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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO Maurício Tintori E-book 4 Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 O QUE É A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO? �������������������������������������������������4 ÉMILE DURKHEIM: OS PERCURSOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ���������� 8 KARL MARX: CRÍTICA À EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO SOCIAL ������������������������������ 14 MAX WEBER: A EDUCAÇÃO COMO FATOR DE DIFERENCIAÇÃO SOCIAL �20 A SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E A EDUCAÇÃO �����������������������������������������24 Norbert Elias ���������������������������������������������������������� 24 Pierre Bourdieu ������������������������������������������������������ 28 Anthony Giddens ��������������������������������������������������� 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������36 SÍNTESE �������������������������������������������������������38 2 INTRODUÇÃO Aqui você poderá aprender sobre algumas perspec- tivas da sociologia sobre a educação� Procuraremos esboçar, nesta unidade, uma reflexão sobre o papel da educação na sociedade, que pode ser desde um importante instrumento de socialização entre os in- divíduos até como uma instituição responsável pela formação cidadã e profissional das pessoas, além de exercer a função de transmissora das heranças culturais das mais diversas civilizações espalhadas pelo mundo� Como ponto de partida, abordaremos as perspectivas sociológicas clássicas sobre a educação� 3 O QUE É A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO? A educação torna-se um dos objetos de estudo e análise sociológica ainda no século 19� Na realidade, a própria educação passa por transformações nesse período. Com a valorização do pensamento científico e a modernização estimulada pela consolidação do modo de produção capitalista na sua fase industrial, a educação deixa de ser instrumentalizada como um meio de transmissão de valores morais, filosóficos e religiosos, passando a ser uma instituição cuja fun- ção é transmitir o conhecimento científico necessário para o exercício de um ofício que necessita desse tipo de saber� Como apontou Paulo Meksenas (apud NERY, 2013, p� 20): Será nesse contexto ideológico da nascen- te sociedade industrial que nasce uma nova instituição responsável por essa educação: a escola. Percebemos que uma das caracte- rísticas da revolução ideológica capitalista foi transportar uma educação que durante o feudalismo ocorria na família e na Igreja para a instituição da escola. Nasce assim a esco- la: uma instituição com normas específicas, agentes próprios (diretores, professores, alu- nos, orientadores pedagógicos etc.) e toda uma hierarquia. A escola se propõe o objeti- vo de preparar os indivíduos para a vida em 4 sociedade ao mesmo tempo que desenvolve aptidões pessoais. Com isso nasce também uma nova estrutura de ensino: muitas salas de aula, muitos alunos em uma só sala, provas, notas, porcentagens de frequência, carteiras em filas, diplomas. Tudo com o objetivo de educar uma massa cada vez maior de indi- víduos, tentando adaptá-los aos valores des- sa nova sociedade capitalista do século 18. A escola que conhecemos hoje é, portanto, produto dos séculos 18 e 19, período em que aparece a ideia da necessidade de educação pública e obrigatória para todas as pessoas. Portanto, a escola surge nesse contexto como a insti- tuição responsável em preparar e capacitar às novas gerações dentro dos valores burgueses da sociedade capitalista industrial� Ou seja, uma instituição respon- sável pela socialização dos indivíduos, passando a di- vidir um espaço até então hegemonizado, no mundo ocidental, pela família e pela Igreja� A escola passa a ser um local destinado à transmissão de conhe- cimentos técnicos, necessários para o exercício de uma profissão. Mas o papel da escola não se reduziu a isso, pois ela assumiu o papel de transmissora das crenças inerentes a esta sociedade moderna que emergia� Entre estas crenças, podemos citar a valorização do trabalho como uma atividade útil e importante para impulsionar o progresso técnico e social; e a meritocracia, a ideia de que o indivíduo 5 pode ascender socialmente exclusivamente por meio do seu empenho, talento e conhecimento� Inerente ao processo de socialização, a escola exer- cerá também o controle social, instituindo normas de comportamento e procedimentos com o objetivo de doutrinar os indivíduos de acordo com os padrões morais hegemônicos em uma determinada socieda- de� Segundo Oliveira (apud NERY, 2013, p� 25): A educação tem por finalidade ajustar os edu- candos aos padrões culturais vigentes. Esse processo de adequação permite que os edu- candos sejam capazes de estar integrados à sociedade de acordo com o próprio desenvol- vimento cultural. É assim que a sociedade se mantém em ordem. REFLITA Qual o papel da educação na sociedade contem- porânea? De que forma a educação e a escola influenciaram na sua formação e na constituição de sua visão de mundo? As escolas no Brasil exercem efetivamente o papel de controle social, da forma como exposta no texto? 6 Figura 1: Escola: socialização e controle social. Fonte: Unsplash. Como vimos na unidade anterior, a Sociologia surgiu com a proposta de pesquisar, analisar e compreender uma sociedade que estava em um intenso processo de transformações e mudanças denominado por muitos de modernização� Como a educação é algo intrínseco na vida social, esta se tornou um objeto de estudo específico no campo da Sociologia, adotando suas próprias metodologias de pesquisa e análise, embasadas por determinados paradigmas teóricos� A seguir, veremos como os teóricos clássicos da Sociologia analisaram a educação� 7 https://unsplash.com/photos/zFSo6bnZJTw ÉMILE DURKHEIM: OS PERCURSOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Além de ser considerado o teórico que consolidou a Sociologia como disciplina acadêmica, construindo uma metodologia científica rigorosa para o campo de pesquisa, Émile Durkheim dedicou boa parte de seus estudos à Educação, sendo o primeiro autor a afirmar que ela é um processo social, e, como tal, deve ser objeto de estudo e análise sociológica� Não por acaso, Durkheim é considerado o fundador da Sociologia da Educação� O sistema educacional, segundo Durkheim, tem a função de perpetuar os valores da coletividade, in- tegrando as novas gerações por meio da aprendiza- gem das normas e regras sociais� Dessa forma, a educação teria como função social a socialização dos indivíduos, com o objetivo de consolidar e perpe- tuar determinados, valores morais e conhecimentos necessários para a manutenção da ordem social� Segundo Nery (2013, p� 37), para o sociólogo francês: A educação se constituiria como a principal fonte de socialização, na medida em que ela (a educação) permitiria a internalização das normas e das regras presentes na sociedade. Encontramos aí a concepção de que o pro- cesso de socialização equivale ao processo de educação, pois é o ato de educar que os 8 indivíduos e os grupos acabam por interiorizar todos os elementos da moral que se encon- tram presentes no meio social. Assim, a escola assumiria o papel de moldar as crian- ças conforme as necessidades exigidas, visando à coesão social, impedindo o caos e a desordem (elementos que caracterizariam uma sociedade em estado de anomia, segundo Durkheim)� Para o soci- ólogo francês (apud LOPES, 2012, p� 6): “a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade no seu conjunto e o meio ao qual se destina particularmente”� Durkheim defende que a escola deve ser pública e laica, embora não seja contrário à iniciativa privada na área da educação, mas desde que as escolas par- ticulares se submetam aos interesses da sociedade, representados pela ação do Estado� A educação, segundo Durkheim, deve ter como prin- cipal função consolidar a coesão social, transmitindo principalmenteos conhecimentos relacionados à educação moral e cívica, à qualificação profissional e à aprendizagem da estrutura social e o papel que o indivíduo na engrenagem social� Seria na escola que o indivíduo aprenderia a não colocar os seus interesses acima dos da sociedade� Caberia aos pais e professores formar a criança como um ser social, visando “perpetuar e reforçar a homogeneidade entre os membros de uma sociedade, fixando com ante- 9 cedência na alma da criança as similitudes que a vida coletiva exige”. (DURKHEIM apud LOPES, 2012, p� 6)� Assim, a educação é um processo ininterrupto de socialização do indivíduo, com a finalidade de fazer do aluno um ser realmente humano, pois para o sociólogo francês, um homem só é plenamente humano se for um ser social� Entretanto, isso não deve afetar a sua formação como um indivíduo com interesses particulares, pois indivíduo e sociedade se complementam, na visão do fundador da sociologia funcionalista� Entretanto, para a educação e, mais precisamente, a escola exercer plenamente o seu papel social, elas devem exercer uma influência co- ercitiva, autoritária, sobre os alunos� Como apontou Atisiano (apud NERY, 2013, p� 40): Para Durkheim, a educação exerce coerção sobre os indivíduos, obrigando-os a se con- formarem aos seus conteúdos, costumes e hábitos, desenvolvidos na escola e presentes na sociedade, isto é, para sermos aceitos na coletividade em que vivemos, é preciso que nos adaptemos às posturas por elas deter- minadas [...]. A educação [...] apresenta-se independente dos indivíduos, ela é uma força maior do que eles, que lhes dita comporta- mentos exigidos pela sociedade. 10 REFLITA Em uma sociedade cada vez mais marcada pela diversificação, o modelo educacional proposto por Durkheim, cujo principal objetivo era tornar a sociedade homogênea, na qual as diferenças entre os indivíduos fossem as menores possí- veis para o bem da coletividade, ainda poderia ser adotado? Tal proposta pode ser considerada autoritária, ao impor uma identidade homogê- nea para todos os indivíduos? Tal poder coerci- tivo, visando à coesão social, ainda teria alguma eficácia em uma sociedade caracterizada pela complexidade? O sistema educacional proposto por Durkheim deve ser meritocrático, no qual as individualidades mais capacitadas são premiadas� Além disso, a educação, a partir de certa idade, não deve ser a mesma para todos, sendo direcionada a partir daí para a espe- cialização, com o objetivo de capacitar profissional- mente o aluno e, assim, ser uma instituição capaz de colaborar com a divisão social do trabalho� Para Durkheim (apud LOPES, 2012, p� 7): “é a sociedade que, para poder subsistir, precisa que o trabalho se divida entre os seus membros [���]� É por isso que pre- para com suas próprias mãos, pela via da educação, os trabalhadores especializados de que precisa”� O papel do professor, segundo Durkheim (apud LOPES, 2012, p� 7), é representar os interesses da sociedade, interpretando e transmitindo “as gran- 11 des ideias morais do seu tempo e de seu país”� Entretanto, tais ideias variam conforme o contexto histórico, sofrendo mudanças conforme a passagem do tempo� Para ele, educação e pedagogia são coisas distintas� A primeira é a relação entre os educadores (pais e professores) e as crianças voltada para a for- mação das novas gerações dentro das regras sociais, visando a sua integração, transmissão e reprodução dos valores hegemônicos de uma determinada so- ciedade. Já a segunda seria a reflexão sobre os fatos que envolvem a educação, sendo uma ciência que deve contribuir para o próprio desenvolvimento do processo educativo� FIQUE ATENTO Herdeira do positivismo, a Sociologia Educacio- nal de Émile Durkheim sistematizou metodolo- gicamente as práticas pedagógicas atualmente denominadas de tradicionais e que ainda estão presentes em várias salas de aulas em diversas partes do mundo� A disposição das carteiras em fileiras e a postura do docente como “mestre do saber”, hierarquicamente superior aos alunos, são exemplos de uma organização do espaço escolar influenciada pelas perspectivas durkheimianas. 12 Figura 2: O Professor como mestre do saber. Fonte: PXHere. 13 https://pxhere.com/pt/photo/826369 KARL MARX: CRÍTICA À EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO SOCIAL Karl Marx, diferentemente de Émile Durkheim, não escreveu nenhuma obra especifica sobre educação, mas abordou o tema ao longo de suas obras, onde critica a desigualdade social no modo de produção capitalista� Para o materialismo-histórico-dialético: [...] toda a formação social possui uma INFRAESTRUTURA [ou ESTRUTURA, como indicam alguns autores], em que se encon- tram as relações sociais de produção, e uma SUPERESTRUTURA, em que estão presentes três instâncias: a ideológica, a jurídica e a política. A infraestrutura determina a supe- restrutura social, que, por sua vez, legitima as relações sociais de produção presentes na infraestrutura. Considerando a superestrutura em Marx, podemos verificar que a educação faz parte da superestrutura social, na instância ideológica. (NERY, 2013, pp. 34-35) Em outras palavras, para o materialismo histórico- -dialético, a educação faz parte da superestrutura da sociedade (assim como a política, o judiciário e a cultura, de uma maneira geral), sendo um instrumento 14 ideológico de legitimação de uma sociedade basea- da na exploração do trabalho da classe operária por parte da burguesia. Assim, a escola exerceria um importante papel nesse processo ao construir uma imagem de naturalidade a uma ordem social cons- tituída historicamente, a partir das relações sociais de produção� Na sociedade burguesa, o professor teria não apenas a função de transmitir o conhecimento, mas sim as- sumiria o papel de transmitir a ideologia das classes dominantes para os alunos, principalmente os da classe operária, que acabariam formando uma “falsa consciência de classe” ao assumir para si os valores burgueses e considerando a sua própria exploração algo “natural”� Assim, crenças como a meritocracia, baseada na ideia de que o indivíduo pode ascen- der socialmente por meio do seu próprio empenho no trabalho, seriam transmitidas pela escola com o objetivo de perpetuar a ordem social capitalista, transmitindo-a, de forma renovada, de geração para geração� Figura 3: Tira dos quadrinhos da personagem Mafalda satirizando a meritocracia. Fonte: Wikimedia. Para Karl Marx, a educação só deixaria de exercer o papel de aparelho ideológico da burguesia na 15 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Meritocracia_mafalda.gif sociedade capitalista após a revolução socialista� No socialismo, segundo o pensador alemão, a es- cola deixaria de ser mero instrumento legitimador da sociedade burguesa e passaria a ser um agente de transformação social� Como apontaram Silva e Carvalho (apud NERY, 2013, p� 35): A esperança de Marx por uma nova sociedade não pode ser construída sem a presença da ação educativa. No Manifesto [Comunista], ele deixa claro que a educação deve ser levada em consideração no momento de se elaborar qualquer projeto de superação das relações sociais burguesas. É preciso, segundo ele, ar- rancá-la da influência da classe dominante, do modo burguês de ver o mundo, se não quiser- mos ver que as crianças sejam transformadas em “simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho”. [...] Pensando a educação como parte de sua utopia revolucio- nária, Marx identificou nela uma arma valiosa a ser empregada em favor da emancipação do ser humano, de sua libertação da exploração e do jugo do capital – a construção da socie- dade comunista. Para isso se concretizar, Marx sugeriu algumas me- didas que deveriam ser tomadas pelo Estado con- trolado pelo proletariado, entre elas: Educação pública e gratuita para todos: a educação se tornaria um direito dos cidadãos, ou seja, qualquer 16 homem ou mulher poderia ter acesso a elanas es- colas públicas, sem nenhum custo para as famílias� Curiosamente, essa reivindicação do materialismo histórico foi assimilada e adaptada posteriormen- te por Émile Durkheim, mas sob outra perspectiva, mais conservadora e propondo a coexistência com o ensino privado� A partir das últimas décadas do século 19, diversos países adotaram o sistema pú- blico de educação, algo reivindicado pelo movimento dos trabalhadores, mas que passou a ser desejado pela própria burguesia, que com o avanço tecnológi- co necessitava de uma mão de obra cada vez mais qualificada. Figura 4: Professores reivindicando escola pública de qualidade. Fonte: Educação UOL. Educação voltada para a formação do indivíduo como um trabalhador: para Marx, é a partir do tra- balho que o homem construiu historicamente a socie- dade� E, pensando na superação do capitalismo e na constituição de uma sociedade socialista, o pensador alemão concebeu uma formação integral do aluno 17 https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2015/10/06/estudantes-protestam-contra-fechamento-de-escolas-publicas-de-sp.htm#fotoNav=567 que abrangeria três aspectos: 1- a Educação intelec- tual (historicamente restrita às elites, até então); 2- a Educação corporal (a Educação Física, composta por exercícios de ginástica e até exercícios militares); 3- a Educação tecnológica, o ensino da ciência, da produ- ção industrial e iniciação ao manuseio de máquinas utilizadas na produção industrial� Nesse modelo de educação, tanto homens quanto mulheres seriam capacitados para exercer mais de uma profissão, rompendo-se a barreira que existia entre o trabalho intelectual e o manual, um dos fatores que estabe- leciam a divisão social do trabalho e a sociedade de classes. Paradoxalmente, esse foi outra proposta de origem marxista que acabou sendo assimilada pelo sistema educacional da sociedade capitalista, devidamente adaptada para gerar lucratividade e formar mão de obra� Figura 5: Escola de tempo integral. Fonte: Jornal Atos. 18 http://jornalatos.net/regiao/cidades/guaratingueta/pinda-e-guara-ganham-unidades-do-escola-de-tempo-integral-em-2018/ Para o materialismo histórico-dialético, a educação tem uma função social política, que revertida para a construção de uma sociedade sem dominação e exploração de uma classe social sobre a outra, pode ser um instrumento de emancipação de homens e mulheres, algo essencial para a construção de uma nova sociedade, segundo Karl Marx. Tal perspectiva influenciou, posteriormente, diversos intelectuais e pedagogos que dedicaram seus estudos e análises à temática da educação, como foi o caso do brasileiro Paulo Freire, o fundador da Pedagogia da Autonomia� Podcast 1 19 https://famonline.instructure.com/files/118634/download?download_frd=1 MAX WEBER: A EDUCAÇÃO COMO FATOR DE DIFERENCIAÇÃO SOCIAL Assim como Karl Marx, Max Weber também conside- rava a educação como um instrumento de dominação de classe na sociedade capitalista. Entretanto, Weber analisa outros aspectos dessa dominação, pois esta não se restringiria à exploração de uma classe social sobre a outra ou à formação de mão de obra para o mercado de trabalho, mas seria um instrumento que legitimaria o monopólio dos empregos e cargos mais valorizados para os detentores de diplomas universitários� Ou seja, na perspectiva weberiana, a universidade exerceria não apenas o papel de for- mar, mas de realizar provas visando selecionar os indivíduos mais aptos para exercerem ocupações privilegiadas na sociedade e, dessa forma, conquis- tarem “status social”� Através disso, a educação se torna um meio para o indivíduo conquistar ascensão social, prestígio e maiores salários na sociedade capitalista. Para Weber, a educação é um fator de diferenciação social� Desta forma: A educação, para Weber, no contexto de uma sociedade marcadamente racionalizada, es- taria em estreita relação com a estratificação social, com meios de distinção e de obtenção de certas honras que envolvem o poder e o dinheiro [...] (NERY, 2013, p. 47). 20 Inserida na estrutura burocrática do Estado, a escola, segundo Weber, seria um local também marcado pe- las relações de poder, instituindo diferentes formas de dominação� Ao mesmo tempo, no decorrer da história, o sociólogo alemão identificou tipos diferen- tes de educação, cada uma estimulando diferentes aspectos da formação humana� Assim, teríamos três tipos diferentes de educação: 1- Educação carismática: voltada para o estímulo do “talento natural” do indivíduo, associada simbolica- mente com as “qualidades heroicas” ou com “dons mágicos”� Na realidade, a educação carismática constitui um tipo de educação sem pedagogia, pois o carisma de tais personalidades não é algo que seja possível de ser ensinado para todos, pois este é um dom natural que nasce com elas� As personalidades carismáticas seriam personalidades talentosas que se destacam em seu campo de atuação por revela- rem um talento especial, como foram os casos de Mozart ou Beethoven na música clássica; 2- Educação humanística: também conhecida como pedagogia do cultivo, é direcionada para a formação intelectual do indivíduo� Nesse tipo de educação, se formariam homens cultos, intelectualizados, capaci- tados para auxiliar no desenvolvimento das diversas áreas do conhecimento� Como apontou Rodrigues (apud NERY, 2013, pp� 47-48), esse tipo de educação: [...] procura formar um tipo de homem que seja culto, onde o ideal de cultura depende da camada social para a qual o indivíduo está 21 sendo preparado, e que implica em prepará-lo para certos tipos de comportamento interior (ou seja, para a reflexividade) e exterior (ou seja, um determinado tipo de comportamento social). Tal processo educacional assumia o aspecto de uma “qualificação cultural”, o sen- tido de uma educação geral, e destinava-se, ao mesmo tempo, a determinado grupo de status (sacerdotes, cavaleiros, letrados, intelectuais humanistas, etc.), e à composição do aparato administrativo típico das formas tradicionais de dominação política. 3- Educação racional-burocrática: também denomina- da por Weber de pedagogia do treinamento, é aquela voltada à especialização do indivíduo em alguma profissão que exija um conhecimento técnico. Na sociedade capitalista, o especialista em uma deter- minada função irá ter maiores possibilidades de as- censão na estrutura burocratizada das instituições da sociedade capitalista. Assim, por exemplo, o diploma universitário torna-se um símbolo de diferenciação social no qual os seus detentores têm mais possibili- dades de conquistar postos que exigem qualificação e pagam melhores salários� Nas palavras de Nery (2013, p� 48): [...] Esse tipo de educação supõe um preparo especializado no sentido de transformar o in- divíduo num técnico, num perito. Entendemos que a pedagogia do treinamento é predomi- nante no contexto da modernidade, ao mesmo tempo que é uma pedagogia que envolve a as- censão social e a obtenção de status privado. 22 REFLITA Na sociedade brasileira contemporânea, um di- ploma universitário realmente possibilita a con- quista de vagas de emprego mais valorizadas e, portanto, com maiores salários? Ou é possível para pessoas com menor grau de escolaridade conseguirem ascender socialmente? Figura 6: Formatura. Fonte: Pixabay. SAIBA MAIS Sobre as reflexões dos sociológicos clássicos sobre a educação, analise o artigo de Paula Cris- tina Lopes, Educação, Sociologia da Educação e teorias sociológicas clássicas, disponível em http://www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao- -sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf, acesso em: 24 jun� 2019� 23 https://pixabay.com/pt/photos/estudantes-universit%C3%A1rios-diploma-3990783 http://www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao-sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf http://www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao-sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf A SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E A EDUCAÇÃO No decorrer do século 20, produziram-se importantesreflexões sociológicas importantes para pensarmos a relação entre homem e sociedade na contemporanei- dade� Entre diversos autores, abordaremos nesta par- te mais especificamente pensadores sociais como o alemão Norbert Elias, o francês Pierre Bourdieu e o inglês Anthony Giddens, cujas releituras das teo- rias clássicas da Sociologia foram cruciais para a compreensão da sociedade contemporânea� A obra destes autores também abriu espaço para novas reflexões sobre o papel da educação na sociedade. Norbert Elias A teoria sociológica de Norbert Elias (1897-1990) é conhecida como sociologia processual, pois concebe a relação entre indivíduo e sociedade não como a de duas entidades diferentes e opostas, mas sim marca- da pela interdependência entre eles� Ou, mais preci- samente, entre a personalidade do indivíduo (esfera na qual estão envolvidos os aspectos psicológicos, importantes para compreender as mentalidades) e as estruturas sociais� Nas palavras de Elias (apud NERY, 2013, p� 131): 24 Por mais certo que toda pessoa é uma enti- dade completa em si mesma, um indivíduo que se controla e que não poderá ser con- trolado ou regulado por mais ninguém se ele próprio não o fizer, não menos certo é que toda a sua estrutura de autocontrole, cons- ciente e inconsciente, constitui um produto reticular formado por uma interação contínua de relacionamentos com outras pessoas, e que a forma individual do adulto é uma forma específica de cada sociedade [...]. O indivíduo forma a sua personalidade por meio das diversas interações sociais que realiza no decorrer de sua vida� Assim, a sua formação educacional não ocorre apenas no interior escolar ou no ambiente familiar, mas também nessas relações cotidianas� Dessa forma, na mesma pessoa convivem o “ser indi- vidual” e o “ser social”, não existindo separação entre eles� Na realidade, é na sua formação psicológica que o indivíduo desenvolve seu próprio autocontrole, necessário para adequar-se aos padrões sociais� Assim, diferentemente de Durkheim, que considerava o fato social exterior ao indivíduo e, por isso, tem o poder de exercer um controle sobre ele, Elias entende que a coerção ocorre internamente no indivíduo, no exercício de sua psique. Neste aspecto, o sociólogo alemão teve forte influência da teoria da psicanálise do austríaco Sigmund Freud (1856-1939)� Segundo Elias (apud NERY, 2013, p�133), é neste processo que: 25 O padrão social a que o indivíduo fora inicial- mente obrigado a se conformar por restrição externa é finalmente reproduzido, mais su- avemente ou menos, no seu íntimo através de um autocontrole que opera mesmo contra seus desejos conscientes. Desta forma, o pro- cesso sócio-histórico de séculos, no curso do qual o padrão do que é julgado vergonhoso e ofensivo é lentamente levantado, reencena-se em forma abreviada na vida do ser humano individual. O condicionamento dos seres humanos aos padrões sociais ocorre, segundo Elias, desde a infância� É por meio desse processo no qual o indivíduo internali- za os padrões sociais é que o indivíduo aprende e começa a fazer o exercício de autocontrole de suas atitudes perante a sociedade� Tal processo foi deno- minado por Elias de habitus, definido por Nery (2013, p�134) como: [...] o fator que indica os padrões de compor- tamento que são paulatinamente desenvolvi- dos, aceitos e também exigidos socialmente para o convívio no interior das denominadas configurações sociais, que se expressam de modo decisivo na formação das imagens do “eu” e do “nós” e sobre a produção e repro- dução das identidades “eu” e “nós” ao longo das gerações. 26 As reflexões de Norbert Elias são importantes para embasar teoricamente estudos psicossociais sobre a realidade educacional nos seus mais diferentes processos, que passa do cotidiano familiar até o am- biente escolar, além do convívio com as pessoas do seu grupo social ou de fora dele� Assim, é possível compreender o processo de formação de identida- des culturais dos diferentes grupos existentes em uma sociedade� E, no caso da escola, pode ser um referencial para a análise da sociabilidade entre indi- víduos e grupos sociais cada vez mais diversificados e complexos. FIQUE ATENTO A sociologia processual de Norbert Elias é um re- ferencial teórico importante para compreender o processo de construção da identidade do aluno em ambiente escolar, exercitando a capacidade de reconhecer os grupos sociais com qual tem mais afinidade e convivência e, ao mesmo tem- po, identificar as diferenças com relação a outros indivíduos de cultura diferente da dele� 27 Figura 7: Norbert Elias. Fonte: Wikimedia. Pierre Bourdieu Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um sociólogo fran- cês que dedicou parte de suas pesquisas ao estu- do da interação entre educação e cultura� Partindo da percepção inaugurada por Norbert Elias sobre a interação entre as estruturas mentais e as estrutu- ras sociais, Bourdieu foi além ao identificá-la como inerente ao processo de dominação e do jogo das relações de poder� Assim como Elias, Bourdieu trabalha com o conceito de habitus� Entretanto, enquanto o sociólogo alemão 28 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Socioloog_Norbert_Elias_onderscheiden_door_minister_Deetman_(Amsterdam),_Bestanddeelnr_934-0168.jpg trabalha tal conceito a partir de uma perspectiva rela- tivista, o pensador francês dá um sentido estruturalis- ta a tal ideia� Nas palavras de Bourdieu (apud NERY, 2013, p. 136), o habitus pode ser definido como um: Sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes, isto é, como princípio que gera e estrutura as práticas e representações que podem ser objetivamente “regulamentadas” e “reguladas” sem que por isso seja o produto de obediência de regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem que tenha necessidade de projeção consciente deste fim ou do domínio das operações para atingi-lo, mas sendo, ao mesmo tempo, cole- tivamente orquestradas sem serem produto da ação organizadora de um maestro. Em outras palavras, o habitus é a relação recípro- ca e dialética entre a estrutura social e a estrutura psíquica do indivíduo� Ou seja, a subjetividade do individuo é formada em um contexto social e histó- rico específico, a partir da percepção da realidade concreta vivenciada por cada pessoa em sua vida cotidiana� Nesse processo, o indivíduo internaliza subjetivamente a estrutura social, e é por meio dessa construção subjetiva que ele planeja as suas ações� Através dessa relação interdependente entre subje- tividade e objetividade: 29 Os indivíduos expressam socialmente o seu habitus de classe, por exemplo. Refletem em seu comportamento elementos da estrutura social; podemos dizer até mesmo que reprodu- zem em suas práticas sociais os determinan- tes estruturais mais abrangentes. As visões de homem e de mundo, por exemplo, não se encontram imunes às determinações da rea- lidade objetiva (NERY, 2013, p. 137). A educação tem um papel crucial nesse processo de construção do habitus� Esta atua inicialmente nas “experiências primitivas” do indivíduo, aquelas que ocorrem na educação familiar nos primeiros anos de vida da criança, consolidando-se no processo de socialização, na qual a escola exerce um importante e crucial papel� Para Bourdieu, o habitus ocorre no espaço onde ocor- rem as relações sociais, com todos os conflitos e contradições inerentes de um processo marcado, muitas vezes, pelos choques de interesses� Tal espa- ço é denominado pelo sociólogo francês de campo� E a escola não é apenas um desses campos, mas sim um “espaço onde encontramos formas de se- rem legitimadas as desigualdades sociais presentes na estrutura mais ampla, na medida em que esta mesma escola deve ser entendida de acordo com as dimensões das classes sociais” (NERY, 2013, p� 139)� Tendo como objeto de pesquisa o sistema edu- cacional francês, Bourdieu considerava que a escola,ao contrário do que o discurso ideológico hegemô- 30 nico defende, não é um espaço que proporciona a ascensão social e, tampouco a liberdade individual� Na realidade, a escola teria a função de manter as desigualdades sociais e a dominação da classe bur- guesa na sociedade capitalista� Dessa forma, como apontou Bussetto (apud NERY, 2013, p� 140): [...] não é por acidente que os filhos das classes dominantes têm mais sucesso na obtenção da cultura escolar e, consequente- mente, ingressam mais ampla e facilmente na universidade. Como membros de famílias portadoras de considerável capital cultural, tanto intelectual quanto material, eles adqui- rem um habitus social bastante concordante com o habitus escolar. Daí a facilidade deles na aquisição dos procedimentos, esquemas operatórios de pensamento, e linguagem mais enfaticamente exigidos pela escola, uma vez que, para eles, ao contrário dos filhos perten- centes a segmentos sociais culturalmente desfavorecidos, a experiência escolar é o pro- longamento da vida familiar e do seu grupo social. Enquanto, para os filhos das classes dominantes, a cultura escolar é a sua própria cultura – porém, reelaborada e sistematiza- da -, para os filhos das classes dominadas, a cultura da escola é experimentada como uma “cultura estrangeira” [...]. O sucesso do aluno na aquisição da cultura escolar supõe, de forma implícita, a posse de um capital cultural herdado pelos alunos oriundos das 31 famílias das classes dominantes. A escola, assim, contribui com a reprodução social, ou seja, a garantia da dominação pelos setores sociais dominantes. Podcast 2 Mesmo em um contexto marcado por uma maior democratização do ensino, Bourdieu reafirma que o sistema educacional ainda reproduz as desigual- dades sociais, pois enquanto os filhos das classes dominantes têm maior facilidade de acesso às es- colas de qualidade, as famílias das classes menos favorecidas são obrigadas, devido às suas condições, a matricular os seus filhos em escolas públicas que tem pouco investimento do Estado ou em instituições menos valorizadas no campo educacional� REFLITA Pensando na educação brasileira, a diferença na qualidade de ensino das escolas públicas com relação às escolas particulares poderia ser expli- cada a partir das reflexões de Pierre Bourdieu? Como a teoria do sociólogo francês poderia ser importante para compreender os problemas da área de educação do país, a partir da questão da desigualdade social? 32 https://famonline.instructure.com/files/118635/download?download_frd=1 Figura 8: Pierre Bourdieu. Fonte: Flickr. Anthony Giddens O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938- ) é um dos principais expoentes da sociologia contemporâ- nea. Mais especificamente sobre educação, Giddens concentrou-se principalmente no estudo dos impac- tos da tecnologia da informação sobre a educação, cujos efeitos provocam intensas transformações na área� Para Giddens, a introdução da informática nos pro- cessos de ensino tem provocado uma maior exclu- são social, pois aqueles que não têm acesso a um computador, internet, e outras tecnologias encontram maiores dificuldades para ter acesso à informação 33 https://www.flickr.com/photos/home_of_chaos/10838630106 e, com isso, encontram mais obstáculos para terem um bom desempenho escolar� Por outro lado, o sociólogo britânico destaca que a emergência do que chama de economia do conheci- mento, associada aos avanços tecnológicos na área da informática, estão transformando a maneira da sociedade conceber a educação� Em primeiro lugar, a educação começa a ser compreendida como um processo que dura toda a vida, e não apenas no perí- odo em que o indivíduo frequenta uma escola� Além disso, a aprendizagem passa a ocorrer em outros espaços, não apenas na sala de aula� O computa- dor e a internet permitem que os alunos possam ter acesso ao conhecimento escolar sem sair de casa� Em outras palavras, as pessoas podem utilizar ou- tras fontes para obterem o mesmo conhecimento que anteriormente era transmitido exclusivamente pela escola� Outro aspecto marcante na educação contemporâ- nea, segundo Giddens, é o fato de que, apesar de ain- da manterem-se as distinções de gênero no ambiente escolar, no qual ainda prevalece um ensino voltado para a formação dos homens, as mulheres vêm se destacando cada vez mais nas escolas� No ensino britânico, as meninas têm um desempenho escolar melhor do que os meninos� Além disso, Giddens res- salta que problemas sociais afetam o desempenho dos alunos, como o crime, o desemprego e a falta de uma figura paterna presente. Por fim, em suas pesquisas, Giddens percebe que, com a crescente presença do ensino privado nos sistemas educacionais em diversas partes do mundo, 34 os interesses comerciais privados têm sobressaído, muitas vezes em detrimento da qualidade de ensino� SAIBA MAIS Sobre os impactos da tecnologia da informa- ção na educação, leia o texto complementar de Anthony Giddens, “A Educação e a disparidade tecnológica”, presente nas páginas 148 e 149 do livro Sociologia da Educação, de Maria Clara Ramos Nery, disponível em https://bv4.digitalpa- ges.com.br/?term=Sociologia%2520da%2520Edu ca%25C3%25A7%25C3%25A3o&searchpage=1&f iltro=todos&from=busca&page=148§ion=0#/ legacy/9989, acessado em: 14 de julho de 2019� Figura 9: Anthony Giddens. Fonte: Wikimedia. 35 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthony_Giddens_at_the_Progressive_Governance_Converence,_Budapest,_Hungary,_2004_October.jpg CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro estudante, nesta unidade falamos sobre a Sociologia da Educação, abordando inicialmente a visão das teorias clássicas da Sociologia com rela- ção à educação� Entre os teóricos clássicos, Émile Durkheim é o único que dedicou parte de seus es- tudos à educação e seus impactos na sociedade� O sociólogo francês enfatizou o papel da escola como instituição cujo objetivo é promover a coesão social, transmitindo os padrões da sociedade para os indi- víduos desde a infância, preparando-os para serem indivíduos úteis à sociedade, cujos interesses não devem sobrepor-se a ela� Karl Marx adotou uma visão mais crítica com rela- ção à educação� Por um lado, enfatizou o papel das escolas em impor a ideologia hegemônica aos alu- nos em uma sociedade de classes, servindo como instrumento de dominação da burguesia na socie- dade capitalista� Por outro lado, vislumbrou que a educação pode exercer um papel importante para a transformação social na construção da sociedade socialista� Max Weber também analisou criticamente a educa- ção na sociedade moderna capitalista� Entretanto, en- fatizou mais o seu papel na formação de indivíduos capazes a exercerem funções no sistema burocrático de controle social (seja ele privado ou do Estado), além de tornar-se um meio para o indivíduo conquis- 36 tar um status social e, assim, ascender socialmente na hierarquia social� No século 20, outros sociólogos contribuíram para a análise da educação e do papel da escola na socie- dade� Norbert Elias enfatizou a questão da interna- lização das normas e padrões sociais por parte do indivíduo, processo denominado por ele de habitus, no qual o indivíduo se vê obrigado a obedecer aos padrões não apenas por fatores externos e gerais, mas sim internamente, por meio de fatores psicoló- gicos� Já Pierre Bourdieu, que trabalha também com o conceito de habitus, tem uma visão mais crítica do papel da educação na sociedade contemporâ- nea, cuja função seria legitimar as desigualdades sociais. Por fim, Anthony Giddens concentrou-se na análise dos impactos dos avanços tecnológicos da área informática na educação, que vêm provocando intensas transformações na área� 37 Síntese Nesta unidade, falamos sobre a Sociologia da Educação, abordando inicialmente a visão das teorias clássicas da Sociologia com relação à educação. Por fim, abordare- mos as contribuições de sociólogos como Norbert Elias, Pierre Bourdieue Anthony Giddens para as reflexões sobre a relação entre educação e sociedade na contem- poraneidade. Anthony Giddens. Pierre Bourdieu; Norbert Elias; A Sociologia Contemporânea e a Educação; Max Weber: a educação como fator de distin- ção social; Karl Marx: crítica à educação como instrumen- to de dominação social; Émile Durkheim: o percursor da Sociologia da Educação; O que é a Sociologia da Educação; Introdução; A unidade está dividida da seguinte forma: Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação Nesta unidade abordamos algumas perspectivas da sociologia sobre a educação. Esboçamos nesta unidade uma reflexão sobre o papel da educação na sociedade, que pode ser desde um importante instrumento de socialização entre os indivíduos até como uma instituição responsável pela formação cidadã e profissional das pessoas, além de exercer a função de transmissora das heranças culturais das mais diversas civilizações espalhadas pelo mundo. Como ponto de partida, abordamos as perspectivas sociológicas clássicas sobre a educação. Referências Bibliográficas & Consultadas COSTA, Cristina� Sociologia: Introdução à ciência da sociedade� 4� ed� São Paulo: Editora Moderna, 2010� LOPES, Paula Cristina� “Educação, Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas: Marx, Durkheim e Weber”. Centro de Investigação e Estudos da Sociologia do ICSTE-IUL. Disponível em: http:// www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao-sociologia- -da-educacao-e-teorias.pdf� Acesso em: 24 jun� 2019� NERY� Maria Clara Ramos� Sociologia da Educação� Curitiba: InterSaberes, 2013� QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Líria de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro� Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. ANTONIO, José Carlos� (Org�) Filosofia da Educação. São Paulo: Pearson, 2014� [Biblioteca Virtual]� Acesso em: 09 ago� 2019� COSTA, Cristina� Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 4� ed� São Paulo: Editora Moderna, 2010� CUIN, Charles-Henry. História da Sociologia II. 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Sociologia da educação. 1� ed� São Paulo: Ática, 2010� [Biblioteca Virtual]� Acesso em: 09 ago� 2019� QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Líria de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro� Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2� ed� Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. SCHNEIDER, Laíno Alberto. Filosofia da Educação. Curitiba: Intersaberes, 2013� SOUZA, João Valdir Alves de. Introdução à Sociologia da Educação. 3. ed. rev. amp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015� [Biblioteca Virtual]� Acesso em: 09 ago� 2019� Introdução O que é a Sociologia da Educação? Émile Durkheim: os percursos da Sociologia da Educação Karl Marx: crítica à educação como instrumento de dominação social Max Weber: a educação como fator de diferenciação social A Sociologia Contemporânea e a Educação Norbert Elias Pierre Bourdieu Anthony Giddens CONSIDERAÇÕES FINAIS Síntese
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