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ABORTAMENTO Interrupção voluntária ou não da gravidez antes de 20 semanas de gestação ou quando o peso fetal for <500g. Cronologia: Precoce: Se perda gestacional ocorrer até 12 semanas. Tardio: Se ocorrer entre 12 e 20 semanas de gestação. Intenção: Espontâneo: Quando ocorre sem ação externa (pode ser causado por doenças da mãe ou anormalidades do feto). Provocado/Induzido: Decorrente de uma interrupção intencional. Quando recorrente, com a ocorrência consecutiva de 3 ou mais abortamentos espontâneos, é definido como abortamento habitual. As causas podem ser genéticas, anatômicas, endócrinas, infecciosas e imunológicas e deve ser pesquisada a alteração cromossômica no casal e a presença de anticorpos antifosfolípides. As alterações cromossômicas e genéticas são as causas mais comuns de abortamento no 1º trimestre da gestação, ocorrendo em 50 a 80% dos casos. Já sobre fatores maternos, a SOP tem sido considerada fator de risco para abortamento habitual devido à resistência insulínica com hiperinsulinismo compensatório e aumento de hormônio luteinizante, além de hiperandrogenismo e obesidade. Qualquer infecção aguda grave também está relacionada devido a lesões na decídua, placenta, membranas ovulares e no próprio produto conceptual. Agentes infecciosos como Treponema pallidum, Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, estreptococo do grupo B, Lysteria monocytogenes, herpes genital e citomegalovírus têm sido implicadas como causa de abortamento espontâneo. Mulheres com DM 1 que não estão compensadas no início da gravidez apresentam risco de evoluir em abortamento espontâneo. Aderências intrauterinas também estão relacionadas ao abortamento espontâneo, pois podem interferir na nidação. Mulheres com Síndrome de Asherman apresentam abortamento de repetição. A lise dessas aderências pode tratar a paciente e prevenir a neoformação através de DIU ou administração de estrógeno, para provocar a proliferação endometrial e reepitelizar esse endométrio. Em relação à miomatose, a localização do mioma é mais importante que o seu tamanho, pois submucosos distorcem a cavidade endometrial. Miomas induzem a produção de citocinas que estão relacionadas à contratilidade uterina. Malformações uterinas (útero bicorno, unicorno, septado e didelfo) aumentam a probabilidade de abortamento, bem como desnutrição acentuada, uso excessivo de álcool e tabaco, trauma grave e cirurgias abdominais. DA PRIMEIRA METADE DA GESTAÇÃO INCOMPETÊNCIA ISTMOCERVICAL (IIC) Quadro de perda fetal tardia, recorrente, em consequência de um colo uterino com oclusão insuficiente, seja por defeito estrutural ou funcional, seja por origem traumática (curetagem, laceração cervical pós-parto ou aborto traumático, conização) ou congênita. O quadro clínico é baseado em dilatação cervical indolor até 4-6 cm, ausência de sangramento, protrusão das membranas ovulares na vagina e posterior rotura de membranas, seguida de expulsão fetal de feto morfologicamente normal e vivo (parto prematuro). O diagnóstico pode ser retrospectivo e exames complementares podem ajudar: Histerossalpingografia: largura do segmento istmocervical na altura do orifício interno do colo superior a 8 mm. Avaliação do orifício interno pelo uso de velas de Hegar: que comprova a incompetência quando permite a passagem da vela de 8 mm. O tratamento clássico é a cerclagem para prevenir o encurtamento e a abertura prematura do colo uterino por meio de sutura circular, e a técnica mais utilizada é a cirurgia de MacDonald. A sutura deve ser retirada com 37-38 semanas ou antes, caso a paciente apresente trabalho de parto, rotura prematura das membranas ovulares (RPMO), corioamnionite e óbito fetal. As gestantes submetidas à cerclagem terapêutica ou de urgência devem usar progesterona por via vaginal na dose de 200 mg, à noite, até 36 semanas de gestação. O Pessário Vaginal é uma alternativa à cerclagem. Trata-se de um dispositivo feito de silicone e em formato de anel, facilmente dobrável e de inserção indolor. Deve ser removido assim que se iniciar o trabalho de parto ou até completar 37 semanas de gestação. CAUSAS IMUNOLÓGICAS Síndrome do Anticorpo Antifosfolipíde (SAF) Trata-se de uma trombofilia autoimune e, no caso de gestantes, está associada a tromboses e infartos placentários. É uma das causas de abortamento de repetição. Seu diagnóstico é baseado em pelo menos um critério clínico e um critério laboratorial. Critérios laboratoriais: Anticoagulante lúpico (LA) presente no plasma em duas ou mais ocasiões com intervalo mínimo de 12 semanas. Anticardiolipinas (ACL) IgG ou IgM em títulos moderados (>40) a altos (> 80) em duas ou mais ocasiões com intervalo de, no mínimo, 12 semanas por teste de ELISA padronizado. Antibeta2GPI IgG ou IgM presente no plasma em duas ou mais ocasiões com intervalo mínimo de 12 semanas por teste ELISA padronizado. Critérios clínicos: Trombose vascular: 1 ou mais episódios de trombose arterial, venosa ou de pequenos vasos em qualquer órgão ou tecido confirmados por Doppler ou histopatologia, que exclua vasculite. Morbidade gestacional: 1 ou mais mortes de feto morfologicamente normal com >10 semanas de idade gestacional, confirmado por USG ou exame do feto. 1 ou mais nascimentos prematuros de feto morfologicamente normal com 34 semanas ou menos em virtude de eclampsia, pré-eclâmpsia ou causas de insuficiência placentária. 3 ou mais abortamentos espontâneos antes de 10 semanas de idade gestacional, sem anormalidades hormonais ou anatômicas maternas, nem causas cromossomiais paternas ou maternas. O tratamento para pacientes que preenchem os critérios sem história anterior de trombose é: AAS (10mg/dia por via oral) e heparina em doses profiláticas (anticoagulação profilática): Heparina não fracionada (5.000 a 10.000 UI, a cada 12 horas, por via subcutânea); Heparina de baixo peso molecular; Enoxaparina, 40mg/dia ou 1mg/kg/dia; Dalteparina, 5.000 UI/dia, ou, 100 UI/kg/dia. Já em gestantes com histórico de trombose, o tratamento é baseado em AAS e heparina em doses plenas (anticoagulação terapêutica). Aloimune Resposta materna anormal para antígenos paternos ou do trofoblasto. Ocorre uma histocompatibilidade materno-fetal exagerada, ocasionando rejeição materna aos tecidos fetais. O diagnóstico baseia-se no tipo do antígeno leucocitário humano (HLA) do casal, na detecção in vitro do fator bloqueador da mulher (cultura mista de linfócitos) e na atividade das células natural killer. Não há tratamento disponível. FORMAS CLÍNICAS E CONDUTAS Toda gestante com sangramento vaginal no 1º trimestre deve ser submetida a exame abdominal, exame especular e toque vaginal. Ameaça de Abortamento (A): Sangramento discreto, pouca dor ou ausente, febre ausente, útero compatível do IG, OI do colo fechado, beta-hCG positivo e USG com embrião e BCE presentes. Abortamento Completo (B): Sangramento discreto ou ausente, dor ausente, febre ausente, útero menor do que esperado para IG, OI do colo fechado, beta-hCG negativo e USG com útero vazio. Abortamento Retido (C): Sangramento ausente, dor ausente, febre ausente, útero menor do que esperado para IG, OI do colo fechado, beta-hCG negativo e USG com embrião sem BCE (morto). Abortamento Incompleto (D): Sangramento variável, cólicas presentes, febre ausente, útero menor do que o esperado para IG, OI do colo fechado ou aberto, beta-hCG negativo e restos ovulares presentes no USG. A B C D E Abortamento Infectado: Sangramento variável com odor fétido, cólicas presentes e pode haver sinais de peritonite, febre presente, útero amolecido e doloroso à palpação,OI do colo fechado ou aberto, beta- hCG negativo e USG variável. Abortamento Inevitável (E): Sangramento presente e intenso, cólicas, febre ausente, útero compatível ou não com IG, OI do colo aberto, beta-hCG positivo e presença ou ausência de BCE no USG. Indica-se a administração de Imunoglobulina Anti-Rh- D para mulheres Rh negativas com Coombs indireto negativo com abortamento espontâneo (incluindo ameaça de abortamento) ou induzido. 1º trimestre: 50mcg. Após 12 semanas: 300mcg. A ameaça de abortamento tem probabilidade de evolução para abortamento espontâneo de 50%, ainda que muitas das gestações sejam viáveis. Quadro clínico baseado em sangramento vaginal leve, cólicas presentes ou ausentes, colo do útero fechado e tamanho do útero compatível com IG. Na USG, apresenta-se saco gestacional irregular, embrião com atividade cardíaca compatível com o CCN e presença ou ausência de hematoma subcoriônico. A conduta é expectante mesmo na presença de hematoma. Indicar repouso relativo, analgésicos, antiespasmódicos e abstinência sexual. No abortamento inevitável, o processo de perda já começou, mas não concluiu. Seu quadro clínico é baseado em sangramento importante, que pode afetar a hemodinâmica da paciente, dor em cólica e colo uterino dilatado permitindo a detecção das membranas ovulares ou até mesmo do embrião, mas sem expulsão. Na USG, pode haver sinais de descolamento placentário com formação de hematoma retrocoriônico, irregularidade do saco gestacional com ou sem BCF. A conduta é realizar a internação e estabilização da paciente, seguido de curetagem após a expulsão fetal. No abortamento completo, há eliminação total do concepto. O quadro clínico é baseado em sangramento e cólicas com redução ou parada após a expulsão do ovo íntegro. A paciente consegue referir eliminação de material pela vagina. O colo uterino está fechado ou irá se fechar em poucas horas. Na USG não há evidências de conteúdo intrauterino e com endométrio linear, com espessura endometrial menor ou igual a 15mm. A conduta é expectante com seguimento ambulatorial para monitorar sangramento. No abortamento incompleto, há eliminação parcial dos produtos da concepção, ou seja, ocorre expulsão do feto, mas permanência da placenta ou restos placentários. Mais frequente após 10 semanas de gestação. O quadro clínico é baseado em sangramento vaginal persistente, volumoso ou não, associado a cólicas. O volume uterino é menor que o esperado para IG e o orifício interno do colo uterino encontra-se pérvio e pode haver saída de restos ovulares ao exame. Na USG há presença de conteúdo intrauterino de aspecto amorfo e heterogêneo. A conduta é o esvaziamento cirúrgico do conteúdo uterino, por curetagem ou aspiração manual intrauterina (AMIU). Se colo impérvio, a dilatação pode ser feita com misoprostol ou velas de Hegar. Colo pérvio <12 semanas: AMIU. Colo pérvio >12 semanas: curetagem. No abortamento retido, há retenção do produto conceptual sem vitalidade por dias ou semanas, em gestações de até 20 semanas. O quadro clínico é baseado em sangramento variável (às vezes ausente), regressão dos sintomas de gravidez, útero menor do que o esperado para IG e orifício interno do colo fechado. Na USG pode constatar saco gestacional irregular, vesícula vitelínica alterada e atividade cardíaca fetal ausente. Em USG transvaginal, a ausência de batimento cardíaco do embrião com CCN maior ou igual a 7mm indica interrupção da gestação. A conduta, no 1º trimestre, pode ser expectante, se há expulsão completa espontânea em duas semanas ou ativa, medicamentosa ou cirúrgica, através do esvaziamento uterino. Para abortamento retido o 2º trimestre ou >12 semanas, a melhor conduta é expulsão imediata do feto com uso de misoprostol e curetagem uterina. O abortamento infectado é resultado da tentativa de esvaziar o útero com uso de instrumentos inadequados e técnicas inseguras de abortamento clandestino. Esse quadro leva a infecções polimicrobianas, compreendendo microorganismos da flora genital e intestinal, sendo os agentes mais envolvidos: peptococos e peptoestreptococos, gram- negativos (E. coli), Clostridium perfingrens (ou welchii) e bacteroides. O quadro clínico é baseado em sangramento com odor fétido e, em casos de endometrite, há hipertermia, sangramento vaginal discreto, que pode ser acompanhado de saída de material purulento do colo uterino, cólicas e útero doloroso à palpação. No exame especular, pode estar presentes lacerações cervicais. Em casos mais graves, pode apresentar peritonite generalizada, sepse, insuficiência renal e coagulopatia. Na USG pode ser observado restos ovulares e/ou coleções purulentas no fundo do saco de Douglas, além do endométrio espesso e irregular. A conduta consiste no uso de ATB, tratamento da hipovolemia e reparo das lesões e lacerações decorrentes do método utilizado para abortamento clandestino. A curetagem é realizada após a administração do ATB. Tratamento para Aborto Infectado: Ampicilina 500mg-1g, 6/6h ou Penicilina 20-40 milhões UI/dia + Gentamicina 1,5mg/kg/dia, 8/8h + Clindamicina 600- 900mg, 6/6h ou Metronidazol 500mg-1g, 6/6h. MÉTODOS DE ESVAZIAMENTO UTERINO Misoprostol é um análogo sintético da prostaglandina E1. Age tanto nas contrações uterinas como no esvaecimento do colo uterino. É o tratamento de escolha para casos de óbito fetal que se desenvolvem após 12 semanas de IG. Seu uso deve ser feito de acordo com o tamanho uterino, e não com base na IG. Abortamento no 1º trimestre Aborto retido: 2 a 3 doses de 800mcg via vaginal, a cada 12h. Aborto incompleto: 400mcg, dose única. Abortamento no 2º trimestre 200mcg via vaginal, a cada 4-6h, seguida por tratamento cirúrgico combinado. Já a Ocitocina apresenta melhor resultado para casos acima de 16 semanas e colo favorável. Em IG precoce, é necessário o uso de altas doses para obter o efeito desejado. A conduta cirúrgica está indicada em casos de sangramento moderado ou intenso, na presença de infecção e para mulheres que não desejam esperar a eliminação espontânea ou medicamentosa. AMIU (Aspiração Manual Intrauterina): Método de escolha em relação à curetagem para remoção do conteúdo uterino no 1º trimestre por ser menos traumático. Na realização da AMIU é possível substituir a anestesia geral por analgésicos. Aspiração a Vácuo: Aspiração intrauterina a vácuo elétrica por meio de uma bomba. Curetagem Uterina: Consiste, inicialmente, na dilatação do cérvix e no uso de uma cureta metálica para raspar as paredes do útero. Está indicada para abortamentos incompletos no 2º trimestre. Possíveis complicações: infecção, esvaziamento incompleto, laceração cervical, perfuração uterina, lesão de órgãos pélvicos e hemorragia. LEGISLAÇÃO PARA ABORTO NO BRASIL Abortamento Terapêutico: Realizado quando a gestação oferece riscos à vida da mãe. Deve ser feita avaliação por dois médicos (idealmente, 3). A autorização judicial está dispensada. Abortamento Humanitário: Realizado em casos de violência sexual. O boletim de ocorrência, autorização judicial e condenação por estupro estão dispensados. O médico é o árbitro. A comunicação à polícia só será feita caso haja autorização da paciente. Abortamento em Casos de Anencefalia: É necessária USG em período superior a 12 semanas, em que se identifique ausência de calota craniana e parênquima cerebral. GRAVIDEZ ECTÓPICA Caracterizada pela implantação e desenvolvimento do ovo fora da cavidade endometrial e geralmente está relacionada a situações que causam lesão tubária e/ou alteração no transporte ovular. É a principal causa de morte materna no 1º trimestre. A tuba uterina é o local mais frequente na ocorrência de gravidez ectópica (95-98% dos casos). Regiãoampular (70-80%), istmo (12%), região infundibular (6- 11%) e porção intersticial da tuba (2-3%). A gravidez também pode ocorrer em cicatriz de cesárea, embora raramente. Fatores de Risco: Antecedente de gravidez ectópica; Endometrose; Gravidez após falha do DIU; Antecedente de cirurgia tubária; Antecedente de DIP; Alterações anatômicas da tuba uterina; Gravidez após fala de contracepção de emergência; Gravidez após reprodução assistida; Tabagismo; ANAMNESE Tríade clássica: dor abdominal, sangramento vaginal e atraso ou irregularidade menstrual. A dor abdominal pode ser em cólica, dor sincopal e lancinante. Pode ser referida no lado da tuba acometida, difusamente por todo o abdome ou no lado oposto. Também pode estar presente no abdome superior, região cervical e escápula (sinal de Laffon). Pode ocorrer dor lombar por irritação do retroperitônio. Sinal de Laffon: dor escapular por sangramento retroperitoneal e irritação do nervo frênico. O sangramento vaginal é decorrente da descamação endometrial pela produção irregular de hCG. Geralmente é discreto, vermelho escuro ou acastanhado. Outras queixas presentes são típicas de alterações hormonas da gravidez: aumento do volume e sensibilidade das mamas, náuseas, vômitos e alterações intestinais. EXAME FÍSICO Em casos de rotura tubária, há palidez progressiva e variações de pressão arterial e pulso com a posição do paciente sentada ou deitada (variação ortostática) – importante sinal de sangramento. O útero geralmente apresenta-se de tamanho normal ou com discreto aumento. Também, em metade dos casos, é possível palpar massa anexial dolorosa. Sinal de Cullen: equimoses em região periumbilical devido à hemorragia retroperitoneal. Sinal de Blumberg: dor à descompressão súbita na palpação abdominal. Sinal de Proust: fundo de saco abaulado devido ao acúmulo de sangue e doloroso ao toque vaginal (grito de Douglas). EXAMES COMPLEMENTARES Dosagem de beta-hCG: A concentração sérica de beta-hCG em casos de gestação ectópica tende a ser menor que a encontrada em gestações intrauterinas da mesma IG, além de não duplicar normalmente. Caso haja beta-hCG ≥2000, o saco gestacional deverá ser visualizado na USG. Caso não encontrado, suspeitar de gestação ectópica. Se não houver imagem de gestação ectópica identificada, repetir o beta-hCG para descartar quadro de abortamento. USG: Constitui sinal ecográfico de certeza de gravidez ectópica a visualização de saco gestacional fora da cavidade uterina, contendo vesícula vitelínica e/ou embrião com ou sem atividade cardíaca. Imagens sugestivas de gravidez ectópica: Imagem de anel tubário, também conhecido como “bagel”. Imagem heterogênea ou complexa, também denominada “blob”. Líquido livre na pelve. Progesterona: <5 ng/mL, pensar em gravidez tópica inviável ou gravidez ectópica. Laparoscopia: Excelente exploração da pelve, possibilitando certeza diagnóstica de gravidez ectópica, da integridade da tuba e de associação com outras doenças. Culdocentese: Permite avaliar o conteúdo líquido presente na pelve por aspiração pelo fundo de saco de Douglas. A obtenção de sangue escuro apresentando microcoágulos significa hemoperitônio, que ocorre em 80-96% dos casos de gravidez ectópica. TRATAMENTO A conduta expectante é indicada para pacientes com gravidez ectópica de pequeno tamanho e concentrações séricas de beta-hCG baixas e em declínio, com valores iniciais de 1.000 a 1.500 mUI/mL. É contraindicado em caso de recidiva de gravidez ectópica na mesma tuba ou impossibilidade de acompanhamento adequado (dosagens semanais de beta-hCG até negativação). Caso não ocorra queda do hCG, pode-se optar por metotrexato IM. Orienta-se a evitar esforço físico que aumente a pressão intra-abdominal. O tratamento farmacológico é baseado em metotrexato, que está indicado nas seguintes condições: Gestação ectópica íntegra de até 4 cm de maior diâmetro. Estabilidade hemodinâmica. Desejo reprodutivo. Embrião sem atividade cardíaca. Beta-hCG ≤5000 mUI/mL e decrescente em duas dosagens consecutivas. Líquido livre restrito à pelve. Normalidade hemograma, função renal e enzimas hepáticas. Formas de administração do metotrexato: Injeção IM em dose única: dose de 50 mg/m². Injeção IM em dias alternados: 1mg/kg de peso de metotrexato no 1º, 3º e 5º dias e uma dose de ácido folínico de 0,1 mg/kg no 2º, 4º e 6º dias. Injeção direta no saco gestacional: dose única de metotrexato (1mg/kg). Método menos prático por ser guiado por USG. É importante seguir com dosagens de beta-hCG no 4º e 7º dia após a administração e, havendo queda >15%, o exame deve ser repetido semanalmente até negativação. Caso a redução seja <15%, recomenda-se nova administração de metotrexato. Se a redução novamente não for >15%, indica-se procedimento cirúrgico. Complicações relacionadas ao medicamento: Mielotoxicidade, estomatites, náuseas, vômitos, Enterorragia, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, neurotoxicidade, dermatite, alopecia, serosite e pneumonia intersticial. Contraindicações: Aleitamento materno, imunodeficiência, recidiva de gestação ectópica, sensibilidade ao medicamento, úlcera péptica ativa e impossibilidade de seguimento. O tratamento cirúrgico é indicado na presença de gravidez ectópica rota ou em casos de gravidez ectópica íntegra em que há contraindicação para o tratamento clínico. Pode ser radical (salpingectomia) ou conservador (salpingostomia), e isso não influencia no futuro reprodutor da paciente com tuba contralateral normal. As vias podem ser por laparoscopia (estável) ou laparotomia (instabilidade hemodinâmica). A salpingostomia por laparoscopia é padrão-ouro no tratamento de pacientes com gravidez tubária íntegra que desejam preservar o futuro reprodutivo, já que consiste na remoção do tecido trofoblástico por aspirador/irrigador na incisão. Salpingectomia Salpingostomia A salpingectomia está indicada para pacientes que não manifestam desejo reprodutivo, quando há gravidez tubária rota (via de regra), recidiva na mesma tuba ou presença de lesão tubária acentuada e na falha de salpingostomia. Após a salpingostomia é necessária a dosagem sérica semanal de beta-hCG até sua negativação. DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL Caracterizada pela proliferação anormal dos diferentes tipos de epitélio trofoblástico (sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto viloso e trofoblasto intermediário). Engloba mola hidatiforme e neoplasia trofoblástica gestacional. Fatores de risco: >40 anos, intervalo curto entre partos, SOP, abortamentos prévios, mola hidatiforme prévia, inseminação artificial, tabagismo, exposição à radiação ionizante e uso de contraceptivos orais. MOLA HIDATIFORME A gravidez molar é caracterizada por anormalidades nas vilosidades coriônicas, que consistem na proliferação trofoblástica e edema do estroma viloso. Pode ser completa ou parcial, e podem estar envolvidos fatores ambientais, hormonais, genéticos, nutricionais, infecções, história de mola anterior, paridade e até extremos da idade materna. A Mola Hidatiforme Completa apresenta-se macroscopicamente como uma massa de vesículas transparentes, de tamanhos variados. Histologicamente, há degeneração hidro trópica e edema viloso, ausência de vasos sanguíneos vilosos e proliferação do epitélio trofoblástico em diferentes graus. Não há desenvolvimento de embrião, membranas e cordão umbilical. Pode evoluir para formas malignas da doença trofoblástica gestacional. Apresenta níveis mais elevados de hCG e maior taxa de complicações clínicas quando comparados à mola parcial. São fetos usualmente diploides. Na Mola Parcial ou Incompleta, há algum elemento do tecidofetal e alterações hidatiformes focais e menos avançadas. Histologicamente apresenta edema lentamente progressivo no estroma das vilosidades coriônicas caracteristicamente avasculares, poupando as vilosidades vasculares com circulação fetoplacentária funcionante. São fetos usualmente triploides. Há presença de embrião ou feto com inúmeras malformações, associada à placenta aumentada em tamanho e com várias vilosidades. A hiperplasia vilosa é focal e atinge comumente o sinciciotrofoblasto apenas. Pode progredir para a forma maligna em cerca de 5% dos casos. Mola Completa Mola Parcial Diploide Ausência de concepto Hiperplasia trofoblástica difusa Hidropsia vilosa focal Triploide Concepto malformado Hiperplasia trofoblástica focal Hidropsia vilosa focal Beta-hCG > 100.000 UI/I Complicações clínicas comuns Evolui em até 20% para neoplasia Beta-hCG < 100.000 UI/I Complicações clínicas raras Evolui em menos de 5% para neoplasias Quadro Clínico: O útero encontra-se aumentado de volume para a IG pela presença do tecido molar e à retenção de coágulos. Pode haver sangramento vaginal de repetição e de intensidade variável. Pode existir dor em hipogástrio por distensão da cápsula ovariana em razão de cistos tecaluteínicos. Náuseas e vômitos são sintomas comuns e podem evoluir para hiperêmese de difícil tratamento e o hipertireoidismo pode ocorrer em torno de 5% dos casos. Algumas pacientes exigirão terapia antitireoidiana e bloqueio de sintomas periféricos até a remissão definitiva do beta-hCG. Caso a paciente apresente sinais de pré-eclâmpsia antes da 20ª semana, deve-se suspeitar de gestação molar. A eliminação espontânea de vesículas hidrópicas pela vagina é patognomônico dessa enfermidade. Geralmente ocorre pela 16ª semana. Diagnóstico: USG sugestivo associado a altos níveis de beta-hCG, embora o diagnóstico definitivo seja possível somente após análise histopatológica do material. Valores séricos elevados de beta-hCG > 200.000 mUI/mL são sugestivos de mola completa. Valores séricos de beta-hCG até 100.000 mUI/mL são sugestivos de mola parcial. Na mola completa, o USG apresenta massa uterina ecogênica complexa, com edema hidrópico difuso (imagem em “flocos de neve”) e nenhum feto ou saco amniótico. Na mola parcial, o USG apresenta placenta hidrópica espessada com tecido fetal, espaços císticos focais dentro da placento à semelhança de “queijo suíço” e aumento do diâmetro transversal do saco gestacional, e o concepto frequentemente apresenta restrição de crescimento e malformações estruturais. Conduta: Realizar anamnese, exame físico, fundo de olho, dosagem quantitativa de beta-hCG, hemograma, ureia, creatinina, função hepática, TSH e T4 livre, raio- X de tórax (se for inconclusivo, solicitar TC), USG com doppler. Também solicitar tipagem sanguínea e fator Rh e sorologia para sífilis e anti-HIV. Importante avaliar o grau de anemia, sangramento, sinais vitais e estabilidade hemodinâmica, volume uterino e se há associação clínica com pré-eclâmpsia e hipertireoidismo. Após estabilizar a paciente, deve-se realizar o esvaziamento com aspiração a vácuo (AMIU ou elétrica). Reservar 2 concentrados de hemácias se o volume uterino for >16 semanas. Anestesia. Preparo do colo uterino com Misoprostol ou Iaminária 6h antes do procedimento. Dilatação do colo uterino (cânulas). Aspiração do conteúdo uterino seguida de curetagem delicada ao final, se necessário. ENVIAR MATERIAL PARA BIÓPSIA! Se risco de perfuração ou hemorragia, a ocitocina pode ser usada com cautela. Repor sangue e cristaloides diminui as complicações pulmonares nos casos graves. Se Rh negativo, fazer imunoglobulina. Em úteros muito aumentados, que geram receio de hemorragia intraoperatória, ocitocina pode ser utilizada para diminuir risco de perfuração uterina. Mas deve ser usada com cautela! Para evitar aloimunização, administrar imunoglobulina anti-D a todas as gestantes com Rh negativo não sensibilizadas, mesmo sendo mola. Após o esvaziamento é importante que seja feito o acompanhamento com dosagem seriada semanal de beta-hCG e avaliação clínica. Devem ser avaliados até ficarem <5 mUI/mL. A histerectomia é uma opção para mulheres que não desejam mais engravidar. NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL Caracterizada pela invasão miometrial e potencial para metástase. Compreendem as seguintes classificações histológicas: mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico de sítio placentário (TTSP) e tumor trofoblástico epiteloide (TTE). Quase sempre se desenvolve a partir de uma gravidez reconhecida, mas também pode ocorrer após abortamento, gravidez normal, mola hidratiforme ou ectópica. A mola invasora é a mais comum. MOLA INVASORA É caracterizada por crescimento trofoblástico excessivo com extensa invasão tecidual pelas células trofoblástica e pelas vilosidades. Há penetração do miométrio, podendo alcançar o peritônio, paramétrio adjacente e cúpula vaginal. É sempre precedida de mola hidatiforme. Pode causar hemorragias, perfurações uterinas e infecções. Possui alta invasividade, mas não grande potencial de metástase ampla. Quando ocorre, são para pulmões e estruturas pélvicas. O tratamento é realizado por quimioterapia, mas se houver perfuração uterina, pode ser necessária histerectomia. Pode-se ressecar o tumor em alguns casos, visando gestações futuras. CORIOCARCINOMA GESTACIONAL Apresenta-se como um tumor sólido vermelho-escuro, que cresce em contato com a cavidade uterina e pode invadir profundamente o miométrio, estendendo-se para o peritônio. Pode-se originar de qualquer tipo de gestação, estimando-se que em até 50% dos casos surja após gestação não molar (abortamento, gravidez normal ou gravidez ectópica). É a forma mais agressiva de neoplasia trofoblástica. Causa necrose e hemorragia, disseminando-se rapidamente para pulmões, vagina, fígado e SNC. Trata-se com quimioterapia, que apresenta altas taxas de cura. TUMOR TROFOBLÁSTICO DO SÍTIO PLACENTÁRIO Caracterizado pela ausência de vilosidade coriônica, com proliferação das células trofoblástica intermediárias do sítio de implantação do ovo. Apresenta-se como massa sólida circunscrita ao miométrio, mas pode ocorrer projeção do tumor para dentro do útero. É uma forma rara de NTG, geralmente confinada ao útero e que pode cursar com hemorragias e necrose. Metástases a distância são infrequentes, mas podem ser encontradas nos pulmões, fígado, encéfalo, retroperitônio e linfonodos. Apresenta baixos níveis de hCG. Ocorre meses a anos após gravidez normal na maioria dos casos, o restante é originado de mola hidatiforme ou abortamento. Não responde bem à quimioterapia. Nos casos restritos ao útero, histerectomia é recomendada. TUMOR TROFOBLÁSTICO EPITELIOIDE Tem como característica macroscópica uma formação bem definida, formando ninho de células e discreta hemorragia. Apresenta massa sólida, em parede uterina, e cresce de forma nodular não infiltrativa. Raramente emite metástase, está relacionado à gestação anterior a termo e pouca produção de hCG (que não ultrapassa 2.500 mUI/mL). Pode coexistir com coriocarcinoma e tumor trofoblástico do sítio placentário. Não responde bem à quimioterapia. Histerectomia é o principal método terapêutico. DIAGNÓSTICO Se após esvaziamento molar houver estabilização ou aumento da concentração de hCG, deve-se pensar em neoplasia trofoblástica gestacional se houver qualquer um dos critérios abaixo: Estabilização de 4 valores (variação positiva ou negativa menor que 10%) dosados no período de 3 semanas (dias 1, 7, 14 e 21); Aumento >10% por no mínimo 3 valores no período de 2 semanas (dias 1, 7 e 14); Beta-hCG detectável6 meses após o esvaziamento molar; Diagnóstico histológico de NTG; Evidência de metástase em mulher em idade reprodutiva; ESTADIAMENTO Estadiamento Estádio I Doença restrita ao corpo do útero Estádio II NTG em pelve, vagina, anexos, ligamento largo Estádio III NTG com extensão para os pulmões, com ou sem envolvimento genital Estádio IV Todos os outros locais de metástases Escore de risco 0 1 2 4 Idade (anos) >40 >40 - - Gestação anterior Mola Aborto Termo - Intervalo (meses) entre gestação Antecedentes e NTG <4 4-6 7-12 >12 Beta-hCG (UI/L) <103 103-104 >104-105 >105 Maior tumor (cm), incluindo útero - 3-4cm >5cm - Sítio de metástases - Baço, rim Gastro- intestinal Cérebro, fígado Nº de metástases - 1-4 5-8 >8 Falha da QT - Agente único 2 ou + agentes TRATAMENTO A paciente deve ser encaminhada para a oncologia. Pacientes com doença metastática de baixo risco: quimioterapia de agente único (metotrexato – associado ou não ao ácido folínico, ou actinomicina (ACTD)). Esquemas: MTX/FA – 8 dias, MTX 1 mg/kg nos dias 1, 3, 5 e 7, seguido por FA 0,1 mg/kg nos dias 2, 4, 6 e 8; MTX sem ácido folínico em regime de 5 dias (0,4 mg/kg – máximo de 25 mg/dia durante 5 dias); ACTD 0,5 mg/dia em regime de 5 dias ou 1,25 mg/dia a cada 15 dias; Grande parte dos especialistas indicam 3 ciclos adicionais após normalização de beta-hCG. Paciente com a doença metastática de alto risco: quimioterapia combinada. Regime EMA-CO (etoposida, 27 metotrexato, actinomicina D, ciclofosfamida e oncovin). Em caso de resistência, utilizar EP/EMA (etoposídeo e cisplatina na fase 1 e etoposídeo, MTX e ACTD na fase 2). Em casos de metástase para o SNC, associar à radioterapia. Em outros sítios, é possível optar pela ressecção, como em metástases de pulmão, fígado e alça intestinal. A vigilância deve ocorrer 1 ano depois da NTG e por até 2 anos em casos de metástase. Após doença trofoblástica gestacional, recomenda-se anticoncepção por até 2 anos em pacientes de baixo risco e de 5 anos nas de alto risco. DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL (ERITROBLASTOSE FETAL) Caracterizada pela condição em que o tempo de vida das hemácias do feto está reduzido pela ação de anticorpos específicos produzidos pela mãe que atravessam a placenta, causando anemia no concepto. Ocorre por incompatibilidade sanguínea materno-fetal, em que são produzidos anticorpos maternos específicos contra antígenos das hemácias fetais. Ocorre em casos de transfusão de sangue incompatível, uso de drogas IV e transplante. A principal causa é a hemorragia feto-materna. Todos os tipos de gestação podem causar aloimunização. Para a ocorrência da DHPN é necessário que uma sequência de 4 eventos ocorra: Incompatibilidade sanguínea materno-fetal; Aloimunização materna; Passagem de anticorpos da gestante para o feto; Ação dos anticorpos maternos no feto; Manifestações clínicas: anemia fetal leve assintomática, hidropsia fetal com anemia grave, até óbito fetal. Em alguns casos, há aumento de bilirrubina indireta e impregnação cerebral nos núcleos da base causando Kernicterus (sequelas neurológicas, cognitivas e óbito). SISTEMA ABO É responsável pela maioria dos casos de incompatibilidade, no entanto, repercute em menor gravidade clínica, podendo passar despercebido. Indivíduos que apresentam grupo O produzem anticorpos contra antígeno A e B, embora nenhum anticorpo é formado contra ele (doador universal). Para existir incompatibilidade ABO, a mãe deve ser O e o concepto A, B ou AB. A hemólise decorrente dessa forma de incompatibilidade é rara e, quando ocorre, é leve, com icterícia de início precoce (primeiras 24h pós- parto), raramente causando anemia fetal grave. A incompatibilidade ABO confere certo grau de proteção contra a sensibilização Rh, já que numa hemorragia feto-materna as hemácias fetais têm uma menor sobrevida por serem destruídas pelos anticorpos maternos anti-A e anti-B, diminuindo o tempo de exposição ao sistema imunológico materno, necessário para a sensibilização ao sistema Rh. SISTEMA RHD Contém muitos antígenos eritrocitários, e o antígeno D é o mais comumente implicado nos casos de aloimunização. Antígeno D presente: Rh positivo; Antígeno D ausente: Rh negativo; ANTÍGENOS ATÍPICOS São antígenos eritrocitários que não pertencem ao sistema RhD ou ABO. É rara a aloimunização e comumente as gestantes apresentam história prévia de transfusão sanguínea ou uso de drogas injetáveis. Alguns podem produzir doença hemolítica moderada a grave com óbito intrauterino (anti-C, anti-E e anti- Kell). PROFILAXIA A frequência e volume da hemorragia aumentam de acordo com a evolução da gestação. Assim, é preconizada a administração da imunoglobulina anti-D para todas as gestantes RhD negativo a partir de 28 semanas de idade gestacional. Todas as pacientes RhD negativo não sensibilizadas (Coombs indireto negativo) no pós parto (de até 72 horas) e/ou em qualquer caso de hemorragia durante a gestação, interrupção precoce da gestação e procedimentos invasivos (biópsia de vilo corial, amniocentese, cordocentese) devem tomar imunoglobulina anti-D. Utiliza-se dose única de 300 mcg IM de imunoglobulina, que neutraliza 30 mL de sangue total. DIAGNÓSTICO E SEGUIMENTO É fundamental avaliar o número de gestações prévias da paciente e como cada uma evoluiu. A USG pode constatar alterações placentárias, de textura e espessura, derrame pericárdico, polidrâmnio, CIUR, ascite fetal, edema subcutâneo, derrame pleural, entre outros. No doppler, o fluxo na artéria média cerebral estará alterado. A velocidade máxima do fluxo da artéria cerebral média sugere anemia fetal quando >1,5 MoM. Na cardiotocografia, o padrão sinusoidal pode significar anemia e hipóxia quando há aloimunização, mas não prediz a gravidade da anemia, mas sim se o feto está em sofrimento ou não. O teste de Coombs indireto é usado como marcador de risco da doença em relação ao antígeno D. Teste negativo: Repetir com 28, 32, 36 e 40 semanas de IG. Deve ser solicitado no pós- parto imediato (juntamente com o teste de Coombs direto e fator Rh do recém nascido); Teste positivo: Titulação menor ou igual a 1:8, deve repetir mensalmente até o parto. Se maior que 1:8, investigar anemia no feto. A amniocentese permite estimar indiretamente a concentração de bilirrubina no líquido amniótico, cruzando os dados com a IG. Zona 1: Doença leve ou Rh -. O exame deve ser repetido em 3 a 4 semanas. Zona 2: Comprometimento moderado. Realizar a repetição do exame em 1 a 2 semanas. Zona 3: Transfusões intravasculares seriadas pelo método de cordocentese ou antecipação Rh -/doença leve Comprometimento moderado Risco de óbito do parto imediata, dependendo da IG. GRANDE RISCO DE ÓBITO. Antes de 26 semanas, avaliar o feto por dopplerfluxometria. A cordocentese é o padrão-ouro de avaliação da anemia fetal. Hematócrito <30% está indicada a transfusão intravascular. Permite a dosagem de Ht, Hb, tipagem sanguínea fetal e Coombs direto. Em cerca de 50% das cordocenteses, ocorre hemorragia feto-materna, piorando a sensibilização e podendo transformar um caso leve em grave. TRATAMENTO Casos de DHPN antes das 17 semanas são raros, já que necessita da maturação do sistema reticuloendotelial, que começa a ocorrer a partir dessa IG. É preferível, portanto, iniciar a cordocentese a partir das 20 semanas de gestação. Prematuros ou com doença grave: Pode-se optar pela transfusão intrauterina, em que o sangue é administrado através da veia umbilical, por meio da cordocentese a partir das 20 semanas. O procedimento é feito após a medida do hematócrito fetal, e, se valor <30%, realizartransfusão intravascular de sangue Rh-negativo que seja compatível com o tipo sanguíneo ABO materno. Após a transfusão, monitorizar os BCF através de cardiotocografia durante 2 a 4 horas. As transfusões seguintes são programadas considerando uma queda média de Hb de 0,3-0,4 g/dL/dia. Feto a termo: Resolução do parto, que pode ser via vaginal (nos casos de doença leve) ou cesariana (nos gravemente acometidos). Após o nascimento, preconiza-se a exsanguinotransfusão além da fototerapia para diminuir os níveis de bilirrubina. Nos casos em que não é possível a transfusão intravascular, é indicada transfusão intraperitoneal.
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