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FUNDAMENTOS 
SOCIOLÓGICOS E 
FILOSÓFICOS DA 
EDUCAÇÃO
Maurício Tintori
E-book 4
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3
O QUE É A SOCIOLOGIA DA 
EDUCAÇÃO? �������������������������������������������������4
ÉMILE DURKHEIM: OS PERCURSOS 
DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ���������� 8
KARL MARX: CRÍTICA À EDUCAÇÃO 
COMO INSTRUMENTO DE 
DOMINAÇÃO SOCIAL ������������������������������ 14
MAX WEBER: A EDUCAÇÃO COMO 
FATOR DE DIFERENCIAÇÃO SOCIAL �20
A SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA 
E A EDUCAÇÃO �����������������������������������������24
Norbert Elias ���������������������������������������������������������� 24
Pierre Bourdieu ������������������������������������������������������ 28
Anthony Giddens ��������������������������������������������������� 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������36
SÍNTESE �������������������������������������������������������38
2
INTRODUÇÃO
Aqui você poderá aprender sobre algumas perspec-
tivas da sociologia sobre a educação� Procuraremos 
esboçar, nesta unidade, uma reflexão sobre o papel 
da educação na sociedade, que pode ser desde um 
importante instrumento de socialização entre os in-
divíduos até como uma instituição responsável pela 
formação cidadã e profissional das pessoas, além 
de exercer a função de transmissora das heranças 
culturais das mais diversas civilizações espalhadas 
pelo mundo� Como ponto de partida, abordaremos 
as perspectivas sociológicas clássicas sobre a 
educação�
3
O QUE É A SOCIOLOGIA 
DA EDUCAÇÃO?
A educação torna-se um dos objetos de estudo e 
análise sociológica ainda no século 19� Na realidade, 
a própria educação passa por transformações nesse 
período. Com a valorização do pensamento científico 
e a modernização estimulada pela consolidação do 
modo de produção capitalista na sua fase industrial, 
a educação deixa de ser instrumentalizada como um 
meio de transmissão de valores morais, filosóficos e 
religiosos, passando a ser uma instituição cuja fun-
ção é transmitir o conhecimento científico necessário 
para o exercício de um ofício que necessita desse 
tipo de saber� Como apontou Paulo Meksenas (apud 
NERY, 2013, p� 20):
Será nesse contexto ideológico da nascen-
te sociedade industrial que nasce uma nova 
instituição responsável por essa educação: 
a escola. Percebemos que uma das caracte-
rísticas da revolução ideológica capitalista 
foi transportar uma educação que durante o 
feudalismo ocorria na família e na Igreja para 
a instituição da escola. Nasce assim a esco-
la: uma instituição com normas específicas, 
agentes próprios (diretores, professores, alu-
nos, orientadores pedagógicos etc.) e toda 
uma hierarquia. A escola se propõe o objeti-
vo de preparar os indivíduos para a vida em 
4
sociedade ao mesmo tempo que desenvolve 
aptidões pessoais. Com isso nasce também 
uma nova estrutura de ensino: muitas salas de 
aula, muitos alunos em uma só sala, provas, 
notas, porcentagens de frequência, carteiras 
em filas, diplomas. Tudo com o objetivo de 
educar uma massa cada vez maior de indi-
víduos, tentando adaptá-los aos valores des-
sa nova sociedade capitalista do século 18. 
A escola que conhecemos hoje é, portanto, 
produto dos séculos 18 e 19, período em que 
aparece a ideia da necessidade de educação 
pública e obrigatória para todas as pessoas.
Portanto, a escola surge nesse contexto como a insti-
tuição responsável em preparar e capacitar às novas 
gerações dentro dos valores burgueses da sociedade 
capitalista industrial� Ou seja, uma instituição respon-
sável pela socialização dos indivíduos, passando a di-
vidir um espaço até então hegemonizado, no mundo 
ocidental, pela família e pela Igreja� A escola passa 
a ser um local destinado à transmissão de conhe-
cimentos técnicos, necessários para o exercício de 
uma profissão. Mas o papel da escola não se reduziu 
a isso, pois ela assumiu o papel de transmissora 
das crenças inerentes a esta sociedade moderna 
que emergia� Entre estas crenças, podemos citar a 
valorização do trabalho como uma atividade útil e 
importante para impulsionar o progresso técnico e 
social; e a meritocracia, a ideia de que o indivíduo 
5
pode ascender socialmente exclusivamente por meio 
do seu empenho, talento e conhecimento� 
Inerente ao processo de socialização, a escola exer-
cerá também o controle social, instituindo normas de 
comportamento e procedimentos com o objetivo de 
doutrinar os indivíduos de acordo com os padrões 
morais hegemônicos em uma determinada socieda-
de� Segundo Oliveira (apud NERY, 2013, p� 25):
A educação tem por finalidade ajustar os edu-
candos aos padrões culturais vigentes. Esse 
processo de adequação permite que os edu-
candos sejam capazes de estar integrados à 
sociedade de acordo com o próprio desenvol-
vimento cultural. É assim que a sociedade se 
mantém em ordem. 
REFLITA
Qual o papel da educação na sociedade contem-
porânea? De que forma a educação e a escola 
influenciaram na sua formação e na constituição 
de sua visão de mundo? As escolas no Brasil 
exercem efetivamente o papel de controle social, 
da forma como exposta no texto?
6
Figura 1: Escola: socialização e controle social. Fonte: Unsplash.
Como vimos na unidade anterior, a Sociologia surgiu 
com a proposta de pesquisar, analisar e compreender 
uma sociedade que estava em um intenso processo 
de transformações e mudanças denominado por 
muitos de modernização� Como a educação é algo 
intrínseco na vida social, esta se tornou um objeto de 
estudo específico no campo da Sociologia, adotando 
suas próprias metodologias de pesquisa e análise, 
embasadas por determinados paradigmas teóricos� 
A seguir, veremos como os teóricos clássicos da 
Sociologia analisaram a educação�
7
https://unsplash.com/photos/zFSo6bnZJTw
ÉMILE DURKHEIM: 
OS PERCURSOS DA 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Além de ser considerado o teórico que consolidou a 
Sociologia como disciplina acadêmica, construindo 
uma metodologia científica rigorosa para o campo 
de pesquisa, Émile Durkheim dedicou boa parte de 
seus estudos à Educação, sendo o primeiro autor a 
afirmar que ela é um processo social, e, como tal, 
deve ser objeto de estudo e análise sociológica� Não 
por acaso, Durkheim é considerado o fundador da 
Sociologia da Educação�
O sistema educacional, segundo Durkheim, tem a 
função de perpetuar os valores da coletividade, in-
tegrando as novas gerações por meio da aprendiza-
gem das normas e regras sociais� Dessa forma, a 
educação teria como função social a socialização 
dos indivíduos, com o objetivo de consolidar e perpe-
tuar determinados, valores morais e conhecimentos 
necessários para a manutenção da ordem social� 
Segundo Nery (2013, p� 37), para o sociólogo francês:
A educação se constituiria como a principal 
fonte de socialização, na medida em que ela 
(a educação) permitiria a internalização das 
normas e das regras presentes na sociedade. 
Encontramos aí a concepção de que o pro-
cesso de socialização equivale ao processo 
de educação, pois é o ato de educar que os 
8
indivíduos e os grupos acabam por interiorizar 
todos os elementos da moral que se encon-
tram presentes no meio social. 
Assim, a escola assumiria o papel de moldar as crian-
ças conforme as necessidades exigidas, visando 
à coesão social, impedindo o caos e a desordem 
(elementos que caracterizariam uma sociedade em 
estado de anomia, segundo Durkheim)� Para o soci-
ólogo francês (apud LOPES, 2012, p� 6): “a educação 
tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança 
um certo número de estados físicos, intelectuais e 
morais que lhe exigem a sociedade no seu conjunto 
e o meio ao qual se destina particularmente”�
Durkheim defende que a escola deve ser pública e 
laica, embora não seja contrário à iniciativa privada 
na área da educação, mas desde que as escolas par-
ticulares se submetam aos interesses da sociedade, 
representados pela ação do Estado�
 A educação, segundo Durkheim, deve ter como prin-
cipal função consolidar a coesão social, transmitindo 
principalmenteos conhecimentos relacionados à 
educação moral e cívica, à qualificação profissional 
e à aprendizagem da estrutura social e o papel que 
o indivíduo na engrenagem social� Seria na escola 
que o indivíduo aprenderia a não colocar os seus 
interesses acima dos da sociedade� Caberia aos pais 
e professores formar a criança como um ser social, 
visando “perpetuar e reforçar a homogeneidade entre 
os membros de uma sociedade, fixando com ante-
9
cedência na alma da criança as similitudes que a 
vida coletiva exige”. (DURKHEIM apud LOPES, 2012, 
p� 6)� Assim, a educação é um processo ininterrupto 
de socialização do indivíduo, com a finalidade de 
fazer do aluno um ser realmente humano, pois para 
o sociólogo francês, um homem só é plenamente 
humano se for um ser social� Entretanto, isso não 
deve afetar a sua formação como um indivíduo com 
interesses particulares, pois indivíduo e sociedade se 
complementam, na visão do fundador da sociologia 
funcionalista� Entretanto, para a educação e, mais 
precisamente, a escola exercer plenamente o seu 
papel social, elas devem exercer uma influência co-
ercitiva, autoritária, sobre os alunos� Como apontou 
Atisiano (apud NERY, 2013, p� 40):
Para Durkheim, a educação exerce coerção 
sobre os indivíduos, obrigando-os a se con-
formarem aos seus conteúdos, costumes e 
hábitos, desenvolvidos na escola e presentes 
na sociedade, isto é, para sermos aceitos na 
coletividade em que vivemos, é preciso que 
nos adaptemos às posturas por elas deter-
minadas [...]. A educação [...] apresenta-se 
independente dos indivíduos, ela é uma força 
maior do que eles, que lhes dita comporta-
mentos exigidos pela sociedade.
10
REFLITA
Em uma sociedade cada vez mais marcada pela 
diversificação, o modelo educacional proposto 
por Durkheim, cujo principal objetivo era tornar 
a sociedade homogênea, na qual as diferenças 
entre os indivíduos fossem as menores possí-
veis para o bem da coletividade, ainda poderia 
ser adotado? Tal proposta pode ser considerada 
autoritária, ao impor uma identidade homogê-
nea para todos os indivíduos? Tal poder coerci-
tivo, visando à coesão social, ainda teria alguma 
eficácia em uma sociedade caracterizada pela 
complexidade?
O sistema educacional proposto por Durkheim deve 
ser meritocrático, no qual as individualidades mais 
capacitadas são premiadas� Além disso, a educação, 
a partir de certa idade, não deve ser a mesma para 
todos, sendo direcionada a partir daí para a espe-
cialização, com o objetivo de capacitar profissional-
mente o aluno e, assim, ser uma instituição capaz 
de colaborar com a divisão social do trabalho� Para 
Durkheim (apud LOPES, 2012, p� 7): “é a sociedade 
que, para poder subsistir, precisa que o trabalho se 
divida entre os seus membros [���]� É por isso que pre-
para com suas próprias mãos, pela via da educação, 
os trabalhadores especializados de que precisa”�
O papel do professor, segundo Durkheim (apud 
LOPES, 2012, p� 7), é representar os interesses da 
sociedade, interpretando e transmitindo “as gran-
11
des ideias morais do seu tempo e de seu país”� 
Entretanto, tais ideias variam conforme o contexto 
histórico, sofrendo mudanças conforme a passagem 
do tempo� Para ele, educação e pedagogia são coisas 
distintas� A primeira é a relação entre os educadores 
(pais e professores) e as crianças voltada para a for-
mação das novas gerações dentro das regras sociais, 
visando a sua integração, transmissão e reprodução 
dos valores hegemônicos de uma determinada so-
ciedade. Já a segunda seria a reflexão sobre os fatos 
que envolvem a educação, sendo uma ciência que 
deve contribuir para o próprio desenvolvimento do 
processo educativo�
FIQUE ATENTO
Herdeira do positivismo, a Sociologia Educacio-
nal de Émile Durkheim sistematizou metodolo-
gicamente as práticas pedagógicas atualmente 
denominadas de tradicionais e que ainda estão 
presentes em várias salas de aulas em diversas 
partes do mundo� A disposição das carteiras em 
fileiras e a postura do docente como “mestre do 
saber”, hierarquicamente superior aos alunos, são 
exemplos de uma organização do espaço escolar 
influenciada pelas perspectivas durkheimianas.
12
Figura 2: O Professor como mestre do saber. Fonte: PXHere. 
13
https://pxhere.com/pt/photo/826369
KARL MARX: CRÍTICA 
À EDUCAÇÃO COMO 
INSTRUMENTO DE 
DOMINAÇÃO SOCIAL
Karl Marx, diferentemente de Émile Durkheim, não 
escreveu nenhuma obra especifica sobre educação, 
mas abordou o tema ao longo de suas obras, onde 
critica a desigualdade social no modo de produção 
capitalista� Para o materialismo-histórico-dialético:
[...] toda a formação social possui uma 
INFRAESTRUTURA [ou ESTRUTURA, como 
indicam alguns autores], em que se encon-
tram as relações sociais de produção, e uma 
SUPERESTRUTURA, em que estão presentes 
três instâncias: a ideológica, a jurídica e a 
política. A infraestrutura determina a supe-
restrutura social, que, por sua vez, legitima 
as relações sociais de produção presentes na 
infraestrutura. Considerando a superestrutura 
em Marx, podemos verificar que a educação 
faz parte da superestrutura social, na instância 
ideológica. (NERY, 2013, pp. 34-35)
Em outras palavras, para o materialismo histórico-
-dialético, a educação faz parte da superestrutura 
da sociedade (assim como a política, o judiciário e a 
cultura, de uma maneira geral), sendo um instrumento 
14
ideológico de legitimação de uma sociedade basea-
da na exploração do trabalho da classe operária por 
parte da burguesia. Assim, a escola exerceria um 
importante papel nesse processo ao construir uma 
imagem de naturalidade a uma ordem social cons-
tituída historicamente, a partir das relações sociais 
de produção�
Na sociedade burguesa, o professor teria não apenas 
a função de transmitir o conhecimento, mas sim as-
sumiria o papel de transmitir a ideologia das classes 
dominantes para os alunos, principalmente os da 
classe operária, que acabariam formando uma “falsa 
consciência de classe” ao assumir para si os valores 
burgueses e considerando a sua própria exploração 
algo “natural”� Assim, crenças como a meritocracia, 
baseada na ideia de que o indivíduo pode ascen-
der socialmente por meio do seu próprio empenho 
no trabalho, seriam transmitidas pela escola com 
o objetivo de perpetuar a ordem social capitalista, 
transmitindo-a, de forma renovada, de geração para 
geração� 
Figura 3: Tira dos quadrinhos da personagem Mafalda satirizando a 
meritocracia. Fonte: Wikimedia. 
Para Karl Marx, a educação só deixaria de exercer 
o papel de aparelho ideológico da burguesia na 
15
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Meritocracia_mafalda.gif
sociedade capitalista após a revolução socialista� 
No socialismo, segundo o pensador alemão, a es-
cola deixaria de ser mero instrumento legitimador 
da sociedade burguesa e passaria a ser um agente 
de transformação social� Como apontaram Silva e 
Carvalho (apud NERY, 2013, p� 35):
A esperança de Marx por uma nova sociedade 
não pode ser construída sem a presença da 
ação educativa. No Manifesto [Comunista], ele 
deixa claro que a educação deve ser levada 
em consideração no momento de se elaborar 
qualquer projeto de superação das relações 
sociais burguesas. É preciso, segundo ele, ar-
rancá-la da influência da classe dominante, do 
modo burguês de ver o mundo, se não quiser-
mos ver que as crianças sejam transformadas 
em “simples objetos de comércio, em simples 
instrumentos de trabalho”. [...] Pensando a 
educação como parte de sua utopia revolucio-
nária, Marx identificou nela uma arma valiosa 
a ser empregada em favor da emancipação do 
ser humano, de sua libertação da exploração 
e do jugo do capital – a construção da socie-
dade comunista. 
 Para isso se concretizar, Marx sugeriu algumas me-
didas que deveriam ser tomadas pelo Estado con-
trolado pelo proletariado, entre elas:
Educação pública e gratuita para todos: a educação 
se tornaria um direito dos cidadãos, ou seja, qualquer 
16
homem ou mulher poderia ter acesso a elanas es-
colas públicas, sem nenhum custo para as famílias� 
Curiosamente, essa reivindicação do materialismo 
histórico foi assimilada e adaptada posteriormen-
te por Émile Durkheim, mas sob outra perspectiva, 
mais conservadora e propondo a coexistência com 
o ensino privado� A partir das últimas décadas do 
século 19, diversos países adotaram o sistema pú-
blico de educação, algo reivindicado pelo movimento 
dos trabalhadores, mas que passou a ser desejado 
pela própria burguesia, que com o avanço tecnológi-
co necessitava de uma mão de obra cada vez mais 
qualificada.
Figura 4: Professores reivindicando escola pública de qualidade. 
Fonte: Educação UOL.
Educação voltada para a formação do indivíduo 
como um trabalhador: para Marx, é a partir do tra-
balho que o homem construiu historicamente a socie-
dade� E, pensando na superação do capitalismo e na 
constituição de uma sociedade socialista, o pensador 
alemão concebeu uma formação integral do aluno 
17
https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2015/10/06/estudantes-protestam-contra-fechamento-de-escolas-publicas-de-sp.htm#fotoNav=567
que abrangeria três aspectos: 1- a Educação intelec-
tual (historicamente restrita às elites, até então); 2- a 
Educação corporal (a Educação Física, composta por 
exercícios de ginástica e até exercícios militares); 3- a 
Educação tecnológica, o ensino da ciência, da produ-
ção industrial e iniciação ao manuseio de máquinas 
utilizadas na produção industrial� Nesse modelo de 
educação, tanto homens quanto mulheres seriam 
capacitados para exercer mais de uma profissão, 
rompendo-se a barreira que existia entre o trabalho 
intelectual e o manual, um dos fatores que estabe-
leciam a divisão social do trabalho e a sociedade de 
classes. Paradoxalmente, esse foi outra proposta 
de origem marxista que acabou sendo assimilada 
pelo sistema educacional da sociedade capitalista, 
devidamente adaptada para gerar lucratividade e 
formar mão de obra�
Figura 5: Escola de tempo integral. Fonte: Jornal Atos.
18
http://jornalatos.net/regiao/cidades/guaratingueta/pinda-e-guara-ganham-unidades-do-escola-de-tempo-integral-em-2018/
Para o materialismo histórico-dialético, a educação 
tem uma função social política, que revertida para 
a construção de uma sociedade sem dominação e 
exploração de uma classe social sobre a outra, pode 
ser um instrumento de emancipação de homens e 
mulheres, algo essencial para a construção de uma 
nova sociedade, segundo Karl Marx. Tal perspectiva 
influenciou, posteriormente, diversos intelectuais e 
pedagogos que dedicaram seus estudos e análises à 
temática da educação, como foi o caso do brasileiro 
Paulo Freire, o fundador da Pedagogia da Autonomia�
Podcast 1 
19
https://famonline.instructure.com/files/118634/download?download_frd=1
MAX WEBER: A 
EDUCAÇÃO COMO FATOR 
DE DIFERENCIAÇÃO 
SOCIAL
Assim como Karl Marx, Max Weber também conside-
rava a educação como um instrumento de dominação 
de classe na sociedade capitalista. Entretanto, Weber 
analisa outros aspectos dessa dominação, pois esta 
não se restringiria à exploração de uma classe social 
sobre a outra ou à formação de mão de obra para 
o mercado de trabalho, mas seria um instrumento 
que legitimaria o monopólio dos empregos e cargos 
mais valorizados para os detentores de diplomas 
universitários� Ou seja, na perspectiva weberiana, a 
universidade exerceria não apenas o papel de for-
mar, mas de realizar provas visando selecionar os 
indivíduos mais aptos para exercerem ocupações 
privilegiadas na sociedade e, dessa forma, conquis-
tarem “status social”� Através disso, a educação se 
torna um meio para o indivíduo conquistar ascensão 
social, prestígio e maiores salários na sociedade 
capitalista. Para Weber, a educação é um fator de 
diferenciação social� Desta forma:
A educação, para Weber, no contexto de uma 
sociedade marcadamente racionalizada, es-
taria em estreita relação com a estratificação 
social, com meios de distinção e de obtenção 
de certas honras que envolvem o poder e o 
dinheiro [...] (NERY, 2013, p. 47).
20
Inserida na estrutura burocrática do Estado, a escola, 
segundo Weber, seria um local também marcado pe-
las relações de poder, instituindo diferentes formas 
de dominação� Ao mesmo tempo, no decorrer da 
história, o sociólogo alemão identificou tipos diferen-
tes de educação, cada uma estimulando diferentes 
aspectos da formação humana� Assim, teríamos três 
tipos diferentes de educação:
1- Educação carismática: voltada para o estímulo do 
“talento natural” do indivíduo, associada simbolica-
mente com as “qualidades heroicas” ou com “dons 
mágicos”� Na realidade, a educação carismática 
constitui um tipo de educação sem pedagogia, pois 
o carisma de tais personalidades não é algo que seja 
possível de ser ensinado para todos, pois este é um 
dom natural que nasce com elas� As personalidades 
carismáticas seriam personalidades talentosas que 
se destacam em seu campo de atuação por revela-
rem um talento especial, como foram os casos de 
Mozart ou Beethoven na música clássica;
2- Educação humanística: também conhecida como 
pedagogia do cultivo, é direcionada para a formação 
intelectual do indivíduo� Nesse tipo de educação, se 
formariam homens cultos, intelectualizados, capaci-
tados para auxiliar no desenvolvimento das diversas 
áreas do conhecimento� Como apontou Rodrigues 
(apud NERY, 2013, pp� 47-48), esse tipo de educação:
[...] procura formar um tipo de homem que 
seja culto, onde o ideal de cultura depende 
da camada social para a qual o indivíduo está 
21
sendo preparado, e que implica em prepará-lo 
para certos tipos de comportamento interior 
(ou seja, para a reflexividade) e exterior (ou 
seja, um determinado tipo de comportamento 
social). Tal processo educacional assumia o 
aspecto de uma “qualificação cultural”, o sen-
tido de uma educação geral, e destinava-se, ao 
mesmo tempo, a determinado grupo de status 
(sacerdotes, cavaleiros, letrados, intelectuais 
humanistas, etc.), e à composição do aparato 
administrativo típico das formas tradicionais 
de dominação política. 
3- Educação racional-burocrática: também denomina-
da por Weber de pedagogia do treinamento, é aquela 
voltada à especialização do indivíduo em alguma 
profissão que exija um conhecimento técnico. Na 
sociedade capitalista, o especialista em uma deter-
minada função irá ter maiores possibilidades de as-
censão na estrutura burocratizada das instituições da 
sociedade capitalista. Assim, por exemplo, o diploma 
universitário torna-se um símbolo de diferenciação 
social no qual os seus detentores têm mais possibili-
dades de conquistar postos que exigem qualificação 
e pagam melhores salários� Nas palavras de Nery 
(2013, p� 48):
[...] Esse tipo de educação supõe um preparo 
especializado no sentido de transformar o in-
divíduo num técnico, num perito. Entendemos 
que a pedagogia do treinamento é predomi-
nante no contexto da modernidade, ao mesmo 
tempo que é uma pedagogia que envolve a as-
censão social e a obtenção de status privado. 
22
REFLITA
Na sociedade brasileira contemporânea, um di-
ploma universitário realmente possibilita a con-
quista de vagas de emprego mais valorizadas e, 
portanto, com maiores salários? Ou é possível 
para pessoas com menor grau de escolaridade 
conseguirem ascender socialmente?
Figura 6: Formatura. Fonte: Pixabay. 
SAIBA MAIS
Sobre as reflexões dos sociológicos clássicos 
sobre a educação, analise o artigo de Paula Cris-
tina Lopes, Educação, Sociologia da Educação 
e teorias sociológicas clássicas, disponível em 
http://www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao-
-sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf, acesso 
em: 24 jun� 2019� 
23
https://pixabay.com/pt/photos/estudantes-universit%C3%A1rios-diploma-3990783
http://www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao-sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf
http://www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao-sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf
A SOCIOLOGIA 
CONTEMPORÂNEA E A 
EDUCAÇÃO
No decorrer do século 20, produziram-se importantesreflexões sociológicas importantes para pensarmos a 
relação entre homem e sociedade na contemporanei-
dade� Entre diversos autores, abordaremos nesta par-
te mais especificamente pensadores sociais como 
o alemão Norbert Elias, o francês Pierre Bourdieu e 
o inglês Anthony Giddens, cujas releituras das teo-
rias clássicas da Sociologia foram cruciais para a 
compreensão da sociedade contemporânea� A obra 
destes autores também abriu espaço para novas 
reflexões sobre o papel da educação na sociedade.
Norbert Elias
A teoria sociológica de Norbert Elias (1897-1990) é 
conhecida como sociologia processual, pois concebe 
a relação entre indivíduo e sociedade não como a de 
duas entidades diferentes e opostas, mas sim marca-
da pela interdependência entre eles� Ou, mais preci-
samente, entre a personalidade do indivíduo (esfera 
na qual estão envolvidos os aspectos psicológicos, 
importantes para compreender as mentalidades) e 
as estruturas sociais� Nas palavras de Elias (apud 
NERY, 2013, p� 131):
24
Por mais certo que toda pessoa é uma enti-
dade completa em si mesma, um indivíduo 
que se controla e que não poderá ser con-
trolado ou regulado por mais ninguém se ele 
próprio não o fizer, não menos certo é que 
toda a sua estrutura de autocontrole, cons-
ciente e inconsciente, constitui um produto 
reticular formado por uma interação contínua 
de relacionamentos com outras pessoas, e 
que a forma individual do adulto é uma forma 
específica de cada sociedade [...].
O indivíduo forma a sua personalidade por meio das 
diversas interações sociais que realiza no decorrer 
de sua vida� Assim, a sua formação educacional não 
ocorre apenas no interior escolar ou no ambiente 
familiar, mas também nessas relações cotidianas� 
Dessa forma, na mesma pessoa convivem o “ser indi-
vidual” e o “ser social”, não existindo separação entre 
eles� Na realidade, é na sua formação psicológica 
que o indivíduo desenvolve seu próprio autocontrole, 
necessário para adequar-se aos padrões sociais� 
Assim, diferentemente de Durkheim, que considerava 
o fato social exterior ao indivíduo e, por isso, tem o 
poder de exercer um controle sobre ele, Elias entende 
que a coerção ocorre internamente no indivíduo, no 
exercício de sua psique. Neste aspecto, o sociólogo 
alemão teve forte influência da teoria da psicanálise 
do austríaco Sigmund Freud (1856-1939)� Segundo 
Elias (apud NERY, 2013, p�133), é neste processo que:
25
O padrão social a que o indivíduo fora inicial-
mente obrigado a se conformar por restrição 
externa é finalmente reproduzido, mais su-
avemente ou menos, no seu íntimo através 
de um autocontrole que opera mesmo contra 
seus desejos conscientes. Desta forma, o pro-
cesso sócio-histórico de séculos, no curso do 
qual o padrão do que é julgado vergonhoso e 
ofensivo é lentamente levantado, reencena-se 
em forma abreviada na vida do ser humano 
individual. 
O condicionamento dos seres humanos aos padrões 
sociais ocorre, segundo Elias, desde a infância� É por 
meio desse processo no qual o indivíduo internali-
za os padrões sociais é que o indivíduo aprende e 
começa a fazer o exercício de autocontrole de suas 
atitudes perante a sociedade� Tal processo foi deno-
minado por Elias de habitus, definido por Nery (2013, 
p�134) como:
[...] o fator que indica os padrões de compor-
tamento que são paulatinamente desenvolvi-
dos, aceitos e também exigidos socialmente 
para o convívio no interior das denominadas 
configurações sociais, que se expressam de 
modo decisivo na formação das imagens do 
“eu” e do “nós” e sobre a produção e repro-
dução das identidades “eu” e “nós” ao longo 
das gerações. 
26
As reflexões de Norbert Elias são importantes para 
embasar teoricamente estudos psicossociais sobre 
a realidade educacional nos seus mais diferentes 
processos, que passa do cotidiano familiar até o am-
biente escolar, além do convívio com as pessoas do 
seu grupo social ou de fora dele� Assim, é possível 
compreender o processo de formação de identida-
des culturais dos diferentes grupos existentes em 
uma sociedade� E, no caso da escola, pode ser um 
referencial para a análise da sociabilidade entre indi-
víduos e grupos sociais cada vez mais diversificados 
e complexos. 
FIQUE ATENTO
A sociologia processual de Norbert Elias é um re-
ferencial teórico importante para compreender o 
processo de construção da identidade do aluno 
em ambiente escolar, exercitando a capacidade 
de reconhecer os grupos sociais com qual tem 
mais afinidade e convivência e, ao mesmo tem-
po, identificar as diferenças com relação a outros 
indivíduos de cultura diferente da dele� 
27
Figura 7: Norbert Elias. Fonte: Wikimedia. 
Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um sociólogo fran-
cês que dedicou parte de suas pesquisas ao estu-
do da interação entre educação e cultura� Partindo 
da percepção inaugurada por Norbert Elias sobre a 
interação entre as estruturas mentais e as estrutu-
ras sociais, Bourdieu foi além ao identificá-la como 
inerente ao processo de dominação e do jogo das 
relações de poder�
Assim como Elias, Bourdieu trabalha com o conceito 
de habitus� Entretanto, enquanto o sociólogo alemão 
28
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Socioloog_Norbert_Elias_onderscheiden_door_minister_Deetman_(Amsterdam),_Bestanddeelnr_934-0168.jpg
trabalha tal conceito a partir de uma perspectiva rela-
tivista, o pensador francês dá um sentido estruturalis-
ta a tal ideia� Nas palavras de Bourdieu (apud NERY, 
2013, p. 136), o habitus pode ser definido como um:
Sistema de disposições duráveis, estruturas 
estruturadas predispostas a funcionarem 
como estruturas estruturantes, isto é, como 
princípio que gera e estrutura as práticas e 
representações que podem ser objetivamente 
“regulamentadas” e “reguladas” sem que por 
isso seja o produto de obediência de regras, 
objetivamente adaptadas a um fim, sem que 
tenha necessidade de projeção consciente 
deste fim ou do domínio das operações para 
atingi-lo, mas sendo, ao mesmo tempo, cole-
tivamente orquestradas sem serem produto 
da ação organizadora de um maestro.
Em outras palavras, o habitus é a relação recípro-
ca e dialética entre a estrutura social e a estrutura 
psíquica do indivíduo� Ou seja, a subjetividade do 
individuo é formada em um contexto social e histó-
rico específico, a partir da percepção da realidade 
concreta vivenciada por cada pessoa em sua vida 
cotidiana� Nesse processo, o indivíduo internaliza 
subjetivamente a estrutura social, e é por meio dessa 
construção subjetiva que ele planeja as suas ações� 
Através dessa relação interdependente entre subje-
tividade e objetividade: 
29
Os indivíduos expressam socialmente o seu 
habitus de classe, por exemplo. Refletem em 
seu comportamento elementos da estrutura 
social; podemos dizer até mesmo que reprodu-
zem em suas práticas sociais os determinan-
tes estruturais mais abrangentes. As visões 
de homem e de mundo, por exemplo, não se 
encontram imunes às determinações da rea-
lidade objetiva (NERY, 2013, p. 137). 
A educação tem um papel crucial nesse processo de 
construção do habitus� Esta atua inicialmente nas 
“experiências primitivas” do indivíduo, aquelas que 
ocorrem na educação familiar nos primeiros anos 
de vida da criança, consolidando-se no processo de 
socialização, na qual a escola exerce um importante 
e crucial papel� 
Para Bourdieu, o habitus ocorre no espaço onde ocor-
rem as relações sociais, com todos os conflitos e 
contradições inerentes de um processo marcado, 
muitas vezes, pelos choques de interesses� Tal espa-
ço é denominado pelo sociólogo francês de campo� 
E a escola não é apenas um desses campos, mas 
sim um “espaço onde encontramos formas de se-
rem legitimadas as desigualdades sociais presentes 
na estrutura mais ampla, na medida em que esta 
mesma escola deve ser entendida de acordo com 
as dimensões das classes sociais” (NERY, 2013, p� 
139)� Tendo como objeto de pesquisa o sistema edu-
cacional francês, Bourdieu considerava que a escola,ao contrário do que o discurso ideológico hegemô-
30
nico defende, não é um espaço que proporciona a 
ascensão social e, tampouco a liberdade individual� 
Na realidade, a escola teria a função de manter as 
desigualdades sociais e a dominação da classe bur-
guesa na sociedade capitalista� Dessa forma, como 
apontou Bussetto (apud NERY, 2013, p� 140): 
[...] não é por acidente que os filhos das 
classes dominantes têm mais sucesso na 
obtenção da cultura escolar e, consequente-
mente, ingressam mais ampla e facilmente 
na universidade. Como membros de famílias 
portadoras de considerável capital cultural, 
tanto intelectual quanto material, eles adqui-
rem um habitus social bastante concordante 
com o habitus escolar. Daí a facilidade deles 
na aquisição dos procedimentos, esquemas 
operatórios de pensamento, e linguagem mais 
enfaticamente exigidos pela escola, uma vez 
que, para eles, ao contrário dos filhos perten-
centes a segmentos sociais culturalmente 
desfavorecidos, a experiência escolar é o pro-
longamento da vida familiar e do seu grupo 
social. Enquanto, para os filhos das classes 
dominantes, a cultura escolar é a sua própria 
cultura – porém, reelaborada e sistematiza-
da -, para os filhos das classes dominadas, 
a cultura da escola é experimentada como 
uma “cultura estrangeira” [...]. O sucesso do 
aluno na aquisição da cultura escolar supõe, 
de forma implícita, a posse de um capital 
cultural herdado pelos alunos oriundos das 
31
famílias das classes dominantes. A escola, 
assim, contribui com a reprodução social, ou 
seja, a garantia da dominação pelos setores 
sociais dominantes. 
Podcast 2 
Mesmo em um contexto marcado por uma maior 
democratização do ensino, Bourdieu reafirma que 
o sistema educacional ainda reproduz as desigual-
dades sociais, pois enquanto os filhos das classes 
dominantes têm maior facilidade de acesso às es-
colas de qualidade, as famílias das classes menos 
favorecidas são obrigadas, devido às suas condições, 
a matricular os seus filhos em escolas públicas que 
tem pouco investimento do Estado ou em instituições 
menos valorizadas no campo educacional�
REFLITA
Pensando na educação brasileira, a diferença na 
qualidade de ensino das escolas públicas com 
relação às escolas particulares poderia ser expli-
cada a partir das reflexões de Pierre Bourdieu? 
Como a teoria do sociólogo francês poderia ser 
importante para compreender os problemas da 
área de educação do país, a partir da questão da 
desigualdade social? 
32
https://famonline.instructure.com/files/118635/download?download_frd=1
Figura 8: Pierre Bourdieu. Fonte: Flickr. 
Anthony Giddens
O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938- ) é um 
dos principais expoentes da sociologia contemporâ-
nea. Mais especificamente sobre educação, Giddens 
concentrou-se principalmente no estudo dos impac-
tos da tecnologia da informação sobre a educação, 
cujos efeitos provocam intensas transformações 
na área� 
Para Giddens, a introdução da informática nos pro-
cessos de ensino tem provocado uma maior exclu-
são social, pois aqueles que não têm acesso a um 
computador, internet, e outras tecnologias encontram 
maiores dificuldades para ter acesso à informação 
33
https://www.flickr.com/photos/home_of_chaos/10838630106
e, com isso, encontram mais obstáculos para terem 
um bom desempenho escolar� 
Por outro lado, o sociólogo britânico destaca que a 
emergência do que chama de economia do conheci-
mento, associada aos avanços tecnológicos na área 
da informática, estão transformando a maneira da 
sociedade conceber a educação� Em primeiro lugar, 
a educação começa a ser compreendida como um 
processo que dura toda a vida, e não apenas no perí-
odo em que o indivíduo frequenta uma escola� Além 
disso, a aprendizagem passa a ocorrer em outros 
espaços, não apenas na sala de aula� O computa-
dor e a internet permitem que os alunos possam ter 
acesso ao conhecimento escolar sem sair de casa� 
Em outras palavras, as pessoas podem utilizar ou-
tras fontes para obterem o mesmo conhecimento 
que anteriormente era transmitido exclusivamente 
pela escola� 
Outro aspecto marcante na educação contemporâ-
nea, segundo Giddens, é o fato de que, apesar de ain-
da manterem-se as distinções de gênero no ambiente 
escolar, no qual ainda prevalece um ensino voltado 
para a formação dos homens, as mulheres vêm se 
destacando cada vez mais nas escolas� No ensino 
britânico, as meninas têm um desempenho escolar 
melhor do que os meninos� Além disso, Giddens res-
salta que problemas sociais afetam o desempenho 
dos alunos, como o crime, o desemprego e a falta 
de uma figura paterna presente. 
Por fim, em suas pesquisas, Giddens percebe que, 
com a crescente presença do ensino privado nos 
sistemas educacionais em diversas partes do mundo, 
34
os interesses comerciais privados têm sobressaído, 
muitas vezes em detrimento da qualidade de ensino� 
SAIBA MAIS
Sobre os impactos da tecnologia da informa-
ção na educação, leia o texto complementar de 
Anthony Giddens, “A Educação e a disparidade 
tecnológica”, presente nas páginas 148 e 149 
do livro Sociologia da Educação, de Maria Clara 
Ramos Nery, disponível em https://bv4.digitalpa-
ges.com.br/?term=Sociologia%2520da%2520Edu
ca%25C3%25A7%25C3%25A3o&searchpage=1&f
iltro=todos&from=busca&page=148&section=0#/
legacy/9989, acessado em: 14 de julho de 2019� 
Figura 9: Anthony Giddens. Fonte: Wikimedia. 
35
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthony_Giddens_at_the_Progressive_Governance_Converence,_Budapest,_Hungary,_2004_October.jpg
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro estudante, nesta unidade falamos sobre a 
Sociologia da Educação, abordando inicialmente a 
visão das teorias clássicas da Sociologia com rela-
ção à educação� Entre os teóricos clássicos, Émile 
Durkheim é o único que dedicou parte de seus es-
tudos à educação e seus impactos na sociedade� O 
sociólogo francês enfatizou o papel da escola como 
instituição cujo objetivo é promover a coesão social, 
transmitindo os padrões da sociedade para os indi-
víduos desde a infância, preparando-os para serem 
indivíduos úteis à sociedade, cujos interesses não 
devem sobrepor-se a ela�
Karl Marx adotou uma visão mais crítica com rela-
ção à educação� Por um lado, enfatizou o papel das 
escolas em impor a ideologia hegemônica aos alu-
nos em uma sociedade de classes, servindo como 
instrumento de dominação da burguesia na socie-
dade capitalista� Por outro lado, vislumbrou que a 
educação pode exercer um papel importante para a 
transformação social na construção da sociedade 
socialista� 
Max Weber também analisou criticamente a educa-
ção na sociedade moderna capitalista� Entretanto, en-
fatizou mais o seu papel na formação de indivíduos 
capazes a exercerem funções no sistema burocrático 
de controle social (seja ele privado ou do Estado), 
além de tornar-se um meio para o indivíduo conquis-
36
tar um status social e, assim, ascender socialmente 
na hierarquia social� 
No século 20, outros sociólogos contribuíram para a 
análise da educação e do papel da escola na socie-
dade� Norbert Elias enfatizou a questão da interna-
lização das normas e padrões sociais por parte do 
indivíduo, processo denominado por ele de habitus, 
no qual o indivíduo se vê obrigado a obedecer aos 
padrões não apenas por fatores externos e gerais, 
mas sim internamente, por meio de fatores psicoló-
gicos� Já Pierre Bourdieu, que trabalha também com 
o conceito de habitus, tem uma visão mais crítica 
do papel da educação na sociedade contemporâ-
nea, cuja função seria legitimar as desigualdades 
sociais. Por fim, Anthony Giddens concentrou-se na 
análise dos impactos dos avanços tecnológicos da 
área informática na educação, que vêm provocando 
intensas transformações na área�
37
Síntese
Nesta unidade, falamos sobre a Sociologia da Educação, 
abordando inicialmente a visão das teorias clássicas da 
Sociologia com relação à educação. Por fim, abordare-
mos as contribuições de sociólogos como Norbert Elias, 
Pierre Bourdieue Anthony Giddens para as reflexões 
sobre a relação entre educação e sociedade na contem-
poraneidade. 
Anthony Giddens. 
Pierre Bourdieu;
Norbert Elias;
A Sociologia Contemporânea e a Educação;
Max Weber: a educação como fator de distin-
ção social;
Karl Marx: crítica à educação como instrumen-
to de dominação social;
Émile Durkheim: o percursor da Sociologia da 
Educação;
O que é a Sociologia da Educação;
Introdução;
A unidade está dividida da seguinte forma:
Fundamentos Filosóficos e 
Sociológicos da Educação
Nesta unidade abordamos algumas 
perspectivas da sociologia sobre a 
educação. Esboçamos nesta unidade 
uma reflexão sobre o papel da 
educação na sociedade, que pode ser 
desde um importante instrumento de 
socialização entre os indivíduos até 
como uma instituição responsável pela 
formação cidadã e profissional das 
pessoas, além de exercer a função de 
transmissora das heranças culturais 
das mais diversas civilizações 
espalhadas pelo mundo. Como ponto de 
partida, abordamos as perspectivas 
sociológicas clássicas sobre a 
educação. 
Referências 
Bibliográficas 
& Consultadas
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sociedade� 4� ed� São Paulo: Editora Moderna, 2010�
LOPES, Paula Cristina� “Educação, Sociologia da 
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www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao-sociologia-
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NERY� Maria Clara Ramos� Sociologia da Educação� 
Curitiba: InterSaberes, 2013�
QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Líria de 
Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro� Um 
Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. 
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ANTONIO, José Carlos� (Org�) Filosofia da Educação. 
São Paulo: Pearson, 2014� [Biblioteca Virtual]� Acesso 
em: 09 ago� 2019� 
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CUIN, Charles-Henry. História da Sociologia II. 
Petropolis, RJ: Vozes, 2017� [Biblioteca Virtual]� 
Acesso em: 09 ago� 2019� 
DIAS, Reinaldo� Introdução à Sociologia. São Paulo: 
Pearson, 2005� [Biblioteca Virtual]� Acesso em: 09 
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GHIRALDELLI JUNIOR, P. Filosofia da Educação. São 
Paulo: Ática, 2006� Disponível em: [Biblioteca Virtual]� 
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GOMES, Mércio Pereira� Antropologia: ciência do 
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SCHNEIDER, Laíno Alberto. Filosofia da Educação. 
Curitiba: Intersaberes, 2013�
SOUZA, João Valdir Alves de. Introdução à Sociologia 
da Educação. 3. ed. rev. amp. Belo Horizonte: 
Autêntica Editora, 2015� [Biblioteca Virtual]� Acesso 
em: 09 ago� 2019�
	Introdução
	O que é a Sociologia da Educação?
	Émile Durkheim: os percursos da Sociologia da Educação
	Karl Marx: crítica à educação como instrumento de dominação social
	Max Weber: a educação como fator de diferenciação social
	A Sociologia Contemporânea e a Educação
	Norbert Elias
	Pierre Bourdieu
	Anthony Giddens
	CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Síntese

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