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12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 1/42 O Estatuto da Criança e do Adolescente como Marco Legal dos Direitos da Criança e do Adolescente Unidade 1 Curso: Estatuto da Criança e do Adolescente 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 2/42 Advogada inscrita na OAB-BA, Especialista em Direito da Criança e do Adolescente pela Fundação Escola Superior do Ministério Público, Autora do Livro Guia Prático Conhecendo o ECA (ISBN 978-65-901859-0-7). Membro da Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente da OAB-BA. ALINE PESTANA 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 3/42 - Conhecer as bases e os fundamentos do Estatuto da Criança e do Adolescente, seus princípios norteadores, com destaque para os artigos 1º ao 6º, e compreender a sua importância como instrumento normativo de promoção, de defesa e de controle da efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. Olá pessoal, Esperamos que tenha gostado do vídeo: para início de conversa, ele foi preparado para você! Vamos começar a leitura do material? Ao terminar as atividades previstas nessa unidade, você deverá ser capaz de: - Conhecer a evolução histórica dos direitos da criança e do adolescente, etapa fundamental para a compreensão do tratamento jurídico que atualmente é dispensado às crianças e aos adolescentes no Brasil; - Entender em que consiste a Doutrina da Proteção Integral, como ela ganhou destaque no cenário nacional e como substituiu a Doutrina da Situação Irregular, que reinou durante a vigência do Código de Menores de 1979; e, 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 4/42 Um longo caminho foi percorrido para que se alcançasse o estágio atual de tutela dos direitos da criança e do adolescente, consolidado sob o prisma da proteção integral. Três etapas do tratamento jurídico dispensado à infância podem ser destacadas, a saber: a) etapa da tutela indiferenciada: quando não havia tratamento jurídico diferenciado para as crianças e os adolescentes; 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 5/42 c) etapa da Proteção Integral: o momento atual, que considera a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e com garantia de prioridade absoluta. A evolução histórica dos direitos da criança e do adolescente, no cenário internacional e no ordenamento jurídico brasileiro, será estudada ao longo desta unidade, até alcançarmos o marco legal desses direitos, com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, por meio da Lei nº 8.069/90. b) etapa do tratamento tutelar: momento em que apenas os “menores em situação de risco” (expostos, abandonados ou delinquentes) eram objetos de intervenção do Estado; e 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 6/42 1. O CAMINHO PERCORRIDO ATÉ A CHEGADA DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Conheça a linha do tempo desse percurso: 1797 Thomas Spence publica “Rights of Infants” (Direito das Crianças) Fundada a Sociedade Nova Iorquina para a Prevenção da Crueldade Contra a Criança Primeira marcha de crianças registrada no Estados Unidos contra a escravidão infantil Eglantyne Jebb publica a 1ª Declaração Internacional do Direito da Criança 1874/1875 1909 1924 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 7/42 1927 Sancionado o Código de Menores no Brasil 1946 1948 1959 1979 1989 Criação da UNICEF Publicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos Versão ampliada da Declaração é publicada Ano Internacional da Criança. A Polônia propõe a criação da Convenção dos Direitos da Criança. No Brasil é publicado no Novo Código do Menor, Lei nº 6.697 Publicação da Convenção dos Direitos da Criança, ratificada por todos os países membros da ONU, exceto os Estados Unidos 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 8/42 1990 Publicado o Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil, fundamentado na Convenção ratificada na ONU, Lei nº 8.069/90. 1991 2000 Criação do Comitê dos Direitos da Criança na ONU Publicação do Protocolo Opcional do Direito da Criança Envolvida em Conflito Armado e do Protocolo Opcional do Direito da Criança envolvida em Tráfico Humano, Prostituição e Pornografia Infantil na ONU - ratificados pelo Brasil 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 9/42 Um longo caminho foi percorrido até que a infância fosse vista como um momento especial na vida do ser humano. Crianças e adolescentes não eram reconhecidos como sujeitos de direitos e pessoas em desenvolvimento, sobre as quais seria necessário um tratamento diferenciado. Um dos efeitos da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra após a segunda metade do Século XVIII, foi a exploração do trabalho operário, em especial o trabalho infantil, que não era visto como exploração, mas como uma atividade permitida para composição da renda familiar. Por outro lado, as crianças que eram consideras “ilegítimas” (concebidas fora do casamento) ou portadoras de deficiências eram jogadas em precipícios ou abandonadas nas portas de casas ou nas ruas, a mercê de serem atacadas por animais, mortas de fome ou de frio. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 10/42 No Brasil, por volta de 1726-1738, algumas crianças eram colocadas na “Roda dos Expostos”, uma espécie de cilindro de madeira nos conventos e nas Santas Casas de Misericórdia, criadas para o acolhimento de crianças indesejadas e abandonadas pelos seus pais, resultados da pobreza e de preconceitos morais da época. No cenário internacional, a Declaração de Genebra, de 1924, foi o primeiro documento que tratou do direito das crianças, trazendo em seu contexto diversos fatores de proteção. Confira o trecho: "A criança deve ser concedido os meios necessários para o seu desenvolvimento normal, tanto material como espiritual. A criança que tem fome deve ser alimentada, a criança que está doente deve receber os cuidados de saúde necessários, a criança que está atrasada deve ser ajudada, a criança delinquente deve ser recuperada, e o órfão e a criança abandonada deve ser protegida e abrigada. A criança deve ser a primeira a receber o socorro em tempos de crise ou emergência (...)." 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 11/42 Em 1948, por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, reconheceu-se, pela primeira vez, que a infância tinha direito a cuidados e a assistências especiais e ainda que todas as crianças, nascidas dentro ou fora do casamento, seriam beneficiadas com a mesma proteção social. Artigo 25, item 2: "A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especial. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social". Em 1959, a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, deu espaço de destaque para as crianças e aos adolescentes por considerá-los uma população com direitos e peculiaridades. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 12/42 Ela instituiu 10 princípios que devem ser respeitados por todos, dentre os quais se destacam: a) O Princípio da Não Discriminação: todas as crianças serão beneficiadas pelos direitos previstos na Declaração, sem nenhuma discriminação; b) OPrincípio do Pleno Desenvolvimento: toda criança tem direito a proteção especial e a todas as facilidades e oportunidades para se desenvolver, com liberdade e dignidade; e c) O Princípio da Prioridade de Atendimento: reconhece a primazia da criança em receber socorro em quaisquer circunstâncias. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 13/42 Em 1969, a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos, também conhecida como Pacto San José da Costa Rica, já disciplinava a responsabilidade compartilhada entre família, sociedade e Estado na proteção de crianças e de adolescentes: Artigo 19: “Toda Criança tem direito as medidas de proteção que na condução de menor requer, por parte da família, da sociedade e do Estado”. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 14/42 Em 1989, foi aprovada na ONU (Organização das Nações Unidas) a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, constituindo o instrumento jurídico internacional mais importante para a defesa e a proteção dos Direitos da Criança. O art. 3º, item 1 da Convenção, consagra o Princípio do Melhor Interesse da Criança, ao estabelecer que todas as ações relativas à criança, sejam elas levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de assistência social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos devem considerar primordialmente o melhor interesse da criança. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 15/42 O art. 19 obriga a todos os Estados Partes (aqueles que assinaram a Convenção), a adotarem medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas a proteger as crianças contra todas as formas de violência. Cento e noventa e seis (196) países ratificaram a Convenção, inclusive o Brasil, em 24 de setembro de 1990, comprometendo-se, a partir de então, a observar e cumprir seus princípios e regras, pois, diferente das Declarações, as Convenções tem força de lei internacional. É nessa Convenção que se adota o princípio da proteção integral. O Brasil participou ativamente da construção desta Convenção, tendo inclusive adotado seus princípios antes mesmo da sua aprovação no cenário internacional, com a inclusão do artigo 227 da Constituição Federal de 1988, além de ratificá-la em 1990, logo após a sua promulgação. Todos esses instrumentos internacionais, em especial, a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança de 1989, serviram de inspiração para o Brasil na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas, antes de adentrarmos nas especificidades do Estatuto, vamos analisar, brevemente, a evolução do tratamento jurídico dispensado às crianças e aos adolescentes, no cenário nacional? 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 16/42 O Código de Menores, promulgado em 10 de dezembro de 1927, estabeleceu a maioridade penal, no Brasil, definindo que os menores de 18 anos não poderiam mais ser responsabilizados penalmente pelos seus atos. No entanto, esse Código ainda não reconhecia crianças e adolescentes como sujeitos de direitos. Em 1979, foi editado um novo Código de Menores, Lei nº 6.697/79. Nesse instrumento, o foco era o menor em situação irregular, ou seja, aquela criança ou adolescente que se encontrava em situação de abandono, maus tratos, com desvio de condutas ou ainda em conflito com a lei. Esse período é conhecido pela doutrina como a etapa do tratamento tutelar ou Doutrina da situação irregular. Durante a vigência deste Código, crianças e adolescentes também não eram vistas como sujeitos de direitos, muito menos como pessoas em desenvolvimento, mas como um objeto de proteção do Estado. Percebeu-se, então, que o Código de Menores estava distante do entendimento a respeito dos direitos da criança e do adolescente no contexto mundial, sendo imprescindível uma mudança de postura. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 17/42 2. A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL Finalmente, em 05 de outubro de 1988, foi promulgada a nova Constituição Federal, também conhecida como Constituição Cidadã. Ela é a lei fundamental e suprema do Brasil. Em seu artigo 227, ela consagrou a Doutrina da Proteção Integral: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. ~ 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 18/42 A partir de então, as crianças e os adolescentes deixaram de ser considerados como objeto de proteção do Estado e passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, a quem são conferidos todas as garantias fundamentais peculiares a essa condição. Finalmente, dois anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, surge no plano infraconstitucional (abaixo da Constituição), o Estatuto da Criança e do Adolescente, também conhecido como ECA, instituído pela Lei nº 8.069/90. O ECA revolucionou o tratamento legal dispensado a pessoas com menos de 18 anos de idade. Ele é chamado de Estatuto, porque é um conjunto de normas e direitos fundamentais indispensáveis à formação integral de crianças e de adolescentes, sendo o primeiro e mais importante diploma legal no que se refere à tutela dos direitos infanto-juvenis. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 19/42 Fundamentos da Doutrina da Proteção Integral: (1) Crianças e adolescentes são sujeitos de direitos. (2) Crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento, e devem ser respeitadas como tal. (3) Crianças e adolescentes possuem prioridade absoluta. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 20/42 Muito diferente do antigo Código de Menores, o ECA não mais se limita a tratar das medidas repressivas contra os atos infracionais praticados por menores. Com a visão mais humana, já em seu artigo 1º, estabelece a proteção integral à criança e ao adolescente. Entenda seus fundamentos: Pela Doutrina da Proteção Integral, as crianças e os adolescentes são sujeitos de direitos! Ou seja, são titulares de direitos que devem ser respeitados e observados por todos (família, sociedade e Estado), cabendo a qualquer pessoa buscar o amparo do Poder Judiciário em caso de descumprimento. A doutrina da proteção integral também reconhece que as crianças e os adolescentes são pessoas em desenvolvimento, ou seja, entende-se que essa é uma etapa de grandes transformações na vida do ser humano, necessitando de atenção e de cuidados especiais, principalmente, nos seis primeiros anos de vida, período que é reconhecido como primeira infância. É por esse motivo, que a Lei nº 13.257/2016 dá destaque às políticas públicas voltadas à primeira infância. Ela também será objeto de nossos estudos nas próximas unidades. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 21/42 O artigo 4° do ECA é a transcrição da primeira parte do artigo 227 da Constituição Federal, atribuindo à família, à sociedade e ao poder público o dever de assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Esse artigo também estabelece o princípio da prioridade absoluta, emseu parágrafo único. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 22/42 Essa garantia compreende: Prioridade Absoluta a) A primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) A precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) A preferência na formulação e na execução das políticas sociais; e, d) A destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 23/42 Vamos testar seus conhecimentos? Veja se consegue responder a questão a seguir. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 24/42 A garantia de prioridade absoluta dos direitos das crianças e dos adolescentes, fundamento da Doutrina da Proteção Integral, foi instituída, pela primeira vez no Brasil por meio do art. 227 da Constituição Federal de 1988. A afirmativa está correta. A afirmativa está errada. Confirmar Questão 1 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 25/42 3. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente regulamentou o artigo 227 da Constituição Federal, disciplinando um amplo rol de direitos fundamentais, que estão previstos do art. 7º ao art. 69. Esses direitos encontram seu fundamento na dignidade da pessoa humana, e, por esse motivo, são considerados indispensáveis à sua proteção integral e à sua formação como pessoa em desenvolvimento. É, por isso, que o artigo 3º do ECA dispõe que a criança e o adolescente, sem qualquer discriminação, gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e as facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Qualquer atentado, por ação ou omissão, aos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes deverá ser punido na forma da lei (art. 5º ECA). Vamos ver como o Estatuto classificou esses direitos? 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 26/42 Atenção! Este rol de direitos fundamentais não é taxativo! Isso significa que as crianças e os adolescentes possuem, além destes, todos os direitos humanos e fundamentais previstos em normas Constitucionais e infraconstitucionais. Direito à Vida e à Saúde (Art. 7º ao 14) Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade (Art. 15 ao 18) Direito à Convivência Familiar e Comunitária (Art. 19 a 52-D) Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer (Art. 53 a 59) Direito à Profissionalização e à Proteção No Trabalho (Art. 60 a 69) Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 27/42 A maioria dos direitos fundamentais previstos no ECA, possuem um caráter prestacional. E o que isso quer dizer? Significa dizer que por estarem intimamente ligados com o princípio da dignidade da pessoa, eles contêm deveres que são impostos ao poder público, aos pais e aos responsáveis pelas crianças e pelos adolescentes, sob pena de se buscar o amparo do Poder Judiciário em caso de descumprimento. Os direitos fundamentais refletem claramente a proteção integral apregoada na Constituição Federal e no ECA. Porém, o desafio que atinge a todos (famílias, sociedade e Estado) é o de dar efetividade a esses direitos e concretizar os princípios e as diretrizes da proteção integral, a fim de que não representem apenas uma conquista formal, mas uma realidade. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 28/42 Para alcançar estes objetivos, a formulação e a execução das políticas públicas, objetivando a concretização dos direitos fundamentais, deve se dar por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (confira o art. 86 do ECA). Essas ações devem ser orientadas pelas inovadoras diretrizes da política de atendimento trazidas pelo ECA, em seu art.88. Merecem destaque as seguintes: a) a municipalização do atendimento; b) a criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis; c) integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social; e d) formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do adolescente que favoreça a intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimento integral. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 29/42 Essa nova Política de Atendimento foi adotada com amparo na Constituição Federal, rompendo, mais uma vez, todos os vínculos com o modelo de atendimento centralizado, vertical e assistencialista do antigo Código de Menores. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 30/42 Vamos testar seus conhecimentos? Veja se consegue responder a questão a seguir. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 31/42 Pela interpretação do Estatuto da Criança e do Adolescente, o dever de cuidado e de proteção a toda e qualquer criança e adolescente passou a ser um dever exclusivo do Estado. A afirmativa está correta. A afirmativa está errada. Confirmar Questão 2 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 32/42 Imagine a situação abaixo: Uma criança diagnosticada com distúrbio da atividade e da atenção (CID 10 - F90.0), dislexia e outros transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares, necessitava do uso contínuo do medicamento Ritalina LA 30mg, mas a sua família não tem condições financeiras para custear o seu tratamento. Os medicamentos fornecidos pelo SUS são ineficazes para o tratamento da patologia. Agora, tente responder: A impossibilidade de custear o tratamento médico adequado para esta criança, por parte da sua família, resultará na privação do seu direito fundamental à saúde? 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 33/42 Resolução do Caso: NÃO! O direito à saúde é um direito fundamental da criança e do adolescente garantido tanto em âmbito constitucional, quanto pelo ECA (art. 7º): “ A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.” 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 34/42 Aliado a isso, conforme o parágrafo 2º, Artigo 11 do ECA, inserido no rol do Capítulo do Direito Fundamental à Vida e à Saúde: “Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades específicas”. Portanto, para que esse direito seja garantido a essa criança, o poder público deverá fornecer o medicamento necessário ao seu tratamento, cuja família não tenha condições de arcar, sob pena de se buscar o amparo do Poder Judiciário para exigir o seu cumprimento. 12/17/2020 ECA22020: Unidade1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 35/42 Conheça o caso da menina Mary Ellen Wilson, considerado como o marco da luta pelos direitos da criança e do adolescente, no cenário internacional: O caso envolvendo Mary Ellen Wilson, nascida em 1864, na cidade de Nova Iorque, filha de Francis e Thomas Wilson, deu início a um movimento em prol dos direitos de crianças e adolescente, com a criação da Sociedade de Prevenção da Crueldade contra Criança, no fim do século XIX. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 36/42 Logo após o seu nascimento, o pai biológico de Mary Ellen faleceu e a sua mãe precisou trabalhar para o sustento da família. Por não ter condições de cuidar da criança, Francis Wilson entregou a filha para uma “cuidadora” que, posteriormente a levou para um “Departamento de Caridades” da cidade. Mary Ellen foi adotada, de maneira ilegal, pelo casal Mary e Thomas McCormack. Mary Ellen foi vítima de maus tratos e negligência por parte da sua “mãe adotiva”. Após denúncias de vizinhos, o caso chegou à justiça. Na época já existiam algumas regras protetivas a respeito de crianças negligenciadas, mas as autoridades fizeram pouco caso da denúncia apresentada. Em seu depoimento, a criança confirmou que sofria agressões físicas severas por parte da sua “mãe adotiva” todos os dias e que era proibida de sair de casa. Finalmente o caso foi julgado com base em um argumento utilizado pela American Society for the Prevention of Cruelty to Animals – ASPCA, de que se não havia justiça para ela na condição de criança, que fosse então protegida como um animal que vivia nas ruas. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 37/42 Outras indicações: Para uma maior compreensão a respeito da evolução do tratamento dado à infância, sugiro a leitura do livro de ARIÈS sobre a invenção da infância (ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981). Estudar a respeito da Lei do Ventre Livre, do Movimento de Salvação da Criança e as razões para o nascimento da Justiça de Menores podem ampliar a compreensão da evolução do tratamento jurídico conferido às crianças e aos adolescentes. Pesquise, também, a história da Roda dos Expostos no Brasil, período do tratamento indiferenciado à infância. Um resumo pode ser encontrado no link: http://ainfanciadobrasil.com.br/seculo-xviii-os-enjeitados/ Se houver interesse em aprofundar os conhecimentos a respeito da substituição da doutrina da situação irregular pela doutrina da proteção integral, indico a leitura do Artigo: Fundamentos históricos e principiológicos do direito da criança e do adolescente: bases conceituais da teoria da proteção integral, disponível para leitura em: http://seer.upf.br/index.php/rjd/article/download/7840/4646 http://ainfanciadobrasil.com.br/seculo-xviii-os-enjeitados/ http://seer.upf.br/index.php/rjd/article/download/7840/4646 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 38/42 Até a Constituição de 1988, vigorava no Brasil a Doutrina da Situação Irregular, que considerava as crianças e os adolescentes apenas como objetos de proteção do Estado, tutelados pelo antigo Código de Menores de 1979. O foco era apenas os “menores” que se encontrava em situação de abandono, de maus tratos, com desvio de condutas ou em conflito com a lei. A mudança de paradigma fruto de uma construção coletiva e inspirada nos instrumentos internacionais mencionados ao longo da unidade, deu-se com a promulgação da Constituição Federal de 1988 que, em seu artigo 227, abraçou a doutrina da proteção integral no Brasil. As crianças e os adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos e pessoas em desenvolvimento, gozando de absoluta prioridade na consolidação de seus direitos fundamentais, principalmente no campo das políticas públicas. Foi então, que no campo infraconstitucional, um novo diploma legal surgiu para tutelar amplamente os direitos da criança e do adolescente, reafirmando a responsabilidade da família, da sociedade e do Estado na garantia dos direitos fundamentais e na proteção contra todas as formas de negligência, de discriminação, de exploração, de violência, de crueldade e de opressão: O Estatuto da Criança e do Adolescente, marco legal dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 39/42 Para finalizar essa Unidade, assista ao vídeo: Fim de Papo e realize as atividades avaliativas que estão disponíveis na página do curso. São duas atividades: a fixação de conteúdo e o vamos colocar em prática? Parabéns por ter chegado até aqui! 12/17/2020 ECA22020: Unidade 1 - Conteúdo Interativo https://endica.mdh.gov.br/mod/h5pactivity/view.php?id=333 40/42 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm >. Acesso em: 20 de maio de 2020. BRASIL. Lei de nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 20 de maio de 2020. BARROS, Guilherme Freire de Melo Barros. Direito da criança e do adolescente. 8ª edição. Salvador: JusPODIVM, 2019. RIZZINI, Irene. Justiça e Assistência à Infância no Brasil. In: GONÇALVES, Rafael S (Org). O Papel Social da Infância na Imposição da Ordem Urbana na Passagem do Século XIX para o XX. Pobreza e Desigualdade Social: Ontem e Hoje. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013, p. 33-50. KONZEN, Afonso Armando. Fundamentos do Sistema de Proteção da Criança e do Adolescente. In: Revista do Ministério Público do RS. 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