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1 Obstet r íc ia INTRODUÇÃO A DTG ocorre em ~1:10.000 gestações, e engloba o grupo de lesões caracterizadas por proliferação anormal do trofoblasto. Este se apresenta através de três tipos celulares: • Citotrofoblasto, constituinte do vilo corial. • Sinciciotrofoblasto, constituinte do vilo corial → gonadotrofina coriônica (hCG). • Trofoblasto intermediário, de localização extravilositária → hormônio lactogênio placentário. Pode ser benigna ou maligna → benigna é denominada de MOLA HIDATIFORME (pode ser completa ou incompleta). Embriologicamente → células da camada externa do blastocisto recebem o nome de TROFOBLASTO → se divide em CITOTROFOBLASTO (constitui as vilosidades primárias) e SINCICIOTROFOBLASTO [invasão do endométrio, responsável pela reação decidual (adaptação do endométrio à implantação do ovo)]. FATORES DE R ISCO Apesar da etiologia da doença ainda não ser completamente conhecida, alguns fatores de risco já foram identificados. • Idade > 40 anos. • Intervalo interpartal curto. • Síndrome de ovários policísticos. • Abortamentos prévios. • Mola hidatiforme anterior. • Inseminação artificial. • Tabagismo. • Exposição à radiação ionizante. • Uso de contraceptivos orais. Fator de proteção → gestação anterior normal. MOLA HIDATIFORME CONCEITO Duas teorias tentam explicar o desenvolvimento da mola hidatiforme, a saber: 1. Ocorrência de degeneração das vilosidades coriônicas associada à hiperplasia dos elementos trofoblásticos. 2. Neoplasia benigna do trofoblasto, que leva à degeneração das vilosidades coriônicas. Maior INCIDÊNCIA na população de baixa renda e nas mulheres nos extremos da vida reprodutiva (> 40 anos) / 2/3 dos abortamentos espontâneos por ovo anembrionado observa-se a DEGENERAÇÃO MICROMOLAR (edema das vilosidades coriônicas com potencial molar). PATOLOGIA Macroscopicamente → vesículas com líquido claro, semelhantes a “cachos de uva” ou “hidátides” → sinal PATOGNOMÔNICO da doença. Microscopicamente → proliferação trofoblástica, degeneração hidrópica do estroma e déficit da vascularização. Dividida em MOLA COMPLETA (mais frequente) ou PARCIAL / pode se transformar em uma forma mais agressiva de neoplasia = CORIOCARCINOMA / responsáveis pela diferenciação = morfologia, padrões clinicopatológicos e citogenética. MOLA COMPLETA → caracterizada pela eliminação de grandes vesículas e pela ausência de feto e/ou âmnio. Decorre da degeneração hidrópica de todas as vilosidades coriais, devido à perda da vascularização vilosa. Doença Trofoblástica Gestacional DTG J OSÉ SAN TAN A FARIAS N ETO - UESB 2 Obstet r íc ia • Quanto ao aspecto genético, sempre é DIPLOIDE, e todos os cromossomos são de origem PATERNA (origem androgenética). Pode ser: o Homozigótica → cariótipo 46XX / há fertilização de um óvulo com núcleo ausente ou inativado por um espermatozoide 23X → duplica o genoma → embrião totalmente de origem paterna = edema generalizado, hiperplasia grosseira do trofoblasto, menor probabilidade de malignização quando comparada com o tipo heterozigótico e ↑ [beta-hCG] / ≡ 90% das molas completas. o Heterozigótica → cariótipo 46XY ou 46XX / surge a partir da fertilização de um óvulo por 2 espermatozoides 23X e 23Y / maior tendência à doença trofoblástica persistente / risco de evolução para tumores mais agressivos é de ~ 20%. MOLA PARCIAL ou INCOMPLETA → TRIPLOIDIA é o cariótipo mais frequentemente encontrado (69XXY, 69XXX, 69XYY), com 2 genomas paternos e 1 materno (origem biparental) / ~10% dos casos apresenta cariótipo tetraploide. • Há duas populações distintas de vilosidades coriais → uma normal e outra com degeneração hidrópica. • Geralmente NÃO apresenta a aparência típica em “cachos de uva” → alguns vilos apresentam invaginações profundas denominadas “fjord-like”. • Tecido fetal está sempre presente, mesmo que não seja visto macroscopicamente → pode haver evidências de crescimento embrionário representado por células vermelhas nucleadas nos vilos. • Maioria dos casos a gestação é INVIÁVEL → feto com estigmas de triploidia (malformações congênitas múltiplas e restrição de crescimento). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Quando clínico → sangramento vaginal (do tipo intermitente, com ↑ volume gradualmente, podendo levar à anemia ferropriva); útero amolecido, em geral indolor e maior do que o esperado para a idade gestacional; náuseas e vômitos intensos pelos altos níveis de beta-hCG; algumas vezes, há o desenvolvimento precoce de toxemia gravídica, que pode se complicar com eclampsia e/ou síndrome HELLP. • “Útero em sanfona” → devido aumento do volume uterino, posterior eliminação do material intrauterino, e novo crescimento, com grande acúmulo de coágulos / normalmente, não há ausculta do BCF. • Cistos ovarianos tecaluteínicos → geralmente bilateral, levando à presença de massa anexial palpável ao exame ginecológico / ocorre devido à hiperestimulação dos ovários pelo hCG / NÃO devem ser tratados, pois normalmente regridem após resolução da doença / podem sofrer torção ou ruptura = abdome agudo. • Outras complicações características da mola completa → hiperêmese gravídica, o hiperestímulo tireoidiano, a coagulação intravascular disseminada e a embolização trofoblástica. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é clínico, ultrassonográfico e laboratorial. Ultrassonografia → mola completa → vilos se apresentam com um padrão característico de “tempestade de neve” ou “flocos de neve” = massa central heterogênea com numerosos espaços anecoicos discretos, os quais correspondem ao edema difuso das vilosidades coriônicas hidrópicas; pode ser diagnosticado em idades gestacionais precoces; é comum o achado de cistos ovarianos tecaluteínicos / mola parcial → tecido placentário com ecos dispersos de dimensões variadas, associado à presença do feto, âmnio e cordão umbilical e/ou espaços anecoicos focais. Laboratorial → baseado na dosagem de beta-hCG → níveis > 200.000 mUI/ml sugerem mola completa, podendo chegar a > 400.000 mUI/ml; em uma gestação normal atingem um pico em torno da 10ª semana de ~100.000 mUI/ml / mola parcial → raramente estão > 100.000 mUI/ml. • Tem valor PROGNÓSTICO e é utilizada para ACOMPANHAMENTO após a terapia. • Obs.: suspeita diagnóstica deve ser sempre confirmada pelo estudo histopatológico do material intrauterino. J OSÉ SAN TAN A FARIAS N ETO - UESB 3 Obstet r íc ia CONDUTAS A conduta se baseia nas seguintes medidas: 1. Avaliar complicações como anemia, hipertireoidismo, pré-eclâmpsia e insuficiência respiratória (existe um risco de cerca de 2% de embolização trofoblástica na doença). 2. Realizar profilaxia para isoimunização Rh nas pacientes Rh negativo. 3. Proceder ao esvaziamento uterino. 4. Envio do material para análise histopatológica Gerais → inicialmente, encaminhar para centros especializados / realizar exames na paciente com mola. • TC e RM de crânio, tórax e abdome só são necessárias quando o RX de tórax estiver alterado, uma vez que as metástases pulmonares se apresentam antes das metástases para fígado e cérebro (estas são de disseminação arterial, enquanto a pulmonar se dá por trajeto venoso). Específicas → tratamento de eleição da DTG é o esvaziamento uterino, que pode variar da seguinte forma: • Vacuoaspiração → procedimento de eleição, pelo menor risco de perfuração uterina. • AMIU (Aspiração Manual Intrauterina). • Curetagem → quando não disponíveis outros métodos ou de forma complementar a estes. • Histerotomia → mola incompleta com feto de > 4 meses, colo desfavorável à indução e sangramento profuso. • Histerectomia total profilática → pacientes com prole completa e > 40 anos, com fatores de risco para progressão da doença ou com hemorragias incoercíveis ou sepse / tratamento de escolha nos casos de tumor trofoblástico do sítio placentário.J OSÉ SAN TAN A FARIAS N ETO - UESB 4 Obstet r íc ia Controle Pós-molar • Beta-hCG → após o esvaziamento, é importante o acompanhamento com dosagem seriada semanal (ou quinzenal) de beta-hCG, devido à possibilidade de malignização da doença / deve ↓ progressivamente e geralmente negativa (< 5 mUI/ml) em 8-10 semanas após o esvaziamento uterino / embora existam diferenças de protocolos no seguimento com hCG, este deve ser mantido por, pelo menos, seis meses após a negativação do mesmo. • Acompanhamento clínico → fundamental, visto que os sintomas de náuseas, vômitos e os cistos ovarianos deverão regredir em curto período de tempo após o esvaziamento uterino. • RX de tórax → pode ser solicitado no seguimento das pacientes pelo risco de embolização antes e após o procedimento de esvaziamento. • Anticoncepção → durante todo o período de seguimento, é muito importante que a paciente não engravide, uma vez que a elevação dos níveis de beta-hCG da gravidez irá encobrir um possível diagnóstico de persistência ou malignização da doença.
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