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Doença trofoblástica gestacional Gravidez molar – Mola hidatiforme (MH) Caracterizada histologicamente por anormalidades nas vilosidades coriônicas, que consistem na proliferação trofoblástica e edema do estroma viloso. ● Mola hidatiforme completa: há ausência de elementos embrionários – como feto e âmnio. - Macroscopicamente, se mostram como uma massa de vesículas transparentes, de tamanhos variados; - Histologi- camente, há degeneração hidrotrópica e edema viloso, ausência de vasos sanguíneos vilosos e proliferação do epitélio trofoblástico em diferentes graus; - Geralmente são diploides e de origem paterna. 75 a 80% são 46, XX, sendo ambos os conjuntos de origem paterna; - Tem maior potencial maligno do que a incompleta. 15% a 20% das molas completas evoluem com NTG. ● Mola hidatiforme parcial: há algum elemento do tecido fetal e alterações hidatiformes focais e menos avançadas. - Histologi- camente, há edema lentamente progressivo no estroma das vilosidades coriônicas caracteristicamente avasculares, poupando as vilosidades vasculares com circulação fetoplacentária funcionante; - São usualmente triploides em sua origem (90%), com dois conjuntos genéticos haploides paternos e um conjunto haploide materno; - Ocorrem, geralmente, a partir da fertilização dispérmica do ovócito. Os 10% restantes são tetraploides ou em mosaico. Epidemiologia e fatores de risco 1 a 2 casos a cada 1000 gestações. Histórico de abortamento anterior, extremos da idade materna, gravidez molar anterior, uso de ACOs. Manifestações Sintomas: amenorreia seguida de sangramento irregular, beta-hCG sérico em alta quantidade, volume uterino maior que o esperado, cistos tecaluteínicos, hiperêmese, hipertensão induzida pela gestação. 25% das pacientes podem também referir eliminação de vesículas hidrópicas pela vagina junto ao sangue. Na metade dos casos, o crescimento uterino é mais rápido que o normal, mas há ausência de batimentos fetais. Pode haver pré-eclâmpsia com início precoce. Logo, pré-eclâmpsia antes da 24ª semana deve levantar suspeita de gravidez molar. Embolização trofoblástica: quantidades variadas de trofoblastos escapam para o sistema venoso pélvico no momento da evacuação molar. Em algumas pacientes, esse tecido invade o parênquima pulmonar gerando a doença trofoblástica persistente ou metástase franca. Pode haver tecido suficiente no parênquima para produzir edema ou embolia pulmonar aguda clinicamente evidente. Diagnóstico da MH A acurácia diagnóstica do ultrassom em gravidez molar é de 35% a 40% antes da 14ª semana, e de cerca de 60% após a 14ª semana. Se não tratado, comumente há evacuação espontânea por volta da 16ª semana. Ao USG, a mola completa aparece como massa uterina ecogênica complexa, com edema hidrotrópico difuso gerando múltiplos ecos anecoicos dentro da placenta, com espaços císticos e nenhum feto ou saco amniótico. Na mola parcial, os achados incluem placenta hidrotrópica espessada com tecido fetal, espaços císticos focais dentro da placenta à semelhança de “queijo-suíço” e aumento do diâmetro transversal do saco gestacional. Tratamento da MH A evacuação da mola e o seguimento regular para monitorizar o surgimento de doença trofoblástica persistente são dois aspectos cruciais do tratamento. Estudos necessários incluem: exame clínico incluindo exame neurológico, exame de fundo de olho e aferição da pressão arterial; raio-X de tórax; hemograma; nitrogênio ureico no sangue; creatinina; ALT, AST, fosfatase alcalina, gama-GT e tipagem sanguínea. Quanto ao tratamento, a aspiração uterina é o método de escolha para pacientes com gravidez molar. A histerectomia é uma opção para mulheres que não desejam mais engravidar. Após o procedimento, aconselha-se que a mulher evite nova gravidez pelos seis meses subsequentes e prescreve-se anticoncepcional. Deve haver dosagem sérica hormonal de beta-hCG até que se atinja três valores normais consecutivos. Depois disso, deve-se continuar dosando o beta-hCG mensalmente durante 6 meses. Neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) Mola invasora Geralmente se origina de molas parciais ou completas. Apresenta alta invasividade, mas não possui grande potencial para metástase ampla. É caracterizada por crescimento trofoblástico excessivo com extensa invasão tecidual pelas células trofoblásticas e pelas vilosidades. Há penetração do miométrio, podendo ainda alcançar o peritônio, paramétrio adjacente e cúpula vaginal. Coriocarcinoma gestacional É o carcinoma do epitélio coriônico, altamente invasivo. Um terço se desenvolve após gestações molares, devendo ser suspeitado em qualquer sangramento subsequente a qualquer evento gestacional. É uma massa de crescimento rápido, invadindo o miométrio e vasos, causando necrose. Quando há envolvimento endometrial, frequentemente se desprende a sangrar, podendo ocorrer infecção precocemente. Em muitos casos, há desenvolvimento de metástase precoce, geralmente por via hematogênica devido à afinidade das células trofoblásticas com os vasos sanguíneos. Os sítios mais comuns de implantação são o pulmão (70%) e vagina (50%). A vulva, rins, fígado, ovários e cérebro são outros possíveis locais de acometimento. Cistos tecaluteínicos estão presentes em 33% dos casos. Tumor trofoblástico de sítio placentário (TTSP) Origina-se do local de implantação placentária após qualquer evento gestacional. Sangramento é o principal sintoma e esse tipo histológico com invasão local é resistente à quimioterapia. Pode se apresentar de meses a anos após o evento gestacional e mais de 30% das pacientes apresentam metástase ao diagnóstico. Tumor trofoblástico do tipo epitelioide (TTE) Desenvolve-se a partir da transformação neoplásica do tecido trofoblástico intermediário do tipo coriônico. Assemelha-se ao último tipo descrito, mas com células menores e menor pleimorfismo nuclear. A histerectomia é o principal método terapêutico, mas 25% das acometidas terão doença metastática. Manifestações clínicas O achado mais comum é o sangramento irregular, associado à subinvolução uterina após término do evento gestacional. O sangramento pode ser contínuo ou intermitente, podendo haver hemorragia intensa súbita. Pode haver perfuração miometrial com sangramento intraperitoneal. Em algumas mulheres, pode haver metástase em sítios próximos, como a vagina e a vulva, identificáveis ao exame. Em outras, o tumor uterino pode desaparecer e deixas apenas as metástases à distância. Diagnóstico Beta-hCG sérico persistentemente alto ou crescente após o evento gestacional são indicativos de NTG. O platô do beta-hCG é definido como quatro valores ou mais por pelo menos três semanas consecutivas; enquanto o aumento do valor do beta-hCG em 10% ou mais por pelo menos duas semanas consecutivas indica curva em ascensão. Após exame pélvico completo, solicitam-se: hemograma, provas de função hepática e renal e raio- x de tórax. Tratamento Valores até 6 indicam doença de baixo risco, e valores ≥7 indicam doença de alto risco. Para pacientes com doença metastática de baixo risco, a quimioterapia com agente único é a terapia de escolha. As pacientes são tratadas com metotrexato (MTX) - associado ou não ao ácido folínico (FA) – ou actinomicina (ACTD). Em geral, os esquemas são: (MTX/FA – 8 dias, MTX 1 mg/kg nos dias 1, 3, 5 e 7 seguido por FA 0,1 mg/kg nos dias 2, 4, 6 e 8), MTX sem ácido folínico em regime de cinco dias (0,4 mg/kg – máximo de 25 mg/dia durante cinco dias) e ACTD (0,5 mg/dia em regime de cinco dias ou 1,25 mg/dia a cada 15 dias). Em pacientes com doença metastática de alto risco devem utilizar quimioterapia combinada. Uma opção é o regime EMA-CO (etoposida,metotrexato, actinomicina D, ciclofosfamida e oncovin). Deve ainda haver 3 ciclos após a normalização do beta-hCG. Caso a paciente apresente resistência a esse esquema, utiliza-se o EP/EMA (etoposídeo e cisplatina na fase 1, e etoposídeo, MTX e ACTD na fase 2). Frequentemente, há emprego de cirurgia de radioterapia. A vigilância deve ocorrer 1 ano depois da NTG e por até 2 anos se houver metástase. No entanto, deve ser cautelosamente acompanhada, visto que há 2% de DTG subsequente.
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