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RESUMO PARASITOLOGIA – LEISHMANIA REFERÊNCIA: Neves, DP. Parasitologia Humana, 11ª ed, São Paulo, Atheneu, 2005. Família: Trypanossomatidae Protozoário unicelular Heteróxenos: completam seu ciclo de vida evolutivo em pelo menos dois hospedeiros. Forma promastigota e paramastigota: flageladas, livres ou aderidas ao trata digestivo dos hospedeiros invertebrados. Forma amastigota: sem flagelo, intracelular. Hospedeiros vertebrados: podem hospedar diversos mamíferos, mas os mais comuns são roedores e canídeos. Pode parasitar humanos. Hospedeiro invertebrado: fêmeas de flebotomíneos, insetos hematófagos. São responsáveis pela transmissão do agente. Geralmente são do gênero Lutzomyia. Morfologia Forma amastigota: encontradas no interior das células fagocitárias ou livres. Na microscopia óptica são caracterizadas por serem ovais, esféricos ou fusiformes. Não possuem flagelo livre. Figura 1 Amastigotas de Leishmania Fonte: http://enfermagem-sae.blogspot.com/2009/04/leishmaniose-visceral-ou-calazar.html Forma promastigota: flagelada, localizadas no trato digestivo dos flebotomíneos. Alongadas, com flagelo livre e longo. Núcleo na região mediana ou ligeiramente na porção anterior do corpo. Cinetoplasto localizado no meio da forma. Figura 2 Promastigotas de Leishmania Fonte: https://hospitalalbeitar.com/leishmaniosis/ Forma paramastigota: pequena e arredondada/oval, flagelo curto, núcleo mediano e cinetoplasto paralelo ou ligeiramente após o núcleo. Forma promastigota metacíclica: formas infectantes para os vertebrados. Possuem alta mobilidade e são encontrados livres nas porções anteriores do trato digestivo dos flebotomíneos. http://enfermagem-sae.blogspot.com/2009/04/leishmaniose-visceral-ou-calazar.html Ciclo biológico Hospedeiro vertebrado é infectado quando as formas promastigotas metacíclicas são inoculadas pelas fêmeas dos flebotomíneos; As promastigotas metacíclicas são resistentes à lise pelo sistema complemento; A internalização de Leishmania se faz por endocitose mediada por receptores de superfície dos macrófagos, onde as promastigotas metacíclicas são rapidamente transformadas em amastigotas; As amastigotas se multiplicam sucessivamente até que a célula hospedeira sofra lise, liberando as amastigotas que se internalizam em outros macrófagos; Hospedeiro invertebrado se infecta com as amastigotas ao se alimentar do sangue do hospedeiro vertebrado; No intestino médio do flebotomíneo, as amastigotas transformam-se em formas flageladas pequenas, ovoides e com pouca mobilidade que se multiplicam. Após 3 – 4 dias, se transformam em promastigotas, que posteriormente evoluem para sua forma promastigota metacíclica; Há migração dos parasitos para a porção anterior do aparelho digestivo do inseto, de onde chegam até a probócide. Espécies comuns causadoras de leishmaniose em humanos Leishmania denovani: agente etiológico da leishmaniose visceral ou calazar; Leishmania tropica: agente etiológico da leishmaniose cutânea; Leishmania braziliensis: agente etiológico da leishmaniose cutaneomucosa, espúndia ou úlcera de Bauru. Leishmaniose Tegumentar Americana A LTA tem caráter zoonótico e ocorre em humanos e outros mamíferos silvestres e domésticos, tendo diversas formas clínicas. Considerada uma doença polimórfica da pele e das mucosas. A forma cutânea localizada é caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, únicas ou múltiplas. A forma cutaneomucosa é caracterizada por lesões mucosas agressivas que afetam a região nasofaríngea. A forma disseminada apresenta múltiplas úlceras cutâneas, com disseminação hematogênica ou linfática. A forma difusa é caracterizada por lesões nodulares não ulceradas. Agentes etiológicos: diferentes espécies de Leishmania do subgênero Viannia e Leishmania. No Brasil ocorrem as espécies: L. (Viannia) braziliensis, L. (Viannia) guyanensis, L. (Viannia) lainsoni, L. (Viannia) shawi, L. (Viannia) naiffi e L. (Leishmania) amazonensis. Principais espécies de flebotomíneos transmissores: Lutzomyia whitmani, L. wellcomei, L. pessoai, L. intermedia, L.umbratilis, L. flavisaitellata. As formas amastigotas são encontradas parasitando células do sistema mononuclear fagocitário (SMF) do hospedeiro vertebrado, principalmente macrófagos residentes na pele. Patogenia A lesão inicial se manifesta por um infiltrado inflamatório composto principalmente por linfócitos e macrófagos da derme, sendo que os macrófagos se encontram altamente parasitados. O período de incubação pode variar de 2 – 3 semanas. Independentemente da espécie do parasito, as lesões iniciais se assemelham. A forma inicial pode regredir de forma espontânea ou permanecer estacionária ou evoluir para um nódulo dérmico, localizado sempre no sítio de picada do vetor (“histiocitoma”). O “histiocitoma” é desenvolvido em diferentes ritmos à depender da espécie de Leishmania envolvida. Estágio das lesões ulceradas na LTA: 1. Nódulo: epiderme íntegra, forte infiltrado de macrófagos, muitos parasitos; 2. Ulceração inicial: superficial, forte infiltrado de linfócitos, macrófagos e alta parasitose; 3. Úlcera estabilizada com lesão satélite: profunda, processo inflamatório ativo periférico, lesões satélites, poucos parasitas; 4. Lesão cicatrizada: leve depressão no local, epiderme fina, fibrose, sem parasitos. Existe um amplo espectro de formas clínicas da LTA, que variam de lesão autoresolutiva à lesões desfigurantes. Isto está diretamente ligado ao estado imunológico do paciente e a espécie de Leishmania envolvida. Podem ser agrupadas em três grupos de variação: Leishmaniose cutânea: há formação de úlceras múltiplas restritas à derme, com epiderme ulcerada. Úlceras leishmanióticas típicas ou então formas vegetantes verrucosas ou framboesiformes. A leishmaniose cutâneo-disseminada é uma variação, geralmente relacionada à pacientes imunossuprimidos. Espécies envolvidas: o L. (V.) braziliensis: causa lesões conhecidas como úlceras de Bauru, ferida brava, ferida seca ou bouba. Lesões primárias: únicas ou pouco numerosas, frequentemente de grandes dimensões, com formato de cratera. Curso irregular e crônico, tendendo a cura espontânea. Forma mais destrutiva. o L. (V.) guyanensis: causa lesões conhecidas como pian bois. Pode haver uma única úlcera do tipo “cratera de lua”. Com frequência, se dissemina pelo curpo. Linfagite e linfadenopatia são frequentes. Pode ocorrer a forma verrucosa vegetativa, bem como úlceras múltiplas em decorrência das picadas múltiplas do vetor. o L. (L.) amazonensis: causa lesões ulceradas simples e limitadas em humanos. Não muito comum nos humanos. o L. (V.) laisoni: úlcera cutânea única. Leishmaniose cutaneomucosa (LCM): conhecida como espúndia, nariz de tapir ou nariz de anta, causada pela L. braziliensis. O curso inicial da infecção ocorre como na forma cutânea. É típico da LCM: frequência da produção de lesões destrutivas secundárias meses ou anos após a infecção primária, que envolvem mucosas e cartilagens. É um processo lento e crônico. A disseminação metastásica ocorre principalmente no nariz, faringe, boca e laringe. Há resposta imune exacerbada, com poucos parasitas presentes. Leishmaniose cutânea difusa (LCD): lesões difusas não ulceradas metastásicas por toda a pele, com grande quantidade de amastigotas, causada pela L. amazonensis. Envolve em especial a pele das extremidades e outras partes do corpo expostas, onde se encontram várias erupções papulares ou nodulares não ulceradas. A metástase dos parasitos ocorre através dos vasos linfáticos ou a migração dos macrófagos parasitados. Ligada à deficiência imunológica do paciente, em que a resposta imune celular está deprimida. Possui curso crônico e progressivo, o paciente não responde ao tratamentoconvencional. Profilaxia Uso de inseticidas de ações residual em áreas novas, em surto com mais de um caso nos últimos seis meses, onde há transmissão em ambiente domiciliar. Proteção individual com repelentes e mosquiteiros. Proteção coletiva: limpeza de quintais e terrenos. Evitar acúmulo de lixo orgânico. Áreas de mata: construções feitas a pelo menos 500 metros de distancia. Produção de vacina. Leishmaniose Visceral Americana / Calazar Agente etiológico: Leishmania denovani e L. (L.) infantum. Doença sistêmica, crônica, grave, de alta letalidade quando não tratada. Causa mortes principalmente em crianças. Fatores de risco associados: desnutrição, uso de imunossupressores, drogas ilícitas e coinfecção com HIV. Caracterizada por febre irregular de média intensidade e longa duração, esplenomegalia, hepatomegalia, anemia, leucopenia, trombocitopenia, hipergamaglobulina e hipoalbuminemia. O emagrecimento, edema e estado de debilidade, contribuem para a caquexia e óbito. Há possibilidade de casos assintomáticos. Transmissão: picada da fêmea de Lutzomyia longipalpis, uso de drogas injetáveis, transfusão sanguínea. Patogenia A L. infantum chagasi é encontrada parasitando principalmente células do Sistema Mononuclear Fagocítico (SMF) do baço, fígado, linfonodo e medula óssea. Pode ser encontrada no intestino, sangue, pulmões, rins e pele. A pele é a porta de entrada do parasito e a disseminação ocorre pela via hematogênica e linfática. Alterações esplênicas: esplenomegalia (sinal mais frequente e importante relacionado ao calazar), que é o aumento do baço. Hiperplasia e hipertrofia das células do SMF, que estão densamente parasitadas. Alterações hepáticas: hepatomegalia também é marcante no calazar. Hiperplasia e hipertrofia das células de Kupffer, densamente parasitadas. Responsável pela disproteinemia grave: baixos níveis de albumina associada a fatores vasculares locais podem levar a formação de edema nos membros inferiores. Alterações no tecido hematopoiético: a medula óssea apresenta hiperplasia e alta carga de parasitos. Anemia (geralmente normocítica, normocrômica) representa uma alteração grave. Alterações renais: presença de imunocomplexos circulantes. Glomerulonefrite proliferativa e nefrite intersticial. Em decorrência ocorre distúrbios das funções renais. Há albuminúria e creatina, ureia e hematúria elevados na urina. Alterações nos linfonodos: geralmente aumentados, com depleção de céulas T e presença de plasmócitos e macrófagos parasitados. A hipergamaglobulina é parcialmente explicada pela presença dos plasmócitos durante a infecção. Alterações pulmonares: pneumonite intersticial com espessamento dos septos pulmonares. Pneumonia associada a infecções secundárias pode levar ao desenvolvimento de broncopneumonia e levar a óbito. Alterações no aparelho digestivo: proliferação excessiva das células do SMF, principalmente no jejuno e íleo, com presença de amastigotas. Ocorre edema e alongamento das vilosidades, não ocorre alterações da arquitetura da mucosa e dos vasos linfáticos. Alterações cutâneas: descamação e queda capilar. Lesões nodulares e leishmaniose dérmica pós-calazar. Quadro clínico Pode haver desenvolvimento abrupto ou gradual da doença. Sinais sistêmicos típicos estão associadas à febre intermitente, palidez de mucosas, esplenomegalia, presença ou não de hepatomegalia e emagrecimento progressivo com enfraquecimento geral do paciente. A evolução clínica desfavorável está associada a determinadas características que podem levar à óbito, que são: idade, hemorragia, comorbidades, complicações infecciosas. Forma assintomática: sintomas inespecíficos – febre branda e recorrente, tosse seca, diarreia, sudorese, prostação. Cura espontânea ou manutenção do parasito sem evolução clínica. O equilíbrio pode-se romper quando há desnutrição ou imunossupressão. Forma aguda: início da doença. Há febre alta, palidez das mucosas e hepatoesplenomegalia discreta. Em geral, a evolução não ultrapassa dois meses. O paciente pode apresentar tosse e diarreia. É confundida com febre tifoide, malária, esquistossomose, Chagas aguda, toxoplasmose aguda, histoplasmose e outras. Há altos títulos de IgG anti-Leishmania. O parasitismo é mais frequente no baço e fígado, sendo menos intenso na medula óssea. Forma sintomática crônica ou calazar clássico: há febre irregular e agravamento contínuo da doença, bem como emagrecimento progressivo, conduzindo o paciente a desnutrição proteico-calórica; caquexia acentuada, mesmo com apetite preservato. Hepatoesplenomegalia associada a ascite determina o aumento do abdômen. É comum haver edema generalizado, dispneia, cefaleia, dores musculares, perturbações digestivas, epistaxes e retardo da puberdade. Por ter caráter debilitante e imunossupressor, as infecções bacterianas secundárias são importantes na determinação do óbito do paciente, sendo comum: pneumonia e broncopneumonia; tuberculose, diarreia e disenteria, otite média, gengivite, estomatite, cancrum oris e infecções concomitantes com Plasmodium ou Schistossoma. Leishmaniose dérmica pós-calazar: aparece 6 meses – 5 anos após a cura clínica da doença. Há lesões na pele de aparência variada com áreas de hipopigmentação, pápulas ou nódulos; e nódulos na face, tronco e membros. O parasitismo cutâneo é intenso, não há febre ou outro sintoma de envolvimento visceral. Podem levar meses ou anos para as lesões desaparecerem, o tratamento é prolongado. As pessoas infectadas são importantes fontes de infecção.
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