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Economia Internacional Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Bruno Leonardo Silva Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Integração Econômica e a Formação da Zona do Euro • Os Níveis de Integração Econômica; • O Sistema de Bretton Woods; • O SME (1979-1998) e as Válvulas de Segurança; • A Crise do Euro; • Considerações Finais. · Apresentar o processo de migração da União Europeia da condição de um mercado comum para uma União Econômica e Monetária e a crise da zona do euro. OBJETIVO DE APRENDIZADO Integração Econômica e a Formação da Zona do Euro Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Integração Econômica e a Formação da Zona do Euro Os Níveis de Integração Econômica A estratégia de formação do acordo conhecido como General Agreement on Tariffs and Trade (Gatt), em 1947, tinha como objetivo básico a criação de acordos multilaterais de comércio para elevar o bem-estar social na economia em nível global. Entretanto, em função das dificuldades da formação de acordos mais amplos entre os países, acabou-se por gerar o conformismo de que qualquer acordo firmado entre grupos de países já era um passo considerado relevante. Nas palavras de Carvalho e Silva (2007, p. 253), [...] certa frustração com o ritmo de liberalização resultante dos acordos sob os auspícios do Gatt, somada à ideia de que alguma liberdade de co- mércio, mesmo que seletiva, seria melhor que nenhuma, passou a fazer parte do discurso sobre a formação de blocos regionais. Argumentava-se que, ao menos entre os participantes do acordo comercial, haveria maior eficiência na alocação de recursos e aumento de bem-estar. Nessa conjun- tura, algumas nações da Europa Ocidental deram os primeiros passos em seu processo de integração, que resultaria na atual União Europeia (UE). Os níveis de integração econômica atingidos em cada acordo podem ser assim classificados: zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum, união econômica e integração econômica total. Respectivamente, representam graus ascendentes de interdependência econômica, vejamos: Quadro 1 – Classificação da integração econômica e os principais acordos associados Classificação da integração econômica Principais características Principais acordos preferenciais de comércio Zona de livre comércio Países-sócios concordam em eliminar as barreiras sobre o comércio recíproco, mas mantêm políticas comerciais independentes em relação aos demais. Acordo de Livre Com ércio da Am érica do Norte (Nafta)* M ercado Com um do Sul (M ercosul) União Europeia: países fora da zona do euro União Europeia: zona do euro União aduaneira Além da eliminação recíproca das barreiras sobre o comércio, os sócios passam a adotar uma política comercial uniforme em relação aos demais países. Mercado comum A liberdade de deslocamento não se restringe aos produtos, abrangendo também os fatores de produção – capital e mão de obra –; a política comercial é uniforme em relação a países não membros. União econômica Os acordos não se limitam aos movimentos de bens, serviços e fatores de produção, buscam harmonizar políticas econômicas para que os agentes possam operar sob condições semelhantes nos países constituintes do bloco econômico. Integração econômica total Implica livre deslocamento de bens, serviços e fatores de produção, além de completa igualdade de condições para os agentes econômicos, pois o acordo prevê idênticas políticas econômicas e sociais, administradas por autoridades supranacionais. * Estabelece o livre comércio entre Canadá, Estados Unidos e México. Fonte: Carvalho e Silva (2007, p. 254-255) 8 9 De acordo com Carvalho e Silva (2007, p. 256), a integração mais abrangente realizada até hoje é a União Europeia, que passou por todas as etapas iniciais e atualmente constitui uma união econômica – é sobre esta integração, ou seja, traçando acontecimentos históricos acerca da formação da Zona do Euro, que esta Unidade repousa. O Sistema de Bretton Woods Após anos de guerras mundiais e tendo passado pela Crise de 1929 no período entre grandes guerras, 44 países se reuniram em Bretton Woods no ano de 1944 para poderem definir, entre outros assuntos, ajustes necessários para a geração do progresso econômico global. Os anos de guerra e a crise subsequente promoveram o afunilamento dos mer- cados internacionais de bens, o que, segundo a concepção liberal, precisaria ser corrigido. Entretanto, apesar de ter sido identificada a necessidade de um padrão de coordenação global nos aspectos monetário e comercial, o equilíbrio interno também deveria ser alcançado. Quando se diz equilíbrio interno, leia-se pleno em- prego dos fatores e estabilização de preços, sobre os quais os governos teriam responsabilidade. Assim, o acordo de Bretton Woods sela a formação de um sistema monetário internacional regido pelos Estados Unidos em um padrão ouro-dólar e a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI). O funcionamento básico do sistema monetário internacional era o de um regime de taxas fixas de câmbio, no qual cada país atrelava a sua moeda ao dólar em taxa fixa; enquanto o dólar, por sua vez, alinhava a sua taxa de câmbio em relação ao ouro em uma proporção de US$ 35 por cada onça de ouro (Figura 1). Figura 1 – O esquema de taxas fi xas de câmbio no sistema Bretton Woods Fonte: Acervo do Conteudista 9 UNIDADE Integração Econômica e a Formação da Zona do Euro O mecanismo de taxas fixas de câmbio deu previsibilidade nas transações comer- ciais e inibiu a geração de políticas monetárias expansionistas no mundo pelo fato de a oferta de moeda de cada país ter de respeitar o mercado de câmbio. Ou seja, a política monetária de cada nação estava absolutamente sujeita às necessidades de expansão e enxugamento de moeda no mercado interno a fim de manter a taxa de câmbio fixa com relação ao dólar. Em termos gerais, restaria a cada membro a po- lítica fiscal como mecanismo de ajuste da economia rumo ao pleno emprego. A queda do sistema de Bretton Woods passou por al- guns fatores, entre os quais talvez o mais relevante tenha sido a política fiscal expansionista nosEstados Unidos a partir de 1965. O governo norte-americano, nessa época, elevou demasiadamente os gastos públicos para preparar a entrada do País na Guerra do Vietnã, como também para promover melhorias em sua educação e estrutura física. A expansão dos gastos seria a responsável por uma inflação interna que se expandiu para o mundo todo – lembrando que um dos objetivos do sistema de Bretton Woods era a manutenção de baixo nível de inflação ao redor do mundo. Entretanto, no momento em que o principal pilar do sistema – Estados Unidos – sobrepôs as finalidades desse aparato para atingir objetivos individuais, este ruiu. O Enfraquecimento de Bretton Woods e a Concepção de uma União Monetária e Econômica O fim do sistema de Bretton Woods, em 1973, o qual fixava a taxa de câmbio entre Estados Unidos e outros países, ofereceu a possibilidade de liberdade na flutuação cambial em relação a esse país. As economias estavam mais livres para coordenarem as suas políticas, sem a pressão de se manterem sob a rigidez que o sistema pregava. Entretanto, o desmanche do sistema de Bretton Woods, que derivou, entre outros aspectos, da perda de confiança no posicionamento dos Estados Unidos como “tutor” da taxa de câmbio fixo, ao final da década de 1960 já estava direcionado. Os problemas econômicos gerados na parte final desse sistema auxiliaram no fortalecimento da ideia da criação de um acordo que permitisse às economias participantes da União Europeia ultrapassarem o nível de integração de mercado comum para o de uma União Econômica e Monetária (UEM). Dentro desse contexto histórico, em 1947 houve a formação do Gatt. 10 11 Ademais, as duas razões iniciais para que o nível de integração estivesse no sen- tido da UEM são colocadas por Krugman e Obstfeld (2005, p. 450) no Quadro 2: Quadro 2 Garantir à Europa um papel mais destacado no sistema monetário mundial Com as crises monetárias de 1969, a Europa começou a perder a confiança na prontidão dos Estados Unidos em colocar as suas responsabilidades monetárias internacionais à frente de seus interesses. Ao “falar com uma única voz” sobre as questões monetárias, os países da UE esperavam defender mais eficazmente os seus interesses econômicos diante dos Estados Unidos, cada vez mais voltados a seus próprios problemas. Transformar a União Europeia em um mercado verdadeiramente unificado Apesar de o Tratado de Roma de 1957 – que criou a UE – ter estabelecido uma união alfandegária, barreiras oficiais significativas aos movimentos de produtos e fatores na Europa ainda existiam. Um objetivo constante dos membros da UE foi eliminar todas as barreiras e transformar a União em um enorme mercado unificado, nos moldes dos Estados Unidos. As autoridades europeias acreditavam, no entanto, que as incertezas quanto às taxas de câmbio, assim como as barreiras comerciais oficiais, eram os principais fatores de redução do comércio na Europa. Sob esse ponto de vista, um mercado europeu realmente unificado nunca poderia ser atingido, a não ser que as taxas de câmbio mútuas europeias fossem fixas. Fonte: Krugman e Obstfeld (2005, p. 450) As motivações da unificação e a forma com que esta seria realizada foram discu- tidas preliminarmente na reunião de líderes europeus em Haia, Holanda, em 1969. Além das questões explicitadas, tem-se que levar em consideração o passado recente das duas guerras mundiais. A unificação econômica e monetária na Europa representaria um passo importante para consolidar a paz no Continente. Apesar da intenção da formação de uma UEM no início da década de 1970, a criação implicaria o abandono por parte dos países participantes das políticas monetária e cambial. Assim, teriam de abdicar dos instrumentos associados a cada uma das quais, o que significaria cada governo abrir mão de cumprir os objetivos internos de cada país. O fato é que, com as crises do início da década de 1970, a maior parte dos países priorizou minimizar os efeitos dessas com o máximo de instrumentos próprios possíveis e as ideias da UEM não frutificaram, de fato, nesse momento. Mesmo assim, no início da década de 1970, algumas coordenações intermitentes de ajuste conjunto das taxas de câmbio ocorreram de modo informal em um arranjo denominado, na época, como “cobra”. Os alinhamentos entre países europeus vieram a se tornar mais sólidos somente a partir da formação do Sistema Monetário Europeu (SME), em 1979. As nações pioneiras foram França, Alemanha, Itália, Bélgica, Dinamarca, Irlanda, Luxembur- go e Holanda. 11 UNIDADE Integração Econômica e a Formação da Zona do Euro O SME (1979-1998) e as Válvulas de Segurança O sistema monetário europeu representou o alinhamento das taxas de câmbio. Entretanto, ao contrário do sistema de Bretton Woods – no qual a taxa de câmbio era fixa em relação ao dólar –, sob o SME, as economias europeias formaram um “clube de taxas fixas de câmbio” com válvulas de segurança para frear crises. As principais válvulas de segurança foram: • Taxa de câmbio fixada com a possibilidade de flutuação em banda: assim como uma ponte construída necessita de flexibilidade para haver amortecimento dos impactos de alterações de temperatura, pressão e velocidade dos ventos, os europeus entenderam que um regime de taxa de câmbio fixo somente sobreviveria caso houvesse a possibilidade de flutuações em banda – intervalo pré-definido para cima e para baixo, em termos percentuais, no qual a taxa de câmbio poderia flutuar; de modo que, tal como afirmam Krugman e Obstfeld (2005, p. 450), [...] a maioria das taxas de câmbio “fixadas” [...] podia flutuar para cima ou para baixo [...] em relação a um valor ao par. Isto dava liberdade para os países poderem ter algum grau de domínio sobre a política monetária de seus países, pois em regimes de câmbio fixo, a oferta de moeda está sujeita à manutenção da taxa de câmbio e não pelo desejo das autoridades monetárias de cada país. • Crédito entre membros com moeda mais forte para os que possuíam moeda mais fraca: afinal, conforme Krugman e Obstfeld (2005, p. 452), [...] o SME desenvolveu provisões generosas para estender o crédito dos membros com moeda forte para os membros com moeda fraca. Se o franco francês se depreciasse muito em relação ao DM, por exemplo, o banco central da Alemanha, o Bundesbank, emprestaria marcos ao Banco da França, que poderia trocá-los por francos no mercado de câmbio. • Controles cambiais para minimizar a chance de ataques especulativos. Histórico de Controle Inflacionário Alemão e a Reunificação Germânica O histórico hiperinflacionário vivido pela Alemanha na década de 1920 e após a Segunda Guerra Mundial impôs um temor tão elevado em tal país que este foi capaz de mover o Bundesbank, no sentido de centralizar o objetivo de controle no nível de preços internos. 12 13 A partir das medidas realizadas, o Marco Alemão (DM) tornou-se até mesmo um modelo de moeda forte para os países da União Europeia. Isto é tão verdadei- ro que ao longo de boa parte da década de 1980, as nações se espelhavam no DM para manterem-se com as taxas de câmbio alinhadas em relação aos integrantes do bloco. Assim, ao invés de se preocuparem no alinhamento simultâneo em re- lação a todos os membros, cada um destes observava o comportamento da taxa de câmbio concernente à moeda alemã como forma de manter tal índice entre todos os outros. Entretanto, a reunificação alemã após a queda do muro de Berlim inseriu novos capítulos na história do SME. A partir da reunificação, em 1990, a Alemanha Ocidental observou o atraso em desenvolvimento na Alemanha Oriental; de modo que o governo alemão estabeleceu uma política fiscal expansionista como forma de minimizar as diferenças estruturais entre as duas regiões – o problema é que esse movimento foi capaz de gerar uma elevação acentuada no nível de preços internos. Os problemas inflacionários evidenciados por volta de 1992 acabaram influen- ciando os demais participantes doSME. Isto porque, com o aumento na taxa de inflação na Alemanha, este país elevou as taxas de juros para tentar controlar o nível de preços. Por consequência, tal instrumento motivou a movimentação de ca- pitais rumo à Alemanha e acabou por forçar os demais países do bloco a elevarem a taxa de juros – a fim de se evitar desajustes no regime de bandas cambiais. Por esta medida ter potencial de redução no ritmo da atividade econômica, obviamente os países-membros não ficaram muito contentes com a política econômica alemã. É importante ressaltar que os ataques especulativos somente foram possíveis devido à remoção gradual dos controles cambiais a partir de 1987. Iniciativa 1992: A Busca pela Finalização do Processo de Integração de Mercados na UE Muitas barreiras ao comércio ainda perduravam dentro da União Europeia, apesar da assinatura do Tratado de Roma, em 1957. Rumo à completude do processo de liberalismo econômico internacional, foi lançado o plano conhecido como iniciativa 1992, o qual almejava atingir objetivos para selar alguns aspectos do tratado de 1957 – este ainda em aberto até primeiro de janeiro de 1993. Nesse sentido, Krugman e Obstfeld (2005) citam exemplos de problemas ainda existentes: Em algumas indústrias, como a automobilística e a de telecomunicações, o comércio era limitado por padrões impostos pelo governo e pela neces- sidade de registros burocráticos – assim, as autorizações do governo ou as práticas de compra quase sempre transformavam os produtos domésticos praticamente em monopolistas no mercado interno. As estruturas tribu- tárias nacionais, diferentes entre si, e as regulamentações de segurança e saúde também inibiam o comércio. 13 UNIDADE Integração Econômica e a Formação da Zona do Euro Diversos avanços foram atingidos na iniciativa 1992; entretanto, muitos ainda precisam ser finalizados. Plano Delors e o Tratado de Maastricht (1991) A manutenção do sistema monetário europeu da forma originalmente estrutura- da oferecia muitas possibilidades para ajustes de política monetária por cada país. Assim, para sanar as dificuldades de coordenação de políticas macroeconômicas, em 1989, um comitê liderado pelo presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, criou um plano para alcançar o objetivo de unificação monetária dentro da União Europeia. Tal plano contava com três estágios, os quais aqui comentados por Krugman e Obstfeld (2005, p. 455): No primeiro estágio do Plano Delors, todos os membros da UE deve- riam ingressar no Mecanismo de Taxas de Câmbio (MTC). No segundo estágio, as margens de taxas de câmbio seriam reduzidas e certas deci- sões de política macroeconômica seriam colocadas sob controle mais centralizado da UE. Finalmente, o terceiro estágio do Plano Delors envolvia a substituição de moedas nacionais por uma única moeda eu- ropeia e a atribuição de todas as decisões de política monetária a um Sistema Europeu de Bancos Centrais. Em 1991, um acordo foi formalizado para tornar possível o desejo de criação de uma única moeda e, assim, garantir a unificação da política monetária entre os membros da UE. O acordo ficou conhecido como Tratado de Maastricht e definia prazo para a execução dos estágios do plano Delors, sendo que a última etapa deveria ser alcançada até 1 de janeiro de 1999. Do SME para uma Moeda Única: Motivações As motivações da migração do SME para a construção de uma moeda única entre os países da UE, de acordo com Krugman e Obstfeld (2005), poderiam ser explicadas a partir de quatro pontos: 1. A criação de uma única moeda teria potencial de elevar o grau de integração na Europa em função da ausência de desconfiança sobre a taxa de câmbio e inexistência de custos de transação da moeda; 2. A experiência alemã revelou aos membros do sistema monetário europeu que interesses individuais continuariam a sobrepor aos objetivos do próprio SME quando algum país entendesse como sendo necessário efetuar alguma medida interna; 3. Em função da liberdade do movimento de capitais de forma ampla na União Europeia, a continuidade do regime de câmbio fixo em bandas teria dificuldade de manutenção, em função da elevada possibilidade de ata- ques especulativos; 14 15 4. A moeda única consolidaria a cooperação entre os países europeus, isto após profundos atritos em anos de guerra. O Tratado de Maastricht criou regras para a entrada de novos membros na for- mação da UEM. Assim, Krugman e Obstfeld (2005, p. 456) levantam os critérios- -chave a serem seguidos: 1 Taxa de inflação no ano anterior à admissão pode ser, no máximo, 1,5% maior do que a média dos 3 Estados-Membros da UE com in- flação baixa; 2 País deve ter mantido taxa de câmbio estável dentro do MTC, sem ter desvalorizado sua moeda por incentivo próprio; 3 O déficit do país no setor público deve ser de no máximo, 3% do PIB (exceto em circunstâncias especiais); 4 País deve ter dívida pública inferior ou próxima de um nível de refe- rência de 60% do PIB. Apesar de os requisitos serem para a admissão na UEM, os critérios três e quatro são de acompanhamento contínuo pela Comissão Europeia, ou seja, a política fiscal também se torna alvo de controle no Tratado de Maastricht. A fim de garantir a estabilidade fiscal e afastar o receio de enfraquecimento da moeda comum, em 1997 um pacto suplementar foi firmado entre os países, criando-se objetivos orçamentários. Por meio desse pacto, haveria a possibilidade de impor penalidades financeiras às nações que não reagissem de forma ágil no ajuste de déficits e dívidas em excesso. Tal acordo ficou conhecido como Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). A Crise do Euro De forma simples, o que se convencionou chamar de “crise do euro” nasceu do crescimento dos ativos globais rumo a bancos da zona do euro e bancos europeus instalados fora dessa zona até o ano de 2007. O elevado volume de recursos e as baixas taxas de juros estimularam o crescimento do volume de créditos direcionados a devedores de maior risco. Teve destaque o financiamento de gastos com consumo, investimento e habitação. Muitos recursos foram direcionados a países de maior risco, tais como Grécia e Portugal. A crença dos bancos europeus era de que, em caso de inadimplência, os governos europeus se reuniriam para evitar a quebra de cada banco, dado o potencial gerador de uma crise sistêmica. O excessivo de recursos para países com maior risco de crédito acabou forçando demasiadamente a demanda agregada, o que provocou um aumento significativo na taxa de inflação e, portanto, uma valorização real de suas moedas. 15 UNIDADE Integração Econômica e a Formação da Zona do Euro Importante! Lembre-se de que a taxa real de câmbio é determinada pela seguinte equação: e = E P P * Onde: e = taxa de câmbio real. E = taxa de câmbio nominal. P* = nível de preços do estrangeiro. P = nível de preços domésticos. Ademais, para compreender o movimento dessa equação, supondo um aumento no nível de preços domésticos, isto faria com que os produtos locais fossem considerados mais caros e estimularia a importação de produtos e serviços. Ou seja, os produtos locais perderiam a sua competitividade. Importante! De acordo com Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 512), [...] com uma inflação mais elevada do que a da Alemanha, mas com taxas de títulos essencialmente iguais, esses países tinham menores taxas de juros reais durante meados da década de 2000, um fator que os estimulou a gastar e a aumentar a inflação ainda mais [...]. As dívidas externas então cresceram, suscitando a pergunta de como estes países gerariam excedentes de exportação líquidos necessários para pagar os credores estrangeiros. O dilema tornou-se mais agudo, à media que o crescimento desacelerava em consequência da crise global de 2007-2009. O “estouro” da crise na zona do euro partiu do anúncio do novo governo grego, em 2009, de que as estatísticas corretas sobre a dívida pública bruta/Produto Interno Bruto (PIB) superavam a faixados 100%. Os termos sobre a incapacidade de honrar os compromissos com os possuidores de títulos gregos levaram as agências de rating a rebaixarem a classificação da dívida do governo grego. Como forma de tentar minimizar as turbulências nas “terras mitológicas”, em 2010, o governo local promoveu uma política fiscal fortemente contracionista, partindo de cortes de gastos e aumento de impostos, o que acabou gerando desemprego e queda do PIB. Apesar da aprovação de um pacote de empréstimo para a Grécia em 2010, o temor de que os credores de títulos gregos pudessem “levar um calote” e importar a crise era um “terreno aberto” para a efetivação de uma “profecia autorrealizável”, assim como o “corpo de um defunto que clama pelos seus vermes”. Conforme Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 516), [...] se os mercados esperam uma inadimplência, eles cobrarão do go- verno que empréstimos a taxas de juros muito elevadas, e se for incapaz de aumentar os impostos ou cortar gastos suficientes, ele será forçado a perder reembolsos da dívida e, portanto, haverá inadimplência. Isso é exatamente o que aconteceu na área do euro. 16 17 A fim de atenuar o problema, os líderes da zona do euro aprovaram uma linha de financiamento para comprar os títulos dos países da zona do euro com dívidas alarmantes, como a Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália. Assim, a partir do susto gerado e da incapacidade dos países problemáticos em sanar as suas dívidas públicas, uma série de debates em torno de uma maior firmeza sobre o comprometimento fiscal e até mesmo a formação de um federalismo fiscal já estiveram em diferentes pautas; de modo que o Tratado de Estabilidade Fiscal, assinado em 2013, é visto como uma versão mais rígida do PEC e representa uma das respostas políticas aos problemas enfrentados na zona do euro. Considerações Finais Esta Unidade apresentou a migração da União Europeia da condição de um mercado comum para uma união econômica e monetária. As páginas sobre o futuro desta UEM continuam sendo escritas, com certo temor de seu colapso. Entretanto, até mesmo a existência da União Europeia torna-se uma incógnita de- vido a movimentos recentes, tais como a negociação de saída do Reino Unido – o chamado “Brexit” – e o apoio parcial da população francesa pela saída da França, processo este evidenciado nos debates da última corrida presidencial desse país. Assim, aguardaremos as “cenas dos próximos capítulos”. 17 UNIDADE Integração Econômica e a Formação da Zona do Euro Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Introdução às Finanças Internacionais CARVALHO, G de. Introdução às finanças internacionais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. Economia Internacional: Teoria e Prática COSTA, A. J. D.; SANTOS, E. R. de S. Economia internacional: teoria e prática. Curitiba, PR: Intersaberes, 2012. Economia Internacional KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. J. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. Comércio Internacional: Teoria e Prática TRIPOLI, A. C. K.; PRATES, R. C. Comércio internacional: teoria e prática. Curitiba, PR: Intersaberes, 2016. 18 19 Referências CARVALHO, M. A. V.; SILVA, C. R. L. Economia internacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia internacional. 6. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. ________. MELITZ, M. J. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. 19
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