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História Econômica do Brasil Colônia


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Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
1 
Comunicação e Realidade Brasileira 
 
 
 
 
 
Aula 3 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Máira Nunes 
 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
2 
Conversa Inicial 
A sociedade brasileira ainda passa por muitos problemas. Racismo, 
questões de gênero, desigualdade social, problemas econômicos. Mas você já 
parou para pensar como essas questões surgiram? 
Uma ótima maneira de compreender a situação atual do Brasil é estudar 
sua história. Durante a época da colonização portuguesa, o Brasil era uma 
fonte de produtos e matérias-primas para Portugal, o que causava conflitos 
com a sociedade que estava se formando por aqui. 
A relação entre os proprietários de terras e aqueles que nelas 
trabalhavam, principalmente com os que trabalhavam a contragosto, ou seja, 
os escravos, também não era fácil, e muitos dos problemas sociais atuais 
podem ser rastreados para a época colonial. 
Agora vamos analisar os diferentes ciclos econômicos do Brasil Colônia, 
como era a vida dos escravos que foram trazidos para cá e como isso 
influenciou a cultura, a sociedade e a política brasileiras. Também vamos 
abordar as diferentes resistências, tanto dos escravos com relação a seus 
senhores como da sociedade brasileira com relação a Portugal. 
Tema 1: Ciclos Econômicos 
Ainda hoje o Brasil tem regiões diferentes entre si, propícias para 
diferentes tipos de atividades econômicas. Na época do Brasil Colônia, as 
dificuldades de comunicação e locomoção acentuavam essas diferenças, além 
do fato de ainda haver muitas áreas inexploradas. Os distintos ciclos 
econômicos brasileiros se caracterizam pelos latifúndios – diferente do que 
aconteceu na colonização dos Estados Unidos da América, então Nova 
Inglaterra, que não tiveram essa característica, o que foi decisivo nas 
condições culturais, políticas, econômicas e sociais deles e nossas. 
Pau-brasil 
Depois do descobrimento, não demorou muito para os portugueses 
começarem a extrair matérias-primas brasileiras. A primeira atividade 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
3 
econômica, já nos primeiros 30 anos depois do Descobrimento, foi a extração 
do pau-brasil, árvore de madeira avermelhada, um tanto como uma brasa, que 
deu origem ao nome do nosso país. No começo, eram os próprios portugueses 
que cortavam as árvores. A dificuldade de extraí-las encontrava-se no fato de 
as árvores crescerem separadas umas das outras. Quando as árvores do litoral 
se esgotaram, a tarefa foi encomendada aos índios, que trocavam a madeira 
por tecido, facas e outros objetos de pouco valor para os portugueses. 
Açúcar 
Pouco depois do auge do pau-brasil, em 1532, Martim Afonso trouxe 
especialistas no cultivo da cana. Essa atividade se concentrou no Nordeste – 
então chamado de Norte –, principalmente em Pernambuco e na Bahia. A cana 
também foi plantada no Rio de Janeiro, mas era transformada principalmente 
em cachaça, usada como pagamento por escravos vindos da África. 
Produzir açúcar implicava não apenas a instalação de engenhos, mas 
também a construção de toda uma estrutura – área para plantio da cana, 
instalações para os escravos, a casa-grande etc. Em alguns casos, os próprios 
comerciantes colaboravam com a instalação de um engenho, aceitando 
pagamentos de dívidas em açúcar. A construção de engenhos também era 
financiada, não por bancos, que ainda não existiam no Brasil, mas sim por 
instituições religiosas que emprestavam dinheiro. 
A transição dos escravos indígenas para os escravos africanos foi 
evidente na indústria açucareira. Entre 1574 e 1638, a presença de escravos 
africanos em engenhos passou de 7% para 100%. O trabalho era árduo: a 
moenda da cana provocava acidentes graves, como amputações – há relatos 
de que sempre havia à mão uma machadinha para amputar os membros de 
escravos que ficassem presos no maquinário, para evitar danos maiores ao 
equipamento. Nas fornalhas, o calor era insuportável, e muitas vezes usado 
como castigo. Os escravos podiam subir de cargo e, inclusive, chegar ao cargo 
de mestre açucareiro, encarregado de todo o processo de fabricação. Alguns 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
4 
trabalhadores brancos que não tinham recursos podiam plantar a cana, 
inclusive em terrenos de sua propriedade. 
Até o século XIX, o açúcar foi o principal produto exportado pelo Brasil. 
Houve um grande crescimento entre 1570 e 1620, e mais tarde houve alguns 
fatores que provocaram quedas na produtividade. Foi o caso das invasões 
holandesas em Pernambuco, da Guerra dos 30 anos na Europa, e da 
concorrência com as Antilhas, por exemplo. 
Fumo 
Concentrou-se na região do recôncavo baiano, próximo da cidade de 
Cachoeira. Como o cultivo de fumo era viável em pequenas propriedades, 
alguns proprietários, inclusive mulatos, viviam desse cultivo junto a produtores 
maiores. Os fumos mais finos eram vendidos para a Europa, e os de qualidade 
inferior eram usados no comércio de escravos. 
Pecuária 
A criação de gado começou perto dos engenhos, mas a necessidade de 
terras férteis para o cultivo de cana foi “empurrando” a pecuária para o interior. 
Isso ocasionou o “desbravamento” do interior do Piauí, do Maranhão, da 
Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. A atividade se caracterizava por 
latifúndios imensos, alguns maiores do que Portugal. Como o trabalho com 
gado era mais “livre”, havia presença de mão de obra de índios, mestiços e 
escravos. 
Mineração 
Motivados pela descoberta de metais preciosos nas colônias 
espanholas, foi no final do século XVII que começou a exploração de minérios, 
no começo ouro e, mais tarde, diamantes, principalmente em Minas Gerais, 
Bahia, Goiás e Mato Grosso. O ouro – e os impostos pagos por ele – ajudou a 
equilibrar a balança comercial entre Inglaterra e Portugal. A atividade também 
provocou que o foco da economia brasileira passasse do nordesteNordeste 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
5 
para o centro e para o atual sudoeste, inclusive com a mudança da capital de 
Salvador para o Rio de Janeiro. 
Industrialização 
As primeiras iniciativas para a industrialização do Brasil vieram da mão 
do Barão de Mauá, durante o século XIX. Foi em uma viagem à Inglaterra, em 
1840, que ele concebeu que o Brasil precisava acompanhar os processos de 
industrialização que estavam acontecendo por lá. No começo, suas ideias – 
liberalismo econômico, abolição da escravatura – não eram muito bem-vindas, 
mas, aos poucos, ele conseguiu que o Brasil acompanhasse algumas 
inovações tecnológicas da Revolução Industrial, como a criação da primeira 
ferrovia, estradas, cabos de telégrafo submarinos, iluminação pública. 
Tema 2: O Brasil Escravagista 
Na América espanhola, houve diferentes formas de trabalho 
compulsório, enquanto no Brasil a forma de trabalho compulsório predominante 
foi o escravagismo. Na época, escravizar pessoas já havia deixado de ser uma 
atividade tão comum, então por que se apelou para esse tipo de trabalho? 
Por um lado, não havia suficientes trabalhadores dispostos a emigrar e 
trabalhar em regimes de semidependência ou por salários. Por outro lado, o 
trabalho assalariado não era conveniente para os processos de colonização. 
Para ocupar as terras, seriam necessárias grandes quantidades de 
trabalhadores. Além disso, eles poderiam tentar ganhar a vida de outras 
maneiras. 
Então, por que houve preferência por trazer pessoas da África em vez 
de se aproveitar dos índios? Na verdade, os primeiros escravos foram índios, e 
o trabalho de escravos trazidos da África, em alguns lugares mais periféricos, 
só começou a ser utilizado a partir do século XVIII. 
Houve vários fatores pelos quais os índios não eram vistos como 
lucrativos. Além de eles não terem uma cultura de produtividade, trabalhavam o 
necessário para sua subsistência, e não tinham a mesma ideia de trabalho dos 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
6 
europeus. Eles também tinham total familiaridade com o entorno,o que lhes 
permitia fugir da escravidão e não ter dificuldades para voltar a morar nas 
florestas. Além disso, os índios não tinham resistência diante das doenças, 
inéditas para eles, trazidas pelos europeus. Entre 1562 e 1563, mais de 60 mil 
índios morreram vítimas de sarampo, varíola e até gripe. 
Cabe aqui destacar a oposição de religiosos, particularmente das 
missões jesuíticas, os quais tinham outros planos para os índios: transformá-
los em “bons cristãos”, o que causava conflitos entre os religiosos e os colonos. 
Não que os jesuítas tivessem algum respeito pelas culturas indígenas, 
duvidando até que eles pudessem ser considerados pessoas. 
A partir de 1570, a Coroa começou a incentivar a “importação” de 
escravos africanos, e, em 1758, decretou a libertação definitiva dos indígenas. 
Entretanto, os escravos vindos da África eram preferidos muito antes disso. 
Foi durante as navegações do século XV que os portugueses 
começaram o contato com sociedades que já traficavam escravos. No século 
XVI, já havia uma estrutura para esse comércio. Várias culturas da África já 
trabalhavam com ferro e com criação de gado, o que tornava os escravos 
africanos pessoas mais produtivas do que os índios brasileiros. 
Durante a primeira metade do século XVII, no apogeu da economia do 
açúcar, o custo por um escravo “se pagava” após pouco mais de um ano de 
trabalho. No começo do século seguinte, houve uma alta no preço, e o tempo 
estimado para amortizar o custo era de 30 meses. (Schwartz apud Fausto, 
1995, p. 51) 
No século XVI, os escravos vinham principalmente da Guiné (Bissau e 
Cacheu) e da Costa da Mina. A partir do século XVII, passaram a vir de regiões 
mais ao sul, como Congo e Angola, por meio dos portos de Luanda, Benguela 
e Cabinda. Durante o século XVIII, 70% dos escravos vinham da Angola. 
Os escravos da Angola eram trazidos principalmente para o Rio de 
Janeiro, que constituía um dos principais portos de chegada de escravos. O 
outro era Salvador, que botava na negociação o fumo produzido no recôncavo 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
7 
baiano e recebia escravos da Guiné e da Costa da Mina, e mais tarde do Golfo 
de Benin. 
Uma vez no Brasil, os escravos não aceitavam seu destino com tanta 
facilidade. Havia fugas individuais, fugas em massa, agressões aos senhores 
etc. 
No que se refere à mortalidade, os escravos vindos da África eram mais 
resistentes a doenças do que os índios, então não há registros de epidemias 
graves. A expectativa de vida, porém, era baixa: em 1872, era de 18 anos, 
enquanto a média geral era de 27 anos. A população escrava diminuía em 
torno de 5% ao ano, sendo reposta com novos escravos, já que a natalidade 
entre os escravos era baixa e via-se a criação de um escravo desde o 
nascimento como um investimento de alto risco. 
A abolição da escravatura no Brasil foi resultado de uma combinação da 
resistência dos escravizados com uma aceitação social cada vez maior do 
movimento abolicionista, apoiado por intelectuais e políticos como José do 
Patrocínio e Joaquim Nabuco. A primeira lei proibindo o tráfico de escravos 
entre a África e o Brasil foi sancionada em 1831, mas somente em 1850, com a 
Lei Eusébio de Queirós, o tráfico foi abolido, intensificando o tráfico de 
escravos dentro do Brasil. 
Em 1871, foi sancionada a Lei do Ventre Livre, que considerava livres os 
filhos de escravas, além de permitir aos escravos que acumulassem dinheiro 
para comprar a própria alforria – ato de se libertarem dos seus senhores. Em 
1885, com a promulgação da Lei dos Sexagenários, toda pessoa escravizada 
que tivesse chegado aos 65 anos seria considerada livre. 
Finalmente, em 13 de maio de 1888, a escravidão foi abolida 
oficialmente com a Lei Áurea, promulgada pela então regente do Império, 
Princesa Isabel, em nome de seu pai, o Imperador Dom Pedro II. 
Tema 3: Revoltas e Resistência 
Já no começo do século XVIII, surgiam movimentos conspiratórios 
 
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8 
contra Portugal, os quais buscavam a independência. Entretanto, os 
movimentos considerados mais importantes se concentraram entre o final do 
século XVIII e o começo do século XIX. Os três principais, que detalharemos 
adiante, foram a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração dos Alfaiates 
(1798) e a revolução de 1817 em Pernambuco. 
A Revolução Francesa e a independência dos Estados Unidos eram 
suas fontes inspiradoras. Porém, os movimentos brasileiros eram formados por 
diferentes grupos sociais, e cada um tinha seus próprios interesses: enquanto 
setores mais ricos agiam com mais prudência quanto a questões que não eram 
do seu interesse – como a abolição da escravatura –, as classes dominadas 
tinham ideais igualitários, como a reforma social. É interessante observar 
também que, mais do que se afirmarem como brasileiros, os revolucionários se 
identificavam como mineiros, pernambucanos, baianos ou até “pobres”. Além 
dessas revoltas, houve também revoltas protagonizadas por escravos, das 
quais já falamos. 
Inconfidência Mineira 
A maioria dos chamados inconfidentes provinha de famílias ricas, e 
alguns deles tiveram contato com ideais independentistas em universidades na 
Europa. Eram em sua maioria parte da elite colonial, mineradores, fazendeiros, 
funcionários etc. José Joaquim da Silva Xavier era, em partes, exceção. Sua 
família perdera os bens por causa de dívidas, e ele entrou na carreira militar. 
Nas horas vagas, exercia o ofício de dentista, de onde veio o apelido de 
Tiradentes. 
Nas últimas décadas do século XVIII, a sociedade mineira estava em 
decadência, devido principalmente à queda constante na produção de ouro, o 
que dificultava pagar os impostos sobre esse produto, os quais não levavam 
em conta a queda na produção, e atribuíam a falta de ouro ao descaminho. O 
imposto exigido era de 1,5 mil quilos de ouro, e, caso essa quantia não fosse 
atingida, seria cobrada a derrama, um imposto que todo habitante da capitania 
 
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deveria pagar. A Coroa não permitia a atividade fabril, e ainda cobrava altos 
impostos de produtos manufaturados. Outras dívidas com Portugal eram 
originadas de contratos para arrecadar impostos, que alguns membros da elite, 
os quais arrecadaram o dinheiro, não repassaram à Coroa. 
Em 1788, começaram as reuniões, com o objetivo de declarar um país 
independente – não o Brasil, e sim a capitania de Minas Gerais –, considerar 
pagas as dívidas com Portugal e estimular a atividade fabril. Esse país não 
teria exército, já que considerava obrigação dos habitantes formar milícias. 
Também estava prevista a libertação dos escravos – alguns inconfidentes 
consideravam que isso fortaleceria o novo país, enquanto outros se opunham a 
essa ideia. 
Em 1789, um dos devedores, Joaquim Silvério dos Reis, denunciou o 
movimento à Coroa, em troca do perdão de suas dívidas. Os inconfidentes 
foram presos e condenados à forca. Um decreto comutou as penas de morte 
para o degredo – exílio nas colônias portuguesas na África e para conventos 
em Portugal –, com exceção de Tiradentes, que havia se declarado líder do 
movimento. Depois de um julgamento espetacularizado, foi enforcado, 
esquartejado, e sua cabeça exposta ao público, como advertência. Fausto 
(1995, p. 118) analisa como essa espetacularização da pena de Tiradentes o 
transformou, aos poucos, em mártir e em símbolo dos ideais republicanos 
brasileiros. Ainda segundo Fausto, o movimento como um todo foi 
relativamente pequeno, mas se tornou importante em tanto que símbolo. 
Conjuração dos Alfaiates 
Ao contrário da Inconfidência Mineira, a Conjuração dos Alfaiates, que 
aconteceu na Bahia no ano de 1798, foi um movimento de classes mais baixas: 
negros e mulatos livres ou libertos, que trabalhavam como artesãos ou 
soldados, alguns escravos, e vários brancos de classes mais baixas – a 
exceção foi o médico Cipriano Barata, educado em Coimbra.A presença de 
vários alfaiates deu nome ao movimento. Os conspiradores defendiam a 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
10 
república, o fim da escravidão, o livre comércio – particularmente com a França 
– e a abertura dos portos, igualdade social, entre outras. As influências vinham 
da Revolução Francesa, da maçonaria e do processo de independência do 
Haiti. 
A escassez de alimentos levou à ocorrência de vários motins em 
Salvador entre 1797 e 1798. Por exemplo, no sábado de aleluia de 1797, os 
escravos que transportavam carne para o general-comandante de Salvador 
foram atacados pela multidão, e os alimentos repartidos com a população. 
(Fausto, 1995, p. 119) 
O movimento não foi muito além de algumas articulações e da 
divulgação de panfletos. Houve uma tentativa de pedir apoio do governador da 
Bahia, mas logo começaram as prisões e delações. Os principais acusados 
foram exilados, presos, e quatro deles – sendo dois alfaiates – foram 
enforcados e esquartejados, em penas exageradas a fim de servirem de 
exemplo e, assim, evitar uma insurreição da população negra da cidade, que 
chegava a 80%. O temor da Coroa era o de que acontecesse algo similar ao 
que estava acontecendo no Haiti. 
Boris Fausto (1995, p. 120) fala sobre como esse movimento, assim 
como a Inconfidência Mineira, é importante mais pelo simbolismo do que pelas 
consequências diretas. Ele também fala sobre como o movimento era 
relativamente desconhecido até a publicação do livro de Affonso Ruy, A 
Primeira Revolução Social Brasileira, em 1942. 
Revolução Pernambucana de 1817 
Com a Corte instalada no Brasil, aumentaram-se os impostos para 
sustentar os gastos desta, e também houve mudanças no exército, deixando os 
militares brasileiros insatisfeitos. Especificamente no Nordeste, o sentimento 
geral era o de que a situação para eles não tinha vantagem alguma, pelo 
contrário. Os privilégios concedidos aos portugueses resultaram em um 
sentimento antilusitano. As influências eram similares à Inconfidência Mineira e 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
11 
à Conjuração dos Alfaiates, porém havia interesses de diferentes grupos 
sociais envolvidos. 
Iniciada em Recife, a Revolução se alastrou para Alagoas, Paraíba e Rio 
Grande do Norte, que também sofriam com as diferenças entre as regiões 
brasileiras. 
Os revolucionários implantaram um governo provisório em Recife, 
baseado em uma “lei orgânica” na qual se proclamava a República. Essa lei 
falava de igualdade de direitos, mas não abolia a escravidão. Também foram 
enviados representantes a outras capitanias e aos Estados Unidos, à Inglaterra 
e à Argentina, em busca de apoio. 
Logo veio a resposta das tropas portuguesas, com lutas pelo sertão, e 
finalmente com a ocupação de Recife, em maio de 1817, com as consequentes 
prisões e execuções dos líderes. Os dois meses de movimento deixaram uma 
marca no Nordeste. A Revolução Pernambucana foi a única revolução da 
época colonial que passou da etapa da conspiração e chegou a tomar o poder, 
mesmo que brevemente. 
Tema 4: Cultura Colonial 
Não é de hoje que a sociedade brasileira se caracteriza pela 
desigualdade social. A divisão da sociedade em diferentes classes remonta aos 
tempos da colônia. Durante o “período açucareiro”, a desigualdade se fazia 
visível na própria construção dos engenhos, divididos em casa grande e 
senzala. 
A casa grande era o domínio do senhor de engenho sobre sua família. O 
patriarca, o senhor de engenho, era quem impunha regras sobre o resto da 
família. Às mulheres restava se ocuparem de afazeres domésticos e do 
controle dos escravos destinados a esses afazeres. Aos homens cabia todo o 
resto, inclusive o treinamento dos filhos e netos, nascidos na casa grande, para 
que dessem continuidade à “liderança” do engenho. 
Abaixo dessa elite, havia uma pequena elite urbana, composta por 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
12 
comerciantes, artesãos e funcionários públicos. 
A senzala representa a camada da base da sociedade, composta por 
escravos. Além de mão de obra, eles eram um indicador de “status”, do poder 
do senhor de engenho. Aos escravos e escravas, como escreveu um monge 
jesuíta, eram dados “os três P”: pau – agressões físicas – para andar na linha, 
pano para cobrir as vergonhas – se vestir – e pão – alimento – para sobreviver. 
Todas essas situações foram descritas por Gilberto Freyre em sua obra 
Casa Grande e Senzala, publicado em 1933. Nesse livro, Freyre investigou 
documentos da época dos engenhos e traçou uma relação entre a divisão da 
casa grande e da senzala como fundamentais para a história da cultura e da 
sociedade brasileira. Além disso, Freyre também refutou a ideia que a 
miscigenação gerou uma raça inferior, destacando os aspectos positivos, 
principalmente culturais, dessa convivência. 
A obra de Freyre, entretanto, foi usada para defender o fato de que no 
Brasil haveria uma “democracia racial”, na qual a sociedade não seria racista, 
diferente do que aconteceu – e acontece – nos Estados Unidos, por exemplo. 
Pesquisas indicam que as pessoas não se veem como racistas, mas conhecem 
alguém que é. Estatísticas sobre renda e pobreza também servem para refutar 
a ideia de “democracia racial” em que se acreditou, a qual era defendida por 
Freyre. 
Lançada três anos depois da obra de Freyre, Raízes do Brasil é outra 
obra importante para compreender a história da cultura brasileira a partir da 
colonização. Escrita por Sérgio Buarque de Holanda – pai de Chico Buarque –, 
um dos conceitos importantes nessa obra é a ideia de que o brasileiro seria um 
“homem cordial” – não no sentido de quem dá bom dia e boa tarde; aqui cordial 
se refere ao coração, às emoções da pessoa. O “homem cordial” não consegue 
separar o público do privado, não vê que a vida, com reação ao governo e suas 
burocracias, tem de ser impessoal, e não pessoal; Holanda situa isso como 
uma herança da família patriarcal, lá dos senhores de engenho, que tem 
consequências na maneira como as pessoas lidam com as instituições. 
 
Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
13 
Tema 5: Coronelismo e Voto 
Várias características da colonização brasileira, como a divisão em 
capitanias e os latifúndios, colaboraram para concentrar o poder nos 
proprietários de terras, os chamados “coronéis”. Depois da proclamação da 
República, em 1889, os sistemas de voto ainda eram frágeis e fáceis de serem 
manipulados. 
Nas palavras de Victor Nunes Leal, o coronelismo seria o “resultado da 
superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma 
estrutura econômica e social inadequada”. (Leal, 2012, p. 43). Ou seja, não 
adiantava estabelecer uma democracia representativa se as pessoas não 
estavam em condições de votar com independência. 
Leal (2012, p. 44) também se refere ao coronelismo como “uma forma 
peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude 
da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado têm 
conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa.” 
Foi uma maneira que o poder privado encontrou para continuar no poder 
apesar das novas regras. 
E como os “coronéis” conseguiam se perpetrar no poder? Podemos 
considerar quatro estratégias principais: 
Voto de Cabresto: os coronéis tinham várias maneiras de manipular o 
resultado de uma eleição. Como o voto não era secreto, e o eleitor falava em 
voz alta em quem queria votar, capangas a serviço dos coronéis ficavam 
próximo aos lugares de votação, para intimidar quem ousasse votar em um 
candidato que não fosse do interesse deles. Se alguém votasse em outro 
candidato, era perseguido e ameaçado, inclusive com agressão física. Outro 
recurso era a compra de votos com bens materiais ou alimentos. As regiões 
controladas pelos coronéis eram conhecidas como currais eleitorais. 
Fraude eleitoral: tratava-se simplesmente de falsificar votos, destruir 
registros de votação, falsificardocumentos para que eleitores fantasma ou 
homens já falecidos votassem, ou para que houvesse vários votos de uma 
 
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14 
mesma pessoa. 
Política do café com leite: o nome se refere a São Paulo – que produzia 
café – e Minas Gerais – que produzia leite e derivados. No começo do século 
XX, esses eram os estados mais ricos do Brasil, e os políticos deles faziam 
acordos para se manter no poder. 
Política dos Governadores: os governadores e o presidente da 
República faziam acordos na base de favores. Quem não fizesse oposição 
ganhava liberação de verbas federais. 
O coronelismo perdeu forças com mudanças na sociedade, como o 
aumento de população urbana e a instauração do voto secreto, na década de 
1930. Porém, algumas práticas, principalmente as que se referem a acordos 
entre políticos, continuam acontecendo. 
Na Prática 
Vamos tentar comparar o Brasil colonial com a situação atual? Apesar 
de termos analisado fatos que aconteceram há alguns séculos, muitas 
questões ainda acontecem: 
 Escravidão: ainda há trabalho escravo no Brasil? Onde? 
 Ainda há situações de acordos entre políticos ou entre partidos 
políticos que visam manter o poder concentrado entre certos políticos? 
 O Brasil já se tornou um país industrializado, ou sua economia 
ainda se baseia na agricultura, na pecuária e na mineração? Isso é bom ou 
ruim? Quais as consequências? 
 Qual a situação de pessoas descendentes de escravos africanos? 
Como encaramos o problema do racismo? 
 
 
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15 
Síntese
 
 
 
CICLOS ECONÔMICOS
Exploração de recursos naturais
Exploração de minérios
Produção de açúcar e derivados
ESCRAVAGISMO
Preferência pelo negro e não pelo índio
Presença do escravo africano no Brasil
Resistência
VOTO DE CABRESTO
Estratégias para perpetuar o poder dos coronéis
Efeitos posteriores na política brasileira
CULTURA COLONIAL
Relações de poder centralizado no senhor de engenho 
e outras hierarquias
Influência na cultura
REVOLTAS
Tentativas de independência
Motivos das revoltas
Repressão
Revoltas como antecedentes
 
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16 
Referências 
 
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: USP, 1995. 
 
LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime 
representativo no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

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