscopia (1). Já os 847.942 (49,40%) procedimentos sem atributo de complexidade correspondem às ações de Vigilância (700.160) e ao Atendimento pré-hospitalar de urgência (147.782). 28 Tabela 1- Produção ambulatorial aprovada segundo nível de complexidade e instrumento de registro. PE, 2009. Consolidado % % Individualizado % % Principal Secundário Atenção Básica 64.853.240 63,42 100,00 52 0,00 0,00 - - - - - 64.853.292 53,97 Média Complexidade 36.551.356 35,75 92,37 1.969.531 64,19 4,98 484.128 563.666 1.047.794 7,06 2,65 39.568.681 32,93 Alta Complexidade 1.642 0,00 0,01 248.030 8,08 1,77 8.455.989 5.313.989 13.769.978 92,82 98,22 14.019.650 11,67 Não se Aplica 847.942 0,83 49,40 850.633 27,72 49,55 6.102 11.889 17.991 0,12 1,05 1.716.566 1,43 Total 102.254.180 100,00 85,10 3.068.246 100,00 2,55 8.946.219 5.889.544 14.835.763 100,00 12,35 120.158.189 100,00 Nível de Complexidade Instrumento de registro Subtotal BPA % % % Apac Total Procedimento Fonte:SIA/SUS 28 29 Quanto aos registros em BPA-I, os atendimentos de Fisioterapia, Consultas de especialidades, principalmente da Fonoaudiologia, Psicologia e Terapia Ocupacional, bem como os Procedimentos de Finalidade Diagnóstica, predominantemente, o Diagnóstico por Anatomia Patológica-Citopatológica e o Diagnóstico por Radiologia, representaram o grupo de procedimentos de média complexidade (4,98%). No nível de alta complexidade dos registros BPA-I, predominaram os Procedimentos de Finalidade Diagnóstica (tomografia, ressonância, medicina nuclear, ultrassom, radiologia); os Procedimentos Clínicos executados, principalmente, pelo médico fisiatra e médico em medicina nuclear; Coleta/exames para transplantes; e Procedimentos Cirúrgicos do Aparelho geniturinário e do Aparelho Digestivo. Enquanto para os procedimentos sem atributo de complexidade foram registrados os Deslocamentos/ajuda de custo e as Órteses, Próteses e Materiais (OPM). Com relação a Apac, os 2,65% dos procedimentos demédia complexidade registrados neste instrumento correspondem a procedimentos de Diagnóstico Clínico, como os exames bioquímicos, hematológicos, sorológicos - imunológicos, hormonais, toxicológicos ou de monitorização, e o Atendimento Psicossocial. Nos procedimentos de alta complexidade registrados como principal ou secundário houve a maior ocorrência do subgrupo de procedimentos de Dispensação de Medicamentos Excepcionais, Tratamento em Nefrologia e Tratamento em Oncologia. A pequena quantidade de procedimentos referidos com o termo “Não se Aplica”, coletados em Apac, correspondem às OPM auditivas registradas como Procedimento Principal, e as OPM de nefrologia, de transplante e de anomalias buco-maxilo-faciais registradas como Procedimentos Secundários. 30 Nível de Complexidade Grupo Subgrupo Forma de Organização BPA-C Atenção básica 01-Ações de promoção e prevenção em saúde 0101 Ações coletivas/individuais em saúde **** 03-Procedimentos clínicos 0301 Consultas / Atendimentos / Acompanhamentos; 0307- Tratamentos odontológicos **** Média complexidade 02-Procedimentos com f inalidade diagnóstica 0202- Diagnóstico em laboratório clínico **** 03- Procedimentos clínicos 0301- Consultas / Atendimentos / Acompanhamentos 030101- Consultas médicas/ outros de nível superior Alta complexidade 03- Procedimentos clínicos 0306-Hemoterapia 030601- Obtenção do sangue para f ins de assistência hemoterapica; 030602- Medicina transfusional 02-Procedimentos com f inalidade diagnóstica 0213- Diagnóstico em vigilância epidemiológica e ambiental 021301- Exames relacionados a doenças e agravos de notif icação compulsória Não se aplica 01-Ações de promoção e prevenção em saúde 0102-Vigilância em Saúde 010201- Vigilancia sanitária 03-Procedimentos clínicos 0301- Consultas / Atendimentos / Acompanhamentos 030103- Atendimento pré-hospitalar de urgência BPA-I Atenção básica 03- Procedimentos clínicos 0301- Consultas / Atendimentos / Acompanhamentos 030105- Atenção domiciliar Média complexidade 03- Procedimentos clínicos 0302- Fisioterapia **** 02-Procedimentos com f inalidade diagnóstica 0203- Diagnóstico por anatomia patológica e citopatologia; 0204- Diagnóstico por radiologia; 0205- Diagnóstico por ultra-sonograf ia; 0202- Diagnóstico em laboratório clínico; 0201- Coleta de material **** Alta complexidade 02-Procedimentos com f inalidade diagnóstica 0206- Diagnóstico por tomograf ia; 0202- Diagnóstico em laboratório clínico; 0207- Diagnóstico por ressonância magnética; 0208- Diagnóstico por medicina nuclear in vivo **** 03- Procedimentos clínicos 0301- Consultas / Atendimentos / Acompanhamentos 030107- atendimento/ acompanhamento em reabilitação f ísica, mental, visual, e múltiplas def iciências 05- Transplantes de orgãos, tecidos e células 0501- Coleta e exames para f ins de doação **** Não se aplica 08- Ações complementares da atenção à saúde 0803- Autorização / Regulação 080301-Deslocamento/ajuda de custo 07- Órteses, próteses e materiais especiais 0701- Órteses, próteses e materiais especiais não relacionados ao ato cirúrgico **** APAC- principal Média complexidade 03- Procedimentos clínicos 0301- Consultas / Atendimentos / Acompanhamentos 030108- Atendimento/Acompanhamento psicossocial Alta complexidade 06- Medicamentos 0601- Medicamentos de dispensação excepcional **** 03- Procedimentos clínicos 0305- Tratamento em nef rologia; 0304 Tratamento em oncologia 030501-Tratamento dialítico, 030401- Radioterapia; 030405- Quimioterapia paliativa Não se aplica 07- Órteses, próteses e materiais especiais 0701- Órteses, próteses e materiais especiais não relacionados ao ato cirúrgico 070103- OPM auditivas APAC- secundário Média complexidade 02- Procedimentos com f inalidade diagnóstica 0202- Diagnóstico em laboratório clínico **** Alta complexidade 06- Medicamentos 0601- Medicamentos de dispensação excepcional **** Não se aplica 07- Órteses, próteses e materiais especiais 0702- Órteses, próteses e materiais especiais relacionados ao ato cirúrgico 070210- OPM em nef rologia; 070212- OPM para transplantes Quadro 3 – Procedimentos registrados por nível de agregação da tabela unificada e segundo instrumento de registro. Fonte: SIA/SUS Nota:*** Vários procedimentos, não permitindo a escolha de uma finalidade predominante. Quanto aos atributos relacionados ao usuário, observou-se bons resultados quanto ao preenchimento das variáveis sexo e idade do usuário, mostrando a predominância do sexo feminino na faixa etária entre 40 e 59 anos nos atendimentos ambulatoriais. Destaca-se que somente em 0,11% (3.316) dos registros BPA-I ocorreu erro ou não preenchimento do sexo do paciente, enquanto para variável idade do paciente, chama atenção que em 80,65% dos procedimentos com registros em BPA- C, o preenchimento da idade não é exigida, ficando portanto, a maior parte da produção ambulatorial sem este tipo de informação (Figuras 2 e 3). 31 APAC Masculino Feminino BPA-I Masculino Feminino Figura 2 - Proporção dos registros ambulatoriais segundo sexo - PE, 2009. Fonte: SIA/SUS 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% BPA-C BPA-I APAC < de 1 ano 1 a 10 11 a 20 21 a 39 40 a 59 60 e + Não exigido Figura 3 – Proporção dos registros ambulatoriais segundo faixa etária – PE, 2009. Fonte: SIA/SUS 32 BPA-I APAC Branca Preta Parda Outros SEM INFORMAÇÃO Figura 4 - Proporção dos registros ambulatoriais segundo a variável Raça/Cor – PE, 2009. Fonte: SIA/SUS O diagnóstico principal descrito nos instrumentos de registro segundo códigos do CID10, bem como a Raça/Cor do paciente mostraram baixo percentual de preenchimento: aproximadamente 90 % dos registros Apac e 49,66% dos BPA-I não há informação da Raça/Cor, enquanto o CID10 só foi informado nos registros Apac (Figuras 4 e 5). O grande percentual dos procedimentos coletados em Apac e sem a indicação da Raça/Cor do usuário são referentes a procedimentos de dispensação de medicamentos excepcionais, que equivalem a 86,63% da produção registrada neste tipo de instrumento. Para os registros em BPA-I não ficou evidente nenhuma relação quanto ao tipo procedimento coletado e a não informação da variável. Os registros que trouxeram informações dessas variáveis, mostraram maior proporção de atendimentos para as pessoas de cor parda, e como principais causas envolvidas no atendimento ambulatorial: as doenças do aparelho geniturinário, seguidas das doenças do sistema nervoso e os fatores que influenciam no estado a saúde e levam ao contato com os serviços de saúde. Ressalta-se que esses resultados mostram principalmente o perfil dos usuários dos serviços de alta complexidade, já que os formulários BPA-I apresentaram baixo percentual de preenchimento. 33 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 V-Transtornos mentais XXI-Contato com os serviços de saúde VI-Doenças do sistema nervoso XIV-Doenças do aparelho geniturinário Outros Figura 5 - Proporção dos registros ambulatoriais (Apac), segundo capítulo do CID10. PE, 2009. Fonte: SIA/SUS No tocante ao fluxo assistencial, dos 17.904.009 procedimentos com informações individualizadas, 0,47% corresponderam a atendimentos realizados em residentes de outros estados: 84.821 deslocamentos inter-estaduais em busca de atendimento ambulatorial, principalmente, da Paraíba (52,53%), Bahia (15,76%) e Alagoas (8,51%). Dos atendimentos ambulatoriais realizados em residentes do estado, 4.620.592 registraram deslocamentos entre as regiões/microrregiões de saúde. Ou seja, um quarto (25,8%) dos procedimentos com informação individualizada registraram deslocamento de usuários entre as microrregiões de Pernambuco. No fluxo ambulatorial segundo nível de complexidade dos procedimentos, verifica-se que 1,98% dos procedimentos “Não se Aplica” foram realizados fora da microrregião de residênciado paciente. A maioria dos atendimentos ocorreram na própria microrregião de residência, ficando como segunda referência a Microrregião de Recife e maior deslocamento proveniente da Microrregião de Caruaru (IV) e Microrregião II (Quadro 4). 34 I II III IV V VI X XI VII VIII IX I 598.578 84 63 52 598.777 II 7.709 152.780 73 5 1 10 208 160.786 III 4.935 22 51.866 15 3 3 196 25 57.065 IV 8.071 55 463.145 112 138 56 89 62 471.728 V 3.296 4 3 84 69.565 19 1 72.972 VI 1.831 15 3 41 15 76.677 25 318 26 78.951 X 1.372 13 24 113 61.023 1 1 62.547 XI 1.587 2 22 6 120 3 46.049 31 47.820 VII 361 10 3 10 52.236 152 52.772 VIII 1.274 54 69 48.491 49.888 IX 1.041 3 5 10 20 80 61.249 62.408 Total 630.055 152.963 51.874 463.471 69.725 77.085 61.051 46.174 52.990 49.050 61.276 1.715.714 Microrregião de residência Microrregião do Estabelecimento Total Quadro 4 - Fluxo ambulatorial – procedimentos “Não se aplica”. PE, 2009. Fonte: SIA/SUS Legenda: 1ª referência 2ª referência 3ª referência No caso dos procedimentos de média complexidade, 0,68% da produção executada representou deslocamentos entre as microrregiões de saúde. Em todas as microrregiões, mais de 90% dos atendimentos referentes a procedimentos de média complexidade ocorreram na própria microrregião de residência (Quadro 5). Em números absolutos, a maiores fluxos são provenientes das microrregiões IV e II. A principal Microrregião de destino foi Recife, com a capital recebendo aproximadamente 79,5% dos atendimentos ocorridos fora da microrregião de residência, o que representou 0,8% do total de sua produção. 35 I II III IV V VI X XI VII VIII IX I 26.366.305 3.827 58 315 30 1 7 1 26.370.544 II 57.422 2.744.602 1.777 102 10 1 3 2.803.917 III 43.453 821 1.216.704 1.165 432 83 12 1.262.670 IV 71.134 1.569 83 3.529.804 3.208 3.678 1 1 97 5 10 3.609.590 V 11.546 23 48 1.015 1.401.051 80 1 2 1 1 1.413.768 VI 16.021 20 14 256 1.610 864.987 3 182 38 883.131 X 3.516 1 199 367 5.537 569.958 111 579.689 XI 9.179 1 462 111 3.414 28 433.297 51 86 446.629 VII 8.791 131 472.879 2.820 78 484.699 VIII 5.548 6 123 82 14 1.019.573 1.025.346 IX 7.423 8 152 1 125 1 152 1.914 665.967 675.743 Total 26.600.338 2.750.878 1.216.907 3.535.399 1.406.882 878.026 569.993 433.410 473.384 1.024.452 666.057 39.555.726 Microrregião de residência Microrregião do Estabelecimento Total Quadro 5 - Fluxo ambulatorial de média complexidade. PE, 2009. Fonte: SIA/SUS Legenda: 1ª referência 2ª referência 3ª referência Com a espacialização dos dados, foi possível observar que para a média complexidade, os procedimentos principais e secundários não foram realizados, necessariamente, no mesmo local. Para os procedimentos principais o fluxo predominante foi para o município de Recife, já para os procedimentos secundários os fluxos são distribuídos entre os municípios de Petrolina, Arcoverde, Garanhuns, Caruaru, Palmares, Limoeiro e Recife (Figuras 6 e 7). Figura 6- Fluxo dos procedimentos principais de média complexidade. PE, 2009. Fonte: SIA/SUS 36 Figura 7 - Fluxo dos procedimentos secundários de média complexidade. PE, 2009. Fonte: SIA/SUS Observa-se que 15,5% dos procedimentos de alta complexidade ocorreram fora da microrregião de residência do paciente, dos quais a maior parte (70,3 %) também ocorreu fora dos limites da macrorregião (Quadro 6). Apenas Macrorregião de Recife atendeu quase 100 % de seus pacientes com pólos de assistência nos municípios de Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e Vitória de Santo Antão, além de servir como referência para todo o estado (Quadro 6). As Macrorregiões de Caruaru e Petrolina apresentaram baixos percentuais de atendimentos de alta complexidade de seus pacientes, atendendo respectivamente 5% e 6,8 % de sua população, com pólos de atendimento nos municípios de Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Petrolina, Salgueiro e Araripina. A Microrregião de Afogados de Ingazeira não registrou assistência de alta complexidade e a Microrregião de Serra Talhada registrou apenas 23 procedimentos (Quadro 6). 37 I II III IV V VI X XI VII VIII IX I 9.441.948 1.450 9 360 16 21 12 1 1 9.443.818 II 889.381 41.086 1.464 7 931.938 III 355.914 2 12.617 1.698 506 1 370.738 IV 1.645.947 171 16 65.331 3.491 4.405 124 1 11 1.719.497 V 379.216 1 5.022 27.008 85 9 411.341 VI 261.949 2.034 1.794 11.431 414 12 277.634 X 121.799 3 1.055 325 6.495 1 3 129.681 XI 93.441 641 149 3.924 22 189 99 98.465 VII 102.616 579 3 5 745 2.965 38 106.951 VIII 378.438 145 57 31.455 410.095 IX 44.872 1 229 123 21 2.177 1.055 48.478 Total 13.715.521 42.714 12.642 78.558 33.299 26.546 0 23 1.509 36.719 1.105 13.948.636 Microrregião de residência Microrregião do Estabelecimento Total Quadro 6 - Fluxo ambulatorial da alta complexidade. PE, 2009 Fonte: SIA/SUS Legenda: 1ª referência 2ª referência 3ª referência 38 7 DISCUSSÃO Neste estudo evidenciou-se a importância de se conhecer bem a estrutura da tabela de procedimentos do SUS e seus atributos, bem como os procedimentos a serem coletados em cada formulário para utilização adequada dos bancos de dados do SIA/SUS. No entanto, a ausência de critérios que explicitem melhor o registro de procedimentos com nível de complexidade e agregação semelhantes em formulários distintos, dificulta a utilização dos dados para o processo de regionalização. Dificuldade semelhante já foi apontada por Schramm & Szwarcwald (2000), quando estudaram a possibilidade de se utilizar o SIH como fonte de informações para estimar a natimortalidade e mortalidade neonatal. As autoras encontraram limitações quanto as análises comparativas dos dados de diferentes regiões do Brasil, as quais atribuíram à falta de regras claras quanto a emissão e preenchimento das Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) acarretando a falta de padronização das informações geradas pelo sistema. Outra dificuldade encontrada é que a maioria dos procedimentos especializados continua sendo registrada de forma consolidada com o objetivo de pagar os serviços prestados aos usuários do SUS, comprometendo a utilização dos dados para fins de regulação dos serviços de atenção especializada. O fortalecimento dessa regulação é necessário para implementação de sistemas microrregionais de serviço de saúde, principalmente dos serviços secundários e terciários que estão relativamente centralizados, a fim de garantir o acesso a serviços eficientes (MENDES, 2007). A recente publicação da Portaria SAS - nº 380, que amplia o número de procedimentos que devem ser coletados em BPA-I, demonstra a identificação, por parte do Ministério da Saúde, da necessidade de informações focadas no usuário e não apenas no procedimento executado, permitindo o planejamento e racionalização da oferta de serviços. Uma estratégia de utilização destes dados agregados (BPA-C) seria a análise por grupo de procedimentos segundo sua disponibilidade em relação ao espaço- população de abrangência. Sabe-se que para a organização de redes de atenção, deve haver uma escala ótima dos equipamentos de saúde e população em relação 39 aos serviços, categorizados em níveis de atenção (BRASIL, 2010). A comparação do grau de oferta dos serviços de atenção básica e de média complexidade entre municípios e microrregiões, pode apontar lacunas na distribuição dos serviços de saúde. Quanto às variáveis demográficas somente a variável sexo obteve resultado satisfatório, talvez em função da quantidade de categorias para esta variável. Os achados mostraram uma baixa qualidade e confiabilidade em relação as variáveis Raça/Cor e CID Principal, devido ao não preenchimento, informação incompleta ou códigos errados. Destaca-se a variável idade, que apesar de ser informada no BPA-I e Apac, no BPA-C só é exigido o seu preenchimento para os procedimentoslistados no anexo III da Portaria SAS/MS nº 709, de 27/12/2007, que representam menos de 20% da produção. Branco (1996) já afirmava que uma grande quantidade de dados dá a ilusória sensação de que se têm tudo para conhecer um problema, devendo portanto, ficar claro qual informação se faz necessária para evitar a coleta de dados que não terão qualquer utilidade, sobrecarregando os sistemas e as rotinas de trabalho. Entretanto, os manuais e portarias não deixam claro porque para certos procedimentos são obrigatórios o preenchimento das variáveis demográficas e outros não. A utilização destas variáveis permitiria conhecer o perfil sociodemográfico de seus usuários, além entender o processo de utilização dos serviços e organizá-los em redes de atenção que respondam as demandas populacionais (ROESE; GERHARDT, 2008). Outra limitação identificada, decorre da impossibilidade de visualizar os procedimentos principais e seus respectivos procedimentos secundários, registrados na Apac. Desta forma, a análise do fluxo assistencial segundo atributo de complexidade do procedimento, por meio dos registros Apac, poderá mostrar um cenário distorcido, visto que, os procedimentos principais e secundários não são apresentados de forma pareada, ou seja, por usuário. O não conhecimento de quais procedimentos secundários foram executados junto ao procedimento principal, dificulta a identificação das necessidades e demandas de saúde, bem como prever os recursos necessários para determinada área de abrangência. Na regionalização e hierarquização dos serviços é desejável que o usuário utilize todo leque assistencial disponível o mais próximo de sua 40 residência, de modo a favorecer seu acesso e não sobrecarregar desnecessariamente unidades de maior complexidade (COELHO et al., 2010). Neste caso, sugere-se para cada nível de complexidade, analisar procedimento principal e secundário separadamente a fim de verificar se estes são realizados no mesmo local. A análise espacial mostrou que para os procedimentos secundários de média complexidade existem redes bem definidas com pólos de assistência em Petrolina, Arcoverde, Garanhuns, Caruaru, Palmares, Limoeiro e Recife, ao contrário dos procedimentos principais de média ou alta complexidade, cujo fluxo dominante foi para Recife. Estes achados são positivos, indicativos de que procedimentos secundários menos complexos estão sendo executados em locais diversos ao do procedimento principal, evitando sobrecarregar unidades de maior complexidade, além de facilitar a implantação de protocolos clínicos para este rol de procedimentos. Outro aspecto observado é que o pequeno número de procedimentos de atenção básica coletados em BPA-I, realizados somente por dois municípios do interior, pode ser atribuído a erro de registro. Melione (2002) afirma que o preenchimento dos formulários nos serviços, geralmente fica a cargo de médicos que atenderam o paciente ou do pessoal administrativo, ambos não preparados para a função, comprometendo a confiabilidade dos dados registrados. Além da inabilidade dos técnicos em manusear os sistemas, por desconhecimento de suas variáveis e potencialidades, a deficiência de infra- estrutura, a falta de critérios claros de captação da produção ambulatorial e o insuficiente grau de utilização dos dados para a análise do próprio sistema e dos serviços de saúde (BRANCO, 1996; MENDES et al., 2000), são problemas a serem enfrentados para melhoria da qualidade e confiabilidade dos dados. No que diz respeito ao fluxo ambulatorial, análise por procedimentos parece ser a mais adequada para se trabalhar, dado que a remuneração dos serviços médicos é com base nesta variável e o comportamento da utilização dos serviços de saúde depende do grau de complexidade dos procedimentos (BOTEGA, 2005). O recurso de mapeamento, a exceção da peculiaridade dos procedimentos principais e secundários já mencionada, não permitiu a adequada análise do fluxo ambulatorial, haja vista que o fluxo dominante em todos os casos estava direcionado a Recife, dificultando a visualização de fluxos menores entre outros locais. 41 Por outro lado, é neste ponto que o sistema revela um cenário onde os serviços são planejados com base na oferta e não pelas necessidades da população. O foco na gestão da oferta, acaba estabelecendo fluxos complicados das pessoas e dos recursos financeiros e dificultando o acesso equânime a serviços eficientes e de qualidade (MENDES, 2004). Conforme já apontado por Carvalho (1997), uma das dificuldades em se trabalhar com o SIA/SUS, deve-se ao elenco dos procedimentos ambulatoriais que além de serem mais numerosos, se referem a diversos tipos de ação, distintos tanto em relação aos processos de trabalho, como aos agentes executores. Talvez, este seja o motivo pelo qual o mapeamento de fluxo com o SIA/SUS não servir tão bem quanto o SIH, refere-se à dificuldade de trabalhar com linhas de cuidado. No entanto, a análise direta da matriz de fluxo, sintetizada nos Quadros 4, 5 e 6, trouxe maior riqueza de dados e possibilidades de análises. Dessa forma, foi possível verificar que Pernambuco atende usuários de outros estados, principalmente, para os que fazem fronteira. Vale ressaltar que um pequeno percentual de procedimentos registrados em Apac e BPA-I apresentam a informação sobre o local de residência. Portanto, a quantidade de atendimentos para pacientes de outros estados provavelmente está subestimada. A disponibilidade de mais informações individualizadas poderia subsidiar mais efetivamente a organização rede interestadual. Grande parte dos atendimentos relativos aos procedimentos de média complexidade foram realizados na própria microrregião de residência dos pacientes, porém os deslocamentos ocorreram para fora da Macrorregião, dominantemente para o município de Recife, caracterizando uma demasiada centralização na Capital. É esperado que os deslocamentos ocorram em direção aos municípios-pólo de uma mesma área de abrangência, a não ser nos casos de intervenções de maior complexidade e custo, que são oferecidas apenas em algum pólo a nível macrorregional ou estadual. A cultura de centralização da oferta e investimentos na Capital, associada à falta de responsabilização dos demais gestores que lançam mão da prática da “ambulancioterapia”, ocasionam essas distorções (ROESE; GERHARDT, 2008). Apesar das Macrorregiões Petrolina e Caruaru serem contíguas geograficamente, mostraram baixa interação tanto para o fluxo de média quanto de alta complexidade, direcionando suas demandas massivamente para Recife. 42 Segundo Mendes (2007) quando não é possível conciliar escala, escopo e acesso, o acesso sempre prevalecerá, o qual é influenciado tanto pela oportunidade de utilização de serviço, como pela distância dos serviços. Em função da demasiada centralização da oferta de serviços na Macrorregião Recife, residentes das outras Macrorregiões acabam percorrendo longas distâncias para ter acesso aos serviços, sugerindo uma demanda reprimida de quem não pode realizar esse deslocamento, assim como sinaliza que os investimentos, principalmente em serviços de alta complexidade, precisam ser maiores nas Macrorregiões de Petrolina e Caruaru, para que de fato façam seu papel de Regiões de Saúde. 43 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS As mudanças ocorridas no SIA/SUS ao longo dos anos, como a criação do módulo Apac e a introdução do BPA-I permitiram ampliar o potencial de subsidio deste sistema para o processo de planejamento e conformação das redes de atenção regionalizada e hierarquizada. Os resultados evidenciam essa potencialidade do SIA/SUS como fonte informações para o processo de regionalização, principalmente no que diz respeito à caracterização e regulação dos fluxos assistenciais para o qual mostrou boa capacidade. No entanto, o sistema aindaé pouco utilizado pelos gestores para atividades diferentes do pagamento dos serviços, o que associado a ausência de regras explícitas quanto aos atributos dos procedimentos, ao preenchimento dos instrumentos que alimentam o sistema, dificultam o entendimento dos dados disponibilizados, sua adequada exploração e utilização. Dessa forma, faz-se necessário a exploração rotineira dos bancos de dados ambulatoriais, a fim identificar quais suas limitações e assim corrigi-las, juntamente com o desenvolvimento de métodos adequados de exploração e apropriação dos dados, baseados nas peculiaridades do sistema, para que contribua efetivamente para a regionalização em saúde. 44 REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, Naomar de; ROUQUAYROL, Maria Zélia. Elementos de Metodologia Epidemiológica. In: ROUQUAYROL, Maria Zélia, ALMEIDA Filho, Naomar de. Epidemiologia & Saúde. 6 ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003. p. 149 - 191. ARANTES, G. R. et al. 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